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o dizer eo ser em respingos: poesia antiga, de marijô. - TEL

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Anais do XIV S<strong>em</strong>inário Nacional Mulher e Literatura / V S<strong>em</strong>inário Internacional Mulher e LiteraturaÉ só uma pedra e não <strong>de</strong>sabrocha.Apenas se soltou da gran<strong>de</strong> rochaE estacionou na poeirenta estrada.S<strong>em</strong> voz, s<strong>em</strong> movimento, s<strong>em</strong> queixume,Não t<strong>em</strong> presença, n<strong>em</strong> lugar, n<strong>em</strong> lume...Não vale riso ou pensamento. Nada.Tenho-a comigo- a tal pedra ignara.Guardo-a como se fosse jóia raraPois me distrai e os pensamentos tristes,Por um momento, ficam esquecidos.Se a paz chegou ao meu peito sofrido,Só foi possível porque ela existe. 6Numa leitura superficial, esses versos <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> uma pedrapo<strong>de</strong>riam parecer parnasianos, não fosse o substrato que alu<strong>de</strong> àincongruência da pequenez das coisas <strong>em</strong> face da sua valoração subjetivacircunstancial. Ou seja, a pedra <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>ser</strong> apenas uma pedra paratransformar-se <strong>em</strong> tot<strong>em</strong> do eu-lírico. Interessante notar que a elevação dapedra é apresentada como algo natural e inerente ao mundo interior. E, aindaque os <strong>de</strong>talhes sejam in<strong>ser</strong>idos <strong>de</strong> modo a esclarecer o mérito atribuído àpedra, o inexorável <strong>de</strong>stino da pedra aproxima-se <strong>em</strong> lamento e <strong>de</strong>svalordaquele <strong>ser</strong> que a <strong>de</strong>tém e aprecia. As condições espirituais <strong>de</strong>sfavoráveis docoração sofrido encontram guarida numa pedra. Em contrapartida, a relaçãototêmica anima o inerte objeto e o preenche <strong>de</strong> um valor pelo espelhamentodo <strong>ser</strong> que o guarda e estima. Assim, as apreciações apologéticas à pedrapossivelmente direcion<strong>em</strong>-se ao modo <strong>de</strong> <strong>ser</strong> e <strong>de</strong> agir <strong>de</strong> um ego tomadopela tristeza. A relação torna-se recíproca. Para o objeto que se retira do<strong>de</strong>scaminho, a honra. Para o sujeito, a matéria virtuosa do bálsamo.Outra elevação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado <strong>ser</strong> <strong>de</strong>svalorizado ocorre <strong>em</strong> “ONor<strong>de</strong>stino”, aquele que é solo perdido, que é <strong>de</strong> granito e que apren<strong>de</strong> a <strong>ser</strong>s<strong>em</strong> fome e s<strong>em</strong> pranto:6 RODRIGUES, Maria José do Carmo-Marijô. A pedra e eu. In: Respingos: <strong>poesia</strong> <strong>antiga</strong>. BeloHorizonte: Cuatiara, 1993, p. 28.

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