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Publicação Mensal Ano XIII - Nº <strong>145</strong> Abril de 2010<br />
Os mais luminosos<br />
raios de um ocaso
E<br />
mbora fosse infinitamente superior aos homens, Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo chegou ao extremo de receber todos os ultrajes que Lhe foram<br />
feitos em sua Paixão, com imensa doçura.<br />
Assim sua superioridade tornou-se não apenas régia, mas, por essa doçura,<br />
digna de ser amada. É uma elevação enquanto corolário da misericórdia,<br />
consentindo em colocar-se num plano indizivelmente menor, por<br />
amor àqueles que Lhe são inferiores.<br />
(Extraído de conferência<br />
de 18/10/1989)<br />
G. Kralj<br />
2
Sumário<br />
Publicação Mensal Ano XIII - Nº <strong>145</strong> Abril de 2010<br />
Ano XIII - Nº <strong>145</strong> Abril de 2010<br />
Os mais luminosos<br />
raios de um ocaso<br />
Na capa, pintura a<br />
óleo representando<br />
Dona Lucilia aos 92<br />
anos de idade.<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
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Editorial<br />
4 O único sentido que a vida possui<br />
Datas na vida de um cruzado<br />
5 Abril de 1968<br />
Um ocaso glorioso emite<br />
seus últimos e mais luminosos raios<br />
Dona Lucilia<br />
6 Refletir é viver<br />
Semana Santa<br />
10 Preparando a alma para<br />
a Semana Santa<br />
14 Como devemos carregar<br />
a nossa cruz<br />
20 O Sepulcro do Senhor<br />
Ardoroso devoto da Eucaristia<br />
24 Corpo, Sangue,<br />
Alma e Divindade... – II<br />
O Santo do mês<br />
28 7 de Abril: Santo Hermano, o<br />
amigo do Menino-Deus<br />
Luzes da Civilização Cristã<br />
32 Uma devoção da cristandade...<br />
Última página<br />
36 A mais luminosa das criaturas<br />
3
Editorial<br />
O único sentido que<br />
a vida possui<br />
Tanto a alegria quanto a dor da alma resultam necessariamente do amor. O homem se alegra ao<br />
obter o que amou, e se entristece quando o que ama lhe falta. Entretanto, não raras vezes o homem<br />
contemporâneo dedica todo o seu amor às coisas meramente terrenas. Assim, impressionam-no,<br />
sobretudo, as dificuldades pessoais e superficiais: a saúde abalada, a situação financeira vacilante,<br />
os amigos ingratos, as promoções que tardam... Porém, esquece-se ele de que isso tudo é secundário<br />
para o verdadeiro católico, que almeja principalmente a glória de Deus e da sua Igreja, e,<br />
portanto, a salvação eterna.<br />
Por mais que variem os acontecimentos da história humana, os altos e baixos da política e das finanças<br />
continuem sua corrida desordenada, a Santa Igreja sabe manter-se sobranceira ao vai-e-vem<br />
caprichoso das paixões humanas: “Stat crux dum volvitur orbis”... Sobranceira, porém não indiferente,<br />
ela aponta a seus filhos as alegrias, como também as privações pelas quais devem eles passar, na esperança<br />
da glória futura. É o que explica <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a seguir:<br />
“Quando os dolorosos dias da Semana Santa transcorrem em épocas alegres e tranquilas, a Santa<br />
Igreja, como mãe, solicita a seus filhos que almejem o sofrimento heroico, o espírito de renúncia<br />
às trivialidades quotidianas, e ademais o inteiro devotamento aos ideais que proporcionam um sentido<br />
mais alto à vida humana. ‘Um sentido mais alto’, não diz bem; o único sentido que a vida possui:<br />
o sentido cristão.<br />
“Entretanto, a Esposa Mística de Cristo não é mãe apenas quando nos indica a observância austera<br />
do sofrimento. Ela também o é quando, nos extremos da dor, faz brilhar aos olhos da fé, a luz da<br />
esperança, descortinando horizontes plenos de serenidade e confiança que ela propõe a seus verdadeiros<br />
filhos.<br />
“A Igreja vale-se das vibrantes e castíssimas alegrias da Páscoa para difundir a certeza triunfal de<br />
que Deus é o Senhor de todas as coisas, seu Cristo é o Rei da glória, e sua Esposa Mística é rainha de<br />
imensa majestade, capaz de dissipar as trevas, que em vão tentam envolvê-la, brilhando com luzidio<br />
triunfo no momento em que parece aguardá-la a mais terrível e irremediável das derrotas, da mesma<br />
forma que julgara o povo eleito estar tudo encerrado após a morte do Divino Mestre, acreditando<br />
ser Ele incapaz de destruir a prisão sepulcral em que jazia, sobretudo passando da morte à vida.<br />
“Constataram, surpresos, a ressurreição do Filho de Deus sem a intervenção de qualquer auxílio<br />
humano, deslocando leve e rapidamente a pesada lápide do sepulcro. E Ele ressurgiu!<br />
“Assim também a Igreja imortal, ainda que sob o peso sepulcral das mais dolorosas provações,<br />
possui uma força interior e sobrenatural que lhe vem de Deus, e lhe assegura uma vitória tanto mais<br />
esplêndida quanto mais inesperada e completa.<br />
“A grande lição da Quaresma e a condolência para os homens retos que amam acima de tudo a<br />
Santa Igreja é: Cristo morreu e ressuscitou.<br />
“Também a Igreja se erguerá, gloriosa como Cristo, na radiosa aurora de sua Ressurreição.”<br />
(Extraído d’O Legionário de 1/4/1945)<br />
Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
Datas na vida de um cruzado<br />
Abril de 1968<br />
Um ocaso glorioso<br />
emite seus últimos e mais<br />
luminosos raios<br />
Jovens participantes do movimento fundado<br />
por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, comemoraram com grande<br />
demonstração de afeto, em 21 de abril de<br />
1993, a data sobremodo especial em que Dona<br />
Lucilia completaria 125 anos. Assim dizia o texto<br />
por eles declamado:<br />
Reportemo-nos ao dia 21 de abril de 1968.<br />
Em seu apartamento, Dona Lucilia encontrava-se<br />
desde há dias em seu leito, assistida por<br />
um médico. <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> achava-se, no quarto ao<br />
lado, ainda convalescente, devido a uma terrível<br />
crise de diabetes.<br />
Por volta das 10 horas da manhã, o enfermeiro<br />
procurou o médico, avisando que Dona Lucilia<br />
não estava passando bem.<br />
Manifestando certa estranheza, pois às 8:20<br />
lhe aplicara uma injeção e nada fazia prever que<br />
a morte estivesse próxima, o clínico dirigiu-se<br />
imediatamente ao quarto dela.<br />
Deitada, sem apoio em travesseiros, com os<br />
olhos fechados e movendo os lábios como quem<br />
rezava, Dona Lucilia tinha as mãos uma sobre a<br />
outra, no peito.<br />
Ao tomar-lhe o pulso e verificar quão lenta e<br />
fracamente batia, o médico percebeu a proximidade<br />
dos últimos momentos. Pediu então ao enfermeiro<br />
que avisasse logo <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>. Era necessário<br />
que ele se locomovesse sozinho e com<br />
enorme esforço até o quarto de sua mãe que<br />
partia para a Eternidade.<br />
Nesse meio tempo, Dona Lucilia, que não<br />
deixara de mover os lábios — sentindo em seu<br />
coração haver chegado a hora da solene despedida<br />
desta vida — com decisão retirou a mão segura<br />
pelo médico, e com um gesto delicado, mas<br />
firme, sem manifestar esforço ou dificuldade,<br />
fez um grande e lento sinal da cruz.<br />
Depois, repousou no peito suas mãos alvíssimas,<br />
uma sobre a outra, e serenamente expirou<br />
na véspera do dia em que completaria 92 anos…<br />
Tocado pela recordação destes momentos, assim<br />
manifestou-se <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>:<br />
Esta cena — do encontro com minha mãe,<br />
que Deus acabava de chamar a Si — foi a que<br />
mais me emocionou na vida. Imediatamente<br />
fui avisado para ir ao quarto dela, contíguo ao<br />
meu, mas quando cheguei, ela já não estava lá.<br />
Não a alcancei! E senti a imensidade que nos<br />
separava.<br />
Deus e Nossa Senhora nos uniam, e isto bastava.<br />
No entanto... quando entrei no quarto e<br />
vi o corpo dela já sem vida, senti que aquelas<br />
mãos, que tanto me haviam abençoado e acariciado,<br />
não me acariciariam mais, aqueles lábios,<br />
que tantas coisas me haviam ensinado, não<br />
me ensinariam mais, aqueles lábios, enfim, que<br />
tanto haviam orado por mim, não se moveriam<br />
mais...<br />
Senti então, naquele momento, passar-se algo<br />
comigo que me sacudia de modo profundo e por<br />
inteiro, como seu eu fosse uma corda que arrebentasse,<br />
e algo, que era quase eu mesmo, separar-se<br />
categórica e drasticamente de mim.<br />
Na véspera, eu havia passado o dia inteiro<br />
junto de mamãe, no quarto, não saindo, a bem<br />
dizer, para nada. Eu sabia que ela estava prestes<br />
a morrer, e a razão de eu permanecer ali era<br />
a consciência plena disso. Mas — fato singular<br />
— o drama da morte só se pôs, para mim, no instante<br />
em que ela expirou e senti a ausência do<br />
seu carinho... e então chorei copiosamente...<br />
(Extraído de conferência de 22/4/1993)<br />
5
Dona Lucilia<br />
Refletir é viver<br />
Embebida pela<br />
convicção de que tudo<br />
quanto é terreno se<br />
reporta a uma ordem<br />
superior, Dona Lucilia<br />
possuía uma alma<br />
impregnada das mais<br />
elevadas realidades.<br />
N<br />
o decurso da História, não<br />
raras vezes, é possível deparar-se<br />
com duas categorias<br />
de homens: a dos que se preocupam<br />
apenas com os aspectos materiais<br />
e concretos da vida, absorvidos<br />
pelas sucessivas impressões agradáveis<br />
do dia-a-dia; e a daqueles que<br />
colocam seu bem-estar na cogitação<br />
e na meditação.<br />
Homens absorvidos<br />
pelo gozo da vida<br />
Para o primeiro grupo, a única solução<br />
para os padecimentos produzidos<br />
pela culpa original, resume-se no<br />
prazer. E cada época compõe o prazer<br />
a seu modo. Será para alguns a<br />
deleitável sensação de ir a uma ópera,<br />
enquanto que a outros agradará<br />
o ambiente de uma alta sociedade;<br />
outros, enfim, terão como encanto<br />
guiar freneticamente um automóvel;<br />
e ainda uns últimos — contrariando<br />
o livro do Gênesis, quando<br />
afirma ser a faina um castigo — farão<br />
consistir seu principal contentamento<br />
no frenesi pelo trabalho.<br />
Fotos: J. Dias<br />
6
Dona Lucilia,<br />
um mês antes<br />
de sua morte.<br />
7
Dona Lucilia<br />
Entretanto, brota naturalmente<br />
um problema para essa classe de homens:<br />
não possuem momentos onde<br />
lhes seja possível refletir. E, portanto<br />
lhes faltam ocasiões nas quais<br />
compreendam a falência de suas vidas.<br />
Porém, mesmo se tais ocasiões<br />
se lhes apresentam, fogem, pois suas<br />
existências consistem em fugir do<br />
tormento. Contudo, se esquecem de<br />
que, quando o homem foge do tormento,<br />
é ainda mais atormentado...<br />
Existem misérias morais tão grandes,<br />
que não seria descabido dizer<br />
que o indivíduo que busca trucidar<br />
os momentos de reflexão, ora através<br />
do prazer, ora através de lapsos<br />
de desespero, dificilmente se desvencilhará<br />
de seu erro, carregandoo<br />
até o fim da vida. E por muitas vezes<br />
ainda julgará ter sido feliz. Para<br />
tais indivíduos a reflexão é uma loucura<br />
de poetas.<br />
Gosto pela reflexão<br />
Em geral, os que vivem apenas<br />
para o palpável constituem a maior<br />
parcela do gênero humano. Entretanto,<br />
há outro estilo de mentalidades<br />
para o qual muitas vezes os próprios<br />
sofrimentos pelos quais têm de<br />
passar concorrem para que eles tenham<br />
facilidade em refletir.<br />
Esse gênero de pessoas comumente<br />
se põe problemas como o significado<br />
mais profundo das coisas, sua razão<br />
de ser, a explicação de acontecimentos<br />
que mais os impressionam,<br />
embora nem sempre cheguem a penetrar<br />
problemas filosóficos.<br />
Por exemplo, encontrando-se<br />
diante de um belo edifício como o<br />
Escorial ou Versailles, agem de modo<br />
mais reflexivo do que propriamente<br />
emocional. Perguntam-se<br />
qual a consistência e profundidade<br />
de todo aquele esplendor, e ainda se<br />
não seria demasiada imposição tudo<br />
aquilo que não permite outras considerações,<br />
tiranizando assim os sentidos<br />
externos.<br />
Estas pessoas constituem uma minoria<br />
desprezada pelos demais, porém,<br />
na realidade, elas governam a<br />
maioria.<br />
Dona Lucilia: uma<br />
alma impregnada das<br />
realidades superiores<br />
Muito embora não fosse uma<br />
pessoa filosófica, Dona Lucilia tinha<br />
a alma impregnada dessas realidades<br />
superiores, fazendo com que<br />
ela não vivesse meramente no mundo<br />
sensível.<br />
E no Brasil dos tempos dela, marcou-se<br />
claramente o momento em<br />
Em Dona Lucilia<br />
transparecia um senso<br />
muito proeminente de<br />
que tudo quanto era<br />
terreno se reportava a<br />
uma ordem superior,<br />
onde encontrava sua<br />
explicitação.<br />
Dona Lucilia causava a impressão<br />
de ser uma pessoa de tempeque<br />
as pessoas, inclusive nos ambientes<br />
mais elevados, alteraram seu<br />
modo de ser por um novo que surgia,<br />
penetrado pela mentalidade que acima<br />
comentei. Mamãe elegeu para si<br />
o caminho da calma, da reflexão e da<br />
ponderação.<br />
Tudo quanto é terreno<br />
se reporta a uma<br />
ordem superior<br />
Em Dona Lucilia transparecia<br />
— possivelmente devido à preservação<br />
e inocência que a caracterizavam<br />
— um senso muito proeminente<br />
de que tudo quanto era terreno<br />
se reportava a uma ordem superior,<br />
onde encontrava sua explicitação.<br />
Isto sucedia em geral com as coisas<br />
boas ou belas — bonum, pulchrum.<br />
Não era possível tratar com Dona<br />
Lucilia sobre qualquer assunto,<br />
sem que dela se tivesse duas impressões.<br />
Uma era que ao solucionar<br />
algum fato corriqueiro da vida,<br />
deixava ela, provisoriamente,<br />
um cume de elevadas reflexões para<br />
descer até o problema; e outra era<br />
que a propósito desse mesmo episódio,<br />
ela o elevava até as considerações<br />
mais altas. Era um movimento<br />
reversível de alma.<br />
De forma alguma era ela uma<br />
pessoa que vivesse fora do mundo<br />
real. O real e o cotidiano estavam inteiramente<br />
presentes em seu espírito,<br />
cumprindo com muito esmero todas<br />
as suas obrigações. Esmero que<br />
revelava um gosto pelos pormenores,<br />
ornatos e detalhes. Por isso ela<br />
possuía uma característica de alma<br />
pela qual, enquanto sua alma estava<br />
em altas considerações, era também<br />
capaz de tratar de acontecimentos<br />
concretos.<br />
Dona Lucilia considerava tudo<br />
sob uma luz sobrenatural, à qual<br />
reportava todas as coisas. Deste<br />
modo, não havia nenhum momento<br />
em que as coisas carecessem de valor<br />
superior, pois ela sabia ligar tudo<br />
a Deus, ou seja, realizar o contrário<br />
do que apetece o espírito<br />
materialista.<br />
Essa forma de ser dela não seria estável<br />
de outra forma senão por amor a<br />
Deus, e pelo fato de ela fundamentalmente<br />
não ser egoísta. Para isso contribuía<br />
também o ambiente em que ela<br />
viveu, que era um tanto preservado, e<br />
trazia algo das velhas tradições da ordem,<br />
mas era sobretudo um dom sobrenatural<br />
que ela soube desenvolver.<br />
Uma opala<br />
iluminada pelo sol<br />
8
amento tão irisado, que — bem se<br />
poderia dizer — as cores variavam<br />
conforme a posição. Cada impressão<br />
vivida, cada acontecimento, cada<br />
circunstância, determinava a manifestação<br />
de seu espírito de forma<br />
singular, como uma opala na qual<br />
incide um raio solar, fazendo com<br />
que se desprenda um colorido não<br />
muito diferente, mas discretamente<br />
irisado.<br />
Nela conjugavam-se firmeza e<br />
doçura, sem que alterasse em algo<br />
o seu modo de ser, pois ela possuía<br />
uma flexibilidade de alma por onde<br />
adequava admiravelmente o trato a<br />
cada pessoa com quem se relacionava,<br />
sabendo apanhar os lados razoáveis,<br />
dignos de estímulo e de respeito,<br />
não deixando nem por isso de<br />
compreender perfeitamente os lados<br />
débeis. Mas a forma de tratar<br />
os lados débeis, participava da veneração<br />
que ela possuía aos aspectos<br />
que admirava, e, no momento<br />
de admirar, causava a impressão de<br />
esquecer-se por completo da debilidade.<br />
Esse modo de ser se exemplificava<br />
no trato dela para com sua mãe,<br />
Dona Gabriela, personagem de ampla<br />
envergadura para aquele tempo.<br />
Era uma senhora que ao fim da vida<br />
tocava nas debilidades da idade,<br />
pois era quase nonagenária. A forma<br />
de Dona Lucilia a auxiliar nas mínimas<br />
coisas, como apanhar um lenço<br />
que caíra no chão e trocá-lo, era<br />
feito com uma solicitude e uma alegria,<br />
como quem se deleitasse em<br />
praticar aquela atitude, que encantava<br />
presenciar tal cena. Quando Dona<br />
Gabriela tomava alguma atitude<br />
em que se fazia notar imponência,<br />
dignidade ou firmeza de autoridade,<br />
Dona Lucilia assumia uma posição<br />
de vigilância para ver se também<br />
os outros tinham feito como sua<br />
mãe desejava, não como quem cobrasse,<br />
mas esperando a participação<br />
na mesma admiração e, portanto,<br />
na mesma docilidade.<br />
Uma das últimas fotografias de Dona Lucilia, um mês antes de sua morte.<br />
Mas concluído o trato com Dona<br />
Gabriela, caso ela fosse chamada<br />
para tratar com uma criança<br />
da família que vinha, por exemplo,<br />
lhe trazer uma flor, Dona Lucilia<br />
era capaz de penetrar na admiração<br />
que a criança tinha pela<br />
flor, cuidando dela como a criança<br />
gostaria que ela cuidasse, levando<br />
a sério os lados que a criança levava,<br />
e ao mesmo tempo proporcionando<br />
ao pequeno uma sensação<br />
de solicitude e proteção, por<br />
onde se sentisse completamente<br />
penetrado e envolvido. E se nesse<br />
momento fosse necessário ministrar<br />
um remédio a um parente<br />
que adoecera, ela o fazia com perfeição,<br />
entrando também nas dores<br />
do convalescente.<br />
Era um modo de ser embevecedor,<br />
mas nem sempre admirado inteiramente,<br />
sem que jamais ela tenha<br />
denotado amargura por não se<br />
sentir retribuída. Estes são alguns<br />
traços da opala...<br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
de 14/1/1981)<br />
9
Semana<br />
Santa<br />
Sérgio Hollmann<br />
Preparando a alma<br />
para a Semana Santa<br />
Ao nos aproximarmos da Semana Santa, devemos ter<br />
uma compreensão clara de seu significado e do bem<br />
que a Igreja tem intenção de nos obter durante esses<br />
dias. <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, com entranhada piedade, nos aponta<br />
como participar das comemorações da Paixão de<br />
modo atento, devoto e esperançado.<br />
Sem prestar atenção<br />
nas coisas, nada se faz<br />
bem feito. Por exemplo,<br />
um pintor que não presta<br />
atenção na pintura, não faz nada que preste. Fixar a<br />
atenção aonde deve e mantê-la ali durante o tempo necessário,<br />
é condição para que a pessoa faça qualquer coisa<br />
de bom.<br />
10
Essa verdade se aplica, sobretudo, para aquilo que há<br />
de mais importante: os atos de piedade pelos quais a pessoa<br />
se volta para Deus, pede-Lhe graças e as recebe. É<br />
preciso saber recolher essas graças e aproveitá-las, agindo<br />
na linha em que elas indicam.<br />
Tudo isso supõe muita seriedade. E para termos essa<br />
seriedade bem atenta durante o importantíssimo período<br />
do ano litúrgico onde os católicos comemoram a Paixão<br />
e Morte de Cristo, a Compaixão de Nossa Senhora e<br />
a Ressurreição de Nosso Senhor, apresentarei algumas<br />
noções a respeito dessas comemorações.<br />
As consequências do pecado original<br />
Quando Adão e Eva pecaram, como consequência,<br />
perderam os dons preternaturais: ficaram sujeitos à morte,<br />
a tormentos, a doenças, a dores, a indisposições, etc.<br />
Sua inteligência tornou-se mais limitada e perderam o<br />
domínio que tinham sobre os animais, desde o tigre ou<br />
leão mais feroz até o menor inseto. Qualquer mosquitinho<br />
pode nos perturbar; antes do pecado isso não sucedia<br />
com Adão.<br />
O estudo e o trabalho, quer o manual, quer o intelectual,<br />
tornaram-se difíceis. Para a mulher, a gestação passou<br />
a ser frequentemente acompanhada de incômodos<br />
de saúde, e o dar à luz um filho, dolorido. E há uma série<br />
de outros castigos causados pelo pecado original.<br />
Porém, isso não é nada em comparação com o seguinte.<br />
Como o pecado cometido tinha uma gravidade infinita,<br />
ficaram fechadas para o homem as portas do Céu. E,<br />
além de padecer nesta Terra, o homem corria grave risco<br />
de ir para o inferno.<br />
Porque, depois do pecado, o homem ficou com tendências<br />
para o mal, com muita dificuldade em praticar o<br />
bem, como demonstra o episódio de Caim e Abel.<br />
Caim e Abel<br />
Adão e Eva tiveram muitos filhos; entre outros, Caim<br />
e Abel. Este era o predileto, bem apessoado, bom, dedicado<br />
e amava a Deus. Caim, pelo contrário, era um homem<br />
irascível, de mau gênio e invejoso.<br />
O Gênesis não narra detalhes, mas eu imagino que a<br />
história de Caim e de Abel tenha se dado do seguinte<br />
modo:<br />
Certa ocasião, Abel ofereceu um sacrifício a Deus: colocou<br />
frutos sobre um altar e ateou fogo a fim de consumi-los<br />
em louvor de Deus, tendo-se evolado bonita fumaça<br />
em direção ao céu.<br />
Caim fizera também um altar, sobre o qual pusera<br />
frutas podres, e a fumaça que subira era feia. Vendo<br />
que o sacrifício de Abel era aceito por Deus e o dele rejeitado,<br />
ficou com inveja do irmão e, tomado de ódio,<br />
matou-o.<br />
Podemos imaginar quanto Adão e Eva sofreram com<br />
isso. Nunca haviam visto uma pessoa morta, e estavam<br />
agora diante do cadáver do filho predileto. E dirigiram<br />
seus olhos para Caim, que estava com uma cara péssima,<br />
pois cometera um homicídio, um pecado que clama<br />
ao Céu e brada a Deus por vingança. E era um homicídio<br />
com terrível agravante, pois se tratava de fratricídio.<br />
Amaldiçoado por Deus, Caim começou a cumprir o<br />
castigo que o Criador lhe impôs: andar por toda parte<br />
sem poder parar. De tempos em tempos, Adão e Eva<br />
viam Caim meio desvairado passar, e talvez dizer-lhes:<br />
“Eu não posso parar, tenho que andar, andar, andar,<br />
porque matei meu irmão…” E novamente se afundava<br />
pelo mato.<br />
Para salvar o gênero humano,<br />
a própria Segunda Pessoa da<br />
Santíssima Trindade veio à Terra<br />
Mas Deus queria salvar o gênero humano, e para isso<br />
era preciso que alguém resgatasse o pecado de nossos<br />
primeiros pais. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade<br />
deveria encarnar-Se e sofrer tudo quanto Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo padeceu, para que até o fim do mundo<br />
ficassem abertas as portas da graça e do Céu para o<br />
homem.<br />
E os fiéis à comunicação de que viria um Salvador, um<br />
Messias, ficaram esperando e, em cada nova geração,<br />
eles se perguntavam: “Virá o Messias? Será o filho de um<br />
de nós?” E passaram-se milhares de anos quando, afinal,<br />
numa manhã, uma Virgem estava rezando e o Anjo Gabriel<br />
Lhe aparece, dizendo-Lhe que Ela era cheia de graça,<br />
perfeita aos olhos de Deus.<br />
O Messias nasceria d’Ela e, em última análise, perguntava-Lhe<br />
se concordava com isso. Sua resposta foi um assentimento<br />
sublime:<br />
“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo<br />
a tua palavra.”<br />
Naquele momento, o Divino Espírito Santo interveio<br />
em Nossa Senhora e o Verbo se encarnou e habitou entre<br />
nós.<br />
Previsão do atroz sofrimento<br />
Em todo presépio bem feito, o Menino Jesus aparece<br />
sorrindo, afável, como uma criança que está encantada<br />
em ver sua Mãe — que Mãe! Pode-se imaginar o encantamento<br />
d’Ela em ver seu Filho, com “F” maiúsculo;<br />
que coisa incomparável! —, mas com os braços abertos,<br />
em forma da Cruz.<br />
11
Semana<br />
Santa<br />
Quer dizer, Ele vinha à<br />
Terra ciente de que era para<br />
padecer o sofrimento da<br />
Cruz. Jesus sabia tudo<br />
que iria sofrer em todos<br />
os dias de sua vida,<br />
para salvar os homens.<br />
Ele foi o ápice dos profetas,<br />
o Profeta perfeito;<br />
não só previa o que<br />
acontecia, mas fazia o que<br />
previa.<br />
Há composições muito<br />
bonitas — São José era<br />
carpinteiro — que representam<br />
Jesus, já adolescentezinho,<br />
trabalhando com<br />
o pai. Em certo momento,<br />
Ele apanha dois pedaços<br />
de madeira formando uma<br />
cruz e fica, sozinho, contemplando-a.<br />
Outras mostram Nossa<br />
Senhora, na casa de Nazaré,<br />
olhando, por uma porta<br />
entreaberta, Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo, que está<br />
numa sala vizinha rezando<br />
com os braços abertos em<br />
cruz, compreendendo e présofrendo<br />
o que viria.<br />
Início da vida<br />
pública<br />
Ele passou trinta anos de<br />
vida particular na oração,<br />
no recolhimento, junto com<br />
São José e Nossa Senhora.<br />
E nesse período faleceu São<br />
José, que é o Patrono da boa<br />
morte, porque morreu tendo<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo<br />
e Nossa Senhora alentandoo.<br />
Portanto, não se pode ter<br />
melhor morte do que a dele.<br />
Certo dia, Jesus se despede<br />
de Maria Santíssima,<br />
a qual compreende que Ele<br />
vai para a sua vida pública.<br />
Não será mais a vida do lar,<br />
mas a do mundo; Ele vai começar<br />
a pregar, fazer milagres, converter pessoas, bem<br />
como suscitar um entusiasmo e uma veneração indizíveis,<br />
que se manifestarão no Domingo de Ramos.<br />
Mas também vai despertar a inveja, o ódio. Muitos viram-No<br />
chorar pela morte de Lázaro e depois, chegando<br />
diante de seu sepulcro, dar a ordem: “Lázaro, venha para<br />
fora!” Lázaro levantou-se, provavelmente ainda todo<br />
enfaixado com as tiras com que os judeus envolviam os<br />
mortos, e desfez-se daquilo.<br />
Coisa fantástica, pois afirma a Escritura que Lázaro<br />
estava havia quatro dias na sepultura e, conforme<br />
disse Marta, já devia estar cheirando mal. Nosso Senhor<br />
mandou-o sair da sepultura, e ele assim o fez<br />
em condições de perfeita saúde.<br />
Podemos calcular a alegria de suas irmãs e o entusiasmo<br />
dos que seguiam a Nosso Senhor! Mas houve também<br />
ódio a Nosso Senhor, porque Ele era santo e pregava<br />
a virtude. Os maus odeiam o bem, a virtude, e a quem<br />
faz milagres para propagar o bem e a virtude.<br />
Movidos por esse ódio, os maus combinaram entre si<br />
de matar Jesus.<br />
Nosso Senhor celebra a Páscoa<br />
e chora sobre Jerusalém<br />
Afinal, chega o momento. Era Páscoa, e Nosso Senhor<br />
vai com os seus ao Cenáculo, a fim de celebrá-la. Ele institui<br />
a Sagrada Eucaristia e depois, com os Apóstolos, se<br />
dirige cantando, como era costume entre os judeus, para<br />
um lugar onde pudessem fazer oração.<br />
Chegam assim ao Horto das Oliveiras, depois de ter<br />
passado por um local do qual viam de longe o templo<br />
e a cidade de Jerusalém, sobre a qual Jesus havia chorado.<br />
Ele sabia perfeitamente que aquele templo seria<br />
destruído, e também a cidade, a respeito da qual fez<br />
uma linda comparação: quantas vezes procurou reunir<br />
sua população em torno d’Ele, como a galinha faz com<br />
os pintainhos. Entretanto, eles não quiseram e veio o<br />
castigo.<br />
O lance mais pungente da Paixão<br />
Começou, depois, a Paixão de Nosso Senhor, com sofrimentos<br />
inenarráveis. A meu ver, o mais doloroso ocorreu<br />
quando Ele se encontrou com Nossa Senhora, porque<br />
A viu sofrer tudo quanto um coração de mãe pode padecer<br />
naquela situação, no meio daquela canalha vil. Ela sabia<br />
que Jesus estava sendo conduzido para a morte e seguiu-O,<br />
fidelíssima, até o cimo do Calvário, onde ficou aos<br />
pés da Cruz até o momento de Ele morrer.<br />
No alto da Cruz, quando os estertores das piores dores<br />
O atormentavam, Nosso Senhor fez ainda um ato bo-<br />
12
níssimo, convertendo o bom ladrão, que se chamava Dimas,<br />
e dizendo-lhe: “Hodie eris mecum in paradiso — Tu<br />
estarás comigo hoje no Paraíso.” Foi a primeira canonização,<br />
e a Igreja o saúda como São Dimas. Ele havia sido<br />
um ladrão, um bandido, mas abria-se agora a era da<br />
misericórdia.<br />
Os últimos sofrimentos<br />
Recentemente, médicos estudaram o que Nosso Senhor<br />
deve ter sofrido na Cruz. Cada um de seus pulsos<br />
foi transpassado por um cravo, e não havia um suporte<br />
embaixo dos pés, como em geral os crucifixos apresentam.<br />
Seus pés também estavam atravessados por<br />
um cravo, que os prendia diretamente no madeiro da<br />
Cruz.<br />
Antes de ser crucificado, Nosso Senhor havia perdido<br />
bastante sangue, mas no alto da Cruz perdia muito mais.<br />
Quando sentia falta de ar, a fim de respirar melhor, Ele<br />
se elevava apoiado nos cravos das mãos e dos pés, sofrendo<br />
com isso dores atrozes.<br />
Nesse terrível tormento Jesus ainda disse: “Mulher,<br />
eis aí teu filho!”, “Filho, eis aí tua Mãe.” Essas palavras<br />
indicavam um grande perdão, porque São João Evangelista<br />
havia dormido no Horto das Oliveiras.<br />
O fato é que São João, a partir daquele momento, passou<br />
a ser especialmente filho de Nossa Senhora. Ele era<br />
parente muito chegado de Maria Santíssima, porque a<br />
mãe dele era prima d’Ela. Mas não era filho. Filho ele<br />
se tornou quando Nosso Senhor disse-lhe: “Filho, eis aí<br />
tua mãe.” Aquele que horas antes fugira, recebia agora a<br />
maior graça que se pode imaginar.<br />
E no auge das dores, Jesus exclamou: “Meu Deus,<br />
meu Deus, por que me abandonaste?” Ele sabia que<br />
não estava abandonado; era um clamor, pois seu sofrimento<br />
havia chegado ao auge. Depois inclinou a cabeça<br />
e expirou.<br />
No alto da Cruz,<br />
Nosso Senhor tinha presente<br />
cada ato que praticamos<br />
Nosso Senhor tinha ciência de tudo, do presente, passado<br />
e futuro, porque era o Homem-Deus. Conhecia todas<br />
as pessoas e, portanto, cada um de nós individualmente.<br />
No alto da Cruz, Ele teve em vista todos os pecados<br />
por nós cometidos, todos os nossos atos de virtude,<br />
minhas palavras neste auditório e os que estão me ouvindo.<br />
E ofereceu seus sofrimentos e sua vida por cada um<br />
de nós individualmente.<br />
Jesus abriu o Céu para nossas almas. Continuamente<br />
nos concede graças, sua misericórdia desce sobre nós.<br />
Ele vem ao nosso coração por meio da Sagrada Comunhão.<br />
Sua Mãe está rezando o tempo inteiro no Céu por<br />
nós, como nossa Advogada.<br />
O problema central de nossa vida...<br />
Caso pequemos, arrependamo-nos imediatamente e,<br />
por meio de Maria Santíssima, peçamos a Ele que nos<br />
perdoe. Se for um pecado mortal, precisamos ir logo nos<br />
confessar para que essa mancha repugnante e horrível se<br />
apague de nossas almas, a fim de voltarmos à graça de<br />
Deus.<br />
E devemos nos compenetrar de que o problema<br />
central de nossa vida consiste em praticarmos cada<br />
vez mais atos de virtude e sermos imitadores de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo, pela intercessão de Maria. E,<br />
por outro lado, calcarmos aos pés o demônio, recusando<br />
as solicitações para o pecado que ele nos faz<br />
para o pecado. E, confiando em Nossa Senhora, poderemos<br />
dizer: “Non peccabo in aeternum – Não pecarei<br />
eternamente.”<br />
Para que tudo isto não se apague das almas dos<br />
meus ouvintes — recordem-se de como o beneficiado<br />
tende a se esquecer do benefício<br />
recebido —, é preciso rezar a Nossa<br />
Senhora, pedindo-Lhe que isso não<br />
aconteça. E que Ela<br />
lhes dê as graças necessárias<br />
e superabundantes<br />
a fim de<br />
não pecarem<br />
mais. Desse<br />
modo, suas<br />
vidas transcorrerão<br />
na<br />
contínua amizade<br />
de Deus e de<br />
Nossa Senhora, até o<br />
momento bem-aventurado<br />
em que entregarem<br />
suas almas a Deus e<br />
subirem para o Céu.<br />
Esta é uma introdução<br />
para esses dias de<br />
meditação. v<br />
(Extraído<br />
de conferência<br />
de 2/3/1991)<br />
G. Kralj<br />
13
Semana<br />
Santa<br />
Como devemos carregar<br />
a nossa cruz<br />
A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo nos serve<br />
de lição para a vida: devemos, também nós,<br />
carregar nossa cruz todos os dias! Ao meditar o<br />
sofrimento do Redentor, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> haure valiosos<br />
princípios para nossa vida espiritual.<br />
Beijo<br />
de Judas -<br />
Escada<br />
Santa,<br />
Roma<br />
T. Ring<br />
Sendo hoje Quinta-feira Santa, pareceu-me conveniente<br />
comentar alguns trechos da “Concordância<br />
dos Santos Evangelhos” 1 , a fim de nos prepararmos<br />
para a grande comemoração que amanhã se dará:<br />
a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto da<br />
Cruz e a Redenção do gênero humano.<br />
Acontecimentos trágicos<br />
que viriam depois<br />
“Depois dessas palavras, tendo recitado o<br />
hino de ação de graças, saiu Jesus com os<br />
discípulos para além da corrente do Cedrão.<br />
Dirigindo-se para o Monte das Oliveiras<br />
segundo costumava, chegara a<br />
um lugar chamado Getsêmani, onde<br />
havia um jardim em que entrou com<br />
seus discípulos.<br />
“Chegando a esse lugar, disse-lhes Jesus:<br />
‘Sentai-vos aqui, enquanto vou ali fazer<br />
oração. Orai também para que não entreis<br />
em tentação.’”<br />
Vemos que há uma delimitação clara<br />
entre a festa de instituição da Eucaristia,<br />
da primeira Missa, e a Paixão de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo. A Santa Ceia tem um<br />
caráter festivo, sobre o qual já se projetam<br />
as sombras e as tristezas dos acontecimentos<br />
trágicos que virão depois. Concluída<br />
a ação de graças, a festa cessou, e<br />
Ele começa então a enfrentar a dor, o drama,<br />
a grande luta. Sua vida já fora de lutas, mas nesse<br />
momento ela chega ao auge, ao apogeu.
T. Ring<br />
Para bem saborear os acontecimentos<br />
que o Evangelho narra,<br />
nessa linguagem tão simples, devemos<br />
imaginar o estado de alma<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo, as<br />
disposições do Sagrado Coração<br />
de Jesus ao longo desses fatos.<br />
A Santa Ceia para Ele foi triste<br />
por dois motivos: em primeiro<br />
lugar porque o Redentor via a<br />
Paixão que começaria logo após,<br />
pois, evidentemente, Ele tinha o<br />
conhecimento de tudo.<br />
E também por causa da situação<br />
tristíssima dos Apóstolos. Na<br />
narração da Santa Ceia aparecem<br />
manifestações da insuficiência e<br />
da mediocridade dos Apóstolos.<br />
E o que deveria cortar o Sagrado<br />
Coração de Jesus, transpassá-Lo<br />
mais do que a lança de Longinos,<br />
era a infidelidade dos Apóstolos,<br />
o insucesso da obra que Nosso Senhor<br />
havia começado com eles.<br />
O Redentor, dando-lhes a<br />
maior manifestação de seu amor<br />
até aquele momento, instituindo<br />
a Sagrada a Eucaristia e oferecendo-Se<br />
a Si próprio em comunhão<br />
a eles, vê aquelas almas receberem<br />
esse dom incomparável com<br />
frieza: São Pedro, grandiloquente; Judas, nas condições<br />
abomináveis que não vale a pena referir; os outros Apóstolos<br />
se preparando para a fuga.<br />
Há aquele episódio tão bonito de São João Evangelista,<br />
discípulo amado, que reclina a cabeça sobre o peito<br />
de Jesus e pergunta-Lhe quem seria o traidor; e Nosso<br />
Senhor, então, disse quem era. Ora, esse discípulo “a<br />
quem Jesus amava”, ia fugir como os outros.<br />
Quer dizer, tudo são sombras que vão baixando e ao<br />
mesmo tempo os clarões da Missa se vão acendendo. E<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo, que conhecia todos os tempos<br />
e tudo quanto haveria de acontecer, se deleitava com<br />
a idéia de toda a glória que a Sagrada Eucaristia e a Missa<br />
dão ao Padre Eterno, com as adorações que Ele receberia<br />
dos Santos e das almas eleitas, até o fim do mundo.<br />
Todos esses sentimentos penetraram no Coração<br />
d’Ele e constituíram um claro-obscuro de tristeza e alegria;<br />
em certo momento o clarão se retira e Nosso Senhor<br />
vai entrando cada vez mais nas sombras de sua dor<br />
e de sua morte. Cada passo que se aproxima é mais trágico<br />
do que o outro.<br />
Santa Ceia, após a qual Nosso Senhor partiria para o Getsêmani -<br />
Montreal (Canadá)<br />
Ele caminha, mas caminha seguramente, sem um<br />
minuto de distensão, de alívio — a não ser quando recebeu<br />
o Anjo que o consolou, e na hora em que viu<br />
Nossa Senhora e teve a presença d’Ela ao longo da via<br />
sacra —, tendo no alto do Calvário, no auge da dor,<br />
exclamado: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”<br />
2<br />
E até o consummatum est, ou seja, tudo quanto era para<br />
sofrer está sofrido, as coisas vão se tornando mais densas<br />
para Ele.<br />
A Paixão, uma luta travada na solidão<br />
Então, podemos imaginá-Lo triste após a Ceia, andando<br />
pelas ruas de Jerusalém com os Apóstolos, até o<br />
Getsêmani, onde começa sua agonia — agonia, em grego,<br />
quer dizer luta; os atletas eram chamados agonistas,<br />
porque lutavam na arena —, ou seja, a grande luta que<br />
Ele vai travar sozinho. E a solidão é uma das tragédias<br />
d’Ele durante a Paixão, até o momento em que Nossa Senhora<br />
aparece.<br />
15
Semana<br />
Santa<br />
Ele se isola, porque<br />
sente que ninguém é digno<br />
de estar perto d’Ele nesta<br />
hora, e diz aos Apóstolos<br />
sonolentos e indiferentes:<br />
“Sentai-vos aqui, enquanto<br />
vou ali fazer<br />
oração. Orai também<br />
para que não entreis em<br />
tentação.”<br />
Quando Ele se afasta,<br />
em vez de algum Apóstolo<br />
perguntar-Lhe “Senhor,<br />
por que Vos isolais?” ou<br />
“Senhor, não precisais de<br />
mim?”, eles nesse lance começam<br />
a vacilar, e a tragédia<br />
de alma de Jesus já se<br />
faz sentir.<br />
“Depois, tomando consigo<br />
a Pedro e os dois filhos<br />
de Zebedeu, Tiago e João,<br />
começou a sentir pavor e<br />
angústia, e caiu em tristeza<br />
e abatimento. — Minha<br />
alma está triste até a morte,<br />
lhes disse Ele. Ficai aqui e<br />
velai comigo.”<br />
Esses Apóstolos, Ele<br />
quis ter consigo — os outros,<br />
deixou para trás —,<br />
e numa maior intimidade<br />
lhes explica: “Minha alma<br />
está triste até a morte.” E<br />
pede-lhes: “Velai”, ou seja,<br />
“Ficai acordados comigo.<br />
Eu quero ter o reconforto<br />
de vossa presença e de<br />
vossa compaixão, enquanto<br />
estiver passando por esta<br />
dor tão grande.”<br />
“Adiantando-se um pouco,<br />
afastou-se deles à distância<br />
de um tiro de pedra, prostrou-se<br />
com a face no chão<br />
e começou a orar para que,<br />
se fosse possível, se afastasse<br />
d’Ele aquela hora.”<br />
Tenhamos em mente<br />
o Santo Sudário de Turim:<br />
aquele olhar, aquela<br />
G. Kralj<br />
Acima: Getsêmani, jardim onde Jesus entrou com<br />
seus discípulos; à direita: Nossa Senhora das Dores -<br />
Basílica da Vitória, Málaga (Espanha).<br />
majestade de Nosso Senhor. O que significaria, para<br />
quem tivesse um pouco de alma, ver aquela fronte na<br />
qual estava resumida toda a glória do universo, aquele<br />
olhar que sintetizava, em grau excelso, de superação<br />
inimaginável, a santidade possível em todas as almas<br />
em todos os tempos, a inteligência, a força, a bondade,<br />
enfim todas as qualidades; contemplar aquela face,<br />
o mais perfeito espelho de Deus, que jamais tinha<br />
sido criado!<br />
“Faça-se a vossa vontade<br />
e não a minha”<br />
Podemos imaginar Nosso Senhor — que era um varão<br />
alto —, com uma túnica branca, numa noite que talvez<br />
tivesse a claridade da lua, com as sombras do arvoredo<br />
produzindo um claro-obscuro. O que teria de pungente,<br />
ver esse varão majestoso, inteiramente só... De<br />
repente, uma grande forma branca que se inclina e põe<br />
sua face em terra! Então, o Rei de toda glória rezava<br />
prostrado, acabrunhado por uma tristeza que O tomava<br />
até a morte.
S. Hollmann<br />
E Ele dizia na sua oração, que os Apóstolos ouviram<br />
para depois poder contar, e assim ficasse constando<br />
para todo o sempre, estas palavras memoriais:<br />
“Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. Todavia,<br />
faça-se a vossa vontade e não a minha.”<br />
É a oração mais doce, mais forte e mais contrarrevolucionária<br />
que talvez se tenha feito em toda a Terra.<br />
Mais doce porque, vendo que o Padre Eterno quer o<br />
tormento, o martírio d’Ele, e vai tomá-Lo como vítima,<br />
Jesus Se apresenta cheio de amor e O trata “Meu Pai”,<br />
as palavras mais suaves que uma pessoa possa dizer a<br />
outra.<br />
“Meu Pai”, diz Ele como quem geme! Sabe que vai sofrer<br />
aquele tormento, necessário segundo os desígnios de<br />
Deus, para sua glória. E Jesus, na sua humildade Santíssima,<br />
como que abandonado, seccionado de sua divindade,<br />
fica naquelas trevas. Sua natureza humana pede:<br />
“Se for possível evitar esse tormento, afastai-o”. Como<br />
quem diz: “É tão grande o peso da dor, que sou levado a<br />
Vos perguntar: Por misericórdia, não existe um modo de<br />
afastá-lo?”<br />
Mas, logo depois Nosso Senhor acrescenta: “Se<br />
não for possível, faça-se a vossa vontade<br />
e não a minha.” Vemos, então, além do<br />
afeto, a força: “Não sendo possível, embora<br />
não aguente, não tenha recursos,<br />
Eu começarei; porque nada existe que Eu<br />
não esteja disposto a empreender para fazer<br />
a vossa vontade. Sou o Varão forte por<br />
excelência, esmagado, quebrado, aniquilado.<br />
Estou, entretanto, disposto a lutar até<br />
o fim. Mandai-me a vossa força, que farei a<br />
vossa vontade.”<br />
É, portanto, uma submissão completa, uma<br />
obediência total, um ato amoroso sem nenhuma<br />
revolta, nem a sensação de que Deus não<br />
vai ser misericordioso para com Ele; vê a misericórdia<br />
até no momento em que ela pareceria<br />
impossível.<br />
Há aqui um mistério. Poder-se-ia perguntar:<br />
Deus Pai não poderia ter aceitado uma gota de<br />
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e assim<br />
redimir os homens?<br />
Realmente, uma gota de Sangue de Cristo tem<br />
valor infinito. E os teólogos dizem que simplesmente<br />
o Sangue que Ele derramou na circuncisão<br />
teria sido não só suficiente, mas superabundante,<br />
para resgatar o gênero humano. Porém, havia um<br />
desígnio de Deus, para nós misterioso, segundo o<br />
qual era preciso aquela enormidade de tormentos.<br />
O colóquio entre Ele e o Padre Eterno, tão trágico,<br />
mas ao mesmo tempo tão íntimo, nos desvenda<br />
algo que podemos sondar nas relações entre o<br />
Homem-Deus e Deus Pai. Vê-se que, por algo, o Padre<br />
Eterno e Ele mesmo, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima<br />
Trindade, não quiseram tornar isto possível. Um<br />
pouco disso se soube e esse pouco é de uma sublimidade<br />
extraordinária.<br />
Cada homem deve carregar sua cruz<br />
Jesus quis que os homens vissem todo o sofrimento<br />
d’Ele, para que cada um de nós tivesse a coragem<br />
de carregar o seu próprio sofrimento. Se o Homem-<br />
Deus passasse pela Terra e sofresse um pouquinho,<br />
derramando uma gotinha de sangue, remidos estávamos.<br />
Mas faltaria a lição de conformidade com a dor,<br />
de aceitação do sofrimento como sendo a mais alta<br />
coisa da vida — não um desastre, um trambolho, algo<br />
que não se compreende e não deveria ter sucedido<br />
—, o caminho necessário para que o homem che-<br />
17
Semana<br />
Santa<br />
gue até onde deve chegar,<br />
a estrada para a qual ele<br />
se dirige como sendo a realização<br />
de seu próprio<br />
destino.<br />
Quer dizer, cada um<br />
de nós nasceu para carregar<br />
uma cruz, passar<br />
por um horto das oliveiras,<br />
beber um cálice,<br />
ter as suas horas de agonia<br />
e em que diz a Deus Nosso<br />
Senhor: “Meu Pai, se possível,<br />
afastai de mim este cálice,<br />
mas faça-se a vossa vontade<br />
e não a minha.”<br />
A idéia de que o homem<br />
nasceu para dar glória<br />
a Deus, antes de tudo<br />
sofrendo, esta idéia retriz,<br />
fundamental na formação<br />
do verdadeiro católico,<br />
não a teríamos se não fosse<br />
apresentada pelo mais<br />
sublime e arrebatador dos<br />
exemplos, que é Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo morrendo<br />
na Cruz.<br />
Vemos aqui um contraste<br />
com o espírito moderno,<br />
segundo o qual a finalidade<br />
do homem na Terra<br />
é ter êxito, saúde, enriquecer,<br />
gozar a vida e morrer<br />
bem tarde, quando não<br />
mais houver remédio. E,<br />
durante toda a existência,<br />
ter a maior quota possível<br />
de segurança, de maneira<br />
tal que, não digo o sofrimento,<br />
mas o medo do sofrimento,<br />
não o assalte. Tal<br />
visualização é pagã por essência.<br />
Calcular a vida assim<br />
é calculá-la à maneira<br />
de um pagão. A formação<br />
católica prepara as pessoas<br />
para o sofrimento, pois está<br />
fundamentada em Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo, cuja<br />
vida foi centrada nesta hora<br />
suprema da dor.<br />
Acima: Jesus consola as filhas de Jerusalém;<br />
ao lado: <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> venera a Santa Cruz<br />
durante uma cerimônia de Semana Santa.<br />
Como consideramos os<br />
sofrimentos de nossa vida?<br />
Isto nos leva a perguntar como consideramos os sofrimentos<br />
de nossa vida, dos quais o maior, sem dúvida nenhuma,<br />
é a nossa própria santificação. Toda santificação<br />
séria faz sofrer, e sofrer muito. E se alguém me disser<br />
que não sofre, eu teria vontade de perguntar-lhe, de imediato:<br />
“Então tu não te santificas?” Porque não há santificação<br />
que não venha acompanhada de dor.
Visando nossa santificação, devemos fazer perguntas<br />
como as seguintes:<br />
Combatemos os maus impulsos que, em consequência<br />
do pecado original e das nossas más ações, existem dentro<br />
de nós? Como fazemos, não só para reprimir os maus impulsos,<br />
mas para praticar as virtudes que lhes são opostas?<br />
Aceitamos as nossas limitações de inteligência, físicas<br />
de toda ordem, sociais, tais como: falta de posição, de fortuna,<br />
de atrativos? Há pessoas sem graça, com as quais os<br />
outros não gostam de ter relações; passam diante delas<br />
e, quando muito, as cumprimentam. Existem também as<br />
muito engraçadas, procuradas por todo o mundo para se<br />
divertirem com elas, e que nos solicitam à palhaçada. Como<br />
aceitamos a necessidade de resistir a essa solicitação?<br />
Para tudo isto, cada um tem a sua cruz. E Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo nos mostra o papel fundamental do sofrimento.<br />
Uma das razões pelas quais não foi possível ao<br />
Padre Eterno atender à oração de Jesus foi que os homens<br />
tivessem esse exemplo.<br />
Quando Napoleão estava na fase ascensional de sua<br />
carreira, antes ainda de se tornar imperador, um bajulador<br />
disse-lhe: “General Bonaparte, por que vós não vos<br />
fazeis proclamar deus?” Os antigos heróis romanos, e os<br />
da Antiguidade em geral, quando “megalavam” 3 muito,<br />
acabavam sendo divinizados. Ele olhou para o sujeito de<br />
frente e deu esta resposta esmagadora: “Depois de Jesus<br />
Cristo, só há um jeito de alguém ser tomado a sério como<br />
deus: subir no alto do Calvário fazendo-se crucificar. Eu<br />
não estou disposto a isto.”<br />
O exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo calou tão<br />
fundo que nunca mais nenhum candidato à divindade foi<br />
tomado a sério, porque só a cruz é séria, e apenas são<br />
verdadeiramente sérios os homens que querem carregar<br />
sua cruz. Portanto, devemos amar a nossa cruz e meditar<br />
sobre os pontos acima referidos.<br />
Ele sofreu para que, por exemplo, no dia 30 de março<br />
de 1972, neste pequeno auditório, pudéssemos meditar isto<br />
juntos, e cada um sair daqui mais resolvido a combater<br />
o seu bom combate. Quer dizer, a carregar sua cruz. v<br />
(Extraído de conferência de 30/3/1972)<br />
1) “Concordância dos Santos Evangelhos” ou “Os quatro<br />
Evangelhos reunidos em um só”, de autoria do Arcebispo<br />
de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. São Paulo:<br />
Ave Maria, 3ª ed., 1940, p. 365-368.<br />
2) Mt 27,46.<br />
3) “Megalar”, termo criado por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, derivado de magalomania<br />
(mania de grandeza). Usado no sentido de “exagerar<br />
as próprias qualidades”, “envaidecer-se”, etc.<br />
Arquivo revista<br />
F. Boulay<br />
19
Semana<br />
Santa<br />
O Sepulcro do<br />
Senhor<br />
Imaginando o Santo Sepulcro, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> faz<br />
riquíssimas considerações que podem inspirar-nos à<br />
meditação por ocasião da Páscoa.<br />
Atualmente, o ambiente<br />
que cerca o<br />
Santo Sepulcro difere<br />
bastante daquele existente<br />
quando Nosso Senhor ali<br />
estava morto na sua humanidade.<br />
Entretanto, a fim de fazer<br />
uma meditação sobre a Ressurreição<br />
de Cristo, farei o<br />
que Santo Inácio de Loyola<br />
chama, nos Exercícios Espirituais, a composição de lugar,<br />
sabendo que o Santo Sepulcro assim não foi. Vou<br />
imaginar um sepulcro em concreto, ou seja, real, e depois<br />
descreverei a impressão que ele me causaria, se lá<br />
estivesse.<br />
Um arco prodigioso, não definido<br />
Eu imaginaria o Santo Sepulcro como algo completamente<br />
tosco, aberto na pedra pelos pedreiros de José de<br />
Arimateia, que formavam talvez uma das primeiras em-<br />
Fotos: G. Kralj, F. Boulay<br />
Santo Sepulcro
presas funerárias do mundo. Uma coisa tosca, mas para<br />
quem soubesse interpretar e conhecesse o gótico, olhando<br />
para aquilo perceberia que formava um arco prodigioso,<br />
não definido. Um indivíduo que vivesse no tempo<br />
de Jesus não perceberia, mas um medieval diria: “Olha<br />
o gótico!” Se quiserem, foi a primeira ogiva da História.<br />
A lápide que encerrava o Santo Sepulcro, ao contrário<br />
de ter aquela beleza leve do gótico, aquele charme, seria<br />
uma pedra bruta como que fazendo carranca.<br />
E a ogiva era um louvor do Filho de Deus e a tragédia<br />
do deicídio, a justaposição do lindo e do horror da morte,<br />
da virtude e do pecado.<br />
A câmara mortuária em forma de cruz<br />
Como se poderia imaginar a câmara mortuária onde<br />
estava Nosso Senhor?<br />
Poder-se-ia representar, não uma montanha gigantesca,<br />
seria ridículo, mas uma rocha muito grande, ainda<br />
com terra por cima, com plantas, de maneira que se<br />
sentisse que ela é muito maior do que nossos olhos percebem.<br />
Afastada a pedra de abertura, entrar-se-ia numa espécie<br />
de corredor, no fundo do qual se tem a idéia do âmago<br />
da morte. E no âmago da morte, o Deus vivo.<br />
É bonito imaginar o cortejo que entra, levando o sagrado<br />
Corpo: os archotes, a resina dos mesmos e a fumaça<br />
marcando o teto e as paredes; aquela escavação escura<br />
e tenebrosa vai recebendo uma luz surpreendente.<br />
Nessa escavação, cuja forma seria alongada, haveria<br />
uma como que mesa de pedra, sobre a qual se colocaria<br />
o Corpo divino.<br />
Quem prestasse uma atenção amorosa e meditativa<br />
perceberia, não à primeira vista, mas à terceira ou quarta,<br />
que aquilo formava uma cruz. No âmago da morte<br />
não cabe a festa nem o pulchrum ostentado, mas apenas<br />
insinuado, entrevisto.<br />
Contraste entre Nossa Senhora<br />
e a montanha de pedra<br />
Prestando-se atenção nas paredes e na estrutura geral,<br />
se compreenderia que aquilo representava um docel fabuloso,<br />
embora de pedra comum, o docel de todos os séculos,<br />
pois ali estava colocado o Corpo de Nosso Senhor.<br />
Talvez não se devesse imaginar que também Nossa Senhora<br />
entrasse. Ela, em cujo claustro Nosso Senhor tomou<br />
vida, vendo agora o sepulcro onde está o seu Filho<br />
morto! Seria lancinante o contraste entre a Virgem-<br />
Mãe e a montanha de pedra, a vida que começa e a morte<br />
dando seu golpe brutal, o crime mais inopinado, mais<br />
satânico, mais estúpido, se não fosse diabólico.<br />
Assim, podemos conceber que Ela julgasse não dever<br />
estar ali, como uma espécie de protesto das entranhas<br />
que O geraram contra a entranha de pedra que O<br />
vai conter: uma incompatibilidade intransponível.<br />
É mais bonito supor que todos saem, ficando ali apenas<br />
o sagrado Corpo ultra-aromatizado, isolado, na escuridão<br />
completa, havendo, na aparência, a vitória deslumbrante<br />
da impiedade, da vulgaridade, da morte, do pecado,<br />
sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
Fosforescência lívida, mas gloriosa<br />
Se, pela ação de um anjo, uma pessoa tivesse a felicidade<br />
de ver através da rocha, perceberia que do Corpo<br />
emanava uma discretíssima claridade, não a de um homem<br />
vivo, mas a de um cadáver. Para a autenticidade da<br />
Ressurreição era preciso que Jesus estivesse morto, com<br />
todas as características da morte, exceto a putrefação,<br />
que n’Ele não cabe. Se não fosse irreverência, poder-seia<br />
comparar essa luminosidade à fosforescência. Seria<br />
uma fosforescência lívida e cadavérica, mas gloriosa.<br />
Num canto qualquer, e também no solo, uma luz mantida<br />
por anjos, que brilhasse de um modo lindíssimo, como<br />
um vitral iluminado por detrás. Brilharia apenas num<br />
canto, sem chegar a iluminar tudo, como são os quadros<br />
da escola holandesa.<br />
E por que no chão? Porque a glória de Nosso Senhor<br />
impunha que, junto ao cadáver d’Ele, nunca se fizesse<br />
noite completa.<br />
Seria de certo modo o lumen gloriae 1 porque, no lugar<br />
da morte, a luz não tem a sua residência própria. Ela está<br />
como que enxovalhada, posta de lado, iluminando só<br />
um canto, enquanto a vida não voltar para Ele. Tratar-seia<br />
de luz angélica, que não precisa de oxigênio, pois independe<br />
das leis da Física.<br />
E essa luminosidade aumentaria paulatinamente,<br />
se desdobrando em como que fosforescências cada vez<br />
mais bonitas, cujas várias zonas lembrassem os tormentos<br />
d’Ele e tudo quanto em sua alma humana, em união<br />
hipostática com a Divindade, se passou durante a existência:<br />
a vida íntima da Sagrada Família, os três anos da<br />
vida pública, a aurora radiosa, a glória, a perseguição, as<br />
apreensões, o Horto das Oliveiras, tudo isto iria se desdobrando<br />
em luzes. Seria como que uma narração.<br />
Poderíamos imaginar também que as feridas, as chagas<br />
sagradas, fossem gradualmente tomando, em harmonia<br />
com isso, à maneira de matizes, fosforescências próprias,<br />
indicando o significado de cada uma, o que Ele havia<br />
sofrido e expiado em cada passo da Paixão.<br />
Quando isto estivesse inteiramente representado, seria<br />
preciso pensar nas legiões de anjos adorando o sagrado<br />
cadáver. E, incomparavelmente superior a todos<br />
21
Semana<br />
Santa<br />
os anjos, Nossa Senhora à<br />
distância, no Cenáculo, em<br />
contínua adoração. Poderse-ia<br />
objetar: “Está bem,<br />
mas anjo não precisa de<br />
fosforescência.” Sim,<br />
mas ela poderia existir<br />
para que algum dia<br />
fosse o seu sentido meditado<br />
por outros.<br />
Nesse momento, algo<br />
de novo começaria a se dar<br />
dentro do Santo Sepulcro.<br />
Duas formas<br />
de imaginar a<br />
Ressurreição<br />
Podemos imaginar duas<br />
formas de Ressurreição.<br />
Cristo morto, deitado,<br />
em determinado instante,<br />
dá sinais de vida; a fosforescência<br />
se torna uma<br />
luminosidade e sua Alma<br />
imediatamente glorifica<br />
a Deus Pai, faz um ato de<br />
amor ao Espírito Santo. A<br />
Pessoa do Verbo Se levanta<br />
com uma majestade indizível<br />
e caminha no sepulcro<br />
transformado, de repente,<br />
numa catedral feita de luzes,<br />
em meio aos cânticos<br />
dos anjos.<br />
Chegando junto à entrada,<br />
os anjos rodam a pedra<br />
e Ele… meus ouvintes estão<br />
imaginando que Ele apareceria<br />
a Santa Maria Madalena.<br />
Não. Do momento em<br />
que Nosso Senhor se levantou<br />
até o instante em que ela<br />
O reconheceu, houve um interstício<br />
insignificante. É-<br />
nos lícito imaginar que, com<br />
o deslocamento rapidíssimo<br />
dos corpos gloriosos, neste<br />
interstício Jesus esteve no<br />
Cenáculo e apareceu a Nossa<br />
Senhora. Assim, imagino<br />
ter sido Ela a primeira pessoa<br />
que O viu. E logo depois Se apresentou a Maria Madalena,<br />
tendo então lugar a cena que o Evangelho descreve.<br />
Essa seria uma modalidade de imaginar a Ressurreição.<br />
Conforme a piedade e o modo de ser de cada um, poder-se-ia<br />
supô-la de outro modo: nas trevas intensas, de<br />
repente, à maneira de um corisco sublime, a montanha<br />
como que racha, Nosso Senhor se levanta como um raio<br />
e, num instante, está junto à porta. Um anjo rola a pedra<br />
e Ele se encontra diante dos olhos de Maria Santíssima.<br />
Fato tocante: durante toda a<br />
Paixão, Nossa Senhora teve em<br />
Si a presença eucarística<br />
Há, entretanto, um fato tocante, do qual as pessoas<br />
que meditam sobre a Ressurreição nem sempre se lembram:<br />
Nossa Senhora fez sua primeira Comunhão no<br />
Cenáculo, quando Jesus instituiu a Eucaristia; e a partir<br />
desse momento — hipótese defendida por inúmeros teólogos<br />
2 —, nunca mais a presença real n’Ela cessou. E depois<br />
de sua morte, Jesus de fato estava em dois lugares<br />
no mundo: na sepultura e em Nossa Senhora.<br />
Isso forma, a meu ver, um contraste lindíssimo e afirma,<br />
de um modo tão glorioso que não encontro palavras<br />
para qualificar, a vitória de Nosso Senhor sobre o demônio,<br />
porque Ele morto estava em seu paraíso, ou seja,<br />
Maria Santíssima. E, durante a Paixão, Ele estava atado<br />
à coluna, carregando a Cruz, crucificado e até morrendo,<br />
mas permanecia ao mesmo tempo no paraíso d’Ele e —<br />
julgo indispensável considerar isso — desse modo triunfava<br />
dentro de sua derrota.<br />
Eis aí, de modo esquemático, alguns pontos que depois<br />
devem ser desdobrados, para se fazer uma meditação<br />
sobre a Ressurreição.<br />
No fim do mundo, o incêndio<br />
poupará o Santo Sepulcro<br />
Devemos também recordar a glória que ao Santo<br />
Sepulcro deram os fiéis em todo o curso da História,<br />
mas me comprazo em pensar especialmente nos que<br />
derramaram o sangue para libertá-lo. Ficaram eles desolados<br />
quando souberam que o Santo Sepulcro estava<br />
ocupado pelos inimigos da Igreja, impedindo aos católicos<br />
do Oriente de para lá se dirigirem. Além da desolação,<br />
houve a indignação do Papa Bem-aventurado,<br />
Urbano II, que pregou a Cruzada. Ocorreu, então,<br />
por toda a Europa aquela espécie de santa propagação,<br />
como a luz, do brado “Deus o quer!”, e avalan-
ches de cruzados, durante muito tempo, lutaram para<br />
libertar o Santo Sepulcro.<br />
Depois podemos imaginar o Santo Sepulcro cercado<br />
pelas labaredas que vão consumir quase toda a Terra<br />
no fim do mundo. Digo “quase” porque alguns lugares<br />
sagrados, antes de tudo o Santo Sepulcro, vão ser<br />
poupados.<br />
Julgo que, no fim do mundo, todas as relíquias da Paixão<br />
que restarem — relíquia é o que restou — serão reunidas<br />
gloriosamente junto ao Santo Sepulcro.<br />
Quanto ao Santo Lenho, há relíquias autênticas misturadas<br />
com outras que não o são. A coroa de espinhos e<br />
os instrumentos da Paixão, os cravos, não estão inteiros.<br />
Poder-se-ia imaginar que para tais relíquias haveria uma<br />
espécie de ressurreição, ou seja, as autênticas seriam desentranhadas<br />
para se reincorporarem.<br />
Essa é uma idéia pelo menos muito simpática e enormemente<br />
atraente. Nem por isso é prova de que seja verdadeira,<br />
porque pode haver obstáculos metafísicos e teológicos<br />
a isso; seria preciso estudar o caso.<br />
Lábaro de dor<br />
A respeito do Santo Sudário, parece-me que poderá<br />
ocorrer o seguinte: continuará sendo uma espécie de lábaro<br />
de dor, lembrando as sofrimentos de Nosso Senhor;<br />
ou acontecerá o que sucedeu com suas chagas, as quais<br />
se tornaram gloriosas, recordando todos os crimes cometidos<br />
contra Ele. Quem sabe, o Santo Sudário conserve<br />
esse aspecto funerário e doloroso — é como que a fotografia<br />
da própria dor —, mas irradiando uma glória como<br />
as chagas.<br />
Ninguém pode descrever como seria essa glória. O<br />
Santo Sudário é uma “fotografia” — entre aspas — de<br />
Nosso Senhor; todo o brilho que aquele emitir vai ser<br />
uma espécie de réplica do esplendor que do Divino Redentor<br />
promanará, e será objeto de enlevo, de adoração,<br />
etc., de todos os anjos e bem-aventurados.<br />
O Corpo sacratíssimo de Nosso Senhor, com suas chagas,<br />
e analogamente o Santo Sudário, brilharão, constituindo<br />
o gáudio de todos os eleitos. E cada um de nós verá<br />
então, com reconhecimento, o que custou seu próprio<br />
resgate.<br />
O Imaculado Coração<br />
de Maria: a mais perfeita figura<br />
de Nosso Senhor<br />
Tudo quanto Nosso Senhor sofreu e, lindamente, Maria<br />
Santíssima padeceu em união com Ele, se projetará<br />
sobre os anjos maus e os réprobos de maneira a estertorarem<br />
de ódio e de horror.<br />
Imaginemos<br />
que o indivíduo<br />
A tenha inveja<br />
do indivíduo B.<br />
De repente, A<br />
descobre que B<br />
é príncipe e será<br />
coroado rei.<br />
A não vai assistir<br />
a coroação, preferindo<br />
ficar em<br />
algum antro se<br />
contorcendo de<br />
inveja e de ódio.<br />
Embora não esteja<br />
vendo a coroação,<br />
cada rito<br />
da mesma, cada<br />
brilhante da<br />
coroa, etc., o dilaceram.<br />
A inveja<br />
e a revolta o<br />
devoram. Assim,<br />
podemos calcular<br />
qual foi o<br />
ódio dos demônios<br />
diante do<br />
Santo Sudário<br />
e de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo,<br />
apesar de não<br />
os verem.<br />
Mas acima do<br />
Santo Sudário há<br />
uma representação<br />
mais alta de<br />
Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo.<br />
É o véu da Verônica?<br />
Não. É o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.<br />
Aquele que é a própria Beleza ali se representa com<br />
complacência.<br />
v<br />
1) Luz da glória.<br />
Após ressuscitar, Jesus aparece a<br />
Santa Maria Madalena. Igreja São João<br />
Batista - Nova Escócia, Canadá.<br />
(Extraído de conferência de 18/4/1981)<br />
2) Entre os que defendem esta piedosa hipótese está o Revmo.<br />
Pe. Gregório Alastruey em sua obra Tratado de la Virgem<br />
Santíssima. (Madrid: BAC, 1956.)<br />
G. Kralj<br />
23
Ardoroso devoto da Eucaristia<br />
Corpo, Sangue,<br />
Alma e Divindade... – II<br />
Nossa ação de graças quando comungamos deve ser completa.<br />
Além de adorarmos Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos<br />
prestar-Lhe também os outros atos de culto. A seguir, em<br />
continuação ao artigo publicado no mês anterior, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos<br />
sugere uma maneira de agradecermos tão grande dádiva.<br />
Q<br />
Arquivo revista<br />
ual é a razão de ser da ação<br />
de graças após a Comunhão?<br />
Ação de graças<br />
A ação de graças é um ato de justiça,<br />
e quem não a faz é injusto.<br />
Quando se recebe um dom muito<br />
grande, o qual não é o pagamento<br />
de uma ação boa que se fez, mas<br />
vai muito além, deve-se dar ação de<br />
graças.<br />
Imaginemos um homem que é banhista,<br />
o qual deve ajudar as pessoas<br />
a tomarem banho de mar. Antigamente<br />
havia essa profissão.<br />
Esse banhista<br />
acompanha no mar<br />
um grupo de pessoas<br />
e evita que uma delas<br />
morra afogada. Não<br />
tem propósito que esta,<br />
chegando à praia,<br />
diga: “Olha, você foi o<br />
meu salvador.” Porque<br />
o banhista é um profissional<br />
pago para isso, e<br />
aquela pessoa não entraria<br />
no mar a não ser<br />
com ele; o banhista não<br />
expôs sua vida, fez apenas<br />
algo simples, não<br />
um favor. Ao final, ela<br />
poderia dizer: “Obrigado.<br />
Até logo, aqui está<br />
o seu dinheiro.”<br />
Entretanto, se uma<br />
pessoa está se perdendo<br />
no mar e um homem<br />
se atira na água com todo o risco,<br />
salva-a e a conduz para a praia, a<br />
primeira coisa que ela deve dizer-lhe<br />
é: “Muito obrigado.” Trata-se de um<br />
dever de justiça.<br />
Vou indicar alguns favores que<br />
Nosso Senhor nos fez. O primeiro:<br />
não existíamos e, por sua onipotência,<br />
Ele nos criou. Isso é mais do que<br />
salvar a vida. Um homem que salva<br />
minha vida adia uma morte que, ao<br />
cabo de algum tempo, terei. Quem<br />
me criou deu-me a vida da alma, a<br />
qual nunca deixarei de possuir. Eu,<br />
<strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira — como<br />
todo ente humano — jamais deixarei<br />
de existir. Enquanto Deus for Deus,<br />
eu serei. Na Comunhão, Ele vem a<br />
mim e eu não agradeço?<br />
Segundo favor: Ele Se encarnou,<br />
tornando-se homem com a mesma<br />
natureza de cada um de nós. E o faria<br />
por um só de nós. Isso é extraordinário,<br />
e devo agradecer.<br />
Terceiro: Nosso Senhor nos libertou<br />
da escravidão do pecado, derramando<br />
todo o seu Sangue e morrendo<br />
na Cruz. Podemos pensar, por<br />
exemplo, no momento em que Ele<br />
disse: “Eli, Eli, lammá sabachtáni —<br />
Senhor, Senhor, porque me abandonastes!”<br />
1 E depois, inclinando a ca-<br />
24
V. Toniolo<br />
beça, Jesus expirou. Aquela dor última,<br />
pior do que todas as outras;<br />
aquele estraçalhamento final em<br />
que a alma se separa do corpo; aquela<br />
sensação de abandono em que até<br />
o Padre Eterno parecia O haver deixado:<br />
tudo isso Ele sofreu como se<br />
fosse só por mim, <strong>Plinio</strong>. O Redentor<br />
está presente em mim e não vou<br />
agradecer-Lhe?<br />
Quarto: vendo a infinita distância<br />
entre Ele e eu, Jesus deu-me sua<br />
Mãe para ser também minha Mãe.<br />
Quando o Salvador disse a São João:<br />
“Filho, eis aí tua Mãe” 2 , e a Nossa<br />
Senhora: “Mulher, eis teu filho” 3 ,<br />
Ele sabia que nós existiríamos. Fo-<br />
mos dados a Ela, e Maria Santíssima<br />
nos foi concedida naquela ocasião.<br />
Não vou agradecer?<br />
Quinto: Ele me fez membro da<br />
Igreja Católica. É um favor inefável.<br />
Sexto favor: o Redentor agora está<br />
presente em mim. Nossa Senhora<br />
é capaz todas as formas de gratidão<br />
em um grau inimaginável. Posso,<br />
então, dizer: “Senhor, sou filho<br />
de vossa Mãe. Pela devoção, Ela está<br />
presente em mim, recebei-A. Minha<br />
Mãe, dai-Lhe ação de graças como<br />
Vós sabeis fazer em nome de todos<br />
os homens.”<br />
S. Hollmann<br />
Acima, relíquia do<br />
milagre eucarístico<br />
de Lanciano.<br />
25
Ardoroso devoto da Eucaristia<br />
Reparação<br />
Tratemos agora da reparação, a<br />
qual é uma das ações mais augustas<br />
que um homem pode praticar<br />
em relação a alguém que foi objeto<br />
de uma injustiça. Aquele que repara<br />
presta honra e, por esta honra, faz<br />
justiça.<br />
Imaginemos que alguém, passando<br />
junto a mim, me diga um ultraje<br />
e não posso me defender. Um outro,<br />
sabendo disso, declara-me: “A respeito<br />
do senhor, afirmo tal coisa…”,<br />
que é o oposto daquele ultraje. A<br />
ofensa fica reparada pelo ato de admiração,<br />
de amor, que este último<br />
fez. Esse é o sentido da reparação.<br />
A reparação elimina, por assim<br />
dizer, a falta cometida. Ela é um ato<br />
de justiça.<br />
Quanto cada um de nós, por não<br />
ter correspondido à graça, deve pedir<br />
perdão e reparar, dizendo, por<br />
exemplo: “Senhor, fui incorreto para<br />
convosco em tal ocasião; em outra,<br />
talvez tenha chegado a pecar;<br />
isso me dói. Nesse momento eu<br />
Vos peço: aceitai o que há em minha<br />
alma de contrário a esse pecado.<br />
Fui negligente ouvindo um sermão<br />
ou uma prédica; acolhei agora<br />
meu desejo de bem aproveitá-los<br />
doravante. Se tive covardia diante<br />
de um inimigo vosso e não soube lutar<br />
contra ele, aceitai meu desejo de<br />
ser corajoso. Meu Senhor, não basta<br />
o meu desejo, dai-me força para<br />
cumpri-lo. Fui mole, poltrão, relapso,<br />
mentiroso. Meu Deus, é possível<br />
até que eu tenha sido impuro. Aceitai<br />
a minha admiração pela lealdade,<br />
pela pureza. Tornai-me puro como<br />
Vós. Vós curastes a lepra, considerada<br />
a pior das doenças, a cegueira,<br />
a paralisia. E também as lepras,<br />
as cegueiras, as paralisias da alma.<br />
Perdoai a paralisia de minha alma<br />
preguiçosa, a lepra da alma impura,<br />
etc. (Aqui convém rememorar<br />
alguns pontos de meu exame de<br />
consciência.) Pelos rogos de Maria,<br />
tende pena de mim e dai-me a for-<br />
ça que eu quero ter. Faço isto para<br />
reparar diante de Vós a ofensa que<br />
Vos fiz.”<br />
Mais ainda. Devo considerar a<br />
Revolução 4 , bem como os pecados<br />
por ela promovidos, e pedir perdão<br />
a Nosso Senhor.<br />
Petição<br />
A reparação é uma<br />
das ações mais<br />
augustas que um<br />
homem pode praticar<br />
em relação a alguém<br />
que foi objeto de<br />
injustiça. Ela, por<br />
assim dizer, elimina a<br />
falta cometida, pois é<br />
um ato de justiça.<br />
gir-Lhe o petitório: “Eu quero isso,<br />
aquilo, aquilo outro.”<br />
Às vezes, vendo-se pessoas comungarem<br />
nas igrejas, tem-se a impressão<br />
de que o primeiro pedido<br />
feito por alguma delas é: “Meu<br />
Deus, curai a minha dor de garganta,<br />
fazei que venha logo o ônibus para<br />
eu voltar para casa, que o meu marido<br />
seja promovido, que meu filho<br />
passe no exame, fazei, fazei, fazei…”<br />
Não. Os pedidos precisam vir no<br />
fim. E deve-se começar por rogar<br />
os bens para a alma, depois os para<br />
o corpo. Porque a alma vale mais<br />
do que o corpo. Então, pedir graças<br />
tais como: fidelidade à vocação, muitos<br />
flashes 5 , correspondência à graça,<br />
paciência com fulano, devido respeito<br />
para com sicrano, etc.<br />
Depois os bens do corpo. Podese<br />
pedir saúde e uma série de outras<br />
Somente no final vem a petição.<br />
Muitas pessoas, logo que recebem<br />
Nosso Senhor, começam a diricoisas.<br />
Porém, o mais importante é<br />
rogar os bens da alma.<br />
Deve-se sempre pedir os bens do<br />
corpo?<br />
Depende do trabalho da graça em<br />
nossa alma. Às vezes Nossa Senhora<br />
nos dá vontade de sofrermos algum<br />
mal corporal para resgatarmos<br />
os nossos pecados e os pecados dos<br />
outros. Nesse caso, pedimos a Nossa<br />
Senhora que mantenha aquele mal<br />
do corpo para sofrermos em reparação<br />
de nossas faltas ou de outra pessoa.<br />
Quer dizer, deve-se pedir aquilo<br />
que tem propósito. As outras coisas,<br />
não.<br />
Quem é tentado de inveja, deve<br />
pedir muito a graça de não ceder. A<br />
pessoa vê um colega da mesma idade<br />
que refulge como um sol, e ela<br />
é a estrelinha apagada que só brilha<br />
um pouco quando o sol vai se<br />
deitar. Ela cogita: “Mas meu Deus,<br />
eu gostaria tanto de ser aquele sol;<br />
como seria uma coisa magnífica!”<br />
Então, deve essa pessoa tentada<br />
dizer: “Meu Deus, Vós me destes<br />
pouco, e tanto a ele. Dou-Vos graças<br />
por terdes dado mais a ele. Dai<br />
um pouquinho a mim também, pois<br />
sois tão bom!”<br />
Creio que todos ouviram falar do<br />
caso do Padre Antonio Vieira, famoso<br />
pregador português.<br />
Ele era muito pouco inteligente<br />
e por isso não podia ser jesuíta,<br />
pois a Companhia de Jesus somente<br />
admitia quem possuía comprovada<br />
inteligência. O Padre Antonio<br />
Vieira estava rezando diante<br />
de uma imagem de Nossa Senhora<br />
— que eu vi num museu de Salvador,<br />
na Bahia; puseram-na num<br />
museu em vez de colocá-la num altar<br />
— e, de repente, teve um estralo<br />
na cabeça, mas de doer. E tornou-se,<br />
creio eu, o mais inteligente<br />
dos homens que até aqui tenham<br />
falado em língua portuguesa. Simplesmente<br />
um colosso!<br />
Maria Santíssima atendeu ao pedido<br />
dele.<br />
26
Como seria bom, por exemplo,<br />
ter uma fotografia dessa imagem de<br />
Nossa Senhora e colocá-la num livro<br />
de estudos! Quando houvesse alguma<br />
dificuldade, rezar-se-ia à Virgem<br />
e se conseguiria entender melhor.<br />
Pode-se pedir na Comunhão<br />
que Nosso Senhor ilumine nossa inteligência.<br />
Tudo terminado, diz-se “muito<br />
obrigado” a Nosso Senhor e a Nossa<br />
Senhora. É uma vênia final. Maria<br />
Santíssima é, de certa forma, como<br />
a mãe que temos em casa. Após<br />
Em minhas<br />
comunhões, no<br />
momento em que<br />
recebo a Hóstia, eu<br />
rezo um Memorare<br />
para pedir a<br />
Nosso Senhor que<br />
aumente minha<br />
devoção à sua Mãe<br />
Santíssima.<br />
o rei ter saído, digo-Lhe: “Minha<br />
Mãe, eu Vos agradeço…” E posso<br />
inclusive comentar com Ela a visita,<br />
com os pensamentos que estão em<br />
minha alma. E depois nos retiramos<br />
em paz.<br />
Em minhas Comunhões, eu sempre<br />
inverto um pouquinho a ordem.<br />
No momento em que recebo a Hóstia,<br />
eu rezo um Memorare para pedir<br />
a Nosso Senhor — portanto, começo<br />
pedindo, mas é o único pedido<br />
que faço no início — aumento da<br />
devoção para com Nossa Senhora; e<br />
rogo por meio d’Ela. Sei que Maria<br />
Santíssima quer que minha devoção<br />
para com Ela aumente em cada momento.<br />
Os que me vêem receber a Comunhão<br />
estejam certos: na hora em<br />
que a Sagrada Eucaristia pousa em<br />
minha língua, estou começando<br />
a rezar o Memorare.<br />
Isso não falha<br />
nenhuma vez. Logo depois,<br />
eu rezo interiormente<br />
o Magnificat para,<br />
por meio de Nossa Senhora,<br />
manifestar minha<br />
alegria porque Ele está<br />
dentro de mim. É uma<br />
forma de adoração esta<br />
alegria.<br />
Depois, se não tenho<br />
nenhum ponto especial<br />
para considerar, eu faço<br />
adoração, ação de graças,<br />
reparação e petição.<br />
Alguém poderia perguntar:<br />
“Além do aumento<br />
da devoção a Nossa<br />
Senhora, o senhor nunca<br />
começa pedindo alguma<br />
coisa?”<br />
Sim, certamente. Porque<br />
essas regras gerais<br />
têm exceções. Nossa alma<br />
é viva e tem movimentos. Conforme<br />
estes, um princípio genérico<br />
pode ser alterado. Quando se está<br />
com uma grande aflição, pode-se<br />
começar por pedir que ela seja sanada.<br />
Por exemplo, a mulher adúltera<br />
que se encontrou com Jesus, quando<br />
alguns homens iam apedrejá-la. Ela<br />
não começou com a adoração, reparação,<br />
etc., porque aqueles indivíduos<br />
a apedrejariam. Mas disse de início:<br />
“Senhor, salvai-me porque estão<br />
querendo matar-me.” Ele foi bondoso<br />
e a salvou.<br />
Nada na Igreja Católica, em Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo, em Nossa<br />
Senhora, é ditatorial. É de bom alvitre<br />
seguir as regras que foram explicadas,<br />
quando algum movimento<br />
da alma muito vivo não nos indica o<br />
contrário.<br />
Cada um deve proceder de acordo<br />
com o seu próprio modo de ser. Apresentei<br />
alguns princípios apenas com a<br />
intenção de ajudá-los, não de traçar<br />
uma linha de conduta obrigatória.<br />
Resta-me apenas desejar que<br />
meus ouvintes, quando forem comungar,<br />
façam a preparação e a<br />
ação de graças com esse cuidado.<br />
A Igreja aconselha que se sigam<br />
esses quatro atos de culto, e eu<br />
lhes recomendo vivamente fazerem<br />
isso.<br />
v<br />
1) Mt 27,46.<br />
2) Jo 19,27.<br />
3) Jo 19,26.<br />
(Extraído de conferência<br />
de 16/7/1977)<br />
4) Revolução: <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> assim denominava<br />
o processo multissecular que<br />
procura destruir a Igreja e a civilização<br />
cristã (cf. Revolução e Contra-<br />
Revolução, Editora Retornarei, São<br />
Paulo, 5ª edição em português, 254<br />
páginas.)<br />
5) Cfr <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, Nº 55, página 16.<br />
G. Kralj<br />
27
O Santo do Mês<br />
–– * Abril * ––<br />
1. Quinta-feira Santa. Instituição<br />
da Sagrada Eucaristia.<br />
2. Sexta-feira Santa. Paixão do<br />
Senhor. (Dia de jejum e abstinência.)<br />
3. Sábado Santo. Solene Vigília<br />
Pascal.<br />
4. Domingo de Páscoa. Gloriosa<br />
Ressurreição do Senhor.<br />
5. São Geraldo, Abade de Saint-<br />
Sauve, França. (+1095)<br />
6. Santo Irineu, Bispo e mártir.<br />
7. Santo Hermano José, sacerdote<br />
premonstratense. (1152-1241)<br />
São João Batista de la Salle, presbítero,<br />
+ 1719.<br />
8. São Dionísio, Bispo de Corinto.<br />
(séc. II)<br />
9. São Libório, Bispo de Lê Mans,<br />
na Gália (atual França). (séc. IV)<br />
10. São Beda, o Jovem, monge.<br />
(+883)<br />
11. Domingo da Divina Misericórdia<br />
(e II de Páscoa). Festa estabelecida<br />
pelo Papa João Paulo II,<br />
em 1997, atendendo às revelações de<br />
Nosso Senhor a Santa Faustina Kowalska<br />
(1905-1938).<br />
12. São Júlio I, Papa. Eleito para<br />
o sólio pontifício em 6 de fevereiro<br />
de 337, defendeu valorosamente a<br />
Fé contra os arianos, e apoiou Santo<br />
Atanásio, Doutor da Igreja, na mesma<br />
missão. (+352)<br />
13. São Martinho I, Papa e Mártir.<br />
(séc. VII)<br />
14. São Pedro González, (chamado<br />
São Telmo), sacerdote dominicano.<br />
(+1246)<br />
15. Santo Ortario, abade de Landelles,<br />
França. (séc. IX)<br />
16. São Toríbio, Bispo de Astorga<br />
(Espanha). Sob ordens do Papa São<br />
Gregório Magno, combateu a heresia<br />
priscilianista. (séc. V)<br />
17. Santos Pedro, diácono, e Hermógenes,<br />
seu servo, mártires em Melitene,<br />
na antiga Armênia.<br />
18. III Domingo da Páscoa.<br />
19. São Leão IX, Papa, séc. XI.<br />
Empenhou-se na reforma do Clero,<br />
secundado pelo futuro pontífice São<br />
Gregório VII.<br />
20. Santa Inês de Montepulciano,<br />
Virgem, Superiora dominicana.<br />
(+1317)<br />
21. Santo Anselmo, Bispo e Doutor<br />
da Igreja, monge beneditino e Arcebispo<br />
da Cantuária (Inglaterra),<br />
defendeu a Igreja na luta das investiduras,<br />
sendo exilado duas vezes. Seus<br />
escritos exerceram grande influência<br />
em sua época e lhe granjearam o título<br />
de “pai da Escolástica”. (séc. XII)<br />
22. São Leônidas, Mártir. (sécs.<br />
II-III)<br />
23. Santo Adalberto de Praga,<br />
Bispo e Mártir.<br />
24. São Melito, abade. Foi enviado<br />
por São Gregório Magno para<br />
evangelizar a Inglaterra, e se tornou<br />
Bispo de Canterbury (Inglaterra).<br />
(+624)<br />
25. Domingo de Bom Pastor<br />
São Marcos Evangelista. Discípulo<br />
de São Pedro e autor do segundo<br />
Evangelho. (séc. I)<br />
26. São Cleto, primeiro sucessor<br />
de São Pedro. (+88)<br />
27. Nossa Senhora de Montserrat,<br />
na Catalunha, Espanha.<br />
28. São Luís Maria Grignion de<br />
Montfort, presbítero. (1673-1716)<br />
29. Santa Catarina de Siena, Virgem<br />
e Doutora da Igreja. Terciária<br />
dominicana, favorecida por visões<br />
de Nosso Senhor, desempenhou importante<br />
papel na solução de graves<br />
problemas da Igreja, como o retorno<br />
do Papa de Avinhão para Roma<br />
e a reforma da Cúria Romana. (séc.<br />
XIV)<br />
30. São José Bento Cottolengo.<br />
Fundador da Pequena Casa da Divina<br />
Providência, em Turim, dedicada<br />
aos doentes, especialmente os rejeitados<br />
por outros hospitais. Seu zelo<br />
e caridade atuaram de modo marcante<br />
nas épocas de peste e desolação.<br />
(1786- 1842)<br />
São Pio V, Papa.<br />
28
7 de Abril<br />
Santo Hermano, o amigo<br />
do Menino-Deus<br />
Em plena Idade Média — a era<br />
das grandes batalhas travadas em<br />
defesa da Fé — pode-se contemplar<br />
uma alma repleta de respeito pelo<br />
sobrenatural ao lado de uma ternura<br />
e candura ímpares: Santo Hermano,<br />
o amigo do Menino-Deus!<br />
Catedral de<br />
Colônia. Cidade<br />
onde nasceu Santo<br />
Hermano José.<br />
Embora pareça paradoxal, há<br />
um princípio de ordem pelo<br />
qual uma virtude, quando<br />
integramente observada, atrai a si a<br />
prática de outra, muitas vezes oposta<br />
e simétrica à primeira. Como nolo<br />
demonstra a Idade Média — que<br />
sob diversos aspectos, fora um período<br />
de combatividade, de luta, e de<br />
seriedade —, apesar de ser a era da<br />
piedade, nutrida de grande respeito,<br />
adoração, e humílima veneração ao<br />
divino e ao religioso, não obstante,<br />
foi também a idade da ternura e da<br />
candura.<br />
Aparentemente contraditórios,<br />
esses aspectos são, em realidade,<br />
apenas opostos, e demonstram a riqueza<br />
da alma medieval enquanto<br />
observante da Lei de Deus.<br />
Em meio à era das grandes batalhas,<br />
duramente travadas em defesa<br />
da Fé, pode-se entrever uma vida<br />
modelar, cheia de ternura e graça,<br />
que prenunciava de modo maravilhoso<br />
a Pequena Via idealizada<br />
por Santa Teresinha do Menino Je-<br />
P. Mikio<br />
29
O Santo do Mês<br />
sus, pois esta via de santificação seria<br />
mais compreensível para os horizontes<br />
do homem medieval, do que para<br />
as espiritualidades posteriores, enregeladas<br />
pela Renascença e pelo processo<br />
revolucionário então nascente.<br />
Amigo e companheiro<br />
do Menino-Deus<br />
A vida de um humílimo sacerdote<br />
premonstratense — o qual brilhou<br />
intensamente por sua virtude, delicadeza<br />
e ternura — foi expressão encantadora<br />
da espiritualidade medieval.<br />
Trata-se de Santo Hermano José.<br />
Seus traços biográficos foram retirados<br />
da “Vida de Santos” de Englebert,<br />
como também de “Na Luz<br />
Perpétua” de Lehmann:<br />
“Este bem-aventurado foi não somente<br />
um dos maiores devotos de<br />
Nossa Senhora, como um dos grandes<br />
contemplativos medievais.”<br />
É necessário, para bem compreender<br />
sua vida, considerar que ele<br />
A Virgem<br />
Maria<br />
aparece<br />
a Santo<br />
Hermano.<br />
fora grande escritor, redigindo obras<br />
de Teologia, além de outros tratados,<br />
e, portanto, um homem de alta cultura.<br />
Todavia, sua vida sobrenatural<br />
iniciou-se quando era apenas menino.<br />
“Nasceu em Colônia, em ano desconhecido,<br />
no século XII, de uma rica<br />
família que empobrecera.”<br />
Nasceu, portanto, no apogeu da<br />
Idade Média, assemelhando-se com<br />
o Menino Jesus, que era de uma<br />
grande família que empobrecera.<br />
“Desde muito criança, procurava<br />
os altares da Santíssima Virgem e com<br />
Ela conversava longo tempo.”<br />
Certamente numa igrejinha do<br />
campo, ou na própria Catedral de<br />
Colônia, o pequeno Hermano, no<br />
altar de Nossa Senhora, aos pés da<br />
imagem, conversava por longo tempo<br />
com Ela. Este fato faz sentir uma<br />
atmosfera delicadíssima da biografia<br />
dele.<br />
“Sua simplicidade era encantadora.<br />
Certa ocasião, trouxe uma maçã e<br />
pediu à Mãe de Deus que a aceitasse;<br />
a imagem da Virgem moveu-se e estendeu<br />
a mão para receber a oferta.”<br />
Para a Europa, a maçã é uma fruta<br />
banal, como a laranja para as nossas<br />
terras. Por isso mesmo vê-se a<br />
inocência dele, ante a grande bondade<br />
de Nossa Senhora. Por<br />
simples e comum que seja<br />
a oferta, é oferecida<br />
por um filho, e<br />
Ela toma aquele<br />
gesto cheia<br />
de encanto<br />
e amor.<br />
©Santiebeati.it<br />
“Outra ocasião, ao chegar à igreja,<br />
viu a Rainha do Céu em meio a grande<br />
esplendor, tendo a seu lado São<br />
João, que brincava com o Menino Jesus.<br />
Hermano ficou contemplando<br />
a cena, quando a Virgem o chamou.<br />
Rapidamente ele subiu os degraus do<br />
presbitério, mas a grade fechada impediu<br />
sua passagem. ‘Não posso subir<br />
– disse a Maria Santíssima –; a porta<br />
está fechada e não há escada para eu<br />
trepar por cima da grade.’ Maria ensinou-lhe,<br />
então, a fazer do gradil escada<br />
e subir. Penetrando assim no coro,<br />
recebeu licença para brincar com o<br />
Menino-Deus.”<br />
Era por certo São João Batista<br />
que brincava com o Menino Jesus,<br />
do qual ele era parente.<br />
Não seria difícil imaginar a bondade<br />
da Rainha do Céu indicando<br />
ao pequeno Hermano: coloque os<br />
pés aqui, segure ali, e então desça<br />
pelo outro lado. E por ser inocente,<br />
ele tomava com inteira naturalidade<br />
tudo o que se passava, sendo nada<br />
menos que companheiro do Menino<br />
Jesus e de São João Batista! Todos<br />
estes fatos fazem sentir de algum<br />
modo o sabor da Pequena Via.<br />
Por que andas descalço?<br />
“Num dia de inverno, dirigiu-se<br />
descalço à igreja, e enquanto rezava<br />
no altar da Virgem, esta lhe perguntou:<br />
‘Hermano, por que andas descalço<br />
neste frio?’ E a resposta de Hermano:<br />
‘Porque não tenho calçado.’ A<br />
Virgem, então, deu-lhe a quantia necessária<br />
para comprar sapato.”<br />
Até a estes aspectos chegava a<br />
preocupação e a ternura de Nossa<br />
Senhora, para que ele não andasse<br />
descalço. Todos estes tocantes fatos<br />
da vida de Santo Hermano José<br />
prestam-se perfeitamente para<br />
a pintura das inocentes iluminuras<br />
medievais.<br />
“Toda a vida desse santo foi assim<br />
povoada de visões e êxtases. Aos 12<br />
30
anos entrou para a Ordem dos premonstratenses<br />
de Steinfeld.”<br />
Pode-se entrever a familiaridade<br />
contínua com o sobrenatural<br />
que o marcou por toda a vida.<br />
Homem preso a Deus<br />
L. Werner<br />
“Ordenado sacerdote, foi encarregado<br />
de dirigir alguns conventos<br />
de religiosas, para as quais escreveu<br />
diversos tratados de piedade e um<br />
comentário do Cântico dos Cânticos.”<br />
Quão valiosas deverão ser essas<br />
meditações sobre o Cântico dos<br />
Cânticos, comentadas por um homem<br />
de tão grande alma. Entretanto,<br />
não raras vezes, são estes livros<br />
repletos de preciosidades que<br />
inexplicavelmente desaparecem<br />
aos olhos dos homens, sendo descobertos<br />
apenas por uma longínqua<br />
posteridade.<br />
“Compôs vários hinos, sendo<br />
de sua autoria o mais antigo hino<br />
ao Coração de Jesus: ‘Summus<br />
Regis, cor aveto!’. Sua vida foi de<br />
ininterrupta penitência, atacado<br />
de tentações e doenças. Sofria de<br />
contínuas enxaquecas que só cessavam<br />
quando subia os degraus<br />
do altar para celebrar, mas que redobravam<br />
de violência quando se<br />
aproximavam as solenidades litúrgicas.<br />
Jogando com as palavras,<br />
ele dizia a propósito: ‘Festae sunt<br />
mihi infestae’ – as festas são para<br />
mim nefastas. Seu pensamento<br />
estava sempre tão preso a Deus, diz<br />
seu biógrafo, que lhe era indiferente<br />
o curso do mundo. No entanto, seu<br />
coração era como um hospital geral,<br />
onde, a começar pelos aflitos e confrades,<br />
todos os homens encontravam<br />
terno acolhimento e seguro refúgio.”<br />
A melodia desses hinos compostos<br />
por ele deve ser de grande beleza<br />
e piedade, e a letra, de riqueza sobrenatural.<br />
Virgem Maria e seu Divino Filho -<br />
Pórtico da Catedral de Colônia<br />
Tal a vida, tal a morte<br />
“Morreu Hermano, que adotara o<br />
nome de José por permissão especial<br />
da Virgem, em 1241. Seu corpo foi,<br />
mais tarde, encontrado intacto.”<br />
Há coisa mais bela que, anos após<br />
a morte de alguém, abrir-se o caixão<br />
e encontrá-lo intacto? Pois bem, lá<br />
estava Santo Hermano revestido de<br />
seu hábito premonstratense, reclinado<br />
no caixão, com ar de quem ainda<br />
está compondo seu último hino ou<br />
tendo sua última visão.<br />
Seria altamente repousante conhecer<br />
este santo e com ele poder<br />
conversar. E aproximando-se de joelhos<br />
pedir: “Por favor, poderia contar-nos<br />
como foram as suas visões?”<br />
Ele, então, recolhido e luminoso<br />
responde: “Com quanto gosto!<br />
Qual delas quer?”<br />
Certamente não conseguiríamos<br />
encerrar o diálogo antes de,<br />
maravilhados, conhecermos todos<br />
aqueles tocantes encontros dele<br />
com a Santíssima Virgem e seu Divino<br />
Filho.<br />
Pode-se compreender, através<br />
desta cogitação, o que será o convívio<br />
celeste, pois haverá inumeráveis<br />
almas como a de Hermano.<br />
E figurativamente, ao passar pela<br />
primeira “esquina” do Paraíso Celeste,<br />
deparando com um ancião<br />
de muitos dias, perguntar:<br />
— Quem sois vós?<br />
— Sou Hermano.<br />
E sentando-se em uma nuvem,<br />
ou em uma pedra preciosa diante<br />
de um rio, onde cantam os pássaros,<br />
ele calmamente descreve toda<br />
a sua vida.<br />
Se houvesse tempo no Céu, se<br />
lá houvesse minutos, o quanto não<br />
se daria para ver, por apenas um<br />
minuto, o sorriso e contemplar a<br />
santidade de Santo Hermano!<br />
Em meio às coisas horrorosas, disformes<br />
e incongruentes do mundo<br />
hodierno, Santo Hermano passa diante<br />
de nós como um anjo em meio às chamas<br />
do Purgatório. Lendo a sua vida é<br />
possível... é possível pensar: “Afinal, um<br />
consolo: um dia irei ao Céu. E lá encontrarei<br />
Santo Hermano.”<br />
Aqui fica um orvalho de esperança<br />
do Céu, enquanto tem de se batalhar<br />
na fornalha de nossos dias. v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 6/4/1967)<br />
31
Luzes da Civilização Crista<br />
Uma devoção da<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo morreu numa sexta-feira e<br />
ressuscitou num domingo. Ambos os dias foram-Lhe<br />
especialmente consagrados, de modo que, semanalmente,<br />
relembram a Paixão e a Ressurreição do Senhor. Porém,<br />
entre estes dias há outro: o sábado. Como faria a<br />
civilização cristã para solenizar este dia posto entre duas<br />
datas tão sublimes?<br />
S. Hollmann<br />
32
cristandade...<br />
N<br />
a Idade Média, sob o impulso<br />
dos monges cluniacenses,<br />
o sábado passou<br />
a ser consagrado a Nossa Senhora.<br />
Mas, por que razão a piedade católica<br />
instituiu esse costume?<br />
A Ressurreição<br />
Embora os Apóstolos tivessem<br />
um misterioso instinto de que a história<br />
de Nosso Senhor não podia estar<br />
concluída e que a última palavra<br />
ainda não fora dita — caso contrário<br />
haveriam se dispersado —, eles ainda<br />
não tinham atinado com a idéia<br />
da Ressurreição.<br />
Não concebiam eles que<br />
Quem ressuscitara Lázaro<br />
— fato que eles puderam<br />
comprovar —, ressuscitar-se-ia a Si<br />
próprio; não imaginavam que Nosso<br />
Senhor aceitaria o desafio lançado<br />
pelo mau ladrão crucificado a seu lado:<br />
“Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo!”<br />
1 Cristo fez muito mais do que<br />
descer da Cruz e curar-se a Si próprio:<br />
Ele consentiu em morrer para<br />
depois ressuscitar-Se.<br />
De fato, a Ressurreição é algo<br />
tão extraordinário e miraculoso,<br />
que o espírito humano é propenso a<br />
sequer imaginá-la. Pois, se um vivo<br />
ressuscitar um morto é incomum,<br />
quanto mais o é um morto voltar à<br />
vida por suas próprias forças, sair<br />
dos abismos da morte e dizer a seu<br />
corpo: “Levanta-te!”... Esta é uma<br />
espécie de vitória dentro da vitória,<br />
de esplendor dentro do esplendor,<br />
No sábado, Jesus estava<br />
na sepultura, cheio de<br />
perfumes e de aromas,<br />
envolto no sudário.<br />
Para todos estava tudo<br />
acabado, exceto na alma<br />
de Maria Santíssima,<br />
onde uma tocha de Fé<br />
e de convicção ardia<br />
com a certeza de que<br />
Ele ressuscitaria.<br />
Sepultamento do Senhor -<br />
Sevilha (Espanha).<br />
33
Luzes da Civilização Crista<br />
T. Ring G. Kralj<br />
Que mérito há em acreditar na luz ao meio-dia? A<br />
verdadeira beleza está em acreditar na luz quando a<br />
noite já vai longe e tem-se a impressão de que o curso<br />
das coisas nos afundou nas trevas definitivamente...<br />
Nossa Senhora<br />
de Fátima.<br />
que o espírito humano não pode<br />
sequer imaginar.<br />
A Fé da Santíssima<br />
Virgem sustentou<br />
o mundo<br />
Porém, havia alguém que possuía<br />
plena certeza na Ressurreição de<br />
Jesus: Maria!<br />
No sábado que precedeu a Ressurreição<br />
de Nosso Senhor, somente<br />
Nossa Senhora, em toda a face<br />
da Terra, teve uma Fé completa e<br />
sem sombra de dúvida na Ressurreição.<br />
Ela possuía uma certeza<br />
absoluta, uma expectativa<br />
imensamente dolorida por<br />
causa do pecado que havia si-<br />
do cometido, mas imensamente calma,<br />
com a certeza da vitória que se<br />
aproximava.<br />
A cada minuto que passava, de algum<br />
modo a espada da saudade e da<br />
dor penetrava ainda mais seu Coração<br />
Imaculado. Mas, de outro lado,<br />
havia a certeza de uma grande alegria<br />
da vitória que se aproximava.<br />
Esta concepção inundava-A de consolação<br />
e gáudio.<br />
Maria Santíssima, nesta ocasião,<br />
representou a Fé da Santa Igreja e,<br />
por assim dizer, sustentou o mundo,<br />
dando continuidade às promessas<br />
evangélicas, pois, se não houvesse Fé<br />
sobre a face da Terra, a Providência<br />
teria encerrado a História.<br />
Maria foi a Arca da Esperança<br />
dos séculos futuros. Ela teve em Si,<br />
como numa semente, toda a grandeza<br />
que a Igreja haveria de desenvolver<br />
ao longo dos séculos, todas as<br />
promessas do Antigo Testamento e<br />
todas as realizações do Novo; tudo<br />
isto viveu dentro da alma de Nossa<br />
Senhora.<br />
Podemos até nos perguntar se este<br />
episódio não foi mais bonito do<br />
que quando a Santíssima Virgem<br />
34
trazia o Messias em seu seio. Numa<br />
ocasião Ela gestava o Messias e<br />
carregava dentro de Si a salvação do<br />
mundo inteiro; noutra, tinha Ela em<br />
Si a Santa Igreja Católica Apostólica<br />
Romana, portanto, o Corpo Místico<br />
de Cristo.<br />
É à noite que é belo<br />
acreditar na luz<br />
Praça de São Pedro - Roma<br />
Na obra Chanteclair, de Edmond<br />
Rostand, há uma linda frase: “É à<br />
noite que é belo acreditar na luz.”<br />
Que mérito há em acreditar na luz<br />
ao meio-dia? Mas, acreditar na luz<br />
à meia-noite, ou mais ainda, às três<br />
horas da manhã, quando até a própria<br />
meia-noite já vai longe, tem-se<br />
a impressão de que o curso das coisas<br />
nos afundou nas trevas definitivamente;<br />
aí é que é belo acreditar na<br />
luz.<br />
Ora, Nossa Senhora acreditou na<br />
luz durante a terrível meia-noite da<br />
morte de seu Filho. Apesar de presenciá-Lo<br />
rompu, brisé, anéanti 2 , Ela<br />
não teve dúvida nenhuma.<br />
Quando Jesus morreu e Nossa Senhora<br />
teve seu divino cadáver no colo,<br />
Ela fez um tranquilíssimo ato de<br />
Fé, dizendo: “Apesar destas chagas<br />
e desta morte estraçalhante, Ele ressuscitará!<br />
Eu creio porque Ele prometeu!”<br />
Este foi, sem dúvida, um dos<br />
mais belos momentos da vida<br />
d’Ela.<br />
A fidelidade de<br />
Maria fez-Lhe<br />
merecer, até o fim do<br />
mundo, ser lembrada<br />
especialmente<br />
aos sábados<br />
Compreende-se assim, com<br />
que tato a Igreja escolheu<br />
para festejar Nossa Senhora<br />
este dia que lembra exatamente<br />
a hora trágica da<br />
dúvida e do abandono de<br />
todos.<br />
No sábado, Jesus estava<br />
na sepultura, cheio<br />
de perfumes e de aromas,<br />
envolto no sudário.<br />
O sepulcro estava<br />
selado por uma<br />
enorme lápide e<br />
guardado por soldados.<br />
Para todos<br />
estava tudo acabado,<br />
exceto na alma<br />
d’Ela, onde uma tocha<br />
de Fé e de convicção ardia<br />
com a certeza de que Ele<br />
ressuscitaria.<br />
Este é o Sábado Santo, dia<br />
especialmente consagrado a Nossa<br />
Senhora.<br />
v<br />
Cristo Ressurrecto. -<br />
Catedral de Notre<br />
Dame, Paris.<br />
(Extraído de conferência<br />
de 19/11/1971)<br />
R. C. Branco<br />
1) Lc. 23, 39.<br />
2) Roto, quebrado e aniquilado.<br />
S. Hollmann<br />
35
Virgem da Estrela -<br />
Catedral de Sevilha,<br />
Espanha.<br />
A mais fulgurante das estrelas<br />
P<br />
or que Nossa Senhora é simbolizada por uma estrela? Porque é durante a noite que cintilam<br />
as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma<br />
época de provação, de perigo e de apreensões. Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena<br />
temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação<br />
de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante<br />
de todas as estrelas!<br />
S. Hollmann<br />
(Extraído de conferência de 24/8/1965)