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Revista Dr Plinio 106

Janeiro de 2007

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Publicação Mensal Ano X - Nº <strong>106</strong> Janeiro de 2007<br />

<br />

IHS<br />

Nome acima de todos<br />

os nomes


Santa Inês - Museu<br />

de Dijon, França<br />

S. Hollmann<br />

No momento de seu<br />

martírio, oprimida<br />

pelas dores,<br />

Santa Inês recompôs suas<br />

vestes por amor à pureza.<br />

Ter essa preocupação<br />

naquela hora significa<br />

tão grande elevação de<br />

espírito, tão intenso amor<br />

à virtude, que não se pode<br />

simplesmente incluir o fato<br />

nos fioretti, como se fosse<br />

mais um tocante episódio<br />

de vida de santo. Essa<br />

atitude da mártir é como<br />

que o brilho de uma gota<br />

do preciosíssimo Sangue<br />

de Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo; é um ato admirável<br />

de sabedoria, uma<br />

manifestação arrebatadora<br />

de apreço pela castidade,<br />

sua e do próximo.


Publicação Mensal Ano X - Nº <strong>106</strong> Janeiro de 2007<br />

Sumário<br />

Ano X - Nº <strong>106</strong> Janeiro de 2007<br />

<br />

IHS<br />

Nome acima de todos<br />

os nomes<br />

Na capa, o Beau<br />

Dieu da Catedral de<br />

Amiens, França<br />

Foto: S. Hollmann<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Jornalista Responsável:<br />

Othon Carlos Werner – DRT/SP 7650<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Editorial<br />

4 Nome acima de todos os nomes<br />

Datas na vida de um cruzado<br />

5 Janeiro de 1928: No Instituto<br />

de Medicina Veterinária<br />

Dona Lucilia<br />

6 Dolorosa separação<br />

A sociedade, analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

10 Teoria do mando — II<br />

Ser mestre e modelo para o próximo<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Santo Egídio, 418<br />

02461-010 S. Paulo - SP - Tel: (11) 6236-1027<br />

E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />

Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

Rua Barão do Serro Largo, 296<br />

03335-000 S. Paulo - SP - Tel: (11) 6606-2409<br />

Preços da<br />

assinatura anual<br />

Comum . . . . . . . . . . . . . . R$ 85,00<br />

Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00<br />

Propulsor . . . . . . . . . . . . . R$ 240,00<br />

Grande Propulsor . . . . . . R$ 400,00<br />

Exemplar avulso . . . . . . . R$ 11,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />

14 Calendário dos Santos<br />

“R-CR” em perguntas e respostas<br />

16 Cultura, artes e ambientes<br />

na Revolução<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

18 O Marechal Foch em seu estado-maior<br />

Predicados de verdadeiro chefe<br />

O Santo do mês<br />

26 São Fabiano, Papa<br />

“O homem da rua sobre quem a Pomba pousou”<br />

Luzes da Civilização Cristã<br />

30 O ideal expresso em beleza<br />

Última página<br />

36 Chave de nossa salvação


Editorial<br />

Nome acima<br />

de todos os nomes<br />

Por isso Deus O exaltou soberanamente e Lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes,<br />

para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e nos infernos. E toda língua<br />

confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor” (Fil 2, 9-11).<br />

Fazendo suas essas ardorosas palavras do Apóstolo, o Martiriológio Romano recorda, no dia 3 de<br />

janeiro, a Festa do Santíssimo Nome de Jesus. Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, tal comemoração encerra um especial<br />

significado, assim descrito por ele:<br />

“Por que razão se exalta o Santíssimo Nome de Jesus?<br />

“Naturalmente, tudo quanto se refere ao Verbo Encarnado merece nossas homenagens, nossa veneração<br />

e é digno, portanto, de uma festa. Porém, poder-se-ia perguntar qual o motivo dessa particular<br />

insistência no que diz respeito ao Nome do Filho de Deus. Por que grandes santos da Igreja expulsavam<br />

e afugentavam os demônios, invocando o Nome de Jesus? E por quê, ao realizarmos alguns<br />

atos comuns ou importantes de nosso quotidiano, nos persignamos e fazemos uma pequena<br />

oração que sempre se inicia com o Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo?<br />

“Que valor possui, afinal, um nome, e o Nome de Jesus?<br />

“De acordo com a ordem profunda das coisas que foi truncada pelo pecado original, a linguagem<br />

humana era capaz de distinguir de modo conveniente os seres criados, dando-lhes um nome adequado,<br />

um vocábulo que definisse o que havia de mais interno, substancial e característico na criatura<br />

nomeada.<br />

“Assim, segundo a narração do Gênesis (2, 19-20), cada animal recebeu de Adão um nome que os<br />

caracterizava e que era a definição mais apropriada de seus respectivos predicados.<br />

“Nesse sentido, pois, o nome é uma imagem da pessoa que o porta. E mais que todos, o Nome de<br />

Jesus é um símbolo d’Ele e uma representação sacratíssima que, como tal, tem o poder de atrair sobre<br />

nós todas as graças e o poder de causar terror nos demônios. É interessante notar que, na iconografia<br />

católica, o Nome de Jesus se resume nas três iniciais — IHS (isto é, Iesus Hominum Salvator,<br />

Jesus Salvador dos Homens — colocadas em alguns documentos eclesiásticos, com uma Cruz sobre o<br />

“H”. Juntos, o Nome e a Cruz, os dois símbolos perfeitos de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

“Ao celebrar, portanto, de forma especial o Nome do Divino Redentor, pretende a Igreja salientar<br />

a obrigação dos fiéis de honrar a Jesus, de glorificar o seu Nome, para que este se situe acima de<br />

todas as coisas e que tudo lhe esteja sujeito. Quer a Igreja, com essa solenidade, frisar seu anseio por<br />

uma ordem sacral, baseada numa fé católica, apostólica e romana autêntica, uma ordem na qual a<br />

festa do Nome de Jesus seja uma das grandiosas comemorações da Civilização Cristã.<br />

“Tais são os pensamentos que nos devem animar na recordação dessa luminosa data do calendário<br />

litúrgico, e inspirar em nossas almas o pedido de que o Nome de Jesus seja de fato cercado de toda a<br />

glória. Que Nosso Senhor seja conhecido, adorado, reverenciado por todos os homens, sendo reverenciadas<br />

as coisas que são conformes a Ele. Que a Revolução seja esmagada e a Contra-Revolução<br />

vença, pois a vitória dela é a própria vitória do Nome de Jesus.”<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.


Datas na vida de um cruzado<br />

Janeiro de 1928<br />

No Instituto de Medicina Veterinária<br />

Pouco depois de entrar para a Faculdade<br />

de Direito, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> obteve um emprego<br />

no Patronato Agrícola, através de<br />

seu tio, <strong>Dr</strong>. Gabriel, então Secretário da Agricultura<br />

de São Paulo. As qualidades morais e os<br />

predicados do jovem estudante granjearam-lhe<br />

não pequeno apreço junto a seus superiores. Assim,<br />

quando surgiu a oportunidade de passar a<br />

emprego melhor, foi objeto de elogiosa carta escrita<br />

pelo seu chefe no Patronato, rogando a <strong>Dr</strong>.<br />

Gabriel que o mantivesse naquele cargo:<br />

“O rapaz é ótimo, pontual, correto, e falando<br />

línguas presta-nos grande serviço, quando somos<br />

procurados por alemães, austríacos e semelhantes.<br />

Não o remova, peço-lhe encarecidamente. A questão<br />

de ordenado, não tem importância, porquanto<br />

o orçamento em vigor tem verba para o pagamento<br />

dele, na base de 525 mil réis. Seja como for,<br />

eu preciso dizer-lhe que o <strong>Plinio</strong> representa as belas<br />

qualidades de duas famílias de tradição: Corrêa<br />

de Oliveira e Ribeiro dos Santos. O meu expediente<br />

vai sofrer com a saída de tão fino, correto,<br />

educado e zeloso funcionário. De resto, ele é estudante<br />

de direito, pelo que o meio do Patronato lhe<br />

é propício. Esperando que o amigo não nos prive<br />

do trabalho desse distinto moço, subscrevo-me como<br />

sabe, seu velho amigo, Eugênio Egas.”<br />

Sem ferir a simpatia que o cercava no antigo<br />

emprego, <strong>Plinio</strong> acabou por deixar o Patronato<br />

Agrícola, e em janeiro de 1928 começou<br />

a trabalhar no Instituto de Medicina Veterinária,<br />

vinculado à mesma Secretaria da Agricultura,<br />

e situado na Rua Pires da Mota, 1, no<br />

bairro paulistano da Aclimação. Assim descreve<br />

ele alguns pormenores desse período de<br />

sua existência:<br />

“Eu desempenhava a função de bibliotecário<br />

do Instituto de Medicina Veterinária, com um ordenado<br />

(considerado razoável) de 700 mil réis por<br />

mês. Nessa época, minha rotina quotidiana consistia<br />

em freqüentar as aulas na Faculdade de Direito<br />

pela manhã, retornar para casa, almoçar e<br />

sair para o trabalho.<br />

“Detalhe curioso é que, por esse tempo, eu fazia<br />

uma espécie de sesta às seis e meia da tarde,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos 20 anos<br />

deitado na cama. Chegava do emprego — um<br />

longo trajeto de bonde, da Aclimação até minha<br />

casa nos Campos Elíseos — cansado, tomava<br />

um bom lanche e, em seguida, recostava-me e me<br />

entregava a alguma leitura até a hora do jantar, o<br />

que significava, mais ou menos, uma hora e meia<br />

de repouso...”<br />

v<br />

Arquivo revista


Dona Lucilia<br />

Dolorosa separação<br />

Os filhos de Dª Lucilia — Rosée,<br />

nome pelo qual Rosenda<br />

ficou mais conhecida, e<br />

<strong>Plinio</strong> — constituíam o foco de sua<br />

atenta preocupação. Além disso,<br />

exercia ela sobre seus dois pequenos<br />

uma benéfica e exemplar influência,<br />

toda feita de convite à dignidade e<br />

ao sobrenatural. Na missão educadora<br />

dela, transparecerá com maior<br />

clareza o fundo cristalino de sua bela<br />

alma. Logo de início, ela se empenhará<br />

no sentido de que apliquem os<br />

primeiros lampejos de razão em distinguir<br />

duas imagens de sua devoção,<br />

uma do Sagrado Coração de Jesus,<br />

outra, de Nossa Senhora das Graças.<br />

Em carta datada de 1925, enviada<br />

do Rio de Janeiro a seu filho, já moço,<br />

lembrará ela: “... pois como sabe,<br />

você e Rosée são confiados a Deus<br />

antes de nascer, e portanto, com fé e<br />

amor a Deus, vocês não poderão deixar<br />

de ser felizes, tanto mais que, por<br />

vocês, eu rezo noite e dia e é natural<br />

que as preces de uma mãe católica,<br />

mesmo de tão pouco mérito, sejam<br />

atendidas por Nossa Senhora, que<br />

também é mãe, e Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo.”<br />

Uma febre se vai com um<br />

simples toque de mão<br />

A uma alma assim consonante<br />

com a bondade divina, quis Deus<br />

tratar também com bondade. Estando<br />

já arraigada em Dª Lucilia uma<br />

profunda benquerença pelos filhos,<br />

pronta estava ela para colocar-se<br />

diante das perplexitantes dificuldades<br />

de saúde de <strong>Dr</strong>. Antônio e, pouco<br />

depois, enfrentar uma triste e dolorosa<br />

separação.<br />

Certa ocasião em que ficara preso<br />

ao leito por forte mal-estar e febre<br />

alta — quiçá prenunciando a<br />

morte próxima — <strong>Dr</strong>. Antônio dis-<br />

Fotos: Arquivo revista


Com sua invariável<br />

bondade, Dona Lucilia<br />

se dispôs a cuidar<br />

dos problemas de saúde<br />

de seu pai, até o<br />

momento de<br />

enfrentar uma<br />

irremediável separação<br />

Acima, Dona Lucilia em 1906;<br />

na página 6, <strong>Dr</strong>. Antônio<br />

se ter visto entrar, pela janela do<br />

quarto, o fantasma de um falecido<br />

amigo, que não levara vida muito<br />

louvável. Este se sentou ao pé da<br />

cama, fitando <strong>Dr</strong>. Antônio com um<br />

olhar malicioso.<br />

Nesse momento, Dª Lucilia abriu<br />

a porta e entrou. Tendo a impressão<br />

de que seu pai delirava, aproximouse<br />

e pôs a mão — que mais parecia<br />

feita de cetim — sobre a fronte dele.<br />

<strong>Dr</strong>. Antônio, como que acordando de<br />

um pesadelo, julgou ver o antigo conhecido<br />

saltar a janela. Sentindo então<br />

grande bem-estar, viu-se perfeitamente<br />

recuperado e constatou haver<br />

passado por completo a febre.<br />

Súbito falecimento<br />

de <strong>Dr</strong>. Antônio<br />

Todos os anos <strong>Dr</strong>. Antônio costumava<br />

comprar uma “Folhinha de<br />

Santo Antônio”, a qual, além de<br />

efemérides, trazia sempre algum<br />

pensamento para a jornada. Entregando<br />

a daquele ano a Dª Gabriela,<br />

disse:<br />

— Sinhara — era o apelativo que<br />

lhe dava na intimidade — aqui está a


Dona Lucilia<br />

nova folhinha, depois mande pôr aí...<br />

— E acrescentou, pensativo:<br />

— 1909... — Fez um cálculo num<br />

papel e continuou: — Este ano eu<br />

vou morrer.<br />

— Totó, não diga tolice — retrucou<br />

Dª Gabriela, zangando-se um pouco.<br />

<strong>Dr</strong>. Antônio sorriu e acrescentou:<br />

— Vou morrer este ano, vocês vão<br />

ver...<br />

De vez em quando, durante as refeições,<br />

brincava com a faca, colocando-a<br />

sobre o pulso. Movendo-se<br />

um pouco aquela, ele dizia:<br />

— Está vendo? Isto é sinal de que<br />

eu vou morrer.<br />

— Não diga isso, onde já se viu!<br />

— atalhava logo Dª Gabriela.<br />

Até que o momento chegou! 12<br />

de novembro de 1909... Eis como tudo<br />

se passou:<br />

Encontrando-se em Santos, onde<br />

era sócio de uma firma comissária<br />

que negociava com café, <strong>Dr</strong>. Antônio<br />

desmaiou quando descia do bonde.<br />

Alguém que estava por perto o<br />

reconheceu:<br />

— Mas é o <strong>Dr</strong>. Antônio Ribeiro<br />

dos Santos! Precisamos avisar a família,<br />

que está hospedada no hotel<br />

Parque Balneário... — E o fez transladar<br />

até a tal firma comissária. Após<br />

ficar algum tempo ali, recostado sobre<br />

o balcão, foi levado para a casa<br />

de um sócio.<br />

Logo chegaram os médicos, os<br />

quais, após examiná-lo, não viram<br />

outra saída senão recomendar<br />

que o deixassem em repouso.<br />

Entrementes, familiares e amigos<br />

iam aparecendo e formando rodas<br />

de conversa na sala ao lado.<br />

De repente, <strong>Dr</strong>. Antônio mandou<br />

chamar um filho e logo que o viu,<br />

apoiando-se sobre os cotovelos,<br />

disse-lhe:<br />

Última foto de <strong>Dr</strong>. Antônio, sentado à esquerda<br />

— Olha, Antônio, estou me sentindo<br />

mal...<br />

E sem mais palavras caiu morto.<br />

Profundo trauma<br />

para Dona Lucilia<br />

A notícia do falecimento de pessoa<br />

tão bem-relacionada como <strong>Dr</strong>.<br />

Antônio — o qual, aliás, se dava uma<br />

semana após o de seu irmão, <strong>Dr</strong>. Alfredo,<br />

diretor da Secretaria de Segurança<br />

Pública — correu célere e causou<br />

consternação.<br />

Dona Lucilia não descera a Santos,<br />

tendo ficado à espera de que o pai a<br />

avisasse haver terminado os negócios,<br />

para então ir encontrar-se com ele.<br />

Nesse ínterim, tomou conhecimento<br />

do doloroso fato. Eram duas ou<br />

três da tarde quando soube do ocorrido.<br />

Sentiu um choque tão grande que<br />

caiu de cama, com forte indisposição.<br />

O velório se realizaria na própria<br />

residência da Alameda Barão de Limeira.<br />

Às 22h o corpo chegou a São<br />

Paulo. Segundo os estilos da época,<br />

veio num trem especial — apenas<br />

com locomotiva, tênder e vagão fúnebre,<br />

todo recoberto com flores e<br />

tecidos negros — que avançava devagar<br />

tocando o apito.<br />

Dona Lucilia, extremamente abatida,<br />

desde que recebera a notícia<br />

mantinha-se recolhida em seu leito.<br />

Ao se aproximar o momento de<br />

ser fechado o caixão, correram a avisá-la:<br />

— Lucilia, se você não vier agora,<br />

não terá mais oportunidade de ver<br />

seu pai, antes que ele seja enterrado.<br />

Com o esposo amparando-a de<br />

um lado e um tio de outro, tentou ela<br />

percorrer o meio quarteirão que separava<br />

sua morada da casa paterna.<br />

Naquele tempo, os enterros se davam<br />

num cenário impressionante. O<br />

cortejo até o cemitério era feito em<br />

carruagens antigas, douradas e pretas,<br />

com plumas; os cocheiros e lacaios,<br />

funcionários do serviço funerário,<br />

usavam chapéu de dois bicos,


também com plumas, e trajes semelhantes<br />

aos do Ancien Régime.<br />

Dona Lucilia, à medida que ia caminhando<br />

ao longo da lutuosa e extensa<br />

fileira de carruagens, cada vez<br />

sentia soar-lhe mais aos ouvidos, e<br />

quase se diria no coração, como pancadas,<br />

as impacientes batidas das ferraduras<br />

dos cavalos sobre as pedras<br />

do calçamento. As forças lhe faltaram<br />

e se viu obrigada a retornar a casa.<br />

Foi assim que naquele doloroso momento<br />

se lhe tornou impossível o derradeiro<br />

adeus ao mui querido pai.<br />

Eloqüente epitáfio<br />

Aspecto de um cortejo fúnebre na antiga São Paulo, com<br />

carruagens douradas e pretas, adornadas de plumas<br />

Entre as notícias publicadas nos<br />

mais variados jornais destacamos esta,<br />

aparecida na primeira página do<br />

jornal A Comarca, de Mogi-Mirim, no<br />

dia 1º de dezembro seguinte. Tratase<br />

de um epitáfio, que bem resume o<br />

prestígio de que gozava <strong>Dr</strong>. Antônio:<br />

“Causou dolorosa surpresa e geral<br />

consternação a notícia da morte, em<br />

Santos, na tarde de 12 de novembro,<br />

do <strong>Dr</strong>. ANTÔNIO RIBEIRO DOS<br />

SANTOS, vitimado em menos de uma<br />

hora por uma síncope cardíaca. (...)<br />

“Amigo, por sua família, de nossa<br />

família, foi mais do que um companheiro<br />

político devotado, a quem muito<br />

devemos nas lutas que já pertencem<br />

ao passado: foi também um amigo fiel<br />

e dedicado, na boa e na má fortuna.<br />

Abençoada seja a sua memória.<br />

“De Antônio Ribeiro, resta a lembrança<br />

inapagável de uma inteligência<br />

privilegiada, de uma consciência<br />

imaculada, de um caráter sans peur<br />

et sans reproche. 1 ”<br />

Ocasião para maior<br />

progresso espiritual<br />

Aquele doloroso acontecimento<br />

seria para Dª Lucilia um marco em<br />

sua vida. Ninguém teria podido imaginar<br />

que <strong>Dr</strong>. Antônio viesse a morrer<br />

tão subitamente, e o inesperado<br />

do fato tornou ainda mais cruel<br />

o golpe, sobretudo para quem tanto<br />

lhe queria como sua filha. Com o<br />

desaparecimento da figura protetora<br />

do pai, numerosas circunstâncias<br />

de sua vida mudavam,<br />

e ela se via, agora, em<br />

face de novas responsabilidades.<br />

Na proporção dos<br />

obstáculos a vencer,<br />

crescem em virtude as<br />

grandes almas, para o<br />

que Deus nunca falta<br />

com sua graça, sobretudo<br />

quando implorada<br />

com confiança.<br />

Tal foi o caso de Dª<br />

Lucilia, a quem sua nova<br />

situação proporcionaria<br />

maiores progressos<br />

espirituais. Nada indicava<br />

que o anúncio<br />

efetuado por <strong>Dr</strong>. Antônio,<br />

sobre seu falecimento<br />

ainda naquele<br />

ano, teria uma realização<br />

tão exata. A estima<br />

que votava a seu bondoso<br />

pai, somada às aparências de uma<br />

saúde normal refletidas na fisionomia<br />

deste, quando partira para Santos,<br />

não permitiram que o discernimento<br />

de Dª Lucilia previsse a morte<br />

dele naquela ocasião.<br />

Daí em diante, deitará ela especial<br />

empenho no sentido de que males<br />

inesperados jamais a colhessem<br />

desprevenida. A solidez na prática<br />

dessa virtude deve ter custado muita<br />

energia de alma a Dª Lucilia, pois<br />

nada desagrada mais ao espírito humano<br />

do que considerar de frente<br />

as eventuais tragédias que possam<br />

suceder.<br />

(Transcrito, com adaptações,<br />

da obra “Dona Lucilia”,<br />

de João S. Clá Dias)<br />

1<br />

) “Chevalier sans peur et sans reproche”<br />

— “Cavaleiro sem temor nem<br />

mácula”. Epíteto pelo qual ficou conhecido<br />

Bayard, célebre guerreiro<br />

francês do século XVI, por sua bravura<br />

e virtudes.


A sociedade, analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Teoria do mando — II<br />

Ser mestre e modelo<br />

para o próximo<br />

Quem deseja salvar o próximo,<br />

conduzindo-o pelo caminho que leva ao<br />

Céu, deve se empenhar em estimular nele<br />

suas boas inclinações, e em combater<br />

aquelas que o impelem para o mal.<br />

Agindo assim, explica <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, o<br />

católico trabalha para favorecer a verdade,<br />

o bem e o belo, e contribui para remodelar<br />

a sociedade de acordo com os desígnios<br />

de Deus, tanto nos seus aspectos<br />

espirituais, quanto nos materiais.<br />

Em anterior exposição consideramos a<br />

razão de ser do mando nas relações<br />

humanas, como decorrendo e dependendo<br />

do mando superior do Papado infalível,<br />

a serviço do qual deve estar ordenado.<br />

O mando posto a<br />

serviço da Igreja<br />

Compreendo que alguém poderia<br />

levantar a seguinte objeção:<br />

“<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, esse princípio de autoridade<br />

evocado pelo senhor pare-<br />

10


ce um tanto exagerado, pois não se pode pretender que,<br />

por exemplo, um dono de empresa de ônibus, cujo objetivo<br />

primordial é transportar pessoas, tenha a preocupação<br />

de servir a Igreja. Como uma coisa se relaciona com<br />

outra?”<br />

De fato, é necessária uma certa elasticidade de espírito<br />

para bem entender o assunto.<br />

Na verdade, o fim imediato de uma companhia de<br />

transporte é conduzir passageiros. Porém, o seu proprietário<br />

deve se compenetrar de que, antes de tudo, ela existe<br />

para prestar serviço à Igreja Católica. Como?<br />

Por exemplo, não permitindo em seus veículos propagandas<br />

obscenas nem situações que agridam a moral<br />

e os bons costumes. Dessa forma, combateriam<br />

eficazmente o mal e favoreceriam a difusão do bem,<br />

e nisto estariam prestando inestimável serviço à<br />

Igreja, guardiã da virtude e da salvação das almas.<br />

Eco da voz de Deus, o católico<br />

deve ser respeitado e seguido<br />

Vale lembrar que os donos das empresas de ônibus,<br />

assim como os motoristas, os cobradores, os<br />

passageiros, todos existem para a expansão da fé, pois<br />

nossa primordial finalidade é amar, servir e glorificar ao<br />

Criador. Em medida maior ou menor, conforme as circunstâncias<br />

e obrigações de seu estado, todo católico deve<br />

ser apóstolo, procurando evangelizar o próximo e conduzi-lo<br />

pelas vias da Igreja.<br />

Nessa missão, tendo ele possibilidade de dar ordens a<br />

outros, exerce, em certo sentido, um mando. Os problemas<br />

que encontra para realizar seu apostolado se assemelham<br />

às dificuldades com as quais se depara quem governa<br />

e, embora muitas vezes não possua propriamente<br />

autoridade, sua voz é um eco da voz de Deus, e por isso<br />

deve ser respeitado e atendido.<br />

Através do mando, uma<br />

renovação da face da Terra<br />

Cumpre considerar, entretanto, que as pessoas têm<br />

tendências para o bem e para o mal, e quem deseja exercer<br />

a missão de salvá-las, levando-as para o Céu, deve<br />

procurar estimular nelas, continuamente, suas inclinações<br />

e convicções para o bem, e combater as que as empurram<br />

para o mal.<br />

Agindo assim, o católico trabalha para favorecer a verdade,<br />

o bem e o belo, contribui para remodelar a sociedade<br />

de acordo com os planos de Deus, seja nos seus aspectos<br />

espirituais, seja nos materiais.<br />

Compreendido dessa forma, o mando é, mais do que<br />

tudo, uma ação pela qual os homens empreendem todo<br />

o possível para contrariar a influência do mal e para promover<br />

a virtude, a beleza, a bondade, sob os auspícios da<br />

Igreja, almejando a tão necessária renovação da face da<br />

Terra.<br />

A exemplo do Divino<br />

Mestre, todo católico deve ser<br />

apóstolo e modelo para o<br />

próximo, procurando<br />

evangelizá-lo e conduzi-lo<br />

pelas vias da Igreja<br />

F. Boulay / G. Kralj<br />

Pregação de Nosso Senhor -<br />

Igreja do Sagrado Coração de<br />

Jesus, Montréal, Canadá<br />

11


A sociedade, analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Mestre e modelo para os outros<br />

Há, ainda, outro aspecto desse tema que merece ser<br />

analisado.<br />

Em relação ao seu próximo, todo homem desempenha<br />

um papel que se pode qualificar de mestre e modelo. Esses<br />

substantivos não são escolhidos a esmo, mas intencionalmente.<br />

Um interlocutor talvez me perguntasse: “E se<br />

uma pessoa é muito mais moça que a outra, ou teve menos<br />

ocasião de cultivar seu espírito, ou é inferior a qualquer<br />

título, como será mestre de seu superior?”<br />

Respondo, dizendo que o exemplo dado pelo menor<br />

muitas vezes comove o maior, e se este leva<br />

uma vida desregrada, poderá se converter<br />

e abraçar o bom caminho.<br />

Seja como for, cada um de nós<br />

acaba sendo mestre em relação<br />

a outro, ou seja, devemos<br />

saber, pelo uso da palavra,<br />

conduzi-lo ao verum,<br />

bonum, pulchrum:<br />

à verdade, ao bem e à<br />

beleza. Trata-se de um<br />

modo de mandar, no<br />

sentido de atuar sobre<br />

sua inteligência, fazendo-o<br />

entender o que<br />

ele não compreendia,<br />

por meio de<br />

uma frase ou um raciocínio expressos com a maior clareza e<br />

da maneira menos tediosa possíveis.<br />

O exemplo arrasta<br />

Tratemos da condição de modelo.<br />

Pareceria, sobretudo para os espíritos “quadrados”, que<br />

basta cada um de nós ser mestre em relação ao próximo.<br />

Julgam que, com uma explicação teórica bem feita, convence-se<br />

qualquer pessoa.<br />

Ora, quando ouvimos a leitura do Evangelho, percebemos<br />

o que há de maravilhoso em Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo exercendo sua missão como<br />

divino Mestre. E alguém poderia<br />

se perguntar: “Quando Jesus<br />

veio à Terra, não bastaria<br />

que fosse conhecido apenas<br />

por duas ou três pessoas,<br />

às quais Ele ditasse<br />

sua doutrina e depois<br />

retornasse ao Céu?”<br />

Não. Era necessário<br />

vê-Lo vivo, como modelo<br />

daquilo que Ele<br />

mesmo havia ensinado.<br />

Diz um conhecido<br />

provérbio:<br />

Verba volant,<br />

M. Shinoda<br />

12


exempla trahunt — as palavras voam, os exemplos arrastam.<br />

Quer dizer, não é suficiente falar ou escrever para<br />

mover as pessoas. Importa dar-lhes o exemplo. Mais do<br />

que a leitura de um tratado de moral, o exemplo vivo de<br />

um ato de virtude serve como modelo, completa o efeito<br />

da palavra e pode arrastar as pessoas a segui-lo.<br />

Se, nessa exposição, através de minhas palavras e meu<br />

exemplo, estou edificando meus ouvintes, amanhã esse<br />

dínamo (na falta de comparação mais adequada) de<br />

amor de Deus, dedicação, entusiasmo, etc., aqui existente,<br />

funcionará melhor e se multiplicará por trezentos ou<br />

mais, conforme o número de pessoas reunidas diante de<br />

mim.<br />

Compreendemos, desse modo, a eficácia do exemplo,<br />

do modelo, da ação de presença que completa a<br />

palavra e sem a qual esta última produziria resultados<br />

menores.<br />

T. Ring<br />

Uma anciã tocada pela graça...<br />

Gostaria de encerrar essas reflexões narrando um episódio<br />

que bem ilustra nossos comentários.<br />

Certo dia, acompanhado de um membro do nosso movimento,<br />

visitei a igreja da Luz, no Mosteiro das Concepcionistas,<br />

e ali permanecemos algum tempo em oração.<br />

Estávamos adorando o Santíssimo Sacramento no tabernáculo,<br />

e também contemplando a bela imagem de Nossa<br />

Senhora que se ergue acima do altar-mor, quando entra<br />

uma anciã e se ajoelha junto a um altar lateral, em<br />

honra a Santo Antônio.<br />

Continuamos a rezar e, em determinado momento,<br />

meu acompanhante fez-me um sinal para que eu observasse<br />

a velha senhora. Reparei então que, penetrando<br />

“O bem espiritual que<br />

nos proporcionou a figura<br />

daquela senhora idosa,<br />

ungida de bondade e<br />

virtude, ainda repercute<br />

como o eco de um sino que<br />

custa a emudecer...”<br />

Acima, altar-mor do Convento<br />

da Luz, em São Paulo; na página<br />

12, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos 85 anos<br />

através de uma janela, um raio de sol a iluminava, dando<br />

a impressão profunda de que ela era ouvida em suas preces<br />

e recebia uma graça especial. Esta a tornava tão recolhida,<br />

suave, benfazeja, que seu chapéu de veludo preto<br />

desbotado, e sua roupa já gasta pareciam renovados e<br />

reluzentes.<br />

Encantados, ficamos algum tempo olhando para a velhinha,<br />

a qual se achava tão absorta em suas preces que<br />

não prestou atenção em nós. Ela não nos viu, mas foi observada<br />

por dois servidores de Nossa Senhora, e um deles<br />

narraria o fato a um auditório repleto de outros devotos<br />

da Santíssima Virgem.<br />

Talvez essa boa anciã já tenha morrido, mas o bem feito<br />

por ela, por sua figura ungida de bondade e virtude,<br />

ainda repercute como o som de um sino que se prolonga,<br />

custando a emudecer.<br />

Eis um lindo exemplo de apostolado de presença.<br />

Aquela velha senhora foi, a seu modo, mestra e modelo<br />

para os dois que, enlevados, a observaram imersa em<br />

oração.<br />

v<br />

13


R. C. Branco<br />

Calendário dos Santos<br />

1. Solenidade de Maria Santíssima,<br />

Mãe de Deus. Os Padres do<br />

Concílio de Éfeso A aclamaram como<br />

Theotókos.<br />

São José Maria Tommasi, 1649-<br />

1713. Sacerdote teatino e cardeal,<br />

grande estudioso e divulgador<br />

de temas sobre a liturgia da Igreja.<br />

Seu corpo se conserva incorrupto<br />

na igreja de Sant’Andrea della Valle,<br />

em Roma.<br />

2. São Basílio Magno, 330-379.<br />

Nascido em Cesaréia da Capadócia<br />

(atual Turquia) da qual foi Bispo.<br />

Doutor da Igreja, foi o legislador<br />

do monaquismo oriental.<br />

São Telésforo, Papa. Governou a<br />

Igreja entre 125 e 136. Introduziu a<br />

Missa da noite de Natal.<br />

3. Santíssimo Nome de Jesus. O<br />

Nome de Jesus (que quer dizer Salvador)<br />

foi venerado desde época<br />

Papa São<br />

Marcelo<br />

muito remota. São Bernardino de<br />

Siena propagou sua devoção. Santo<br />

Inácio de Loyola dedicou a ele<br />

a Companhia que fundou. O Papa<br />

João Paulo II introduziu novamente<br />

esta festa no Calendário, como<br />

memória facultativa.<br />

4. Beato Tomás Plumtree, Mártir.<br />

Em Dirham, na Inglaterra, sob<br />

Elisabeth I, por recusar-se a renegar<br />

a sua Fé.<br />

Beato Manuel González Garcia,<br />

Bispo de Málaga e Palência, 1877-<br />

1940. Propagou amplamente a devoção<br />

à Sagrada Eucaristia (fazendo<br />

render culto aos sacrários abandonados)<br />

e fundou a Congregação<br />

das Irmãs Missionárias de Nazaré.<br />

5. Santo Eduardo, o Confessor,<br />

Rei da Inglaterra, 1004-<strong>106</strong>6.<br />

São João Nepomuceno Neumann,<br />

redentorista, Bispo de Philadelphia,<br />

EUA.<br />

6. Solenidade da Epifania do Senhor.<br />

Santa Rafaela Maria do Sagrado<br />

Coração, Virgem, 1850-1925.<br />

Fundadora das Escravas do Sagrado<br />

Coração de Jesus. Apesar<br />

de fundadora, por desavenças,<br />

chegou a ser menosprezada<br />

e até considerada louca,<br />

e mesmo assim levou sua<br />

vida santa de forma escondida,<br />

nos ofícios mais simples,<br />

por 32 anos. Sua santidade,<br />

porém, ficou tão evidente<br />

que 11 anos depois de sua morte<br />

abriu-se seu processo de beatificação.<br />

Paulo VI a canonizou em<br />

1977. Seu corpo está à vista, na casa<br />

de sua Congregação, em Roma.<br />

7. 2º Domingo do Natal.<br />

São Raimundo de Penyafort,<br />

1175-1275.<br />

8. São Severino de Settempeda<br />

(Marcas, Itália), Bispo e Mártir,<br />

sécs.V-VI.<br />

9. Santo Adriano de Canterbury,<br />

abade beneditino, + 710.<br />

São Finan de Lindisfarne, + 661.<br />

Irlandês para alguns, escocês para<br />

outros, é especialmente lembrado<br />

na diocese de Argyll, Escócia. Leão<br />

XIII recolocou sua memória no Calendário.<br />

10. São Melquíades, Papa de 311<br />

a 314. Nascido na África, governou<br />

a Igreja no tempo em que Constantino<br />

lhe deu liberdade.<br />

11. São Higino, Papa. Oitavo sucessor<br />

de São Pedro. Pontífice de<br />

136 a 140, morreu durante a perseguição<br />

do imperador Antonino Pio.<br />

Beato Francisco Rogaczewski,<br />

Sacerdote e Mártir, 1892-1940.<br />

Fuzilado pelos nazistas perto de<br />

Gdansk (Polônia), pouco depois da<br />

ocupação de seu país por esse regime<br />

hostil a Deus.<br />

12. São Bento Biscop, Abade de<br />

Wearmouth, na Inglaterra, 628-690.<br />

Santo Aelredo (Etelredo) de Rielvaux,<br />

1010-<strong>106</strong>7. Nascido na Inglaterra,<br />

ingressou nesse célebre mosteiro<br />

cisterciense do Yorkshire, fundado<br />

sob os auspícios de São Bernardo.<br />

13. Santo Hilário de Poitiers, Bispo<br />

e Doutor da Igreja, 315-367. Defendeu<br />

a fé na Trindade e na Divindade<br />

de Jesus Cristo contra os arianos.<br />

14. Domingo. Batismo do Senhor.<br />

São Félix de Nola, Confessor e<br />

Mártir, +313.<br />

15. São Mauro, Abade, séc VI.<br />

Foi entregue ainda menino a São<br />

14


Bento, de quem foi discípulo predileto.<br />

Quando São Bento deixou<br />

Subiaco para Monte Cassino, Mauro<br />

ficou como Abade daquele primeiro<br />

mosteiro. Relatos posteriores<br />

não confirmados narram que teria<br />

ido à França, onde fundou mosteiros<br />

da ordem beneditina.<br />

Santo Arnaldo Janssen, Sacerdote,<br />

1837-1909. Fundador da Sociedade<br />

do Verbo Divino, para a<br />

missão “ad gentes”.<br />

16. São Marcelo I, Papa, +309.<br />

17. Santo Antão, Abade, 250-<br />

356. Eremita no deserto da Tebaida,<br />

no Egito. Primeiro a levar vida<br />

monástica, apoiou os perseguidos<br />

por Diocleciano e combateu o arianismo.<br />

Faleceu com mais de 100<br />

anos.<br />

São Jenaro Sanchez Delgadillo,<br />

Sacerdote e Mártir, 1876-1927.<br />

Morto por ódio à fé, durante a perseguição<br />

no México.<br />

18. Santa Prisca, Mártir. Uma<br />

basílica na colina do Aventino, em<br />

Roma, conserva seus restos.<br />

19. São Macário, o Grande, Sacerdote<br />

e Abade do mosteiro de<br />

Scete, no Egito, 300-390.<br />

Beato Marcelo Spínola y Maestre,<br />

Cardeal Arcebispo de Sevilha,<br />

1835-1906. Favoreceu os pobres,<br />

pelos quais chegava até a pedir esmola<br />

de porta em porta. Foi por isso<br />

chamado “o arcebispo mendigo”.<br />

Fundador de uma congregação<br />

feminina.<br />

20. São Fabiano, Papa e Mártir,<br />

séc. III. (Ver artigo na página 26.)<br />

21. 2º Domingo do Tempo Comum.<br />

São Frutuoso, Bispo, Augúrio<br />

e Eulógio, Diáconos, Mártires em<br />

* Janeiro *<br />

Tarragona (Espanha), sob os imperadores<br />

Valeriano e Galério. Foram<br />

queimados vivos.<br />

Beatos João Batista Turpin de<br />

Cormier e treze companheiros,<br />

Sacerdotes, Mártires, séc. XVIII.<br />

Dando a vida por sua fidelidade à<br />

Igreja, foram guilhotinados na Revolução<br />

Francesa.<br />

22. São Vicente, Diácono de Cesaraugusta<br />

(atual Saragoça, Espanha)<br />

e Mártir, sob Diocleciano em<br />

Valência, no ano 304.<br />

23. Santo Ildefonso de Toledo,<br />

+ 677. Arcebispo dessa sede primaz<br />

da Espanha e defensor da Virgindade<br />

de Maria Santíssima antes,<br />

durante e depois do parto, que lhe<br />

apareceu e impôs uma casula, como<br />

prêmio por sua obra.<br />

24. São Francisco de Sales, Bispo<br />

e Doutor da Igreja, 1566-1622. Bispo<br />

de Genebra, autor de insignes obras<br />

como o “Tratado do Amor a Deus”<br />

e a “Introdução à Vida Devota”.<br />

25. Conversão de São Paulo.<br />

26. Santa Paula, 347-404. Discípula<br />

de São Jerônimo.<br />

27. Santa Ângela de Merici,<br />

+1540. Nascida no Vêneto, Itália,<br />

fundou a Congregação das Ursulinas.<br />

28. 3º Domingo do tempo comum.<br />

São Tomás de Aquino, Doutor da<br />

Igreja, 1225-1274.<br />

29. São Gildas, o Sábio, séc. VI.<br />

Apóstolo da Bretanha e da Irlanda,<br />

Gales e Cornualha. Fundou a abadia<br />

de Rhuys, na atual Bretanha<br />

francesa.<br />

30. Santa Batilde, Rainha. Anglo-saxã<br />

de origem, foi capturada<br />

por piratas e vendida na França.<br />

Casou-se com o Rei Clóvis II e, no<br />

fim da vida, retirou-se para o mosteiro<br />

de Chelles, perto de Paris, em<br />

680.<br />

31. São João Bosco, Presbítero,<br />

1815-1888. Nascido no Piemonte,<br />

tornou-se o grande apóstolo da juventude,<br />

educador, diplomata do<br />

Papa Pio IX, escritor de obras didáticas<br />

e de sua autobiografia. Fundou<br />

a Sociedade Salesiana.<br />

Santa<br />

Batilde<br />

S. Hollmann<br />

15


“R-CR” em perguntas e respostas<br />

Cultura, artes<br />

e ambientes na<br />

Revolução<br />

Aspecto sobremaneira importante do ensinamento de<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em Revolução e Contra-Revolução é apontar o papel das<br />

tendências na expansão da influência revolucionária. De fato,<br />

conforme as análises aqui transcritas, muitos daqueles que<br />

chegam a conhecer o modo de agir da Revolução e procuram<br />

combatê-la, pouco conseguem contra ela, se não atentam para<br />

seus artifícios tendenciosos.<br />

Qual o nexo existente entre as idéias revolucionárias e as<br />

más tendências?<br />

“As idéias revolucionárias fornecem às tendências de<br />

que nasceram o meio de se afirmarem com foros de cidadania,<br />

aos olhos do próprio indivíduo e de terceiros.<br />

Elas servem ao revolucionário para abalar nestes últimos<br />

as convicções verdadeiras, e para assim desencadear ou<br />

agravar neles a revolta das paixões” (p. 84).<br />

Difusão das idéias revolucionárias<br />

Como se difundem as idéias revolucionárias?<br />

“Elas são inspiração e molde para as instituições<br />

geradas pela Revolução. Essas idéias podem encontrar‐se<br />

nos mais variados ramos do saber ou da cultura,<br />

pois é difícil que algum deles não esteja implicado,<br />

pelo menos indiretamente, na luta entre a Revolução e<br />

a Contra‐Revolução” (p. 84).<br />

As artes<br />

As artes podem ser instrumentos da Revolução?<br />

“Quanto às artes, como Deus estabeleceu misteriosas<br />

e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons,<br />

perfumes e sabores de um lado, e de outro lado certos<br />

estados de alma, é claro que por estes meios se pode influenciar<br />

a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias<br />

e povos à formação de um estado de espírito profundamente<br />

revolucionário” (p. 85).<br />

Há relação entre as modas e a Revolução?<br />

Sim. “Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução<br />

Francesa e as modas que durante ela surgiram.<br />

16


G. Kralj<br />

Como Deus estabeleceu<br />

misteriosas relações entre formas,<br />

cores e sons, de um lado, e<br />

de outro, certos estados de alma,<br />

podem as artes influenciar<br />

a fundo as mentalidades e incliná-las<br />

para uma posição revolucionária<br />

Contraste entre a arte clássica e a dita<br />

“avançada”: à esquerda, retrato de<br />

condessa, por Mme. Vigée-Lebrun, séc.<br />

XVIII; abaixo, retrato de mulher, séc. XX<br />

Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as<br />

presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas<br />

ditas avançadas” (p. 85).<br />

Os ambientes<br />

Os ambientes representam algum papel na luta entre a<br />

Revolução e a Contra-Revolução?<br />

“Quanto aos ambientes, na medida em que favorecem<br />

costumes bons ou maus, podem opor à Revolução as admiráveis<br />

barreiras de reação, ou pelo menos de inércia,<br />

de tudo quanto é sadiamente consuetudinário; ou podem<br />

comunicar às almas as toxinas e as energias tremendas<br />

do espírito revolucionário” (p. 85).<br />

Mais influentes do que leis<br />

ou atuações políticas<br />

Explique a importância dos costumes, dos estilos de vida,<br />

da arte moderna, para a difusão do igualitarismo.<br />

“É necessário reconhecer que a democratização geral<br />

dos costumes e dos estilos de vida, levada aos extremos<br />

de uma vulgaridade sistemática e crescente, e a ação proletarizante<br />

de certa arte moderna, contribuíram para o<br />

triunfo do igualitarismo tanto ou mais do que a implantação<br />

de certas leis, ou de certas instituições essencialmente<br />

políticas” (p. 86).<br />

A atuação política contra a Revolução é mais eficaz do que<br />

fazer cessar a imoralidade nos meios de comunicação social?<br />

“Também é preciso reconhecer que quem, por exemplo,<br />

conseguisse fazer cessar o cinema ou a televisão imorais<br />

ou agnósticos teria feito pela Contra‐Revolução muito<br />

mais do que se provocasse a queda de um gabinete esquerdista,<br />

na rotina de um regime parlamentar” (p. 86). v<br />

17


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

O Marechal Foch em<br />

seu estado-maior<br />

Predicados de verdadeiro chefe<br />

Saber quando estar acompanhado e quando<br />

se encontrar sozinho para melhor refletir;<br />

das miudezas elevar-se às mais altas esferas<br />

do pensamento sem pretender digressões<br />

inúteis; saber aproveitar-se do relacionamento<br />

humano e das coisas comuns, sem se deixar<br />

desviar por eles; saber quando repousar<br />

e quando trabalhar ardorosamente: as<br />

capacidades do Marechal Foch — descritas<br />

pelo seu imediato, General Weygand —<br />

inspiram a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comentários úteis para<br />

a vida espiritual e a luta diária do católico.<br />

N<br />

a exposição anterior conhecemos<br />

o Foch amante da<br />

calma e da serenidade imperturbáveis,<br />

cuja existência quotidiana<br />

no seu estado-maior transcorria<br />

com a maior regularidade possível.<br />

Deixamo-lo no momento de seu<br />

rotineiro passeio após o almoço.<br />

Prodígio de distância<br />

psíquica<br />

Assim prossegue o artigo do General<br />

Weygand:<br />

Quando o lugar de nossa residência<br />

é uma aldeia, numa casa isolada, saímos<br />

a pé. Se é uma cidade pequena<br />

18


Nos momentos de distensão e passeio, o<br />

grande Foch não pensava nas agruras<br />

da guerra, e se entretinha com uma flor,<br />

uma plantação, ou<br />

na conversa com os camponeses sobre as<br />

colheitas e o bom tempo<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

À direita, o Marechal Foch;<br />

abaixo, cena da Primeira Guerra Mundial<br />

19


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

como Cassel ou Senlis, um automóvel<br />

nos leva para fora do perímetro urbano<br />

ou a uma floresta vizinha.<br />

Ou seja, Foch gostava de passear<br />

no campo, evitando as aglomerações<br />

de gente, mesmo pequenas, onde sua<br />

presença poderia dar azo a conversações<br />

e encontros que transtornariam<br />

aquela sua apreciada calma.<br />

Essas saídas são uma verdadeira<br />

distensão. Se o solo não está por demais<br />

molhado, o General caminha<br />

através dos campos ou dos bosques,<br />

com seu passo elástico, característico<br />

dos habitantes dos Pireneus. Ele se interessa<br />

por todas as coisas da natureza<br />

e das plantações. Não perde uma só<br />

ocasião de se entreter com os cultivadores<br />

que encontra, a respeito do estado<br />

de suas colheitas, de suas esperanças,<br />

suas dificuldades.<br />

Nesse momento, ele não pensa na<br />

guerra. Observa as árvores, uma flor,<br />

um bichinho, interessa-se pelas condições<br />

da lavoura e se entretém em<br />

breves diálogos com os camponeses.<br />

É um prodígio de “distância psíquica”<br />

1 .<br />

Agrada-lhe, sobretudo, nas vésperas<br />

das operações ofensivas, fazê-los<br />

falar das previsões do tempo, cuja influência<br />

pode pesar muito numa preparação<br />

de artilharia.<br />

Conheço pessoas que, dirigindo<br />

automóvel, levam o gosto de não<br />

consultar os outros até o ponto de<br />

preferirem rodar dentro de uma cidade,<br />

esgotando combustível e paciência,<br />

na tentativa de adivinhar o<br />

itinerário. Ora, o grande Marechal<br />

Foch não agia desse modo. Gostava<br />

de conversar com os camponeses sobre<br />

o bom tempo e a chuva, aconselhar-se,<br />

receber informações, etc.<br />

Das miudezas às<br />

mais altas esferas<br />

do pensamento<br />

Na conversa, que jamais se arrasta<br />

ao longo do passeio, o General aborda,<br />

de maneira espontânea, todos os<br />

Prolongamemto do<br />

conforto que procurava<br />

se dar nas horas das<br />

refeições, Foch se deslocava<br />

pelas frentes de combate<br />

numa Rolls Royce<br />

“notável”<br />

O General Foch (segundo<br />

da direita para a esquerda)<br />

visita o alto comando das<br />

forças norte-americanas<br />

assuntos. Ele me falará com maior<br />

confiança, à medida que me conhecer<br />

melhor, a respeito de sua infância, sua<br />

juventude, sua família, de sua casa de<br />

campo na Bretanha. Indagar-me-á<br />

também sobre meu passado, meus familiares,<br />

minhas preferências.<br />

Era, portanto, uma conversa autenticamente<br />

distensiva, na qual<br />

ele se comprazia em ouvir o seu interlocutor.<br />

Bem ao contrário de alguns<br />

espíritos que não sabem escutar,<br />

mas somente falar, Foch se entretinha<br />

com as opiniões dos camponeses,<br />

com as reminiscências do seu<br />

chefe de estado-maior, etc.<br />

É assim que o segui pelas escolas<br />

das cidades onde a carreira administrativa<br />

de seu pai o conduziu, para<br />

chegar até o Colégio São Clemente, de<br />

Metz. Foi ao longo desses passeios que<br />

eu, sem me ter encontrado com nenhum<br />

deles, travei conhecimento com<br />

todos os membros de sua família. Ele<br />

me falava, muitas vezes, de seu filho e<br />

me deu conselhos que foram preciosos<br />

para a educação de um dos meus.<br />

Agradava-lhe igualmente falar<br />

amiúde de sua propriedade de Trofeunteuniou,<br />

no Finisterra. Ele adquiriu<br />

esse solar 25 ou 30 anos antes,<br />

atraído à Bretanha pela Sra. Foch,<br />

originária de Saint-Brieuc.<br />

20


21


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

Convém observar como um grande<br />

homem não se acha perpetuamente<br />

fazendo filosofia, mas sabe<br />

tratar do relacionamento humano e<br />

outras coisas comuns, sem se deixar<br />

envesgar por elas, tornando-se pessoa<br />

rasa e banal. Não. Das miudezas<br />

ele se eleva às mais altas esferas do<br />

pensamento.<br />

Em tudo, dignidade que<br />

favorecia as cogitações<br />

Exceto duas alamedas centenárias<br />

de tílias e faias, os bosques não existiam<br />

mais quando ele se tornara proprietário<br />

desse imóvel. Ele mesmo os<br />

tinha replantado e falava com amor<br />

das grandes árvores que começavam<br />

a crescer. Quando, depois da guerra,<br />

fiz minha primeira visita a Trofeunteuniou,<br />

não me espantei de nada: já conhecia<br />

o que iria ver.<br />

Nota-se aqui a precisão com que<br />

Foch comentava sua propriedade, a<br />

tal ponto que Weygand a dava por<br />

conhecida, antes de vê-la pessoalmente.<br />

Se, pelo contrário, uma visita a um<br />

quartel-general era prevista para o período<br />

da tarde, o General passava rapidamente<br />

pelo estado-maior a fim de<br />

se assegurar de que nada o retinha lá,<br />

e nos púnhamos a caminho imediatamente.<br />

Eu o acompanho sempre, assisto<br />

a todas suas conversas com os<br />

comandantes de exército, grupamentos<br />

de exército e de divisão.<br />

Quer dizer, o Foch tomava as providências<br />

necessárias para se ausentar<br />

e não saía em disparada, como<br />

um furacão irrefletido. Por outro lado,<br />

Weygand estava a par de tudo<br />

que se passava entre o Marechal e os<br />

comandantes de exército, para poder<br />

assessorar bem seu chefe.<br />

Devido à extensão das frentes de<br />

combate, esses giros ocupavam, mais<br />

ou menos, a tarde toda. A palavra de<br />

ordem consistia em não perder tempo,<br />

por isso nos deslocávamos bem rápido,<br />

a 80 km por hora, desde que o caminho<br />

o permitisse. Uma boa velocidade<br />

para a época. O carro do Gene-<br />

22


Em todos os momentos o grande general se portava com dignidade, procurando<br />

sempre o que mais lhe favorecesse as elucubrações exigidas pela guerra<br />

Acima, Foch (segundo da direita para a esquerda) entre chefes militares<br />

aliados; na página 22, cena da Primeira Guerra Mundial<br />

ral é uma notável Rolls Royce, requisitada<br />

no início da guerra, no momento<br />

em que saía da usina. Destinada<br />

ao representante de uma grande firma<br />

alemã, sua fabricação tinha sido particularmente<br />

bem cuidada.<br />

Então o Foch não usava um jipe<br />

qualquer, mas uma Rolls Royce<br />

“notável”, que lhe propiciava conforto<br />

nos deslocamentos pelas frentes<br />

de combate. Era, como se percebe,<br />

um prolongamento do mesmo<br />

conforto que ele procurava manter<br />

na hora das refeições, do trabalho,<br />

do descanso, etc. Tudo feito com<br />

dignidade, procurando sempre o<br />

que lhe favorecesse o raciocínio e as<br />

elucubrações exigidos pela guerra.<br />

Uma viatura de apoio nos segue<br />

sempre para fazer face ao risco de uma<br />

pane de longa duração. No caso de<br />

um pequeno incidente, ou de um pneu<br />

a trocar, as equipes dos dois automóveis<br />

se põem ao trabalho, enquanto tomamos<br />

a dianteira a pé.<br />

Para ganhar tempo, ir pensando e<br />

também fazer um pouco de exercício.<br />

Recolhimento de um<br />

verdadeiro chefe<br />

Esses mecânicos são tão hábeis e<br />

experientes que raramente chegamos<br />

a andar 1 km sem sermos alcançados<br />

por eles.<br />

Com se vê, o Foch não se preocupa<br />

em dirigir os mecânicos, como um<br />

chefe de quinta classe, que manda<br />

em tudo, aos gritos: “Fulano, aperte<br />

aquele parafuso, verifique o virabrequim!”.<br />

Deixa que os entendidos<br />

façam o conserto. Então, havendo a<br />

necessidade de algum reparo no carro,<br />

ele se afasta e se põe calmamente<br />

a caminhar, sem ostentação. Cada<br />

um faz o que lhe compete. A recíproca<br />

do chefe militar metido a mecânico,<br />

seria a do mecânico metido a<br />

conselheiro de guerra... Quer dizer,<br />

uma completa inversão de valores.<br />

Durante esses trajetos não há lugar,<br />

ao contrário do que acontecia nos<br />

passeios, para outros assuntos senão<br />

os de nossa tarefa.<br />

Foch se deslocava com a determinação<br />

do que deveria se fazer em relação<br />

à guerra. Nada de conversa supérflua.<br />

A recreação havia terminado. Ora<br />

o General pensa alto, ora fica silen-<br />

23


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

cioso por longos momentos, ora formula<br />

uma questão, pede uma opinião<br />

ou imerge novamente em suas<br />

meditações.<br />

Interessante observar que este<br />

“pensar alto” é algo que qualifica a<br />

confiança dele em Weygand. Feliz<br />

o estilo de relações em que o chefe<br />

pode pensar alto diante do subordinado.<br />

Entretanto, ele tinha a preocupação<br />

de fazer sala para seu ajudante<br />

e, por isso, demorava-se em<br />

silêncio, formulava uma pergunta,<br />

pedia uma opinião, sem se considerar<br />

um “<strong>Dr</strong>. sabe-tudo” que não<br />

solicita sugestões a ninguém. Após<br />

uma pausa, ele se recolhe de novo<br />

em suas elucubrações.<br />

Nos dias em que não deixamos o<br />

quartel-general, o trabalho reinicia<br />

depois do passeio; porém, o General,<br />

mais do que de manhã, gosta de<br />

ficar só.<br />

Ou seja, pela manhã ele quase só<br />

recebia o Weygand, e à tarde preferia<br />

ficar sozinho. Esse é o verdadeiro<br />

chefe.<br />

Dura existência<br />

de quem possui mais<br />

responsabilidade<br />

É, aliás, o momento em que freqüentemente<br />

os visitantes se apresentam.<br />

Mas, nunca se escoou uma hora sem<br />

que eu não tenha de comparecer diante<br />

dele, seja a seu chamado, seja por minha<br />

própria iniciativa, para lhe apresentar<br />

um documento ou fazer um relato,<br />

pois ele exige ser posto ao corrente de<br />

tudo, imediatamente. No fim do dia, o<br />

General recebe os oficiais de conexão,<br />

que voltam das missões externas.<br />

Eram os oficiais que se dirigiam<br />

aos vários fronts e regressavam com<br />

notícias. Ele os atendia ao término<br />

do dia, para não atrapalhar o trabalho<br />

habitual.<br />

A refeição noturna, fixada para as<br />

19 horas, interrompe os afazeres que<br />

se reiniciam às 20 horas. A partir desse<br />

momento começam a chegar dos exércitos<br />

os relatórios de fim de jornada, ou<br />

o chefe do 2º Bureau (que é o de espionagem)<br />

vem apresentar ao General a<br />

síntese dos acontecimentos do dia.<br />

Cada dia constitui um todo. Após<br />

o jantar, ele possuía uma visão arquitetônica<br />

de como ocorreu esse todo.<br />

Para dormir sobre o assunto mais<br />

importante, ele queria tranqüilidade;<br />

por isso sua residência situava-se<br />

distante das estradas de grande movimentação.<br />

Às 23 horas exatamente, uma vez<br />

dadas as ordens e feitas as previsões<br />

para o dia seguinte, o General termina<br />

sua jornada. Realizado o trabalho,<br />

ele faz seu repouso regularmente, não<br />

vendo nada de útil num ato de presença<br />

estéril. Suas noites são sempre boas<br />

e podem ser encurtadas como, por<br />

exemplo, durante a batalha de Ypres<br />

ou a ofensiva das bombas de gás.<br />

Ou seja, apenas nas ocasiões de<br />

grandes lances.<br />

Antes de se retirar, o General entra no<br />

meu escritório e se dirige a mim, mais ou<br />

menos invariavelmente, nestes termos:<br />

“Boa noite, Weygand. Vou me deitar, e<br />

recomendo-lhe a fazer o mesmo”. Invariavelmente,<br />

também, eu lhe desejo uma<br />

boa noite, respondo afirmativamente ao<br />

seu convite para ir repousar e me assen-<br />

24


“A existência mais árdua<br />

não é a de quem dorme menos, mas de quem<br />

tem maiores responsabilidades”<br />

Cenas da batalha de Ypres, na Primeira Guerra Mundial, onde<br />

foram usadas as temíveis bombas de gás asfixiante<br />

to de novo. Pois essa é a hora espreitada<br />

por meus oficiais, aquela em que devo<br />

lhes pertencer pelo tempo que tiverem<br />

necessidade, a fim de tratar das questões<br />

que não puderam ser examinadas durante<br />

o dia. É igualmente o momento de<br />

pôr em ordem o jornal de campanha.<br />

Quer dizer, depois que Foch se<br />

retira para dormir, Weygand fará<br />

seu trabalho específico. Até esse<br />

momento ele obedecera; agora será<br />

verdadeiramente chefe do estadomaior.<br />

Em vista disso, alguém poderia<br />

dizer: “Então, é mais folgada a vida<br />

de Foch que a de Weygand”.<br />

Não. Pois a existência mais árdua<br />

não é a de quem dorme menos,<br />

mas daquele que pensa mais e tem<br />

as maiores responsabilidades. E essa<br />

era a do Marechal Foch. Logo, era<br />

natural que seu repouso fosse mais<br />

prolongado.<br />

v<br />

(Continua em próximo artigo.)<br />

1<br />

) Expressão usada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para<br />

indicar, às gerações mais novas, a serena<br />

presença de espírito, notada de<br />

modo característico em pessoas das<br />

antigas gerações, sobretudo quando<br />

postas em circunstâncias adversas.<br />

25


O Santo do mês<br />

Papa<br />

São Fabiano<br />

Fotos: S. Hollmann / T. Ring<br />

“O homem da rua<br />

sobre quem a<br />

Pomba pousou”<br />

Em artigo estampado<br />

na Folha de São Paulo de<br />

3/12/1976, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> procura<br />

conceder a si mesmo algo de<br />

refrigério diante da crescente<br />

agitação que tomava o<br />

mundo moderno. Como?<br />

Tecendo um hino de amor<br />

à santidade do Papado,<br />

a propósito da eleição<br />

providencial de São Fabiano<br />

ao Trono de Pedro.<br />

Apoluição em todas as suas formas, continua problema<br />

atual. Mais especialmente tenho em vista<br />

aqui a poluição moral inerente à vertiginosa decadência<br />

dos costumes, e a poluição mental provocada<br />

pela trepidação da vida hodierna. (...)<br />

26


Uma excursão ao passado<br />

O meio de fugir disso? Uma excursão, por exemplo, ou a<br />

audição de alguns belos discursos, a leitura de um romance,<br />

contentam a vários. Há os que se satisfazem com menos, isto<br />

é, com a ingestão de qualquer comprimido que favoreça<br />

a evasão para as profundidades de sonos insondáveis. Entre<br />

tantos recursos despoluentes, há também a excursão às<br />

extensas regiões do passado, ou seja, a leitura de narrações<br />

históricas. No píncaro destas, existe a legenda, com o encanto<br />

de sua leveza, de seu simbolismo, de seu esplendor.<br />

Para a decepção da maioria e o possível contentamento<br />

de uns poucos, é uma viagem ao passado que proponho<br />

neste fim de semana. Não ao passado histórico, mas<br />

ao passado legendário, tão lato, tão belo, que por alguns<br />

lados parece tocar na própria eternidade. Acabo de ler<br />

um conto tomado mais ou menos a esmo na Légende Dorée,<br />

de Jacques de Voragine. Queres viajar comigo nas<br />

regiões etéreas deste conto, leitor?<br />

De um simples passeio para<br />

a maior das dignidades<br />

Fabiano era um simples romano como outro qualquer.<br />

Um “homem da rua”, como hoje se diria. E sequioso de notícias<br />

como são em todos os tempos os seus congêneres.<br />

Ora, havia em Roma, ainda recente uma grossa novidade:<br />

morrera o Papa. E estava em gestão uma novidade<br />

ainda maior: ia ser escolhido pelo povo o novo Pontífice.<br />

Nosso “homem da rua”, segundo o costume, saiu de casa<br />

e se misturou na multidão, reunida para a augusta escolha<br />

1 . Fabiano julgava chegar atrasado, isto é, a tempo somente<br />

de conhecer o resultado.<br />

E este veio, bem diverso do que Fabiano podia imaginar.<br />

Do alto do Céu baixou uma pomba de esplendorosa<br />

alvura, e pousou sobre a sua cabeça. Por esse fato simbólico,<br />

o Espírito Santo deixava claro que designava Fabiano.<br />

A multidão, piedosamente entusiasmada, escolheuo<br />

Papa. E Fabiano, que saíra à rua para passear, se viu alçado<br />

assim à dignidade inigualável de sucessor daquele de<br />

quem o Salvador disse: Tu és Pedra, e sobre essa pedra edificarei<br />

a minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão<br />

contra ela (Mt 16, 18). E a partir daquele momento a “solicitude<br />

de todas as igrejas” (2 Cor 11, 28) passou a ser a<br />

única preocupação e a única atividade de sua vida.<br />

Suma veneração pelos mártires<br />

Aqueles remotos tempos se assemelhavam de algum<br />

modo aos nossos. A Igreja tinha adversários poderosos<br />

e implacáveis. O sangue dos mártires corria às torrentes<br />

Por extraordinária<br />

intervenção do Espírito<br />

Santo, um homem<br />

da rua, como outro<br />

qualquer,<br />

viu-se de repente<br />

alçado à dignidade<br />

inigualável de sucessor do<br />

Príncipe dos Apóstolos...<br />

Na página 26, São Fabiano<br />

(imagem francesa)<br />

27


O Santo do mês<br />

em toda a vastidão do Império Romano. Também hoje a<br />

Igreja tem inimigos poderosos. E, por toda parte, também<br />

os católicos são perseguidos. É certo que os adversários<br />

de hoje (...) não são brutais como os de outrora. Perseguem<br />

com o sorriso hipócrita nos lábios, e a mão estendida<br />

para a colaboração dolosa. (...) Hipocrisia ou brutalidade<br />

são acidentes. Em substância, o ódio é o mesmo.<br />

Fabiano, cheio de veneração pelos mártires, começou<br />

seu Pontificado enviando por todo o Império sete diáconos<br />

e sete subdiáconos, para que recolhessem por toda a<br />

parte as atas dos martírios. Homem previdente, queria<br />

ele legar assim para toda a posteridade, estas narrações<br />

de uma heroicidade sem igual, escritas pelo sangue dos<br />

homens por amor ao Sangue de Cristo. De sorte que até<br />

a consumação dos séculos servissem de adorno à Igreja.<br />

Vencedor de feras<br />

Mas Fabiano não recebera em vão a visita da Pomba.<br />

O “homem da rua”, presumivelmente pacato e mediano,<br />

transformou-se em herói, e não apenas em colecionador<br />

e compilador de feitos heróicos de outros.<br />

O imperador Filipe levava uma vida cheia de pecados.<br />

Sem embargo, quis assistir às vigílias da Páscoa e<br />

participar dos Santos Mistérios.<br />

Fabiano, (...) em lugar de aceitar a presença escandalosa<br />

do pecador, (...) impediu que Filipe transpusesse<br />

os umbrais sagrados enquanto não confessasse seus<br />

pecados e não aceitasse de se colocar no lugar reservado<br />

então aos pecadores penitentes dentro da Igreja.<br />

Filipe cedeu.<br />

E Fabiano, pela graça da Pomba [isto é, do Espírito<br />

Santo], venceu assim a fera. Feliz da Igreja quando<br />

é governada por varões que, fortalecidos pela Pomba,<br />

não teme as feras!<br />

Bem entendido, as feras não gostam deste trato. No<br />

13º ano de seu Pontificado, o Imperador Décio mandou<br />

decapitar Fabiano. Este é o fim sinistro do “homem da<br />

rua” visitado pela Pomba, e transformado por Ela em um<br />

vencedor de feras.<br />

São Fabiano não<br />

foi apenas um<br />

compilador<br />

de<br />

feitos heróicos<br />

de outros,<br />

mas tornou-se<br />

ele mesmo<br />

um herói e um<br />

mártir da Igreja<br />

À esquerda, catacumbas<br />

de Santa Domitila, Roma;<br />

na página 29, o Coliseu,<br />

também na capital italiana<br />

28


Na glória celeste, aos pés de Maria<br />

Fim sinistro?<br />

Consideremos o desfecho da história, tão e tão elevado,<br />

que a legenda áurea apenas o deixa discretamente subentendido.<br />

No momento em que a cabeça venerável de Fabiano<br />

foi cortada, uma corte rutilante de Anjos, provindo<br />

das alturas excelsas onde reinam o Padre, o Filho e o Espírito<br />

Santo, baixou para receber a alma santíssima do novo<br />

mártir. Fabiano subiu, subiu, levado pelos Príncipes celestes.<br />

Mas, por mais que ele subisse, a Santíssima Trindade<br />

parecia irremediavelmente inacessível. Depois de um<br />

glorioso itinerário através das Hierarquias infindáveis dos<br />

Anjos que o aclamavam e o elevavam com o cântico de<br />

seu afeto, Fabiano, extasiado de felicidade e de glória, foi<br />

deposto pelos Anjos aos pés de Nossa Senhora. E assim<br />

como através de um telescópio os astros mais distantes parecem<br />

aproximar-se de nós, assim também junto ao Coração<br />

de Maria, Fabiano se sentia inteiramente saciado pela<br />

presença de Deus. Como é doce e glorioso contemplar<br />

Deus face a face, aos pés do trono de Maria!<br />

Rogai por nós e pela Igreja!<br />

Nessas alturas celestes terminou o passeio do “homem<br />

da rua”, que fora pacatamente à procura de notícias sobre<br />

quem tinha sido eleito Papa. E até o fim do mundo<br />

haverá homens que digam: “São Fabiano, rogai por nós”.<br />

Eu, por exemplo. E tu também leitor.<br />

“Rogai por nós”. Só isto? Rogai, São Fabiano, pela<br />

Santa Igreja Católica Apostólica Romana. (...)<br />

Ó, rogai pela Igreja, São Fabiano! v<br />

1<br />

) Nos primórdios do Cristianismo os papas eram eleitos pela<br />

aclamação do clero e do povo congregados nas ruas de Roma<br />

para esta finalidade. A partir de 769 ficou estabelecido<br />

que o Sumo Pontífice seria escolhido apenas pelo clero romano,<br />

mantendo-se a aclamação popular como mera formalidade.<br />

Em 1059, o Sínodo de Latrão reservou aos cardeais<br />

o direito de eleger o novo sucessor de Pedro (cf. Legenda<br />

Áurea, Cia. das Letras, São Paulo).<br />

29


Luzes da Civilização Cristã<br />

O ideal expresso em beleza<br />

Aalma alemã, quando não influenciada<br />

por certas tendências<br />

contrárias ao espírito<br />

católico, é meditativa, idealista,<br />

voltada para a constante procura<br />

de uma realidade superior, invisível<br />

e metafísica. Esse apelo de alma<br />

germânico encontra-se, bastante<br />

deteriorado, nas composições de um<br />

Wagner, por exemplo. E se acha, em<br />

todo o seu esplendor, em toda a sua<br />

ousadia de vôo, na Catedral de Colônia.<br />

À primeira vista, dir-se-ia apenas<br />

duas torres, ligadas por um peque-<br />

Fotos: H. Goedert<br />

30


Na página 30 e nesta: vistas<br />

do interior e da fachada da<br />

Catedral de Colônia,<br />

Alemanha<br />

31


Luzes da Civilização Cristã<br />

no corpo central de edifício, espremido,<br />

quase como um belo hífen que<br />

as une.<br />

As torres se lançam vertiginosamente<br />

para o alto, concebidas na<br />

idéia de levar o espírito para cima<br />

e, nessa vigorosa ascensão parecem<br />

emular entre si, imergindo cada qual<br />

num dos olhos do observador, atraindo-os<br />

a extraordinárias alturas. Tanto<br />

são leves, esguias, sem abandonar<br />

a característica robustez alemã.<br />

Sozinhas, essas torres perderiam<br />

algo de sua formosura, ficariam desproporcionadas,<br />

claudicantes. Pelo<br />

contrário, juntas, harmonizam-se,<br />

apóiam-se para subir. A elevação extrema<br />

a que chegam é compensada<br />

pela base, e por um ponto invisível<br />

de equilíbrio — mais uma vez: metafísico<br />

— que paira nos ares, elo de<br />

junção insuspeitado das duas torres,<br />

que o espírito idealiza e o olhar não<br />

percebe. Este é o ponto de união no<br />

mais alto dos altos das duas torres da<br />

Catedral de Colônia.<br />

À medida que se erguem, elas se<br />

afilam, se adelgaçam, acentuando a<br />

extensão da altura, como se se perdessem<br />

nas nuvens. O próprio rendilhado<br />

de pedras em que terminam<br />

as torres reforçam essa idéia de irreal:<br />

já meio céu, meio terra, meio<br />

obra do homem, meio obra de Deus,<br />

O rendilhado<br />

das pedras acentua<br />

a idéia de irreal,<br />

meio céu,<br />

meio terra, meio<br />

obra do homem,<br />

meio obra de Deus<br />

Acima e na página 33: fachada da<br />

Catedral de Colônia, Alemanha<br />

32


33


Luzes da Civilização Cristã<br />

As ogivas crescem<br />

para o firmamento<br />

e disputam<br />

com as torres a<br />

primazia nas alturas!<br />

Vitral e abóbada da<br />

Catedral de Colônia; na<br />

página 35, outra vista de sua<br />

monumental fachada<br />

dentro da ilusão de ótica de quem as<br />

contempla do solo. As últimas pontas<br />

de alvenaria, não conseguindo<br />

ir mais longe, morrem sobre si mesmas<br />

com elegância e distinção. Tudo<br />

é feito para se afinar, afinar, afinar,<br />

subir...<br />

Suas ogivas também crescem para<br />

o firmamento, e tendem a disputar<br />

com as torres a primazia nas alturas.<br />

Ao contrário da fantasia oriental,<br />

patente nos minaretes das mesquitas,<br />

tão frágeis e delgados, a Catedral<br />

de Colônia é a expressão da<br />

fantasia ocidental: um mundo de pedras,<br />

sólida, com sua base forte, possante,<br />

cravada no chão, maravilhosamente<br />

compacta até o momento em<br />

que as duas torres se separam e começam<br />

seu vôo.<br />

É a manifestação do gênio da<br />

Idade Média que se mostra nessas<br />

belezas, lavorado de forma idealista,<br />

em busca dos esplendores indizivelmente<br />

magníficos que nos<br />

aguardam no Paraíso. v<br />

34


35


Chave da nossa salvação<br />

Virgem e o Menino -<br />

Museu Metropolitan<br />

de Nova York<br />

G. Kralj<br />

Maternal e infalível advogada dos homens junto a seu Divino Filho, Maria Santíssima<br />

nos conheceu a cada um de nós antes que A conhecêssemos, amou-nos antes<br />

que A amássemos, e no trajeto — breve ou longo — que devemos percorrer rumo<br />

ao Céu, é d’Ela, em nosso favor, a primeira assim como a última palavra.<br />

Donde nossa peregrinação rumo à pátria celestial cumpre se fazer na serenidade, com um ato de<br />

confiança completa: “Ela deseja me salvar mais do que eu mesmo e, portanto, com Ela caminho<br />

em paz. A chave de minha salvação está nas mãos de Nossa Senhora”.

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