I Jornada Acadêmica Discente – PPGMUS/<strong>USP</strong>além de embutir um potencial inclusivo e democratizante francamente positivo”. (Castro & Lemos,2008[2], p.174)O UndergroundExistem também outras formas de produção cultural excluídas que não estão situadasnuma periferia geográfica. Mesmo no eixo Rio - São Paulo onde se concentra a produção econômica ecultural brasileira, uma postura experimental com a tecnologia se faz presente. São espaços ti<strong>do</strong>s comounderground e independentes que seguem a lógica 'faça você mesmo'. Para ficar apenas no exemploda música, citaremos <strong>do</strong>is casos significativos: Plano B e Ibrasotpe. xixO Plano B xx é uma loja de discos (vinis e cds) situada no bairro da Lapa no Rio deJaneiro que, desde 2004 nas noites de sexta feira e sába<strong>do</strong>, transforma-se num palco para o projetoLive Sessions. O espaço é uma mostra <strong>do</strong> que vem acontecen<strong>do</strong> no cenário da arte marginal quecircula pela cidade. Tornou-se o único evento regular de arte experimental no Rio de Janeiro, atrain<strong>do</strong>artistas de outros esta<strong>do</strong>s e países, catalisan<strong>do</strong> a relação entre público e artistas que estão distantes damídia de massa e das salas de concertos.O Ibrasotope, atuante desde 2007, se autodenomina como “um núcleo que se dedica àprodução e difusão de música experimental.” xxi Forma<strong>do</strong> por um grupo de artistas, na maioria músicose compositores de formação acadêmica, sua sede é um misto de moradia e espaço cultural situa<strong>do</strong>numa casa aos arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> parque Ibirapuera em São Paulo. Assim como o Plano B, desenvolveatividade e produção regular incluin<strong>do</strong> música contemporânea de concertos e audições acusmáticas,algo singular, para não dizer único no Brasil. “Existe uma produção musical que precisa serapresentada, fruída e debatida, e de que essas práticas precisam ocorrer com regularidade para que ocorpo de interessa<strong>do</strong>s cresça e modifique. (…) o projeto aponta para a constituição de um circuitobrasileiro de música experimental”. (Iwao & Nunzio, 2009, p.5)Ambos os espaços fomentam atividades diversas como festivais, shows, exibições, festas,cursos, hacklab, revista, site e mantêm um selo musical online (netlabel) que cumpre a função deoferecer um registro e <strong>do</strong>cumentação regular <strong>do</strong>s shows e concertos, como também lançarcompilações musicais <strong>do</strong>s grupos que por ali se apresentam. A produção cultural desses espaços, nãocircula pela mídia tradicional ou espaços de concerto, com exceção de um ou outro evento que chegaàs instituições de arte, na maioria das vezes via editais de fomento a cultura ou ainda pelo SESC nocaso de São Paulo. xxiiDiferente <strong>do</strong>s outros movimentos musicais periféricos como, por exemplo, otecnobrega e o funk carioca, Plano B e Ibrasotope não constituem um modelo econômico oucadeia produtiva sob o ponto de vista <strong>do</strong> lucro. O valor não está funda<strong>do</strong> sobre a quantidadede trabalho incorpora<strong>do</strong> à produção de bens materiais, ou exclusivamente na economia de
I Jornada Acadêmica Discente – PPGMUS/<strong>USP</strong>merca<strong>do</strong> pauta<strong>do</strong> no lucro, no valor, na troca e no sistema <strong>do</strong>s preços. “A valorização dasatividades humanas não pode mais ser fundada de forma unívoca sobre a quantidade detrabalho incorpora<strong>do</strong> à produção de bens materiais. A produção de subjetividades humana emaquínica é chamada a superar a economia de merca<strong>do</strong> fundada no lucro, no valor e na troca,no sistema <strong>do</strong>s preços, nos conflitos e lutas de interesses.” xxiii Tal desarticulação no planoeconômico os situam na qualidade periférica que beira a precariedade e a insustentabilidadefinanceira.Por outro la<strong>do</strong>, esse periférico contém uma força de criação que se sustenta no desejo e nacapacidade de manter um outro mo<strong>do</strong> de vida que passa pela produção artística. “A arte aqui não ésomente a existência de artistas patentea<strong>do</strong>s mas também de toda uma criatividade subjetiva queatravessa os povos e as gerações oprimidas, os guetos as minorias.” xxivExiste, tanto no Ibrasotope quanto no Plano B, uma outra qualidade de articulação, umoutro tipo de econômica que é da ordem <strong>do</strong> código-som, gera<strong>do</strong>r de crise ao sistema musical. Essaeconomia de sons, relacionada ao tipo de intervenção e produção musical que beira o ruí<strong>do</strong>, em muitoscasos sequer pode ser chamada de música, carrega duas operações. Primeira, a de oxigenar o espaçoasfixia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s códigos duros que enrijece a linguagem musical. Segunda, a de levar ao colapso aprópria música, as vezes deixan<strong>do</strong> de ser considerada música e perden<strong>do</strong> alguma de suas funções jáinstitucionalizadas. xxv