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Revista Dr Plinio 145

Abril de 2010

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Publicação Mensal Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010

Os mais luminosos

raios de um ocaso


E

mbora fosse infinitamente superior aos homens, Nosso Senhor Jesus

Cristo chegou ao extremo de receber todos os ultrajes que Lhe foram

feitos em sua Paixão, com imensa doçura.

Assim sua superioridade tornou-se não apenas régia, mas, por essa doçura,

digna de ser amada. É uma elevação enquanto corolário da misericórdia,

consentindo em colocar-se num plano indizivelmente menor, por

amor àqueles que Lhe são inferiores.

(Extraído de conferência

de 18/10/1989)

G. Kralj

2


Sumário

Publicação Mensal Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010

Ano XIII - Nº 145 Abril de 2010

Os mais luminosos

raios de um ocaso

Na capa, pintura a

óleo representando

Dona Lucilia aos 92

anos de idade.

As matérias extraídas

de exposições verbais de Dr. Plinio

— designadas por “conferências” —

são adaptadas para a linguagem

escrita, sem revisão do autor

Dr. Plinio

Revista mensal de cultura católica, de

propriedade da Editora Retornarei Ltda.

CNPJ - 02.389.379/0001-07

INSC. - 115.227.674.110

Diretor:

Antonio Augusto Lisbôa Miranda

Conselho Consultivo:

Antonio Rodrigues Ferreira

Carlos Augusto G. Picanço

Jorge Eduardo G. Koury

Redação e Administração:

Rua Santo Egídio, 418

02461-010 S. Paulo - SP

Tel: (11) 2236-1027

E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br

Impressão e acabamento:

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.

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Tel: (11) 2606-2409

Preços da

assinatura anual

Comum . . . . . . . . . . . . . . R$ 90,00

Colaborador . . . . . . . . . . R$ 130,00

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Grande Propulsor . . . . . . R$ 430,00

Exemplar avulso . . . . . . . R$ 12,00

Serviço de Atendimento

ao Assinante

Tel./Fax: (11) 2236-1027

Editorial

4 O único sentido que a vida possui

Datas na vida de um cruzado

5 Abril de 1968

Um ocaso glorioso emite

seus últimos e mais luminosos raios

Dona Lucilia

6 Refletir é viver

Semana Santa

10 Preparando a alma para

a Semana Santa

14 Como devemos carregar

a nossa cruz

20 O Sepulcro do Senhor

Ardoroso devoto da Eucaristia

24 Corpo, Sangue,

Alma e Divindade... – II

O Santo do mês

28 7 de Abril: Santo Hermano, o

amigo do Menino-Deus

Luzes da Civilização Cristã

32 Uma devoção da cristandade...

Última página

36 A mais luminosa das criaturas

3


Editorial

O único sentido que

a vida possui

Tanto a alegria quanto a dor da alma resultam necessariamente do amor. O homem se alegra ao

obter o que amou, e se entristece quando o que ama lhe falta. Entretanto, não raras vezes o homem

contemporâneo dedica todo o seu amor às coisas meramente terrenas. Assim, impressionam-no,

sobretudo, as dificuldades pessoais e superficiais: a saúde abalada, a situação financeira vacilante,

os amigos ingratos, as promoções que tardam... Porém, esquece-se ele de que isso tudo é secundário

para o verdadeiro católico, que almeja principalmente a glória de Deus e da sua Igreja, e,

portanto, a salvação eterna.

Por mais que variem os acontecimentos da história humana, os altos e baixos da política e das finanças

continuem sua corrida desordenada, a Santa Igreja sabe manter-se sobranceira ao vai-e-vem

caprichoso das paixões humanas: “Stat crux dum volvitur orbis”... Sobranceira, porém não indiferente,

ela aponta a seus filhos as alegrias, como também as privações pelas quais devem eles passar, na esperança

da glória futura. É o que explica Dr. Plinio, a seguir:

“Quando os dolorosos dias da Semana Santa transcorrem em épocas alegres e tranquilas, a Santa

Igreja, como mãe, solicita a seus filhos que almejem o sofrimento heroico, o espírito de renúncia

às trivialidades quotidianas, e ademais o inteiro devotamento aos ideais que proporcionam um sentido

mais alto à vida humana. ‘Um sentido mais alto’, não diz bem; o único sentido que a vida possui:

o sentido cristão.

“Entretanto, a Esposa Mística de Cristo não é mãe apenas quando nos indica a observância austera

do sofrimento. Ela também o é quando, nos extremos da dor, faz brilhar aos olhos da fé, a luz da

esperança, descortinando horizontes plenos de serenidade e confiança que ela propõe a seus verdadeiros

filhos.

“A Igreja vale-se das vibrantes e castíssimas alegrias da Páscoa para difundir a certeza triunfal de

que Deus é o Senhor de todas as coisas, seu Cristo é o Rei da glória, e sua Esposa Mística é rainha de

imensa majestade, capaz de dissipar as trevas, que em vão tentam envolvê-la, brilhando com luzidio

triunfo no momento em que parece aguardá-la a mais terrível e irremediável das derrotas, da mesma

forma que julgara o povo eleito estar tudo encerrado após a morte do Divino Mestre, acreditando

ser Ele incapaz de destruir a prisão sepulcral em que jazia, sobretudo passando da morte à vida.

“Constataram, surpresos, a ressurreição do Filho de Deus sem a intervenção de qualquer auxílio

humano, deslocando leve e rapidamente a pesada lápide do sepulcro. E Ele ressurgiu!

“Assim também a Igreja imortal, ainda que sob o peso sepulcral das mais dolorosas provações,

possui uma força interior e sobrenatural que lhe vem de Deus, e lhe assegura uma vitória tanto mais

esplêndida quanto mais inesperada e completa.

“A grande lição da Quaresma e a condolência para os homens retos que amam acima de tudo a

Santa Igreja é: Cristo morreu e ressuscitou.

“Também a Igreja se erguerá, gloriosa como Cristo, na radiosa aurora de sua Ressurreição.”

(Extraído d’O Legionário de 1/4/1945)

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.

4


Datas na vida de um cruzado

Abril de 1968

Um ocaso glorioso

emite seus últimos e mais

luminosos raios

Jovens participantes do movimento fundado

por Dr. Plinio, comemoraram com grande

demonstração de afeto, em 21 de abril de

1993, a data sobremodo especial em que Dona

Lucilia completaria 125 anos. Assim dizia o texto

por eles declamado:

Reportemo-nos ao dia 21 de abril de 1968.

Em seu apartamento, Dona Lucilia encontrava-se

desde há dias em seu leito, assistida por

um médico. Dr. Plinio achava-se, no quarto ao

lado, ainda convalescente, devido a uma terrível

crise de diabetes.

Por volta das 10 horas da manhã, o enfermeiro

procurou o médico, avisando que Dona Lucilia

não estava passando bem.

Manifestando certa estranheza, pois às 8:20

lhe aplicara uma injeção e nada fazia prever que

a morte estivesse próxima, o clínico dirigiu-se

imediatamente ao quarto dela.

Deitada, sem apoio em travesseiros, com os

olhos fechados e movendo os lábios como quem

rezava, Dona Lucilia tinha as mãos uma sobre a

outra, no peito.

Ao tomar-lhe o pulso e verificar quão lenta e

fracamente batia, o médico percebeu a proximidade

dos últimos momentos. Pediu então ao enfermeiro

que avisasse logo Dr. Plinio. Era necessário

que ele se locomovesse sozinho e com

enorme esforço até o quarto de sua mãe que

partia para a Eternidade.

Nesse meio tempo, Dona Lucilia, que não

deixara de mover os lábios — sentindo em seu

coração haver chegado a hora da solene despedida

desta vida — com decisão retirou a mão segura

pelo médico, e com um gesto delicado, mas

firme, sem manifestar esforço ou dificuldade,

fez um grande e lento sinal da cruz.

Depois, repousou no peito suas mãos alvíssimas,

uma sobre a outra, e serenamente expirou

na véspera do dia em que completaria 92 anos…

Tocado pela recordação destes momentos, assim

manifestou-se Dr. Plinio:

Esta cena — do encontro com minha mãe,

que Deus acabava de chamar a Si — foi a que

mais me emocionou na vida. Imediatamente

fui avisado para ir ao quarto dela, contíguo ao

meu, mas quando cheguei, ela já não estava lá.

Não a alcancei! E senti a imensidade que nos

separava.

Deus e Nossa Senhora nos uniam, e isto bastava.

No entanto... quando entrei no quarto e

vi o corpo dela já sem vida, senti que aquelas

mãos, que tanto me haviam abençoado e acariciado,

não me acariciariam mais, aqueles lábios,

que tantas coisas me haviam ensinado, não

me ensinariam mais, aqueles lábios, enfim, que

tanto haviam orado por mim, não se moveriam

mais...

Senti então, naquele momento, passar-se algo

comigo que me sacudia de modo profundo e por

inteiro, como seu eu fosse uma corda que arrebentasse,

e algo, que era quase eu mesmo, separar-se

categórica e drasticamente de mim.

Na véspera, eu havia passado o dia inteiro

junto de mamãe, no quarto, não saindo, a bem

dizer, para nada. Eu sabia que ela estava prestes

a morrer, e a razão de eu permanecer ali era

a consciência plena disso. Mas — fato singular

— o drama da morte só se pôs, para mim, no instante

em que ela expirou e senti a ausência do

seu carinho... e então chorei copiosamente...

(Extraído de conferência de 22/4/1993)

5


Dona Lucilia

Refletir é viver

Embebida pela

convicção de que tudo

quanto é terreno se

reporta a uma ordem

superior, Dona Lucilia

possuía uma alma

impregnada das mais

elevadas realidades.

N

o decurso da História, não

raras vezes, é possível deparar-se

com duas categorias

de homens: a dos que se preocupam

apenas com os aspectos materiais

e concretos da vida, absorvidos

pelas sucessivas impressões agradáveis

do dia-a-dia; e a daqueles que

colocam seu bem-estar na cogitação

e na meditação.

Homens absorvidos

pelo gozo da vida

Para o primeiro grupo, a única solução

para os padecimentos produzidos

pela culpa original, resume-se no

prazer. E cada época compõe o prazer

a seu modo. Será para alguns a

deleitável sensação de ir a uma ópera,

enquanto que a outros agradará

o ambiente de uma alta sociedade;

outros, enfim, terão como encanto

guiar freneticamente um automóvel;

e ainda uns últimos — contrariando

o livro do Gênesis, quando

afirma ser a faina um castigo — farão

consistir seu principal contentamento

no frenesi pelo trabalho.

Fotos: J. Dias

6


Dona Lucilia,

um mês antes

de sua morte.

7


Dona Lucilia

Entretanto, brota naturalmente

um problema para essa classe de homens:

não possuem momentos onde

lhes seja possível refletir. E, portanto

lhes faltam ocasiões nas quais

compreendam a falência de suas vidas.

Porém, mesmo se tais ocasiões

se lhes apresentam, fogem, pois suas

existências consistem em fugir do

tormento. Contudo, se esquecem de

que, quando o homem foge do tormento,

é ainda mais atormentado...

Existem misérias morais tão grandes,

que não seria descabido dizer

que o indivíduo que busca trucidar

os momentos de reflexão, ora através

do prazer, ora através de lapsos

de desespero, dificilmente se desvencilhará

de seu erro, carregandoo

até o fim da vida. E por muitas vezes

ainda julgará ter sido feliz. Para

tais indivíduos a reflexão é uma loucura

de poetas.

Gosto pela reflexão

Em geral, os que vivem apenas

para o palpável constituem a maior

parcela do gênero humano. Entretanto,

há outro estilo de mentalidades

para o qual muitas vezes os próprios

sofrimentos pelos quais têm de

passar concorrem para que eles tenham

facilidade em refletir.

Esse gênero de pessoas comumente

se põe problemas como o significado

mais profundo das coisas, sua razão

de ser, a explicação de acontecimentos

que mais os impressionam,

embora nem sempre cheguem a penetrar

problemas filosóficos.

Por exemplo, encontrando-se

diante de um belo edifício como o

Escorial ou Versailles, agem de modo

mais reflexivo do que propriamente

emocional. Perguntam-se

qual a consistência e profundidade

de todo aquele esplendor, e ainda se

não seria demasiada imposição tudo

aquilo que não permite outras considerações,

tiranizando assim os sentidos

externos.

Estas pessoas constituem uma minoria

desprezada pelos demais, porém,

na realidade, elas governam a

maioria.

Dona Lucilia: uma

alma impregnada das

realidades superiores

Muito embora não fosse uma

pessoa filosófica, Dona Lucilia tinha

a alma impregnada dessas realidades

superiores, fazendo com que

ela não vivesse meramente no mundo

sensível.

E no Brasil dos tempos dela, marcou-se

claramente o momento em

Em Dona Lucilia

transparecia um senso

muito proeminente de

que tudo quanto era

terreno se reportava a

uma ordem superior,

onde encontrava sua

explicitação.

Dona Lucilia causava a impressão

de ser uma pessoa de tempeque

as pessoas, inclusive nos ambientes

mais elevados, alteraram seu

modo de ser por um novo que surgia,

penetrado pela mentalidade que acima

comentei. Mamãe elegeu para si

o caminho da calma, da reflexão e da

ponderação.

Tudo quanto é terreno

se reporta a uma

ordem superior

Em Dona Lucilia transparecia

— possivelmente devido à preservação

e inocência que a caracterizavam

— um senso muito proeminente

de que tudo quanto era terreno

se reportava a uma ordem superior,

onde encontrava sua explicitação.

Isto sucedia em geral com as coisas

boas ou belas — bonum, pulchrum.

Não era possível tratar com Dona

Lucilia sobre qualquer assunto,

sem que dela se tivesse duas impressões.

Uma era que ao solucionar

algum fato corriqueiro da vida,

deixava ela, provisoriamente,

um cume de elevadas reflexões para

descer até o problema; e outra era

que a propósito desse mesmo episódio,

ela o elevava até as considerações

mais altas. Era um movimento

reversível de alma.

De forma alguma era ela uma

pessoa que vivesse fora do mundo

real. O real e o cotidiano estavam inteiramente

presentes em seu espírito,

cumprindo com muito esmero todas

as suas obrigações. Esmero que

revelava um gosto pelos pormenores,

ornatos e detalhes. Por isso ela

possuía uma característica de alma

pela qual, enquanto sua alma estava

em altas considerações, era também

capaz de tratar de acontecimentos

concretos.

Dona Lucilia considerava tudo

sob uma luz sobrenatural, à qual

reportava todas as coisas. Deste

modo, não havia nenhum momento

em que as coisas carecessem de valor

superior, pois ela sabia ligar tudo

a Deus, ou seja, realizar o contrário

do que apetece o espírito

materialista.

Essa forma de ser dela não seria estável

de outra forma senão por amor a

Deus, e pelo fato de ela fundamentalmente

não ser egoísta. Para isso contribuía

também o ambiente em que ela

viveu, que era um tanto preservado, e

trazia algo das velhas tradições da ordem,

mas era sobretudo um dom sobrenatural

que ela soube desenvolver.

Uma opala

iluminada pelo sol

8


amento tão irisado, que — bem se

poderia dizer — as cores variavam

conforme a posição. Cada impressão

vivida, cada acontecimento, cada

circunstância, determinava a manifestação

de seu espírito de forma

singular, como uma opala na qual

incide um raio solar, fazendo com

que se desprenda um colorido não

muito diferente, mas discretamente

irisado.

Nela conjugavam-se firmeza e

doçura, sem que alterasse em algo

o seu modo de ser, pois ela possuía

uma flexibilidade de alma por onde

adequava admiravelmente o trato a

cada pessoa com quem se relacionava,

sabendo apanhar os lados razoáveis,

dignos de estímulo e de respeito,

não deixando nem por isso de

compreender perfeitamente os lados

débeis. Mas a forma de tratar

os lados débeis, participava da veneração

que ela possuía aos aspectos

que admirava, e, no momento

de admirar, causava a impressão de

esquecer-se por completo da debilidade.

Esse modo de ser se exemplificava

no trato dela para com sua mãe,

Dona Gabriela, personagem de ampla

envergadura para aquele tempo.

Era uma senhora que ao fim da vida

tocava nas debilidades da idade,

pois era quase nonagenária. A forma

de Dona Lucilia a auxiliar nas mínimas

coisas, como apanhar um lenço

que caíra no chão e trocá-lo, era

feito com uma solicitude e uma alegria,

como quem se deleitasse em

praticar aquela atitude, que encantava

presenciar tal cena. Quando Dona

Gabriela tomava alguma atitude

em que se fazia notar imponência,

dignidade ou firmeza de autoridade,

Dona Lucilia assumia uma posição

de vigilância para ver se também

os outros tinham feito como sua

mãe desejava, não como quem cobrasse,

mas esperando a participação

na mesma admiração e, portanto,

na mesma docilidade.

Uma das últimas fotografias de Dona Lucilia, um mês antes de sua morte.

Mas concluído o trato com Dona

Gabriela, caso ela fosse chamada

para tratar com uma criança

da família que vinha, por exemplo,

lhe trazer uma flor, Dona Lucilia

era capaz de penetrar na admiração

que a criança tinha pela

flor, cuidando dela como a criança

gostaria que ela cuidasse, levando

a sério os lados que a criança levava,

e ao mesmo tempo proporcionando

ao pequeno uma sensação

de solicitude e proteção, por

onde se sentisse completamente

penetrado e envolvido. E se nesse

momento fosse necessário ministrar

um remédio a um parente

que adoecera, ela o fazia com perfeição,

entrando também nas dores

do convalescente.

Era um modo de ser embevecedor,

mas nem sempre admirado inteiramente,

sem que jamais ela tenha

denotado amargura por não se

sentir retribuída. Estes são alguns

traços da opala...

v

(Extraído de conferência

de 14/1/1981)

9


Semana

Santa

Sérgio Hollmann

Preparando a alma

para a Semana Santa

Ao nos aproximarmos da Semana Santa, devemos ter

uma compreensão clara de seu significado e do bem

que a Igreja tem intenção de nos obter durante esses

dias. Dr. Plinio, com entranhada piedade, nos aponta

como participar das comemorações da Paixão de

modo atento, devoto e esperançado.

Sem prestar atenção

nas coisas, nada se faz

bem feito. Por exemplo,

um pintor que não presta

atenção na pintura, não faz nada que preste. Fixar a

atenção aonde deve e mantê-la ali durante o tempo necessário,

é condição para que a pessoa faça qualquer coisa

de bom.

10


Essa verdade se aplica, sobretudo, para aquilo que há

de mais importante: os atos de piedade pelos quais a pessoa

se volta para Deus, pede-Lhe graças e as recebe. É

preciso saber recolher essas graças e aproveitá-las, agindo

na linha em que elas indicam.

Tudo isso supõe muita seriedade. E para termos essa

seriedade bem atenta durante o importantíssimo período

do ano litúrgico onde os católicos comemoram a Paixão

e Morte de Cristo, a Compaixão de Nossa Senhora e

a Ressurreição de Nosso Senhor, apresentarei algumas

noções a respeito dessas comemorações.

As consequências do pecado original

Quando Adão e Eva pecaram, como consequência,

perderam os dons preternaturais: ficaram sujeitos à morte,

a tormentos, a doenças, a dores, a indisposições, etc.

Sua inteligência tornou-se mais limitada e perderam o

domínio que tinham sobre os animais, desde o tigre ou

leão mais feroz até o menor inseto. Qualquer mosquitinho

pode nos perturbar; antes do pecado isso não sucedia

com Adão.

O estudo e o trabalho, quer o manual, quer o intelectual,

tornaram-se difíceis. Para a mulher, a gestação passou

a ser frequentemente acompanhada de incômodos

de saúde, e o dar à luz um filho, dolorido. E há uma série

de outros castigos causados pelo pecado original.

Porém, isso não é nada em comparação com o seguinte.

Como o pecado cometido tinha uma gravidade infinita,

ficaram fechadas para o homem as portas do Céu. E,

além de padecer nesta Terra, o homem corria grave risco

de ir para o inferno.

Porque, depois do pecado, o homem ficou com tendências

para o mal, com muita dificuldade em praticar o

bem, como demonstra o episódio de Caim e Abel.

Caim e Abel

Adão e Eva tiveram muitos filhos; entre outros, Caim

e Abel. Este era o predileto, bem apessoado, bom, dedicado

e amava a Deus. Caim, pelo contrário, era um homem

irascível, de mau gênio e invejoso.

O Gênesis não narra detalhes, mas eu imagino que a

história de Caim e de Abel tenha se dado do seguinte

modo:

Certa ocasião, Abel ofereceu um sacrifício a Deus: colocou

frutos sobre um altar e ateou fogo a fim de consumi-los

em louvor de Deus, tendo-se evolado bonita fumaça

em direção ao céu.

Caim fizera também um altar, sobre o qual pusera

frutas podres, e a fumaça que subira era feia. Vendo

que o sacrifício de Abel era aceito por Deus e o dele rejeitado,

ficou com inveja do irmão e, tomado de ódio,

matou-o.

Podemos imaginar quanto Adão e Eva sofreram com

isso. Nunca haviam visto uma pessoa morta, e estavam

agora diante do cadáver do filho predileto. E dirigiram

seus olhos para Caim, que estava com uma cara péssima,

pois cometera um homicídio, um pecado que clama

ao Céu e brada a Deus por vingança. E era um homicídio

com terrível agravante, pois se tratava de fratricídio.

Amaldiçoado por Deus, Caim começou a cumprir o

castigo que o Criador lhe impôs: andar por toda parte

sem poder parar. De tempos em tempos, Adão e Eva

viam Caim meio desvairado passar, e talvez dizer-lhes:

“Eu não posso parar, tenho que andar, andar, andar,

porque matei meu irmão…” E novamente se afundava

pelo mato.

Para salvar o gênero humano,

a própria Segunda Pessoa da

Santíssima Trindade veio à Terra

Mas Deus queria salvar o gênero humano, e para isso

era preciso que alguém resgatasse o pecado de nossos

primeiros pais. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade

deveria encarnar-Se e sofrer tudo quanto Nosso Senhor

Jesus Cristo padeceu, para que até o fim do mundo

ficassem abertas as portas da graça e do Céu para o

homem.

E os fiéis à comunicação de que viria um Salvador, um

Messias, ficaram esperando e, em cada nova geração,

eles se perguntavam: “Virá o Messias? Será o filho de um

de nós?” E passaram-se milhares de anos quando, afinal,

numa manhã, uma Virgem estava rezando e o Anjo Gabriel

Lhe aparece, dizendo-Lhe que Ela era cheia de graça,

perfeita aos olhos de Deus.

O Messias nasceria d’Ela e, em última análise, perguntava-Lhe

se concordava com isso. Sua resposta foi um assentimento

sublime:

“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo

a tua palavra.”

Naquele momento, o Divino Espírito Santo interveio

em Nossa Senhora e o Verbo se encarnou e habitou entre

nós.

Previsão do atroz sofrimento

Em todo presépio bem feito, o Menino Jesus aparece

sorrindo, afável, como uma criança que está encantada

em ver sua Mãe — que Mãe! Pode-se imaginar o encantamento

d’Ela em ver seu Filho, com “F” maiúsculo;

que coisa incomparável! —, mas com os braços abertos,

em forma da Cruz.

11


Semana

Santa

Quer dizer, Ele vinha à

Terra ciente de que era para

padecer o sofrimento da

Cruz. Jesus sabia tudo

que iria sofrer em todos

os dias de sua vida,

para salvar os homens.

Ele foi o ápice dos profetas,

o Profeta perfeito;

não só previa o que

acontecia, mas fazia o que

previa.

Há composições muito

bonitas — São José era

carpinteiro — que representam

Jesus, já adolescentezinho,

trabalhando com

o pai. Em certo momento,

Ele apanha dois pedaços

de madeira formando uma

cruz e fica, sozinho, contemplando-a.

Outras mostram Nossa

Senhora, na casa de Nazaré,

olhando, por uma porta

entreaberta, Nosso Senhor

Jesus Cristo, que está

numa sala vizinha rezando

com os braços abertos em

cruz, compreendendo e présofrendo

o que viria.

Início da vida

pública

Ele passou trinta anos de

vida particular na oração,

no recolhimento, junto com

São José e Nossa Senhora.

E nesse período faleceu São

José, que é o Patrono da boa

morte, porque morreu tendo

Nosso Senhor Jesus Cristo

e Nossa Senhora alentandoo.

Portanto, não se pode ter

melhor morte do que a dele.

Certo dia, Jesus se despede

de Maria Santíssima,

a qual compreende que Ele

vai para a sua vida pública.

Não será mais a vida do lar,

mas a do mundo; Ele vai começar

a pregar, fazer milagres, converter pessoas, bem

como suscitar um entusiasmo e uma veneração indizíveis,

que se manifestarão no Domingo de Ramos.

Mas também vai despertar a inveja, o ódio. Muitos viram-No

chorar pela morte de Lázaro e depois, chegando

diante de seu sepulcro, dar a ordem: “Lázaro, venha para

fora!” Lázaro levantou-se, provavelmente ainda todo

enfaixado com as tiras com que os judeus envolviam os

mortos, e desfez-se daquilo.

Coisa fantástica, pois afirma a Escritura que Lázaro

estava havia quatro dias na sepultura e, conforme

disse Marta, já devia estar cheirando mal. Nosso Senhor

mandou-o sair da sepultura, e ele assim o fez

em condições de perfeita saúde.

Podemos calcular a alegria de suas irmãs e o entusiasmo

dos que seguiam a Nosso Senhor! Mas houve também

ódio a Nosso Senhor, porque Ele era santo e pregava

a virtude. Os maus odeiam o bem, a virtude, e a quem

faz milagres para propagar o bem e a virtude.

Movidos por esse ódio, os maus combinaram entre si

de matar Jesus.

Nosso Senhor celebra a Páscoa

e chora sobre Jerusalém

Afinal, chega o momento. Era Páscoa, e Nosso Senhor

vai com os seus ao Cenáculo, a fim de celebrá-la. Ele institui

a Sagrada Eucaristia e depois, com os Apóstolos, se

dirige cantando, como era costume entre os judeus, para

um lugar onde pudessem fazer oração.

Chegam assim ao Horto das Oliveiras, depois de ter

passado por um local do qual viam de longe o templo

e a cidade de Jerusalém, sobre a qual Jesus havia chorado.

Ele sabia perfeitamente que aquele templo seria

destruído, e também a cidade, a respeito da qual fez

uma linda comparação: quantas vezes procurou reunir

sua população em torno d’Ele, como a galinha faz com

os pintainhos. Entretanto, eles não quiseram e veio o

castigo.

O lance mais pungente da Paixão

Começou, depois, a Paixão de Nosso Senhor, com sofrimentos

inenarráveis. A meu ver, o mais doloroso ocorreu

quando Ele se encontrou com Nossa Senhora, porque

A viu sofrer tudo quanto um coração de mãe pode padecer

naquela situação, no meio daquela canalha vil. Ela sabia

que Jesus estava sendo conduzido para a morte e seguiu-O,

fidelíssima, até o cimo do Calvário, onde ficou aos

pés da Cruz até o momento de Ele morrer.

No alto da Cruz, quando os estertores das piores dores

O atormentavam, Nosso Senhor fez ainda um ato bo-

12


níssimo, convertendo o bom ladrão, que se chamava Dimas,

e dizendo-lhe: “Hodie eris mecum in paradiso — Tu

estarás comigo hoje no Paraíso.” Foi a primeira canonização,

e a Igreja o saúda como São Dimas. Ele havia sido

um ladrão, um bandido, mas abria-se agora a era da

misericórdia.

Os últimos sofrimentos

Recentemente, médicos estudaram o que Nosso Senhor

deve ter sofrido na Cruz. Cada um de seus pulsos

foi transpassado por um cravo, e não havia um suporte

embaixo dos pés, como em geral os crucifixos apresentam.

Seus pés também estavam atravessados por

um cravo, que os prendia diretamente no madeiro da

Cruz.

Antes de ser crucificado, Nosso Senhor havia perdido

bastante sangue, mas no alto da Cruz perdia muito mais.

Quando sentia falta de ar, a fim de respirar melhor, Ele

se elevava apoiado nos cravos das mãos e dos pés, sofrendo

com isso dores atrozes.

Nesse terrível tormento Jesus ainda disse: “Mulher,

eis aí teu filho!”, “Filho, eis aí tua Mãe.” Essas palavras

indicavam um grande perdão, porque São João Evangelista

havia dormido no Horto das Oliveiras.

O fato é que São João, a partir daquele momento, passou

a ser especialmente filho de Nossa Senhora. Ele era

parente muito chegado de Maria Santíssima, porque a

mãe dele era prima d’Ela. Mas não era filho. Filho ele

se tornou quando Nosso Senhor disse-lhe: “Filho, eis aí

tua mãe.” Aquele que horas antes fugira, recebia agora a

maior graça que se pode imaginar.

E no auge das dores, Jesus exclamou: “Meu Deus,

meu Deus, por que me abandonaste?” Ele sabia que

não estava abandonado; era um clamor, pois seu sofrimento

havia chegado ao auge. Depois inclinou a cabeça

e expirou.

No alto da Cruz,

Nosso Senhor tinha presente

cada ato que praticamos

Nosso Senhor tinha ciência de tudo, do presente, passado

e futuro, porque era o Homem-Deus. Conhecia todas

as pessoas e, portanto, cada um de nós individualmente.

No alto da Cruz, Ele teve em vista todos os pecados

por nós cometidos, todos os nossos atos de virtude,

minhas palavras neste auditório e os que estão me ouvindo.

E ofereceu seus sofrimentos e sua vida por cada um

de nós individualmente.

Jesus abriu o Céu para nossas almas. Continuamente

nos concede graças, sua misericórdia desce sobre nós.

Ele vem ao nosso coração por meio da Sagrada Comunhão.

Sua Mãe está rezando o tempo inteiro no Céu por

nós, como nossa Advogada.

O problema central de nossa vida...

Caso pequemos, arrependamo-nos imediatamente e,

por meio de Maria Santíssima, peçamos a Ele que nos

perdoe. Se for um pecado mortal, precisamos ir logo nos

confessar para que essa mancha repugnante e horrível se

apague de nossas almas, a fim de voltarmos à graça de

Deus.

E devemos nos compenetrar de que o problema

central de nossa vida consiste em praticarmos cada

vez mais atos de virtude e sermos imitadores de Nosso

Senhor Jesus Cristo, pela intercessão de Maria. E,

por outro lado, calcarmos aos pés o demônio, recusando

as solicitações para o pecado que ele nos faz

para o pecado. E, confiando em Nossa Senhora, poderemos

dizer: “Non peccabo in aeternum – Não pecarei

eternamente.”

Para que tudo isto não se apague das almas dos

meus ouvintes — recordem-se de como o beneficiado

tende a se esquecer do benefício

recebido —, é preciso rezar a Nossa

Senhora, pedindo-Lhe que isso não

aconteça. E que Ela

lhes dê as graças necessárias

e superabundantes

a fim de

não pecarem

mais. Desse

modo, suas

vidas transcorrerão

na

contínua amizade

de Deus e de

Nossa Senhora, até o

momento bem-aventurado

em que entregarem

suas almas a Deus e

subirem para o Céu.

Esta é uma introdução

para esses dias de

meditação. v

(Extraído

de conferência

de 2/3/1991)

G. Kralj

13


Semana

Santa

Como devemos carregar

a nossa cruz

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo nos serve

de lição para a vida: devemos, também nós,

carregar nossa cruz todos os dias! Ao meditar o

sofrimento do Redentor, Dr. Plinio haure valiosos

princípios para nossa vida espiritual.

Beijo

de Judas -

Escada

Santa,

Roma

T. Ring

Sendo hoje Quinta-feira Santa, pareceu-me conveniente

comentar alguns trechos da “Concordância

dos Santos Evangelhos” 1 , a fim de nos prepararmos

para a grande comemoração que amanhã se dará:

a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto da

Cruz e a Redenção do gênero humano.

Acontecimentos trágicos

que viriam depois

“Depois dessas palavras, tendo recitado o

hino de ação de graças, saiu Jesus com os

discípulos para além da corrente do Cedrão.

Dirigindo-se para o Monte das Oliveiras

segundo costumava, chegara a

um lugar chamado Getsêmani, onde

havia um jardim em que entrou com

seus discípulos.

“Chegando a esse lugar, disse-lhes Jesus:

‘Sentai-vos aqui, enquanto vou ali fazer

oração. Orai também para que não entreis

em tentação.’”

Vemos que há uma delimitação clara

entre a festa de instituição da Eucaristia,

da primeira Missa, e a Paixão de Nosso Senhor

Jesus Cristo. A Santa Ceia tem um

caráter festivo, sobre o qual já se projetam

as sombras e as tristezas dos acontecimentos

trágicos que virão depois. Concluída

a ação de graças, a festa cessou, e

Ele começa então a enfrentar a dor, o drama,

a grande luta. Sua vida já fora de lutas, mas nesse

momento ela chega ao auge, ao apogeu.


T. Ring

Para bem saborear os acontecimentos

que o Evangelho narra,

nessa linguagem tão simples, devemos

imaginar o estado de alma

de Nosso Senhor Jesus Cristo, as

disposições do Sagrado Coração

de Jesus ao longo desses fatos.

A Santa Ceia para Ele foi triste

por dois motivos: em primeiro

lugar porque o Redentor via a

Paixão que começaria logo após,

pois, evidentemente, Ele tinha o

conhecimento de tudo.

E também por causa da situação

tristíssima dos Apóstolos. Na

narração da Santa Ceia aparecem

manifestações da insuficiência e

da mediocridade dos Apóstolos.

E o que deveria cortar o Sagrado

Coração de Jesus, transpassá-Lo

mais do que a lança de Longinos,

era a infidelidade dos Apóstolos,

o insucesso da obra que Nosso Senhor

havia começado com eles.

O Redentor, dando-lhes a

maior manifestação de seu amor

até aquele momento, instituindo

a Sagrada a Eucaristia e oferecendo-Se

a Si próprio em comunhão

a eles, vê aquelas almas receberem

esse dom incomparável com

frieza: São Pedro, grandiloquente; Judas, nas condições

abomináveis que não vale a pena referir; os outros Apóstolos

se preparando para a fuga.

Há aquele episódio tão bonito de São João Evangelista,

discípulo amado, que reclina a cabeça sobre o peito

de Jesus e pergunta-Lhe quem seria o traidor; e Nosso

Senhor, então, disse quem era. Ora, esse discípulo “a

quem Jesus amava”, ia fugir como os outros.

Quer dizer, tudo são sombras que vão baixando e ao

mesmo tempo os clarões da Missa se vão acendendo. E

Nosso Senhor Jesus Cristo, que conhecia todos os tempos

e tudo quanto haveria de acontecer, se deleitava com

a idéia de toda a glória que a Sagrada Eucaristia e a Missa

dão ao Padre Eterno, com as adorações que Ele receberia

dos Santos e das almas eleitas, até o fim do mundo.

Todos esses sentimentos penetraram no Coração

d’Ele e constituíram um claro-obscuro de tristeza e alegria;

em certo momento o clarão se retira e Nosso Senhor

vai entrando cada vez mais nas sombras de sua dor

e de sua morte. Cada passo que se aproxima é mais trágico

do que o outro.

Santa Ceia, após a qual Nosso Senhor partiria para o Getsêmani -

Montreal (Canadá)

Ele caminha, mas caminha seguramente, sem um

minuto de distensão, de alívio — a não ser quando recebeu

o Anjo que o consolou, e na hora em que viu

Nossa Senhora e teve a presença d’Ela ao longo da via

sacra —, tendo no alto do Calvário, no auge da dor,

exclamado: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

2

E até o consummatum est, ou seja, tudo quanto era para

sofrer está sofrido, as coisas vão se tornando mais densas

para Ele.

A Paixão, uma luta travada na solidão

Então, podemos imaginá-Lo triste após a Ceia, andando

pelas ruas de Jerusalém com os Apóstolos, até o

Getsêmani, onde começa sua agonia — agonia, em grego,

quer dizer luta; os atletas eram chamados agonistas,

porque lutavam na arena —, ou seja, a grande luta que

Ele vai travar sozinho. E a solidão é uma das tragédias

d’Ele durante a Paixão, até o momento em que Nossa Senhora

aparece.

15


Semana

Santa

Ele se isola, porque

sente que ninguém é digno

de estar perto d’Ele nesta

hora, e diz aos Apóstolos

sonolentos e indiferentes:

“Sentai-vos aqui, enquanto

vou ali fazer

oração. Orai também

para que não entreis em

tentação.”

Quando Ele se afasta,

em vez de algum Apóstolo

perguntar-Lhe “Senhor,

por que Vos isolais?” ou

“Senhor, não precisais de

mim?”, eles nesse lance começam

a vacilar, e a tragédia

de alma de Jesus já se

faz sentir.

“Depois, tomando consigo

a Pedro e os dois filhos

de Zebedeu, Tiago e João,

começou a sentir pavor e

angústia, e caiu em tristeza

e abatimento. — Minha

alma está triste até a morte,

lhes disse Ele. Ficai aqui e

velai comigo.”

Esses Apóstolos, Ele

quis ter consigo — os outros,

deixou para trás —,

e numa maior intimidade

lhes explica: “Minha alma

está triste até a morte.” E

pede-lhes: “Velai”, ou seja,

“Ficai acordados comigo.

Eu quero ter o reconforto

de vossa presença e de

vossa compaixão, enquanto

estiver passando por esta

dor tão grande.”

“Adiantando-se um pouco,

afastou-se deles à distância

de um tiro de pedra, prostrou-se

com a face no chão

e começou a orar para que,

se fosse possível, se afastasse

d’Ele aquela hora.”

Tenhamos em mente

o Santo Sudário de Turim:

aquele olhar, aquela

G. Kralj

Acima: Getsêmani, jardim onde Jesus entrou com

seus discípulos; à direita: Nossa Senhora das Dores -

Basílica da Vitória, Málaga (Espanha).

majestade de Nosso Senhor. O que significaria, para

quem tivesse um pouco de alma, ver aquela fronte na

qual estava resumida toda a glória do universo, aquele

olhar que sintetizava, em grau excelso, de superação

inimaginável, a santidade possível em todas as almas

em todos os tempos, a inteligência, a força, a bondade,

enfim todas as qualidades; contemplar aquela face,

o mais perfeito espelho de Deus, que jamais tinha

sido criado!

“Faça-se a vossa vontade

e não a minha”

Podemos imaginar Nosso Senhor — que era um varão

alto —, com uma túnica branca, numa noite que talvez

tivesse a claridade da lua, com as sombras do arvoredo

produzindo um claro-obscuro. O que teria de pungente,

ver esse varão majestoso, inteiramente só... De

repente, uma grande forma branca que se inclina e põe

sua face em terra! Então, o Rei de toda glória rezava

prostrado, acabrunhado por uma tristeza que O tomava

até a morte.


S. Hollmann

E Ele dizia na sua oração, que os Apóstolos ouviram

para depois poder contar, e assim ficasse constando

para todo o sempre, estas palavras memoriais:

“Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice. Todavia,

faça-se a vossa vontade e não a minha.”

É a oração mais doce, mais forte e mais contrarrevolucionária

que talvez se tenha feito em toda a Terra.

Mais doce porque, vendo que o Padre Eterno quer o

tormento, o martírio d’Ele, e vai tomá-Lo como vítima,

Jesus Se apresenta cheio de amor e O trata “Meu Pai”,

as palavras mais suaves que uma pessoa possa dizer a

outra.

“Meu Pai”, diz Ele como quem geme! Sabe que vai sofrer

aquele tormento, necessário segundo os desígnios de

Deus, para sua glória. E Jesus, na sua humildade Santíssima,

como que abandonado, seccionado de sua divindade,

fica naquelas trevas. Sua natureza humana pede:

“Se for possível evitar esse tormento, afastai-o”. Como

quem diz: “É tão grande o peso da dor, que sou levado a

Vos perguntar: Por misericórdia, não existe um modo de

afastá-lo?”

Mas, logo depois Nosso Senhor acrescenta: “Se

não for possível, faça-se a vossa vontade

e não a minha.” Vemos, então, além do

afeto, a força: “Não sendo possível, embora

não aguente, não tenha recursos,

Eu começarei; porque nada existe que Eu

não esteja disposto a empreender para fazer

a vossa vontade. Sou o Varão forte por

excelência, esmagado, quebrado, aniquilado.

Estou, entretanto, disposto a lutar até

o fim. Mandai-me a vossa força, que farei a

vossa vontade.”

É, portanto, uma submissão completa, uma

obediência total, um ato amoroso sem nenhuma

revolta, nem a sensação de que Deus não

vai ser misericordioso para com Ele; vê a misericórdia

até no momento em que ela pareceria

impossível.

Há aqui um mistério. Poder-se-ia perguntar:

Deus Pai não poderia ter aceitado uma gota de

Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e assim

redimir os homens?

Realmente, uma gota de Sangue de Cristo tem

valor infinito. E os teólogos dizem que simplesmente

o Sangue que Ele derramou na circuncisão

teria sido não só suficiente, mas superabundante,

para resgatar o gênero humano. Porém, havia um

desígnio de Deus, para nós misterioso, segundo o

qual era preciso aquela enormidade de tormentos.

O colóquio entre Ele e o Padre Eterno, tão trágico,

mas ao mesmo tempo tão íntimo, nos desvenda

algo que podemos sondar nas relações entre o

Homem-Deus e Deus Pai. Vê-se que, por algo, o Padre

Eterno e Ele mesmo, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima

Trindade, não quiseram tornar isto possível. Um

pouco disso se soube e esse pouco é de uma sublimidade

extraordinária.

Cada homem deve carregar sua cruz

Jesus quis que os homens vissem todo o sofrimento

d’Ele, para que cada um de nós tivesse a coragem

de carregar o seu próprio sofrimento. Se o Homem-

Deus passasse pela Terra e sofresse um pouquinho,

derramando uma gotinha de sangue, remidos estávamos.

Mas faltaria a lição de conformidade com a dor,

de aceitação do sofrimento como sendo a mais alta

coisa da vida — não um desastre, um trambolho, algo

que não se compreende e não deveria ter sucedido

—, o caminho necessário para que o homem che-

17


Semana

Santa

gue até onde deve chegar,

a estrada para a qual ele

se dirige como sendo a realização

de seu próprio

destino.

Quer dizer, cada um

de nós nasceu para carregar

uma cruz, passar

por um horto das oliveiras,

beber um cálice,

ter as suas horas de agonia

e em que diz a Deus Nosso

Senhor: “Meu Pai, se possível,

afastai de mim este cálice,

mas faça-se a vossa vontade

e não a minha.”

A idéia de que o homem

nasceu para dar glória

a Deus, antes de tudo

sofrendo, esta idéia retriz,

fundamental na formação

do verdadeiro católico,

não a teríamos se não fosse

apresentada pelo mais

sublime e arrebatador dos

exemplos, que é Nosso Senhor

Jesus Cristo morrendo

na Cruz.

Vemos aqui um contraste

com o espírito moderno,

segundo o qual a finalidade

do homem na Terra

é ter êxito, saúde, enriquecer,

gozar a vida e morrer

bem tarde, quando não

mais houver remédio. E,

durante toda a existência,

ter a maior quota possível

de segurança, de maneira

tal que, não digo o sofrimento,

mas o medo do sofrimento,

não o assalte. Tal

visualização é pagã por essência.

Calcular a vida assim

é calculá-la à maneira

de um pagão. A formação

católica prepara as pessoas

para o sofrimento, pois está

fundamentada em Nosso

Senhor Jesus Cristo, cuja

vida foi centrada nesta hora

suprema da dor.

Acima: Jesus consola as filhas de Jerusalém;

ao lado: Dr. Plinio venera a Santa Cruz

durante uma cerimônia de Semana Santa.

Como consideramos os

sofrimentos de nossa vida?

Isto nos leva a perguntar como consideramos os sofrimentos

de nossa vida, dos quais o maior, sem dúvida nenhuma,

é a nossa própria santificação. Toda santificação

séria faz sofrer, e sofrer muito. E se alguém me disser

que não sofre, eu teria vontade de perguntar-lhe, de imediato:

“Então tu não te santificas?” Porque não há santificação

que não venha acompanhada de dor.


Visando nossa santificação, devemos fazer perguntas

como as seguintes:

Combatemos os maus impulsos que, em consequência

do pecado original e das nossas más ações, existem dentro

de nós? Como fazemos, não só para reprimir os maus impulsos,

mas para praticar as virtudes que lhes são opostas?

Aceitamos as nossas limitações de inteligência, físicas

de toda ordem, sociais, tais como: falta de posição, de fortuna,

de atrativos? Há pessoas sem graça, com as quais os

outros não gostam de ter relações; passam diante delas

e, quando muito, as cumprimentam. Existem também as

muito engraçadas, procuradas por todo o mundo para se

divertirem com elas, e que nos solicitam à palhaçada. Como

aceitamos a necessidade de resistir a essa solicitação?

Para tudo isto, cada um tem a sua cruz. E Nosso Senhor

Jesus Cristo nos mostra o papel fundamental do sofrimento.

Uma das razões pelas quais não foi possível ao

Padre Eterno atender à oração de Jesus foi que os homens

tivessem esse exemplo.

Quando Napoleão estava na fase ascensional de sua

carreira, antes ainda de se tornar imperador, um bajulador

disse-lhe: “General Bonaparte, por que vós não vos

fazeis proclamar deus?” Os antigos heróis romanos, e os

da Antiguidade em geral, quando “megalavam” 3 muito,

acabavam sendo divinizados. Ele olhou para o sujeito de

frente e deu esta resposta esmagadora: “Depois de Jesus

Cristo, só há um jeito de alguém ser tomado a sério como

deus: subir no alto do Calvário fazendo-se crucificar. Eu

não estou disposto a isto.”

O exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo calou tão

fundo que nunca mais nenhum candidato à divindade foi

tomado a sério, porque só a cruz é séria, e apenas são

verdadeiramente sérios os homens que querem carregar

sua cruz. Portanto, devemos amar a nossa cruz e meditar

sobre os pontos acima referidos.

Ele sofreu para que, por exemplo, no dia 30 de março

de 1972, neste pequeno auditório, pudéssemos meditar isto

juntos, e cada um sair daqui mais resolvido a combater

o seu bom combate. Quer dizer, a carregar sua cruz. v

(Extraído de conferência de 30/3/1972)

1) “Concordância dos Santos Evangelhos” ou “Os quatro

Evangelhos reunidos em um só”, de autoria do Arcebispo

de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. São Paulo:

Ave Maria, 3ª ed., 1940, p. 365-368.

2) Mt 27,46.

3) “Megalar”, termo criado por Dr. Plinio, derivado de magalomania

(mania de grandeza). Usado no sentido de “exagerar

as próprias qualidades”, “envaidecer-se”, etc.

Arquivo revista

F. Boulay

19


Semana

Santa

O Sepulcro do

Senhor

Imaginando o Santo Sepulcro, Dr. Plinio faz

riquíssimas considerações que podem inspirar-nos à

meditação por ocasião da Páscoa.

Atualmente, o ambiente

que cerca o

Santo Sepulcro difere

bastante daquele existente

quando Nosso Senhor ali

estava morto na sua humanidade.

Entretanto, a fim de fazer

uma meditação sobre a Ressurreição

de Cristo, farei o

que Santo Inácio de Loyola

chama, nos Exercícios Espirituais, a composição de lugar,

sabendo que o Santo Sepulcro assim não foi. Vou

imaginar um sepulcro em concreto, ou seja, real, e depois

descreverei a impressão que ele me causaria, se lá

estivesse.

Um arco prodigioso, não definido

Eu imaginaria o Santo Sepulcro como algo completamente

tosco, aberto na pedra pelos pedreiros de José de

Arimateia, que formavam talvez uma das primeiras em-

Fotos: G. Kralj, F. Boulay

Santo Sepulcro


presas funerárias do mundo. Uma coisa tosca, mas para

quem soubesse interpretar e conhecesse o gótico, olhando

para aquilo perceberia que formava um arco prodigioso,

não definido. Um indivíduo que vivesse no tempo

de Jesus não perceberia, mas um medieval diria: “Olha

o gótico!” Se quiserem, foi a primeira ogiva da História.

A lápide que encerrava o Santo Sepulcro, ao contrário

de ter aquela beleza leve do gótico, aquele charme, seria

uma pedra bruta como que fazendo carranca.

E a ogiva era um louvor do Filho de Deus e a tragédia

do deicídio, a justaposição do lindo e do horror da morte,

da virtude e do pecado.

A câmara mortuária em forma de cruz

Como se poderia imaginar a câmara mortuária onde

estava Nosso Senhor?

Poder-se-ia representar, não uma montanha gigantesca,

seria ridículo, mas uma rocha muito grande, ainda

com terra por cima, com plantas, de maneira que se

sentisse que ela é muito maior do que nossos olhos percebem.

Afastada a pedra de abertura, entrar-se-ia numa espécie

de corredor, no fundo do qual se tem a idéia do âmago

da morte. E no âmago da morte, o Deus vivo.

É bonito imaginar o cortejo que entra, levando o sagrado

Corpo: os archotes, a resina dos mesmos e a fumaça

marcando o teto e as paredes; aquela escavação escura

e tenebrosa vai recebendo uma luz surpreendente.

Nessa escavação, cuja forma seria alongada, haveria

uma como que mesa de pedra, sobre a qual se colocaria

o Corpo divino.

Quem prestasse uma atenção amorosa e meditativa

perceberia, não à primeira vista, mas à terceira ou quarta,

que aquilo formava uma cruz. No âmago da morte

não cabe a festa nem o pulchrum ostentado, mas apenas

insinuado, entrevisto.

Contraste entre Nossa Senhora

e a montanha de pedra

Prestando-se atenção nas paredes e na estrutura geral,

se compreenderia que aquilo representava um docel fabuloso,

embora de pedra comum, o docel de todos os séculos,

pois ali estava colocado o Corpo de Nosso Senhor.

Talvez não se devesse imaginar que também Nossa Senhora

entrasse. Ela, em cujo claustro Nosso Senhor tomou

vida, vendo agora o sepulcro onde está o seu Filho

morto! Seria lancinante o contraste entre a Virgem-

Mãe e a montanha de pedra, a vida que começa e a morte

dando seu golpe brutal, o crime mais inopinado, mais

satânico, mais estúpido, se não fosse diabólico.

Assim, podemos conceber que Ela julgasse não dever

estar ali, como uma espécie de protesto das entranhas

que O geraram contra a entranha de pedra que O

vai conter: uma incompatibilidade intransponível.

É mais bonito supor que todos saem, ficando ali apenas

o sagrado Corpo ultra-aromatizado, isolado, na escuridão

completa, havendo, na aparência, a vitória deslumbrante

da impiedade, da vulgaridade, da morte, do pecado,

sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.

Fosforescência lívida, mas gloriosa

Se, pela ação de um anjo, uma pessoa tivesse a felicidade

de ver através da rocha, perceberia que do Corpo

emanava uma discretíssima claridade, não a de um homem

vivo, mas a de um cadáver. Para a autenticidade da

Ressurreição era preciso que Jesus estivesse morto, com

todas as características da morte, exceto a putrefação,

que n’Ele não cabe. Se não fosse irreverência, poder-seia

comparar essa luminosidade à fosforescência. Seria

uma fosforescência lívida e cadavérica, mas gloriosa.

Num canto qualquer, e também no solo, uma luz mantida

por anjos, que brilhasse de um modo lindíssimo, como

um vitral iluminado por detrás. Brilharia apenas num

canto, sem chegar a iluminar tudo, como são os quadros

da escola holandesa.

E por que no chão? Porque a glória de Nosso Senhor

impunha que, junto ao cadáver d’Ele, nunca se fizesse

noite completa.

Seria de certo modo o lumen gloriae 1 porque, no lugar

da morte, a luz não tem a sua residência própria. Ela está

como que enxovalhada, posta de lado, iluminando só

um canto, enquanto a vida não voltar para Ele. Tratar-seia

de luz angélica, que não precisa de oxigênio, pois independe

das leis da Física.

E essa luminosidade aumentaria paulatinamente,

se desdobrando em como que fosforescências cada vez

mais bonitas, cujas várias zonas lembrassem os tormentos

d’Ele e tudo quanto em sua alma humana, em união

hipostática com a Divindade, se passou durante a existência:

a vida íntima da Sagrada Família, os três anos da

vida pública, a aurora radiosa, a glória, a perseguição, as

apreensões, o Horto das Oliveiras, tudo isto iria se desdobrando

em luzes. Seria como que uma narração.

Poderíamos imaginar também que as feridas, as chagas

sagradas, fossem gradualmente tomando, em harmonia

com isso, à maneira de matizes, fosforescências próprias,

indicando o significado de cada uma, o que Ele havia

sofrido e expiado em cada passo da Paixão.

Quando isto estivesse inteiramente representado, seria

preciso pensar nas legiões de anjos adorando o sagrado

cadáver. E, incomparavelmente superior a todos

21


Semana

Santa

os anjos, Nossa Senhora à

distância, no Cenáculo, em

contínua adoração. Poderse-ia

objetar: “Está bem,

mas anjo não precisa de

fosforescência.” Sim,

mas ela poderia existir

para que algum dia

fosse o seu sentido meditado

por outros.

Nesse momento, algo

de novo começaria a se dar

dentro do Santo Sepulcro.

Duas formas

de imaginar a

Ressurreição

Podemos imaginar duas

formas de Ressurreição.

Cristo morto, deitado,

em determinado instante,

dá sinais de vida; a fosforescência

se torna uma

luminosidade e sua Alma

imediatamente glorifica

a Deus Pai, faz um ato de

amor ao Espírito Santo. A

Pessoa do Verbo Se levanta

com uma majestade indizível

e caminha no sepulcro

transformado, de repente,

numa catedral feita de luzes,

em meio aos cânticos

dos anjos.

Chegando junto à entrada,

os anjos rodam a pedra

e Ele… meus ouvintes estão

imaginando que Ele apareceria

a Santa Maria Madalena.

Não. Do momento em

que Nosso Senhor se levantou

até o instante em que ela

O reconheceu, houve um interstício

insignificante. É-

nos lícito imaginar que, com

o deslocamento rapidíssimo

dos corpos gloriosos, neste

interstício Jesus esteve no

Cenáculo e apareceu a Nossa

Senhora. Assim, imagino

ter sido Ela a primeira pessoa

que O viu. E logo depois Se apresentou a Maria Madalena,

tendo então lugar a cena que o Evangelho descreve.

Essa seria uma modalidade de imaginar a Ressurreição.

Conforme a piedade e o modo de ser de cada um, poder-se-ia

supô-la de outro modo: nas trevas intensas, de

repente, à maneira de um corisco sublime, a montanha

como que racha, Nosso Senhor se levanta como um raio

e, num instante, está junto à porta. Um anjo rola a pedra

e Ele se encontra diante dos olhos de Maria Santíssima.

Fato tocante: durante toda a

Paixão, Nossa Senhora teve em

Si a presença eucarística

Há, entretanto, um fato tocante, do qual as pessoas

que meditam sobre a Ressurreição nem sempre se lembram:

Nossa Senhora fez sua primeira Comunhão no

Cenáculo, quando Jesus instituiu a Eucaristia; e a partir

desse momento — hipótese defendida por inúmeros teólogos

2 —, nunca mais a presença real n’Ela cessou. E depois

de sua morte, Jesus de fato estava em dois lugares

no mundo: na sepultura e em Nossa Senhora.

Isso forma, a meu ver, um contraste lindíssimo e afirma,

de um modo tão glorioso que não encontro palavras

para qualificar, a vitória de Nosso Senhor sobre o demônio,

porque Ele morto estava em seu paraíso, ou seja,

Maria Santíssima. E, durante a Paixão, Ele estava atado

à coluna, carregando a Cruz, crucificado e até morrendo,

mas permanecia ao mesmo tempo no paraíso d’Ele e —

julgo indispensável considerar isso — desse modo triunfava

dentro de sua derrota.

Eis aí, de modo esquemático, alguns pontos que depois

devem ser desdobrados, para se fazer uma meditação

sobre a Ressurreição.

No fim do mundo, o incêndio

poupará o Santo Sepulcro

Devemos também recordar a glória que ao Santo

Sepulcro deram os fiéis em todo o curso da História,

mas me comprazo em pensar especialmente nos que

derramaram o sangue para libertá-lo. Ficaram eles desolados

quando souberam que o Santo Sepulcro estava

ocupado pelos inimigos da Igreja, impedindo aos católicos

do Oriente de para lá se dirigirem. Além da desolação,

houve a indignação do Papa Bem-aventurado,

Urbano II, que pregou a Cruzada. Ocorreu, então,

por toda a Europa aquela espécie de santa propagação,

como a luz, do brado “Deus o quer!”, e avalan-


ches de cruzados, durante muito tempo, lutaram para

libertar o Santo Sepulcro.

Depois podemos imaginar o Santo Sepulcro cercado

pelas labaredas que vão consumir quase toda a Terra

no fim do mundo. Digo “quase” porque alguns lugares

sagrados, antes de tudo o Santo Sepulcro, vão ser

poupados.

Julgo que, no fim do mundo, todas as relíquias da Paixão

que restarem — relíquia é o que restou — serão reunidas

gloriosamente junto ao Santo Sepulcro.

Quanto ao Santo Lenho, há relíquias autênticas misturadas

com outras que não o são. A coroa de espinhos e

os instrumentos da Paixão, os cravos, não estão inteiros.

Poder-se-ia imaginar que para tais relíquias haveria uma

espécie de ressurreição, ou seja, as autênticas seriam desentranhadas

para se reincorporarem.

Essa é uma idéia pelo menos muito simpática e enormemente

atraente. Nem por isso é prova de que seja verdadeira,

porque pode haver obstáculos metafísicos e teológicos

a isso; seria preciso estudar o caso.

Lábaro de dor

A respeito do Santo Sudário, parece-me que poderá

ocorrer o seguinte: continuará sendo uma espécie de lábaro

de dor, lembrando as sofrimentos de Nosso Senhor;

ou acontecerá o que sucedeu com suas chagas, as quais

se tornaram gloriosas, recordando todos os crimes cometidos

contra Ele. Quem sabe, o Santo Sudário conserve

esse aspecto funerário e doloroso — é como que a fotografia

da própria dor —, mas irradiando uma glória como

as chagas.

Ninguém pode descrever como seria essa glória. O

Santo Sudário é uma “fotografia” — entre aspas — de

Nosso Senhor; todo o brilho que aquele emitir vai ser

uma espécie de réplica do esplendor que do Divino Redentor

promanará, e será objeto de enlevo, de adoração,

etc., de todos os anjos e bem-aventurados.

O Corpo sacratíssimo de Nosso Senhor, com suas chagas,

e analogamente o Santo Sudário, brilharão, constituindo

o gáudio de todos os eleitos. E cada um de nós verá

então, com reconhecimento, o que custou seu próprio

resgate.

O Imaculado Coração

de Maria: a mais perfeita figura

de Nosso Senhor

Tudo quanto Nosso Senhor sofreu e, lindamente, Maria

Santíssima padeceu em união com Ele, se projetará

sobre os anjos maus e os réprobos de maneira a estertorarem

de ódio e de horror.

Imaginemos

que o indivíduo

A tenha inveja

do indivíduo B.

De repente, A

descobre que B

é príncipe e será

coroado rei.

A não vai assistir

a coroação, preferindo

ficar em

algum antro se

contorcendo de

inveja e de ódio.

Embora não esteja

vendo a coroação,

cada rito

da mesma, cada

brilhante da

coroa, etc., o dilaceram.

A inveja

e a revolta o

devoram. Assim,

podemos calcular

qual foi o

ódio dos demônios

diante do

Santo Sudário

e de Nosso Senhor

Jesus Cristo,

apesar de não

os verem.

Mas acima do

Santo Sudário há

uma representação

mais alta de

Nosso Senhor

Jesus Cristo.

É o véu da Verônica?

Não. É o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria.

Aquele que é a própria Beleza ali se representa com

complacência.

v

1) Luz da glória.

Após ressuscitar, Jesus aparece a

Santa Maria Madalena. Igreja São João

Batista - Nova Escócia, Canadá.

(Extraído de conferência de 18/4/1981)

2) Entre os que defendem esta piedosa hipótese está o Revmo.

Pe. Gregório Alastruey em sua obra Tratado de la Virgem

Santíssima. (Madrid: BAC, 1956.)

G. Kralj

23


Ardoroso devoto da Eucaristia

Corpo, Sangue,

Alma e Divindade... – II

Nossa ação de graças quando comungamos deve ser completa.

Além de adorarmos Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos

prestar-Lhe também os outros atos de culto. A seguir, em

continuação ao artigo publicado no mês anterior, Dr. Plinio nos

sugere uma maneira de agradecermos tão grande dádiva.

Q

Arquivo revista

ual é a razão de ser da ação

de graças após a Comunhão?

Ação de graças

A ação de graças é um ato de justiça,

e quem não a faz é injusto.

Quando se recebe um dom muito

grande, o qual não é o pagamento

de uma ação boa que se fez, mas

vai muito além, deve-se dar ação de

graças.

Imaginemos um homem que é banhista,

o qual deve ajudar as pessoas

a tomarem banho de mar. Antigamente

havia essa profissão.

Esse banhista

acompanha no mar

um grupo de pessoas

e evita que uma delas

morra afogada. Não

tem propósito que esta,

chegando à praia,

diga: “Olha, você foi o

meu salvador.” Porque

o banhista é um profissional

pago para isso, e

aquela pessoa não entraria

no mar a não ser

com ele; o banhista não

expôs sua vida, fez apenas

algo simples, não

um favor. Ao final, ela

poderia dizer: “Obrigado.

Até logo, aqui está

o seu dinheiro.”

Entretanto, se uma

pessoa está se perdendo

no mar e um homem

se atira na água com todo o risco,

salva-a e a conduz para a praia, a

primeira coisa que ela deve dizer-lhe

é: “Muito obrigado.” Trata-se de um

dever de justiça.

Vou indicar alguns favores que

Nosso Senhor nos fez. O primeiro:

não existíamos e, por sua onipotência,

Ele nos criou. Isso é mais do que

salvar a vida. Um homem que salva

minha vida adia uma morte que, ao

cabo de algum tempo, terei. Quem

me criou deu-me a vida da alma, a

qual nunca deixarei de possuir. Eu,

Plinio Corrêa de Oliveira — como

todo ente humano — jamais deixarei

de existir. Enquanto Deus for Deus,

eu serei. Na Comunhão, Ele vem a

mim e eu não agradeço?

Segundo favor: Ele Se encarnou,

tornando-se homem com a mesma

natureza de cada um de nós. E o faria

por um só de nós. Isso é extraordinário,

e devo agradecer.

Terceiro: Nosso Senhor nos libertou

da escravidão do pecado, derramando

todo o seu Sangue e morrendo

na Cruz. Podemos pensar, por

exemplo, no momento em que Ele

disse: “Eli, Eli, lammá sabachtáni —

Senhor, Senhor, porque me abandonastes!”

1 E depois, inclinando a ca-

24


V. Toniolo

beça, Jesus expirou. Aquela dor última,

pior do que todas as outras;

aquele estraçalhamento final em

que a alma se separa do corpo; aquela

sensação de abandono em que até

o Padre Eterno parecia O haver deixado:

tudo isso Ele sofreu como se

fosse só por mim, Plinio. O Redentor

está presente em mim e não vou

agradecer-Lhe?

Quarto: vendo a infinita distância

entre Ele e eu, Jesus deu-me sua

Mãe para ser também minha Mãe.

Quando o Salvador disse a São João:

“Filho, eis aí tua Mãe” 2 , e a Nossa

Senhora: “Mulher, eis teu filho” 3 ,

Ele sabia que nós existiríamos. Fo-

mos dados a Ela, e Maria Santíssima

nos foi concedida naquela ocasião.

Não vou agradecer?

Quinto: Ele me fez membro da

Igreja Católica. É um favor inefável.

Sexto favor: o Redentor agora está

presente em mim. Nossa Senhora

é capaz todas as formas de gratidão

em um grau inimaginável. Posso,

então, dizer: “Senhor, sou filho

de vossa Mãe. Pela devoção, Ela está

presente em mim, recebei-A. Minha

Mãe, dai-Lhe ação de graças como

Vós sabeis fazer em nome de todos

os homens.”

S. Hollmann

Acima, relíquia do

milagre eucarístico

de Lanciano.

25


Ardoroso devoto da Eucaristia

Reparação

Tratemos agora da reparação, a

qual é uma das ações mais augustas

que um homem pode praticar

em relação a alguém que foi objeto

de uma injustiça. Aquele que repara

presta honra e, por esta honra, faz

justiça.

Imaginemos que alguém, passando

junto a mim, me diga um ultraje

e não posso me defender. Um outro,

sabendo disso, declara-me: “A respeito

do senhor, afirmo tal coisa…”,

que é o oposto daquele ultraje. A

ofensa fica reparada pelo ato de admiração,

de amor, que este último

fez. Esse é o sentido da reparação.

A reparação elimina, por assim

dizer, a falta cometida. Ela é um ato

de justiça.

Quanto cada um de nós, por não

ter correspondido à graça, deve pedir

perdão e reparar, dizendo, por

exemplo: “Senhor, fui incorreto para

convosco em tal ocasião; em outra,

talvez tenha chegado a pecar;

isso me dói. Nesse momento eu

Vos peço: aceitai o que há em minha

alma de contrário a esse pecado.

Fui negligente ouvindo um sermão

ou uma prédica; acolhei agora

meu desejo de bem aproveitá-los

doravante. Se tive covardia diante

de um inimigo vosso e não soube lutar

contra ele, aceitai meu desejo de

ser corajoso. Meu Senhor, não basta

o meu desejo, dai-me força para

cumpri-lo. Fui mole, poltrão, relapso,

mentiroso. Meu Deus, é possível

até que eu tenha sido impuro. Aceitai

a minha admiração pela lealdade,

pela pureza. Tornai-me puro como

Vós. Vós curastes a lepra, considerada

a pior das doenças, a cegueira,

a paralisia. E também as lepras,

as cegueiras, as paralisias da alma.

Perdoai a paralisia de minha alma

preguiçosa, a lepra da alma impura,

etc. (Aqui convém rememorar

alguns pontos de meu exame de

consciência.) Pelos rogos de Maria,

tende pena de mim e dai-me a for-

ça que eu quero ter. Faço isto para

reparar diante de Vós a ofensa que

Vos fiz.”

Mais ainda. Devo considerar a

Revolução 4 , bem como os pecados

por ela promovidos, e pedir perdão

a Nosso Senhor.

Petição

A reparação é uma

das ações mais

augustas que um

homem pode praticar

em relação a alguém

que foi objeto de

injustiça. Ela, por

assim dizer, elimina a

falta cometida, pois é

um ato de justiça.

gir-Lhe o petitório: “Eu quero isso,

aquilo, aquilo outro.”

Às vezes, vendo-se pessoas comungarem

nas igrejas, tem-se a impressão

de que o primeiro pedido

feito por alguma delas é: “Meu

Deus, curai a minha dor de garganta,

fazei que venha logo o ônibus para

eu voltar para casa, que o meu marido

seja promovido, que meu filho

passe no exame, fazei, fazei, fazei…”

Não. Os pedidos precisam vir no

fim. E deve-se começar por rogar

os bens para a alma, depois os para

o corpo. Porque a alma vale mais

do que o corpo. Então, pedir graças

tais como: fidelidade à vocação, muitos

flashes 5 , correspondência à graça,

paciência com fulano, devido respeito

para com sicrano, etc.

Depois os bens do corpo. Podese

pedir saúde e uma série de outras

Somente no final vem a petição.

Muitas pessoas, logo que recebem

Nosso Senhor, começam a diricoisas.

Porém, o mais importante é

rogar os bens da alma.

Deve-se sempre pedir os bens do

corpo?

Depende do trabalho da graça em

nossa alma. Às vezes Nossa Senhora

nos dá vontade de sofrermos algum

mal corporal para resgatarmos

os nossos pecados e os pecados dos

outros. Nesse caso, pedimos a Nossa

Senhora que mantenha aquele mal

do corpo para sofrermos em reparação

de nossas faltas ou de outra pessoa.

Quer dizer, deve-se pedir aquilo

que tem propósito. As outras coisas,

não.

Quem é tentado de inveja, deve

pedir muito a graça de não ceder. A

pessoa vê um colega da mesma idade

que refulge como um sol, e ela

é a estrelinha apagada que só brilha

um pouco quando o sol vai se

deitar. Ela cogita: “Mas meu Deus,

eu gostaria tanto de ser aquele sol;

como seria uma coisa magnífica!”

Então, deve essa pessoa tentada

dizer: “Meu Deus, Vós me destes

pouco, e tanto a ele. Dou-Vos graças

por terdes dado mais a ele. Dai

um pouquinho a mim também, pois

sois tão bom!”

Creio que todos ouviram falar do

caso do Padre Antonio Vieira, famoso

pregador português.

Ele era muito pouco inteligente

e por isso não podia ser jesuíta,

pois a Companhia de Jesus somente

admitia quem possuía comprovada

inteligência. O Padre Antonio

Vieira estava rezando diante

de uma imagem de Nossa Senhora

— que eu vi num museu de Salvador,

na Bahia; puseram-na num

museu em vez de colocá-la num altar

— e, de repente, teve um estralo

na cabeça, mas de doer. E tornou-se,

creio eu, o mais inteligente

dos homens que até aqui tenham

falado em língua portuguesa. Simplesmente

um colosso!

Maria Santíssima atendeu ao pedido

dele.

26


Como seria bom, por exemplo,

ter uma fotografia dessa imagem de

Nossa Senhora e colocá-la num livro

de estudos! Quando houvesse alguma

dificuldade, rezar-se-ia à Virgem

e se conseguiria entender melhor.

Pode-se pedir na Comunhão

que Nosso Senhor ilumine nossa inteligência.

Tudo terminado, diz-se “muito

obrigado” a Nosso Senhor e a Nossa

Senhora. É uma vênia final. Maria

Santíssima é, de certa forma, como

a mãe que temos em casa. Após

Em minhas

comunhões, no

momento em que

recebo a Hóstia, eu

rezo um Memorare

para pedir a

Nosso Senhor que

aumente minha

devoção à sua Mãe

Santíssima.

o rei ter saído, digo-Lhe: “Minha

Mãe, eu Vos agradeço…” E posso

inclusive comentar com Ela a visita,

com os pensamentos que estão em

minha alma. E depois nos retiramos

em paz.

Em minhas Comunhões, eu sempre

inverto um pouquinho a ordem.

No momento em que recebo a Hóstia,

eu rezo um Memorare para pedir

a Nosso Senhor — portanto, começo

pedindo, mas é o único pedido

que faço no início — aumento da

devoção para com Nossa Senhora; e

rogo por meio d’Ela. Sei que Maria

Santíssima quer que minha devoção

para com Ela aumente em cada momento.

Os que me vêem receber a Comunhão

estejam certos: na hora em

que a Sagrada Eucaristia pousa em

minha língua, estou começando

a rezar o Memorare.

Isso não falha

nenhuma vez. Logo depois,

eu rezo interiormente

o Magnificat para,

por meio de Nossa Senhora,

manifestar minha

alegria porque Ele está

dentro de mim. É uma

forma de adoração esta

alegria.

Depois, se não tenho

nenhum ponto especial

para considerar, eu faço

adoração, ação de graças,

reparação e petição.

Alguém poderia perguntar:

“Além do aumento

da devoção a Nossa

Senhora, o senhor nunca

começa pedindo alguma

coisa?”

Sim, certamente. Porque

essas regras gerais

têm exceções. Nossa alma

é viva e tem movimentos. Conforme

estes, um princípio genérico

pode ser alterado. Quando se está

com uma grande aflição, pode-se

começar por pedir que ela seja sanada.

Por exemplo, a mulher adúltera

que se encontrou com Jesus, quando

alguns homens iam apedrejá-la. Ela

não começou com a adoração, reparação,

etc., porque aqueles indivíduos

a apedrejariam. Mas disse de início:

“Senhor, salvai-me porque estão

querendo matar-me.” Ele foi bondoso

e a salvou.

Nada na Igreja Católica, em Nosso

Senhor Jesus Cristo, em Nossa

Senhora, é ditatorial. É de bom alvitre

seguir as regras que foram explicadas,

quando algum movimento

da alma muito vivo não nos indica o

contrário.

Cada um deve proceder de acordo

com o seu próprio modo de ser. Apresentei

alguns princípios apenas com a

intenção de ajudá-los, não de traçar

uma linha de conduta obrigatória.

Resta-me apenas desejar que

meus ouvintes, quando forem comungar,

façam a preparação e a

ação de graças com esse cuidado.

A Igreja aconselha que se sigam

esses quatro atos de culto, e eu

lhes recomendo vivamente fazerem

isso.

v

1) Mt 27,46.

2) Jo 19,27.

3) Jo 19,26.

(Extraído de conferência

de 16/7/1977)

4) Revolução: Dr. Plinio assim denominava

o processo multissecular que

procura destruir a Igreja e a civilização

cristã (cf. Revolução e Contra-

Revolução, Editora Retornarei, São

Paulo, 5ª edição em português, 254

páginas.)

5) Cfr Dr. Plinio, Nº 55, página 16.

G. Kralj

27


O Santo do Mês

–– * Abril * ––

1. Quinta-feira Santa. Instituição

da Sagrada Eucaristia.

2. Sexta-feira Santa. Paixão do

Senhor. (Dia de jejum e abstinência.)

3. Sábado Santo. Solene Vigília

Pascal.

4. Domingo de Páscoa. Gloriosa

Ressurreição do Senhor.

5. São Geraldo, Abade de Saint-

Sauve, França. (+1095)

6. Santo Irineu, Bispo e mártir.

7. Santo Hermano José, sacerdote

premonstratense. (1152-1241)

São João Batista de la Salle, presbítero,

+ 1719.

8. São Dionísio, Bispo de Corinto.

(séc. II)

9. São Libório, Bispo de Lê Mans,

na Gália (atual França). (séc. IV)

10. São Beda, o Jovem, monge.

(+883)

11. Domingo da Divina Misericórdia

(e II de Páscoa). Festa estabelecida

pelo Papa João Paulo II,

em 1997, atendendo às revelações de

Nosso Senhor a Santa Faustina Kowalska

(1905-1938).

12. São Júlio I, Papa. Eleito para

o sólio pontifício em 6 de fevereiro

de 337, defendeu valorosamente a

Fé contra os arianos, e apoiou Santo

Atanásio, Doutor da Igreja, na mesma

missão. (+352)

13. São Martinho I, Papa e Mártir.

(séc. VII)

14. São Pedro González, (chamado

São Telmo), sacerdote dominicano.

(+1246)

15. Santo Ortario, abade de Landelles,

França. (séc. IX)

16. São Toríbio, Bispo de Astorga

(Espanha). Sob ordens do Papa São

Gregório Magno, combateu a heresia

priscilianista. (séc. V)

17. Santos Pedro, diácono, e Hermógenes,

seu servo, mártires em Melitene,

na antiga Armênia.

18. III Domingo da Páscoa.

19. São Leão IX, Papa, séc. XI.

Empenhou-se na reforma do Clero,

secundado pelo futuro pontífice São

Gregório VII.

20. Santa Inês de Montepulciano,

Virgem, Superiora dominicana.

(+1317)

21. Santo Anselmo, Bispo e Doutor

da Igreja, monge beneditino e Arcebispo

da Cantuária (Inglaterra),

defendeu a Igreja na luta das investiduras,

sendo exilado duas vezes. Seus

escritos exerceram grande influência

em sua época e lhe granjearam o título

de “pai da Escolástica”. (séc. XII)

22. São Leônidas, Mártir. (sécs.

II-III)

23. Santo Adalberto de Praga,

Bispo e Mártir.

24. São Melito, abade. Foi enviado

por São Gregório Magno para

evangelizar a Inglaterra, e se tornou

Bispo de Canterbury (Inglaterra).

(+624)

25. Domingo de Bom Pastor

São Marcos Evangelista. Discípulo

de São Pedro e autor do segundo

Evangelho. (séc. I)

26. São Cleto, primeiro sucessor

de São Pedro. (+88)

27. Nossa Senhora de Montserrat,

na Catalunha, Espanha.

28. São Luís Maria Grignion de

Montfort, presbítero. (1673-1716)

29. Santa Catarina de Siena, Virgem

e Doutora da Igreja. Terciária

dominicana, favorecida por visões

de Nosso Senhor, desempenhou importante

papel na solução de graves

problemas da Igreja, como o retorno

do Papa de Avinhão para Roma

e a reforma da Cúria Romana. (séc.

XIV)

30. São José Bento Cottolengo.

Fundador da Pequena Casa da Divina

Providência, em Turim, dedicada

aos doentes, especialmente os rejeitados

por outros hospitais. Seu zelo

e caridade atuaram de modo marcante

nas épocas de peste e desolação.

(1786- 1842)

São Pio V, Papa.

28


7 de Abril

Santo Hermano, o amigo

do Menino-Deus

Em plena Idade Média — a era

das grandes batalhas travadas em

defesa da Fé — pode-se contemplar

uma alma repleta de respeito pelo

sobrenatural ao lado de uma ternura

e candura ímpares: Santo Hermano,

o amigo do Menino-Deus!

Catedral de

Colônia. Cidade

onde nasceu Santo

Hermano José.

Embora pareça paradoxal, há

um princípio de ordem pelo

qual uma virtude, quando

integramente observada, atrai a si a

prática de outra, muitas vezes oposta

e simétrica à primeira. Como nolo

demonstra a Idade Média — que

sob diversos aspectos, fora um período

de combatividade, de luta, e de

seriedade —, apesar de ser a era da

piedade, nutrida de grande respeito,

adoração, e humílima veneração ao

divino e ao religioso, não obstante,

foi também a idade da ternura e da

candura.

Aparentemente contraditórios,

esses aspectos são, em realidade,

apenas opostos, e demonstram a riqueza

da alma medieval enquanto

observante da Lei de Deus.

Em meio à era das grandes batalhas,

duramente travadas em defesa

da Fé, pode-se entrever uma vida

modelar, cheia de ternura e graça,

que prenunciava de modo maravilhoso

a Pequena Via idealizada

por Santa Teresinha do Menino Je-

P. Mikio

29


O Santo do Mês

sus, pois esta via de santificação seria

mais compreensível para os horizontes

do homem medieval, do que para

as espiritualidades posteriores, enregeladas

pela Renascença e pelo processo

revolucionário então nascente.

Amigo e companheiro

do Menino-Deus

A vida de um humílimo sacerdote

premonstratense — o qual brilhou

intensamente por sua virtude, delicadeza

e ternura — foi expressão encantadora

da espiritualidade medieval.

Trata-se de Santo Hermano José.

Seus traços biográficos foram retirados

da “Vida de Santos” de Englebert,

como também de “Na Luz

Perpétua” de Lehmann:

“Este bem-aventurado foi não somente

um dos maiores devotos de

Nossa Senhora, como um dos grandes

contemplativos medievais.”

É necessário, para bem compreender

sua vida, considerar que ele

A Virgem

Maria

aparece

a Santo

Hermano.

fora grande escritor, redigindo obras

de Teologia, além de outros tratados,

e, portanto, um homem de alta cultura.

Todavia, sua vida sobrenatural

iniciou-se quando era apenas menino.

“Nasceu em Colônia, em ano desconhecido,

no século XII, de uma rica

família que empobrecera.”

Nasceu, portanto, no apogeu da

Idade Média, assemelhando-se com

o Menino Jesus, que era de uma

grande família que empobrecera.

“Desde muito criança, procurava

os altares da Santíssima Virgem e com

Ela conversava longo tempo.”

Certamente numa igrejinha do

campo, ou na própria Catedral de

Colônia, o pequeno Hermano, no

altar de Nossa Senhora, aos pés da

imagem, conversava por longo tempo

com Ela. Este fato faz sentir uma

atmosfera delicadíssima da biografia

dele.

“Sua simplicidade era encantadora.

Certa ocasião, trouxe uma maçã e

pediu à Mãe de Deus que a aceitasse;

a imagem da Virgem moveu-se e estendeu

a mão para receber a oferta.”

Para a Europa, a maçã é uma fruta

banal, como a laranja para as nossas

terras. Por isso mesmo vê-se a

inocência dele, ante a grande bondade

de Nossa Senhora. Por

simples e comum que seja

a oferta, é oferecida

por um filho, e

Ela toma aquele

gesto cheia

de encanto

e amor.

©Santiebeati.it

“Outra ocasião, ao chegar à igreja,

viu a Rainha do Céu em meio a grande

esplendor, tendo a seu lado São

João, que brincava com o Menino Jesus.

Hermano ficou contemplando

a cena, quando a Virgem o chamou.

Rapidamente ele subiu os degraus do

presbitério, mas a grade fechada impediu

sua passagem. ‘Não posso subir

– disse a Maria Santíssima –; a porta

está fechada e não há escada para eu

trepar por cima da grade.’ Maria ensinou-lhe,

então, a fazer do gradil escada

e subir. Penetrando assim no coro,

recebeu licença para brincar com o

Menino-Deus.”

Era por certo São João Batista

que brincava com o Menino Jesus,

do qual ele era parente.

Não seria difícil imaginar a bondade

da Rainha do Céu indicando

ao pequeno Hermano: coloque os

pés aqui, segure ali, e então desça

pelo outro lado. E por ser inocente,

ele tomava com inteira naturalidade

tudo o que se passava, sendo nada

menos que companheiro do Menino

Jesus e de São João Batista! Todos

estes fatos fazem sentir de algum

modo o sabor da Pequena Via.

Por que andas descalço?

“Num dia de inverno, dirigiu-se

descalço à igreja, e enquanto rezava

no altar da Virgem, esta lhe perguntou:

‘Hermano, por que andas descalço

neste frio?’ E a resposta de Hermano:

‘Porque não tenho calçado.’ A

Virgem, então, deu-lhe a quantia necessária

para comprar sapato.”

Até a estes aspectos chegava a

preocupação e a ternura de Nossa

Senhora, para que ele não andasse

descalço. Todos estes tocantes fatos

da vida de Santo Hermano José

prestam-se perfeitamente para

a pintura das inocentes iluminuras

medievais.

“Toda a vida desse santo foi assim

povoada de visões e êxtases. Aos 12

30


anos entrou para a Ordem dos premonstratenses

de Steinfeld.”

Pode-se entrever a familiaridade

contínua com o sobrenatural

que o marcou por toda a vida.

Homem preso a Deus

L. Werner

“Ordenado sacerdote, foi encarregado

de dirigir alguns conventos

de religiosas, para as quais escreveu

diversos tratados de piedade e um

comentário do Cântico dos Cânticos.”

Quão valiosas deverão ser essas

meditações sobre o Cântico dos

Cânticos, comentadas por um homem

de tão grande alma. Entretanto,

não raras vezes, são estes livros

repletos de preciosidades que

inexplicavelmente desaparecem

aos olhos dos homens, sendo descobertos

apenas por uma longínqua

posteridade.

“Compôs vários hinos, sendo

de sua autoria o mais antigo hino

ao Coração de Jesus: ‘Summus

Regis, cor aveto!’. Sua vida foi de

ininterrupta penitência, atacado

de tentações e doenças. Sofria de

contínuas enxaquecas que só cessavam

quando subia os degraus

do altar para celebrar, mas que redobravam

de violência quando se

aproximavam as solenidades litúrgicas.

Jogando com as palavras,

ele dizia a propósito: ‘Festae sunt

mihi infestae’ – as festas são para

mim nefastas. Seu pensamento

estava sempre tão preso a Deus, diz

seu biógrafo, que lhe era indiferente

o curso do mundo. No entanto, seu

coração era como um hospital geral,

onde, a começar pelos aflitos e confrades,

todos os homens encontravam

terno acolhimento e seguro refúgio.”

A melodia desses hinos compostos

por ele deve ser de grande beleza

e piedade, e a letra, de riqueza sobrenatural.

Virgem Maria e seu Divino Filho -

Pórtico da Catedral de Colônia

Tal a vida, tal a morte

“Morreu Hermano, que adotara o

nome de José por permissão especial

da Virgem, em 1241. Seu corpo foi,

mais tarde, encontrado intacto.”

Há coisa mais bela que, anos após

a morte de alguém, abrir-se o caixão

e encontrá-lo intacto? Pois bem, lá

estava Santo Hermano revestido de

seu hábito premonstratense, reclinado

no caixão, com ar de quem ainda

está compondo seu último hino ou

tendo sua última visão.

Seria altamente repousante conhecer

este santo e com ele poder

conversar. E aproximando-se de joelhos

pedir: “Por favor, poderia contar-nos

como foram as suas visões?”

Ele, então, recolhido e luminoso

responde: “Com quanto gosto!

Qual delas quer?”

Certamente não conseguiríamos

encerrar o diálogo antes de,

maravilhados, conhecermos todos

aqueles tocantes encontros dele

com a Santíssima Virgem e seu Divino

Filho.

Pode-se compreender, através

desta cogitação, o que será o convívio

celeste, pois haverá inumeráveis

almas como a de Hermano.

E figurativamente, ao passar pela

primeira “esquina” do Paraíso Celeste,

deparando com um ancião

de muitos dias, perguntar:

— Quem sois vós?

— Sou Hermano.

E sentando-se em uma nuvem,

ou em uma pedra preciosa diante

de um rio, onde cantam os pássaros,

ele calmamente descreve toda

a sua vida.

Se houvesse tempo no Céu, se

lá houvesse minutos, o quanto não

se daria para ver, por apenas um

minuto, o sorriso e contemplar a

santidade de Santo Hermano!

Em meio às coisas horrorosas, disformes

e incongruentes do mundo

hodierno, Santo Hermano passa diante

de nós como um anjo em meio às chamas

do Purgatório. Lendo a sua vida é

possível... é possível pensar: “Afinal, um

consolo: um dia irei ao Céu. E lá encontrarei

Santo Hermano.”

Aqui fica um orvalho de esperança

do Céu, enquanto tem de se batalhar

na fornalha de nossos dias. v

(Extraído de conferência

em 6/4/1967)

31


Luzes da Civilização Crista

Uma devoção da

Nosso Senhor Jesus Cristo morreu numa sexta-feira e

ressuscitou num domingo. Ambos os dias foram-Lhe

especialmente consagrados, de modo que, semanalmente,

relembram a Paixão e a Ressurreição do Senhor. Porém,

entre estes dias há outro: o sábado. Como faria a

civilização cristã para solenizar este dia posto entre duas

datas tão sublimes?

S. Hollmann

32


cristandade...

N

a Idade Média, sob o impulso

dos monges cluniacenses,

o sábado passou

a ser consagrado a Nossa Senhora.

Mas, por que razão a piedade católica

instituiu esse costume?

A Ressurreição

Embora os Apóstolos tivessem

um misterioso instinto de que a história

de Nosso Senhor não podia estar

concluída e que a última palavra

ainda não fora dita — caso contrário

haveriam se dispersado —, eles ainda

não tinham atinado com a idéia

da Ressurreição.

Não concebiam eles que

Quem ressuscitara Lázaro

— fato que eles puderam

comprovar —, ressuscitar-se-ia a Si

próprio; não imaginavam que Nosso

Senhor aceitaria o desafio lançado

pelo mau ladrão crucificado a seu lado:

“Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo!”

1 Cristo fez muito mais do que

descer da Cruz e curar-se a Si próprio:

Ele consentiu em morrer para

depois ressuscitar-Se.

De fato, a Ressurreição é algo

tão extraordinário e miraculoso,

que o espírito humano é propenso a

sequer imaginá-la. Pois, se um vivo

ressuscitar um morto é incomum,

quanto mais o é um morto voltar à

vida por suas próprias forças, sair

dos abismos da morte e dizer a seu

corpo: “Levanta-te!”... Esta é uma

espécie de vitória dentro da vitória,

de esplendor dentro do esplendor,

No sábado, Jesus estava

na sepultura, cheio de

perfumes e de aromas,

envolto no sudário.

Para todos estava tudo

acabado, exceto na alma

de Maria Santíssima,

onde uma tocha de Fé

e de convicção ardia

com a certeza de que

Ele ressuscitaria.

Sepultamento do Senhor -

Sevilha (Espanha).

33


Luzes da Civilização Crista

T. Ring G. Kralj

Que mérito há em acreditar na luz ao meio-dia? A

verdadeira beleza está em acreditar na luz quando a

noite já vai longe e tem-se a impressão de que o curso

das coisas nos afundou nas trevas definitivamente...

Nossa Senhora

de Fátima.

que o espírito humano não pode

sequer imaginar.

A Fé da Santíssima

Virgem sustentou

o mundo

Porém, havia alguém que possuía

plena certeza na Ressurreição de

Jesus: Maria!

No sábado que precedeu a Ressurreição

de Nosso Senhor, somente

Nossa Senhora, em toda a face

da Terra, teve uma Fé completa e

sem sombra de dúvida na Ressurreição.

Ela possuía uma certeza

absoluta, uma expectativa

imensamente dolorida por

causa do pecado que havia si-

do cometido, mas imensamente calma,

com a certeza da vitória que se

aproximava.

A cada minuto que passava, de algum

modo a espada da saudade e da

dor penetrava ainda mais seu Coração

Imaculado. Mas, de outro lado,

havia a certeza de uma grande alegria

da vitória que se aproximava.

Esta concepção inundava-A de consolação

e gáudio.

Maria Santíssima, nesta ocasião,

representou a Fé da Santa Igreja e,

por assim dizer, sustentou o mundo,

dando continuidade às promessas

evangélicas, pois, se não houvesse Fé

sobre a face da Terra, a Providência

teria encerrado a História.

Maria foi a Arca da Esperança

dos séculos futuros. Ela teve em Si,

como numa semente, toda a grandeza

que a Igreja haveria de desenvolver

ao longo dos séculos, todas as

promessas do Antigo Testamento e

todas as realizações do Novo; tudo

isto viveu dentro da alma de Nossa

Senhora.

Podemos até nos perguntar se este

episódio não foi mais bonito do

que quando a Santíssima Virgem

34


trazia o Messias em seu seio. Numa

ocasião Ela gestava o Messias e

carregava dentro de Si a salvação do

mundo inteiro; noutra, tinha Ela em

Si a Santa Igreja Católica Apostólica

Romana, portanto, o Corpo Místico

de Cristo.

É à noite que é belo

acreditar na luz

Praça de São Pedro - Roma

Na obra Chanteclair, de Edmond

Rostand, há uma linda frase: “É à

noite que é belo acreditar na luz.”

Que mérito há em acreditar na luz

ao meio-dia? Mas, acreditar na luz

à meia-noite, ou mais ainda, às três

horas da manhã, quando até a própria

meia-noite já vai longe, tem-se

a impressão de que o curso das coisas

nos afundou nas trevas definitivamente;

aí é que é belo acreditar na

luz.

Ora, Nossa Senhora acreditou na

luz durante a terrível meia-noite da

morte de seu Filho. Apesar de presenciá-Lo

rompu, brisé, anéanti 2 , Ela

não teve dúvida nenhuma.

Quando Jesus morreu e Nossa Senhora

teve seu divino cadáver no colo,

Ela fez um tranquilíssimo ato de

Fé, dizendo: “Apesar destas chagas

e desta morte estraçalhante, Ele ressuscitará!

Eu creio porque Ele prometeu!”

Este foi, sem dúvida, um dos

mais belos momentos da vida

d’Ela.

A fidelidade de

Maria fez-Lhe

merecer, até o fim do

mundo, ser lembrada

especialmente

aos sábados

Compreende-se assim, com

que tato a Igreja escolheu

para festejar Nossa Senhora

este dia que lembra exatamente

a hora trágica da

dúvida e do abandono de

todos.

No sábado, Jesus estava

na sepultura, cheio

de perfumes e de aromas,

envolto no sudário.

O sepulcro estava

selado por uma

enorme lápide e

guardado por soldados.

Para todos

estava tudo acabado,

exceto na alma

d’Ela, onde uma tocha

de Fé e de convicção ardia

com a certeza de que Ele

ressuscitaria.

Este é o Sábado Santo, dia

especialmente consagrado a Nossa

Senhora.

v

Cristo Ressurrecto. -

Catedral de Notre

Dame, Paris.

(Extraído de conferência

de 19/11/1971)

R. C. Branco

1) Lc. 23, 39.

2) Roto, quebrado e aniquilado.

S. Hollmann

35


Virgem da Estrela -

Catedral de Sevilha,

Espanha.

A mais fulgurante das estrelas

P

or que Nossa Senhora é simbolizada por uma estrela? Porque é durante a noite que cintilam

as estrelas, e esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma

época de provação, de perigo e de apreensões. Na eternidade teremos o dia, porém na vida terrena

temos o escuro da madrugada. E nesta noite existe uma estrela que nos guia, que é a consolação

de quem caminha nas trevas, olhando para o céu: Maria Santíssima, a mais fulgurante

de todas as estrelas!

S. Hollmann

(Extraído de conferência de 24/8/1965)

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