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Revista Dr Plinio 100

julho de 2006

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Publicação Mensal Ano IX - Nº <strong>100</strong> Julho de 2006<br />

Edição • Especial •<br />

Nº -<br />

<strong>100</strong><br />

... e sua fé<br />

na Santa Igreja


A<br />

ossatura e a certeza de minha alma são o amor e a obediência<br />

à Santa Sé. A tal ponto que posso me definir espiritualmente<br />

como sendo escravo de Maria, e intelectualmente,<br />

como escravo da Santa Sé, aderindo a ela em tudo, por tudo,<br />

em todas as circunstâncias. A segurança de meus raciocínios<br />

se baseia no fato de serem desdobramentos da doutrina da Igreja,<br />

pois se algo há de que estou seguro, é da vinculação efetiva, indestrutível,<br />

entre Nosso Senhor, Nossa Senhora e a Santa Sé Católica<br />

Apostólica Romana. E quem diz Santa Sé, diz, sobretudo, o Papa.<br />

O Papado é o centro da Igreja. A Igreja é o centro<br />

de nossa vida. Logo, o Papado é o centro<br />

de nossa existência.<br />

<strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira.<br />

V. Toniolo<br />

Basílica de<br />

São Pedro - Roma


Sumário<br />

Publicação Mensal Ano IX - Nº <strong>100</strong> Julho de 2006<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

... e sua fé<br />

na Santa Igreja<br />

Na capa,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1987<br />

Foto S. Miyazaki<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Jornalista Responsável:<br />

Othon Carlos Werner – DRT/SP 7650<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Marcos Ribeiro Dantas<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Santo Egídio, 418<br />

02461-010 S. Paulo - SP - Tel: (11) 6236-1027<br />

E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />

Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

Rua Barão do Serro Largo, 296<br />

03335-000 S. Paulo - SP - Tel: (11) 6606-2409<br />

Editorial<br />

4 Católico, apostólico e plenamente romano<br />

Datas na vida de um cruzado<br />

5 Julho de 1945: Consagração da Arquidiocese<br />

de São Paulo ao Imaculado Coração de Maria<br />

Dona Lucilia<br />

6 Predicados coroados pela<br />

virtude<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

10 Lutas e glórias nos<br />

caminhos da vocação<br />

“R-CR” em perguntas e respostas<br />

16 Orgulho e igualitarismo<br />

Gesta marial de um varão católico<br />

18 “Creio na Santa Igreja Católica<br />

Apostólica Romana!”<br />

Eco fidelíssimo da Igreja<br />

54 Rei e centro dos corações - II<br />

Preços da assinatura anual<br />

Julho de 2006<br />

Comum. . . . . . . . . . . . . . R$ 85,00<br />

Colaborador.. . . . . . . . . . R$ 120,00<br />

Propulsor. . . . . . . . . . . . . R$ 240,00<br />

Grande Propulsor. . . . . . R$ 400,00<br />

Exemplar avulso.. . . . . . . R$ 11,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />

O Santo do mês<br />

60 Santo Inácio de Loyola –<br />

Alma repleta de lógica e enlevo<br />

Luzes da Civilização Cristã<br />

67 Maravilhosa “neta” do Criador<br />

Última página<br />

72 Maternal bonança


Editorial<br />

Católico, apostólico<br />

e plenamente romano<br />

Oséculo XX, que agoniza lânguido e sem glória, foi marcado de um extremo ao outro pela luminosa<br />

trajetória de um homem que amou tão ardorosamente a Santa Igreja, que não desejou se colocasse<br />

em seu túmulo outra inscrição senão esta: “<strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira, vir totus catholicus<br />

et apostolicus, plene romanus — varão todo católico e apostólico, plenamente romano”.<br />

Estas palavras iniciais da apresentação do primeiro número de “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>” não poderiam ser mais<br />

adequadamente recordadas do que agora, ao vir a lume sua centésima edição. Com efeito, ao longo<br />

dos milhares de páginas até aqui publicadas, foi-nos dado conhecer e admirar variados aspectos da<br />

rica alma de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, sua vida, seus ensinamentos e explicitações, sua grandiosa obra apostólica e,<br />

acima de tudo, os inabaláveis pilares de sua espiritualidade: uma ardorosa devoção ao Sagrado Coração<br />

de Jesus e à Santíssima Virgem, vinculada a um filial, irrestrito e entranhado amor à Santa Igreja<br />

e ao Sucessor de Pedro.<br />

Católico apostólico romano. Vocábulos que falavam tão a fundo à alma de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, que não os<br />

podia ouvir, dirigidos a ele, sem sentir todo o seu ser vibrando de emoção. Mais de uma vez, aqueles<br />

que tiveram a inestimável ventura de conviver com esse exemplar filho da Igreja, viram-no reter o fôlego<br />

e embargar a voz, ao discorrer sobre as maravilhas, as adversidades e as glórias da Esposa Mística<br />

de Cristo.<br />

Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, era a Santa Igreja o sol de sua existência, a razão de sua vida; os interesses dela,<br />

eram os seus; as lutas, alegrias, as dores e os triunfos da Igreja, eram seu próprio triunfo, suas dores,<br />

suas lutas e alegrias. Por isso escreveu:<br />

“Todos nós temos a graça de pertencer à Igreja, de sermos pedras vivas da Igreja! Como devemos agradecer<br />

este favor! Não nos esqueçamos, porém, de que noblesse oblige. Pertencer à Igreja é coisa muito<br />

alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja<br />

quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma<br />

pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera. Em outros termos, supõe o<br />

sacrifício de uma existência inteira.<br />

“E qual é o prêmio? Christianus alter Christus. Eu serei de modo exímio uma reprodução do próprio<br />

Cristo. A semelhança de Cristo se imprimirá, viva e sagrada, em minha própria alma.”<br />

Assim, à luz de tão fervorosos sentimentos, cremos não haver melhor meio de assinalar esta centésima<br />

edição do que recordarmos e admirarmos, uma vez mais, algumas cintilações da extrema catolicidade<br />

de <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira.<br />

*<br />

Ao nos ser permitido transpor o presente marco editorial, tributamos nossa profunda gratidão à<br />

Santíssima Virgem, que junto a seu Divino Filho nos alcança graças especiais e nos infunde as necessárias<br />

disposições de espírito com as quais se leva a bom termo qualquer esforço por Ela empreendido;<br />

e ao próprio <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, que — acreditamos — não deixa de inspirar e favorecer estas páginas, filial<br />

e enlevadamente a ele dedicadas.<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.


Datas na vida de um cruzado<br />

Julho de 1945<br />

Consagração da Arquidiocese de São<br />

Paulo ao Imaculado Coração de Maria<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> por volta de 1945<br />

N<br />

o dia 16 de julho de 1945, pelas mãos<br />

de seu Pastor, a Arquidiocese de São<br />

Paulo foi oficialmente consagrada ao<br />

Imaculado Coração de Maria. Já renomado líder<br />

católico e grande propugnador da devoção<br />

a Nossa Senhora, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, ao considerar esse<br />

augusto acontecimento, assim se exprimiu nas<br />

páginas do Legionário:<br />

Quando uma Arquidiocese se consagra a Nossa<br />

Senhora, ou mais especialmente a seu Imaculado<br />

Coração, seu ato pressupõe várias disposições<br />

internas, das quais queremos focalizar: 1) renúncia<br />

formal a tudo quanto a incompatibilizava com<br />

a Virgem Santíssima, isto é, a todos os pecados, a<br />

todas as heresias, a todo o desleixo na prática da<br />

Religião; 2) propósito de honrar, servir, glorificar<br />

de modo muito especial a Nossa Senhora; 3) e súplica<br />

que ela aceite essas disposições, e cubra com<br />

sua especial assistência a pessoa que assim a ela<br />

se consagra.<br />

Na consagração pomos, pois, um propósito negativo:<br />

nada fazer contra Aquela a Quem nos consagramos.<br />

Um propósito positivo: fazer tudo por<br />

Ela. E uma súplica: que Ela aceite essa oferenda e<br />

por sua vez nos cubra com sua especial tutela.<br />

Ora, nada disto é simbólico. Quando seriamente<br />

pensado, querido, executado, é de uma realidade<br />

e de uma gravidade transcendentais. E nem estas<br />

coisas podem ser feitas sem maturidade e ponderação:<br />

pois que fazê-las levianamente seria, ao<br />

pé da letra, tomar em vão o Santo Nome de Deus.<br />

Com efeito, aparecendo aos Pastores de Fátima,<br />

a Virgem Santíssima prometeu as maiores<br />

graças, como fruto da consagração a seu Imaculado<br />

Coração. Inútil insistir sobre a importância de<br />

uma promessa d’Aquela a Quem a Igreja chama<br />

“Virgo Fidelis”. Em rigor, porém, por mais confortadora<br />

que essa promessa seja, ela não é indispensável.<br />

Nossa Senhora é Mãe. Qual a mãe zelosa<br />

que ouviria distraidamente, negligentemente as<br />

carícias de seus filhos? Qual a Mãe que diante de<br />

sua família, toda reunida para lhe tributar homenagem,<br />

houvesse de desviar indiferente o pensamento,<br />

e houvesse de retribuir com a máxima frieza<br />

interior, a todo o carinho de que estivesse sendo<br />

objeto? Tendo diante de si uma Arquidiocese inteira,<br />

Maria Santíssima haveria de se mostrar indiferente<br />

a essa consagração? Haveria de fechar os<br />

olhos a nossos propósitos e recusar nossa súplica?<br />

Evidentemente, jamais. E por mais profunda<br />

que fosse a excelência de disposições do melhor e<br />

do mais santo dos povos em se consagrar a Maria<br />

Santíssima, ainda muito mais profunda é a<br />

sua deliberação em aceitar e corresponder à nossa<br />

consagração.<br />

De onde se deduz, tudo bem pesado, que o fruto<br />

da consagração é o estabelecimento de um vínculo<br />

real e especial entre o Coração de Maria e<br />

nós, e que esse vínculo, pondo-nos em posição<br />

privilegiada perante a Rainha do Céu, influirá de<br />

modo feliz em toda a economia espiritual do Arcebispado.<br />

v<br />

Arquivo revista


Dona Lucilia<br />

Predicados coroados<br />

pela virtude<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

Em casa dos Ribeiro dos Santos<br />

tudo era harmônico, lógico<br />

e proporcionado. Esse<br />

equilíbrio, que se espelhava com<br />

mais intensidade no modo de ser e<br />

de ver a vida, estava presente também<br />

nas finanças da família.<br />

Dona Lucilia dirá, no futuro, que<br />

os seus nunca procuraram a riqueza<br />

com sofreguidão, embora fossem<br />

abastados, dispusessem de conforto<br />

e de um teor de existência que, além<br />

de distinto, chegava quase ao luxo.<br />

De modo geral, a vida no Brasil<br />

daqueles tempos transcorria em<br />

meio a uma economia estável. Daí<br />

serem as fortunas particulares muito<br />

seguras, resultantes especialmente<br />

da aplicação em imóveis, regra à<br />

qual não faziam exceção os Ribeiro<br />

dos Santos.<br />

Recebendo o “Seu” Lago<br />

Uma criada bate à porta da sala<br />

na qual Dª Gabriela, sentada numa<br />

cadeira de balanço, termina seu crochet.<br />

— O que é? — pergunta.<br />

— Seu Lago já está aqui — responde<br />

a criada.<br />

— Conduza-o ao escritório, e diga-lhe<br />

que espere, não demoro em<br />

atendê-lo.<br />

Incumbia a Seu<br />

Lago o despretensioso<br />

serviço de todos<br />

os meses percorrer algumas<br />

casas pertencentes aos Ribeiro<br />

dos Santos, em São Paulo, receber<br />

o dinheiro do aluguel e depositá-lo<br />

num banco. Para encontrar-se com<br />

Dª Gabriela, a quem devia entregar<br />

o comprovante bancário, preparavase<br />

com esmero: vestia o melhor traje<br />

domingueiro, camisa impecavelmente<br />

branca, de peito duro, sapatos<br />

bem engraxados.<br />

Já faz 15 minutos que Seu Lago<br />

espera, quando Dª Gabriela, grave<br />

e cerimoniosamente, entra na sa-


la. Respeitoso, Seu Lago se levanta e<br />

a dama estende-lhe a mão, dizendo<br />

com bondade:<br />

— Seu Lago, como vai? Vai bem?<br />

Os seus vão bem?<br />

Tomado de grande veneração por<br />

Dª Gabriela, e encorajado pelo modo<br />

amável de ela dirigir-lhe a palavra,<br />

Seu Lago não resiste em contar<br />

a doença de algum netinho ou qualquer<br />

outra dificuldade familiar.<br />

Quando apresenta o comprovante<br />

bancário a Dª Gabriela, esta, com<br />

distinção, põe o pince-nez e verifica<br />

os números, dizendo em seguida:<br />

— Está muito bem. Então não<br />

há mais nada de novo?<br />

Quase sempre ele garante<br />

que não há novidade — ou<br />

seja, nenhum problema com inquilinos<br />

a resolver. Tranqüilizada, diz Dª<br />

Gabriela:<br />

— Então, muito obrigada.<br />

Seu Lago, percebendo já ser hora<br />

de se retirar, levanta-se enquanto ela<br />

o cumprimenta. Tudo se passa com<br />

afabilidade, e Seu Lago sai reconfortado<br />

pela consideração com que foi<br />

tratado.<br />

A antiga senhora e a<br />

ex-escrava recordam<br />

os velhos tempos<br />

Esta outra cena parece inspirada<br />

numa página da Condessa de Ségur:<br />

Mantendo seu porte imponente,<br />

sem diminuir em nada a amabilidade<br />

de dama brasileira do século XIX,<br />

Dª Gabriela tinha o costume de receber<br />

— e isto até a ancianidade —<br />

a freqüente visita de uma antiga escrava<br />

que, em Pirassununga, servia<br />

a uma amiga sua. Convidava-a sempre<br />

para a sala de jantar, oferecendo-lhe<br />

uma cadeira de balanço, enquanto<br />

ela própria se sentava em outra.<br />

Então, num calmo embalo, conversavam<br />

longa e distendidamente<br />

sobre aqueles remotos tempos:<br />

— Sinhara! Lembra daquela ocasião<br />

em que o Imperador e a Imperatriz<br />

foram lá, como a cidade estava<br />

em festa? E aquele povo todo que<br />

apareceu vindo das fazendas?...<br />

— Ah! Não posso me esquecer...<br />

Foi um dia de muita alegria!<br />

— É... E como estava tudo uma<br />

maravilha, hein Sinhara! Bom... e<br />

também, como estava linda a Sinhara<br />

com aquele vestido de seda azul.<br />

Todas as outras também estavam<br />

muito bem vestidas, com tanto luxo,<br />

que dava gosto ver... Meu Sinhô<br />

tinha me mandado levar um recado<br />

ao <strong>Dr</strong>. Antônio. — A velha negra<br />

pára um instante, os olhos sonhadores,<br />

antes de continuar. — E Sinhazinha<br />

Lucilia, tão pequenininha, foi<br />

com Sinhara visitar a Imperatriz no<br />

vagão... Como foi mesmo que ela falou<br />

à menina?<br />

— Bem, Sua Majestade...<br />

E assim ia o diálogo, com um tom<br />

de voz apenas audível a quem passasse<br />

por perto — a ex-escrava com respeito<br />

e confiança, a dama com gran-<br />

Como velhas amigas,<br />

num calmo embalo,<br />

a senhora e a exescrava<br />

trocavam<br />

reminiscências<br />

Dona Gabriela e sua<br />

cadeira de balanço,<br />

herdada por Dona Lucilia


Dona Lucilia<br />

deza e bondade, tudo sob um olhar<br />

fortuito, discreto e admirativo da jovem<br />

Lucilia.<br />

Virtudes que eram como<br />

“belas flores, viçosas”<br />

Assim, muito estáveis e sempre<br />

exímios na arte do convívio, os Ribeiro<br />

dos Santos faziam questão de<br />

manter um relacionamento cerimonioso,<br />

mesmo na intimidade do lar.<br />

Bondade e respeito, cortesia e gravidade,<br />

dignidade em todo caso, predicados<br />

admiráveis que na alma de Lucilia<br />

apareciam coroados pelo ouro<br />

da virtude!<br />

Disso temos eco na pequena poesia,<br />

composta por <strong>Dr</strong>. Antônio, por<br />

ocasião de um aniversário de sua<br />

querida filha, para ser recitada por<br />

uma irmã dela:<br />

O que poderei dizer-te<br />

Que te exprima a gratidão<br />

Pela bondade sem conta<br />

De teu santo coração?<br />

Nada posso, mas meus olhos<br />

Não ocultam a alegria<br />

Que sinto n’alma inocente<br />

Neste tão faustoso dia.<br />

Esta alegria, bem a vês,<br />

É filha da gratidão,<br />

Pois sinto quanto te deve<br />

Meu infantil coração.<br />

Tanto amor, tanta bondade<br />

Com que me hás sempre tratado<br />

São belas flores, viçosas,<br />

Que em meu peito tens plantado.<br />

São flores, mas flores d’alma<br />

Eternas, como ela o é.<br />

Incenso que arderá sempre<br />

Como perfume da Fé.<br />

Sente, pois, o que digo<br />

Como a fiel expressão<br />

Do que por ti tenho n’alma<br />

De amizade e gratidão.<br />

A poesia composta<br />

por <strong>Dr</strong>. Antônio,<br />

com louvores às<br />

virtudes de sua<br />

querida filha Lucilia<br />

Atravessando a barreira dos<br />

tempos, testemunham esses versos<br />

o caráter afetivo e benevolente<br />

de Lucilia.<br />

Com o correr dos anos, essas<br />

virtudes de tal maneira se acrisolaram<br />

que, na perspectiva de fazer<br />

o bem, estava disposta a sacrificar<br />

até mesmo conveniências pessoais.<br />

Bondade que nada<br />

podia abalar<br />

Certa feita, ao se ver numa situação<br />

difícil, uma senhora abastada<br />

não encontrou melhor saída do que<br />

escrever a <strong>Dr</strong>. Antônio, queixando-se<br />

de estar adoentada e não ter<br />

quem dela tratasse. Por ser boa amiga<br />

e cliente, ele a convidou, de comum<br />

acordo com Dª Gabriela, a se<br />

hospedar uns tempos em sua casa,<br />

onde suas filhas velariam por ela.<br />

Transbordante de afeto, Lucilia<br />

prontamente se desdobrou no atendimento<br />

à enferma, cujo mal exigia<br />

esmerados cuidados.<br />

Uma pessoa de casa, notando não<br />

estar a doente à altura da dedicação<br />

de que era objeto, afirmou depois de<br />

alguns dias:<br />

— Lucilia, não seja boba em se<br />

aplicar tanto no tratamento dessa senhora.<br />

Quer saber o que vai acontecer?<br />

Quando ela ficar boa e estiver<br />

para ir embora, não lhe agradecerá;<br />

talvez lhe diga um simples “muito<br />

obrigada”, e logo se esquecerá de<br />

você... Mas, àquela outra que só passa<br />

alguns instantes com ela para lhe<br />

contar alguma historieta engraçada,<br />

é que ficará agradecida!...<br />

Lucilia, com serenidade, respondeu:<br />

— Bem, mas estou fazendo isso<br />

porque papai quer, e por amor de<br />

Deus. A obra de misericórdia fica<br />

cumprida.<br />

A hóspede acabou sarando e, antes<br />

de partir, à hora das despedidas,<br />

disse secamente à sua benfeitora:<br />

— Lucilia, até logo, obrigada.<br />

Para a outra, cálidas efusões:<br />

— Fico-lhe muito agradecida! Você<br />

foi um anjo para mim, divertiume,<br />

contou-me tantas coisas engraçadas,<br />

animou meu espírito!


A jovem<br />

Lucilia aos<br />

16 anos<br />

Tendo-se retirado a ingrata, a que<br />

fora cumulada de louvores lembrou:<br />

— Viu? Não lhe disseram? Deixe<br />

de se dedicar assim a quem é ruim,<br />

porque você só receberá pedradas.<br />

— Mas o bem fica feito — redargüiu<br />

tranqüila Lucilia.<br />

Foi com essa mesma disposição<br />

de aliviar o sofrimento alheio que a<br />

bondade sem conta de seu santo coração<br />

haveria de consolar, noutras ocasiões,<br />

o próximo que desta solicitude<br />

tanto necessitava.<br />

(Transcrito, com adaptações,<br />

da obra “Dona Lucilia”,<br />

de João Clá Dias)


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

Lutas e glórias<br />

nos caminhos da vocação<br />

O rei encontrou na rua um menino que lhe recordou a<br />

fisionomia do príncipe herdeiro, há pouco falecido. Adotado pelo<br />

monarca, o rapaz abraça a vocação de pertencer à linhagem real,<br />

de viver na dedicação àquele que o trouxe para uma existência<br />

árdua, porém gloriosa. A história de todo homem que recebe o<br />

chamado divino encontra, nas palavras de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, uma de suas<br />

mais atraentes e formativas descrições.<br />

Em nossa anterior exposição 1 sobre o tema da vocação<br />

havíamos considerado o chamado de Deus<br />

dirigido a cada um de nós para enveredarmos pelos<br />

caminhos da virtude e da santidade, ouvindo a voz da<br />

graça em nosso interior, rejeitando o mal e nos colocando<br />

a serviço da Santa Igreja e da Cristandade.<br />

Deus, a rogos de Maria, nos convidou para como que<br />

fazermos parte de sua linhagem neste mundo, assim como<br />

o rei hipotético daquela metáfora ofereceu ao menino<br />

que encontrou na rua a descendência de seu trono.<br />

Lembrança do momento decisivo<br />

Nesse sentido, cada um pode se lembrar do momento<br />

de sua vida em que tudo foi disposto pela Providência<br />

para que desse uma resposta afirmativa a um determinado<br />

chamado de Deus, convidando-o a participar de<br />

nosso apostolado. Passo a passo, a graça o ajudou, mesmo<br />

quando hesitava ou se achava tentado a lhe voltar as<br />

costas apavorado; o amparo do Céu o confortou. Nessas<br />

horas sentia-se afagado por uma bondade especial, uma<br />

consolação, após o que caminhou para frente. Porém,<br />

não sabia para onde progredia, até que em seu horizonte<br />

surgiu nosso movimento. O coração lhe pulsou mais<br />

forte no peito, e pensou: “Nunca vi algo assim, pessoas<br />

10


Fotos: S. Miyazaki / S. Hollmann<br />

“Cada um pode se lembrar do<br />

momento em que respondeu a um<br />

determinado chamado de Deus”<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos anos 80; à esquerda,<br />

embaixo, Príncipe Baltasar Carlos, por<br />

Velásquez - Museu do Prado, Madrid<br />

11


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

constituindo de tal maneira um todo harmônico na defesa<br />

do bem. Que maravilha! Farei parte desse movimento<br />

e servirei a Nossa Senhora!”<br />

Uma trajetória de lutas,<br />

cumulada de glória<br />

Começou a freqüentar nossas sedes, a conhecer mais<br />

a fundo a doutrina católica, os Mandamentos da Lei de<br />

Deus, e, em certo dia, ouviu pronunciarem uma palavra<br />

que exprimia essa virtude que procurava, talvez sem o saber:<br />

castidade. Mais alva e rutilante do que uma pérola,<br />

mais doce que o mel, mais luminosa que a lua do luar do<br />

sertão. Castidade!<br />

Indagou do seu significado e lhe falaram de pureza. O<br />

novato logo se encantou: “Oh! A pureza! Desejo-a para<br />

a vida inteira!”<br />

Pouco tempo depois, explicaram-lhe o processo revolucionário,<br />

a Contra-Revolução, e entendeu a trajetória<br />

que se abria para ele, semeada de pugnas e trabalhos pelos<br />

interesses da Igreja, mas também semeada de glórias.<br />

A beleza da luta nasceu para cada um como um sol. Tudo<br />

acompanhado de entusiasmo, alegria, embevecimento,<br />

tendo a impressão de que vivia num paraíso.<br />

Segundo a Escritura, ao entardecer no Éden terrestre,<br />

quando soprava a brisa, Deus descia para conversar com<br />

Adão (cf. Gn 3, 8). Dir-se-ia que, nessa época de consolações,<br />

vez por outra Nossa Senhora vinha do Céu e falava<br />

a cada um...<br />

A prova que confirma a vocação<br />

Contudo, assim como o rei submeteu o futuro príncipe<br />

herdeiro a algumas provas a fim de que este confirmasse<br />

o acerto de sua escolha, também Nossa Senhora,<br />

que tanto nos prometeu e concedeu, tem o direito de<br />

expor nossa alma à provação. Cumpre que esta sobrevenha,<br />

e devemos desejá-la. É árdua, dura, mas queremos<br />

mostrar nossa gratidão. E não só mostrá-la, mas exercitála.<br />

Almejamos ser como o filho adotivo do rei.<br />

Donde, às vezes, apagar-se para nós o esplendor da<br />

vocação. Não degustamos mais o sabor da fidelidade;<br />

as delícias de praticar o bem desaparecem. Entretanto,<br />

por detrás das nuvens Nossa Senhora acompanha nossa<br />

alma. Mais. Ela se acha dentro de nós, obtendo-nos graças<br />

especiais de perseverança, e nos auxilia com sua maternal<br />

solicitude. Não o percebemos. Pensamos que andamos<br />

sozinhos, e nos perguntamos: “Nesse desamparo<br />

em que já não sinto o paraíso de outrora, haverá alguma<br />

culpa de minha parte? Ó meu Deus! Fostes tão<br />

bom para comigo que sempre confiarei em Vós! Confiança,<br />

pois!”<br />

A esse propósito recordo uma frase dos Salmos que<br />

muito me agrada: Nam et si ambulavero in valle umbrae<br />

mortis, non timebo mala (Sl 23, 4). “Ainda que eu caminhe<br />

nas vias sombrias da morte, não temerei os males”,<br />

porque Deus é meu Pai e me perdoará, Nossa Senhora<br />

é minha Mãe e rezará por mim. Confiança! Confiança!<br />

Confiança!<br />

Horas em que o mal<br />

empalidece a nossos olhos<br />

Passamos, então, por rudes provações na vida espiritual,<br />

progredimos e, de súbito, o demônio começa a nos<br />

tentar de forma mais insistente, eclipsa-se o horizonte de<br />

consolações na trilha que palmilhávamos, anoitece no<br />

paraíso de nossa vocação. O maligno procura fazer apagar<br />

em nosso espírito a recordação dos aspectos censuráveis<br />

do mundo que deixamos quando aceitamos o chamado<br />

de Deus. Perdemos a idéia da iniqüidade da Revolução<br />

anticristã e somos levados a achar que os adversários<br />

da Igreja não são tão ruins conforme nos dizem.<br />

Aquele que se deixa iludir por<br />

esse estado e não quer se levantar,<br />

procura abafar a<br />

consciência, a qual lhe<br />

faz perguntas tais como:<br />

“Considere, por<br />

exemplo, as leis contrárias<br />

aos mandamentos<br />

divinos que são aprovadas<br />

em tantos países.<br />

Não acha que isto seja<br />

uma coisa má?”<br />

E o indeciso responde<br />

a si mesmo: “É...<br />

Mas eu conheço tais<br />

e tais pessoas que,<br />

embora segui-<br />

S. Hollmann<br />

12


P. Veas<br />

Por detrás das nuvens carregadas da provação,<br />

Maria Santíssima acompanha nossa alma e<br />

nos ampara com sua maternal solicitude<br />

À esquerda, A Virgem e o Menino - Museu Cluny, Paris<br />

doras de leis desse gênero, vivem de modo mais caritativo<br />

que outros, ditos fiéis aos ensinamentos da Igreja. Dão<br />

esmolas, auxiliam instituições filantrópicas, e uma obteve<br />

para mim aquele emprego de que tanto necessitava. Se<br />

foi boa para mim, não vou dizer que é má...”<br />

Dessa forma Deus vai sendo posto de lado. Não é mais<br />

o ponto de referência de tudo: pois se alguém ofende o<br />

Altíssimo, ainda que seja bom para comigo, é uma pessoa<br />

ruim, pois foi má para com Deus.<br />

Neste processo de relaxamento em olhar de maneira<br />

complacente as coisas ruins do mundo, começa-se a ter<br />

saudades delas, das más companhias que nos levavam a<br />

pecar: “Eram engraçadas, e até bem-intencionadas...”<br />

Gratidão para com o Rei que<br />

um dia nos acolherá no Céu<br />

Algo semelhante pode acontecer a qualquer<br />

membro de nosso movimento. É o Pai-Rei que adotou<br />

o filho plebeu, cumulou-o de bens, mas, agora,<br />

deseja uma prova de gratidão. E no caso concreto<br />

de nossa vocação, Deus espera que cada um diga:<br />

“A verdade não é o que aparece aos meus olhos<br />

turbados por uma prova interior muito grande, e<br />

sim o que ensina a Santa Igreja Católica Apostólica Romana<br />

à qual quero ser fiel nas mais terríveis aridezes e<br />

provações.<br />

“Dela recebi o Batismo, inúmeras vezes o Corpo e o<br />

Sangue de Cristo presentes na Sagrada Eucaristia, pelo<br />

Sacramento da Penitência recuperei o estado de graça<br />

perdido por culpa de minha miséria. Ela me proporcionou<br />

a vocação que jamais largarei. Mesmo caminhando<br />

nas trevas, sentindo-me abandonado por todos e até<br />

por Deus, não morrerá em minha alma a convicção de<br />

que o Redentor nunca se esquecerá deste filho. A Mãe<br />

d’Ele reza por mim no Céu, e suas preces tudo alcançam<br />

a nosso favor, inclusive todos os perdões. Vou para<br />

frente!”<br />

Dessa forma o filho cumulado de graças e dons restitui<br />

o que recebeu. E torna-se pronto para que Deus lhe<br />

envie outras provações nas quais dará novas manifestações<br />

de heroísmo. E após a sua morte, pelos rogos misericordiosos<br />

de Maria Santíssima, Nosso Senhor o introduzirá<br />

no Paraíso, dizendo: “Eis um combatente a mais<br />

neste universo de heróis que é o Reino dos Céus!” v<br />

1) Cf. “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>” número 96.<br />

13


Calendário dos Santos<br />

1. Santo Araão, 1471 a.C. Irmão<br />

de Moisés e Sumo Sacerdote. Deu<br />

os ritos ao povo eleito e origem à<br />

família sacerdotal dos levitas. Como<br />

Moisés, não entrou na terra<br />

prometida e, ao morrer, foi enterrado<br />

no Monte Hor.<br />

2. 13º Domingo do Tempo Comum.<br />

No Brasil, Festa de São Pedro e<br />

São Paulo, Apóstolos.<br />

São Bernardino Realino, Presbítero<br />

da Companhia de Jesus, 1530-<br />

1616. Italiano, dedicou-se ao apostolado<br />

e à caridade com os prisioneiros<br />

e os doentes.<br />

3. São Tomé, Apóstolo, séc. I.<br />

Chamado “Dídimo” (que significa<br />

o “Gêmeo”), um dos doze Apóstolos.<br />

Evangelizou a Índia e está sepultado<br />

na Catedral de Madras, no<br />

sul daquele país.<br />

4. Santa Isabel, Rainha de Portugal,<br />

1271-1336. Terciária franciscana.<br />

Santo Ulrique (Uldaricus, Ulrico)<br />

Bispo de Augsburg, na Baviéra,<br />

890-973.<br />

5. Santo Antônio Maria Zaccaria,<br />

Presbítero, séc. XVI.<br />

6. Santa Maria Goretti, Virgem<br />

e Mártir, 1890-1902. Admirável em<br />

virtude, foi mártir por defender sua<br />

pureza. Pio XII a canonizou no Ano<br />

Santo de 1950.<br />

7. São Vilibaldo, Bispo de Eichstatt,<br />

na Alemanha, e Missionário,<br />

séc. VIII. Filho do Rei da Anglia<br />

Oriental, São Ricardo, e irmão de<br />

São Vinebaldo. Sagrado Bispo de<br />

Eichstatt por São Bonifácio, evangelizou<br />

a Alemanha e converteu<br />

inúmeras almas.<br />

T. Ring<br />

8. Santo Adriano III, Papa, séc.<br />

IX. Governou a Igreja apenas 15<br />

meses, de 884 a 885. Morreu em<br />

Modena, enquanto se dirigia à França,<br />

e seu túmulo tornou-se lugar de<br />

peregrinação. Seu culto foi confirmado<br />

por João Paulo II em 1981.<br />

9. 14º Domingo do Tempo Comum.<br />

Santa Verônica Giuliani, 1660-<br />

1727. Abadessa da Ordem das Clarissas<br />

Capuchinhas e grande mística.<br />

Na Sexta-feira Santa, 5 de abril<br />

de 1697, recebeu os estigmas da<br />

Paixão de Cristo. Sofreu grandes<br />

perseguições e sofrimentos interiores.<br />

Além dos estigmas, tinha impressos<br />

no corpo vários sinais, entre<br />

eles os instrumentos da Paixão<br />

e as sete espadas de dor da Santíssima<br />

Virgem. Seu corpo, submetido<br />

a uma autópsia, mostrou que os<br />

estigmas se fecharam após a morte.<br />

Seus restos se veneram em Città di<br />

Castello (Itália).<br />

10. Santas Rufina e Secunda,<br />

Mártires, em 297, sob Aureliano.<br />

São Bento<br />

11. São Bento, Abade, 480-547.<br />

Pai do monaquismo ocidental e Patrono<br />

da Europa.<br />

12. São João Gualberto, Fundador,<br />

995-1073. Beneditino, fundou<br />

um ramo de vida eremítica, procurando<br />

a fidelidade radical à regra<br />

de São Bento. Instalou-se em<br />

Vallombrosa, Itália , e por isso seus<br />

monges são chamados Valombrosianos.<br />

Santo Oliver Plunkett, Bispo e<br />

Mártir, séc XVII. Arcebispo de Armagh<br />

e Primaz da Irlanda. Morto<br />

pela fidelidade à Igreja, sob a perseguição<br />

anglicana, em 1681.<br />

13. Santo Henrique II, Imperador<br />

do Sacro Império, +1024.<br />

Casou-se com Santa Cunegunda.<br />

Oblato beneditino, favoreceu a reforma<br />

cluniacense em todo o seu<br />

imenso império.<br />

14. São Camilo de Lellis, 1550-<br />

1614. Fundador dos Clérigos Regulares<br />

para o serviço dos enfermos<br />

(Camilianos).<br />

São Francisco Solano, Confessor,<br />

1549-1610. Religioso franciscano<br />

originário da Andaluzia, Espanha,<br />

pregou o Evangelho na América<br />

do Sul, especialmente entre os<br />

aborígenes. Morreu em Lima, Peru.<br />

15. São Boaventura, Bispo e<br />

Doutor da Igreja, séc. XIII.<br />

16. 15º Domingo do Tempo Comum.<br />

Nossa Senhora do Carmo. No<br />

Monte Carmelo teve o Profeta Elias<br />

a visão da nuvenzinha que simbolizava<br />

a futura Mãe de Deus. E nesta<br />

data, no ano de 1251, São Simão<br />

Stock, geral dos Carmelitas, recebeu<br />

o Escapulário das mãos d’Ela.<br />

14


* Julho *<br />

17. Bem-Aventurada Teresa de<br />

Santo Agostinho (Marie-Madeleine-Claudine<br />

Lidoine) e suas 15 companheiras,<br />

Carmelitas Descalças,<br />

Mártires de Compiègne, +1794. Vítimas<br />

do ódio à Fé por parte das autoridades<br />

da Revolução Francesa,<br />

morreram guilhotinadas em Paris,<br />

no ano de 1794. Seu impressionante<br />

martírio foi divulgado — dentro de<br />

um contexto romanceado — no teatro<br />

e no cinema pelos escritores Georges<br />

Bernanos e Gertrud von Lefort<br />

(“Diálogo das Carmelitas” e “A<br />

última no cadafalso”).<br />

18. São Frederico, Bispo de Utrecht<br />

e Mártir. Oriundo de uma família<br />

inglesa, evangelizou os frisões e foi<br />

assassinado em 838. Segundo alguns,<br />

por um mercenário; segundo outros,<br />

por ordem do Imperador Ludovico<br />

Pio, contrariado por ter recebido do<br />

Santo uma advertência de que não<br />

poderia se casar novamente, antes da<br />

morte de sua esposa legítima.<br />

19. Santa Macrina, a Jovem, séc.<br />

IV. A primogênita de uma família<br />

querida por Deus. Foram seus irmãos<br />

São Basílio Magno, São Gregório<br />

de Nissa, Padres da Igreja, e<br />

São Pedro de Sebaste.<br />

20. Santa Margarida de Antioquia,<br />

séc IV.<br />

21. São Lourenço de Brindisi,<br />

1559-1619. Sacerdote capuchinho,<br />

pregador e Doutor da Igreja. Seu<br />

restos se encontram em Villafranca<br />

del Bierzo (Leão, Espanha).<br />

22. Santa Maria Madalena,<br />

séc. I. Convertida pelo Divino Mestre<br />

que expulsou dela sete demônios.<br />

Na manhã de Páscoa dirigiuse<br />

ao sepulcro de Jesus, e Este lhe<br />

apareceu ressuscitado.<br />

S. Hollmann<br />

Nosso Senhor com Marta e Maria, em Betânia<br />

23. 16º Domingo do Tempo Comum.<br />

Santa Brígida da Suécia, Fundadora,<br />

1302-1303. Fundou o convento<br />

de Vasdstena (Suécia) e a Ordem<br />

do Santíssimo Salvador. Padroeira<br />

daquele país e co-patrona da Europa,<br />

foi favorecida por muitas visões,<br />

levando uma vida de oração e penitência<br />

pela Igreja. Obteve, por suas<br />

preces, o retorno do Papa, da cidade<br />

francesa de Avignon a Roma.<br />

24. Santos João Boste, George<br />

Swallowell e João Ingram. Mártires<br />

sob a perseguição de Elisabeth<br />

I, na Inglaterra dividida pelo cisma<br />

anglicano.<br />

São Charbel Makhlouf, religioso<br />

libanês do rito maronita, 1828-<br />

1896. Canonizado por Paulo VI em<br />

1977.<br />

25. São Tiago o Maior, Apóstolo,<br />

séc. I.<br />

26. São Joaquim e Santa Ana,<br />

séc. I. Pais da Santíssima Virgem.<br />

27. São Pantaleão, Médico e<br />

Mártir, na Nicomédia, séc. IV.<br />

São Celestino I, Papa de 422 a<br />

432. Constituiu por primeira vez o<br />

episcopado na Inglaterra. No Concílio<br />

de Éfeso proclamou que a Santíssima<br />

Virgem Maria é verdadeiramente<br />

Mãe de Deus.<br />

28. São Vítor I, Papa e Mártir,<br />

em 189.<br />

29. Santa Marta, séc. I. Irmã de<br />

Lázaro, acolheu Nosso Senhor mais<br />

de uma vez em sua casa, em Betânia.<br />

Quando morreu seu irmão, disse<br />

a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho<br />

de Deus que deve vir ao mundo”.<br />

30. 17º Domingo do Tempo Comum.<br />

São Pedro Crisólogo, Bispo e<br />

Doutor da Igreja, 400-450.<br />

31. Santo Inácio de Loyola, Presbítero,<br />

séc. XVI. Fundador da Companhia<br />

de Jesus. Ver artigo na página<br />

60.<br />

15


“R-CR” em perguntas e respostas<br />

Orgulho e<br />

igualitarismo<br />

Apontar os aspectos metafísicos da Contra-Revolução, em<br />

oposição aos erros revolucionários fomentados por um orgulho<br />

e um igualitarismo exarcebados, constitui um dos mais<br />

importantes aspectos de quem almeja para este mundo, a<br />

existência de uma ordem em tudo conforme a Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo. Acompanhemos o ensinamento de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

Qual a quinta-essência do espírito<br />

revolucionário?<br />

“A quinta-essência do espírito revolucionário<br />

consiste (...) em odiar<br />

por princípio, e no plano metafísico,<br />

toda desigualdade e toda lei, especialmente<br />

a Lei moral” (pp. 128-<br />

129).<br />

Cite um ponto importante do trabalho<br />

contra-revolucionário.<br />

“Um dos pontos muito importantes<br />

do trabalho contra-revolucionário<br />

é, pois, ensinar o amor à desigualdade<br />

vista no plano metafísico,<br />

ao princípio de autoridade, e também<br />

à Lei moral e à pureza; porque<br />

exatamente o orgulho, a revolta e a<br />

impureza são os fatores que mais impulsionam<br />

os homens na senda da<br />

Revolução” (p. 129).<br />

O orgulhoso tende<br />

a odiar a Deus<br />

Quais são os graus do orgulho?<br />

“A pessoa orgulhosa, sujeita à autoridade<br />

de outra, odeia primeiramente<br />

o jugo que em concreto pesa<br />

sobre ela.<br />

“Num segundo grau, o orgulhoso<br />

odeia genericamente todas as autoridades<br />

e todos os jugos, e mais<br />

ainda o próprio princípio de autoridade,<br />

considerado em abstrato.<br />

E porque odeia toda autoridade,<br />

odeia também toda superioridade,<br />

de qualquer ordem que seja. E<br />

nisto tudo há um verdadeiro ódio a<br />

Deus.<br />

“Este ódio a qualquer desigualdade<br />

tem ido tão longe que, movidas<br />

por ele, pessoas colocadas em alta<br />

situação a tem posto em grave risco<br />

e até perdido, só para não aceitar a<br />

superioridade de quem está mais alto.<br />

“Mais ainda. Num auge de virulência<br />

o orgulho poderia levar alguém<br />

a lutar pela anarquia, e a recusar<br />

o poder supremo que lhe fosse<br />

oferecido. Isto porque a simples<br />

existência desse poder traz implícita<br />

a afirmação do princípio de autoridade,<br />

a que todo homem enquanto<br />

tal — e o orgulhoso também — pode<br />

ser sujeito” (pp. 66 e 67).<br />

Escolas de igualitarismo<br />

Cite alguns exemplos de escolas de<br />

pensamento que pregam a igualdade<br />

entre os homens e Deus.<br />

“O panteísmo, o imanentismo e<br />

todas as formas esotéricas de religião,<br />

visando estabelecer um trato<br />

de igual a igual entre Deus e os homens,<br />

e tendo por objetivo saturar<br />

estes últimos de propriedades divinas”<br />

(p. 67).<br />

Em que sentido o laicismo e o ateísmo<br />

são igualitários?<br />

“O ateu é um igualitário que, querendo<br />

evitar o absurdo que há em<br />

afirmar que o homem é Deus, cai em<br />

outro absurdo, afirmando que Deus<br />

16


S. Hollmann<br />

Enquanto não consegue extinguir a família, a Revolução<br />

procura reduzi-la e mutilá-la de todos os modos<br />

Casamento numa aldeia - Museu do Prado, Madrid<br />

não existe. O laicismo é uma forma<br />

de ateísmo, e portanto de igualitarismo.<br />

Ele afirma a impossibilidade de<br />

se ter certeza da existência de Deus.<br />

De onde, na esfera temporal, o homem<br />

deve agir como se Deus não<br />

existisse. Ou seja, como pessoa que<br />

destronou a Deus” (p. 67).<br />

No campo político-social, o que<br />

mais a Revolução odeia é o absolutismo<br />

régio?<br />

“Por mais que a Revolução odeie<br />

o absolutismo régio, odeia mais ainda<br />

os corpos intermediários [entre<br />

os indivíduos e o Estado] e a monarquia<br />

orgânica medieval. É que o absolutismo<br />

monárquico tende a pôr<br />

os súditos, mesmo os mais categorizados,<br />

num nível de recíproca igualdade,<br />

numa situação diminuída que<br />

já prenuncia a aniquilação do indivíduo<br />

e o anonimato que chegam<br />

ao auge nas grandes concentrações<br />

urbanas da sociedade socialista”<br />

(p. 69).<br />

Qual o principal corpo intermediário<br />

que a Revolução visa abolir?<br />

“Entre os grupos intermediários a<br />

serem abolidos, ocupa o primeiro lugar<br />

a família. Enquanto não consegue<br />

extingui-la, a Revolução procura<br />

reduzi-la, mutilá-la e vilipendiá-la de<br />

todos os modos” (p. 69). v<br />

17


Gesta marial de um varão católico<br />

Uma vida marcada por fé inabalável<br />

“Creio na<br />

Santa Igreja<br />

Católica<br />

Apostólica Romana!”<br />

Tributar à Santa Igreja e a seus ensinamentos um amor, dedicação e<br />

submissão sem limites foi o ideal abraçado e constantemente cultivado<br />

por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, ao longo de sua admirável existência. Algumas dentre<br />

as inúmeras manifestações desta profissão de fé católica aqui serão<br />

lembradas, descritas pelos próprios lábios de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

I – Profunda adesão à Igreja<br />

As recordações dos meus<br />

tempos de menino e adolescente<br />

se situam de modo<br />

preponderante no contexto de<br />

minha família materna, pois foi<br />

no seio desta que cresci e me formei.<br />

Circunstância compreensível,<br />

se levarmos em consideração o fato<br />

de eu ter nascido em São Paulo<br />

e de ser meu pai, <strong>Dr</strong>. João Paulo<br />

Corrêa de Oliveira, natural do<br />

Estado de Pernambuco, onde residiam<br />

todos os seus. Ora, naqueles<br />

primórdios do século XX as distâncias<br />

entre as diversas regiões<br />

brasileiras se faziam ainda maiores,<br />

em virtude da precariedade dos<br />

meios e vias de locomoção. Assim,<br />

foi ele a única pessoa de minha família<br />

paterna que teve algum papel<br />

na constituição do meu caráter.<br />

Era um homem saudável e robusto,<br />

à semelhança dos senhores<br />

de engenho dos quais descendia,<br />

algo dado a gracejos e ditos espirituosos,<br />

vez ou outra acompanhados<br />

de sonoras gargalhadas.<br />

18


Fotos: Arquivo revista<br />

Menino calmo e<br />

temperante<br />

Porém, apesar de sua vivaz presença<br />

nordestina, quando comecei<br />

a dar acordo de mim, meus primeiros<br />

contatos temperamentais<br />

e emotivos foram com a família<br />

materna, posto o intenso vínculo<br />

e a consonância de alma que cedo<br />

se estabeleceram entre mim e Dª<br />

Lucilia, minha extremosa mãe. Os<br />

Ribeiro dos Santos, dos quais ela<br />

procedia, vieram de Portugal para<br />

São Paulo no tempo de Dom<br />

João VI. Era uma família em lenta<br />

e constante ascensão social e econômica,<br />

tendo na época do impé-<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos 12, 30 e 80 anos<br />

19


Gesta marial de um varão católico<br />

Meus primeiros contatos<br />

temperamentais foram com a<br />

família materna, posta minha<br />

intensa consonância de alma<br />

”<br />

com mamãe<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

<strong>Dr</strong>. João Paulo e Dona<br />

Lucilia, na época de<br />

seu casamento; na<br />

página 21, a Igreja<br />

do Sagrado Coração<br />

de Jesus no ínicio<br />

do século XX<br />

20


io ocupado boas posições e produzido<br />

alguns homens de destaque.<br />

Com o advento da República,<br />

tornou-se fecunda<br />

em engendrar<br />

figuras eminentes para<br />

o círculo doméstico<br />

— advogados, fazendeiros<br />

— e também<br />

alguns políticos.<br />

Após seu casamento,<br />

meu pai alugou uma pequena<br />

casa a pouca distância<br />

da residência dos sogros<br />

dele, <strong>Dr</strong>. Antônio e Dª Gabriela,<br />

para que mamãe tivesse<br />

facilidade de contato com<br />

seus pais e seu ambiente. Nasci<br />

nesta casa, no dia 13 de dezembro<br />

de 1908, mas praticamente<br />

não a conheci: cerca de um ano<br />

depois falecia meu avô materno<br />

e, por sugestão de vovó Gabriela,<br />

nos mudamos para o palacete<br />

da Alameda Barão de Limeira, no<br />

bairro de Campos Elíseos. Minha<br />

infância, portanto, transcorreria<br />

nesse casarão no qual habitavam,<br />

além de meus pais, uma tia com<br />

seu marido e uma filha, ocupando<br />

aposentos inteiramente distintos.<br />

Ademais, como em geral acontece<br />

nas famílias numerosas, era essa<br />

casa freqüentada por muitos parentes.<br />

Em vista de diversos fatores<br />

constitutivos desse ambiente, diria<br />

eu que a característica da primeira<br />

quadra de minha vida foi<br />

a harmonia em todos os campos.<br />

Não havia problemas financeiros,<br />

as pessoas eram corteses<br />

umas com as outras, o que tornava<br />

o convívio sobremodo agradável,<br />

repassado de alegria e boa<br />

disposição. O quotidiano se desenrolava<br />

na serenidade, no bemestar,<br />

num âmbito puro e saudável.<br />

Tinha a impressão, pois, do<br />

homem que repousa no lugar que<br />

lhe convém, sem variação ou mutabilidade.<br />

Daí essas condições terem favorecido<br />

a formação de meu temperamento,<br />

que alguém poderia classificar<br />

como sendo calmo, até inclinado<br />

à indolência, e equilibrado,<br />

tendente a certa moleza, infenso a<br />

brigas. Afetivo, com um desejo enfático<br />

de conviver carinhosamente<br />

e tendo movimentos de sensibilidade<br />

bem pronunciados.<br />

Tudo isso com inocência e profundamente<br />

rijo num ponto: aplicado<br />

com inteiro empenho naquilo<br />

que resolveu. Em suma, uma<br />

índole que poderia ser qualificada<br />

— para um homem concebido<br />

com pecado original e, portanto,<br />

com as reservas que essa condição<br />

comporta — de fundamentalmente<br />

temperante.<br />

Duas grandes<br />

influências: a Igreja<br />

e Dona Lucilia<br />

Outro importante fundo de<br />

quadro de minha educação foi o<br />

resto de tradição católica recebido<br />

de minha família, a qual não<br />

era nem mais nem menos religiosa<br />

que o conjunto das linhagens<br />

tradicionais de São Paulo. Esse<br />

legado de piedade habituou-me<br />

a considerar a Igreja Católica como<br />

sendo a própria base e alma<br />

daquela ordem de coisas em que<br />

eu vivia, e preparou-me a considerar<br />

a Esposa Mística de Cristo<br />

com Fé incondicional, submissa,<br />

alegre e total, com uma admiração<br />

sem limites que, por graça alcançada<br />

pelos rogos de Nossa Senhora,<br />

sempre conservei.<br />

Assim, declaro com imenso<br />

contentamento: qualquer coisa<br />

que possa haver de bom em mim<br />

deriva do fato de ser membro da<br />

Igreja Católica. A fonte verdadeira<br />

e viva de todo o bem é a Fé católica<br />

apostólica romana; é a submissão<br />

ao Santo Padre, Vigário<br />

de Jesus Cristo na Terra.<br />

Cumpre acrescentar que essa<br />

influência católica recebeu especialíssimo<br />

apoio nos meus anos<br />

de menino e adolescente: as relações<br />

com mamãe, à qual eu amava<br />

tanto quanto um filho pode amar<br />

sua mãe.<br />

21


22<br />

Fotos: Arquivo revista


HHá uma fotografia de mamãe comigo em<br />

seus braços, e naquela micro-fisionomia<br />

já se percebe algo de meu temperamento<br />

definitivo. A candura transparece de modo<br />

saliente, junto com a debilidade. Estou olhando<br />

para alguma coisa. Largado nos braços maternos<br />

— com delícias! — sentindo muito seu carinho<br />

e confiando nela com a maior tranqüilidade. O<br />

curioso é ver uma criança daquela idade, ainda<br />

sem o uso da razão, com ares e olhar de quem está<br />

raciocinando... Olhar seletivo e dubitativo; feito<br />

para distinguir, não permitindo que os objetos<br />

vistos por ele se apresentem emaranhados, mas<br />

ordenados. Com uma grande tendência para<br />

a análise, disposta a em seguida saborear<br />

ou recusar, rejeitar ou aprovar.<br />

Havia ali matéria-prima para um<br />

homem muito analítico.<br />

Noutra fotografia minha, com<br />

dois anos, apareço sentado numa<br />

miniatura de cadeira de gente grande.<br />

Nota-se que a inteligência e a análise<br />

já deram alguns passos: certas coisas<br />

estão julgadas. Estou aprendendo a<br />

desconfiar, mas também confiando quando<br />

devo. O movimento das mãos quase exprime<br />

isso: uma para frente e outra para trás; os<br />

lábios semi-abertos em atitude de observação, e eu<br />

inteiramente dono de mim, nada assustado nem<br />

preocupado principalmente comigo. Observo a vida.<br />

Nisso consiste a retidão primeira de uma criança.<br />

Essa fotografia reflete mais o que eu viria a ser.<br />

23


Gesta marial de um varão católico<br />

“Onde está Jesus?”<br />

Dona Lucilia era profundamente<br />

católica, no melhor sentido<br />

da palavra “profundo”. Para<br />

compreendê-lo, basta tomar em<br />

conta o seguinte fato. Como bom<br />

filho de nordestino, não tive dificuldades<br />

em aprender a falar. Dizia<br />

ela que, alguns meses depois<br />

de nascido, comecei a balbuciar<br />

e aos seis meses já conversava...<br />

Ora, toda criança aprende instintivamente<br />

a dizer “papai” e “mamãe”,<br />

a reconhecer os próprios<br />

pais, etc. Porém, quis Dª Lucilia<br />

que antes disso minha irmã e<br />

eu soubéssemos falar “Jesus”. As<br />

primeiras perguntas que ela nos<br />

dirigia não eram: “Onde está papai?<br />

Onde está mamãe?” E sim:<br />

“Onde está Jesus?”<br />

No quarto dela havia um oratório<br />

com bela imagem do Sagrado<br />

Coração de Jesus, confeccionada<br />

na França, e que lhe havia<br />

sido presenteada por seu pai.<br />

Quando mamãe percebeu que<br />

minha irmã e eu já éramos capazes<br />

de acompanhar com os olhos<br />

o movimento do dedo dela — e<br />

que, portanto, algum esboço de<br />

intelecção estava raiando em nosso<br />

espírito — desejou que essa<br />

primeira compreensão fosse voltada<br />

para o Autor de todas as coisas.<br />

Ou seja, para Deus. Por causa<br />

disso, dizia-nos, sorrindo meigamente:<br />

“Jesus, Jesus”, enquanto<br />

orientava nossas cabeças e nos<br />

fazia olhar para o Sagrado Coração<br />

de Jesus. Não será difícil, então,<br />

imaginar a alegria dela ao ouvir<br />

os meus lábios logo pronunciarem:<br />

“Jesus!”<br />

Inocência primaveril:<br />

o vaso cor-de-rosa<br />

Pelo favor de Maria Santíssima,<br />

esse gérmen de piedade concorreu<br />

para alimentar minha ino-<br />

“<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

24


Aquele gérmen de<br />

piedade concorreu para<br />

alimentar, conservar<br />

e fazer crescer minha<br />

inocência<br />

”<br />

batismal<br />

Na página 24, <strong>Plinio</strong> aos 4 anos;<br />

acima, o vaso cor-de-rosa; no alto,<br />

oratório do Sagrado Coração de<br />

Jesus, pertencente a Dona Lucilia<br />

cência batismal, e a não apenas<br />

conservá-la, mas fazê-la crescer<br />

com a idade nos meus anos de infância.<br />

Como se manifestava essa inocência?<br />

Através de um lumen, uma luz<br />

que me levava a contemplar na realidade<br />

ao meu redor o simbolismo<br />

e a beleza das coisas que davam<br />

acesso a uma como que “transesfera”<br />

1 , a qual eu não sabia definir<br />

nem relacionava com o Céu, porém<br />

me aproximava deste. Essa ligação<br />

entre o esplendor criado e<br />

as maravilhas do Paraíso reluzia<br />

para mim, por analogia simbólica,<br />

em inúmeras ocasiões.<br />

Por exemplo, na nossa sala de<br />

visitas existia um antigo e lindo<br />

vaso cor-de-rosa, objeto de furtivas<br />

e agradáveis contemplações<br />

25


Fotos: F Kobayashi / Arquivo revista<br />

<strong>Plinio</strong> aos 5 anos; pia<br />

batismal da Igreja<br />

de Santa Cecília<br />

Por que me chamo <strong>Plinio</strong>?<br />

Segundo os comentários<br />

de mamãe, poucos dias<br />

depois de eu ter nascido, uma roda de<br />

parentes se achava em torno da cama dela,<br />

ponderando a respeito do nome a me ser dado.<br />

Em certo momento, minha avó, a quem<br />

Dª Lucilia queria muito, insinuou:<br />

— Eu teria gostado tanto que um filho meu,<br />

ou então um neto, se chamasse <strong>Plinio</strong>!<br />

Esse nome me parece muito bonito, mas<br />

nunca ninguém atendeu o meu desejo...<br />

Para comprazer à matriarca da família, ela<br />

respondeu imediatamente:<br />

— Então, Mamãe, o pedido está atendido: o<br />

nome do menino é <strong>Plinio</strong>.<br />

Mais tarde, no dia 7 de junho de 1909, eu<br />

recebia as benditas águas do Batismo,<br />

e <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira se tornava também<br />

um filho da Santa Igreja Católica.<br />

26


minhas. Comprazia-me em analisá-lo,<br />

e pensava: “Seria bom que<br />

houvesse algum lugar no universo<br />

todo feito desse material róseo,<br />

no qual se fruísse o deleite<br />

que minhas vistas experimentam<br />

ao olharem para esse vaso. A delícia<br />

seria completa se se pudesse<br />

deixar penetrar por essa substância,<br />

acompanhada de aromas, sensações<br />

tácteis e sons harmoniosos<br />

com isto que vejo. Embora<br />

não valesse a pena passar a eternidade<br />

assim, quereria permanecer<br />

um bom tempo nesse local, e<br />

em seguida mudar para outro ambiente,<br />

tanto ou mais maravilhoso.<br />

Como seria bonito!”<br />

Não se tratava de um mundo<br />

de sonhos ou de utopias, mas de<br />

uma superior ordem do universo<br />

que ia se apresentando cômoda<br />

e gradualmente ao meu espírito.<br />

Não era, tampouco, a simples<br />

fruição dos sentidos, e sim o<br />

desejo de algo mais perfeito, dentro<br />

deste mundo em que vivemos.<br />

Minha tendência não era a de me<br />

fixar nos objetos analisados, mas<br />

a me elevar de grau em grau até o<br />

Absoluto, Deus, o Criador de todas<br />

as maravilhas.<br />

Tratava-se, portanto, de uma<br />

tendência para o amor a Deus<br />

que o católico deve possuir acima<br />

de todas as coisas; uma graça proporcionada<br />

à compreensão de um<br />

menino, que depois se desenvolveria<br />

com o maturar gradual de<br />

meu espírito.<br />

Maior afinidade<br />

com a Igreja<br />

Eram cogitações e pensamentos<br />

não externados aos meus circunstantes.<br />

Afinal, quem gostaria<br />

de ouvir os comentários de uma<br />

criança de três anos? Em todo<br />

caso, conduziam meu espírito a<br />

compreender a existência de uma<br />

ordem de coisas de beleza supe-<br />

Igreja do Coração<br />

de Jesus, em São Paulo<br />

“Ao entrar na Igreja do Coração<br />

de Jesus, ficava-me mais patente<br />

minha afinidade com uma ordem<br />

de coisas de beleza superior<br />

M. Shinoda<br />

27


Gesta marial de um varão católico<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

rior, orientada por alguém que<br />

é Absoluto, perfeito e imutável,<br />

e que me satisfaria inteiro: “Para<br />

essa ordem fui feito e não quero<br />

apenas conhecê-la, mas entrar<br />

nela. Sinto que me transformaria<br />

e faria de mim o <strong>Plinio</strong> que devo<br />

ser”.<br />

No fundo, estabelecia uma<br />

consideração global do universo,<br />

o qual é constituído por uma<br />

imensa quantidade de maravilhas,<br />

não lançadas a esmo, mas em ordem<br />

hierárquica, arquetípica, que<br />

devemos amar. Embora sem explicitá-lo,<br />

tais meditações eram<br />

essencialmente religiosas. Percebia<br />

que Deus estava próximo de<br />

mim; notava em minha natureza<br />

algo de diáfano e leve, sentiame<br />

bom e direito, desejando coisas<br />

retas. Por outro lado, percebia<br />

o contraste entre meu gênio pacífico,<br />

minha inclinação a querer<br />

bem a todos, e o modo de ser de<br />

outras crianças com as quais convivia,<br />

e essa minha tendência dava-me<br />

grande consolação.<br />

A meu ver, essa postura de alma<br />

era fruto de uma ação da graça.<br />

Sem saber associar inteiramente<br />

essas reflexões à Religião, eu<br />

me sentia filho da Santa Igreja. E<br />

quando, por exemplo, mamãe me<br />

levava à igreja do Sagrado Coração<br />

de Jesus, ao penetrar naquele<br />

recinto sagrado, ficava-me ainda<br />

mais patente minha afinidade<br />

com todas essas pulcritudes.<br />

A fräulein Mathilde<br />

Não poderia deixar de mencionar<br />

uma figura marcante do meu<br />

tempo de criança, posto ter sido<br />

ela de muito auxílio para a formação<br />

de minha mentalidade: a fräulein<br />

2 Mathilde Heldmann. Alemã,<br />

preceptora exímia, com passagem<br />

por famílias de nomes ilustres,<br />

mamãe a trouxera da Europa a<br />

fim de nos proporcionar a melhor<br />

educação que pudéssemos ter.<br />

Em relação à fräulein Mathilde<br />

eu nutria três reações diferentes.<br />

A primeira era de confiança: “Se<br />

mamãe a pôs perto de mim e de<br />

minha irmã, tenho nela todas as<br />

formas e graus de confiança possíveis.<br />

Mamãe mandou, está bem<br />

feito”. A segunda, de agastamento...<br />

Na hora de dar ordens, por<br />

razão que ignoro, ela não dizia<br />

“<strong>Plinio</strong>”, mas “Pliniôôô!”, e o fazia<br />

de maneira tal que eu percebia<br />

seu desejo de que me levantasse e<br />

batesse os calcanhares!<br />

Em geral ela empregava esse<br />

modo de falar para me advertir<br />

por não ter prestado atenção<br />

em algo ou então para me apli-<br />

“Ela tem<br />

bondade e<br />

firmeza; indicame<br />

o caminho<br />

do êxito.<br />

Quero-a<br />

muito bem!<br />

28


Na página 29: <strong>Plinio</strong>,<br />

sua prima Ilka, a fräulein<br />

Mathilde e Rosée; à<br />

direita, ele no Jardim da<br />

Luz, em São Paulo<br />

car uma punição. E como a aritmética<br />

não era das minhas matérias<br />

preferidas, o castigo freqüentemente<br />

consistia em me obrigar<br />

a fazer uma soma ou divisão maçante...<br />

Também não era meu forte o<br />

ser pontual, e ela me impunha<br />

exigências, como: “Agora chegou<br />

a hora do estudo, deixe o brinquedo<br />

de lado!” Às vezes eu me<br />

indignava, pensando: “Essa senhorita<br />

me obriga a andar depressa,<br />

a resolver tudo de imediato e<br />

a fazer as coisas como não gosto!”<br />

Porém, apesar de minha irritação,<br />

ela me levava a obedecer,<br />

e não raro eu tinha a sensação de<br />

estar sendo formado por um instrutor<br />

militar...<br />

Por fim, a terceira atitude diante<br />

dela era de admiração. Em certos<br />

momentos, quando minha irmã,<br />

minha prima e eu estávamos<br />

estudando, ela permanecia quieta,<br />

sentada, nos fiscalizando. E,<br />

desde aquele tempo, eu tinha certa<br />

tendência a analisar as pessoas.<br />

Então, às vezes interrompia o estudo,<br />

olhava para sua fisionomia<br />

impassível e pensava: “Como ela<br />

é lógica e coerente, domina-se a<br />

si mesma, e tudo o que faz é correto.<br />

Nunca se zanga comigo sem<br />

motivo. Quando me repreende, é<br />

porque mereço. Embora o obedecer<br />

seja tedioso, é bom. Vou acertar<br />

o passo!”<br />

E concluía: “Ela tem bondade e<br />

firmeza ao mesmo tempo. Se todos<br />

os meninos possuíssem uma<br />

fräulein assim, como seria ótimo!<br />

Ela me indica o caminho do êxito.<br />

Quero-a muito bem!”<br />

29


HHá uma fotografia de mamãe<br />

andando comigo num caminho,<br />

em Águas da Prata, onde eu<br />

apareço com uns seis ou sete anos de idade.<br />

Estamos num ambiente de fazenda, voltando<br />

da fonte medicinal que ela freqüentava, a<br />

1 ou 2 km do hotel. Eu não levo nenhum<br />

brinquedo na mão e estou sozinho com ela,<br />

completamente entretido na sua companhia<br />

e sentindo-me afetuosamente acolhido.<br />

Percebe-se estar ela com o espírito em outras<br />

paragens e preocupada com alguma coisa,<br />

apesar de dar-me uma atenção que me<br />

satisfaz. E vê-se que ela está andando com<br />

muita decisão e determinação. Eu, tomado<br />

pelo “maravilhamento número mil e um”<br />

em relação a mamãe, agarrava-me nela,<br />

efetuando um pequeno salto como quem quer<br />

chegar um pouco mais perto... Talvez por<br />

sentir confusamente que a resposta viria com<br />

certa lentidão, mas já sabendo que deixaria o<br />

meu coração repleto! Se eu pudesse conseguir<br />

um banquinho, subir nele e estar perto de sua<br />

fisionomia, seria o que eu faria! Esse era o<br />

meu procedimento habitual diante dela.<br />

De onde vinha essa atitude? Do senso do<br />

ser de um batizado, na sua retidão de inocente,<br />

encantado com aquela que estava olhando. Eu<br />

tinha um deslumbramento pela doçura que<br />

emanava dela, acompanhada de sabedoria,<br />

decisão, maturidade, constância, continuidade<br />

e uma série de predicados, cada um mais<br />

precioso do que o outro e possuídos sem a menor<br />

ostentação.<br />

30


Fotos: Arquivo revista<br />

DDe vez em quando, em<br />

temporada de férias,<br />

nossa família ia a Santos<br />

e não se hospedava no Hotel Parque<br />

Balneário, mas na casa de uns tios.<br />

E o que mais me encantava nessas<br />

ocasiões era, sem dúvida alguma, o<br />

mar...<br />

A enseada se me afigurava como<br />

uma grande baía e pensava ser<br />

aquele o maior oceano do mundo.<br />

De maneira que a grandeza de<br />

todos os mares estava, para mim,<br />

representada ali, como se fosse a<br />

faixa de terra mais parecida com o<br />

Paraíso. Era a mitificação própria<br />

de uma alma que buscava em tudo a<br />

inocência.<br />

<strong>Plinio</strong> na Praia do Zé<br />

Menino, em Santos<br />

31


Gesta marial de um varão católico<br />

No Colégio São Luís: o<br />

precioso dom da devoção<br />

a Nossa Senhora<br />

Quando fiz 10 anos, pedi a<br />

meus pais que me matriculassem<br />

no Colégio São Luís, dos jesuítas.<br />

Fui levado a tal solicitação pelas<br />

artimanhas de um primo. Este já<br />

era aluno daquele educandário e<br />

insistiu para que eu também me<br />

inscrevesse ali. Como é natural,<br />

perguntei-lhe a respeito das aulas<br />

e do que encontraria no São Luís.<br />

As explicações dadas me agradaram.<br />

Sobretudo, devo confessar,<br />

quando em certo momento ele<br />

mencionou a existência de árvores<br />

no pátio de recreio, nas quais<br />

os alunos podiam subir para comer<br />

frutas. Idéia que me pareceu<br />

bem atraente... Indaguei-lhe:<br />

— Quais são as frutas?<br />

Ele, esperto, em vez de responder,<br />

perguntou-me:<br />

— Quais você imagina?<br />

— Há cerejas?<br />

— Claro!<br />

— Então eu entro para o São<br />

Luís! — concluí, decidido.<br />

No primeiro dia de colégio<br />

participei da aula com interesse,<br />

tomando notas das palavras do<br />

professor. Quando saímos em fila<br />

para o recreio, tudo me parecia<br />

normal: nos formamos no pátio<br />

e o padre encarregado deu um<br />

longo apito. Ato contínuo alguns<br />

meninos se puseram a correr freneticamente<br />

e os campos se encheram<br />

de times de futebol. Fiquei<br />

atordoado, ao ver-me cercado<br />

de algazarra, de gente pulando<br />

e se empurrando, em meio a gritos<br />

e gargalhadas. Alguns se aproximavam<br />

de mim, batiam-me no<br />

ombro e perguntavam: “Você não<br />

brinca também?”<br />

E as cerejas? Não vi cerejeira<br />

alguma. Procurei meu primo, a<br />

fim de lhe cobrar as árvores, e ao<br />

vê-lo passando com um grupo de<br />

colegas, agarrei‐o:<br />

— Você me disse que havia cerejeiras.<br />

— Aparecem logo! — foi só o<br />

que encontrou para me responder<br />

Ėnfim, não existiam as frutas<br />

que eu tanto cobiçava. Não joguei<br />

futebol, nem tomei parte nas<br />

diversões do recreio. Em vez disso,<br />

comecei a prestar atenção naquele<br />

mundo, em tudo diferente<br />

daquele com o qual eu estava habituado,<br />

e me senti um corpo estranho,<br />

malvisto, mal compreendido.<br />

Havia na capela do colégio<br />

um quadro de Nossa Senhora<br />

do Bom Conselho, e a Ela recorria<br />

amiudadas vezes, não raro<br />

com aflição, devido às perigosas<br />

circunstâncias que então ameaçavam<br />

minha integridade espiritual.<br />

Com efeito, meu temperamento<br />

cordato me levava sempre<br />

a estar de acordo com todo mundo,<br />

desde que tal atitude me evitasse<br />

brigas. Assim, entrei para o<br />

colégio São Luís como o menino<br />

inocente, pronto a ser o alvo das<br />

pancadas... Como disse, durante<br />

o primeiro ano letivo, em diversas<br />

circunstâncias fui objeto de mofa,<br />

riam e zombavam de mim. Até<br />

que Nossa Senhora me concedeu<br />

a graça de compreender: “Ou deixo<br />

de ser mole, ou passarei a vida<br />

apanhando. Ora, não desejo apanhar,<br />

nem quero me perder. Logo,<br />

tenho de ser enérgico! Mas, como<br />

vou ser assim? Não tenho zanga,<br />

sou a personificação da calma!<br />

Onde vou tirar de mim essa energia?”<br />

Maria Santíssima, porém, misericordiosa,<br />

paciente, bondosa<br />

para comigo, infundiu em minha<br />

alma o dom mais precioso que tive<br />

na vida: a devoção a Ela, associada<br />

à compreensão de que, por<br />

mais mole e inútil que eu fosse,<br />

“Aos poucos fui<br />

crescendo em energia,<br />

incentivado por justas<br />

indignações e uma firme<br />

resolução de não me deixar<br />

esmagar pelos outros<br />

32


Quadro da Mãe do Bom<br />

Conselho, venerado na Capela<br />

do Colégio São Luís; <strong>Plinio</strong>, o<br />

primeiro em pé, da esquerda<br />

para a direita, quando aluno<br />

dos padres jesuítas<br />

Fotos: Arquivo revista / T. Ring<br />

Ela me queria bem. E, se eu pedisse,<br />

conseguiria d’Ela duas graças.<br />

Primeiro, a de perseverar na pureza;<br />

em segundo lugar, a de ser um<br />

verdadeiro leão de energia.<br />

Imbuído dessa confiança, dirigia-me<br />

a Nossa Senhora, dizendo:<br />

“Minha Mãe, considerai como<br />

sou mole. Vejo que Vós, no<br />

alto do Céu, sois ao mesmo tempo<br />

virginal e forte. Eu quero ser<br />

puro e forte como Vós. Revesti<br />

minha alma de santa indignação,<br />

de forças, de coragem, de lógica,<br />

de coerência. Erguei-me, porque<br />

não consigo ficar de pé.”<br />

E Aquela que a ninguém desampara<br />

ouviu minhas preces.<br />

Aos poucos fui adquirindo maior<br />

vigor de espírito, à maneira de<br />

um pássaro que enceta seus primeiros<br />

vôos, ainda hesitantes, algumas<br />

vezes frustros, até o momento<br />

em que ele se alça e começa<br />

a fender os ares, meio<br />

tocado pelo vento, meio<br />

pelas próprias asas. Assim<br />

eu fui crescendo em<br />

energia, um tanto incentivado<br />

por justas indignações<br />

que nasciam em<br />

mim, um tanto pela firme<br />

resolução de não me<br />

deixar esmagar pelos outros.<br />

Afinal, dei início<br />

aos meus vôos, que nunca<br />

mais cessaram.<br />

Ainda no colégio me<br />

adveio outra preciosa vantagem,<br />

que foi a benéfica influência exercida<br />

sobre mim da mentalidade de<br />

Santo Inácio de Loyola e da Companhia<br />

de Jesus. Graças à Santíssima<br />

Virgem, essa influência penetrou-me<br />

a fundo na alma, constituindo<br />

um todo muito harmônico<br />

entre a minha tradição familiar<br />

e a tradição de uma Ordem<br />

religiosa especificamente combativa<br />

e católica, sendo ela mesma<br />

uma extraordinária emanação do<br />

espírito da Igreja.<br />

Aos pés de Nossa<br />

Senhora Auxiliadora<br />

Em meio a uma pungente aflição<br />

de menino pela qual passava,<br />

fui assistir à Missa de domingo<br />

na Igreja do Sagrado Coração<br />

de Jesus. Essa celebração era reservada<br />

aos alunos do colégio salesiano<br />

sob cujos cuidados estava<br />

o templo católico, e os meninos<br />

ocupavam a maior parte dos<br />

bancos. Eu me vi, assim, relegado<br />

ao único lugar que sobrou<br />

33


Gesta marial de um varão católico<br />

para mim, na nave lateral direita.<br />

Inicia-se a Missa, as crianças<br />

cantando hinos litúrgicos e eu<br />

amargando na alma o apuro que<br />

me afligia. Então olhei para uma<br />

imagem de Nossa Senhora Auxiliadora<br />

que ficava na capela ao lado<br />

do altar-mor: pedi a Ela que<br />

me ajudasse, e tive a impressão<br />

de que a imagem me sorria, me<br />

afagava e que dali partia em meu<br />

favor a promessa de uma solução.<br />

E eu rezava a “Salve Rainha” em<br />

português, dando à palavra “salve”<br />

um sentido diferente, pois<br />

ao invés de uma saudação, pensava<br />

tratar-se do verbo “salvar”,<br />

e então dizia; “Salvai-me Rainha,<br />

Mãe de misericórdia...”<br />

Naquela hora de angústia, pela<br />

primeira vez na vida senti todo<br />

o sabor dessa oração, e pensava:<br />

“Mamãe é tão boa para comigo,<br />

mas não diria dela que é mãe<br />

de misericórdia. Ora, Maria Santíssima<br />

é Mãe de misericórdia. E<br />

se mamãe me quer tanto, sei que<br />

Nossa Senhora me quer ainda<br />

mais, incomparavelmente mais. É<br />

por meio d’Ela que vencerei essa<br />

aflição. Ela pode me livrar desses<br />

apuros, desses buracos dos quais<br />

nem minha mãe conseguira me tirar.”<br />

Eu olhava para a imagem e tinha<br />

a impressão de um sorriso<br />

para mim. Do Céu, Ela está me<br />

olhando. Tudo dará certo. De fato,<br />

tudo se resolveu. Minha devoção<br />

a Nossa Senhora, a partir<br />

de então, passou a ser mais ardente,<br />

mais fervorosa do que antes.<br />

E foi por causa dessa graça<br />

que me tornei calmo para a vida<br />

inteira. Pois seja o que for e<br />

como for, uma vez que nós, homens,<br />

estamos envolvidos por<br />

essa misericórdia, podemos permanecer<br />

tranqüilos: todo aquele<br />

que se volta para Ela, acaba alcançando<br />

a solução de seus problemas.<br />

Católico apostólico<br />

romano!<br />

Por uma graça especial concedida<br />

por Deus, na medida que eu<br />

conhecia a Igreja, a ela me unia<br />

sem discutir, com uma adesão serena<br />

e profunda. Quando soube<br />

haver gente que colocava em dúvida<br />

a divindade e a própria existência<br />

de Jesus Cristo, pensei:<br />

“Mas, terão perdido o bom senso?<br />

Basta considerar uma imagem<br />

piedosa d’Ele, para perceber tratar-se<br />

de uma realidade. Para que<br />

alguém o tivesse inventado, precisaria<br />

ser maior do que Ele. Ora,<br />

ninguém pode ser maior que Jesus<br />

Cristo; portanto, não foi inventado.”<br />

E, pelo auxílio de Nossa Senhora,<br />

nunca fui capaz de pronunciar<br />

sem entusiasmo a palavra “católico”.<br />

Lembro-me de mim, ainda<br />

pequeno, refletindo: “Curioso, a<br />

palavra católico parece uma música”.<br />

Note-se que eu desconhecia<br />

a origem grega do termo, e<br />

o seu significado de “universal”.<br />

Porém, me encantava: “Que linda<br />

34


“ ”<br />

Compreendi que, além de crer,<br />

precisava possuir também a<br />

mentalidade católica<br />

<strong>Plinio</strong> am Águas da Prata; altares de Nossa Senhora Auxiliadora (esquerda)<br />

e do Sagrado Coração de Jesus, na Igreja deste nome, em São Paulo<br />

palavra! Ca-tó-li-co. Três notas: o<br />

forte do A começa irrompendo e<br />

proclamando. Depois o Ó exclama,<br />

estando no píncaro. E o I termina<br />

com delicadeza. Que palavra<br />

a meu gosto!”<br />

Em seguida, pensava: “Mas,<br />

já tenho ouvido falar de católico<br />

apostólico romano. Quer dizer<br />

que isso constitui um conjunto<br />

só. ‘Apostólico’ parece uma reedi-<br />

Fotos: Arquivo revista / M. Shinoda<br />

ção de ‘católico’, apresentada por<br />

outro lado, como uma guirlanda<br />

que desce, aumenta de comprimento<br />

e sobe. ‘Romano’ (eu nem<br />

sequer relacionava com Roma) dá<br />

idéia de algo forte, sério, sólido<br />

e bom. Romano! Tenho a impressão<br />

de um rio que corre sob um<br />

arco, as águas passam, fluem, mas<br />

a ponte permanece. Romano! Perguntarei<br />

a mamãe o que significa<br />

tudo isso.”<br />

Recebi de Dª Lucilia a explicação<br />

desejada, adequada à mentalidade<br />

de uma criança, mas fornecendo<br />

as noções precisas. Tendo<br />

ela me falado do Pontífice Romano,<br />

compreendi a importância do<br />

Vigário de Cristo, e então nasceu<br />

meu entusiasmo pela infalibilidade<br />

papal. Pensei: “Que belas palavras!<br />

Pontífice Romano. Ele se<br />

acha no mais alto, é infalível, ordena<br />

e todos obedecem. Ah! Ser<br />

católico é uma coisa excelente!<br />

Não há igual. É o píncaro!”<br />

E Nossa Senhora me ajudou a<br />

dar-me conta de que a fé era indispensável,<br />

celeste e admirável, porém<br />

não bastava crer. Era preciso<br />

ter o estado de espírito, a mentalidade,<br />

o modo de pensar, fazer e<br />

sentir católicos. Eu tendia para essa<br />

postura de alma e não desejava<br />

outra coisa senão ser, inteiramente,<br />

católico apostólico romano!<br />

35


Arquivo revista<br />

<strong>Plinio</strong> com o traje<br />

de Primeira Comunhão<br />

NNo meu tempo, o hábito<br />

de Primeira Comunhão<br />

masculino era a cópia do<br />

uniforme solene de um dos colégios<br />

mais famosos do mundo — o de<br />

Eton, da Inglaterra. Tratava-se, na<br />

verdade, de roupa muito pomposa,<br />

paletó e calça de casimira inglesa e<br />

cortes elegantes, camisa engomada,<br />

de colarinho duro, gravata escura e,<br />

no braço esquerdo, um laço de fita<br />

branca, em cujas pontas brilhavam<br />

pingentes dourados. O branco<br />

simbolizava a castidade daquele<br />

menino; o dourado lembrava<br />

a sua fé.<br />

De que me serviu a Primeira<br />

Comunhão?<br />

Sendo o marco inaugural de<br />

uma série de comunhões, ela me<br />

preparou e fortaleceu minha alma<br />

para enfrentar os combates que, dali<br />

a pouco, teria de travar pelo bem e<br />

pela virtude.<br />

Preparou-me para uma vida<br />

que, graças à Santíssima Virgem,<br />

procurou se fazer sempre de piedade,<br />

de fidelidade aos mandamentos da<br />

Lei de Deus e os da Igreja, e de<br />

entranhado amor à Esposa Mística<br />

de Cristo, para cujos serviço e<br />

triunfo sempre almejei dedicar todos<br />

os meus esforços.<br />

36


S. Miyazaki<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

aos 86 anos<br />

37


Gesta marial de um varão católico<br />

II – Afirmação de uma ardorosa catolicidade<br />

Posso dizer que conheci a<br />

Igreja num de seus bons<br />

períodos, quando a generalidade<br />

dos católicos estava reunida<br />

em torno do seu Pastor Supremo,<br />

sob a desvelada conduta dos<br />

respectivos Episcopados nacionais,<br />

fazendo com que fosse completa<br />

a união entre Clero e fiéis,<br />

bem como a dos clérigos entre si.<br />

Numa palavra, reinava na Igreja a<br />

paz de Cristo.<br />

Filho, como disse, de uma senhora<br />

eminentemente católica,<br />

cuja influência em minha formação<br />

religiosa foi das mais profundas,<br />

desde muito cedo comecei a<br />

amar a Santa Igreja com transportes<br />

de entusiasmo. Porém, não pequena<br />

foi minha surpresa quando,<br />

em contato com colegas e amigos<br />

de minha geração, alheios ao meu<br />

círculo familiar, constatei haver<br />

uma parte da opinião pública —<br />

mais considerável nas camadas altas<br />

da sociedade — que se mostrava<br />

reticente em relação à Igreja.<br />

Nesse meio entendia-se que os<br />

homens não deveriam se mostrar<br />

católicos, ficando bem apenas ao<br />

sexo feminino praticar a religião.<br />

A profissão aberta do catolicismo<br />

por um moço o qualificava<br />

entre os carolas, pessoas de capacidade<br />

intelectual e humana insuficiente.<br />

Tal discriminação fazia<br />

com que, atemorizados pelo julgamento<br />

dos outros, muitos homens<br />

não tivessem a coragem de<br />

parecer católicos praticantes. Um<br />

jovem que o fizesse seria posto à<br />

margem no seu próprio meio social.<br />

Catolicismo total<br />

Outro não foi o isolamento de<br />

que me tornei objeto, pois sempre<br />

professei abertamente, com a graça<br />

de Deus, a fé católica apostólica<br />

romana. Encontrei, assim, desde<br />

o início do curso secundário,<br />

oposições muito vivas em torno<br />

de mim. Oposições estas que ha-<br />

veriam de se intensificar quando<br />

me inscrevi na Faculdade de Direito<br />

do Largo de São Francisco,<br />

naquela época célebre foco de laicismo<br />

e de positivismo jurídico,<br />

contrários à doutrina da Igreja.<br />

Lembro-me de que, ao fazer<br />

minha inscrição na Faculdade,<br />

sentia o coração bater-me na<br />

garganta, pelo receio de que tal<br />

ambiente corroesse minhas convicções<br />

religiosas. Confiando<br />

na Santíssima Virgem, com todo<br />

o fervor roguei-lhe os meios<br />

de conservar a fé católica íntegra,<br />

naquele terreno hostil no qual entrava.<br />

Como sempre, Ela me atendeu<br />

de modo superlativo. Acabei<br />

sendo, antes de tudo, católico, de<br />

um catolicismo total, completo.<br />

Conservava, entretanto, uma<br />

dúvida a respeito de como conduzir<br />

minha vida. Porque, ao mesmo<br />

tempo em que freqüentava a<br />

sociedade, paradoxalmente eu era,<br />

em virtude de minhas convicções<br />

religiosas, muito retraído. E as-<br />

“<br />

38


sim, no quase isolamento, na resolução<br />

de lutar e na alegria —<br />

cumpre notar — da esperança do<br />

meu futuro, transcorreu minha<br />

mocidade. Esperança do futuro,<br />

sim, pois era nele que eu me refugiava<br />

para enfrentar as oposições<br />

do ambiente.<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

Quando eu<br />

revelasse a<br />

existência de<br />

jovens católicos,<br />

estaria quebrada<br />

a pressão em<br />

torno<br />

”<br />

de mim<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> na época em que conheceu o Movimento Católico; abaixo, da<br />

esquerda para a direita: Congresso da Mocidade Católica, Igreja do Mosteiro<br />

de São Bento (SP); faixa que anunciava o Congresso da Mocidade Católica,<br />

em 1928; dois eventos das Congregações Marianas em São Paulo<br />

39


Gesta marial de um varão católico<br />

Encontro com a<br />

Mocidade Católica<br />

Qual não foi o meu espanto<br />

quando, certo dia de 1928, passando<br />

de bonde pela Praça do Patriarca,<br />

no centro de São Paulo,<br />

reparei numa larga faixa estendida<br />

à frente da Igreja de Santo Antônio,<br />

cujos dizeres eram: “Congresso<br />

da Mocidade Católica, de 9<br />

a 16 de setembro. Inscrições nesta<br />

praça, prédio tal, número tal”.<br />

Pela natureza do anúncio, percebi<br />

tratar-se de um congresso de juventude<br />

masculina. Fiquei encantadíssimo!<br />

“Quem sabe — pensei<br />

— existe aí um lugar onde eu me<br />

encaixe e escape dessa pressão em<br />

que vivo?”<br />

A notícia daquele congresso<br />

abria para mim um tão imenso<br />

horizonte, que meu primeiro<br />

movimento foi de descer e já fazer<br />

minha inscrição. Porém, era<br />

início de noite e todos os escritórios<br />

estavam fechados. Restavame<br />

apenas esperar o dia seguinte,<br />

quando então me apresentei no<br />

local indicado, inscrevi-me e recebi<br />

uma medalha para ser usada<br />

durante o evento.<br />

Tal era meu entusiasmo que,<br />

na manhã do primeiro dia de reuniões,<br />

ao tomar o bonde em direção<br />

à Igreja de São Bento, local<br />

do congresso, logo que me sentei<br />

coloquei a medalha, ostentando-a<br />

com ufania por todo o trajeto. Ao<br />

entrar na igreja dos beneditinos<br />

fiquei verdadeiramente espantado<br />

com o número de moços católicos<br />

ali reunidos, muito superior<br />

ao que eu tinha imaginado. De<br />

fato, acabei descobrindo que num<br />

setor de São Paulo, estranho aos<br />

meus círculos sociais, havia em<br />

formação um grande movimento<br />

de jovens católicos, praticantes,<br />

castos, direitos, sinceros devotos<br />

de Nossa Senhora. E eram algumas<br />

centenas.<br />

Na presidência do congresso<br />

estava o Arcebispo de São Paulo,<br />

Dom Duarte Leopoldo e Silva,<br />

homem bastante cônscio de<br />

sua condição de Príncipe da Igreja.<br />

Ao lado dele, todos os Bispos<br />

do Estado de São Paulo, com seus<br />

trajes eclesiásticos de gala, cercados<br />

do grande respeito devido à<br />

sua alta dignidade. Um coral de<br />

vozes masculinas entoava canções<br />

de ótimo cunho religioso, como,<br />

por exemplo, esta de que ainda<br />

me recordo:<br />

Mocidade brilhante e sadia,<br />

Sai da inércia em que estás.<br />

Renuncia à inação criminosa.<br />

De pé! De pé!<br />

Deu a voz de comando Pio XI,<br />

Carrilhonam os sinos de bronze<br />

E descem do alto seus brados de fé!<br />

Este hino, utilizado pelas Congregações<br />

Marianas, era cantado<br />

com um ardor que bem exprimia<br />

o vôo do espírito e do entusiasmo<br />

da mocidade católica por todo<br />

o território brasileiro. Compreendi,<br />

então, que dali podia<br />

sair um movimento católico conforme<br />

ao meu ideal. Sobretudo,<br />

percebi que a partir do momento<br />

que eu pudesse alegar, nos ambientes<br />

por mim freqüentados, a<br />

existência de inúmeros jovens católicos,<br />

e mostrar fotografias da<br />

Igreja de São Bento repleta deles,<br />

estaria quebrada a pressão em<br />

torno de mim.<br />

Verdade é que a grande maioria<br />

daqueles moços pertencia a um<br />

ambiente social mais modesto<br />

que o meu. Porém, praticavam a<br />

pureza e eu poderia viver no meio<br />

deles, tentando pôr em marcha a<br />

ação contra-revolucionária.<br />

Resultado de tudo isso: no domingo<br />

seguinte ao congresso eu<br />

me alistava como membro da<br />

Congregação Mariana de Santa<br />

Cecília. Tinha início minha dedicação<br />

mais efetiva e completa ao<br />

serviço da Santa Igreja.<br />

Como costuma acontecer em<br />

movimentos desse tipo, os mais<br />

fervorosos se destacam e passam<br />

a ocupar posições de liderança.<br />

Assim sucedeu que, tendo eu<br />

me tornado congregado mariano<br />

com todo o ardor de minha alma,<br />

a generosidade dos que comigo<br />

lutavam impeliu-me para situações<br />

de realce — sem que nenhuma<br />

vez eu as tenha procurado<br />

ou disputado. Ademais, tinha eu<br />

certa facilidade de me exprimir<br />

em público, fazer discursos, etc.,<br />

e isso trazia como conseqüência<br />

reiterados convites para falar.<br />

Rapidamente, tornei-me muito<br />

conhecido nos meios religiosos,<br />

e passei a ser visto e tomado como<br />

um líder católico.<br />

Foi uma ascensão rápida e profícua,<br />

sem dúvida por misericórdia<br />

e amparo especiais da Santíssima<br />

Virgem.<br />

“Rapidamente, tornei-me muito<br />

conhecido nos meios religiosos,<br />

e passei a ser visto e tomado<br />

como um líder católico<br />

40


Católico praticante<br />

Interessante notar que, quando<br />

as pessoas de meu círculo social<br />

perceberam emergir do chão um<br />

vigoroso movimento de jovens<br />

católicos, pouco noticiado pelos<br />

jornais, mas do qual lhes dava<br />

conhecimento em nossas conversas,<br />

ficavam admiradas. E eu com<br />

muita ufania contava:<br />

— Sabem, fui a um Congresso<br />

Eucarístico em Taubaté, e ali havia<br />

um colossal desfile de moços.<br />

Amanhã farei uma conferência no<br />

Pari. Convidaram-me também para<br />

dar uma palestra no Belenzinho,<br />

e em ambos os locais (eu insistia<br />

sempre neste ponto) há pujantes<br />

Congregações Marianas,<br />

com muitos moços católicos...<br />

Cientes de minha retidão moral,<br />

essas pessoas se davam conta<br />

da veracidade de meus comentários<br />

e entendiam bem o significado<br />

dos termos “moços católicos”.<br />

Lembro-me de que, por ocasião<br />

de um feriado, reuniu-se uma roda<br />

de parentes e amigos em minha<br />

casa. Em certo momento, levanto-me<br />

e digo: “Com licença,<br />

vou agora a um auditório do<br />

Pari”. Minhas palavras causaram<br />

não pequena surpresa, porque o<br />

Pari era um bairro desconhecido<br />

para eles, no qual nunca haviam<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

Acima e abaixo, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

em ocasiões distintas<br />

de sua frutuosa atuação<br />

como líder católico<br />

41


Gesta marial de um varão católico<br />

posto o pé. Eu ainda completei:<br />

“Vou fazer uma conferência lá...”<br />

Minha nova conduta e atividades<br />

eram notadas, sobretudo,<br />

não tanto por meus parentes<br />

— os quais, afinal, tinham comigo<br />

a intimidade da vida de família<br />

— mas pelos conhecidos, colegas<br />

de faculdade ou do tempo<br />

do Colégio São Luís. Estes, por<br />

exemplo, me viam surpresos entrar<br />

na igreja junto com os congregados<br />

marianos que, com raras<br />

exceções, pertenciam em geral<br />

a classes mais modestas. Eu com<br />

o distintivo, uma fita azul, cantando<br />

no meio dos congregados,<br />

dirigindo-me aos bancos reservados<br />

a eles.<br />

Atitudes dessas tornaram notório<br />

em pouco tempo, para a sociedade<br />

de São Paulo, que eu tinha<br />

mudado de vida e me encontrava<br />

encaixado em outro ambiente.<br />

Na política, em<br />

defesa da Igreja<br />

“ ”<br />

Era uma vitória estrondosa, tendo<br />

sido o candidato mais votado<br />

Passada a Revolução Constitucionalista<br />

de 1932, teriam lugar<br />

as eleições para uma nova Assembléia<br />

Nacional Constituinte. A<br />

hierarquia eclesiástica estava interessada<br />

na aprovação de leis segundo<br />

a doutrina católica, e por<br />

isso resolveu formar um organismo<br />

capaz de eleger deputados<br />

que trabalhassem pelos objetivos<br />

da Igreja. Surgiram<br />

então as Ligas Eleitorais<br />

Católicas (LECs), em<br />

diversas dioceses do<br />

País.<br />

Fui convidado pelo<br />

Arcebispo de São Paulo,<br />

Dom Duarte Leopoldo<br />

e Silva, para ser o<br />

Secretário‐Geral da LEC<br />

paulista e, além disso, um<br />

dos quatro candidatos da Liga a<br />

disputarem as eleições, integrando<br />

a Chapa Única por São Paulo<br />

Unido. Eu pensei: “Estou disposto<br />

a combater pela Causa Católica.<br />

Se eu não for, serei acaso<br />

substituído por outro que queira<br />

lutar tanto quanto eu? Não sei.<br />

Por via das dúvidas, topo a parada!”<br />

Disse que aceitava a indicação,<br />

e logo foi feita uma comunicação<br />

à imprensa de que eu e mais<br />

três outros éramos candidatos.<br />

Vieram as eleições. Começa a<br />

contagem dos votos, e por todo o<br />

lado meu nome vai aparecendo em<br />

boa quantidade. Para santificar<br />

minha alma e estar completamente<br />

desapegado do meu cargo, caso<br />

fosse eleito, decidi não acompanhar<br />

as apurações. Mas minha irmã<br />

as conferia dia a dia. Quando,<br />

de manhã, eu entrava para tomar<br />

café, ela habitualmente estava ali,<br />

e me contava as últimas. Eu a ouvia<br />

com certa frieza.<br />

Numa manhã, cumprimentei-a:<br />

“Como vai você?” Ela não me respondeu.<br />

Fez uma reverência diante<br />

de mim, como se faria numa<br />

corte, e disse:<br />

— Senhor Deputado, meus<br />

parabéns!<br />

Tomando como um gracejo,<br />

sentei-me e quis começar a falar<br />

de outro assunto. Ela insistiu:<br />

— Senhor Deputado, meus<br />

parabéns! Você não prestou atenção?<br />

— Mas, o que há?<br />

— Hoje você foi proclamado<br />

eleito!<br />

Era uma vitória estrondosa que<br />

se confirmava, pois eu havia obtido<br />

o dobro de votos do afamado<br />

Alcântara Machado, candidato<br />

que ficou em segundo lugar.<br />

Diante de mim se abria o caminho<br />

das lides parlamentares,<br />

nas quais trabalharia com empenho<br />

para fazer prevalecer os interesses<br />

da Igreja. Graças a Deus<br />

e o socorro de Maria Santíssima,<br />

haveríamos de conquistar<br />

todos os nossos<br />

objetivos.<br />

Reunião de<br />

fundação da LEC<br />

de São Paulo:<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> é o<br />

segundo da esquerda<br />

para a direita; na<br />

página 43,<br />

o jovem deputado<br />

<strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira<br />

42


Fotos: Arquivo revista<br />

43


Gesta marial de um varão católico<br />

Influente apostolado Curiosamente, após encerrar<br />

através da<br />

“<br />

a<br />

carreira política, meu prestígio de<br />

líder católico aumentara, em vez<br />

imprensa escrita<br />

de fenecer. Continuei a ser muito<br />

convidado para numerosos<br />

Terminado o meu mandato na discursos e conferências no meio<br />

Assembléia, pediram-me que assumisse<br />

a direção efetiva do “Le-<br />

bispos. Convites aos quais nunca<br />

católico, sobretudo por parte de<br />

gionário”, órgão oficioso da Arquidiocese<br />

de São Paulo. Embo-<br />

conversava à vontade e atendia-os<br />

recusava: comparecia, discursava,<br />

ra não rendesse nada do ponto de como quisessem.<br />

vista financeiro, notei que era um Ao cabo de algum tempo, consegui<br />

que o “Legionário” se trans-<br />

meio de apostolado promissor,<br />

podendo vir a ser excelente, desde formasse num semanário, tendente<br />

a ser diário, que era meu obje-<br />

que eu tivesse uma boa equipe de<br />

redatores, e utilizasse convenientemente<br />

o jornal em ordem aos tinha em vista fazer dele o pritivo.<br />

Essa completa reformulação<br />

objetivos católicos para os quais meiro jornal católico do Brasil, o<br />

orientava meus esforços. Meus que, pela misericordiosa proteção<br />

dias eram, portanto, divididos de Nossa Senhora, alcançamos.<br />

entre minhas aulas, o escritório Dentro em breve, passou a pesar<br />

de advocacia e a chefia do “Legionário”,<br />

dedicando uma parte pa-<br />

Rio, de Minas, de Porto Alegre,<br />

na vida interna dos católicos do<br />

ra cultivar meus amigos congregados<br />

e ao relacionamento com o ra de nossas fronteiras, em Mon-<br />

de Recife. Ele repercutia até fo-<br />

movimento mariano em geral. tevidéu, Buenos Aires, um pouco<br />

Meu prestígio<br />

de líder católico<br />

aumentara,<br />

e fizemos do<br />

‘Legionário’ um<br />

órgão de grande<br />

”<br />

influência<br />

Fotos: Arquivo revista<br />

44


em Santiago do Chile, até mesmo<br />

na Europa e, mais raramente, nos<br />

Estados Unidos.<br />

O “Legionário” tornara-se, assim,<br />

um meio de nosso ambiente<br />

e de nossas idéias exercerem larga<br />

influência. Era onde queríamos<br />

chegar. Realizamos o projeto<br />

de abrir todas as janelas e portas,<br />

fazendo entrar largamente os ventos<br />

dos assuntos nacionais e internacionais,<br />

dos altos problemas<br />

culturais, filosóficos, teológicos,<br />

etc. E, de fato, isto trouxe uma<br />

vida e um movimento extraordinários<br />

para os círculos católicos.<br />

Importa salientar que as opiniões<br />

publicadas no “Legionário”<br />

não eram outras senão as do Papado.<br />

Se procurava analisar implacavelmente<br />

os acontecimentos,<br />

sempre o fazia do ponto de vista<br />

dos discursos e das instruções do<br />

Sumo Pontífice.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> discursa em duas solenidades católicas; na<br />

página 44, ele e seus colegas de redação do “Legionário”<br />

junto com o Arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva<br />

45


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> com o hábito da<br />

Ordem Terceira do Carmo<br />

CComo advogado, ao mesmo tempo<br />

em que cuidava dos negócios<br />

da Ordem do Carmo, nossas<br />

amizades no convento carmelita de São<br />

Paulo favoreceram inclusive a continuidade<br />

de nosso apostolado no final da década de 40<br />

e na de 50.<br />

Acabei sendo eleito prior da Ordem<br />

Terceira do Carmo. Os carmelitas têm três<br />

ramos: o primeiro, constituído pelos padres;<br />

o segundo, das freiras; e o terceiro, composto<br />

por leigos. Mas os membros deste último<br />

pertencem verdadeiramente à Ordem do<br />

Carmo, são filhos de Santo Elias. Tornarme<br />

terceiro carmelitano realizava um antigo<br />

desejo, pois toda a vida tive vontade de<br />

pertencer a esta instituição religiosa, pela<br />

qual sentia grande afinidade.<br />

Levei para ela os amigos que pude. E um<br />

dos mais belos atos a que nos entregávamos<br />

era a adoração noturna mensal que se<br />

fazia na Basílica do Carmo. Entrávamos<br />

na igreja revestidos de hábito, em cortejo e<br />

cantando. O Santíssimo Sacramento era<br />

exposto e ficávamos rezando das 21hs até<br />

meia-noite, quando era dada a Bênção do<br />

Santíssimo.<br />

Durante muitos anos, a Ordem do Carmo<br />

acabou sendo, portanto, não apenas cliente<br />

distinta do meu escritório de advocacia,<br />

mas permitiu-me um modo de continuar<br />

a militância católica, propiciando-me um<br />

inestimável instrumento de apostolado.<br />

46


P. Miguel<br />

Em 9 de agosto de 1968<br />

iniciava <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sua<br />

colaboração no jornal Folha<br />

de S. Paulo, um dos maiores<br />

diários do Brasil. Em seus<br />

artigos transparecia sempre<br />

o cunho característico de<br />

escritor católico, com sua<br />

elevada e atraente linguagem<br />

ao tratar dos mais variados<br />

assuntos. Por exemplo,<br />

nas belas passagens aqui<br />

transcritas — estampadas em<br />

12 de novembro de 1976 —<br />

descreve ele a fisionomia e o<br />

olhar da Imagem Peregrina<br />

de Nossa Senhora de Fátima,<br />

que vertera lágrimas em Nova<br />

Orleans, nos Estados Unidos.<br />

Acima de tudo, para<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, as páginas da<br />

Folha constituíam mais uma<br />

tribuna que, em sua extensa<br />

trajetória de homem público,<br />

tinha à sua disposição para<br />

difundir seu pensamento<br />

essencialmente católico e<br />

fiel à Cátedra Romana.<br />

Q<br />

Que olhar! Nenhum é tão límpido,<br />

tão franco, tão puro, tão acolhedor.<br />

Em nenhum se penetra com tal<br />

facilidade. Contudo, nenhum também apresenta<br />

profundidades que se perdem em tão longínquo<br />

horizonte. Quanto mais dentro desse olhar<br />

se caminha, tanto mais ele atrai para um<br />

indescritível ápice interior e profundo. (...)<br />

Pode alguém passar a vida inteira caminhando<br />

dentro desse olhar, sem jamais tocar nesse vértice.<br />

Caminhada inútil? Não. Dentro desse olhar<br />

não se anda; voa-se. Não se passeia; faz-se<br />

peregrinação...<br />

Arquivo revista<br />

47


Gesta marial de um varão católico<br />

Na incondicional fidelidade à Cátedra de<br />

Pedro encontra-se a substância do catolicismo<br />

”<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos 80 anos; ao<br />

fundo, a Basílica do Vaticano<br />

Fotos: Arquivo revista / R. C. Branco<br />

48


III – Perene amor à Igreja e ao Papado<br />

T<br />

oda a influência que Nossa<br />

Senhora permitiu que<br />

eu tivesse nos meios católicos,<br />

tudo o que Ela me auxiliou<br />

a empreender e a realizar pela<br />

Santa Igreja ao longo de minha<br />

vida, deveu-se em ponderável medida<br />

ao fato de que, desde o início<br />

de meu esforço em prol da<br />

Religião, já era eu partidário convicto<br />

de uma catolicidade total.<br />

Ou seja, para mim, um catolicismo<br />

de meia tinta não teria força<br />

nem expressão diante da impiedade<br />

contemporânea.<br />

Convicto estava eu, também,<br />

de que só se é católico no vigor<br />

do termo quando absolutamente<br />

fiel à Cátedra de Pedro, pois nessa<br />

incondicional fidelidade encontra-se<br />

a substância do catolicismo.<br />

Profundamente convicto, enfim,<br />

de que a Igreja é a coluna<br />

do mundo, da ordem temporal,<br />

da ordem civil e da ordem moral.<br />

E de que, portanto, somente<br />

da doutrina, dos mandamentos<br />

e dos ensinamentos dela poderia<br />

decorrer a solução da crise social,<br />

política e moral em que vai soçobrando<br />

a humanidade.<br />

Como se fosse uma<br />

imensa alma<br />

Quando esta convicção se estabeleceu<br />

no meu espírito, quando<br />

compreendi que na Santa<br />

Igreja todas as coisas se imbricam<br />

de modo tão lógico e perfeito<br />

que só ela é a única verdadeira,<br />

então meu ato de fé se explicitou<br />

em toda a sua extensão: “Creio<br />

na Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana!”<br />

Daí brotou, igualmente, um ato<br />

de amor que não faria senão crescer<br />

e se intensificar: “Eu a quero,<br />

porque fora dela nada possui autêntico<br />

valor.”<br />

Lembro-me de mim pequenino<br />

na Igreja do Sagrado Coração<br />

de Jesus, ouvindo um sussurro<br />

de beatas que rezavam o terço.<br />

Olhava para elas, e percebia a<br />

severidade com que se apresentavam.<br />

Roupas tão surradas que não<br />

tinham idade. Faces tão sofridas,<br />

que também já não tinham idade.<br />

Nas faces, nenhuma beleza. Nas<br />

roupas, nenhum gosto. Mas... faziam-me<br />

sentir algo completamente<br />

diferente de minhas sensações<br />

habituais. “Santa Maria,<br />

Mãe de Deus, rogai por nós pecadores,<br />

agora e na hora de nossa<br />

morte. Amém”. Em seguida, uma<br />

voz mais fina: “Glória ao Padre,<br />

ao Filho e ao Espírito Santo”. E<br />

o coro: “Assim como era no princípio,<br />

agora e sempre pelos séculos<br />

dos séculos. Amém.”<br />

Era uma espécie de cantiga de<br />

ninar. “Como isso nos embala!<br />

Ouçamos. Há aqui qualquer coisa<br />

de uma doçura aveludada de alma.<br />

Há algo de uma retidão en-<br />

tristecida, envelhecida, mas que<br />

nada conseguiu macular. Algo de<br />

vida espiritual e de vida humana,<br />

muito mais valioso que cem canções<br />

bonitas que ouvi.”<br />

Eu tinha a impressão de que<br />

outras cordas de minha alma tocavam,<br />

intensamente. E pensava:<br />

“Isto é assim, e assim deve ser!”<br />

Considerando todos esses aspectos<br />

da Igreja,vinha-me ao espírito<br />

essa idéia curiosa a seu respeito:<br />

“Ela não parece uma instituição,<br />

mas uma alma imensa, que<br />

se exprime através de mil coisas,<br />

que tem movimentos, grandezas,<br />

santidades e perfeições, como se<br />

fosse uma só alma que se exprimiu<br />

através de todas as igrejas<br />

católicas do mundo, de todas as<br />

imagens, de todas as liturgias, de<br />

todos os toques de órgão, de todos<br />

os dobrares de sino...<br />

“Essa alma chorou nos réquiens;<br />

ela se alegrou com os bimbalhares<br />

dos sábados de aleluia e<br />

das noites de Natal. Ela chora comigo,<br />

alegra‐se comigo. Eu mais<br />

vejo na Igreja uma alma do que<br />

uma instituição. Como eu gosto<br />

dessa alma! E eu me situo de tal<br />

modo em relação a ela, que minha<br />

(Continua na pg. 52)<br />

“Eu tinha a impressão de que<br />

outras cordas de minha alma<br />

tocavam intensamente!<br />

49


Arquivo revista<br />

50


é com meu entusiasmo<br />

dos tempos de jovem, que<br />

eu me coloco hoje ante a<br />

N“Não<br />

Santa Sé. É com um entusiasmo ainda<br />

maior, e muito maior. Pois à medida que vou<br />

vivendo, pensando e ganhando experiência,<br />

vou compreendendo e amando mais o Papa e<br />

o Papado. (...) Lembro‐me ainda das aulas<br />

de catecismo em que me explicaram o Papado,<br />

sua instituição divina, seus poderes, sua<br />

missão. Meu coração de menino (eu tinha<br />

então 9 anos) se encheu de admiração, de<br />

enlevo, de entusiasmo: eu encontrara o ideal a<br />

que me dedicaria por toda a vida. De lá para<br />

cá, o amor a esse ideal não tem senão<br />

crescido. E peço aqui, a Nossa Senhora,<br />

que o faça crescer mais e mais em mim,<br />

até o meu último alento. Quero que o<br />

derradeiro ato de meu intelecto seja um<br />

ato de Fé no Papado. Que meu último<br />

ato de amor seja um ato de amor ao<br />

Papado. Pois assim morrerei na paz dos<br />

eleitos, bem unido a Maria minha Mãe,<br />

e por Ela a Jesus, meu Deus, meu Rei e<br />

meu Redentor boníssimo.”<br />

O que escrevi nesse artigo para a “Folha de<br />

S. Paulo” 3 , peço a Nossa Senhora, de todo o<br />

coração, torná-lo absolutamente real: que o<br />

meu último ato de intelecção seja um ato de<br />

compreensão e veneração ao Papado, e meu<br />

último ato de amor seja um ato de amor ao<br />

Papado.<br />

O Papa... Ao pronunciar essa palavra<br />

augusta, parece-me ouvir, saída do fundo dos<br />

séculos, a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

proclamando: “Pedro, tu és pedra, e sobre<br />

esta pedra Eu edificarei a minha Igreja, e as<br />

portas do Inferno não prevalecerão contra<br />

ela”.<br />

J. S. Dias<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no fim da<br />

década de 70; na página<br />

50, ele com 8 anos<br />

51


Gesta marial de um varão católico<br />

“<br />

própria alma parece uma pequena<br />

ressonância, uma minúscula repetição<br />

dela, algo no qual essa alma<br />

entra e vive inteira, como dentro<br />

de um templo material. De maneira<br />

tal que tudo quanto gosto<br />

é como aquilo, e aquilo é como<br />

tudo de que eu gosto. Essa alma<br />

(quer dizer, a Igreja) é o ideal de<br />

minha vida. Para isso quero viver,<br />

e assim eu quero ser.”<br />

Contínuo olhar<br />

para a Igreja<br />

Muitos me viram nos momentos<br />

de maior aflição, como me viram<br />

também nos momentos que<br />

poderiam ser chamados de triunfo.<br />

Viram-me nas mais variadas<br />

circunstâncias da vida quotidiana.<br />

Porém, nunca me viram — nem<br />

no dia da morte de minha mãe —<br />

tão emocionado como no momento<br />

em que se comemora o meu<br />

batismo 4 . Inesperadamente para<br />

mim, e a despeito de minha placidez<br />

habitual, essa emoção me tomou<br />

por inteiro quando fui chamado<br />

de varão católico apostólico<br />

romano... Porque é o que desejo<br />

ser: um filho da Igreja!<br />

[Neste trecho de sua exposição, <strong>Dr</strong>.<br />

<strong>Plinio</strong> se emociona e, mais de uma vez,<br />

embarga a voz.]<br />

Nesta festa de comunicação de<br />

almas, em que os senhores agradecem<br />

a Nossa Senhora o dom,<br />

que eu amo desmedidamente,<br />

de pertencer à Igreja, eu desejaria<br />

que os senhores quisessem a<br />

Igreja Católica como eu a quero.<br />

A vários neste auditório eu conheço<br />

há trinta, talvez cinqüenta<br />

anos. A eles todos, continuamente,<br />

não tenho feito outra coisa<br />

senão dizer: amai a Santa Igreja<br />

Católica Apostólica e Romana,<br />

aquela Igreja a quem amo tanto,<br />

que fico até impossibilitado de<br />

falar sobre Ela. Simplesmente ao<br />

lhe pronunciar o nome, já sou incapaz<br />

de dizer o mundo de elogios<br />

e de amor que em minha alma<br />

existe.<br />

A atitude de meu coração em<br />

todos os dias, em todos os minutos,<br />

em todos os instantes, é procurar<br />

com os olhos a Igreja Católica<br />

e estar imbuído do espírito<br />

d’Ela. E se Ela for abandonada<br />

por todos os homens, na medida<br />

em que isto seja possível, sem<br />

que Ela deixe de existir, tê‐la inteira<br />

dentro de mim. Viver só para<br />

Ela, de tal maneira que eu possa<br />

dizer, ao morrer: “Realmente,<br />

fui um varão católico apostólico<br />

romano!”<br />

“O sol de minha<br />

existência”<br />

Com a graça de Nossa Senhora,<br />

posso afirmar que não há um<br />

só instante de minha vida — e<br />

por instante entendo fragmento<br />

de minuto — em que meu amor à<br />

Igreja Católica seja menor do que<br />

neste momento em que lhes dirijo<br />

a palavra.<br />

Como poderia este amor ser<br />

como é, sem que eu visse a Igreja<br />

de um determinado modo? Aquilo<br />

que se ama, ama‐se porque se<br />

viu. Ama‐se, porque se compreendeu.<br />

Ama‐se, enfim, porque se<br />

aderiu de toda a alma. Ama‐se de<br />

um modo tal que a palavra aderir<br />

é fraca. Entranhou‐se! Deixou‐se<br />

penetrar! Estabeleceu um conúbio<br />

de alma, tanto quanto a fraqueza<br />

humana permite, indissolúvel<br />

e completo, para a vida e para<br />

a morte, para o tempo e para a<br />

eternidade. Essa é a nossa pertencença<br />

à Igreja Católica.<br />

Enquanto Ela existir na Terra,<br />

a minha vida tem razão de ser.<br />

Se algum dia Ela tivesse de morrer,<br />

eu [devotaria] a Ela um amor<br />

que participa de algum modo da<br />

adoração. Mas, quando eu a visse<br />

morrendo, quereria que Deus<br />

Viver só para<br />

a Igreja; de<br />

modo que possa<br />

dizer, ao morrer:<br />

realmente fui um<br />

varão católico<br />

apostólico<br />

romano!<br />

”<br />

me levasse, porque minha vida<br />

nada mais valeria. Os meus ossos<br />

se desligariam, todo o meu<br />

ser se desarticularia, porque o sol<br />

dele não estaria mais presente: a<br />

Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana.<br />

v<br />

1) Termo criado por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para significar<br />

que, acima das realidades visíveis,<br />

existem as invisíveis. As primeiras<br />

constituem a esfera, ou seja,<br />

o universo material. E as invisíveis, a<br />

transesfera.<br />

2) Em alemão, “senhorita”. Palavra empregada<br />

para designar a governante<br />

de crianças e adolescentes.<br />

3) “A perfeita alegria”, Folha de S. Paulo,<br />

12 de julho de 1970.<br />

4) Era um 7 de junho, dia em que<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> recebeu o sacramento do<br />

Batismo. Ele se dirigia a um auditório<br />

repleto de discípulos seus que lhe<br />

prestaram filial homenagem pela data.<br />

52


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> na<br />

década de 80<br />

S. Miyazaki<br />

53


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

Rei e centro<br />

dos corações - II<br />

A queda singular de uma taça de água, durante a exposição em<br />

que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> concluía seus comentários a uma das tocantes<br />

invocações da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus, ofereceu<br />

a ele a oportunidade de exaltar e recomendar, uma vez mais<br />

a seus discípulos, a ardorosa prática da virtude da confiança:<br />

confiar contra todas as aparências da derrota, na misericordiosa<br />

e infalível assistência de Nosso Senhor e de sua Mãe Santíssima.<br />

Após considerarmos os direitos<br />

de soberania do Sagrado Coração<br />

de Jesus sobre a vontade<br />

do homem, simbolizada pelo órgão<br />

que lateja em nosso peito, cumpre<br />

analisarmos o outro termo da invocação<br />

que diz: “centro de todos os<br />

corações”.<br />

Eixo do qual tudo se<br />

aproxima ou se afasta<br />

A palavra “centro” — não o geométrico,<br />

pois se trata de uma metáfora<br />

— sugere a idéia de uma multidão<br />

de corações com um ponto de<br />

atração em função do qual todos se<br />

movem para aceitar ou rejeitar algo.<br />

Ainda que não percebamos, os movimentos<br />

da vida particular de cada<br />

um, bem como os da História, se fazem<br />

em razão do Sagrado Coração<br />

de Jesus.<br />

Imaginemos um ímã gigantesco<br />

em torno do qual uma imensa quantidade<br />

de limalhas de ferro estivesse<br />

disposta, e um vento soprando sobre<br />

elas. A viração tende a dispersar as<br />

limalhas enquanto o ímã busca atraílas.<br />

Os minúsculos fiapos de ferro estão<br />

continuamente solicitados por<br />

duas forças distintas: a centrípeta,<br />

que os leva a se unirem ao ímã, e a<br />

centrífuga, a dele se separarem.<br />

Suponhamos que cada uma das limalhas<br />

fosse dotada de inteligência e<br />

livre arbítrio, e a todo momento, por<br />

causa do vento e da atração, sintase<br />

obrigada a escolher se irá aproximar-se<br />

ou distanciar-se do ímã. Essa<br />

é uma metáfora para indicar o significado<br />

das palavras “rei e centro dos<br />

corações”. Assim, a todo instante de<br />

nossa vida, estamos nos acercando<br />

ou nos afastando d’Ele. É o sentido<br />

de todo ato que praticamos.<br />

Entre Deus e o demônio<br />

A imagem do ímã, da limalha e<br />

do vento não apresenta toda a realidade.<br />

Por exemplo, não alude à fonte<br />

desse vento que tende a dispersar<br />

as limalhas. Evidentemente, quem o<br />

54


sopra é Satanás o qual sempre procura<br />

nos afastar de Nosso Senhor.<br />

Devemos continuamente estar caminhando<br />

para o centro, ou seja, para<br />

Deus, opondo-nos à pressão e atração<br />

exercida pelo demônio. De direito,<br />

Nosso Senhor é o ímã.<br />

E também o é no sentido de que<br />

efetua um poder atrativo sobre todos<br />

os corações. Porém, dá ao homem livre<br />

arbítrio. Se este recusar, pecará<br />

e, caso não se arrependa, será con-<br />

Sagrado Coração de<br />

Jesus - Igreja de<br />

Manresa, Espanha<br />

S. Hollmann<br />

55


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

denado. Esse é o verdadeiro significado<br />

da metáfora.<br />

Tais considerações se aplicam<br />

igualmente aos países. Estes têm como<br />

que uma inteligência e uma vontade<br />

coletivas, as quais constituem a<br />

opinião pública. Esta se move como<br />

as idéias individuais, pois é a síntese<br />

ou a soma delas. Assim, cada um de<br />

nós exerce um papel — maior ou menor<br />

— na opinião pública, e tem responsabilidade<br />

sobre sua orientação<br />

para um lado ou outro. De modo especial<br />

o têm os que pertencem a um<br />

movimento (como o nosso) que visa<br />

especificamente atuar no consenso<br />

geral para combater o mau “vento”<br />

soprado em cima da limalha frágil<br />

da opinião dos indivíduos, ou seja,<br />

contrariar a ação do demônio sobre<br />

as almas.<br />

Com efeito, visamos criar condições<br />

favoráveis para que a atração<br />

de Nosso Senhor Jesus Cristo se<br />

exerça inteiramente. Nesse sentido,<br />

somos os soldados do rei que procuram<br />

conquistar limalha por limalha,<br />

ou partícula por partícula da limalha,<br />

cujo conjunto constitui a opinião<br />

pública e levá-la para esse divino<br />

centro de todos os corações. E, como<br />

antes salientamos, segundo o ensinamento<br />

de São Luís Grignion de<br />

Montfort, o reinado de Maria se estabelecerá<br />

quando, pela intercessão<br />

d’Ela, a parte mais poderosa e ponderável,<br />

decisiva, da opinião pública<br />

tenha conduzido o gênero humano a<br />

pertencer efetivamente ao Coração<br />

de Jesus.<br />

Há, portanto, uma forte analogia<br />

entre esta invocação tão bela, “Nosso<br />

Senhor, Rei e centro de todos os<br />

corações”, e a devoção a Nossa Senhora<br />

Rainha. Queremos que a Santíssima<br />

Virgem seja, não só Rainha<br />

de direito — pois Ela o é como Mãe<br />

de Deus e Co-redentora do mundo<br />

—, mas de fato, que as almas Lhe<br />

pertençam e, dessa maneira, pertençam<br />

a Nosso Senhor.<br />

Numa palavra, o Reino de Maria<br />

é um meio necessário para existir o<br />

Reino de Jesus, o qual representará<br />

uma imensa graça para a humanidade,<br />

uma insondável misericórdia para<br />

os homens que pouco ou muito<br />

pouco têm feito para merecê-la.<br />

Esta dádiva somente nos será<br />

alcançada pelas mãos de<br />

Nossa Senhora, Medianeira<br />

de todos os favores divinos.<br />

Em favor do Rei e da<br />

Rainha, sua Mãe<br />

S. Hollmann<br />

56


Desejamos o Reino de<br />

Maria, como um meio<br />

necessário para que<br />

Nosso Senhor reine de<br />

fato sobre as almas<br />

Coroação da Virgem - Catedral<br />

de Notre-Dame de Paris<br />

“Torrentes de graças!”:<br />

a taça de água que<br />

gira no ar e cai de pé<br />

Compreende-se, assim, como nossa<br />

devoção ao Reino de Jesus e a seu<br />

Sagrado Coração, ao Reino de Maria<br />

e a seu Coração Sapiencial e Imaculado<br />

se completam, formando um<br />

só todo, propiciando grande alento<br />

para nós.<br />

Por fim, se tomarmos em consideração<br />

que a vitória pela qual nos empenhamos<br />

tanto, depende primordialmente<br />

da graça — sem a graça,<br />

sem muita graça, sem torrentes de<br />

graças nada obteremos...<br />

[NR: Neste exato momento de sua exposição,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, ao fazer um gesto<br />

com o braço esquerdo, inadvertidamente<br />

derrubou a taça na qual lhe seria servida<br />

a água, colocada sobre uma mesinha<br />

ao seu lado. A taça, de fino cristal, bateu<br />

no bordo da pequena mesa produzindo<br />

um lindo som e projetou-se para o solo<br />

caiu com a boca para baixo. Depois de<br />

tocar no tapete, saltou ao ar, endireitouse<br />

e finalmente pousou de pé. Não sofreu<br />

o menor arranhão, como se fora ali depositada<br />

por mão cuidadosa. O fato insólito<br />

produziu uma natural reação, misto<br />

de surpresa e encanto, em todos que o viram.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aproveitou a circunstân-<br />

57


Eco fidelíssimo da Igreja<br />

cia para tirar dele mais um ensinamento,<br />

dizendo então:]<br />

Faço notar a beleza peculiar do fato<br />

de esta cena não ter sido registrada<br />

em fotografia. Poderia sê-lo, como<br />

tantos instantâneos que são colhidos<br />

em nossas reuniões. Porém,<br />

Nossa Senhora não dispôs que houvesse<br />

uma máquina fotográfica preparada<br />

neste momento. Por quê? Para<br />

que ele ficasse gravado no coração<br />

de cada um dos meus ouvintes.<br />

Recordemos: falávamos da necessidade<br />

de torrentes de graças as quais<br />

dependem da intercessão de Maria<br />

Santíssima, que escolhe as ocasiões<br />

adequadas para alcançá-las. Às vezes<br />

quando a alma, compenetrada<br />

de sua miséria, se encontra mais tocada<br />

e orientada para a receptividade;<br />

às vezes, nas piores horas de sua<br />

vida espiritual, quando a graça atua<br />

e vence nossa maldade.<br />

Por exemplo, ninguém poderá<br />

pretender que São Pedro, quando<br />

negou Nosso Senhor durante a Paixão,<br />

estava com a alma disposta para<br />

receber graças. Entretanto, o dom<br />

divino pousou sobre ele e operou sua<br />

cura salvadora. O Príncipe dos Apóstolos<br />

não cessou de chorar, por assim<br />

dizer, até o momento em que morreu<br />

crucificado de cabeça para baixo.<br />

História de uma<br />

gota d’água, lição<br />

de confiança<br />

Insisto, pois, na idéia de que o papel<br />

soberano da graça e o de Nossa<br />

Senhora em obtê-la do Coração infinitamente<br />

misericordioso de seu Filho,<br />

são decisivos na História. Nessas<br />

condições, não nos devemos importar,<br />

de modo cruciante, com os fatores<br />

e circunstâncias humanos. O importante<br />

é que Deus, na sua clemência,<br />

nos seja propício, disposição divina<br />

esta que poderemos alcançar<br />

por meio de preces a Nossa Senhora.<br />

E para nos valermos do fato que<br />

acaba de ocorrer, acrescento: se estivermos<br />

numa boa situação e cairmos,<br />

confiando em Nossa Senhora,<br />

cairemos de pé!<br />

Imaginemos que no fundo dessa<br />

taça houvesse uma gota de água dotada<br />

de pensamento. Estaria contente<br />

porque habita dentro de um cristal,<br />

com seus reluzimentos próprios.<br />

Ela não cogitaria que o recipiente<br />

pudesse ser derrubado e diria: “Estou<br />

na concha desta taça e nada me<br />

sucederá!”<br />

De súbito, o cristal recebe uma<br />

cotovelada do orador pouco cauteloso...<br />

A gota se assusta, sente um estremecimento<br />

e, percebendo que a<br />

taça se inclina perigosamente, exclama:<br />

“Tenha confiança em Nossa Senhora,<br />

não há risco de cair!” Quando<br />

o cristal dá uma cambalhota, ela<br />

instintivamente se pergunta: “O que<br />

me irá acontecer agora? Vou cair...”<br />

Mas, continua afirmando: “Confiança<br />

em Nossa Senhora!” A taça cai de<br />

pé, com a gota ilesa em seu fundo.<br />

Ou seja, a virtude da confiança é,<br />

ao mesmo tempo, fruto e condição<br />

para a perfeita devoção aos Sagrados<br />

Corações de Jesus e Maria. Por<br />

maiores que sejam os embates que<br />

soframos, parecendo estarmos numa<br />

sucessão de desastres, devemos confiar<br />

em Nossa Senhora. E se os fatos<br />

desabonarem nossa confiança, e Ela<br />

permitir que passemos por cambalhotas,<br />

convém nos lembrarmos da<br />

metáfora da gota d’água: ela se agarrou<br />

com todas as forças à superfície<br />

Fotos: S. Miyazaki<br />

58


“A história da gota d’água<br />

na taça nos comprova: pode<br />

ser difícil, porém nada é<br />

impossível para quem confia<br />

em Nosso Senhor e<br />

Nossa Senhora”<br />

Aspecto do estrado sobre o qual<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> fazia suas conferências; ele<br />

durante uma reunião plenária;<br />

à direita, a taça de água<br />

no local em que caiu de pé<br />

lisa de um cristal fascinante e, por<br />

fim, notou que a taça caiu de pé.<br />

Nada é impossível<br />

para o que confia<br />

Quando nos dirigirmos, então, ao<br />

Sagrado Coração de Jesus, tenhamos<br />

principalmente em vista que Ele é o<br />

Rei e centro de todos os corações,<br />

centro e Rei da História. Além disso,<br />

consideremos a necessidade de cada<br />

um possuir uma mente e vontade firmes,<br />

uma sensibilidade varonil e forte,<br />

que resiste até aos grandes eclipses<br />

dos sentidos. E, na pior das aridezes,<br />

permanecer com o inabalável<br />

desejo de oferecer tudo a Nosso<br />

Senhor por meio de Maria, para que<br />

venha o Reino do Sagrado Coração<br />

de Jesus, através do Reino do Coração<br />

Imaculado da Mãe de Deus.<br />

Alguém poderá dizer: “Como isto<br />

é penoso!”<br />

Respondo: “A história da gota<br />

d’água na taça no-lo comprova: pode<br />

ser difícil, mas nada é impossível para<br />

quem confia em Jesus e Maria!” v<br />

59


O Santo do mês<br />

Santo Inácio<br />

de Loyola<br />

Alma repleta<br />

de lógica e enlevo<br />

Desde os bancos do Colégio São Luís, onde tomou<br />

conhecimento da vida e obra de Santo Inácio de Loyola, nutriu<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> grande devoção ao fundador da Companhia de<br />

Jesus, e uma entusiasmada admiração pela lógica e clareza<br />

adamantinas do autor dos “Exercícios Espirituais”. Veremos,<br />

pelas suas considerações transcritas a seguir, como estes e<br />

outros preciosos predicados da alma inaciana o encantavam.<br />

Quando analisamos o modo de ser e de agir de<br />

Santo Inácio de Loyola, percebemos que o amor<br />

e o enlevo que ele tributava às instituições e aos<br />

ensinamentos da Igreja, redundavam em reflexos daquelas<br />

perfeições na sua própria alma, sem contudo empanar<br />

suas peculiaridades.<br />

Tornando-se ainda mais Santo Inácio<br />

Por exemplo, encantava-se com o modo de um Papa<br />

cuidar de uma fabulosa pluralidade de assuntos com inteira<br />

calma e sobranceria, conduzindo sem sobressaltos o<br />

orbe católico. Ora escrevendo uma bula pelo centenário<br />

de uma universidade ou de um estabelecimento católico<br />

famoso, autorizando a ereção de uma prelazia apostólica<br />

nas missões, resolvendo um delicado problema de relações<br />

com determinado país ou uma crise religiosa em tal<br />

outro, solucionando uma questão de corporações numa<br />

certa nação envolvendo problema moral bastante delicado,<br />

etc. — as mais variadas ações do Sumo Pontífice falavam<br />

de maneira intensa à alma de Santo Inácio.<br />

Especialmente o enlevava discernir a ação do Espírito<br />

Santo, possante, sábia, serena, imensa, pairando sobre<br />

a Igreja e governando-a. Na medida que se enlevava, a<br />

obra do Espírito Paráclito se prolongava em Santo Inácio<br />

e algo dessa qualidade da Igreja passava a viver nele, tornando-o<br />

capaz de, até certo ponto, agir do mesmo modo.<br />

Dir-se-ia que uma força sobrenatural doravante o habitava,<br />

fazendo-o mais ele mesmo, porque sua vocação e<br />

seu carisma específico se enriqueciam.<br />

60


S. Hollmann<br />

Santo Inácio de<br />

Loyola - Santuário de<br />

Loyola, Guipuzcua<br />

(Espanha)<br />

61


O Santo do mês<br />

Pode parecer um paradoxo que algo extrínseco passe a<br />

ser inerente a ele, orientando sua vida. Santo Inácio não<br />

se transformava num autômato?<br />

A meu ver, dava-se o contrário. Ele se tornava mais<br />

Santo Inácio de Loyola.<br />

A regra aplicada aos discípulos<br />

E é interessante notar que o sucedido com Santo Inácio<br />

se verificava, guardadas as proporções, entre ele e<br />

seus discípulos. Ou seja, quando se lê a história da Companhia<br />

de Jesus, vê-se que o Fundador procurou formar<br />

a mentalidade de seus seguidores de acordo com o que<br />

hauriu da Igreja, encaminhando-os para a perfeição. E<br />

os jesuítas, por sua vez, procuravam se conformar a Santo<br />

Inácio, tendo não poucos alcançado de fato a heroicidade<br />

de virtudes. Lembremo-nos, por exemplo, de São<br />

Francisco Xavier, entre os primeiros e, posteriormente,<br />

São João Berchmans, São Luís Gonzaga, etc.<br />

Tem-se a impressão, aliás, de que na Companhia de<br />

Jesus, mais do que nas outras ordens religiosas em relação<br />

aos respectivos fundadores, essa união e essa conformidade<br />

de alma manifestou-se sobremodo rigorosa<br />

e enfática, por razão compreensível. Na época em que<br />

Santo Inácio foi suscitado por Deus para impulsionar a<br />

Contra-Reforma, alguns aspectos da vida da Igreja pareciam<br />

de tal maneira alterados que, para se ter o perfeito<br />

conhecimento dela, era indispensável conhecer uma<br />

pessoa plenamente católica, e se estabelecer com esta<br />

um vínculo particular. Esta forma de contato pessoal era<br />

o meio de a Igreja manter sua influência sob o espírito<br />

dos fiéis.<br />

E para os jesuítas que tinham Santo Inácio como<br />

modelo, a união com a Igreja se fazia através do influxo<br />

da pessoa do seu fundador, conhecida nas horas<br />

de enlevo com o auxílio da graça, e assimilada, no<br />

sentido próprio da palavra, pela meditação, ponderação,<br />

etc.<br />

S. Hollmann<br />

62


R. C. Branco<br />

Os discípulos de Santo Inácio deviam discernir, tomados de admiração,<br />

a doutrina católica personificada em seu mestre, cuja alma transbordava<br />

de enlevo pela Santa Igreja<br />

Autógrafo de Santo Inácio de Loyola, conservado em Roma; na página 62, Santo<br />

Inácio e seus primeiros discípulos (Santuário de Loyola, Guipuzcua)<br />

Portanto, para que um jesuíta do século XVI não se<br />

deixasse contaminar pelas idéias errôneas do tempo,<br />

deveria considerar os fatos através dos olhos de Santo<br />

Inácio.<br />

Doutrina personificada<br />

Por outro lado, cumpre admitir que é muito conveniente<br />

ao católico conhecer a doutrina personificada.<br />

Necessidade que também se explica facilmente.<br />

Imaginemos alguém que estudasse um compêndio de<br />

Doutrina da Igreja, mas nunca tivesse visto um bom católico.<br />

Ele não teria uma perfeita noção da Santa Igreja.<br />

Agora suponhamos o contrário: ele conheceu um católico<br />

no sentido pleno do termo, mas ainda não estudou<br />

essa doutrina... Quase se poderia dizer: quem conheceu<br />

a pessoa do bom católico entendeu a Igreja mais do que<br />

quem analisou apenas sua doutrina.<br />

Nesse sentido, figuremos uma conversa entre jesuítas<br />

a respeito dos escritos de Santo Inácio. Não deveriam<br />

eles estudar o texto inaciano como o faria um crítico<br />

qualquer, ou seja, excluindo o fator enlevo. Não. Antes,<br />

deveriam procurar discernir a mentalidade do seu fundador<br />

ao conceber aquelas linhas, e chegar a cogitações<br />

mais altas, como, por exemplo, considerar que a matriz<br />

daquele estilo existia na alma de Santo Inácio, com uma<br />

superabundância da qual aquele livro ou aquela oração<br />

era uma parcela.<br />

Deveriam compreender que Santo Inácio era capaz<br />

de escrever a uma eminente autoridade eclesiástica, com<br />

um cunho enérgico e afirmativo, chamando-lhe a atenção<br />

por atitudes que causavam estranheza nos meios ca-<br />

63


O Santo do mês<br />

tólicos fervorosos, bem como de usar de astúcias para resolver<br />

um grave problema, sem nada perder de sua seriedade,<br />

gravidade e firmeza.<br />

Os jesuítas, se fiéis à sua vocação, tinham de admirar<br />

essas qualidades de seu fundador, conformar-se com<br />

elas, enlevar-se com o enlevo dele pela Igreja, e procurar<br />

ver a ação do Espírito Santo instruindo e conduzindo as<br />

atitudes do grande Santo Inácio de Loyola.<br />

Santo Inácio<br />

de Loyola -<br />

Paróquia jesuíta<br />

de Santander,<br />

Espanha<br />

Encantos com os raciocínios<br />

do Mestre Costa<br />

Não me esquivo de aduzir um exemplo pessoal, de<br />

quem — embora não sendo jesuíta — cedo sentiu-se enlevado<br />

com a lógica luminosa de Santo Inácio, e desejou<br />

adquiri-la para toda a vida.<br />

Quando freqüentei o Colégio São Luís, uma das matérias<br />

era lecionada por um jovem professor, ainda seminarista<br />

da Companhia de Jesus, ao qual chamávamos<br />

Mestre Costa (futuramente Pe. Costa). Ele desfiava seus<br />

raciocínios de caráter apologético, explicava isto, aquilo,<br />

aquilo outro, e me entusiasmava ver a coerência dos pensamentos<br />

dele: concatenados, determinados, caminhando<br />

a passos resolutos e direitos para a conclusão. Eram<br />

meus primeiros encantos com a lógica.<br />

Eu percebia os movimentos do raciocínio no espírito<br />

do Mestre Costa, ágil, lúcido, forte, e me alegrava admirar<br />

uma alma, uma inteligência que se movia assim.<br />

Mais. Sentia um verdadeiro alívio no meu interior, como<br />

se algo longamente estagnado começasse a se mexer e a<br />

andar. Era uma espécie de libertação da minha presença<br />

habitual em ambientes poucos afeitos à lógica, pouco reflexivos,<br />

amantes das impressões: “acho que... talvez seja...<br />

parecer-me-ia que...”. Sem me dar conta, meu temperamento<br />

desejava outra postura de alma, pedia uma<br />

definição. Afirme! Abra o peito e tome a responsabilidade<br />

da conclusão: diga que é assim, e assunto encerrado.<br />

Ora, no raciocinar do Mestre Costa havia isto: ele concluía.<br />

E de tal maneira que prendia o interlocutor na sua<br />

conclusão, sem possibilidades de fuga. Eu dizia para mim<br />

mesmo: “Um dia saberei também concluir, como o Mestre<br />

Costa!”<br />

Meu encantamento era tanto maior quanto percebia<br />

que o professor chegava a conclusões com as quais muitos<br />

estavam em desacordo. Em geral, os pretensos “espíritos<br />

fortes”, homens bigodudos, vistosos, com aparência<br />

de mandões e que julgavam a época da Religião<br />

já ultrapassada. Pois o Mestre Costa começava a dispor<br />

sua argumentação, pensamento a pensamento, comprimindo<br />

e silenciando o seu oponente, para as delícias de<br />

minha alma.<br />

64


Fotos: S. Hollmann / Arquivo revista<br />

“Se eu admirar<br />

infatigavelmente<br />

Santo Inácio,<br />

talvez acabe<br />

adquirindo uma<br />

lógica como a<br />

dele e a do<br />

Mestre Costa”<br />

Acima, o Pe. Costa e<br />

dois “santinhos” que<br />

ele deu a seu aluno<br />

<strong>Plinio</strong>, como prêmio<br />

pelas boas notas<br />

deste no curso de Latim<br />

Entusiasmo pela lógica inaciana<br />

Mas, em meio às suas digressões, essa lógica brilhava<br />

de maneira particular ao fazer o elogio da Companhia de<br />

Jesus e de Santo Inácio. Com uma característica curiosa:<br />

quando se exaltava nas exposições, a ponta do seu nariz<br />

movia-se ligeiramente. Essa peculiaridade atraía muito<br />

minha atenção, e era notada de forma especial quando<br />

ele se referia ao fundador. Eu pensava:<br />

“Está vendo? Esse homem é um brasileiro como eu, e<br />

hauriu as suas possibilidades mentais nesse mesmo Brasil<br />

em que estou. Se ele possui essa lógica dentro da alma,<br />

não a obteve da maré de relativismo que corroeu largamente<br />

a mentalidade atual, e sim de Santo Inácio, de<br />

quem ele é filho. O fundador dos jesuítas lhe concedeu<br />

essa dádiva.<br />

“Ora, se eu admirar infatigavelmente Santo Inácio,<br />

quem sabe este me concederá, a mim também, um pouco<br />

dessa lógica ? Depende de eu ser muito puro, inteiramente<br />

puro, intransigentemente puro... Porque este espírito<br />

não é dado a quem não é casto. Se eu perseverar na<br />

prática da castidade, começará a nascer em mim uma lógica<br />

como a do Mestre Costa, como a de Santo Inácio de<br />

Loyola. Vamos para a frente! Meu entusiasmo está adquirido!”<br />

v<br />

65


Luzes da Civilização Cristã<br />

Fotos: V. Toniolo<br />

66


Maravilhosa “neta”<br />

do Criador<br />

Mais de uma vez temos<br />

considerado como o senso<br />

do maravilhoso é algo<br />

que possui profundo vínculo com<br />

o amor a Deus, pois se trata de um<br />

meio superiormente apropriado para<br />

conduzir nossa alma ao desejo das<br />

grandezas divinas. Noutras palavras,<br />

Deus criou maravilhas para elevar o<br />

homem até Ele.<br />

Por exemplo, ao contemplarmos<br />

um lindo pôr-de-sol, é-nos dada a<br />

oportunidade de louvar, de modo especial,<br />

ao Criador. Razão pela qual<br />

um São Francisco de Assis cantou o<br />

Veneza, Itália<br />

67


Luzes da Civilização Cristã<br />

Um esplendor filho do<br />

homem e neto de Deus...<br />

Outros aspectos de Veneza<br />

68


“irmão sol”: porque é maravilhoso, e<br />

na sua maravilha ele ergue o coração<br />

humano até o Eterno, mais do que o<br />

poderia fazer, digamos, um grão de<br />

poeira reluzente ao brilho do mesmo<br />

sol.<br />

O maravilhoso é a arte produzida<br />

por Deus para externar a sua própria<br />

magnitude aos nossos olhos.<br />

Acontece, porém, que o nosso<br />

maravilhamento não incide apenas<br />

sobre as belezas saídas diretamente<br />

das mãos do Onipotente, mas também<br />

sobre aquelas engendradas pelo<br />

próprio homem. Este é a obra-prima<br />

criada por Deus, e os esplendores arquitetados<br />

pela humanidade ao longo<br />

dos tempos, “filhos” do homem,<br />

são “netos” de Deus — como disse<br />

Dante na Divina Comédia. E, portanto,<br />

através da análise desses “netos”<br />

podemos nos enlevar com esse<br />

69


Luzes da Civilização Cristã<br />

imperecível e perpétuo avô que jamais<br />

envelhece, Deus Senhor nosso.<br />

*<br />

A natureza foi feita por Deus. As<br />

obras de arte foram feitas pelo homem,<br />

criado e redimido por Deus.<br />

Como igualmente já o dissemos, tudo<br />

quanto há de bom, de grande e<br />

de belo na Terra é fruto do preciosíssimo<br />

Sangue de Cristo, efundido<br />

no alto do Calvário para a regeneração<br />

do mundo. Desta fonte de méritos<br />

infinitos e de graças inapreciáveis<br />

nasceram as maravilhas do engenho<br />

humano. As águas do batismo concorreram<br />

para ordenar e requintar o<br />

senso do maravilhoso naqueles que<br />

as receberam e que passaram a desenhar<br />

o perfil admirável — e até hoje<br />

admirado — da Civilização Cristã.<br />

Citar um exemplo?<br />

O que sempre nos vem à mente,<br />

quando se trata de ilustrar o maravilhoso,<br />

o sonho transformado em realidade<br />

nesta Terra. O que tanto nos<br />

toca a alma, por ter sabido unir de<br />

forma insuperável essas duas criaturas<br />

divinas: céu e água.<br />

Simplesmente, Veneza.<br />

v<br />

70


“Tudo quanto há de bom, de grande<br />

e de belo na Terra é fruto do<br />

preciosíssimo Sangue de Cristo”<br />

71


Maternal bonança<br />

G. Kralj<br />

Virgem e o<br />

Menino -<br />

Catedral de<br />

Cuzco, Peru<br />

Maria Santíssima nos socorre em meio às intempéries espirituais que todos padecemos<br />

ao longo de nosso palmilhar rumo ao Céu. Tempestades das lutas face às tentações,<br />

ao pecado, à tibieza, ou diante das aflições do dia-a-dia. Tempestades da vida, tempestades da<br />

alma. Em todas essas circunstâncias mais borrascosas ou menos, Nossa Senhora vem ao nosso<br />

encontro, como a mãe que se debruça, sôfrega de solicitude, sobre o filho necessitado. Acode-nos<br />

imediatamente, trazendo-nos conforto, ânimo, e a bonança que, afinal, sucede às tormentas...

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