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Fátima Regis de Oliveira - Contemporânea

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N5 | 2005.215“O céu por cima do porto tinha a cor <strong>de</strong> uma TV que saiu do ar” (1991,p. 13). Na primeira frase, já célebre, <strong>de</strong> Neuromancer (1984), o escritor <strong>de</strong> ficçãocientífica William Gibson anuncia que o espaço da tela e o espaço real sãoindissociáveis. O filme Vi<strong>de</strong>odrome – a síndrome do ví<strong>de</strong>o (David Cronenberg,1982) já havia explorado a idéia <strong>de</strong> a tela <strong>de</strong> televisão afetar fisicamente o espectador,sugerindo que o espaço eletrônico é apenas mais uma camada darealida<strong>de</strong>. O que nos interessa na frase <strong>de</strong> Gibson é o modo como relaciona astecnologias <strong>de</strong> comunicação à experiência <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>. Um dos componentesda subjetivida<strong>de</strong> que mais são afetados pela invenção <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong>comunicação é a noção <strong>de</strong> espacialida<strong>de</strong> - entendida aqui como as fronteiras elimites do corpo próprio e a relação do indivíduo com o meio, com o espaçosocial em que habita. Investigar como o surgimento das tecnologias informacionais<strong>de</strong> comunicação (Internet e outras re<strong>de</strong>s) influencia a experiência <strong>de</strong>espacialida<strong>de</strong> humana constitui o objetivo <strong>de</strong>ste texto.Tradicionalmente, o aparecimento <strong>de</strong> novas tecnologias <strong>de</strong> comunicaçãoproduz novas formas <strong>de</strong> encurtar distâncias, possibilita formas diferentes <strong>de</strong> armazenamentoe disseminação da produção <strong>de</strong> conhecimento, interferindo nomodo como os indivíduos vivenciam a experiência <strong>de</strong> espaço. Como exemplospo<strong>de</strong>mos citar a invenção da escrita pelos sumérios em 3500 a.C. que permitiuque a mensagem pu<strong>de</strong>sse existir in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da presença física do emissor,possibilitando que a transmissão <strong>de</strong> conhecimento ultrapassasse a barreira dasdistâncias e do tempo; e, a invenção dos tipos móveis no século XV, que associadaao papel, foi um dos principais fatores impulsionadores do Movimento<strong>de</strong> Reforma da Igreja Católica e da difusão do livro. Já as máquinas sensórias,inauguradas no século XIX com a fotografia, amplificaram a capacida<strong>de</strong> humana<strong>de</strong> ver e, posteriormente com o cinema e o ví<strong>de</strong>o, <strong>de</strong> ouvir. Des<strong>de</strong> então,as tecnologias audiovisuais têm povoado o mundo com signos (imagens e sons)e re<strong>de</strong>senhado os espaços e paisagens urbanas.Hoje, a comunicação mediada por computador oferece novas possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> interação, redimensionando as fronteiras espaciais do corpo e dopensamento. Alguns exemplos ajudam a esclarecer esta idéia. As simulaçõesinterativas, como a realida<strong>de</strong> virtual, usam interfaces neurossensoriais que permitemexperimentar fisicamente mundos materiais e abstratos, produzindouma espacialida<strong>de</strong> que se dá nas fronteiras entre o natural e o construído, o orgânicoe o maquínico, o interior e o exterior. Programas <strong>de</strong> computador, re<strong>de</strong>s<strong>de</strong> comunicação e outras tecnologias cognitivas facilitam a produção e difusão<strong>de</strong> conhecimentos, tornando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s mentais um processopartilhado por humanos e dispositivos tecnológicos. O pensamento temuma espacialida<strong>de</strong> que não se reduz aos limites do cérebro ou do corpo, mas seinter-relaciona dinamicamente com o ambiente, como concluem Andy Clark(2001), Edwin Hutchins (1996) e Fernanda Bruno (2002).A hipótese que se propõe é que as tecnologias informacionais <strong>de</strong> comunicação,ao re<strong>de</strong>finir a experiência <strong>de</strong> espacialida<strong>de</strong> humana, implicam repensarTecnologias informacionais <strong>de</strong> comunicação, espacialida<strong>de</strong> e ficção científica

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