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CAPA<br />
Rebeldia musical: A história<br />
contada pelos opositores<br />
Vários elementos marcam as suas respectivas<br />
décadas, de forma que acabam sendo<br />
um fator que identifica o estilo, a cultura e<br />
até o pensamento popular acerca de vários assuntos.<br />
Dessa forma, a música, em específico a com teor crítico,<br />
caracteriza todos esses fatores marcantes para<br />
suas décadas, enquanto, ao mesmo tempo, transcende<br />
sua própria época e entra para história. Sendo assim,<br />
apresentamos aos nossos leitores uma cronologia<br />
sobre as músicas de protesto. Partiremos dos anos<br />
60, época em que as críticas sociais ganharam força.<br />
O início da década de 60 foi uma continuação e realização<br />
de ideologias e culturas iniciadas na década de<br />
50. Podemos dividi-la em duas metades: a primeira tem<br />
um caráter mais lírico em manifestações socioculturais,<br />
com evidente idealismo no ramo da política e espírito<br />
de luta da população, o que pode ser visto na música<br />
Blowin’ in the Wind de Bob Dylan, lançada em 1962,<br />
que coloca muitas perguntas sobre paz, guerra e liberdade.<br />
Já a segunda metade se caracteriza por um tom<br />
mais ácido e psicodélico, com composições sobre experiências<br />
com drogas, perda de inocência, revolução<br />
sexual e protestos juvenis contra seus respectivos governos.<br />
Os Beatles passaram por ambas as fases dessa<br />
década, sendo evidente a troca de melodias doces de<br />
seus primeiros discos por melodias psicodélicas. Lennon,<br />
em 1968, colocou no papel suas ideias e sentimentos<br />
sobre o hiato entre o movimento hippie e tumultos<br />
políticos, protestos e repressão na canção “Revolution”.<br />
Já no Brasil, o grande alvo das críticas era a ditadura<br />
militar, iniciada em 1964. Músicas como “Para<br />
não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré e<br />
“Roda viva” de Chico Buarque, ambas de 1968, ilustram<br />
o início de uma resistência contra os militares. “Roda<br />
viva”, por meio da ambiguidade de sua composição<br />
consegue mascarar-se como uma música inocente,<br />
porém que carrega um significado oculto crítico ao<br />
sistema da época, em que versos como “ a gente<br />
toma a iniciativa/ viola na rua à cantar” e “a gente<br />
vai contra a corrente/ até não poder resistir” revelam<br />
a oposição implícita da música a ditadura. Geraldo<br />
Vandré, por outro lado, arrisca-se um pouco mais<br />
e torna sua canção um símbolo do antagonismo ao<br />
governo militar, tendo versos de sua música, como “<br />
vem, vamos embora, que esperar não é saber/ quem<br />
sabe faz a hora, não espera acontecer” e “ Nos quartéis<br />
lhes [aos soldados] ensinam uma antiga lição/<br />
de morrer pela pátria e viver sem razão”, ganhado<br />
grande uso nos protestos contra o Estado autoritário.<br />
Na década de 70, há uma troca de interesses no<br />
ramo sociocultural. O progresso humanístico não<br />
está mais voltado para o interesse das potências, com<br />
a corrida espacial e armamentista por exemplo, e sim<br />
no interesse da humanidade como um todo. A música<br />
Get Up, Stand Up, de Bob Marley e Peter Tosh,<br />
lançada em 1973, deixa claro esse interesse abordando<br />
questões como superação, vivencia, deixando<br />
claro os ideais pacifistas da época, o que marcou a<br />
história do Reggea. Além desses temas, haviam muitas<br />
músicas que protestavam contra seus respectivos<br />
governos, como a canção “Sólo Le pido a Dios” de<br />
León Gieco, lançada em 1978, mostrando o temor<br />
pelo conflito bélico próximo de acontecer no Chile<br />
e na Argentina, durante suas ditaduras militares.<br />
Assim como na Argentina e no Chile, no Brasil, as<br />
críticas contra o governo ditatorial se intensificaram<br />
nos anos 70. Nesta década, em 1973, foi composta<br />
por Chico Buarque “Cálice”, música que, a partir do<br />
jogo de sentido com a palavra “cálice” e “cale-se”<br />
gerou uma inteligentíssima e discreta, num primeiro<br />
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