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Literatura<br />

Literatura Chícana: A expressão<br />

latina em solo americano<br />

No dia 22 de abril desse ano, morreu<br />

em Brasília o escritor Salim Miguel,<br />

ganhador de um prêmio Machado<br />

de Assis, um prêmio Juca Pato, entre<br />

outras condecorações da literatura nacional.<br />

O autor libanês, que passou a maior parte da<br />

vida no Brasil, é um bom exemplo de presença<br />

estrangeira na cultura de um país, sendo<br />

testemunha de boa parte da história brasileira<br />

no século XX, incluindo o Regime Militar.<br />

A influência de estrangeiros já foi presente<br />

em situações similares em diversos países, com<br />

maior notoriedade no sul dos Estados Unidos.<br />

Após o fim da Guerra Mexicano-Americana em<br />

1848, cerca de metade do território mexicano<br />

passou a pertencer aos Estados Unidos, e<br />

com ele a sua população, que se viu obrigada<br />

a viver em um país cuja língua e cultura eram<br />

desconhecidas, lidando com preconceitos e<br />

com a falta de individualidade, sem pertencer<br />

completamente a um país nem a outro. Da<br />

dualidade única desse povo, nasceram seus<br />

descendentes que vieram se integrar por definição<br />

ao grupo étnico conhecido como “chicanos”,<br />

indivíduos estadunidenses de origem<br />

hispânico-mexicana que carregam consigo uma<br />

vasta herança cultural de seus antepassados.<br />

Essa grande herança cultural, por sua vez,<br />

veio a se manifestar com o objetivo de conceder<br />

aos estadunidenses um senso de consciência<br />

coletiva e uma crítica ao recorrente preconceito<br />

relacionado à indivíduos de origem hispânica.<br />

Um segmento dessa manifestação cultural foi<br />

a literatura, que embora não seja forte a ponto<br />

de ser um fenômeno notório a todos, é uma<br />

maneira significativa de desenvolver a personalidade<br />

da produção chicana, sendo que muitos<br />

autores fazem uso de uma linguagem que<br />

mistura a língua inglesa com expressões em<br />

espanhol, o que torna suas obras únicas e carregadas<br />

com um intertexto de culturas. Dentro<br />

de literatura chicana é possível ainda separar<br />

as produções teatrais das líricas e em prosa.<br />

O teatro chicano, cujas narrativas costumam<br />

refletir sobre a presença da segregação<br />

racial presente entre os norte-americanos e<br />

sobre o conflito da cultura mestiça com a cultura<br />

tradicional do país, conta com diretores<br />

como Luis Valdez, que trata de comentários<br />

sociais e políticos em suas obras fazendo uso<br />

do humor para atingir o público e educá-lo,<br />

além dos grupos e festivais teatrais presentes<br />

ao longo dos EUA, embora sejam minoritários.<br />

Quanto à produção lírica, é marcada pela presença<br />

de autores como José Montoya e Corky<br />

González, sendo este o autor de um poema<br />

muito conhecido entre os chicanos chamado<br />

“Yo soy Joaquin”, que reflete sobre as perdas<br />

mexicanas sob as imposições estadunidenses<br />

após a guerra Mexicano-Americana, através<br />

de um eu-lírico que se sente, parafraseando o<br />

poema, “perdido em um mundo de confusão,<br />

envolvidos no redemoinho de uma sociedade<br />

gringa, confundido pelas regras, desprezado<br />

pelas atitudes, sufocado por manipulações<br />

e destroçado pela sociedade moderna”.<br />

A literatura chicana acaba por ser, no fim,<br />

a manifestação de um povo que foi feito invisível<br />

e continua a sobreviver enquanto luta<br />

para obter seu merecido reconhecimento.<br />

Miguel Aguilar<br />

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