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Publicação Mensal Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010
Os mais luminosos
raios de um ocaso
E
mbora fosse infinitamente superior aos homens, Nosso Senhor Jesus
Cristo chegou ao extremo de receber todos os ultrajes que Lhe foram
feitos em sua Paixão, com imensa doçura.
Assim sua superioridade tornou-se não apenas régia, mas, por essa doçura,
digna de ser amada. É uma elevação enquanto corolário da misericórdia,
consentindo em colocar-se num plano indizivelmente menor, por
amor àqueles que Lhe são inferiores.
(Extraído de conferência
de 18/10/1989)
G. Kralj
2
Sumário
Publicação Mensal Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010
Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010
Os mais luminosos
raios de um ocaso
Na capa, pintura a
óleo representando
Dona Lucilia aos 92
anos de idade.
As matérias extraídas
de exposições verbais de Dr. Plinio
— designadas por “conferências” —
são adaptadas para a linguagem
escrita, sem revisão do autor
Dr. Plinio
Revista mensal de cultura católica, de
propriedade da Editora Retornarei Ltda.
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ao Assinante
Tel./Fax: (11) 2236-1027
Editorial
4 O único sentido que a vida possui
Datas na vida de um cruzado
5 Abril de 1968
Um ocaso glorioso emite
seus últimos e mais luminosos raios
Dona Lucilia
6 Refletir é viver
Semana Santa
10 Preparando a alma para
a Semana Santa
14 Como devemos carregar
a nossa cruz
20 O Sepulcro do Senhor
Ardoroso devoto da Eucaristia
24 Corpo, Sangue,
Alma e Divindade... – II
O Santo do mês
28 7 de Abril: Santo Hermano, o
amigo do Menino-Deus
Luzes da Civilização Cristã
32 Uma devoção da cristandade...
Última página
36 A mais luminosa das criaturas
3
Editorial
O único sentido que
a vida possui
Tanto a alegria quanto a dor da alma resultam necessariamente do amor. O homem se alegra ao
obter o que amou, e se entristece quando o que ama lhe falta. Entretanto, não raras vezes o homem
contemporâneo dedica todo o seu amor às coisas meramente terrenas. Assim, impressionam-no,
sobretudo, as dificuldades pessoais e superficiais: a saúde abalada, a situação financeira vacilante,
os amigos ingratos, as promoções que tardam... Porém, esquece-se ele de que isso tudo é secundário
para o verdadeiro católico, que almeja principalmente a glória de Deus e da sua Igreja, e,
portanto, a salvação eterna.
Por mais que variem os acontecimentos da história humana, os altos e baixos da política e das finanças
continuem sua corrida desordenada, a Santa Igreja sabe manter-se sobranceira ao vai-e-vem
caprichoso das paixões humanas: “Stat crux dum volvitur orbis”... Sobranceira, porém não indiferente,
ela aponta a seus filhos as alegrias, como também as privações pelas quais devem eles passar, na esperança
da glória futura. É o que explica Dr. Plinio, a seguir:
“Quando os dolorosos dias da Semana Santa transcorrem em épocas alegres e tranquilas, a Santa
Igreja, como mãe, solicita a seus filhos que almejem o sofrimento heroico, o espírito de renúncia
às trivialidades quotidianas, e ademais o inteiro devotamento aos ideais que proporcionam um sentido
mais alto à vida humana. ‘Um sentido mais alto’, não diz bem; o único sentido que a vida possui:
o sentido cristão.
“Entretanto, a Esposa Mística de Cristo não é mãe apenas quando nos indica a observância austera
do sofrimento. Ela também o é quando, nos extremos da dor, faz brilhar aos olhos da fé, a luz da
esperança, descortinando horizontes plenos de serenidade e confiança que ela propõe a seus verdadeiros
filhos.
“A Igreja vale-se das vibrantes e castíssimas alegrias da Páscoa para difundir a certeza triunfal de
que Deus é o Senhor de todas as coisas, seu Cristo é o Rei da glória, e sua Esposa Mística é rainha de
imensa majestade, capaz de dissipar as trevas, que em vão tentam envolvê-la, brilhando com luzidio
triunfo no momento em que parece aguardá-la a mais terrível e irremediável das derrotas, da mesma
forma que julgara o povo eleito estar tudo encerrado após a morte do Divino Mestre, acreditando
ser Ele incapaz de destruir a prisão sepulcral em que jazia, sobretudo passando da morte à vida.
“Constataram, surpresos, a ressurreição do Filho de Deus sem a intervenção de qualquer auxílio
humano, deslocando leve e rapidamente a pesada lápide do sepulcro. E Ele ressurgiu!
“Assim também a Igreja imortal, ainda que sob o peso sepulcral das mais dolorosas provações,
possui uma força interior e sobrenatural que lhe vem de Deus, e lhe assegura uma vitória tanto mais
esplêndida quanto mais inesperada e completa.
“A grande lição da Quaresma e a condolência para os homens retos que amam acima de tudo a
Santa Igreja é: Cristo morreu e ressuscitou.
“Também a Igreja se erguerá, gloriosa como Cristo, na radiosa aurora de sua Ressurreição.”
(Extraído d’O Legionário de 1/4/1945)
Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.
4
Datas na vida de um cruzado
Abril de 1968
Um ocaso glorioso
emite seus últimos e mais
luminosos raios
Jovens participantes do movimento fundado
por Dr. Plinio, comemoraram com grande
demonstração de afeto, em 21 de abril de
1993, a data sobremodo especial em que Dona
Lucilia completaria 125 anos. Assim dizia o texto
por eles declamado:
Reportemo-nos ao dia 21 de abril de 1968.
Em seu apartamento, Dona Lucilia encontrava-se
desde há dias em seu leito, assistida por
um médico. Dr. Plinio achava-se, no quarto ao
lado, ainda convalescente, devido a uma terrível
crise de diabetes.
Por volta das 10 horas da manhã, o enfermeiro
procurou o médico, avisando que Dona Lucilia
não estava passando bem.
Manifestando certa estranheza, pois às 8:20
lhe aplicara uma injeção e nada fazia prever que
a morte estivesse próxima, o clínico dirigiu-se
imediatamente ao quarto dela.
Deitada, sem apoio em travesseiros, com os
olhos fechados e movendo os lábios como quem
rezava, Dona Lucilia tinha as mãos uma sobre a
outra, no peito.
Ao tomar-lhe o pulso e verificar quão lenta e
fracamente batia, o médico percebeu a proximidade
dos últimos momentos. Pediu então ao enfermeiro
que avisasse logo Dr. Plinio. Era necessário
que ele se locomovesse sozinho e com
enorme esforço até o quarto de sua mãe que
partia para a Eternidade.
Nesse meio tempo, Dona Lucilia, que não
deixara de mover os lábios — sentindo em seu
coração haver chegado a hora da solene despedida
desta vida — com decisão retirou a mão segura
pelo médico, e com um gesto delicado, mas
firme, sem manifestar esforço ou dificuldade,
fez um grande e lento sinal da cruz.
Depois, repousou no peito suas mãos alvíssimas,
uma sobre a outra, e serenamente expirou
na véspera do dia em que completaria 92 anos…
Tocado pela recordação destes momentos, assim
manifestou-se Dr. Plinio:
Esta cena — do encontro com minha mãe,
que Deus acabava de chamar a Si — foi a que
mais me emocionou na vida. Imediatamente
fui avisado para ir ao quarto dela, contíguo ao
meu, mas quando cheguei, ela já não estava lá.
Não a alcancei! E senti a imensidade que nos
separava.
Deus e Nossa Senhora nos uniam, e isto bastava.
No entanto... quando entrei no quarto e
vi o corpo dela já sem vida, senti que aquelas
mãos, que tanto me haviam abençoado e acariciado,
não me acariciariam mais, aqueles lábios,
que tantas coisas me haviam ensinado, não
me ensinariam mais, aqueles lábios, enfim, que
tanto haviam orado por mim, não se moveriam
mais...
Senti então, naquele momento, passar-se algo
comigo que me sacudia de modo profundo e por
inteiro, como seu eu fosse uma corda que arrebentasse,
e algo, que era quase eu mesmo, separar-se
categórica e drasticamente de mim.
Na véspera, eu havia passado o dia inteiro
junto de mamãe, no quarto, não saindo, a bem
dizer, para nada. Eu sabia que ela estava prestes
a morrer, e a razão de eu permanecer ali era
a consciência plena disso. Mas — fato singular
— o drama da morte só se pôs, para mim, no instante
em que ela expirou e senti a ausência do
seu carinho... e então chorei copiosamente...
(Extraído de conferência de 22/4/1993)
5
Dona Lucilia
Refletir é viver
Embebida pela
convicção de que tudo
quanto é terreno se
reporta a uma ordem
superior, Dona Lucilia
possuía uma alma
impregnada das mais
elevadas realidades.
N
o decurso da História, não
raras vezes, é possível deparar-se
com duas categorias
de homens: a dos que se preocupam
apenas com os aspectos materiais
e concretos da vida, absorvidos
pelas sucessivas impressões agradáveis
do dia-a-dia; e a daqueles que
colocam seu bem-estar na cogitação
e na meditação.
Homens absorvidos
pelo gozo da vida
Para o primeiro grupo, a única solução
para os padecimentos produzidos
pela culpa original, resume-se no
prazer. E cada época compõe o prazer
a seu modo. Será para alguns a
deleitável sensação de ir a uma ópera,
enquanto que a outros agradará
o ambiente de uma alta sociedade;
outros, enfim, terão como encanto
guiar freneticamente um automóvel;
e ainda uns últimos — contrariando
o livro do Gênesis, quando
afirma ser a faina um castigo — farão
consistir seu principal contentamento
no frenesi pelo trabalho.
Fotos: J. Dias
6
Dona Lucilia,
um mês antes
de sua morte.
7
Dona Lucilia
Entretanto, brota naturalmente
um problema para essa classe de homens:
não possuem momentos onde
lhes seja possível refletir. E, portanto
lhes faltam ocasiões nas quais
compreendam a falência de suas vidas.
Porém, mesmo se tais ocasiões
se lhes apresentam, fogem, pois suas
existências consistem em fugir do
tormento. Contudo, se esquecem de
que, quando o homem foge do tormento,
é ainda mais atormentado...
Existem misérias morais tão grandes,
que não seria descabido dizer
que o indivíduo que busca trucidar
os momentos de reflexão, ora através
do prazer, ora através de lapsos
de desespero, dificilmente se desvencilhará
de seu erro, carregandoo
até o fim da vida. E por muitas vezes
ainda julgará ter sido feliz. Para
tais indivíduos a reflexão é uma loucura
de poetas.
Gosto pela reflexão
Em geral, os que vivem apenas
para o palpável constituem a maior
parcela do gênero humano. Entretanto,
há outro estilo de mentalidades
para o qual muitas vezes os próprios
sofrimentos pelos quais têm de
passar concorrem para que eles tenham
facilidade em refletir.
Esse gênero de pessoas comumente
se põe problemas como o significado
mais profundo das coisas, sua razão
de ser, a explicação de acontecimentos
que mais os impressionam,
embora nem sempre cheguem a penetrar
problemas filosóficos.
Por exemplo, encontrando-se
diante de um belo edifício como o
Escorial ou Versailles, agem de modo
mais reflexivo do que propriamente
emocional. Perguntam-se
qual a consistência e profundidade
de todo aquele esplendor, e ainda se
não seria demasiada imposição tudo
aquilo que não permite outras considerações,
tiranizando assim os sentidos
externos.
Estas pessoas constituem uma minoria
desprezada pelos demais, porém,
na realidade, elas governam a
maioria.
Dona Lucilia: uma
alma impregnada das
realidades superiores
Muito embora não fosse uma
pessoa filosófica, Dona Lucilia tinha
a alma impregnada dessas realidades
superiores, fazendo com que
ela não vivesse meramente no mundo
sensível.
E no Brasil dos tempos dela, marcou-se
claramente o momento em
Em Dona Lucilia
transparecia um senso
muito proeminente de
que tudo quanto era
terreno se reportava a
uma ordem superior,
onde encontrava sua
explicitação.
Dona Lucilia causava a impressão
de ser uma pessoa de tempeque
as pessoas, inclusive nos ambientes
mais elevados, alteraram seu
modo de ser por um novo que surgia,
penetrado pela mentalidade que acima
comentei. Mamãe elegeu para si
o caminho da calma, da reflexão e da
ponderação.
Tudo quanto é terreno
se reporta a uma
ordem superior
Em Dona Lucilia transparecia
— possivelmente devido à preservação
e inocência que a caracterizavam
— um senso muito proeminente
de que tudo quanto era terreno
se reportava a uma ordem superior,
onde encontrava sua explicitação.
Isto sucedia em geral com as coisas
boas ou belas — bonum, pulchrum.
Não era possível tratar com Dona
Lucilia sobre qualquer assunto,
sem que dela se tivesse duas impressões.
Uma era que ao solucionar
algum fato corriqueiro da vida,
deixava ela, provisoriamente,
um cume de elevadas reflexões para
descer até o problema; e outra era
que a propósito desse mesmo episódio,
ela o elevava até as considerações
mais altas. Era um movimento
reversível de alma.
De forma alguma era ela uma
pessoa que vivesse fora do mundo
real. O real e o cotidiano estavam inteiramente
presentes em seu espírito,
cumprindo com muito esmero todas
as suas obrigações. Esmero que
revelava um gosto pelos pormenores,
ornatos e detalhes. Por isso ela
possuía uma característica de alma
pela qual, enquanto sua alma estava
em altas considerações, era também
capaz de tratar de acontecimentos
concretos.
Dona Lucilia considerava tudo
sob uma luz sobrenatural, à qual
reportava todas as coisas. Deste
modo, não havia nenhum momento
em que as coisas carecessem de valor
superior, pois ela sabia ligar tudo
a Deus, ou seja, realizar o contrário
do que apetece o espírito
materialista.
Essa forma de ser dela não seria estável
de outra forma senão por amor a
Deus, e pelo fato de ela fundamentalmente
não ser egoísta. Para isso contribuía
também o ambiente em que ela
viveu, que era um tanto preservado, e
trazia algo das velhas tradições da ordem,
mas era sobretudo um dom sobrenatural
que ela soube desenvolver.
Uma opala
iluminada pelo sol
8
amento tão irisado, que — bem se
poderia dizer — as cores variavam
conforme a posição. Cada impressão
vivida, cada acontecimento, cada
circunstância, determinava a manifestação
de seu espírito de forma
singular, como uma opala na qual
incide um raio solar, fazendo com
que se desprenda um colorido não
muito diferente, mas discretamente
irisado.
Nela conjugavam-se firmeza e
doçura, sem que alterasse em algo
o seu modo de ser, pois ela possuía
uma flexibilidade de alma por onde
adequava admiravelmente o trato a
cada pessoa com quem se relacionava,
sabendo apanhar os lados razoáveis,
dignos de estímulo e de respeito,
não deixando nem por isso de
compreender perfeitamente os lados
débeis. Mas a forma de tratar
os lados débeis, participava da veneração
que ela possuía aos aspectos
que admirava, e, no momento
de admirar, causava a impressão de
esquecer-se por completo da debilidade.
Esse modo de ser se exemplificava
no trato dela para com sua mãe,
Dona Gabriela, personagem de ampla
envergadura para aquele tempo.
Era uma senhora que ao fim da vida
tocava nas debilidades da idade,
pois era quase nonagenária. A forma
de Dona Lucilia a auxiliar nas mínimas
coisas, como apanhar um lenço
que caíra no chão e trocá-lo, era
feito com uma solicitude e uma alegria,
como quem se deleitasse em
praticar aquela atitude, que encantava
presenciar tal cena. Quando Dona
Gabriela tomava alguma atitude
em que se fazia notar imponência,
dignidade ou firmeza de autoridade,
Dona Lucilia assumia uma posição
de vigilância para ver se também
os outros tinham feito como sua
mãe desejava, não como quem cobrasse,
mas esperando a participação
na mesma admiração e, portanto,
na mesma docilidade.
Uma das últimas fotografias de Dona Lucilia, um mês antes de sua morte.
Mas concluído o trato com Dona
Gabriela, caso ela fosse chamada
para tratar com uma criança
da família que vinha, por exemplo,
lhe trazer uma flor, Dona Lucilia
era capaz de penetrar na admiração
que a criança tinha pela
flor, cuidando dela como a criança
gostaria que ela cuidasse, levando
a sério os lados que a criança levava,
e ao mesmo tempo proporcionando
ao pequeno uma sensação
de solicitude e proteção, por
onde se sentisse completamente
penetrado e envolvido. E se nesse
momento fosse necessário ministrar
um remédio a um parente
que adoecera, ela o fazia com perfeição,
entrando também nas dores
do convalescente.
Era um modo de ser embevecedor,
mas nem sempre admirado inteiramente,
sem que jamais ela tenha
denotado amargura por não se
sentir retribuída. Estes são alguns
traços da opala...
v
(Extraído de conferência
de 14/1/1981)
9
Semana
Santa
Sérgio Hollmann
Preparando a alma
para a Semana Santa
Ao nos aproximarmos da Semana Santa, devemos ter
uma compreensão clara de seu significado e do bem
que a Igreja tem intenção de nos obter durante esses
dias. Dr. Plinio, com entranhada piedade, nos aponta
como participar das comemorações da Paixão de
modo atento, devoto e esperançado.
Sem prestar atenção
nas coisas, nada se faz
bem feito. Por exemplo,
um pintor que não presta
atenção na pintura, não faz nada que preste. Fixar a
atenção aonde deve e mantê-la ali durante o tempo necessário,
é condição para que a pessoa faça qualquer coisa
de bom.
10
Essa verdade se aplica, sobretudo, para aquilo que há
de mais importante: os atos de piedade pelos quais a pessoa
se volta para Deus, pede-Lhe graças e as recebe. É
preciso saber recolher essas graças e aproveitá-las, agindo
na linha em que elas indicam.
Tudo isso supõe muita seriedade. E para termos essa
seriedade bem atenta durante o importantíssimo período
do ano litúrgico onde os católicos comemoram a Paixão
e Morte de Cristo, a Compaixão de Nossa Senhora e
a Ressurreição de Nosso Senhor, apresentarei algumas
noções a respeito dessas comemorações.
As consequências do pecado original
Quando Adão e Eva pecaram, como consequência,
perderam os dons preternaturais: ficaram sujeitos à morte,
a tormentos, a doenças, a dores, a indisposições, etc.
Sua inteligência tornou-se mais limitada e perderam o
domínio que tinham sobre os animais, desde o tigre ou
leão mais feroz até o menor inseto. Qualquer mosquitinho
pode nos perturbar; antes do pecado isso não sucedia
com Adão.
O estudo e o trabalho, quer o manual, quer o intelectual,
tornaram-se difíceis. Para a mulher, a gestação passou
a ser frequentemente acompanhada de incômodos
de saúde, e o dar à luz um filho, dolorido. E há uma série
de outros castigos causados pelo pecado original.
Porém, isso não é nada em comparação com o seguinte.
Como o pecado cometido tinha uma gravidade infinita,
ficaram fechadas para o homem as portas do Céu. E,
além de padecer nesta Terra, o homem corria grave risco
de ir para o inferno.
Porque, depois do pecado, o homem ficou com tendências
para o mal, com muita dificuldade em praticar o
bem, como demonstra o episódio de Caim e Abel.
Caim e Abel
Adão e Eva tiveram muitos filhos; entre outros, Caim
e Abel. Este era o predileto, bem apessoado, bom, dedicado
e amava a Deus. Caim, pelo contrário, era um homem
irascível, de mau gênio e invejoso.
O Gênesis não narra detalhes, mas eu imagino que a
história de Caim e de Abel tenha se dado do seguinte
modo:
Certa ocasião, Abel ofereceu um sacrifício a Deus: colocou
frutos sobre um altar e ateou fogo a fim de consumi-los
em louvor de Deus, tendo-se evolado bonita fumaça
em direção ao céu.
Caim fizera também um altar, sobre o qual pusera
frutas podres, e a fumaça que subira era feia. Vendo
que o sacrifício de Abel era aceito por Deus e o dele rejeitado,
ficou com inveja do irmão e, tomado de ódio,
matou-o.
Podemos imaginar quanto Adão e Eva sofreram com
isso. Nunca haviam visto uma pessoa morta, e estavam
agora diante do cadáver do filho predileto. E dirigiram
seus olhos para Caim, que estava com uma cara péssima,
pois cometera um homicídio, um pecado que clama
ao Céu e brada a Deus por vingança. E era um homicídio
com terrível agravante, pois se tratava de fratricídio.
Amaldiçoado por Deus, Caim começou a cumprir o
castigo que o Criador lhe impôs: andar por toda parte
sem poder parar. De tempos em tempos, Adão e Eva
viam Caim meio desvairado passar, e talvez dizer-lhes:
“Eu não posso parar, tenho que andar, andar, andar,
porque matei meu irmão…” E novamente se afundava
pelo mato.
Para salvar o gênero humano,
a própria Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade veio à Terra
Mas Deus queria salvar o gênero humano, e para isso
era preciso que alguém resgatasse o pecado de nossos
primeiros pais. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade
deveria encarnar-Se e sofrer tudo quanto Nosso Senhor
Jesus Cristo padeceu, para que até o fim do mundo
ficassem abertas as portas da graça e do Céu para o
homem.
E os fiéis à comunicação de que viria um Salvador, um
Messias, ficaram esperando e, em cada nova geração,
eles se perguntavam: “Virá o Messias? Será o filho de um
de nós?” E passaram-se milhares de anos quando, afinal,
numa manhã, uma Virgem estava rezando e o Anjo Gabriel
Lhe aparece, dizendo-Lhe que Ela era cheia de graça,
perfeita aos olhos de Deus.
O Messias nasceria d’Ela e, em última análise, perguntava-Lhe
se concordava com isso. Sua resposta foi um assentimento
sublime:
“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo
a tua palavra.”
Naquele momento, o Divino Espírito Santo interveio
em Nossa Senhora e o Verbo se encarnou e habitou entre
nós.
Previsão do atroz sofrimento
Em todo presépio bem feito, o Menino Jesus aparece
sorrindo, afável, como uma criança que está encantada
em ver sua Mãe — que Mãe! Pode-se imaginar o encantamento
d’Ela em ver seu Filho, com “F” maiúsculo;
que coisa incomparável! —, mas com os braços abertos,
em forma da Cruz.
11
Semana
Santa
Quer dizer, Ele vinha à
Terra ciente de que era para
padecer o sofrimento da
Cruz. Jesus sabia tudo
que iria sofrer em todos
os dias de sua vida,
para salvar os homens.
Ele foi o ápice dos profetas,
o Profeta perfeito;
não só previa o que
acontecia, mas fazia o que
previa.
Há composições muito
bonitas — São José era
carpinteiro — que representam
Jesus, já adolescentezinho,
trabalhando com
o pai. Em certo momento,
Ele apanha dois pedaços
de madeira formando uma
cruz e fica, sozinho, contemplando-a.
Outras mostram Nossa
Senhora, na casa de Nazaré,
olhando, por uma porta
entreaberta, Nosso Senhor
Jesus Cristo, que está
numa sala vizinha rezando
com os braços abertos em
cruz, compreendendo e présofrendo
o que viria.
Início da vida
pública
Ele passou trinta anos de
vida particular na oração,
no recolhimento, junto com
São José e Nossa Senhora.
E nesse período faleceu São
José, que é o Patrono da boa
morte, porque morreu tendo
Nosso Senhor Jesus Cristo
e Nossa Senhora alentandoo.
Portanto, não se pode ter
melhor morte do que a dele.
Certo dia, Jesus se despede
de Maria Santíssima,
a qual compreende que Ele
vai para a sua vida pública.
Não será mais a vida do lar,
mas a do mundo; Ele vai começar
a pregar, fazer milagres, converter pessoas, bem
como suscitar um entusiasmo e uma veneração indizíveis,
que se manifestarão no Domingo de Ramos.
Mas também vai despertar a inveja, o ódio. Muitos viram-No
chorar pela morte de Lázaro e depois, chegando
diante de seu sepulcro, dar a ordem: “Lázaro, venha para
fora!” Lázaro levantou-se, provavelmente ainda todo
enfaixado com as tiras com que os judeus envolviam os
mortos, e desfez-se daquilo.
Coisa fantástica, pois afirma a Escritura que Lázaro
estava havia quatro dias na sepultura e, conforme
disse Marta, já devia estar cheirando mal. Nosso Senhor
mandou-o sair da sepultura, e ele assim o fez
em condições de perfeita saúde.
Podemos calcular a alegria de suas irmãs e o entusiasmo
dos que seguiam a Nosso Senhor! Mas houve também
ódio a Nosso Senhor, porque Ele era santo e pregava
a virtude. Os maus odeiam o bem, a virtude, e a quem
faz milagres para propagar o bem e a virtude.
Movidos por esse ódio, os maus combinaram entre si
de matar Jesus.
Nosso Senhor celebra a Páscoa
e chora sobre Jerusalém
Afinal, chega o momento. Era Páscoa, e Nosso Senhor
vai com os seus ao Cenáculo, a fim de celebrá-la. Ele institui
a Sagrada Eucaristia e depois, com os Apóstolos, se
dirige cantando, como era costume entre os judeus, para
um lugar onde pudessem fazer oração.
Chegam assim ao Horto das Oliveiras, depois de ter
passado por um local do qual viam de longe o templo
e a cidade de Jerusalém, sobre a qual Jesus havia chorado.
Ele sabia perfeitamente que aquele templo seria
destruído, e também a cidade, a respeito da qual fez
uma linda comparação: quantas vezes procurou reunir
sua população em torno d’Ele, como a galinha faz com
os pintainhos. Entretanto, eles não quiseram e veio o
castigo.
O lance mais pungente da Paixão
Começou, depois, a Paixão de Nosso Senhor, com sofrimentos
inenarráveis. A meu ver, o mais doloroso ocorreu
quando Ele se encontrou com Nossa Senhora, porque
A viu sofrer tudo quanto um coração de mãe pode padecer
naquela situação, no meio daquela canalha vil. Ela sabia
que Jesus estava sendo conduzido para a morte e seguiu-O,
fidelíssima, até o cimo do Calvário, onde ficou aos
pés da Cruz até o momento de Ele morrer.
No alto da Cruz, quando os estertores das piores dores
O atormentavam, Nosso Senhor fez ainda um ato bo-
12
níssimo, convertendo o bom ladrão, que se chamava Dimas,
e dizendo-lhe: “Hodie eris mecum in paradiso — Tu
estarás comigo hoje no Paraíso.” Foi a primeira canonização,
e a Igreja o saúda como São Dimas. Ele havia sido
um ladrão, um bandido, mas abria-se agora a era da
misericórdia.
Os últimos sofrimentos
Recentemente, médicos estudaram o que Nosso Senhor
deve ter sofrido na Cruz. Cada um de seus pulsos
foi transpassado por um cravo, e não havia um suporte
embaixo dos pés, como em geral os crucifixos apresentam.
Seus pés também estavam atravessados por
um cravo, que os prendia diretamente no madeiro da
Cruz.
Antes de ser crucificado, Nosso Senhor havia perdido
bastante sangue, mas no alto da Cruz perdia muito mais.
Quando sentia falta de ar, a fim de respirar melhor, Ele
se elevava apoiado nos cravos das mãos e dos pés, sofrendo
com isso dores atrozes.
Nesse terrível tormento Jesus ainda disse: “Mulher,
eis aí teu filho!”, “Filho, eis aí tua Mãe.” Essas palavras
indicavam um grande perdão, porque São João Evangelista
havia dormido no Horto das Oliveiras.
O fato é que São João, a partir daquele momento, passou
a ser especialmente filho de Nossa Senhora. Ele era
parente muito chegado de Maria Santíssima, porque a
mãe dele era prima d’Ela. Mas não era filho. Filho ele
se tornou quando Nosso Senhor disse-lhe: “Filho, eis aí
tua mãe.” Aquele que horas antes fugira, recebia agora a
maior graça que se pode imaginar.
E no auge das dores, Jesus exclamou: “Meu Deus,
meu Deus, por que me abandonaste?” Ele sabia que
não estava abandonado; era um clamor, pois seu sofrimento
havia chegado ao auge. Depois inclinou a cabeça
e expirou.
No alto da Cruz,
Nosso Senhor tinha presente
cada ato que praticamos
Nosso Senhor tinha ciência de tudo, do presente, passado
e futuro, porque era o Homem-Deus. Conhecia todas
as pessoas e, portanto, cada um de nós individualmente.
No alto da Cruz, Ele teve em vista todos os pecados
por nós cometidos, todos os nossos atos de virtude,
minhas palavras neste auditório e os que estão me ouvindo.
E ofereceu seus sofrimentos e sua vida por cada um
de nós individualmente.
Jesus abriu o Céu para nossas almas. Continuamente
nos concede graças, sua misericórdia desce sobre nós.
Ele vem ao nosso coração por meio da Sagrada Comunhão.
Sua Mãe está rezando o tempo inteiro no Céu por
nós, como nossa Advogada.
O problema central de nossa vida...
Caso pequemos, arrependamo-nos imediatamente e,
por meio de Maria Santíssima, peçamos a Ele que nos
perdoe. Se for um pecado mortal, precisamos ir logo nos
confessar para que essa mancha repugnante e horrível se
apague de nossas almas, a fim de voltarmos à graça de
Deus.
E devemos nos compenetrar de que o problema
central de nossa vida consiste em praticarmos cada
vez mais atos de virtude e sermos imitadores de Nosso
Senhor Jesus Cristo, pela intercessão de Maria. E,
por outro lado, calcarmos aos pés o demônio, recusando
as solicitações para o pecado que ele nos faz
para o pecado. E, confiando em Nossa Senhora, poderemos
dizer: “Non peccabo in aeternum – Não pecarei
eternamente.”
Para que tudo isto não se apague das almas dos
meus ouvintes — recordem-se de como o beneficiado
tende a se esquecer do benefício
recebido —, é preciso rezar a Nossa
Senhora, pedindo-Lhe que isso não
aconteça. E que Ela
lhes dê as graças necessárias
e superabundantes
a fim de
não pecarem
mais. Desse
modo, suas
vidas transcorrerão
na
contínua amizade
de Deus e de
Nossa Senhora, até o
momento bem-aventurado
em que entregarem
suas almas a Deus e
subirem para o Céu.
Esta é uma introdução
para esses dias de
meditação. v
(Extraído
de conferência
de 2/3/1991)
G. Kralj
13
Semana
Santa
Como devemos carregar
a nossa cruz
A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo nos serve
de lição para a vida: devemos, também nós,
carregar nossa cruz todos os dias! Ao meditar o
sofrimento do Redentor, Dr. Plinio haure valiosos
princípios para nossa vida espiritual.
Beijo
de Judas -
Escada
Santa,
Roma
T. Ring
Sendo hoje Quinta-feira Santa, pareceu-me conveniente
comentar alguns trechos da “Concordância
dos Santos Evangelhos” 1 , a fim de nos prepararmos
para a grande comemoração que amanhã se dará:
a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto da
Cruz e a Redenção do gênero humano.
Acontecimentos trágicos
que viriam depois
“Depois dessas palavras, tendo recitado o
hino de ação de graças, saiu Jesus com os
discípulos para além da corrente do Cedrão.
Dirigindo-se para o Monte das Oliveiras
segundo costumava, chegara a
um lugar chamado Getsêmani, onde
havia um jardim em que entrou com
seus discípulos.
“Chegando a esse lugar, disse-lhes Jesus:
‘Sentai-vos aqui, enquanto vou ali fazer
oração. Orai também para que não entreis
em tentação.’”
Vemos que há uma delimitação clara
entre a festa de instituição da Eucaristia,
da primeira Missa, e a Paixão de Nosso Senhor
Jesus Cristo. A Santa Ceia tem um
caráter festivo, sobre o qual já se projetam
as sombras e as tristezas dos acontecimentos
trágicos que virão depois. Concluída
a ação de graças, a festa cessou, e
Ele começa então a enfrentar a dor, o drama,
a grande luta. Sua vida já fora de lutas, mas nesse
momento ela chega ao auge, ao apogeu.
T. Ring
Para bem saborear os acontecimentos
que o Evangelho narra,
nessa linguagem tão simples, devemos
imaginar o estado de alma
de Nosso Senhor Jesus Cristo, as
disposições do Sagrado Coração
de Jesus ao longo desses fatos.
A Santa Ceia para Ele foi triste
por dois motivos: em primeiro
lugar porque o Redentor via a
Paixão que começaria logo após,
pois, evidentemente, Ele tinha o
conhecimento de tudo.
E também por causa da situação
tristíssima dos Apóstolos. Na
narração da Santa Ceia aparecem
manifestações da insuficiência e
da mediocridade dos Apóstolos.
E o que deveria cortar o Sagrado
Coração de Jesus, transpassá-Lo
mais do que a lança de Longinos,
era a infidelidade dos Apóstolos,
o insucesso da obra que Nosso Senhor
havia começado com eles.
O Redentor, dando-lhes a
maior manifestação de seu amor
até aquele momento, instituindo
a Sagrada a Eucaristia e oferecendo-Se
a Si próprio em comunhão
a eles, vê aquelas almas receberem
esse dom incomparável com
frieza: São Pedro, grandiloquente; Judas, nas condições
abomináveis que não vale a pena referir; os outros Apóstolos
se preparando para a fuga.
Há aquele episódio tão bonito de São João Evangelista,
discípulo amado, que reclina a cabeça sobre o peito
de Jesus e pergunta-Lhe quem seria o traidor; e Nosso
Senhor, então, disse quem era. Ora, esse discípulo “a
quem Jesus amava”, ia fugir como os outros.
Quer dizer, tudo são sombras que vão baixando e ao
mesmo tempo os clarões da Missa se vão acendendo. E
Nosso Senhor Jesus Cristo, que conhecia todos os tempos
e tudo quanto haveria de acontecer, se deleitava com
a idéia de toda a glória que a Sagrada Eucaristia e a Missa
dão ao Padre Eterno, com as adorações que Ele receberia
dos Santos e das almas eleitas, até o fim do mundo.
Todos esses sentimentos penetraram no Coração
d’Ele e constituíram um claro-obscuro de tristeza e alegria;
em certo momento o clarão se retira e Nosso Senhor
vai entrando cada vez mais nas sombras de sua dor
e de sua morte. Cada passo que se aproxima é mais trágico
do que o outro.
Santa Ceia, após a qual Nosso Senhor partiria para o Getsêmani -
Montreal (Canadá)
Ele caminha, mas caminha seguramente, sem um
minuto de distensão, de alívio — a não ser quando recebeu
o Anjo que o consolou, e na hora em que viu
Nossa Senhora e teve a presença d’Ela ao longo da via
sacra —, tendo no alto do Calvário, no auge da dor,
exclamado: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”
2
E até o consummatum est, ou seja, tudo quanto era para
sofrer está sofrido, as coisas vão se tornando mais densas
para Ele.
A Paixão, uma luta travada na solidão
Então, podemos imaginá-Lo triste após a Ceia, andando
pelas ruas de Jerusalém com os Apóstolos, até o
Getsêmani, onde começa sua agonia — agonia, em grego,
quer dizer luta; os atletas eram chamados agonistas,
porque lutavam na arena —, ou seja, a grande luta que
Ele vai travar sozinho. E a solidão é uma das tragédias
d’Ele durante a Paixão, até o momento em que Nossa Senhora
aparece.
15
Semana
Santa
Ele se isola, porque
sente que ninguém é digno
de estar perto d’Ele nesta
hora, e diz aos Apóstolos
sonolentos e indiferentes:
“Sentai-vos aqui, enquanto
vou ali fazer
oração. Orai também
para que não entreis em
tentação.”
Quando Ele se afasta,
em vez de algum Apóstolo
perguntar-Lhe “Senhor,
por que Vos isolais?” ou
“Senhor, não precisais de
mim?”, eles nesse lance começam
a vacilar, e a tragédia
de alma de Jesus já se
faz sentir.
“Depois, tomando consigo
a Pedro e os dois filhos
de Zebedeu, Tiago e João,
começou a sentir pavor e
angústia, e caiu em tristeza
e abatimento. — Minha
alma está triste até a morte,
lhes disse Ele. Ficai aqui e
velai comigo.”
Esses Apóstolos, Ele
quis ter consigo — os outros,
deixou para trás —,
e numa maior intimidade
lhes explica: “Minha alma
está triste até a morte.” E
pede-lhes: “Velai”, ou seja,
“Ficai acordados comigo.
Eu quero ter o reconforto
de vossa presença e de
vossa compaixão, enquanto
estiver passando por esta
dor tão grande.”
“Adiantando-se um pouco,
afastou-se deles à distância
de um tiro de pedra, prostrou-se
com a face no chão
e começou a orar para que,
se fosse possível, se afastasse
d’Ele aquela hora.”
Tenhamos em mente
o Santo Sudário de Turim:
aquele olhar, aquela
G. Kralj
Acima: Getsêmani, jardim onde Jesus entrou com
seus discípulos; à direita: Nossa Senhora das Dores -
Basílica da Vitória, Málaga (Espanha).
majestade de Nosso Senhor. O que significaria, para
quem tivesse um pouco de alma, ver aquela fronte na
qual estava resumida toda a glória do universo, aquele
olhar que sintetizava, em grau excelso, de superação
inimaginável, a santidade possível em todas as almas
em todos os tempos, a inteligência, a força, a bondade,
enfim todas as qualidades; contemplar aquela face,
o mais perfeito espelho de Deus, que jamais tinha
sido criado!
“Faça-se a vossa vontade
e não a minha”
Podemos imaginar Nosso Senhor — que era um varão
alto —, com uma túnica branca, numa noite que talvez
tivesse a claridade da lua, com as sombras do arvoredo
produzindo um claro-obscuro. O que teria de pungente,
ver esse varão majestoso, inteiramente só... De
repente, uma grande forma branca que se inclina e põe
sua face em terra! Então, o Rei de toda glória rezava
prostrado, acabrunhado por uma tristeza que O tomava
até a morte.
S. Hollmann
E Ele dizia na sua oração, que os Apóstolos ouviram
para depois poder contar, e assim ficasse constando
para todo o sempre, estas palavras memoriais:
“Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. Todavia,
faça-se a vossa vontade e não a minha.”
É a oração mais doce, mais forte e mais contrarrevolucionária
que talvez se tenha feito em toda a Terra.
Mais doce porque, vendo que o Padre Eterno quer o
tormento, o martírio d’Ele, e vai tomá-Lo como vítima,
Jesus Se apresenta cheio de amor e O trata “Meu Pai”,
as palavras mais suaves que uma pessoa possa dizer a
outra.
“Meu Pai”, diz Ele como quem geme! Sabe que vai sofrer
aquele tormento, necessário segundo os desígnios de
Deus, para sua glória. E Jesus, na sua humildade Santíssima,
como que abandonado, seccionado de sua divindade,
fica naquelas trevas. Sua natureza humana pede:
“Se for possível evitar esse tormento, afastai-o”. Como
quem diz: “É tão grande o peso da dor, que sou levado a
Vos perguntar: Por misericórdia, não existe um modo de
afastá-lo?”
Mas, logo depois Nosso Senhor acrescenta: “Se
não for possível, faça-se a vossa vontade
e não a minha.” Vemos, então, além do
afeto, a força: “Não sendo possível, embora
não aguente, não tenha recursos,
Eu começarei; porque nada existe que Eu
não esteja disposto a empreender para fazer
a vossa vontade. Sou o Varão forte por
excelência, esmagado, quebrado, aniquilado.
Estou, entretanto, disposto a lutar até
o fim. Mandai-me a vossa força, que farei a
vossa vontade.”
É, portanto, uma submissão completa, uma
obediência total, um ato amoroso sem nenhuma
revolta, nem a sensação de que Deus não
vai ser misericordioso para com Ele; vê a misericórdia
até no momento em que ela pareceria
impossível.
Há aqui um mistério. Poder-se-ia perguntar:
Deus Pai não poderia ter aceitado uma gota de
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e assim
redimir os homens?
Realmente, uma gota de Sangue de Cristo tem
valor infinito. E os teólogos dizem que simplesmente
o Sangue que Ele derramou na circuncisão
teria sido não só suficiente, mas superabundante,
para resgatar o gênero humano. Porém, havia um
desígnio de Deus, para nós misterioso, segundo o
qual era preciso aquela enormidade de tormentos.
O colóquio entre Ele e o Padre Eterno, tão trágico,
mas ao mesmo tempo tão íntimo, nos desvenda
algo que podemos sondar nas relações entre o
Homem-Deus e Deus Pai. Vê-se que, por algo, o Padre
Eterno e Ele mesmo, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, não quiseram tornar isto possível. Um
pouco disso se soube e esse pouco é de uma sublimidade
extraordinária.
Cada homem deve carregar sua cruz
Jesus quis que os homens vissem todo o sofrimento
d’Ele, para que cada um de nós tivesse a coragem
de carregar o seu próprio sofrimento. Se o Homem-
Deus passasse pela Terra e sofresse um pouquinho,
derramando uma gotinha de sangue, remidos estávamos.
Mas faltaria a lição de conformidade com a dor,
de aceitação do sofrimento como sendo a mais alta
coisa da vida — não um desastre, um trambolho, algo
que não se compreende e não deveria ter sucedido
—, o caminho necessário para que o homem che-
17
Semana
Santa
gue até onde deve chegar,
a estrada para a qual ele
se dirige como sendo a realização
de seu próprio
destino.
Quer dizer, cada um
de nós nasceu para carregar
uma cruz, passar
por um horto das oliveiras,
beber um cálice,
ter as suas horas de agonia
e em que diz a Deus Nosso
Senhor: “Meu Pai, se possível,
afastai de mim este cálice,
mas faça-se a vossa vontade
e não a minha.”
A idéia de que o homem
nasceu para dar glória
a Deus, antes de tudo
sofrendo, esta idéia retriz,
fundamental na formação
do verdadeiro católico,
não a teríamos se não fosse
apresentada pelo mais
sublime e arrebatador dos
exemplos, que é Nosso Senhor
Jesus Cristo morrendo
na Cruz.
Vemos aqui um contraste
com o espírito moderno,
segundo o qual a finalidade
do homem na Terra
é ter êxito, saúde, enriquecer,
gozar a vida e morrer
bem tarde, quando não
mais houver remédio. E,
durante toda a existência,
ter a maior quota possível
de segurança, de maneira
tal que, não digo o sofrimento,
mas o medo do sofrimento,
não o assalte. Tal
visualização é pagã por essência.
Calcular a vida assim
é calculá-la à maneira
de um pagão. A formação
católica prepara as pessoas
para o sofrimento, pois está
fundamentada em Nosso
Senhor Jesus Cristo, cuja
vida foi centrada nesta hora
suprema da dor.
Acima: Jesus consola as filhas de Jerusalém;
ao lado: Dr. Plinio venera a Santa Cruz
durante uma cerimônia de Semana Santa.
Como consideramos os
sofrimentos de nossa vida?
Isto nos leva a perguntar como consideramos os sofrimentos
de nossa vida, dos quais o maior, sem dúvida nenhuma,
é a nossa própria santificação. Toda santificação
séria faz sofrer, e sofrer muito. E se alguém me disser
que não sofre, eu teria vontade de perguntar-lhe, de imediato:
“Então tu não te santificas?” Porque não há santificação
que não venha acompanhada de dor.
Visando nossa santificação, devemos fazer perguntas
como as seguintes:
Combatemos os maus impulsos que, em consequência
do pecado original e das nossas más ações, existem dentro
de nós? Como fazemos, não só para reprimir os maus impulsos,
mas para praticar as virtudes que lhes são opostas?
Aceitamos as nossas limitações de inteligência, físicas
de toda ordem, sociais, tais como: falta de posição, de fortuna,
de atrativos? Há pessoas sem graça, com as quais os
outros não gostam de ter relações; passam diante delas
e, quando muito, as cumprimentam. Existem também as
muito engraçadas, procuradas por todo o mundo para se
divertirem com elas, e que nos solicitam à palhaçada. Como
aceitamos a necessidade de resistir a essa solicitação?
Para tudo isto, cada um tem a sua cruz. E Nosso Senhor
Jesus Cristo nos mostra o papel fundamental do sofrimento.
Uma das razões pelas quais não foi possível ao
Padre Eterno atender à oração de Jesus foi que os homens
tivessem esse exemplo.
Quando Napoleão estava na fase ascensional de sua
carreira, antes ainda de se tornar imperador, um bajulador
disse-lhe: “General Bonaparte, por que vós não vos
fazeis proclamar deus?” Os antigos heróis romanos, e os
da Antiguidade em geral, quando “megalavam” 3 muito,
acabavam sendo divinizados. Ele olhou para o sujeito de
frente e deu esta resposta esmagadora: “Depois de Jesus
Cristo, só há um jeito de alguém ser tomado a sério como
deus: subir no alto do Calvário fazendo-se crucificar. Eu
não estou disposto a isto.”
O exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo calou tão
fundo que nunca mais nenhum candidato à divindade foi
tomado a sério, porque só a cruz é séria, e apenas são
verdadeiramente sérios os homens que querem carregar
sua cruz. Portanto, devemos amar a nossa cruz e meditar
sobre os pontos acima referidos.
Ele sofreu para que, por exemplo, no dia 30 de março
de 1972, neste pequeno auditório, pudéssemos meditar isto
juntos, e cada um sair daqui mais resolvido a combater
o seu bom combate. Quer dizer, a carregar sua cruz. v
(Extraído de conferência de 30/3/1972)
1) “Concordância dos Santos Evangelhos” ou “Os quatro
Evangelhos reunidos em um só”, de autoria do Arcebispo
de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. São Paulo:
Ave Maria, 3ª ed., 1940, p. 365-368.
2) Mt 27,46.
3) “Megalar”, termo criado por Dr. Plinio, derivado de magalomania
(mania de grandeza). Usado no sentido de “exagerar
as próprias qualidades”, “envaidecer-se”, etc.
Arquivo revista
F. Boulay
19
Semana
Santa
O Sepulcro do
Senhor
Imaginando o Santo Sepulcro, Dr. Plinio faz
riquíssimas considerações que podem inspirar-nos à
meditação por ocasião da Páscoa.
Atualmente, o ambiente
que cerca o
Santo Sepulcro difere
bastante daquele existente
quando Nosso Senhor ali
estava morto na sua humanidade.
Entretanto, a fim de fazer
uma meditação sobre a Ressurreição
de Cristo, farei o
que Santo Inácio de Loyola
chama, nos Exercícios Espirituais, a composição de lugar,
sabendo que o Santo Sepulcro assim não foi. Vou
imaginar um sepulcro em concreto, ou seja, real, e depois
descreverei a impressão que ele me causaria, se lá
estivesse.
Um arco prodigioso, não definido
Eu imaginaria o Santo Sepulcro como algo completamente
tosco, aberto na pedra pelos pedreiros de José de
Arimateia, que formavam talvez uma das primeiras em-
Fotos: G. Kralj, F. Boulay
Santo Sepulcro
presas funerárias do mundo. Uma coisa tosca, mas para
quem soubesse interpretar e conhecesse o gótico, olhando
para aquilo perceberia que formava um arco prodigioso,
não definido. Um indivíduo que vivesse no tempo
de Jesus não perceberia, mas um medieval diria: “Olha
o gótico!” Se quiserem, foi a primeira ogiva da História.
A lápide que encerrava o Santo Sepulcro, ao contrário
de ter aquela beleza leve do gótico, aquele charme, seria
uma pedra bruta como que fazendo carranca.
E a ogiva era um louvor do Filho de Deus e a tragédia
do deicídio, a justaposição do lindo e do horror da morte,
da virtude e do pecado.
A câmara mortuária em forma de cruz
Como se poderia imaginar a câmara mortuária onde
estava Nosso Senhor?
Poder-se-ia representar, não uma montanha gigantesca,
seria ridículo, mas uma rocha muito grande, ainda
com terra por cima, com plantas, de maneira que se
sentisse que ela é muito maior do que nossos olhos percebem.
Afastada a pedra de abertura, entrar-se-ia numa espécie
de corredor, no fundo do qual se tem a idéia do âmago
da morte. E no âmago da morte, o Deus vivo.
É bonito imaginar o cortejo que entra, levando o sagrado
Corpo: os archotes, a resina dos mesmos e a fumaça
marcando o teto e as paredes; aquela escavação escura
e tenebrosa vai recebendo uma luz surpreendente.
Nessa escavação, cuja forma seria alongada, haveria
uma como que mesa de pedra, sobre a qual se colocaria
o Corpo divino.
Quem prestasse uma atenção amorosa e meditativa
perceberia, não à primeira vista, mas à terceira ou quarta,
que aquilo formava uma cruz. No âmago da morte
não cabe a festa nem o pulchrum ostentado, mas apenas
insinuado, entrevisto.
Contraste entre Nossa Senhora
e a montanha de pedra
Prestando-se atenção nas paredes e na estrutura geral,
se compreenderia que aquilo representava um docel fabuloso,
embora de pedra comum, o docel de todos os séculos,
pois ali estava colocado o Corpo de Nosso Senhor.
Talvez não se devesse imaginar que também Nossa Senhora
entrasse. Ela, em cujo claustro Nosso Senhor tomou
vida, vendo agora o sepulcro onde está o seu Filho
morto! Seria lancinante o contraste entre a Virgem-
Mãe e a montanha de pedra, a vida que começa e a morte
dando seu golpe brutal, o crime mais inopinado, mais
satânico, mais estúpido, se não fosse diabólico.
Assim, podemos conceber que Ela julgasse não dever
estar ali, como uma espécie de protesto das entranhas
que O geraram contra a entranha de pedra que O
vai conter: uma incompatibilidade intransponível.
É mais bonito supor que todos saem, ficando ali apenas
o sagrado Corpo ultra-aromatizado, isolado, na escuridão
completa, havendo, na aparência, a vitória deslumbrante
da impiedade, da vulgaridade, da morte, do pecado,
sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fosforescência lívida, mas gloriosa
Se, pela ação de um anjo, uma pessoa tivesse a felicidade
de ver através da rocha, perceberia que do Corpo
emanava uma discretíssima claridade, não a de um homem
vivo, mas a de um cadáver. Para a autenticidade da
Ressurreição era preciso que Jesus estivesse morto, com
todas as características da morte, exceto a putrefação,
que n’Ele não cabe. Se não fosse irreverência, poder-seia
comparar essa luminosidade à fosforescência. Seria
uma fosforescência lívida e cadavérica, mas gloriosa.
Num canto qualquer, e também no solo, uma luz mantida
por anjos, que brilhasse de um modo lindíssimo, como
um vitral iluminado por detrás. Brilharia apenas num
canto, sem chegar a iluminar tudo, como são os quadros
da escola holandesa.
E por que no chão? Porque a glória de Nosso Senhor
impunha que, junto ao cadáver d’Ele, nunca se fizesse
noite completa.
Seria de certo modo o lumen gloriae 1 porque, no lugar
da morte, a luz não tem a sua residência própria. Ela está
como que enxovalhada, posta de lado, iluminando só
um canto, enquanto a vida não voltar para Ele. Tratar-seia
de luz angélica, que não precisa de oxigênio, pois independe
das leis da Física.
E essa luminosidade aumentaria paulatinamente,
se desdobrando em como que fosforescências cada vez
mais bonitas, cujas várias zonas lembrassem os tormentos
d’Ele e tudo quanto em sua alma humana, em união
hipostática com a Divindade, se passou durante a existência:
a vida íntima da Sagrada Família, os três anos da
vida pública, a aurora radiosa, a glória, a perseguição, as
apreensões, o Horto das Oliveiras, tudo isto iria se desdobrando
em luzes. Seria como que uma narração.
Poderíamos imaginar também que as feridas, as chagas
sagradas, fossem gradualmente tomando, em harmonia
com isso, à maneira de matizes, fosforescências próprias,
indicando o significado de cada uma, o que Ele havia
sofrido e expiado em cada passo da Paixão.
Quando isto estivesse inteiramente representado, seria
preciso pensar nas legiões de anjos adorando o sagrado
cadáver. E, incomparavelmente superior a todos
21
Semana
Santa
os anjos, Nossa Senhora à
distância, no Cenáculo, em
contínua adoração. Poderse-ia
objetar: “Está bem,
mas anjo não precisa de
fosforescência.” Sim,
mas ela poderia existir
para que algum dia
fosse o seu sentido meditado
por outros.
Nesse momento, algo
de novo começaria a se dar
dentro do Santo Sepulcro.
Duas formas
de imaginar a
Ressurreição
Podemos imaginar duas
formas de Ressurreição.
Cristo morto, deitado,
em determinado instante,
dá sinais de vida; a fosforescência
se torna uma
luminosidade e sua Alma
imediatamente glorifica
a Deus Pai, faz um ato de
amor ao Espírito Santo. A
Pessoa do Verbo Se levanta
com uma majestade indizível
e caminha no sepulcro
transformado, de repente,
numa catedral feita de luzes,
em meio aos cânticos
dos anjos.
Chegando junto à entrada,
os anjos rodam a pedra
e Ele… meus ouvintes estão
imaginando que Ele apareceria
a Santa Maria Madalena.
Não. Do momento em
que Nosso Senhor se levantou
até o instante em que ela
O reconheceu, houve um interstício
insignificante. É-
nos lícito imaginar que, com
o deslocamento rapidíssimo
dos corpos gloriosos, neste
interstício Jesus esteve no
Cenáculo e apareceu a Nossa
Senhora. Assim, imagino
ter sido Ela a primeira pessoa
que O viu. E logo depois Se apresentou a Maria Madalena,
tendo então lugar a cena que o Evangelho descreve.
Essa seria uma modalidade de imaginar a Ressurreição.
Conforme a piedade e o modo de ser de cada um, poder-se-ia
supô-la de outro modo: nas trevas intensas, de
repente, à maneira de um corisco sublime, a montanha
como que racha, Nosso Senhor se levanta como um raio
e, num instante, está junto à porta. Um anjo rola a pedra
e Ele se encontra diante dos olhos de Maria Santíssima.
Fato tocante: durante toda a
Paixão, Nossa Senhora teve em
Si a presença eucarística
Há, entretanto, um fato tocante, do qual as pessoas
que meditam sobre a Ressurreição nem sempre se lembram:
Nossa Senhora fez sua primeira Comunhão no
Cenáculo, quando Jesus instituiu a Eucaristia; e a partir
desse momento — hipótese defendida por inúmeros teólogos
2 —, nunca mais a presença real n’Ela cessou. E depois
de sua morte, Jesus de fato estava em dois lugares
no mundo: na sepultura e em Nossa Senhora.
Isso forma, a meu ver, um contraste lindíssimo e afirma,
de um modo tão glorioso que não encontro palavras
para qualificar, a vitória de Nosso Senhor sobre o demônio,
porque Ele morto estava em seu paraíso, ou seja,
Maria Santíssima. E, durante a Paixão, Ele estava atado
à coluna, carregando a Cruz, crucificado e até morrendo,
mas permanecia ao mesmo tempo no paraíso d’Ele e —
julgo indispensável considerar isso — desse modo triunfava
dentro de sua derrota.
Eis aí, de modo esquemático, alguns pontos que depois
devem ser desdobrados, para se fazer uma meditação
sobre a Ressurreição.
No fim do mundo, o incêndio
poupará o Santo Sepulcro
Devemos também recordar a glória que ao Santo
Sepulcro deram os fiéis em todo o curso da História,
mas me comprazo em pensar especialmente nos que
derramaram o sangue para libertá-lo. Ficaram eles desolados
quando souberam que o Santo Sepulcro estava
ocupado pelos inimigos da Igreja, impedindo aos católicos
do Oriente de para lá se dirigirem. Além da desolação,
houve a indignação do Papa Bem-aventurado,
Urbano II, que pregou a Cruzada. Ocorreu, então,
por toda a Europa aquela espécie de santa propagação,
como a luz, do brado “Deus o quer!”, e avalan-
ches de cruzados, durante muito tempo, lutaram para
libertar o Santo Sepulcro.
Depois podemos imaginar o Santo Sepulcro cercado
pelas labaredas que vão consumir quase toda a Terra
no fim do mundo. Digo “quase” porque alguns lugares
sagrados, antes de tudo o Santo Sepulcro, vão ser
poupados.
Julgo que, no fim do mundo, todas as relíquias da Paixão
que restarem — relíquia é o que restou — serão reunidas
gloriosamente junto ao Santo Sepulcro.
Quanto ao Santo Lenho, há relíquias autênticas misturadas
com outras que não o são. A coroa de espinhos e
os instrumentos da Paixão, os cravos, não estão inteiros.
Poder-se-ia imaginar que para tais relíquias haveria uma
espécie de ressurreição, ou seja, as autênticas seriam desentranhadas
para se reincorporarem.
Essa é uma idéia pelo menos muito simpática e enormemente
atraente. Nem por isso é prova de que seja verdadeira,
porque pode haver obstáculos metafísicos e teológicos
a isso; seria preciso estudar o caso.
Lábaro de dor
A respeito do Santo Sudário, parece-me que poderá
ocorrer o seguinte: continuará sendo uma espécie de lábaro
de dor, lembrando as sofrimentos de Nosso Senhor;
ou acontecerá o que sucedeu com suas chagas, as quais
se tornaram gloriosas, recordando todos os crimes cometidos
contra Ele. Quem sabe, o Santo Sudário conserve
esse aspecto funerário e doloroso — é como que a fotografia
da própria dor —, mas irradiando uma glória como
as chagas.
Ninguém pode descrever como seria essa glória. O
Santo Sudário é uma “fotografia” — entre aspas — de
Nosso Senhor; todo o brilho que aquele emitir vai ser
uma espécie de réplica do esplendor que do Divino Redentor
promanará, e será objeto de enlevo, de adoração,
etc., de todos os anjos e bem-aventurados.
O Corpo sacratíssimo de Nosso Senhor, com suas chagas,
e analogamente o Santo Sudário, brilharão, constituindo
o gáudio de todos os eleitos. E cada um de nós verá
então, com reconhecimento, o que custou seu próprio
resgate.
O Imaculado Coração
de Maria: a mais perfeita figura
de Nosso Senhor
Tudo quanto Nosso Senhor sofreu e, lindamente, Maria
Santíssima padeceu em união com Ele, se projetará
sobre os anjos maus e os réprobos de maneira a estertorarem
de ódio e de horror.
Imaginemos
que o indivíduo
A tenha inveja
do indivíduo B.
De repente, A
descobre que B
é príncipe e será
coroado rei.
A não vai assistir
a coroação, preferindo
ficar em
algum antro se
contorcendo de
inveja e de ódio.
Embora não esteja
vendo a coroação,
cada rito
da mesma, cada
brilhante da
coroa, etc., o dilaceram.
A inveja
e a revolta o
devoram. Assim,
podemos calcular
qual foi o
ódio dos demônios
diante do
Santo Sudário
e de Nosso Senhor
Jesus Cristo,
apesar de não
os verem.
Mas acima do
Santo Sudário há
uma representação
mais alta de
Nosso Senhor
Jesus Cristo.
É o véu da Verônica?
Não. É o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.
Aquele que é a própria Beleza ali se representa com
complacência.
v
1) Luz da glória.
Após ressuscitar, Jesus aparece a
Santa Maria Madalena. Igreja São João
Batista - Nova Escócia, Canadá.
(Extraído de conferência de 18/4/1981)
2) Entre os que defendem esta piedosa hipótese está o Revmo.
Pe. Gregório Alastruey em sua obra Tratado de la Virgem
Santíssima. (Madrid: BAC, 1956.)
G. Kralj
23
Ardoroso devoto da Eucaristia
Corpo, Sangue,
Alma e Divindade... – II
Nossa ação de graças quando comungamos deve ser completa.
Além de adorarmos Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos
prestar-Lhe também os outros atos de culto. A seguir, em
continuação ao artigo publicado no mês anterior, Dr. Plinio nos
sugere uma maneira de agradecermos tão grande dádiva.
Q
Arquivo revista
ual é a razão de ser da ação
de graças após a Comunhão?
Ação de graças
A ação de graças é um ato de justiça,
e quem não a faz é injusto.
Quando se recebe um dom muito
grande, o qual não é o pagamento
de uma ação boa que se fez, mas
vai muito além, deve-se dar ação de
graças.
Imaginemos um homem que é banhista,
o qual deve ajudar as pessoas
a tomarem banho de mar. Antigamente
havia essa profissão.
Esse banhista
acompanha no mar
um grupo de pessoas
e evita que uma delas
morra afogada. Não
tem propósito que esta,
chegando à praia,
diga: “Olha, você foi o
meu salvador.” Porque
o banhista é um profissional
pago para isso, e
aquela pessoa não entraria
no mar a não ser
com ele; o banhista não
expôs sua vida, fez apenas
algo simples, não
um favor. Ao final, ela
poderia dizer: “Obrigado.
Até logo, aqui está
o seu dinheiro.”
Entretanto, se uma
pessoa está se perdendo
no mar e um homem
se atira na água com todo o risco,
salva-a e a conduz para a praia, a
primeira coisa que ela deve dizer-lhe
é: “Muito obrigado.” Trata-se de um
dever de justiça.
Vou indicar alguns favores que
Nosso Senhor nos fez. O primeiro:
não existíamos e, por sua onipotência,
Ele nos criou. Isso é mais do que
salvar a vida. Um homem que salva
minha vida adia uma morte que, ao
cabo de algum tempo, terei. Quem
me criou deu-me a vida da alma, a
qual nunca deixarei de possuir. Eu,
Plinio Corrêa de Oliveira — como
todo ente humano — jamais deixarei
de existir. Enquanto Deus for Deus,
eu serei. Na Comunhão, Ele vem a
mim e eu não agradeço?
Segundo favor: Ele Se encarnou,
tornando-se homem com a mesma
natureza de cada um de nós. E o faria
por um só de nós. Isso é extraordinário,
e devo agradecer.
Terceiro: Nosso Senhor nos libertou
da escravidão do pecado, derramando
todo o seu Sangue e morrendo
na Cruz. Podemos pensar, por
exemplo, no momento em que Ele
disse: “Eli, Eli, lammá sabachtáni —
Senhor, Senhor, porque me abandonastes!”
1 E depois, inclinando a ca-
24
V. Toniolo
beça, Jesus expirou. Aquela dor última,
pior do que todas as outras;
aquele estraçalhamento final em
que a alma se separa do corpo; aquela
sensação de abandono em que até
o Padre Eterno parecia O haver deixado:
tudo isso Ele sofreu como se
fosse só por mim, Plinio. O Redentor
está presente em mim e não vou
agradecer-Lhe?
Quarto: vendo a infinita distância
entre Ele e eu, Jesus deu-me sua
Mãe para ser também minha Mãe.
Quando o Salvador disse a São João:
“Filho, eis aí tua Mãe” 2 , e a Nossa
Senhora: “Mulher, eis teu filho” 3 ,
Ele sabia que nós existiríamos. Fo-
mos dados a Ela, e Maria Santíssima
nos foi concedida naquela ocasião.
Não vou agradecer?
Quinto: Ele me fez membro da
Igreja Católica. É um favor inefável.
Sexto favor: o Redentor agora está
presente em mim. Nossa Senhora
é capaz todas as formas de gratidão
em um grau inimaginável. Posso,
então, dizer: “Senhor, sou filho
de vossa Mãe. Pela devoção, Ela está
presente em mim, recebei-A. Minha
Mãe, dai-Lhe ação de graças como
Vós sabeis fazer em nome de todos
os homens.”
S. Hollmann
Acima, relíquia do
milagre eucarístico
de Lanciano.
25
Ardoroso devoto da Eucaristia
Reparação
Tratemos agora da reparação, a
qual é uma das ações mais augustas
que um homem pode praticar
em relação a alguém que foi objeto
de uma injustiça. Aquele que repara
presta honra e, por esta honra, faz
justiça.
Imaginemos que alguém, passando
junto a mim, me diga um ultraje
e não posso me defender. Um outro,
sabendo disso, declara-me: “A respeito
do senhor, afirmo tal coisa…”,
que é o oposto daquele ultraje. A
ofensa fica reparada pelo ato de admiração,
de amor, que este último
fez. Esse é o sentido da reparação.
A reparação elimina, por assim
dizer, a falta cometida. Ela é um ato
de justiça.
Quanto cada um de nós, por não
ter correspondido à graça, deve pedir
perdão e reparar, dizendo, por
exemplo: “Senhor, fui incorreto para
convosco em tal ocasião; em outra,
talvez tenha chegado a pecar;
isso me dói. Nesse momento eu
Vos peço: aceitai o que há em minha
alma de contrário a esse pecado.
Fui negligente ouvindo um sermão
ou uma prédica; acolhei agora
meu desejo de bem aproveitá-los
doravante. Se tive covardia diante
de um inimigo vosso e não soube lutar
contra ele, aceitai meu desejo de
ser corajoso. Meu Senhor, não basta
o meu desejo, dai-me força para
cumpri-lo. Fui mole, poltrão, relapso,
mentiroso. Meu Deus, é possível
até que eu tenha sido impuro. Aceitai
a minha admiração pela lealdade,
pela pureza. Tornai-me puro como
Vós. Vós curastes a lepra, considerada
a pior das doenças, a cegueira,
a paralisia. E também as lepras,
as cegueiras, as paralisias da alma.
Perdoai a paralisia de minha alma
preguiçosa, a lepra da alma impura,
etc. (Aqui convém rememorar
alguns pontos de meu exame de
consciência.) Pelos rogos de Maria,
tende pena de mim e dai-me a for-
ça que eu quero ter. Faço isto para
reparar diante de Vós a ofensa que
Vos fiz.”
Mais ainda. Devo considerar a
Revolução 4 , bem como os pecados
por ela promovidos, e pedir perdão
a Nosso Senhor.
Petição
A reparação é uma
das ações mais
augustas que um
homem pode praticar
em relação a alguém
que foi objeto de
injustiça. Ela, por
assim dizer, elimina a
falta cometida, pois é
um ato de justiça.
gir-Lhe o petitório: “Eu quero isso,
aquilo, aquilo outro.”
Às vezes, vendo-se pessoas comungarem
nas igrejas, tem-se a impressão
de que o primeiro pedido
feito por alguma delas é: “Meu
Deus, curai a minha dor de garganta,
fazei que venha logo o ônibus para
eu voltar para casa, que o meu marido
seja promovido, que meu filho
passe no exame, fazei, fazei, fazei…”
Não. Os pedidos precisam vir no
fim. E deve-se começar por rogar
os bens para a alma, depois os para
o corpo. Porque a alma vale mais
do que o corpo. Então, pedir graças
tais como: fidelidade à vocação, muitos
flashes 5 , correspondência à graça,
paciência com fulano, devido respeito
para com sicrano, etc.
Depois os bens do corpo. Podese
pedir saúde e uma série de outras
Somente no final vem a petição.
Muitas pessoas, logo que recebem
Nosso Senhor, começam a diricoisas.
Porém, o mais importante é
rogar os bens da alma.
Deve-se sempre pedir os bens do
corpo?
Depende do trabalho da graça em
nossa alma. Às vezes Nossa Senhora
nos dá vontade de sofrermos algum
mal corporal para resgatarmos
os nossos pecados e os pecados dos
outros. Nesse caso, pedimos a Nossa
Senhora que mantenha aquele mal
do corpo para sofrermos em reparação
de nossas faltas ou de outra pessoa.
Quer dizer, deve-se pedir aquilo
que tem propósito. As outras coisas,
não.
Quem é tentado de inveja, deve
pedir muito a graça de não ceder. A
pessoa vê um colega da mesma idade
que refulge como um sol, e ela
é a estrelinha apagada que só brilha
um pouco quando o sol vai se
deitar. Ela cogita: “Mas meu Deus,
eu gostaria tanto de ser aquele sol;
como seria uma coisa magnífica!”
Então, deve essa pessoa tentada
dizer: “Meu Deus, Vós me destes
pouco, e tanto a ele. Dou-Vos graças
por terdes dado mais a ele. Dai
um pouquinho a mim também, pois
sois tão bom!”
Creio que todos ouviram falar do
caso do Padre Antonio Vieira, famoso
pregador português.
Ele era muito pouco inteligente
e por isso não podia ser jesuíta,
pois a Companhia de Jesus somente
admitia quem possuía comprovada
inteligência. O Padre Antonio
Vieira estava rezando diante
de uma imagem de Nossa Senhora
— que eu vi num museu de Salvador,
na Bahia; puseram-na num
museu em vez de colocá-la num altar
— e, de repente, teve um estralo
na cabeça, mas de doer. E tornou-se,
creio eu, o mais inteligente
dos homens que até aqui tenham
falado em língua portuguesa. Simplesmente
um colosso!
Maria Santíssima atendeu ao pedido
dele.
26
Como seria bom, por exemplo,
ter uma fotografia dessa imagem de
Nossa Senhora e colocá-la num livro
de estudos! Quando houvesse alguma
dificuldade, rezar-se-ia à Virgem
e se conseguiria entender melhor.
Pode-se pedir na Comunhão
que Nosso Senhor ilumine nossa inteligência.
Tudo terminado, diz-se “muito
obrigado” a Nosso Senhor e a Nossa
Senhora. É uma vênia final. Maria
Santíssima é, de certa forma, como
a mãe que temos em casa. Após
Em minhas
comunhões, no
momento em que
recebo a Hóstia, eu
rezo um Memorare
para pedir a
Nosso Senhor que
aumente minha
devoção à sua Mãe
Santíssima.
o rei ter saído, digo-Lhe: “Minha
Mãe, eu Vos agradeço…” E posso
inclusive comentar com Ela a visita,
com os pensamentos que estão em
minha alma. E depois nos retiramos
em paz.
Em minhas Comunhões, eu sempre
inverto um pouquinho a ordem.
No momento em que recebo a Hóstia,
eu rezo um Memorare para pedir
a Nosso Senhor — portanto, começo
pedindo, mas é o único pedido
que faço no início — aumento da
devoção para com Nossa Senhora; e
rogo por meio d’Ela. Sei que Maria
Santíssima quer que minha devoção
para com Ela aumente em cada momento.
Os que me vêem receber a Comunhão
estejam certos: na hora em
que a Sagrada Eucaristia pousa em
minha língua, estou começando
a rezar o Memorare.
Isso não falha
nenhuma vez. Logo depois,
eu rezo interiormente
o Magnificat para,
por meio de Nossa Senhora,
manifestar minha
alegria porque Ele está
dentro de mim. É uma
forma de adoração esta
alegria.
Depois, se não tenho
nenhum ponto especial
para considerar, eu faço
adoração, ação de graças,
reparação e petição.
Alguém poderia perguntar:
“Além do aumento
da devoção a Nossa
Senhora, o senhor nunca
começa pedindo alguma
coisa?”
Sim, certamente. Porque
essas regras gerais
têm exceções. Nossa alma
é viva e tem movimentos. Conforme
estes, um princípio genérico
pode ser alterado. Quando se está
com uma grande aflição, pode-se
começar por pedir que ela seja sanada.
Por exemplo, a mulher adúltera
que se encontrou com Jesus, quando
alguns homens iam apedrejá-la. Ela
não começou com a adoração, reparação,
etc., porque aqueles indivíduos
a apedrejariam. Mas disse de início:
“Senhor, salvai-me porque estão
querendo matar-me.” Ele foi bondoso
e a salvou.
Nada na Igreja Católica, em Nosso
Senhor Jesus Cristo, em Nossa
Senhora, é ditatorial. É de bom alvitre
seguir as regras que foram explicadas,
quando algum movimento
da alma muito vivo não nos indica o
contrário.
Cada um deve proceder de acordo
com o seu próprio modo de ser. Apresentei
alguns princípios apenas com a
intenção de ajudá-los, não de traçar
uma linha de conduta obrigatória.
Resta-me apenas desejar que
meus ouvintes, quando forem comungar,
façam a preparação e a
ação de graças com esse cuidado.
A Igreja aconselha que se sigam
esses quatro atos de culto, e eu
lhes recomendo vivamente fazerem
isso.
v
1) Mt 27,46.
2) Jo 19,27.
3) Jo 19,26.
(Extraído de conferência
de 16/7/1977)
4) Revolução: Dr. Plinio assim denominava
o processo multissecular que
procura destruir a Igreja e a civilização
cristã (cf. Revolução e Contra-
Revolução, Editora Retornarei, São
Paulo, 5ª edição em português, 254
páginas.)
5) Cfr Dr. Plinio, Nº 55, página 16.
G. Kralj
27
O Santo do Mês
–– * Abril * ––
1. Quinta-feira Santa. Instituição
da Sagrada Eucaristia.
2. Sexta-feira Santa. Paixão do
Senhor. (Dia de jejum e abstinência.)
3. Sábado Santo. Solene Vigília
Pascal.
4. Domingo de Páscoa. Gloriosa
Ressurreição do Senhor.
5. São Geraldo, Abade de Saint-
Sauve, França. (+1095)
6. Santo Irineu, Bispo e mártir.
7. Santo Hermano José, sacerdote
premonstratense. (1152-1241)
São João Batista de la Salle, presbítero,
+ 1719.
8. São Dionísio, Bispo de Corinto.
(séc. II)
9. São Libório, Bispo de Lê Mans,
na Gália (atual França). (séc. IV)
10. São Beda, o Jovem, monge.
(+883)
11. Domingo da Divina Misericórdia
(e II de Páscoa). Festa estabelecida
pelo Papa João Paulo II,
em 1997, atendendo às revelações de
Nosso Senhor a Santa Faustina Kowalska
(1905-1938).
12. São Júlio I, Papa. Eleito para
o sólio pontifício em 6 de fevereiro
de 337, defendeu valorosamente a
Fé contra os arianos, e apoiou Santo
Atanásio, Doutor da Igreja, na mesma
missão. (+352)
13. São Martinho I, Papa e Mártir.
(séc. VII)
14. São Pedro González, (chamado
São Telmo), sacerdote dominicano.
(+1246)
15. Santo Ortario, abade de Landelles,
França. (séc. IX)
16. São Toríbio, Bispo de Astorga
(Espanha). Sob ordens do Papa São
Gregório Magno, combateu a heresia
priscilianista. (séc. V)
17. Santos Pedro, diácono, e Hermógenes,
seu servo, mártires em Melitene,
na antiga Armênia.
18. III Domingo da Páscoa.
19. São Leão IX, Papa, séc. XI.
Empenhou-se na reforma do Clero,
secundado pelo futuro pontífice São
Gregório VII.
20. Santa Inês de Montepulciano,
Virgem, Superiora dominicana.
(+1317)
21. Santo Anselmo, Bispo e Doutor
da Igreja, monge beneditino e Arcebispo
da Cantuária (Inglaterra),
defendeu a Igreja na luta das investiduras,
sendo exilado duas vezes. Seus
escritos exerceram grande influência
em sua época e lhe granjearam o título
de “pai da Escolástica”. (séc. XII)
22. São Leônidas, Mártir. (sécs.
II-III)
23. Santo Adalberto de Praga,
Bispo e Mártir.
24. São Melito, abade. Foi enviado
por São Gregório Magno para
evangelizar a Inglaterra, e se tornou
Bispo de Canterbury (Inglaterra).
(+624)
25. Domingo de Bom Pastor
São Marcos Evangelista. Discípulo
de São Pedro e autor do segundo
Evangelho. (séc. I)
26. São Cleto, primeiro sucessor
de São Pedro. (+88)
27. Nossa Senhora de Montserrat,
na Catalunha, Espanha.
28. São Luís Maria Grignion de
Montfort, presbítero. (1673-1716)
29. Santa Catarina de Siena, Virgem
e Doutora da Igreja. Terciária
dominicana, favorecida por visões
de Nosso Senhor, desempenhou importante
papel na solução de graves
problemas da Igreja, como o retorno
do Papa de Avinhão para Roma
e a reforma da Cúria Romana. (séc.
XIV)
30. São José Bento Cottolengo.
Fundador da Pequena Casa da Divina
Providência, em Turim, dedicada
aos doentes, especialmente os rejeitados
por outros hospitais. Seu zelo
e caridade atuaram de modo marcante
nas épocas de peste e desolação.
(1786- 1842)
São Pio V, Papa.
28
7 de Abril
Santo Hermano, o amigo
do Menino-Deus
Em plena Idade Média — a era
das grandes batalhas travadas em
defesa da Fé — pode-se contemplar
uma alma repleta de respeito pelo
sobrenatural ao lado de uma ternura
e candura ímpares: Santo Hermano,
o amigo do Menino-Deus!
Catedral de
Colônia. Cidade
onde nasceu Santo
Hermano José.
Embora pareça paradoxal, há
um princípio de ordem pelo
qual uma virtude, quando
integramente observada, atrai a si a
prática de outra, muitas vezes oposta
e simétrica à primeira. Como nolo
demonstra a Idade Média — que
sob diversos aspectos, fora um período
de combatividade, de luta, e de
seriedade —, apesar de ser a era da
piedade, nutrida de grande respeito,
adoração, e humílima veneração ao
divino e ao religioso, não obstante,
foi também a idade da ternura e da
candura.
Aparentemente contraditórios,
esses aspectos são, em realidade,
apenas opostos, e demonstram a riqueza
da alma medieval enquanto
observante da Lei de Deus.
Em meio à era das grandes batalhas,
duramente travadas em defesa
da Fé, pode-se entrever uma vida
modelar, cheia de ternura e graça,
que prenunciava de modo maravilhoso
a Pequena Via idealizada
por Santa Teresinha do Menino Je-
P. Mikio
29
O Santo do Mês
sus, pois esta via de santificação seria
mais compreensível para os horizontes
do homem medieval, do que para
as espiritualidades posteriores, enregeladas
pela Renascença e pelo processo
revolucionário então nascente.
Amigo e companheiro
do Menino-Deus
A vida de um humílimo sacerdote
premonstratense — o qual brilhou
intensamente por sua virtude, delicadeza
e ternura — foi expressão encantadora
da espiritualidade medieval.
Trata-se de Santo Hermano José.
Seus traços biográficos foram retirados
da “Vida de Santos” de Englebert,
como também de “Na Luz
Perpétua” de Lehmann:
“Este bem-aventurado foi não somente
um dos maiores devotos de
Nossa Senhora, como um dos grandes
contemplativos medievais.”
É necessário, para bem compreender
sua vida, considerar que ele
A Virgem
Maria
aparece
a Santo
Hermano.
fora grande escritor, redigindo obras
de Teologia, além de outros tratados,
e, portanto, um homem de alta cultura.
Todavia, sua vida sobrenatural
iniciou-se quando era apenas menino.
“Nasceu em Colônia, em ano desconhecido,
no século XII, de uma rica
família que empobrecera.”
Nasceu, portanto, no apogeu da
Idade Média, assemelhando-se com
o Menino Jesus, que era de uma
grande família que empobrecera.
“Desde muito criança, procurava
os altares da Santíssima Virgem e com
Ela conversava longo tempo.”
Certamente numa igrejinha do
campo, ou na própria Catedral de
Colônia, o pequeno Hermano, no
altar de Nossa Senhora, aos pés da
imagem, conversava por longo tempo
com Ela. Este fato faz sentir uma
atmosfera delicadíssima da biografia
dele.
“Sua simplicidade era encantadora.
Certa ocasião, trouxe uma maçã e
pediu à Mãe de Deus que a aceitasse;
a imagem da Virgem moveu-se e estendeu
a mão para receber a oferta.”
Para a Europa, a maçã é uma fruta
banal, como a laranja para as nossas
terras. Por isso mesmo vê-se a
inocência dele, ante a grande bondade
de Nossa Senhora. Por
simples e comum que seja
a oferta, é oferecida
por um filho, e
Ela toma aquele
gesto cheia
de encanto
e amor.
©Santiebeati.it
“Outra ocasião, ao chegar à igreja,
viu a Rainha do Céu em meio a grande
esplendor, tendo a seu lado São
João, que brincava com o Menino Jesus.
Hermano ficou contemplando
a cena, quando a Virgem o chamou.
Rapidamente ele subiu os degraus do
presbitério, mas a grade fechada impediu
sua passagem. ‘Não posso subir
– disse a Maria Santíssima –; a porta
está fechada e não há escada para eu
trepar por cima da grade.’ Maria ensinou-lhe,
então, a fazer do gradil escada
e subir. Penetrando assim no coro,
recebeu licença para brincar com o
Menino-Deus.”
Era por certo São João Batista
que brincava com o Menino Jesus,
do qual ele era parente.
Não seria difícil imaginar a bondade
da Rainha do Céu indicando
ao pequeno Hermano: coloque os
pés aqui, segure ali, e então desça
pelo outro lado. E por ser inocente,
ele tomava com inteira naturalidade
tudo o que se passava, sendo nada
menos que companheiro do Menino
Jesus e de São João Batista! Todos
estes fatos fazem sentir de algum
modo o sabor da Pequena Via.
Por que andas descalço?
“Num dia de inverno, dirigiu-se
descalço à igreja, e enquanto rezava
no altar da Virgem, esta lhe perguntou:
‘Hermano, por que andas descalço
neste frio?’ E a resposta de Hermano:
‘Porque não tenho calçado.’ A
Virgem, então, deu-lhe a quantia necessária
para comprar sapato.”
Até a estes aspectos chegava a
preocupação e a ternura de Nossa
Senhora, para que ele não andasse
descalço. Todos estes tocantes fatos
da vida de Santo Hermano José
prestam-se perfeitamente para
a pintura das inocentes iluminuras
medievais.
“Toda a vida desse santo foi assim
povoada de visões e êxtases. Aos 12
30
anos entrou para a Ordem dos premonstratenses
de Steinfeld.”
Pode-se entrever a familiaridade
contínua com o sobrenatural
que o marcou por toda a vida.
Homem preso a Deus
L. Werner
“Ordenado sacerdote, foi encarregado
de dirigir alguns conventos
de religiosas, para as quais escreveu
diversos tratados de piedade e um
comentário do Cântico dos Cânticos.”
Quão valiosas deverão ser essas
meditações sobre o Cântico dos
Cânticos, comentadas por um homem
de tão grande alma. Entretanto,
não raras vezes, são estes livros
repletos de preciosidades que
inexplicavelmente desaparecem
aos olhos dos homens, sendo descobertos
apenas por uma longínqua
posteridade.
“Compôs vários hinos, sendo
de sua autoria o mais antigo hino
ao Coração de Jesus: ‘Summus
Regis, cor aveto!’. Sua vida foi de
ininterrupta penitência, atacado
de tentações e doenças. Sofria de
contínuas enxaquecas que só cessavam
quando subia os degraus
do altar para celebrar, mas que redobravam
de violência quando se
aproximavam as solenidades litúrgicas.
Jogando com as palavras,
ele dizia a propósito: ‘Festae sunt
mihi infestae’ – as festas são para
mim nefastas. Seu pensamento
estava sempre tão preso a Deus, diz
seu biógrafo, que lhe era indiferente
o curso do mundo. No entanto, seu
coração era como um hospital geral,
onde, a começar pelos aflitos e confrades,
todos os homens encontravam
terno acolhimento e seguro refúgio.”
A melodia desses hinos compostos
por ele deve ser de grande beleza
e piedade, e a letra, de riqueza sobrenatural.
Virgem Maria e seu Divino Filho -
Pórtico da Catedral de Colônia
Tal a vida, tal a morte
“Morreu Hermano, que adotara o
nome de José por permissão especial
da Virgem, em 1241. Seu corpo foi,
mais tarde, encontrado intacto.”
Há coisa mais bela que, anos após
a morte de alguém, abrir-se o caixão
e encontrá-lo intacto? Pois bem, lá
estava Santo Hermano revestido de
seu hábito premonstratense, reclinado
no caixão, com ar de quem ainda
está compondo seu último hino ou
tendo sua última visão.
Seria altamente repousante conhecer
este santo e com ele poder
conversar. E aproximando-se de joelhos
pedir: “Por favor, poderia contar-nos
como foram as suas visões?”
Ele, então, recolhido e luminoso
responde: “Com quanto gosto!
Qual delas quer?”
Certamente não conseguiríamos
encerrar o diálogo antes de,
maravilhados, conhecermos todos
aqueles tocantes encontros dele
com a Santíssima Virgem e seu Divino
Filho.
Pode-se compreender, através
desta cogitação, o que será o convívio
celeste, pois haverá inumeráveis
almas como a de Hermano.
E figurativamente, ao passar pela
primeira “esquina” do Paraíso Celeste,
deparando com um ancião
de muitos dias, perguntar:
— Quem sois vós?
— Sou Hermano.
E sentando-se em uma nuvem,
ou em uma pedra preciosa diante
de um rio, onde cantam os pássaros,
ele calmamente descreve toda
a sua vida.
Se houvesse tempo no Céu, se
lá houvesse minutos, o quanto não
se daria para ver, por apenas um
minuto, o sorriso e contemplar a
santidade de Santo Hermano!
Em meio às coisas horrorosas, disformes
e incongruentes do mundo
hodierno, Santo Hermano passa diante
de nós como um anjo em meio às chamas
do Purgatório. Lendo a sua vida é
possível... é possível pensar: “Afinal, um
consolo: um dia irei ao Céu. E lá encontrarei
Santo Hermano.”
Aqui fica um orvalho de esperança
do Céu, enquanto tem de se batalhar
na fornalha de nossos dias. v
(Extraído de conferência
em 6/4/1967)
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Luzes da Civilização Crista
Uma devoção da
Nosso Senhor Jesus Cristo morreu numa sexta-feira e
ressuscitou num domingo. Ambos os dias foram-Lhe
especialmente consagrados, de modo que, semanalmente,
relembram a Paixão e a Ressurreição do Senhor. Porém,
entre estes dias há outro: o sábado. Como faria a
civilização cristã para solenizar este dia posto entre duas
datas tão sublimes?
S. Hollmann
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cristandade...
N
a Idade Média, sob o impulso
dos monges cluniacenses,
o sábado passou
a ser consagrado a Nossa Senhora.
Mas, por que razão a piedade católica
instituiu esse costume?
A Ressurreição
Embora os Apóstolos tivessem
um misterioso instinto de que a história
de Nosso Senhor não podia estar
concluída e que a última palavra
ainda não fora dita — caso contrário
haveriam se dispersado —, eles ainda
não tinham atinado com a idéia
da Ressurreição.
Não concebiam eles que
Quem ressuscitara Lázaro
— fato que eles puderam
comprovar —, ressuscitar-se-ia a Si
próprio; não imaginavam que Nosso
Senhor aceitaria o desafio lançado
pelo mau ladrão crucificado a seu lado:
“Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo!”
1 Cristo fez muito mais do que
descer da Cruz e curar-se a Si próprio:
Ele consentiu em morrer para
depois ressuscitar-Se.
De fato, a Ressurreição é algo
tão extraordinário e miraculoso,
que o espírito humano é propenso a
sequer imaginá-la. Pois, se um vivo
ressuscitar um morto é incomum,
quanto mais o é um morto voltar à
vida por suas próprias forças, sair
dos abismos da morte e dizer a seu
corpo: “Levanta-te!”... Esta é uma
espécie de vitória dentro da vitória,
de esplendor dentro do esplendor,
No sábado, Jesus estava
na sepultura, cheio de
perfumes e de aromas,
envolto no sudário.
Para todos estava tudo
acabado, exceto na alma
de Maria Santíssima,
onde uma tocha de Fé
e de convicção ardia
com a certeza de que
Ele ressuscitaria.
Sepultamento do Senhor -
Sevilha (Espanha).
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Luzes da Civilização Crista
T. Ring G. Kralj
Que mérito há em acreditar na luz ao meio-dia? A
verdadeira beleza está em acreditar na luz quando a
noite já vai longe e tem-se a impressão de que o curso
das coisas nos afundou nas trevas definitivamente...
Nossa Senhora
de Fátima.
que o espírito humano não pode
sequer imaginar.
A Fé da Santíssima
Virgem sustentou
o mundo
Porém, havia alguém que possuía
plena certeza na Ressurreição de
Jesus: Maria!
No sábado que precedeu a Ressurreição
de Nosso Senhor, somente
Nossa Senhora, em toda a face
da Terra, teve uma Fé completa e
sem sombra de dúvida na Ressurreição.
Ela possuía uma certeza
absoluta, uma expectativa
imensamente dolorida por
causa do pecado que havia si-
do cometido, mas imensamente calma,
com a certeza da vitória que se
aproximava.
A cada minuto que passava, de algum
modo a espada da saudade e da
dor penetrava ainda mais seu Coração
Imaculado. Mas, de outro lado,
havia a certeza de uma grande alegria
da vitória que se aproximava.
Esta concepção inundava-A de consolação
e gáudio.
Maria Santíssima, nesta ocasião,
representou a Fé da Santa Igreja e,
por assim dizer, sustentou o mundo,
dando continuidade às promessas
evangélicas, pois, se não houvesse Fé
sobre a face da Terra, a Providência
teria encerrado a História.
Maria foi a Arca da Esperança
dos séculos futuros. Ela teve em Si,
como numa semente, toda a grandeza
que a Igreja haveria de desenvolver
ao longo dos séculos, todas as
promessas do Antigo Testamento e
todas as realizações do Novo; tudo
isto viveu dentro da alma de Nossa
Senhora.
Podemos até nos perguntar se este
episódio não foi mais bonito do
que quando a Santíssima Virgem
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trazia o Messias em seu seio. Numa
ocasião Ela gestava o Messias e
carregava dentro de Si a salvação do
mundo inteiro; noutra, tinha Ela em
Si a Santa Igreja Católica Apostólica
Romana, portanto, o Corpo Místico
de Cristo.
É à noite que é belo
acreditar na luz
Praça de São Pedro - Roma
Na obra Chanteclair, de Edmond
Rostand, há uma linda frase: “É à
noite que é belo acreditar na luz.”
Que mérito há em acreditar na luz
ao meio-dia? Mas, acreditar na luz
à meia-noite, ou mais ainda, às três
horas da manhã, quando até a própria
meia-noite já vai longe, tem-se
a impressão de que o curso das coisas
nos afundou nas trevas definitivamente;
aí é que é belo acreditar na
luz.
Ora, Nossa Senhora acreditou na
luz durante a terrível meia-noite da
morte de seu Filho. Apesar de presenciá-Lo
rompu, brisé, anéanti 2 , Ela
não teve dúvida nenhuma.
Quando Jesus morreu e Nossa Senhora
teve seu divino cadáver no colo,
Ela fez um tranquilíssimo ato de
Fé, dizendo: “Apesar destas chagas
e desta morte estraçalhante, Ele ressuscitará!
Eu creio porque Ele prometeu!”
Este foi, sem dúvida, um dos
mais belos momentos da vida
d’Ela.
A fidelidade de
Maria fez-Lhe
merecer, até o fim do
mundo, ser lembrada
especialmente
aos sábados
Compreende-se assim, com
que tato a Igreja escolheu
para festejar Nossa Senhora
este dia que lembra exatamente
a hora trágica da
dúvida e do abandono de
todos.
No sábado, Jesus estava
na sepultura, cheio
de perfumes e de aromas,
envolto no sudário.
O sepulcro estava
selado por uma
enorme lápide e
guardado por soldados.
Para todos
estava tudo acabado,
exceto na alma
d’Ela, onde uma tocha
de Fé e de convicção ardia
com a certeza de que Ele
ressuscitaria.
Este é o Sábado Santo, dia
especialmente consagrado a Nossa
Senhora.
v
Cristo Ressurrecto. -
Catedral de Notre
Dame, Paris.
(Extraído de conferência
de 19/11/1971)
R. C. Branco
1) Lc. 23, 39.
2) Roto, quebrado e aniquilado.
S. Hollmann
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Virgem da Estrela -
Catedral de Sevilha,
Espanha.
A mais fulgurante das estrelas
P
or que Nossa Senhora é simbolizada por uma estrela? Porque é durante a noite que cintilam
as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma
época de provação, de perigo e de apreensões. Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena
temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação
de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante
de todas as estrelas!
S. Hollmann
(Extraído de conferência de 24/8/1965)