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fucsia01 (1)

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da maior importância. Espero que, dessa forma, alerte os<br />

leitores sobre a melhor forma de cuidar do nosso futuro.<br />

E, em primeira mão, informo que possivelmente meu<br />

próximo livro tratará sobre o tema.<br />

F: Você foi preso na época da ditadura militar. Como<br />

foi este período?<br />

Z: Deixe-me falar, primeiro, sobre a censura que enfrentamos<br />

enquanto fazíamos o Pasquim. Ela foi a mais rude<br />

censura jamais imposta à imprensa brasileira. Uma censura<br />

que riscava e rasgava nossos originais. Um censura<br />

que era exercida por policiais no interior das redações,<br />

em misteriosos departamentos.<br />

Porém, sobrevivemos. Foi uma vitória da consciência da<br />

so ciedade brasileira. Fui preso por três vezes, em diferentes<br />

períodos. O mais longo deles foi na Vila Militar (seis meses).<br />

F: Como tem acompanhado a política no país?<br />

Z: Não paro de sonhar com a hipótese de um país menos<br />

canalha, menos hipócrita, menos mentiroso e falso,<br />

menos sórdido. Se conseguirmos diminuir o índice dessas<br />

más qualidades na parte da sociedade que comanda<br />

este país, teremos avançado rumo a um futuro decente e<br />

digno. Não perco a esperança de que, um dia, este país<br />

tome jeito.<br />

F: Existe alguma charge que lhe agrade mais? E qual<br />

o prêmio mais importante que já recebeu?<br />

Z: Charge é uma linguagem para expressar o pensamento<br />

de seu autor. Então, fica difícil dizer a que mais<br />

me agradou. Os prêmios todos foram significativos. Não<br />

dá para definir o “mais importante”. Então, vou citar o<br />

prêmio que recebi no ano passado. A Universidade de<br />

Alcalá, na Espanha, me concedeu o prêmio Quevedos de<br />

Humor Gráfico, o mais importante do gênero. O que me<br />

deixou ainda mais orgulhoso e feliz é que sou o primeiro<br />

brasileiro a recebê-lo.<br />

F: Você sempre estimulou a leitura e já disse que,<br />

para ajudar no aprendizado de uma criança, cada<br />

cesta básica deveria conter pelo menos um livro.<br />

Qual análise faz da educação em nosso país?<br />

Z: A leitura é a minha preocupação imediata, quase uma<br />

obsessão. Eu acho que a escola fundamental brasileira<br />

devia largar tudo e ensinar apenas quatro coisas às crianças,<br />

até que elas estivessem equipadas para receber o<br />

ensino curricular: ler, escrever, contar e entender o que<br />

é ser cidadão. O resto, a vida, o ginásio e a universidade<br />

depois organizam e ensinam. No final do século não teríamos<br />

um só analfabeto no Brasil. E teríamos um povo<br />

capaz de escolher com lucidez seu destino.<br />

F: Você tem preocupações voltadas à inclusão social.<br />

Gostaria que explicasse como funciona o projeto<br />

no qual as crianças podem ser coautoras de<br />

livros que têm ilustrações criadas por você.<br />

Z: O projeto “Oficina do Texto”, criado pelo Grupo Positivo,<br />

é um grande sucesso porque não perdeu seu foco<br />

original: a educação. O projeto convida os alunos a escreverem<br />

livros a partir de minhas ilustrações e, também,<br />

a escreverem pequenos jornais. Todos os livros e<br />

jornais são impressos e cada aluno-autor recebe seu<br />

exemplar. Os alunos ficam motivados a ler, pesquisar,<br />

procurar informações. E olha que legal: por conta disso,<br />

eu posso me candidatar para o Guiness Book como o<br />

maior coautor do mundo.<br />

F: E o Zequinha, personagem que tem Síndrome de<br />

Down?<br />

Z: Zequinha tem um significado muito especial, pois<br />

veio numa época em que a sociedade, o governo e a<br />

mídia estavam dando um espaço bem maior para esse<br />

tipo de assunto. O Zequinha e o Menino Maluquinho<br />

têm muito em comum, pois são alegres, divertidos e<br />

cheios de vida.<br />

F: Finalmente, revele para gente: qual é o truque<br />

para chegar aos 77 anos com tanta vitalidade?<br />

Z: Não existe truque. Apenas trabalho... Muito trabalho...<br />

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