Práticas de Educacao-Fisica-na-Educacao-Infantil
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Práticas <strong>de</strong> Educação Física<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>
Palavra do<br />
Secretário<br />
Prof. Edison d’Ávila<br />
Secretário Municipal <strong>de</strong> Educação
A escola <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é entendida pela<br />
Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação como um lugar<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas e <strong>de</strong> ampliação das experiências<br />
individuais, culturais, sociais e educativas,<br />
através da inserção da criança em ambientes<br />
distintos dos da família. Um espaço e um tempo<br />
que necessitam contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da criança, seu mundo <strong>de</strong> vida e sua subjetivida<strong>de</strong>.<br />
É um contexto social e cultural que envolve,<br />
através das inúmeras experiências, a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> promover vivências num espaço <strong>de</strong> formação<br />
integral.<br />
Acreditando nesta concepção é que criamos<br />
uma política que integrou profissio<strong>na</strong>is da área da<br />
Educação Física <strong>na</strong>s escolas <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
da Re<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>mos que a Educação Física<br />
tem um papel fundamental <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />
pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r às crianças<br />
uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências, através <strong>de</strong> situações<br />
<strong>na</strong>s quais elas possam criar, inventar, <strong>de</strong>scobrir<br />
movimentos novos, reelaborar conceitos e<br />
i<strong>de</strong>ias sobre o movimento e suas ações.<br />
Além disso, é um espaço para que, através <strong>de</strong><br />
situações <strong>de</strong> experiências – com o corpo, com<br />
materiais e <strong>de</strong> interação social – as crianças<br />
<strong>de</strong>scubram os próprios limites, enfrentem <strong>de</strong>safios,<br />
conheçam e valorizem o próprio corpo,<br />
relacionem-se com outras pessoas, percebam a<br />
origem do movimento, expressem sentimentos,<br />
utilizando a linguagem corporal, localizem-se no<br />
espaço, entre outras situações voltadas ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s intelectuais<br />
e afetivas, numa atuação consciente e crítica.<br />
As práticas publicadas nesta edição, <strong>de</strong>monstram<br />
a serieda<strong>de</strong> e o compromisso <strong>de</strong>stes profissio<strong>na</strong>is<br />
com a concepção <strong>de</strong> ensino proposta<br />
pela Secretaria. Observamos nos relatos <strong>de</strong>scritos,<br />
como esta área do conhecimento contribui<br />
para a efetivação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, comprometido com os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da criança e com a formação <strong>de</strong><br />
sujeitos emancipados.
Sumário<br />
Prefácio ................................................................................................................................... 6<br />
Educação Física e suas contribuições para Educação <strong>Infantil</strong> ................................. 8<br />
O encontro da Educação Física com os pequenos .................................................. 10<br />
Luz <strong>na</strong> passarela que la vem eles!<br />
Camila <strong>de</strong> Oliveira ............................................................................................................... 12<br />
Relaxamento <strong>na</strong> educação infantil<br />
Ricardo da Costa Pereira ................................................................................................... 16<br />
Ginca<strong>na</strong> do Movimento<br />
Leandro Aguiar ................................................................................................................... 20<br />
Bal<strong>de</strong>s dançantes<br />
Eliton Clayton Rufino Seára............................................................................................ 26<br />
Corpo, campo e movimento<br />
Solange Maria Nunes........................................................................................................ 32<br />
Movimentos <strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras com bebês<br />
Solange Maria Nunes ....................................................................................................... 40<br />
O eu, o outro e o nós:<br />
jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Heitor Luiz Furtado ............................................................................................................ 44
Projeto Shantala Toque <strong>de</strong> amor<br />
Camila da Silva Gomes das Neves .............................................................................. 50<br />
Me encaixa nessa caixa<br />
Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério .................................................................................... 54<br />
Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar<br />
Marcia Eliane Lorenzoni .................................................................................................. 60<br />
Interagindo com a Diversida<strong>de</strong><br />
Rodrigo Zapparoli ............................................................................................................. 66<br />
O corpo fala<br />
Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil ................................................................................................ 72<br />
Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte<br />
Fayola Daiane Bueno da Silva ....................................................................................... 78<br />
Brincando <strong>de</strong> Lanchonete!<br />
Jorge Luís da Silva ........................................................................................................... 84<br />
Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!<br />
Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza ..................................................................................................... 88<br />
A magia das cores sobre o corpo<br />
Leticia Gra<strong>na</strong>do .................................................................................................................. 94
6<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Prefácio<br />
Marynelma Camargo Garanhani<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná
Seja qual for o sonho comece... ousadia tem<br />
genealida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r!<br />
Empresto estes dizeres <strong>de</strong> Goethe para iniciar<br />
o prefácio <strong>de</strong>sta revista a qual mostra o protagonismo<br />
<strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino que<br />
ousou oferecer para suas crianças peque<strong>na</strong>s um<br />
novo projeto <strong>de</strong> educação. Uma educação em<br />
que o corpo em movimento ganhou <strong>de</strong>staque<br />
<strong>na</strong>s orientações pedagógicas e práticas docentes,<br />
como uma linguagem da infância.<br />
Neste cenário, a genealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores fez<br />
com que as crianças pu<strong>de</strong>ssem vivenciar, nos<br />
Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> <strong>de</strong> Itajaí, experiências<br />
<strong>de</strong> movimento fasci<strong>na</strong>ntes, divertidas e criativas.<br />
Enfim, experiências brincantes, <strong>na</strong>s quais o<br />
corpo pula e se movimenta com alegria, o corpo<br />
dança e constrói coreografias, o corpo se <strong>de</strong>safia<br />
e explora o mundo, o corpo se expressa e no<br />
seu movimentar se comunica.<br />
Para isto, foi necessário a ousadia da gestão municipal<br />
inserir, neste contexto <strong>de</strong> educação institucio<strong>na</strong>l,<br />
professores licenciados em Educação<br />
Física, os quais são especialistas em educação<br />
do corpo em movimento. E, por meio <strong>de</strong> práticas<br />
corporais infantis, integradas aos saberes da<br />
Educação <strong>Infantil</strong> e <strong>de</strong> seus professores, realizam<br />
um trabalho educativo do movimento como<br />
uma linguagem da criança.<br />
A leitura dos primeiros textos da revista possibilita<br />
a compreensão do processo da inserção <strong>de</strong><br />
professores da Educação Física <strong>na</strong> Educação<br />
<strong>Infantil</strong> <strong>de</strong> Itajaí. E, a ousadia <strong>de</strong> integrar saberes<br />
<strong>de</strong> diferentes profissio<strong>na</strong>is responsáveis pela<br />
educação da criança peque<strong>na</strong>, mostrou a construção<br />
<strong>de</strong> parcerias, não hierarquizadas, entre<br />
diferentes profissio<strong>na</strong>is da educação que atuam<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Mostrou, também, a genealida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pensar não mais em professores<br />
generalistas ou especialistas, mas em professores<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> (Ayoub, 2001)<br />
Os relatos das experiências <strong>de</strong> movimento que<br />
a revista nos oferece à leitura, nos mostram o<br />
quanto este projeto <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>u certo!!! E<br />
parabenizo a gestão municipal responsável por<br />
este feito!!!<br />
Para fi<strong>na</strong>lizar empresto novamente os dizeres <strong>de</strong><br />
Goethe para consi<strong>de</strong>rar que ousadia é uma palavra<br />
mágica, ouse e o po<strong>de</strong>r lhe será dado... ou<br />
seja, a Secretaria da Educação <strong>de</strong> Itajaí ousou e<br />
nesta revista apresenta resultados <strong>de</strong> muito trabalho.<br />
Não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> participar da formação continuada<br />
dos professores <strong>de</strong> Educação Física que passaram<br />
a integrar a Educação <strong>Infantil</strong> do município<br />
e convido os leitores a conhecer relatos <strong>de</strong> experiências<br />
<strong>de</strong>sses professores com as crianças.<br />
Vamos à leitura!!!
8<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Educação<br />
Física e suas<br />
contribuições<br />
para Educação<br />
<strong>Infantil</strong><br />
Prof.ª Dr.ª Sandra Cristi<strong>na</strong><br />
Vanzuita da Silva<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora Técnica<br />
Prof.ª Cristiane <strong>de</strong> Cássia Heusi<br />
Álvares Silva<br />
Ao ingressar <strong>na</strong> escola, a criança sofre consi<strong>de</strong>rável<br />
impacto físico-emocio<strong>na</strong>l, pois até então sua vida<br />
era exclusivamente <strong>de</strong>dicada aos brinquedos e ao<br />
ambiente familiar. Nesta fase, a Educação Física<br />
<strong>de</strong>tém séria responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve proporcio<strong>na</strong>r à<br />
criança oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a confiança<br />
em si mesma, a compreensão do ambiente e a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> comunicação.<br />
Cada criança possui inúmeras maneiras <strong>de</strong> pensar,<br />
jogar, brincar, falar, escutar e se movimentar. Por<br />
meio <strong>de</strong>stas diferentes linguagens é que se comunicam<br />
no seu cotidiano, no convívio familiar e social,<br />
construindo sua cultura e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> infantil. Através<br />
do movimento, utiliza seu corpo como forma <strong>de</strong><br />
interagir com outras crianças e com o meio, produzindo<br />
culturas. Estas culturas estão embasadas em<br />
valores como a ludicida<strong>de</strong>, a criativida<strong>de</strong> e também<br />
<strong>na</strong>s experiências vividas por meio da expressão corporal<br />
(SAYÃO, 1997).<br />
É preciso ter o entendimento <strong>de</strong> que a linguagem<br />
corporal <strong>de</strong>ve ultrapassar o dualismo cartesiano entre<br />
o corpo e mente. O ser humano é uno, portanto<br />
a expressão corporal também é sentimento e pensamento.<br />
Devemos pensar o ser humano, <strong>de</strong> forma<br />
integrada, cada qual <strong>de</strong>senvolvendo o ensino com<br />
ênfase <strong>na</strong> formação adquirida, contudo sem dicotomizá-lo.<br />
Faz-se necessário, levar em conta também<br />
a importância do movimento, inclusive para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento e a manutenção<br />
da atenção. Assim propõe-se que sejam propiciadas<br />
situações especialmente planejadas para trabalhar<br />
as várias dimensões do movimento com as crianças.<br />
Conforme a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacio<strong>na</strong>l - LDB 9.394/1996 art.26 inciso 3, “a educação<br />
física, integrada à proposta pedagógica da escola,<br />
é componente curricular obrigatório da educação<br />
básica.” Sendo assim, o papel da Educação Física no<br />
processo educativo, é auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do indivíduo como um ser social,<br />
contribuir para a saú<strong>de</strong> e fazê-lo reconhecer as suas<br />
potencialida<strong>de</strong>s físicas (BRASIL, 1997).<br />
Além do que <strong>de</strong>fine a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases, é preciso<br />
também consi<strong>de</strong>rar o que si<strong>na</strong>lizam as Diretrizes<br />
Curriculares Nacio<strong>na</strong>is Gerais para a Educação<br />
Básica que <strong>de</strong>finem em seu Cap. I Seção I que, “A<br />
Educação <strong>Infantil</strong> tem por objetivo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
integral da criança em seus aspectos físico,<br />
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando<br />
a ação da família e da comunida<strong>de</strong>.” (BRASIL,<br />
2010).<br />
Consi<strong>de</strong>rando as prerrogativas legais e as disposições<br />
teóricas que embasam a área, o município <strong>de</strong><br />
Itajaí incorpora ao quadro <strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>is dos Centros<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, o professor (a) <strong>de</strong> Educação<br />
Física. A proposta tem como objetivo principal o<br />
atendimento das crianças <strong>de</strong> 0 a 5 anos, enten<strong>de</strong>ndo<br />
a infância como um tempo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s específicas,<br />
on<strong>de</strong> as formas <strong>de</strong> ver e explicar o mundo<br />
são traduzidas em movimentos, <strong>na</strong>s diferentes formas<br />
<strong>de</strong> expressão e <strong>na</strong> comunicação das crianças.<br />
A contratação dos Profissio<strong>na</strong>is:<br />
o início <strong>de</strong> uma história<br />
A integração do Professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong> é uma política pública da Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Educação que aten<strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> 0 a<br />
6 anos. Através do concurso público 004/2011, a administração<br />
pública efetivou no ano <strong>de</strong> implantação<br />
do trabalho, 38 (trinta e oito) professores, além da<br />
efetivação ocorreu ainda a contratação em caráter<br />
temporário <strong>de</strong> 26 (vinte e seis) profissio<strong>na</strong>is.<br />
Concluído os processos <strong>de</strong> contratação e efetivação,<br />
os profissio<strong>na</strong>is apresentaram-se <strong>na</strong>s unida<strong>de</strong>s para<br />
reconhecimento dos espaços, materiais disponíveis
e roti<strong>na</strong>s das crianças. Neste momento, a Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>doria<br />
Técnica elaborou um instrumento <strong>de</strong> coleta<br />
para i<strong>de</strong>ntificar o perfil do Professor <strong>de</strong> Educação<br />
Física que atuará <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>.<br />
Alguns indicadores foram priorizados: gênero, formação<br />
acadêmica, atuação <strong>na</strong> área. Os dados apontaram<br />
que a composição etária <strong>de</strong>stes professores<br />
é formada <strong>na</strong> sua maioria entre 25 e 35 anos. Onze<br />
por cento são acima <strong>de</strong> 50 anos. Quanto ao gênero<br />
a composição do grupo é equilibrada. Em relação<br />
à formação inicial, constatou-se que a maioria tem<br />
sua formação inicial pela Universida<strong>de</strong> do Vale do<br />
Itajaí (UNIVALI), porém aparecem outras instituições<br />
como UNIFEBE e FURB. Noventa e sete por cento<br />
possuem formação inicial, com curso superior completo,<br />
ou seja, temos um número significativo <strong>de</strong><br />
profissio<strong>na</strong>is habilitados. Destes setenta e oito por<br />
cento dos profissio<strong>na</strong>is possuem especialização,<br />
sessenta e sete por cento com uma pós-graduação<br />
e vinte e sete com duas.<br />
Ao serem questio<strong>na</strong>dos sobre as leituras a respeito<br />
da infância, <strong>na</strong> formação especialmente <strong>na</strong> faixa<br />
etária <strong>de</strong> 0 a 5 anos, setenta e um por cento afirmam<br />
ter realizado leituras sobre a infância. Em relação<br />
a experiência <strong>na</strong> área, sessenta e três por cento<br />
já realizou trabalhos com crianças nesta faixa etária.<br />
E trinta e cinco por cento não <strong>de</strong>senvolveu nenhuma<br />
ativida<strong>de</strong> com crianças <strong>de</strong> 0 a 5 anos.<br />
Além do perfil os professores respon<strong>de</strong>ram sobre<br />
suas expectativas em relação a este trabalho. As respostas<br />
foram: realizar um ótimo trabalho, contribuir<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e aprendizagem<br />
das crianças, experimentar novas vivências. Apesar<br />
das respostas mostrarem expectativas boas em relação<br />
ao trabalho, gran<strong>de</strong> parte dizia não possuir conhecimento<br />
<strong>de</strong>sta faixa etária e precisar <strong>de</strong> suporte<br />
<strong>de</strong> materiais, bem como <strong>de</strong> formação continuada.<br />
Os professores também foram indagados sobre suas<br />
principais dúvidas em relação a este trabalho. Uma<br />
peque<strong>na</strong> parcela respon<strong>de</strong>u como planejar, falta<br />
<strong>de</strong> experiência, material e espaço físico e, a gran<strong>de</strong><br />
maioria respon<strong>de</strong>u, conseguir planejar <strong>de</strong>ntro da roti<strong>na</strong><br />
ou não respon<strong>de</strong>u. Neste item observa-se que<br />
o planejamento ainda é um instrumento <strong>de</strong> roti<strong>na</strong><br />
e não é utilizado como guia para a organização do<br />
trabalho pedagógico. Isto se confirma novamente<br />
ao serem perguntado sobre a concepção <strong>de</strong> planejamento,<br />
a gran<strong>de</strong> maioria respon<strong>de</strong>u que serve<br />
para Organização dos conteúdos em cada turma e<br />
50%não respon<strong>de</strong>ram.<br />
A partir do conhecimento do perfil traçamos um planejamento<br />
da formação continuada que superasse<br />
o mo<strong>de</strong>lo histórico reprodutivista e <strong>de</strong> atualização<br />
<strong>de</strong> conteúdos exclusivamente teóricos, mas que tomasse<br />
como eixo formador o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
competências necessárias ao bom <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do trabalho.<br />
Nessa perspectiva, valorizamos um mo<strong>de</strong>lo mais indagativo<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos, <strong>de</strong> modo<br />
a levar ao exercício do protagonismo <strong>de</strong> quem planeja,<br />
executa e avalia sua própria formação. Ou seja,<br />
superar a visão individualista <strong>de</strong> que basta fornecer<br />
mais informações; recompor o equilíbrio entre os esquemas<br />
práticos predomi<strong>na</strong>ntes e os esquemas teóricos<br />
inovadores; refletir sobre situações práticas e<br />
gerar mudanças <strong>na</strong> cultura escolar tradicio<strong>na</strong>l, bem<br />
como incentivar a mudança e a inovação.<br />
Como resultado da formação continuada os professores<br />
e professoras <strong>de</strong> Educação Física têm <strong>de</strong>senvolvido<br />
práticas <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> que proporcio<strong>na</strong>m<br />
espaços em que a criança apren<strong>de</strong>, brinca, se<br />
<strong>de</strong>senvolve, se relacio<strong>na</strong> com outras crianças, dialoga,<br />
<strong>de</strong>senvolve seus aspectos cognitivos, sociais,<br />
afetivos. E isso é essencial, já que é a primeira experiência<br />
educacio<strong>na</strong>l da criança fora do ambiente familiar,<br />
longe dos pais, que são os meios <strong>de</strong> proteção.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que todo o processo <strong>de</strong> implantação<br />
da Educação Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é um momento<br />
oportuno para os educadores físicos reivindicarem<br />
seu espaço nesta etapa da Educação Básica,<br />
para realização <strong>de</strong> práticas que instiguem discussões<br />
e uma reflexão mais profunda sobre o papel<br />
<strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l e sua valiosa contribuição para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança.<br />
A presença <strong>de</strong> um professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong> é a comunicação, a compreensão,<br />
a leitura, a interação e o envolvimento, a promoção<br />
da evolução da criança por intermédio das manifestações<br />
corporais, do movimento, do jogo e das ativida<strong>de</strong>s<br />
lúdicas. Essas capacida<strong>de</strong>s são exercitadas<br />
pelos profissio<strong>na</strong>is que, conscientes da importância<br />
das primeiras comunicações não verbais entram em<br />
comunicação corporal com as crianças e promovem<br />
seu <strong>de</strong>senvolvimento integral. (ROCHA, s/d)
10<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
O encontro da<br />
educação física<br />
com os pequenos:<br />
A inserção do Professor <strong>de</strong><br />
Educação Física<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Respeitar e ampliar o direito do livre movimento<br />
do corpo infantil é o objetivo principal da inserção<br />
do profissio<strong>na</strong>l da Educação Física <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong> da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Ensino<br />
<strong>de</strong> Itajaí. A presença <strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> primeira<br />
etapa da educação básica permite que,<br />
as crianças peque<strong>na</strong>s e os adultos vivenciem<br />
novas experiências, aprendizagens e ampliem<br />
<strong>de</strong> forma significativa as linguagens e as diferentes<br />
formas <strong>de</strong> expressão.<br />
Des<strong>de</strong> que o trabalho iniciou nos Centros <strong>de</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong>, a linguagem do movimento<br />
é resgatada e aperfeiçoada cotidia<strong>na</strong>mente<br />
pelo profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação Física em parceria<br />
com os profissio<strong>na</strong>is da Pedagogia. Para<br />
que o trabalho se efetive e atinja seus objetivos,<br />
a Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> procura<br />
estabelecer um diálogo constante entre estes<br />
profissio<strong>na</strong>is, no sentido <strong>de</strong> alinhar as práticas<br />
cotidia<strong>na</strong>s às publicações curriculares que estruturam<br />
o currículo.<br />
O eixo do trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelo do profissio<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> Educação Física que atua <strong>na</strong> Educação<br />
<strong>Infantil</strong> da re<strong>de</strong> pública municipal <strong>de</strong> ensino<br />
<strong>de</strong> Itajaí é compreen<strong>de</strong>r a linguagem do<br />
movimento como uma referência para práticas<br />
que permitam a livre expressão, a multiplicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> experiências corporais e transmitam<br />
a i<strong>de</strong>ia da dimensão corporal, a partir das roti<strong>na</strong>s<br />
intencio<strong>na</strong>lmente planejadas pelos profissio<strong>na</strong>is.<br />
Para tanto, o currículo é estruturado a<br />
partir das premissas das Diretrizes Curriculares<br />
Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong> (BRASIL,<br />
2009), Diretrizes Curriculares Municipais para<br />
Educação <strong>Infantil</strong> do Município <strong>de</strong> Itajaí (ITAJAÍ,<br />
2015), além do acompanhamento <strong>de</strong> pesquisas<br />
e publicações da área que enriquecem nossas<br />
reflexões cotidia<strong>na</strong>s.<br />
Vários estudos da área da Pedagogia, Filosofia<br />
e Sociologia têm também se <strong>de</strong>bruçado a<br />
(re) afirmar a importância do movimento para<br />
a aprendizagem e o <strong>de</strong>senvolvimento da primeira<br />
infância. E, a escola da primeira infância<br />
<strong>de</strong>ve ser o espaço intencio<strong>na</strong>lmente planejado<br />
e preparado para que a criança possa manifestar<br />
seus movimentos <strong>de</strong> forma leve e <strong>na</strong>tural,<br />
vivendo cotidia<strong>na</strong>mente experiências que favoreçam<br />
o brincar e suas relações com seus pares<br />
para a ampliação <strong>de</strong> seus significados.<br />
É no brincar que a criança apren<strong>de</strong> e se apropria<br />
do mundo ao seu redor. Por meio do brincar, a<br />
criança manifesta e se apropria <strong>de</strong> linguagens.<br />
Ela dá significados à sua realida<strong>de</strong> por meio da<br />
imagi<strong>na</strong>ção e da fantasia. Desse modo, estabelece<br />
relações e apren<strong>de</strong> sobre os papéis sociais<br />
do mundo em que está inserida. Além disso,<br />
<strong>de</strong>senvolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar ações conjuntas<br />
com outras crianças, <strong>de</strong> expressar i<strong>de</strong>ias<br />
e opiniões, controlar e ajustar o próprio comportamento<br />
com o das <strong>de</strong>mais crianças. Partindo<br />
<strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, percebe-se que no
fazer pedagógico da Educação <strong>Infantil</strong>, <strong>de</strong>vem<br />
ser contempladas as diferentes linguagens que<br />
a criança utiliza para a apropriação e construção<br />
<strong>de</strong> conhecimentos, por meio da ação <strong>de</strong><br />
brincar. (GARANHANI; NADOLNY, 2015).<br />
O brincar possibilita que as crianças com seus<br />
pares e com o seu próprio corpo <strong>de</strong>scubra seu<br />
limite, valorize sua imagem, compreenda suas<br />
possibilida<strong>de</strong>s e perceba a origem <strong>de</strong> cada<br />
movimento. Diante disto, é necessário que os<br />
profissio<strong>na</strong>is da primeira infância se comprometam<br />
com esta educação integradora e que<br />
seja efetivamente garantido no cotidiano dos<br />
Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, momentos <strong>de</strong> interação<br />
e brinca<strong>de</strong>ira.<br />
Para acompanhar, assessorar, observar e orientar<br />
o professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong>s instituições<br />
que aten<strong>de</strong>m crianças peque<strong>na</strong>s, a<br />
Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> procura articular<br />
os saberes da formação inicial dos professores<br />
<strong>de</strong> Educação Física com os saberes que<br />
vem se constituindo <strong>na</strong>s práticas dos Centros<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Esta articulação vem se<br />
constituindo por meio do programa <strong>de</strong> formação<br />
continuada. Os professores participam <strong>de</strong><br />
encontros presenciais mensais, com o objetivo<br />
<strong>de</strong> garantir uma aproximação contínua com os<br />
profissio<strong>na</strong>is e um acompanhamento sistemático<br />
das práticas. Além <strong>de</strong> encontros presenciais,<br />
há também um Ambiente Virtual <strong>de</strong> Aprendizagem<br />
on<strong>de</strong> ocorre o armaze<strong>na</strong>mento e troca<br />
<strong>de</strong> informações dos profissio<strong>na</strong>is, garantindo<br />
total interação entre eles. As formações são<br />
pautadas numa concepção <strong>de</strong> que a teoria e a<br />
prática <strong>de</strong>vem caminhar juntas num processo<br />
<strong>de</strong> reflexão sobre a ação. Além do programa<br />
<strong>de</strong> formação continuada, as Supervisoras <strong>de</strong><br />
Gestão da Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, em<br />
suas visitas <strong>de</strong> assessoramento às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ensino, acompanham as práticas pedagógicas,<br />
o planejamento e registro, as reflexões da sua<br />
prática e as sugestões <strong>de</strong> novas experiências.<br />
Após três anos <strong>de</strong> implantação da Educação<br />
Física nos Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é possível<br />
observar que a cada ano se constrói novas<br />
formas <strong>de</strong> pensar a atuação <strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l<br />
<strong>na</strong> re<strong>de</strong>, sobretudo no sentido <strong>de</strong> qualificar o<br />
atendimento das crianças peque<strong>na</strong>s e ampliar o<br />
campo <strong>de</strong> atuação do Profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação<br />
Física. As observações dos momentos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
com as crianças e o Profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação<br />
Física nos espaços <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
tem representado um momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração,<br />
alegria, mas principalmente <strong>de</strong> ampliação<br />
<strong>de</strong> movimentos para a primeira infância.<br />
Referências:<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria <strong>de</strong><br />
Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is<br />
para a Educação <strong>Infantil</strong>. Brasília: 2009.<br />
GARANHANI, Marynelma Camargo, NA-<br />
DOLNY, Lore<strong>na</strong> <strong>de</strong> F. Movimento do corpo<br />
<strong>Infantil</strong>: uma linguagem da criança. Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Paraná/Curitiba, 2015. Disponível<br />
em http://www.acervodigital.unesp.br/<br />
handle/123456789/447?locale=pt_BR. Acesso<br />
em: 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2016.<br />
ITAJAÍ, Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação. Diretrizes<br />
Municipais para a Educação <strong>Infantil</strong>.<br />
Itajaí, 2015.
12<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Luz <strong>na</strong><br />
passarela<br />
que la<br />
vem eles!<br />
Camila <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ao iniciar o ano letivo, anseios relacio<strong>na</strong>dos<br />
ao trabalho da Educação Física com a turma<br />
do Berçário I estiveram presentes em meu<br />
dia a dia, pela nova experiência ao se trabalhar<br />
com bebês e, também, pela preocupação<br />
constante em como atingir positivamente o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento motor, cognitivo e afetivo<br />
dos bebês.<br />
Por meio <strong>de</strong> pesquisas e leituras, percebi<br />
que, <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia<br />
disponibilizar o maior número possível <strong>de</strong> experiências,<br />
propiciando novos conhecimentos<br />
aos envolvidos no processo <strong>de</strong> ensino e<br />
aprendizagem. Durante essa importante fase,<br />
a criança começa a relacio<strong>na</strong>r-se com o meio<br />
físico e social, e a Educação Física com sua<br />
abrangência <strong>de</strong> conteúdos e possibilida<strong>de</strong>s<br />
metodológicas consegue propiciar esses momentos<br />
<strong>de</strong> forma prazerosa e significativa.<br />
De acordo com Gallahue e Ozmun (2005),<br />
as crianças que frequentam a Educação <strong>Infantil</strong><br />
expan<strong>de</strong>m seus horizontes com muita
facilida<strong>de</strong>, enfatizando suas próprias perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s,<br />
aprimorando e <strong>de</strong>senvolvendo habilida<strong>de</strong>s,<br />
além <strong>de</strong> testar seus limites e os do<br />
que fazem parte <strong>de</strong> seu convívio.<br />
Um dos principais objetivos da Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é enfatizar o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s motoras<br />
auxiliando as crianças a tor<strong>na</strong>rem-se conscientes<br />
do seu potencial <strong>de</strong> movimentos,<br />
conseguindo realizá-los com confiança e<br />
<strong>de</strong>streza pelos ambientes do Centro <strong>de</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong>. Dessa maneira, meu objetivo<br />
principal foi estimular a aquisição e o<br />
aperfeiçoamento das habilida<strong>de</strong>s motoras<br />
básicas (andar, engatinhar, rolar, manter-se<br />
em pé, <strong>de</strong>ntre outros) dos bebês da turma<br />
do Berçário I do Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Nilton <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, localizado no bairro<br />
Itaipava. E os objetivos específicos foram os<br />
seguintes: explorar os <strong>de</strong>safios oferecidos<br />
pela ativida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>slocar-se com autonomia e<br />
<strong>de</strong>streza pelos espaços; adquirir e aperfeiçoar<br />
gradativamente movimentos <strong>de</strong> locomoção<br />
(engatinhar, sentar, andar, subir, <strong>de</strong>scer,<br />
etc.); adquirir e aperfeiçoar movimentos corporais<br />
(levantar a cabeça, girar o pescoço,<br />
sustentar o tronco, manter-se em pé, etc.);<br />
adquirir e aperfeiçoar gradativamente movimentos<br />
<strong>de</strong> estabilização (<strong>de</strong>itar, rolar, rastejar,<br />
apoiar, girar, etc.).<br />
Passarela <strong>de</strong> apoio:<br />
locomoção e estabilização<br />
Percebendo que a turma do Berçário I apresentava<br />
uma faixa etária entre quatro (4) meses a<br />
um (1) ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, resolvi criar algo que facilitasse<br />
meu trabalho e auxiliasse <strong>de</strong> maneira<br />
positiva no aperfeiçoamento e <strong>na</strong> aquisição <strong>de</strong><br />
habilida<strong>de</strong>s motoras básicas necessárias aos<br />
bebês. Como <strong>de</strong>staca Piaget (1971), as crianças<br />
<strong>de</strong> zero até dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> encontram-se<br />
no Estágio sensório-motor, quando se inicia o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ções motoras.<br />
Nesse período, a criança ten<strong>de</strong> a apren<strong>de</strong>r a<br />
diferenciar os objetos do próprio corpo ligando<br />
seus pensamentos ao concreto.<br />
Ao a<strong>na</strong>lisar o repertório já apresentado pelos<br />
bebês, tanto das habilida<strong>de</strong>s quanto das dificulda<strong>de</strong>s,<br />
criei um objeto intitulado “Passarela<br />
<strong>de</strong> apoio” para que os bebês conseguissem<br />
aperfeiçoar e adquirir com mais facilida<strong>de</strong> as<br />
habilida<strong>de</strong>s motoras básicas <strong>de</strong> locomoção e<br />
14 Luz <strong>na</strong> passarelaque la vem eles!
estabilização. Essa “Passarela <strong>de</strong> apoio” foi confeccio<strong>na</strong>da<br />
com tábuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras, cabos <strong>de</strong><br />
vassoura (utilizado para que os bebês se apoiassem),<br />
espuma para proteger as laterais, evitando<br />
possíveis aci<strong>de</strong>ntes. Para fi<strong>na</strong>lizar essa confecção,<br />
foi colocado um tapete parecido com<br />
grama sintética para possibilitar a utilização<br />
sem calçado e o contato com uma textura diferenciada.<br />
Com os cabos <strong>de</strong> vassoura <strong>na</strong>s laterais, os bebês<br />
podiam se segurar ficando em pé, como também<br />
tentar alguns passinhos com e sem auxílio<br />
das educadoras envolvidas <strong>na</strong>quele momento.<br />
Meu trabalho com essa “Passarela <strong>de</strong> apoio” foi<br />
realizado por alguns meses, buscando em cada<br />
aula atingir meus objetivos específicos. Alguns<br />
já se locomoviam até o objeto. Nosso incentivo,<br />
então, era para que se agarrassem e se levantassem.<br />
Para outros, o incentivo era direcio<strong>na</strong>do<br />
para a locomoção até o objetivo, e, assim, foi<br />
possível observar a firmeza que os bebês apresentavam<br />
- alguns ao se firmarem arriscavam<br />
passos. Assim, nossa observação efetivava-se<br />
em estímulos <strong>de</strong> superar dificulda<strong>de</strong>s e auxiliar<br />
<strong>na</strong>s habilida<strong>de</strong>s apresentadas.<br />
A locomoção é um aspecto fundamental no<br />
aprendizado do movimentar-se, envolve a projeção<br />
do corpo no espaço externo, alterando<br />
sua localização, ativida<strong>de</strong>s como caminhar, correr,<br />
pular e saltar obstáculos são movimentos<br />
locomotores fundamentais. (GALLAHUE; OZ-<br />
MUN, 2005, p. 252).<br />
O primeiro contato com esse objeto foi enriquecedor<br />
tanto para mim, como educadora, quanto<br />
para os bebês envolvidos <strong>na</strong>quele momento.<br />
Quando entrei <strong>na</strong> sala <strong>de</strong> aula, todos ficaram<br />
atentos olhando para o objeto. Nesse dia, meu<br />
objetivo era permitir a vivência perante o objeto<br />
construído, ou seja, o foco era observar como<br />
os bebês utilizariam a passarela. E assim cada<br />
bebê utilizou da sua interpretação diante do<br />
objeto novo, explorando-o com <strong>de</strong>talhes, uns<br />
sentaram, <strong>de</strong>itaram, rolaram, brincaram com o<br />
tapete, mor<strong>de</strong>ram o espaço macio, se seguraram<br />
nos cabos <strong>de</strong> vassoura para ficarem em pé,<br />
e outros nem se aproximaram do objeto.<br />
Nas aulas posteriores que a “Passarela <strong>de</strong><br />
apoio” foi utilizada, meus objetivos específicos<br />
começaram a ser colocados em ação. Procurei<br />
realizar as ativida<strong>de</strong>s estimulando cada um individualmente,<br />
po<strong>de</strong>ndo, assim, potencializar as<br />
habilida<strong>de</strong>s e também auxiliar <strong>na</strong>s dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> cada bebê, respeitando sempre os limites<br />
individuais <strong>de</strong> cada um. Percebi que a aquisição<br />
<strong>de</strong> novas habilida<strong>de</strong>s motoras por parte dos<br />
bebês aconteceu <strong>de</strong> maneira mais prazerosa e<br />
significativa. Não relato aqui que começaram a<br />
caminhar, ou a realizar outros movimentos <strong>de</strong><br />
locomoção e <strong>de</strong> estabilização <strong>de</strong>vido ao objeto,<br />
mas afirmo que este teve gran<strong>de</strong> importância<br />
nesse processo, pois auxiliou <strong>de</strong> maneira positiva<br />
<strong>na</strong> aquisição e no aperfeiçoamento das<br />
habilida<strong>de</strong>s necessárias ao dia a dia dos bebês.<br />
Foram algumas aulas para que todos os bebês<br />
estabelecessem uma relação <strong>de</strong> segurança<br />
com a “Passarela <strong>de</strong> apoio”. No entanto, com o<br />
passar do tempo, conquistas foram sendo feitas<br />
e todos eles a utilizaram sem medo, dando<br />
cada dia uma função diferente ao objeto.<br />
Além das expectativas<br />
Meus objetivos com esse instrumento foram alcançados,<br />
mas não me permito diagnosticar o<br />
êxito totalmente ao meu objeto criado, pois a<br />
criança <strong>de</strong>senvolve-se <strong>na</strong>turalmente, mas afirmo<br />
que a estimulação auxilia com muito mais<br />
proprieda<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento dos bebês. Assim,<br />
posso categorizar que meu objeto <strong>de</strong> trabalho<br />
auxiliou e muito no <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> autonomia nos <strong>de</strong>safios, no <strong>de</strong>slocamento<br />
com <strong>de</strong>streza e no aperfeiçoamento<br />
<strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> locomoção.<br />
Com esse trabalho e objeto <strong>de</strong> apoio, obtive<br />
satisfação ao ver o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
crianças, pois se me propus a criar um objeto,<br />
imaginei algo que me facilitasse o trabalho,<br />
mas este foi além das minhas expectativas,<br />
pois ofereceu estímulo aos pequenos. Para<br />
nós educadoras, criar um objeto digno <strong>de</strong> outra<br />
profissão (marceneiro) como instrumento<br />
para <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s <strong>na</strong> educação é<br />
como se escrevêssemos um livro <strong>de</strong> palavras<br />
técnicas para teorizar as práticas pedagógicas.<br />
Referências<br />
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreen<strong>de</strong>ndo<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento motor: bebês, crianças,<br />
adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte,<br />
2005.<br />
PIAGET, J. A epistemologia genética. Tradução<br />
Natha<strong>na</strong>el C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971.<br />
Camila <strong>de</strong> Oliveira<br />
15
16<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Relaxamento <strong>na</strong><br />
educação infantil<br />
Ricardo da Costa Pereira<br />
Des<strong>de</strong> que <strong>na</strong>scem, as crianças vivenciam<br />
experiências corporais e, progressivamente,<br />
apropriam-se <strong>de</strong> movimentos para a integração<br />
com o mundo. Por meio do movimento,<br />
apren<strong>de</strong>m sobre si mesmas, relacio<strong>na</strong>m-se<br />
com o outro e com os objetos, <strong>de</strong>senvolvem<br />
suas capacida<strong>de</strong>s e apren<strong>de</strong>m habilida<strong>de</strong>s. O<br />
movimento, portanto, é um recurso utilizado<br />
pela criança para o seu conhecimento e do<br />
meio em que se insere, para expressar seu<br />
pensamento e também experimentar relações<br />
com pessoas e objetos. O movimento,<br />
para a criança, significa muito mais do que<br />
mexer partes do corpo ou <strong>de</strong>slocar-se no espaço,<br />
o movimento é linguagem (CURITIBA,<br />
2009).<br />
Conforme o artigo 29 da Lei nº 9.394 - Lei<br />
<strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacio<strong>na</strong>l,<br />
a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> da Educação <strong>Infantil</strong> é proporcio<strong>na</strong>r<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança<br />
em todos os aspectos, físico, intelectual,<br />
linguístico, afetivo e social, visando complementar<br />
a educação recebida <strong>na</strong> família e em<br />
toda a comunida<strong>de</strong> em que a criança vive<br />
(BRASIL, 1996). Dessa forma, um dos compromissos<br />
da Educação <strong>Infantil</strong> é oferecer<br />
as crianças diferentes formas <strong>de</strong> manifestar
seu conhecimento, estimulando todas as<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> elas expressarem sua criativida<strong>de</strong><br />
- inclui-se, aqui, os movimentos.<br />
Partindo do pressuposto <strong>de</strong> que a prática<br />
pedagógica com o movimento <strong>de</strong>verá proporcio<strong>na</strong>r<br />
à criança o conhecimento <strong>de</strong> seu<br />
corpo e das suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> movimentação,<br />
o domínio <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> expressão e<br />
comunicação e, como consequência, a apropriação<br />
/ ampliação <strong>de</strong> saberes das práticas<br />
<strong>de</strong> movimento da cultura infantil, justifica-se<br />
a realização do presente projeto, por aten<strong>de</strong>r<br />
três eixos recomendados por Garanhani:<br />
• Autonomia e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> corporal: referem-se<br />
às aprendizagens que envolvem<br />
o corpo em movimento para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
físico-motor, proporcio<strong>na</strong>ndo<br />
assim o domínio e a consciência do<br />
corpo, condições estas necessárias para<br />
a autonomia e a formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
corporal infantil.<br />
• Socialização: implica <strong>na</strong> compreensão<br />
<strong>de</strong> movimentos do corpo como uma forma<br />
<strong>de</strong> linguagem, utilizada <strong>na</strong> e pela interação<br />
com meio social.<br />
• Ampliação do conhecimento das práticas<br />
corporais infantis: envolver aprendizagens<br />
das práticas <strong>de</strong> movimentos que<br />
constituem e ampliam a cultura infantil,<br />
<strong>na</strong> qual a criança se encontra inserida.<br />
(GARANHANI, 2002 apud CURITIBA,<br />
2009, p. 11).<br />
Quando as crianças peque<strong>na</strong>s trabalham em<br />
pequenos grupos com ativida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas<br />
ao seu nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e a seus interesses<br />
(jogos, experimentações, brinca<strong>de</strong>iras),<br />
passam a construir sequências <strong>de</strong> trabalho<br />
em que se mostram capazes <strong>de</strong> inventar e <strong>de</strong>senvolver<br />
iniciativas. Estudos também têm <strong>de</strong>monstrado<br />
que, em ambientes <strong>de</strong> convivência<br />
coletiva, as crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo adquirem<br />
a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>r-se com parceiros<br />
diversos. Esses momentos po<strong>de</strong>m ajudar as<br />
crianças a compreen<strong>de</strong>r sentimentos e conflitos<br />
e alcançar também sua satisfação emocio<strong>na</strong>l.<br />
As interações criança/criança são ricas em<br />
conteúdos e variam nos diferentes contextos,<br />
em consequência <strong>de</strong> elementos como o tamanho<br />
do grupo, os objetos disponíveis, o tipo <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m auxiliar <strong>na</strong> construção da<br />
ética e do respeito pelo outro (SILVA, 2013).<br />
Enten<strong>de</strong>mos que a Educação Física é uma<br />
discipli<strong>na</strong> que tem gran<strong>de</strong> relevância <strong>na</strong> Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, pois po<strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r às<br />
crianças momentos <strong>de</strong> novas experiências,<br />
contatos com outras pessoas que não sejam<br />
as do seu ambiente familiar, <strong>de</strong>scobertas, percepções<br />
sobre seu próprio corpo a partir da<br />
realização <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos.<br />
Dentro <strong>de</strong>sse contexto, a Educação Física<br />
atrelada à Educação <strong>Infantil</strong> contribui para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento integral das crianças.<br />
Diante <strong>de</strong>ssa perspectiva, objetivamos com<br />
este trabalho relatar a experiência vivida<br />
com crianças <strong>de</strong> três a seis anos que frequentavam<br />
o Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Padre Jacob, localizado no bairro São Vicente,<br />
Itajaí. A ativida<strong>de</strong> a ser apresentada<br />
buscou conduzir uma reflexão sobre a valorização<br />
e o planejamento <strong>de</strong> práticas pedagógicas<br />
que contemplem o movimento como<br />
uma linguagem da criança.<br />
O objetivo geral <strong>de</strong>ste projeto foi proporcio<strong>na</strong>r<br />
<strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física técnicas<br />
<strong>de</strong> relaxamento para crianças da Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, com o intuito <strong>de</strong> acalmá-las para<br />
as ativida<strong>de</strong>s seguintes da roti<strong>na</strong> escolar,<br />
oportunizar momentos <strong>de</strong> bem estar e <strong>de</strong>scanso,<br />
além <strong>de</strong> estimular sua percepção e<br />
conscientização corporal e promover a sua<br />
socialização.<br />
Baseado em Nista-Picocolo e Moreira (2012),<br />
a ativida<strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> relaxamento foi a<br />
massagem com bolinhas. Foi necessário<br />
os materiais <strong>de</strong> apoio: colchonetes, músicas<br />
calmas e bolinhas (firmes e macias). A<br />
aula <strong>de</strong> Educação Física teve como objetivo<br />
<strong>de</strong>spertar o sentir, perceber e i<strong>de</strong>ntificar as<br />
partes do corpo, compreen<strong>de</strong>r os efeitos da<br />
massagem. O conteúdo atitudi<strong>na</strong>l visou <strong>de</strong>spertar<br />
a empatia, cuidado com o colega, estímulo,<br />
percepção e a conscientização corporal.<br />
O espaço para sua realização ocorreu<br />
tanto <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula, quanto <strong>na</strong> área<br />
exter<strong>na</strong> da escola.<br />
Desenvolvimento da ativida<strong>de</strong><br />
O <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> contou inicialmente<br />
com a disposição das crianças<br />
sentadas em roda para dialogar sobre o significado<br />
da massagem. O professor conduziu<br />
a plenária perguntando se já realizaram<br />
18 Relaxamento <strong>na</strong> educação infantil
em alguém ou já receberam a massagem -<br />
nesse caso, po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>monstrar a técnica<br />
em alguém.<br />
Após, com a música <strong>de</strong> fundo, foi solicitado<br />
aos alunos que fechassem seus olhos e respirassem<br />
tranquilamente, buscando silenciar<br />
os pensamentos. Nessa etapa da aula,<br />
po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>dicar mais tempo, para os alunos<br />
conseguirem silenciar por mais tempo. Em<br />
alguns momentos, ainda mais no primeiro<br />
contato com essa experiência, muitos apresentaram<br />
dificulda<strong>de</strong>s em concentrar-se.<br />
Na sequência, foi oferecido para duplas uma<br />
bolinha e solicitado que cada integrante da<br />
dupla massagiasse alguma parte do próprio<br />
corpo e <strong>de</strong>pois experimentasse massagear o<br />
colega. A i<strong>de</strong>ia é que as crianças conseguissem<br />
i<strong>de</strong>ntificar as partes do corpo que estão<br />
sendo massageadas. Então, o professor foi<br />
di<strong>na</strong>mizando a proposta para que passassem<br />
pelas partes do corpo e conseguissem<br />
memorizá-las. Caso algumas partes do corpo<br />
não fossem i<strong>de</strong>ntificadas, o professor sugeriu<br />
que fossem massageadas, complementando<br />
as informações nomeando-as. Assim sendo,<br />
a sequência didática da aula contou com as<br />
seguintes etapas: 1) Conceito <strong>de</strong> massagem;<br />
2) Técnicas <strong>de</strong> respiração, 3) Massagem individual<br />
e coletiva, 4) Conhecimento das diferentes<br />
partes do corpo humano.<br />
Benefícios da ativida<strong>de</strong> <strong>na</strong> fase infantil<br />
Dado o exposto, verificou-se a necessária articulação<br />
entre Educação Física e Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, prevendo projetos pedagógicos que<br />
fomentem o conhecimento corporal e técnicas<br />
<strong>de</strong> relaxamento. Sua prática no cotidiano<br />
escolar po<strong>de</strong> auxiliar a amenizar a hiperativida<strong>de</strong>,<br />
o estresse, a insônia e ansieda<strong>de</strong><br />
dos educandos.<br />
No nível bioquímico, ocorreu um aumento<br />
da liberação <strong>de</strong> endorfi<strong>na</strong>s – os hormônios<br />
do bem-estar – e a criança sentiu-se feliz. A<br />
circulação sanguínea também foi favorecida<br />
e toxi<strong>na</strong>s removidas – o que é ótimo para o<br />
sistema nervoso em pleno <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
O padrão respiratório também melhorou,<br />
pois a respiração <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser mais curta<br />
e as inspirações tor<strong>na</strong>ram-se mais lentas e<br />
profundas.<br />
Foi por meio da coleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos das<br />
crianças que participaram do projeto e observação<br />
<strong>de</strong> suas condutas <strong>de</strong>ntro do espaço<br />
escolar que verificamos os impactos que<br />
o projeto trouxe para a vida diária <strong>de</strong>las. A<br />
princípio, as crianças ficaram bem tímidas,<br />
apresentaram dificulda<strong>de</strong>s para se concentrar.<br />
Ao longo do processo, essa barreira inicial<br />
foi sendo transposta. As crianças passaram<br />
a <strong>de</strong>monstrar maior interesse durante<br />
as ativida<strong>de</strong>s e mostraram-se bem mais participativas.<br />
No que diz respeito à execução<br />
das ativida<strong>de</strong>s pelas crianças, algumas dificulda<strong>de</strong>s<br />
foram diagnosticadas, problemas<br />
relacio<strong>na</strong>dos à movimentação, ao equilíbrio<br />
e à socialização.<br />
Em síntese, verificamos uma melhora significativa<br />
<strong>na</strong> concentração <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s<br />
diárias, bem como maior conhecimento do<br />
seu corpo e a socialização/fortalecimento<br />
<strong>de</strong> vínculos com os colegas. O relaxamento<br />
oportunizou momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e bem<br />
-estar para as crianças.<br />
As práticas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas, lúdicas e<br />
recreativas representam não ape<strong>na</strong>s uma<br />
questão <strong>de</strong> benefício físico <strong>na</strong> fase infantil,<br />
mas uma necessida<strong>de</strong> para o a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimento<br />
cognitivo, psicológico e relacio<strong>na</strong>l<br />
das crianças.<br />
Referências<br />
BRASIL. Lei Nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1996. Estabelece as diretrizes e bases da<br />
educação <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Diário Oficial [da] República<br />
Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Po<strong>de</strong>r Legislativo,<br />
Brasília, DF, 23 <strong>de</strong>z. 1996. Seção 1, n. 248, p.<br />
27833-27841.<br />
CURITIBA. Prefeitura Municipal. Secretaria<br />
Municipal da Educação. Ca<strong>de</strong>rno pedagógico:<br />
movimento. Curitiba: SME, 2009.<br />
NISTA-PICOCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo<br />
em movimento <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. São<br />
Paulo: Telos, 2012. (Coleção educação física<br />
escolar).<br />
SILVA, S. C. V. da. Jogos e Brinca<strong>de</strong>iras <strong>na</strong><br />
infância: curso <strong>de</strong> pedagogia. Itajaí: Universida<strong>de</strong><br />
do Vale do Itajaí: Biguaçu UNIVALI<br />
Virtual, 2013.<br />
Ricardo da Costa Pereira<br />
19
20<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Ginca<strong>na</strong> do<br />
Movimento<br />
Leandro Aguiar<br />
O movimento é uma importante dimensão<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento e da cultura huma<strong>na</strong>. As<br />
crianças movimentam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>na</strong>scem<br />
adquirindo cada vez maior controle sobre seu<br />
próprio corpo e se apropriando cada vez mais<br />
das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação com o mundo.<br />
Pensando <strong>na</strong> continuida<strong>de</strong> das aulas <strong>de</strong> Educação<br />
Física, o Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Professora Diva Vieira Abrantes, a partir <strong>de</strong> um<br />
planejamento, criou a 1ª Ginca<strong>na</strong> do Movimento<br />
para os alunos, professores, agentes, pais e<br />
funcionários para que eles pu<strong>de</strong>ssem socializar<br />
todos os valores <strong>de</strong> uma forma sistematizada e<br />
pedagógica. A i<strong>de</strong>ia veio a partir <strong>de</strong> um pedido<br />
da diretora. Pensou-se em todos os segmentos,<br />
para uma execução a<strong>de</strong>quada principalmente<br />
para as crianças.<br />
Foi planejado e buscado durante o evento promover<br />
a integração, a união, a diversão, o entretenimento,<br />
o companheirismo e o espírito esportivo<br />
entre os participantes do evento. Integrando<br />
toda a comunida<strong>de</strong> escolar <strong>de</strong> forma pedagógica,<br />
<strong>de</strong>spertando o espírito <strong>de</strong> competição sadia,<br />
apren<strong>de</strong>ndo a ser, a conviver e a fazer.<br />
A 1ª Ginca<strong>na</strong> do Movimento do Centro <strong>de</strong> Educação<br />
<strong>Infantil</strong> Prof.a Diva Vieira Abrantes aconteceu<br />
em cinco dias. A comunida<strong>de</strong> escolar envolvida<br />
foi dividida em quatro equipes: vermelha,<br />
ver<strong>de</strong>, azul e amarela. Os grupos enfrentaram-
se respeitando suas faixas etárias em ativida<strong>de</strong>s<br />
diferenciadas, com propósito <strong>de</strong> troca <strong>de</strong><br />
experiências e socialização <strong>de</strong> todos os participantes.<br />
Dessa forma, criou-se um ambiente<br />
<strong>de</strong> respeito e aprendizagem com foco <strong>na</strong> importância<br />
dos valores no dia a dia do ambiente<br />
escolar e <strong>na</strong> formação do indivíduo.<br />
Durante o primeiro dia já se observou o envolvimento<br />
e a interação entre todos, que foi muito<br />
gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a participação <strong>na</strong>s provas e ativida<strong>de</strong>s<br />
como no cuidar das crianças, já que professores<br />
estavam diariamente em contato com<br />
os alunos das outras turmas, criando vínculos<br />
e amiza<strong>de</strong>s muito fortes. Eles influenciaram diretamente<br />
<strong>na</strong> confiança e <strong>na</strong> autonomia dos<br />
pequenos. Os pais e os funcionários também<br />
participaram diretamente e também entraram<br />
no contexto, conhecendo o dia-dia vivido pelos<br />
profissio<strong>na</strong>is, os seus trabalhos, as suas metodologias<br />
e os seus <strong>de</strong>safios, além das conquistas<br />
das crianças que, durante cada momento,<br />
apareciam <strong>de</strong> forma muito interessante.<br />
A Ginca<strong>na</strong> do Movimento teve um cronograma<br />
diário pré-estabelecido para que todas as<br />
pessoas envolvidas pu<strong>de</strong>ssem se direcio<strong>na</strong>r<br />
para as ações propostas para cada período e<br />
dia, além das brinca<strong>de</strong>iras envolverem uma faixa<br />
etária igual para a realização da ativida<strong>de</strong>.<br />
No cronograma, estava estabelecido o local <strong>de</strong><br />
realização; o horário; qual turmas iriam realizar<br />
as brinca<strong>de</strong>iras; on<strong>de</strong> os alunos dos berçários<br />
I e II, mater<strong>na</strong>l I e II, Jardim I e II e Pré-escolar<br />
brincavam entre si <strong>de</strong>ntro da sua faixa etária;<br />
as ações e as brinca<strong>de</strong>iras propostas, além dos<br />
confrontos das equipes e suas respectivas cores.<br />
Por exemplo, <strong>na</strong> equipe amarela havia 5<br />
alunos do Pré, do Jardim, do Mater<strong>na</strong>l, do Berçário<br />
para que, no momento das ativida<strong>de</strong>s,<br />
eles respeitassem suas individualida<strong>de</strong>s e também<br />
a integração em forma <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> grupo.<br />
Cronograma das provas,<br />
das brinca<strong>de</strong>iras e das tarefas<br />
DIA 10-11-2014 | segunda-feira<br />
Provas, brinca<strong>de</strong>iras e tarefas<br />
Local Horário Alunos das Turmas<br />
2 Pontos para os participantes<br />
+ 1 ponto para o vencedor,<br />
Confrontos<br />
2 pontos para tarefa cumprida.<br />
Pré e Pré / Jardim II<br />
Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />
Ver<strong>de</strong> X Amarelo<br />
Azul X Vermelho<br />
Gramado ou<br />
Refeitório<br />
8:45<br />
Jardim e Jardim II<br />
Mater<strong>na</strong>l e Mater<strong>na</strong>l III<br />
Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />
Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />
Vermelho X Amarelo<br />
Azul X Ver<strong>de</strong><br />
Ver<strong>de</strong> X Amarelo<br />
Azul X Vermelho<br />
Professores, funcionários e pais<br />
Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />
Amarelo X Azul<br />
Ver<strong>de</strong> X Vermelho<br />
Solarium ou<br />
Refeitório<br />
8:45<br />
Berçario I, Berçario II e B III / M I<br />
Torre <strong>de</strong> Latas<br />
Todas as equipes<br />
22 Ginca<strong>na</strong> do Movimento
Durante a Ginca<strong>na</strong>, as ativida<strong>de</strong>s foram sempre<br />
em locais distintos para as crianças <strong>de</strong> 0<br />
a 3 anos e 4 a 6 anos. No solarium, foi feita a<br />
brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Guarda brinquedos a qual as<br />
crianças conheciam muito bem, já que era<br />
uma ativida<strong>de</strong> feita no cotidiano. A participação<br />
e o envolvimento era evi<strong>de</strong>nte. Algumas<br />
disputas instauravam-se, mas o anseio<br />
pela organização era aparente. Os bebês, já<br />
nesse período, criam uma intenção <strong>de</strong> organização<br />
muito importante.<br />
Outra proposta foi o Empilhamento <strong>de</strong> latas.<br />
As latas foram encapadas com várias cores.<br />
Além da visualização do primeiro conceito<br />
<strong>de</strong> cores, tinham as questões da lateralida<strong>de</strong><br />
e visão periférica para ser mais fácil i<strong>de</strong>ntificar<br />
on<strong>de</strong> e como estavam as latas durante<br />
a brinca<strong>de</strong>ira. Os bebês tiveram noção <strong>de</strong><br />
equilíbrio e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora fi<strong>na</strong> com o<br />
cuidado para empilhar as latas. Alguns iam<br />
falando com os outros como <strong>de</strong>veriam colocar<br />
as latas, tomando muito cuidado para<br />
não <strong>de</strong>ixá-las cair, e, ao fi<strong>na</strong>l do empilhamento,<br />
eles tinham também que retirar uma lata<br />
<strong>de</strong> cada vez com cuidado para não <strong>de</strong>rrubar<br />
a sua pilha. Os professores e os agentes<br />
sempre estavam juntos orientando e colaborando<br />
para que as crianças <strong>de</strong>senvolvessem<br />
a ação da forma mais prazerosa possível,<br />
dando confiança a eles. No Pisa balão,<br />
os pequenos pu<strong>de</strong>ram bagunçar muito indo<br />
atrás dos balões. Alguns se assustaram, mas<br />
<strong>de</strong>pois já se apresentavam ambientados, falando<br />
“heeeee” e batendo palmas.<br />
No Circuito <strong>de</strong> forma mais integrada, trabalharam-se<br />
as capacida<strong>de</strong>s físicas usando<br />
vários segmentos corporais. Em se tratando<br />
do escorregador, após ganhar confiança<br />
<strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física, as crianças<br />
queriam <strong>de</strong>scer até <strong>de</strong> frente, sendo sempre<br />
orientados a <strong>de</strong>scer <strong>de</strong> forma segura. No<br />
túnel havia um certo receio, mais logo iam<br />
com o incentivo dos professores e agentes.<br />
Eles se sentiram à vonta<strong>de</strong> e passaram por<br />
ele com velocida<strong>de</strong> e <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong><br />
pedir para ir outras vezes. O fi<strong>na</strong>l do circuito<br />
foi o trem. Os alunos receberam maior ajuda<br />
para utilizarem mãos e per<strong>na</strong>s juntos e <strong>de</strong>ixá<br />
-los mais seguros.<br />
No Andar sobre o banco, as crianças pu<strong>de</strong>ram<br />
potencializar seu equilíbrio. Ao fi<strong>na</strong>l,<br />
com ajuda, elas ganhavam confiança para<br />
pular do banco. No caminho <strong>de</strong> latas, elas<br />
Leandro Aguiar<br />
23
passavam bem <strong>de</strong>vagar para não pisar fora<br />
das latas, comemorando muito quando conseguiam.<br />
Os professores colocaram como uma proposta<br />
interessante encher o galão <strong>de</strong> água. Com<br />
uma garrafa pet peque<strong>na</strong>, as crianças iam<br />
até um bal<strong>de</strong> e enchiam a garrafa. Foi muito<br />
interessante ver o cuidado que as crianças<br />
tinham para não <strong>de</strong>rrubar água e a <strong>de</strong>streza<br />
que colocavam a garrafa no funil para não<br />
<strong>de</strong>sperdiçar <strong>na</strong>da. Fizeram muitas vezes e<br />
com ajuda <strong>de</strong> todas as crianças.<br />
Para as crianças foram feitas brinca<strong>de</strong>iras<br />
no gramado e área coberta. Na abertura da<br />
ginca<strong>na</strong>, elas brincaram com o famoso Cabo<br />
<strong>de</strong> guerra. A força mostrou-se <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte,<br />
mas a brinca<strong>de</strong>ira é o que realmente fazia<br />
a alegria da criançada. Contudo, não foram<br />
só as crianças que brincavam, ali também<br />
brincaram os pais, funcionários. Todos juntos<br />
promoveram cooperação e companheirismo<br />
durante e ao fi<strong>na</strong>l da prova. Teve gente<br />
que puxou forte o cabo e teve gente que<br />
caiu dando muita risada <strong>de</strong> tudo. Brincaram<br />
também da corrida do saco. Eles correram<br />
da forma que conseguiam, mas todos colaboram<br />
em equipe.<br />
A Corrida <strong>de</strong> pé <strong>de</strong> lata foi muito divertida<br />
com <strong>de</strong>staques para a prova dos adultos.<br />
Eles tiveram muito equilíbrio em conjunto<br />
com a velocida<strong>de</strong>. O Pega fita foi um gran<strong>de</strong><br />
sucesso. As crianças além <strong>de</strong> brincarem individualmente<br />
também criaram estratégias<br />
em grupo. Também participaram da Corrida<br />
da bolinha <strong>na</strong> colher. Não foi usado um ovo,<br />
mas sim uma bolinha. Houve muito cuidado<br />
e equilíbrio para não <strong>de</strong>ixar a bolinha cair, as<br />
crianças em sua maioria conseguiam levar<br />
a bolinha a seu <strong>de</strong>stino sem <strong>de</strong>ixá-la cair. A<br />
brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Derruba cones também fez<br />
muito sucesso, todos tentavam <strong>de</strong>rrubar os<br />
cones da forma mais rápida possível. Tanto<br />
as crianças quanto os adultos usavam estratégias<br />
se dividindo em direções diferentes<br />
para alcançar mais rápido todos os cones.<br />
Na Prova dos bambolês, eles tiveram <strong>de</strong><br />
correr saltando <strong>de</strong>ntro dos bambolês até o<br />
outro lado e voltar para a fila on<strong>de</strong> estava o<br />
próximo amigo.<br />
Na Prova do futebol, eles bateram pê<strong>na</strong>ltis em<br />
traves peque<strong>na</strong>s. Ao fi<strong>na</strong>l, eles faziam a contagem<br />
para ver quantos cada equipe acertou.<br />
A prova foi no gramado dando um contexto<br />
maior <strong>de</strong> futebol. Alguns pais se <strong>de</strong>stacaram<br />
acertando, dando dicas e apoio aos que acertavam<br />
e aos que não acertavam. Na brinca<strong>de</strong>ira<br />
da Caneta <strong>na</strong> garrafa, as crianças tinham que<br />
ter paciência e uma gran<strong>de</strong> noção <strong>de</strong> tempo e<br />
espaço para colocar a caneta pendurada por<br />
um cordão <strong>de</strong>ntro do galão <strong>de</strong> cinco litros. Alguns<br />
queriam botar a mão que não era permitido,<br />
principalmente quando não conseguiam;<br />
outros queriam direcio<strong>na</strong>r a garrafa com as<br />
mãos, o que também não era permitido. Ao fi<strong>na</strong>l<br />
todos conseguiram realizar a brinca<strong>de</strong>ira.<br />
Na brinca<strong>de</strong>ira do Cadê o sapato?, eles tinham<br />
<strong>de</strong> achar seu calçado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma pilha e<br />
calçá-lo e amarrá-lo ao fi<strong>na</strong>l. Alguns ajudavam<br />
os outros mostrando muita solidarieda<strong>de</strong> com<br />
os amigos. A ação que terminou as brinca<strong>de</strong>iras<br />
foi o Caça ao tesouro. Os grupos procuravam<br />
as pistas pelo CEI para tentar encontrar<br />
um prêmio ao fi<strong>na</strong>l. A procura foi gran<strong>de</strong>, mas<br />
alguns <strong>de</strong>sistiram porque não achavam algumas<br />
pistas. A equipe ver<strong>de</strong> acabou achando e<br />
comemorando muito ao fi<strong>na</strong>l.<br />
Além das brinca<strong>de</strong>iras, os grupos também tinham<br />
que realizar tarefas, trazer uma pessoa<br />
com mais <strong>de</strong> 90 anos, fazer brinquedos recicláveis<br />
e apresentar uma ativida<strong>de</strong> durante<br />
sessenta segundos (Se vira nos 60).<br />
A GINCANA também teve uma proposta solidária<br />
com a prova da cesta básica. Os grupos<br />
tinham <strong>de</strong> trazer um quilo <strong>de</strong> alimento não<br />
perecível para a formação <strong>de</strong> cestas básicas.<br />
Foram feitas 6 cestas básicas e os alunos as<br />
entregaram para famílias carentes da comunida<strong>de</strong>.<br />
Os talentos da comunida<strong>de</strong> também<br />
foram evi<strong>de</strong>nciados, os quais apareceram <strong>na</strong><br />
tarefa da canção. Os pais tinham <strong>de</strong> cantar<br />
uma música - um dos <strong>de</strong>staques foi a mãe<br />
que contou um hino e a filha acompanhou<br />
no violão.<br />
Na sexta-feira, foi feita a culminância do projeto.<br />
As crianças trouxeram muitas frutas e<br />
foi feito, com ajuda <strong>de</strong> todos, um suculento<br />
piquenique <strong>de</strong> frutas. Todos os envolvidos<br />
pu<strong>de</strong>ram confraternizar, contar histórias, falar<br />
das brinca<strong>de</strong>iras e experiências vividas,<br />
momento em que os pais vivenciaram o cotidiano<br />
da unida<strong>de</strong> escolar.<br />
A entrega <strong>de</strong> medalhas foi <strong>de</strong> forma igual<br />
para todos. Cada equipe recebeu a medalha<br />
da sua cor em pódio, mostrando ao fi<strong>na</strong>l que<br />
24 Ginca<strong>na</strong> do Movimento
todos foram vencedores em participação e<br />
integração. De forma misturada, as turmas<br />
<strong>de</strong>sfilavam alegria em receber suas medalhas.<br />
Eles foram para casa com uma lembrança<br />
pendurada no pescoço, não <strong>de</strong> vitória ou<br />
<strong>de</strong>rrota, mas <strong>de</strong> uma competição sadia, com<br />
muita orientação e foco <strong>na</strong>s brinca<strong>de</strong>iras.<br />
Ao fi<strong>na</strong>l, percebeu-se gran<strong>de</strong> participação <strong>de</strong><br />
todos. Além <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duzentas e vinte seis<br />
crianças, também participaram os quarenta<br />
e dois funcionários, professoras, agentes em<br />
educação, secretárias, supervisora, diretora,<br />
cozinheiras, vigia e pessoal da área da limpeza.<br />
Os pais e os familiares também participaram<br />
significativamente - mais <strong>de</strong> cem familiares<br />
envolveram-se no evento, brincando e<br />
ajudando <strong>de</strong> várias formas.<br />
A integração entre família e escola foi a principal<br />
observação. As famílias, participaram,<br />
brincaram, ajudaram a cuidar, <strong>de</strong>ixando as<br />
crianças muito felizes. Os pais, assim, envolveram-se<br />
com o trabalho dos profissio<strong>na</strong>is<br />
no dia-dia da creche.<br />
A organização com cronograma diário dos<br />
locais das ativida<strong>de</strong>s e horários ajudou para<br />
que o evento saísse <strong>de</strong> forma muito organizada,<br />
já que aconteceram mais <strong>de</strong> sessenta ativida<strong>de</strong>s,<br />
tarefas e brinca<strong>de</strong>iras que proporcio<strong>na</strong>ram<br />
as crianças um ambiente educacio<strong>na</strong>l<br />
e familiar, mostrando o que fazem durante o<br />
ano <strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física, dando visibilida<strong>de</strong><br />
e ênfase <strong>na</strong> importância da discipli<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> forma organizada e com o profissio<strong>na</strong>l específico.<br />
As crianças conseguiram, <strong>de</strong> forma<br />
mais integrada, melhorar suas habilida<strong>de</strong>s<br />
motoras, cognitivas e sociais, oportunizando<br />
a autonomia e a confiança com seu corpo,<br />
conhecendo seus limites e possibilida<strong>de</strong>s por<br />
meio das oportunida<strong>de</strong>s que a Ginca<strong>na</strong> do<br />
movimento po<strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r a todos que<br />
estiveram envolvidos.<br />
Leandro Aguiar<br />
25
26<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Bal<strong>de</strong>s<br />
dançantes<br />
A CRIATIVIDADE<br />
COMO PROCESSO<br />
DE ENSINO-<br />
APRENDIZAGEM<br />
NAS AULAS DE<br />
EDUCAÇÃO FÍSICA<br />
DA PRÉ-ESCOLA<br />
1<br />
Eliton Clayton<br />
Rufino Seára<br />
Trilhando o(s) caminho(s)...<br />
É preciso, inicialmente, ao dialogar<br />
com o leitor, observar algumas questões<br />
que entoam pulsantemente <strong>na</strong><br />
Educação Física como componente<br />
curricular no ensino escolar: a ênfase<br />
<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong>, nos mo<strong>de</strong>los engessados,<br />
<strong>na</strong> mecanização do movimento<br />
e, progressivamente, no tradicio<strong>na</strong>lismo<br />
que nós, professores, ainda mantemos<br />
quanto ao seu ensino.<br />
Nesse contexto, ao pensarmos especificamente<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />
precisamos (<strong>de</strong>s)construir, ainda<br />
mais, os mo<strong>de</strong>los arraigados em uma<br />
objetivida<strong>de</strong> racio<strong>na</strong>l e <strong>na</strong> comparação<br />
2 objetiva entre os educandos.
1 Professor <strong>de</strong> Educação Física da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Educação. Licenciado em Educação<br />
Física, Mestre em Educação e Doutorando em Ciências Huma<strong>na</strong>s (UFSC).<br />
2 Entendo por comparação objetiva uma relação <strong>de</strong> sempre buscar estar acima,<br />
ganhando do outro e, para isso, usando um movimento, uma técnica em específico que<br />
faz com que se busque o único objetivo <strong>de</strong> sobrepujar o outro.
Com isso, este relato expõe o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> que buscou essa<br />
<strong>de</strong>sconstrução por meio do ato criativo <strong>na</strong>s<br />
aulas <strong>de</strong> Educação Física e, com ela, uma<br />
possibilida<strong>de</strong> dos educandos agirem com<br />
criticida<strong>de</strong> e autonomia.<br />
Dessa forma, buscou-se atingir esses<br />
preceitos por meio da ativida<strong>de</strong> intitulada<br />
Bal<strong>de</strong>s Dançantes. Ela foi <strong>de</strong>senvolvida com<br />
a turma do Pré-vespertino que é composta<br />
por 25 educandos; assim, pelo menos 25 novas<br />
maneiras <strong>de</strong> manusear ou brincar com o<br />
bal<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riam e, como se esperava, foram<br />
criadas.<br />
Construindo (teoricamente) as i<strong>de</strong>ias<br />
Pensar no objetivo <strong>de</strong> aprendizagem é relevar<br />
aquilo que o professor busca possibilitar<br />
para que seus educandos alcancem novos<br />
saberes. Por isso, este relato buscou <strong>de</strong>senvolver<br />
habilida<strong>de</strong>s cognitivo-motoras <strong>de</strong> forma<br />
a buscar a coparticipação criativa dos<br />
educandos <strong>na</strong> resolução <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios com o<br />
objeto bal<strong>de</strong>.<br />
Não é só um bal<strong>de</strong>,<br />
é um mundo <strong>de</strong> criações<br />
para as aulas <strong>de</strong> EF. Lá, estavam dispostos,<br />
perto da pare<strong>de</strong>, 26 bal<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lenço ume<strong>de</strong>cido<br />
(do berçário, obviamente) um do lado<br />
do outro. Fiz a primeira pergunta: Para que<br />
serve o bal<strong>de</strong>? Um dos educandos respon<strong>de</strong>u<br />
que servia para colocar água <strong>de</strong>ntro.<br />
Outro disse que era para guardar uma coisa<br />
para limpar o bumbum dos bebês (risos e risos<br />
nessa hora). Então, diante daquele ocorrido,<br />
indaguei <strong>de</strong> novo: Dá para fazer mais alguma<br />
coisa com os bal<strong>de</strong>s? Dá para inventar<br />
outras formas <strong>de</strong> usá-lo? Prontamente a resposta<br />
foi um FORTE simmmmmmmmmmm!!!<br />
A partir disso, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> questões<br />
<strong>de</strong> segurança, estabeleci, juntamente a eles,<br />
duas regras: que o bal<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>ria ser<br />
usado para machucar <strong>de</strong> nenhuma maneira<br />
os colegas, e que não po<strong>de</strong>ria ser arremessado<br />
muito alto, haja vista a queda brusca<br />
sobre algum colega.<br />
Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, fiz um<br />
primeiro pedido: “Todos <strong>de</strong>vem andar com o<br />
bal<strong>de</strong> <strong>na</strong>s mãos até a pare<strong>de</strong> e voltar, Ok?”;<br />
“Sim”. E aí, o que tem <strong>de</strong> criativo nisso? Ora,<br />
<strong>na</strong>da! Mas a i<strong>de</strong>ia era mostrar justamente<br />
isso, que nós estamos acostumados a fazer o<br />
O processo do <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem<br />
tor<strong>na</strong>-se mais eficaz quando o educando<br />
recebe alguns <strong>de</strong>safios em que ele<br />
necessita refletir antes <strong>de</strong> dar uma resposta<br />
(CUNHA, 1977). Nesse contexto, o educando<br />
<strong>de</strong>ve ser atuante como propõe o processo<br />
do ato criativo, no qual serão lançados a<br />
ele <strong>de</strong>safios para que ele busque soluções.<br />
É nesse momento que o processo <strong>de</strong> aprendizado<br />
acontece <strong>de</strong> forma criativa, lúdica e<br />
autônoma. Para esse processo, segundo Seára<br />
(2014, p. 1), chamaremos <strong>de</strong> “diálogo em<br />
movimento”.<br />
Diante disso, a ativida<strong>de</strong> bal<strong>de</strong>s dançantes<br />
foi realizada da seguinte maneira: Inicialmente,<br />
cheguei à sala <strong>de</strong> aula para começar<br />
a aula <strong>de</strong> Educação Física (EF). Ao realizar<br />
minha fala (dimensão conceitual), <strong>de</strong>ixei os<br />
educandos curiosos, pois disse que <strong>na</strong>quela<br />
intervenção bal<strong>de</strong>s dançariam. Posteriormente,<br />
levei os alunos em um gran<strong>de</strong> trem<br />
até o ‘’famoso areião’’, local muito utilizado<br />
28 Bal<strong>de</strong>s Dançantes
que é padrão, o que já é o mo<strong>de</strong>lo que nos é<br />
estabelecido. Então, <strong>na</strong> volta, pedi a eles que<br />
levassem o bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira diferente<br />
da que tinha sido feita. Foi então que o processo<br />
<strong>de</strong> aprendizagem criativo se iniciou.<br />
Era possível ver os bal<strong>de</strong>s sendo levados <strong>na</strong><br />
cabeça (um chapéu <strong>de</strong> pirata), <strong>na</strong> cabeça<br />
(um chapéu <strong>de</strong> cozinheiro), <strong>na</strong> cabeça (um<br />
ninho <strong>de</strong> passarinho). Também <strong>na</strong>s costas<br />
(um camelo), <strong>na</strong>s costas (um cavalo levando<br />
uma pessoa), <strong>na</strong>s costas (um avião). Ainda,<br />
colocaram nos joelhos, <strong>na</strong>s <strong>na</strong><strong>de</strong>gas (bunda<br />
como disse um <strong>de</strong>les), no cotovelo (um braço<br />
espacial), <strong>na</strong> testa, <strong>na</strong> barriga (imitando<br />
um caranguejo), nos pés (saci Pererê e per<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> pirata), no meio das per<strong>na</strong>s (andar <strong>de</strong> pinguim),<br />
entre a panturrilha (pulo <strong>de</strong> canguru<br />
ou sapo), com as duas mãos enfiadas juntas<br />
no bal<strong>de</strong>, em cima do ombro e foi o que eu<br />
pu<strong>de</strong> ver no momento - Ufaaaaa!!!!<br />
Andando com os bal<strong>de</strong>s<br />
Depois <strong>de</strong>ssa primeira parte, fiz uma roda e<br />
pedi que eles colocassem os bal<strong>de</strong>s em frente<br />
a suas per<strong>na</strong>s com a boca (do bal<strong>de</strong>) virada<br />
para si. Diante disso, pedi que eles ‘‘pegassem’’<br />
os bal<strong>de</strong>s, porém sem usar as mãos.<br />
Todos, prontamente, tentaram pegar com<br />
os pés e, ao notar as dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> imediato,<br />
queriam usar as mãos para ajudar. Só<br />
que, como já lembrado, não po<strong>de</strong>riam usar<br />
as mãos e, então, falavam: “É muito difícil,<br />
sorr”, “o profi, não dá pra se equilibrar”. Dessa<br />
maneira, perguntei a eles como po<strong>de</strong>riam se<br />
ajudar a equilibrarem-se e um <strong>de</strong>les já foi dizendo:<br />
segura no amigo do lado, segura. Com<br />
isso, eles se apoiavam nos amigos e conseguiam<br />
com mais facilida<strong>de</strong> elevar os bal<strong>de</strong>s<br />
com os pés até que, em um dado momento,<br />
eles viram que podiam tentar sozinhos e que<br />
aquela dificulda<strong>de</strong>/<strong>de</strong>safio tor<strong>na</strong>va a brinca<strong>de</strong>ira<br />
mais atrativa, pois não era algo que<br />
estavam acostumados a fazer (<strong>de</strong>senvolvimento<br />
cognitivo-motor/equilíbrio dinâmico,<br />
tônus muscular, habilida<strong>de</strong> óculo-pedal).<br />
Por fim, nos últimos 10 minutos <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>ixei-os<br />
fazer o que quisessem (com exceção<br />
das regras estabelecidas) com os bal<strong>de</strong>s. Um<br />
grupo criou um castelo, outros batucaram o<br />
bal<strong>de</strong> como se fosse um tambor, outros continuavam<br />
a brincar <strong>de</strong> equilibrar e alguns jogaram<br />
o bal<strong>de</strong> como se estivessem fazendo<br />
malabarismo. Ao observar que eles estavam<br />
respeitando certo limite <strong>de</strong> segurança, tudo<br />
ocorreu com tranquilida<strong>de</strong>. Tudo isso, ocorreu<br />
ao som <strong>de</strong> uma música <strong>na</strong> qual toquei<br />
no violão:<br />
Sou um baldinho dançante,<br />
um baldinho dançante, sou baldinho<br />
dançante. E esse baldinho dança<br />
agora, agora, agora, agora!!!!!!!!<br />
O que apren<strong>de</strong>mos hoje?<br />
No processo avaliativo, que neste escrito vou<br />
chamar <strong>de</strong> formativo, encontrei a relação <strong>de</strong><br />
coparticipação <strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />
Esse processo <strong>de</strong>u-se diretamente no diálogo<br />
com os educandos perante a ativida<strong>de</strong>.<br />
Assim, foi possível observar <strong>de</strong> um pedido<br />
para (re)significar o uso do bal<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />
potencial criativo e, mais que isso, uma<br />
troca por meio da observação já que, quando<br />
os educandos olhavam outros colegas,<br />
eles também queriam fazer parecido com<br />
eles.<br />
Eliton Clayton Rufino Seára<br />
29
30 Bal<strong>de</strong>s Dançantes
Ainda, em um processo dialógico, ao retor<strong>na</strong>rmos<br />
à sala <strong>de</strong> aula, conversamos<br />
sobre a aula e ressaltamos os pontos<br />
principais <strong>de</strong>la, tais como: que todos<br />
têm muita inteligência e po<strong>de</strong>m criar<br />
coisas novas, que apren<strong>de</strong>mos com<br />
nossos colegas ao observá-los, que<br />
precisamos usar os objetos pensando<br />
<strong>na</strong> segurança do outro e <strong>na</strong> nossa própria,<br />
e que a linguagem figurativa do<br />
bal<strong>de</strong> dançar era realmente para mostrar<br />
que um bal<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser muito mais<br />
divertido do que imagi<strong>na</strong>mos.<br />
Concluí, nesse contexto, que a CRI(A-<br />
ÇÃO)/CRI(ATIVIDADE) é a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>safiado, <strong>de</strong> sair da caixa do igual,<br />
<strong>de</strong> fazer pensar além dos quadrados fechados<br />
e inertes, <strong>de</strong> dançar <strong>de</strong> um novo jeito, <strong>de</strong><br />
imitar outra voz, <strong>de</strong> respeitar o outro, porque<br />
se é e se faz diferente e, principalmente, que<br />
ensi<strong>na</strong>r e apren<strong>de</strong>r é um ato <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> intelectual.<br />
Referências<br />
CUNHA, R. M. M. da. Criativida<strong>de</strong> e processos<br />
cognitivos. Petrópolis: Vozes, 1977.<br />
SEÁRA, E. C. R. A capoeira como conteúdo escolar:<br />
uma proposta didática para as aulas <strong>de</strong><br />
Educação Física. EF Deportes.com, Revista<br />
Digital, Buenos Aires, ano 19, n. 193, jun. 2014.<br />
Eliton Clayton Rufino Seára<br />
31
32<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Corpo, campo<br />
e movimento:<br />
uMA EXPERIÊNCIA<br />
DE EQUOTERAPIA<br />
EQUITAÇÃO EDUCATIVA<br />
COM JARDIM MISTO<br />
Solange Maria Nunes<br />
Des<strong>de</strong> 2015, as instituições localizadas <strong>na</strong><br />
zo<strong>na</strong> rural, Escola Básica Professor Martinho<br />
Gervási e Rancho La Cautiva (entida<strong>de</strong> que<br />
aten<strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>ficiência no trabalho<br />
<strong>de</strong> equoterapia e equitação educativa, pela<br />
proprietária Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Garcia), <strong>de</strong>senvolvem<br />
ativida<strong>de</strong>s em parceira com o projeto<br />
Educação Integral da Secretaria Municipal<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Itajaí, sob a responsabilida<strong>de</strong><br />
da professora <strong>de</strong> Educação Física Solange<br />
Nunes, no período vespertino. A perspectiva<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma ativida<strong>de</strong> periódica<br />
com o Jardim Misto Parcial da escola surgiu<br />
a partir <strong>de</strong> um projeto colaborativo entre essas<br />
instituições.<br />
Nas reuniões pedagógicas e conselhos <strong>de</strong><br />
classe, discutia-se que muitas crianças tinham<br />
dificulda<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>vido à
falta <strong>de</strong> concentração e atenção, bem como<br />
dificulda<strong>de</strong>s motoras. A psicomotricida<strong>de</strong><br />
oportuniza <strong>de</strong>senvolver integrações sociais,<br />
educacio<strong>na</strong>is, ambientais, econômicas e culturais,<br />
para que o educando possa atingir a<br />
maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo processual, consciente<br />
e integrado. Sendo a escola localizada<br />
<strong>na</strong> área rural e ter turmas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berçário<br />
ao 9º ano, percebeu-se o quanto se po<strong>de</strong>ria<br />
contribuir com a superação <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas<br />
problemáticas, explorando a localização<br />
geográfica.<br />
A vida no campo oferece possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
uma infância mais ple<strong>na</strong> <strong>na</strong> relação com a<br />
<strong>na</strong>tureza e com os espaços, porém, <strong>na</strong> escola,<br />
os espaços são poucos e têm regras, há<br />
uma sistemática peculiar. Criando interações<br />
com o conhecimento local, o campo,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, pu<strong>de</strong> auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos alunos, tanto <strong>na</strong> parte motora quanto<br />
<strong>na</strong> aprendizagem, tendo também a equoterapia<br />
educativa uma participação significativa<br />
nesse processo <strong>de</strong> interação.<br />
Levitt (1997, p.18) afirma que, “[...] mesmo<br />
quando uma criança apresenta limitações, alguma<br />
habilida<strong>de</strong> ainda resta”. Essa foi uma das<br />
gran<strong>de</strong>s motivações <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e/ou estimulação, fortalecer e acreditar<br />
no potencial e receptivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada educando,<br />
resgatando o trabalho da equoterapia<br />
educativa, e que essa dinâmica entrasse <strong>na</strong>s<br />
ativida<strong>de</strong>s oferecidas pela escola.<br />
Segundo Freitas, em tempos <strong>de</strong> educação<br />
inclusiva, estudos sobre o corpo, esquema<br />
corporal e a imagem corporal são particularmente<br />
importantes para quem trabalha com<br />
cognição, ensino e aprendizagem. Espera-se<br />
do professor a compreensão mais abrangente<br />
da criança, da sua diversida<strong>de</strong>, das diferenças<br />
e dos processos que integram a cognição<br />
huma<strong>na</strong> (FREITAS, 2008).<br />
Na equoterapia, os benefícios são adquiridos<br />
por motivação, o que impulsio<strong>na</strong> o indivíduo<br />
pelo <strong>de</strong>sejo e prazer, conseguindo atrair<br />
a atenção, a concentração e o autocontrole,<br />
favorecendo a aprendizagem (MARCELINO;<br />
MELO, 2006).<br />
Para os alunos do Jardim Parcial, as experiências<br />
obtidas no Rancho La Cautiva trazem<br />
o contato com os animais, em um espaço diversificado,<br />
buscando uma relação diferente<br />
34 Corpo, campo e movimento
FOTO: ANDRÉ SCHIMIDT<br />
Solange Maria Nunes<br />
35
36 Corpo, campo e movimento
Solange Maria Nunes<br />
37
com o corpo, atenção, concentração e autoestima.<br />
Apren<strong>de</strong>m também a viver e conviver<br />
<strong>de</strong> forma harmoniosa com os animais e a<br />
<strong>na</strong>tureza. O objetivo consiste em aproximar<br />
as crianças da <strong>na</strong>tureza, com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
as interações sociais e ambientais<br />
para perceber que o contato com os animais<br />
favorece no seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
motor e no ensino e <strong>na</strong> aprendizagem.<br />
O atendimento atualmente ocorre uma vez<br />
ao mês, no período vespertino, no Rancho<br />
La Cautiva. As crianças apren<strong>de</strong>m ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> montaria e cuidados no manejo com os<br />
animais, tais como escová-los e alimentá-los.<br />
Também apren<strong>de</strong>m sobre a morfologia do<br />
animal.<br />
O Rancho La Cautiva dispõe <strong>de</strong> um ambiente<br />
espaçoso no qual as crianças, além <strong>de</strong> se envolverem<br />
com os animais, po<strong>de</strong>m se divertir<br />
no parque, correr <strong>na</strong> grama e fazer trilhas. O<br />
espaço físico dispõe <strong>de</strong>:<br />
• cavalos, ovelhas, aves, coelhos e cães;<br />
• pisci<strong>na</strong> com churrasqueira;<br />
• sanitários masculino e feminino com<br />
chuveiros;<br />
• salão multiuso;<br />
• cozinha;<br />
• horta e pastagem.<br />
Os alunos do 6° ano que frequentam o projeto<br />
Educação Integral foram capacitados e<br />
hoje auxiliam <strong>na</strong> montaria das crianças, com<br />
a supervisão da proprietária do Rancho La<br />
Cautiva, a Senhora Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Garcia.<br />
Contribuições e construções<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a psicomotricida<strong>de</strong>, antes<br />
<strong>de</strong> tudo, passa pelo <strong>de</strong>senvolvimento humano e<br />
ambiental e <strong>de</strong>ve ser aproveitada a todo instante<br />
no que diz respeito à construção do conhecimento,<br />
observou-se que aquelas crianças que<br />
tinham dificulda<strong>de</strong>s em se comunicar e eram<br />
introvertidas, após o contato com os animais e<br />
o campo, estão interagindo <strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>monstrando iniciativa e <strong>de</strong>senvolvendo<br />
sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. As<br />
aulas que propiciam o contato com os animais,<br />
principalmente com os cavalos, estão contribuindo<br />
para seu <strong>de</strong>senvolvimento motor, socialização,<br />
harmonia, autonomia e autoconfiança.<br />
38 Corpo, campo e movimento
É visível a evolução no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> algumas crianças, além <strong>de</strong> uma postura<br />
a<strong>de</strong>quada e um melhor equilíbrio <strong>de</strong> sua<br />
coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora. A questão do relacio<strong>na</strong>mento<br />
com o outro e com o meio tiveram<br />
um gran<strong>de</strong> avanço, o que faz com que consi<strong>de</strong>remos<br />
atingidos os objetivos a que nos<br />
propusemos.<br />
O registro das ativida<strong>de</strong>s é realizado por<br />
meio <strong>de</strong> fotos que são anexadas <strong>na</strong> avaliação<br />
semestral das crianças e do ví<strong>de</strong>o das<br />
aulas que está no blog da Escola, neste en<strong>de</strong>reço<br />
eletrônico: http://blog.educacao.itajai.sc,gov.br/ebpmg,<br />
para que os pais acompanhem<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus filhos no<br />
projeto.<br />
Referências<br />
FREITAS, N. K. Esquema corporal, imagem<br />
visual e representação do próprio corpo:<br />
questões teórico-conceituais. Ciências &<br />
Cognição, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 13, n. 3, p. 318-<br />
324, 2008.<br />
LEVITT, S. Habilida<strong>de</strong>s básicas: guia para <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>ficiência.<br />
Campi<strong>na</strong>s, SP: Papirus, 1997.<br />
MARCELINO, J. F. Q.; MELO, Z. M. Equoterapia:<br />
suas repercussões <strong>na</strong>s relações familiares<br />
da criança com atraso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
por prematurida<strong>de</strong>. Estudos <strong>de</strong><br />
Psicologia, Campi<strong>na</strong>s, v. 23, n. 3, p. 279-287,<br />
jul./set. 2006.<br />
Solange Maria Nunes<br />
39
40<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Movimentos<br />
<strong>de</strong> interações<br />
e brinca<strong>de</strong>iras<br />
com bebês:<br />
UMA EXPERIÊNCIA COM<br />
LUZES<br />
Solange Maria Nunes<br />
A Educação Física é uma discipli<strong>na</strong> nova no<br />
currículo da Educação <strong>Infantil</strong> da Re<strong>de</strong> Municipal<br />
<strong>de</strong> Itajaí. O que trabalhar, como trabalhar,<br />
quais experiências po<strong>de</strong>m ser significativas<br />
com o corpo? Movimento e criativida<strong>de</strong><br />
são temas recorrentes em nossas formações<br />
e <strong>de</strong>bates.<br />
Nosso saber-fazer emerge <strong>na</strong> articulação<br />
teórico-prática, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
significativas, especialmente para<br />
os pequenos <strong>de</strong> zero a três anos que estão<br />
conhecendo e construindo as diferentes linguagens.<br />
Assim, a Educação Física para os<br />
bebês perpassa o conhecimento sinestésico<br />
com percepção, interação e expressão,<br />
no qual a criança se comunica por meio da<br />
linguagem corporal, bem como acontece o<br />
<strong>de</strong>spertar intencio<strong>na</strong>l do “olhar”. As intera-
ções e as brinca<strong>de</strong>iras <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />
nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem<br />
<strong>de</strong>ntro do ambiente educacio<strong>na</strong>l,<br />
são fundamentais no início da vida escolar.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a teoria sociointeracionista<br />
<strong>de</strong> Vygotsky, e com as orientações do Ministério<br />
da Educação para a Educação infantil,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se a i<strong>de</strong>ia da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as<br />
crianças interagirem com o brincar para se<br />
<strong>de</strong>senvolver. Assim sendo, a promoção <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s que favoreçam o envolvimento<br />
da criança em brinca<strong>de</strong>iras, principalmente<br />
aquelas que promovem a criação <strong>de</strong> situações<br />
imaginárias, tem uma clara função pedagógica.<br />
A escola, particularmente a pré<br />
-escola, po<strong>de</strong>ria utilizar-se <strong>de</strong>liberadamente<br />
<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> situações para atuar no processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das crianças (VY-<br />
GOTSKY, 1998).<br />
As interações e as brinca<strong>de</strong>iras têm uma função<br />
específica <strong>na</strong> infância, <strong>na</strong> qual a criança<br />
recria a realida<strong>de</strong> usando os sistemas<br />
simbólicos. Nessa fase, a criança começa<br />
a distanciar-se <strong>de</strong> seu primeiro meio social,<br />
representado pela mãe. Diante disso, cabe à<br />
instituição <strong>de</strong> ensino o papel <strong>de</strong> estabelecer<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem com a<br />
interação social com o professor e com as<br />
outras crianças.<br />
A experiência aqui relatada foi realizada com<br />
o Berçário Misto e teve como objetivo proporcio<strong>na</strong>r<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento integral das crianças<br />
em situações que envolvessem a curiosida<strong>de</strong>,<br />
a exploração e o manuseio <strong>de</strong> materiais<br />
como processo <strong>de</strong> experimentação.<br />
Luz, ação!<br />
O Berçário misto envolve crianças <strong>de</strong> zero a<br />
dois anos, fase em que o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
percepção é alimentado pela curiosida<strong>de</strong>. Assim,<br />
a montagem da experiência faz parte do<br />
processo <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Para iniciar o projeto, ao entrar <strong>na</strong> sala do Berçário<br />
Misto, cumprimentei-os com a alegria<br />
habitual e fui fixando malhas brancas e <strong>na</strong>rrando<br />
o que ia fazendo. Com as luzes <strong>de</strong> uma<br />
luminária móvel (abajur), com uma lâmpada<br />
com gomos tridimensio<strong>na</strong>l coloridos, busquei<br />
com que explorassem o espaço físico, o movimento,<br />
o corpo, o imaginário e as sensações.<br />
As crianças aproximaram-se aos poucos,<br />
apontando e balbuciando. Os menores<br />
acompanhavam a movimentação com o<br />
olhar. A ativida<strong>de</strong> foi se <strong>de</strong>senvolvendo: primeiro<br />
exploramos as luzes, suas cores e formas,<br />
ilumi<strong>na</strong>ndo as diversas partes da sala<br />
(chão, pare<strong>de</strong>, teto). As crianças acompanhavam<br />
olhando ou tocando.<br />
Em seguida, com a luz, fui explorando o corpo<br />
<strong>de</strong> cada um em frente ao espelho (mãos,<br />
boca, barriga, pés, cabeça). As crianças reagiram,<br />
apontando, acompanhando as luzes,<br />
falando, expondo sua curiosida<strong>de</strong> e seu saber<br />
e indicando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
sinestésica.<br />
A aprendizagem sinestésica, <strong>de</strong> acordo com<br />
Santos et al. (2009), indica que o trabalho<br />
com as partes do corpo possa permitir o autoconhecimento<br />
pelo sentido, no qual o bebê<br />
toca a parte do corpo solicitada, respeitando<br />
a lei “céfalo – caudal” e “próximo distal”. Após<br />
esse momento inicial, exploramos as luzes<br />
por meio do tecido. As crianças entraram em<br />
contato com o tecido apalpando-o, e, em seguida,<br />
uma nova <strong>de</strong>scoberta: a luz corre.<br />
Elas queriam tocar, brincar <strong>de</strong> pegar a luz,<br />
<strong>de</strong>scobrir o que tinha atrás do tecido e <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> vinha a luz. A curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las, seus<br />
sorrisos, suas ansieda<strong>de</strong>s, indicou um aspecto<br />
interessante que corroborou com o objetivo<br />
proposto para uma experiência que articula<br />
percepções e estética do movimento,<br />
dos apren<strong>de</strong>res, da beleza e da exploração<br />
dos gestos, que registra significados também<br />
pelos brilhos nos olhares.<br />
Os bebês <strong>de</strong>senvolvem-se e apren<strong>de</strong>m perceptivamente<br />
praticando exercícios motores,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo o pensamento e o conhecimento<br />
com criativida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> busca <strong>de</strong><br />
solução <strong>de</strong> problemas: as crianças usaram<br />
diferentes estratégias <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> vinha e para on<strong>de</strong> ia, seguindo as luzes.<br />
Verbalmente, adquiriram comunicação receptiva<br />
e expressiva; apren<strong>de</strong>ram a conviver<br />
com amigos e incentivá-los a experimentar,<br />
brincando <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong>, falando ou<br />
indicando para o colega olhar as formas.<br />
O registro <strong>de</strong>ssa experiência foi feito por<br />
meio <strong>de</strong> fotos e organizado em uma exposição<br />
para que os pais pu<strong>de</strong>ssem acompanhar<br />
42 Movimentos <strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras com bebês
o trabalho realizado <strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação<br />
Física da professora Solange Maria Nunes.<br />
Para Friedmann (2012), as brinca<strong>de</strong>iras constituem<br />
linguagens infantis, consi<strong>de</strong>rando<br />
a linguagem qualquer meio sistemático <strong>de</strong><br />
comunicar i<strong>de</strong>ias ou sentimentos por meio<br />
<strong>de</strong> signos. Um dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios que as<br />
linguagens lúdicas nos propõem é a leitura e<br />
a tradução <strong>de</strong>ssas “falas” infantis.<br />
Essa experiência proporcionou conhecer o<br />
prazer da <strong>de</strong>scoberta <strong>na</strong> interação com as<br />
crianças, sobre os seus sentires, surpreen<strong>de</strong>ndo<br />
com suas iniciativas, envolvimento<br />
e autonomia, <strong>na</strong> vivência da exploração da<br />
multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagens.<br />
Referências<br />
FRIEDMANN, A. O brincar <strong>na</strong> educação infantil:<br />
observação, a<strong>de</strong>quação e inclusão.<br />
São Paulo: Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, 2012.<br />
SANTOS, A. S. et al. Psicomotricida<strong>de</strong> - Educação<br />
do Movimento. 2009. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso em: 3 jul. 2016.<br />
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente.<br />
6. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Martins Fontes, 1998.<br />
Solange Maria Nunes<br />
43
44<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
O eu, o outro<br />
e o nós: jogos<br />
cooperativos<br />
como<br />
possibilida<strong>de</strong><br />
pedagógica <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong><br />
Heitor Luiz Furtado<br />
A compreensão da importância da Educação<br />
Física nos Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
perpassa inicialmente pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ser trabalhado o movimento, incorporando<br />
então a expressivida<strong>de</strong> e a mobilida<strong>de</strong> <strong>na</strong>tural<br />
das crianças peque<strong>na</strong>s, oportunizando o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento e a manutenção<br />
da atenção. Nesse sentido, o objetivo<br />
da Educação Física é disponibilizar o maior<br />
número <strong>de</strong> experiências possíveis, para apresentar<br />
um novo mundo, relacio<strong>na</strong>r com um<br />
meio social e físico, ajudar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
motor, cognitivo e sócio afetivo, buscar<br />
a autonomia, a socialização e a ampliação<br />
do conhecimento das práticas corporais.<br />
Nas crianças peque<strong>na</strong>s, o corpo em movi-
mento, por menor que seja, constitui a matriz<br />
básica em que se <strong>de</strong>senvolve as significações<br />
do apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que<br />
a criança transforma em símbolo aquilo que<br />
po<strong>de</strong> experimentar corporalmente. Seu pensamento<br />
se constrói, primeiramente, sob a<br />
forma <strong>de</strong> ação (GARANHANI, 2002). Além<br />
disso, <strong>na</strong> peque<strong>na</strong> infância, os movimentos<br />
do corpo são os primeiros recursos <strong>de</strong> expressão<br />
e comunicação.<br />
Compreen<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> criança é relevante<br />
<strong>na</strong> medida em que fornecerá maiores<br />
indícios da compreensão <strong>de</strong> quais crianças<br />
estamos falando. Principalmente, para qual<br />
caminho <strong>de</strong>vemos direcio<strong>na</strong>r nossas práticas<br />
pedagógicas e ações <strong>de</strong> intervenção. A<br />
criança é um ser histórico e <strong>de</strong> direitos que,<br />
<strong>na</strong>s interações, relações e práticas cotidia<strong>na</strong>s<br />
que vivencia, constrói sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
pessoal e coletiva; brinca, imagi<strong>na</strong>, fantasia,<br />
<strong>de</strong>seja, apren<strong>de</strong>, observa, experimenta,<br />
<strong>na</strong>rra, questio<strong>na</strong> e constrói sentidos sobre a<br />
<strong>na</strong>tureza e a socieda<strong>de</strong>, produzindo cultura<br />
(BRASIL, 2010).<br />
Os momentos <strong>de</strong> Educação Física nos centros<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> são importantes<br />
para a formação cognitiva, afetiva e motora<br />
das crianças, pois tematiza algo bastante<br />
presente no universo infantil que é o brincar,<br />
propiciando ações pedagógicas que<br />
respeitem as características das crianças e<br />
da peque<strong>na</strong> infância, enten<strong>de</strong>ndo-os como<br />
sujeitos produtores <strong>de</strong> cultura. Os jogos, as<br />
brinca<strong>de</strong>iras, os brinquedos, os esportes, as<br />
danças, as manifestações rítmicas são objetos<br />
<strong>de</strong> intervenção pelo qual os professores<br />
organizam suas práticas diárias. Nesse<br />
sentido, o presente relato <strong>de</strong> experiência<br />
tem como objetivo apresentar uma vivência<br />
<strong>de</strong>senvolvida com a turma <strong>de</strong> Jardim I, <strong>na</strong><br />
qual buscou tematizar os jogos cooperativos<br />
como possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas nos momentos<br />
<strong>de</strong> Educação Física.<br />
O presente projeto esteve alicerçado <strong>na</strong>s<br />
Matrizes <strong>de</strong> Habilida<strong>de</strong>s da Educação <strong>Infantil</strong><br />
do município <strong>de</strong> Itajaí, bem como<br />
referendado pela Base Nacio<strong>na</strong>l Comum<br />
Curricular, possuindo como objetivo <strong>de</strong>senvolver<br />
<strong>na</strong>s crianças as seguintes competências,<br />
habilida<strong>de</strong>s e objetivos <strong>de</strong> aprendizagem:<br />
controlar gradualmente o movimento;<br />
apren<strong>de</strong>r a conviver com pessoas entre si;<br />
brincar <strong>de</strong> diversas formas e com diferentes<br />
parceiros; explorar materiais, brinquedos,<br />
objetos, ambientes e entorno físico e<br />
social, i<strong>de</strong>ntificando suas potencialida<strong>de</strong>s,<br />
limites, interesses e <strong>de</strong>senvolver sua sensibilida<strong>de</strong><br />
em relação aos sentimentos, às necessida<strong>de</strong>s<br />
dos outros com quem interage.<br />
Por que jogos cooperativos?<br />
O interesse pelos jogos cooperativos surgiu<br />
<strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> que observei em<br />
<strong>de</strong>senvolver com as crianças o conceito <strong>de</strong><br />
que: preciso do meu amigo para brincar e<br />
que para uma brinca<strong>de</strong>ira dar certo, precisamos<br />
juntos trabalhar para o mesmo objetivo.<br />
Os jogos cooperativos são ferramentas<br />
importantes para o professor, pois cria um<br />
clima <strong>de</strong> relação social, estabelece um contexto<br />
pelo qual há algo a contribuir, promove<br />
um maior auxílio às pessoas menos hábeis e<br />
propicia trabalhar valores como solidarieda<strong>de</strong><br />
e apoio.<br />
Os jogos cooperativos são aqueles cujos objetivos<br />
dos indivíduos estão tão unidos que<br />
ele promove uma correlação positiva entre<br />
as conquistas; um indivíduo alcança seus<br />
objetivos se e somente todos os outros participantes<br />
também atingem os seus. O sucesso<br />
<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do sucesso<br />
dos <strong>de</strong>mais. Além disso, proporcio<strong>na</strong> uma<br />
responsabilida<strong>de</strong> individual <strong>de</strong>ntro do trabalho<br />
coletivo, a interação entre os participantes<br />
buscando resolver os conflitos e os <strong>de</strong>safios<br />
da ativida<strong>de</strong> proposta, o processamento<br />
em grupo e, principalmente, a habilida<strong>de</strong><br />
interpessoal.<br />
Buscou-se <strong>de</strong>senvolver a diferenciação com<br />
as crianças entre jogar com os amigos e<br />
jogar contra os amigos, isto é, para que as<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssem certo, precisava-se que<br />
todos os integrantes buscassem o mesmo<br />
objetivo, estabelecendo a inter<strong>de</strong>pendência<br />
positiva entre os integrantes do grupo, articulando,<br />
assim, o Eu, o Outro e o Nós.<br />
Desenvolvimento das intervenções<br />
O projeto foi <strong>de</strong>senvolvimento ao longo <strong>de</strong><br />
um mês, com um total <strong>de</strong> 15 intervenções<br />
com as crianças. Os encontros eram sempre<br />
três vezes por sema<strong>na</strong> com duração <strong>de</strong> uma<br />
hora. Buscou-se utilizar diferentes espaços<br />
46 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>
da instituição como a própria sala <strong>de</strong> aula<br />
da turma, como o parque externo e <strong>de</strong>mais<br />
espaços disponíveis da unida<strong>de</strong>. Foram utilizados,<br />
nos momentos <strong>de</strong> intervenção, bolas<br />
<strong>de</strong> diferentes tamanhos, cordas, bambolês,<br />
barbantes, cones e fitas.<br />
Os <strong>de</strong>safios iniciais foram <strong>de</strong>senvolver a compreensão<br />
<strong>na</strong>s crianças que as brinca<strong>de</strong>iras<br />
não tinham vencedores e per<strong>de</strong>dores, mas<br />
que se todos contribuíssem e refletissem sobre<br />
o real objetivo da ativida<strong>de</strong>, todos seriam<br />
vencedores. As experiências vivenciadas nos<br />
primeiros momentos foram difíceis, pois havia<br />
crianças que não conseguiam lidar com<br />
as ações dos <strong>de</strong>mais amigos, não contribuindo<br />
com o objetivo geral assumido pelo grupo.<br />
Conflitos, discussões e diálogos fizeram<br />
parte dos momentos e propiciaram aprendizagens<br />
significativas para as crianças, bem<br />
como para o professor.<br />
A Turma do Jardim II, do Grupo Água, adaptou-se<br />
<strong>de</strong> forma bastante rápida às ativida<strong>de</strong>s<br />
propostas e conseguiram compreen<strong>de</strong>r<br />
a diferenciação dos tipos <strong>de</strong> jogos, mais precisamente<br />
os jogos cooperativos, e os objetivos<br />
das brinca<strong>de</strong>iras. Notou-se o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> uma afetivida<strong>de</strong> bastante significa<br />
entre a turma e o professor. Os pequenos<br />
conflitos existentes foram logo resolvidos e<br />
esclarecidos por meio do diálogo.<br />
Destaca-se a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida a qual<br />
consistia em conduzir um amigo <strong>de</strong> olhos<br />
vendados pelo parque <strong>de</strong>sviando dos obstáculos.<br />
Essa ativida<strong>de</strong> foi bastante significativa,<br />
pois materializava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
confiar no amigo, estabelecendo relações<br />
<strong>de</strong> cooperação, respeito e socialização. Notou-se<br />
a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas crianças em<br />
serem conduzidas por outras crianças, e, em<br />
alguns colegas, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduzir<br />
<strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada o colega pelo parque.<br />
Várias crianças no início não confiavam <strong>na</strong><br />
condução e buscavam abrir os olhos durante<br />
a ativida<strong>de</strong>. Após conversa e diálogo com o<br />
grupo, tais condutas pu<strong>de</strong>ram ser transformadas.<br />
Em todas as ativida<strong>de</strong>s propostas,<br />
buscou-se ao fi<strong>na</strong>l dialogar com as crianças<br />
para apontar os principais problemas, <strong>de</strong>safios<br />
e pontos que eles achavam interessantes<br />
e que necessitavam serem resolvidos.<br />
Outra ativida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stacou foi a <strong>de</strong>senvolvida<br />
com o lençol e as bolinhas <strong>de</strong> tênis,<br />
que tinha como objetivo manter todos as<br />
bolinhas sem <strong>de</strong>ixá-las cair para fora do lençol.<br />
No início, o grupo <strong>de</strong>monstrou dificulda<strong>de</strong>,<br />
pois havia crianças que balançavam<br />
muito forte o lençol, o que fazia com que as<br />
bolinhas saíssem. A partir das vivências, as<br />
próprias crianças começaram a conversar e<br />
a chamar a atenção dos amigos para explicar<br />
que se cada um puxasse para um lado ou<br />
balançasse com força não conseguiríamos<br />
atingir o objetivo da proposta.<br />
Relações e vivências<br />
O principal objetivo do projeto era vivenciar<br />
os jogos cooperativos com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
a i<strong>de</strong>ia do jogar com o outro e não contra<br />
o outro. Ao fi<strong>na</strong>l do processo, foi possível<br />
observar que as crianças <strong>de</strong>monstraram por<br />
meio das brinca<strong>de</strong>iras a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir<br />
<strong>de</strong> forma mais coletiva. Em um mundo tão individualista<br />
e egocêntrico, parece ser importante<br />
<strong>de</strong>senvolver tais habilida<strong>de</strong>s que contribuam<br />
para a construção <strong>de</strong> crianças mais<br />
participativas, respeitosas e que respeitem as<br />
individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um.<br />
O processo avaliativo <strong>de</strong>u-se por meio da observação<br />
das ativida<strong>de</strong>s, em que se buscou<br />
i<strong>de</strong>ntificar como as crianças agiam <strong>de</strong>ntro<br />
do gran<strong>de</strong> grupo e quais características individuais<br />
eram mais marcantes no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das ativida<strong>de</strong>s. Observar, dialogar e<br />
i<strong>de</strong>ntificar foram e são ferramentas importantes<br />
para o trabalho diário do professor <strong>de</strong><br />
Educação Física.<br />
É possível perceber a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />
nos momentos <strong>de</strong> Educação Física vivências<br />
que oportunizem a relação entre o Eu, <strong>de</strong> forma<br />
a resgatar as características, os <strong>de</strong>sejos<br />
e as preferências individuais; e o Outro, para<br />
respeitar as individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada ser, construindo<br />
assim o Nós, o coletivo, o social e o<br />
integrador. A construção da legitimida<strong>de</strong> do<br />
campo da Educação Física, principalmente<br />
nos centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, perpassa<br />
entre práticas intencio<strong>na</strong>is que respeitam os<br />
<strong>de</strong>sejos, as características das crianças, bem<br />
como os da infância. Questio<strong>na</strong>mentos como:<br />
Que crianças queremos formar? Que professor<br />
<strong>de</strong>sejamos ser? Qual papel da Educação Física<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>?, são questões importantes<br />
para refletir continuadamente nos processos<br />
<strong>de</strong> constituição dos professores.<br />
Heitor Luiz Furtado<br />
47
48 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>
Referências<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />
da Educação Básica. Orientações Curriculares<br />
Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong>.<br />
2010. Disponível em: .<br />
Acesso em: 23 jul. 2016.<br />
GARANHANI, M. C. A Educação Física <strong>na</strong><br />
escolarização da peque<strong>na</strong> infância. Pensar<br />
a prática, Goiânia, n. 5, p. 106-122, jul./jun.<br />
2002.<br />
Heitor Luiz Furtado<br />
49
50<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Projeto Shantala<br />
Toque <strong>de</strong> amor<br />
Camila da Silva<br />
Gomes das Neves<br />
Ao iniciar o ano letivo, nós professores<br />
sabemos que temos muitos <strong>de</strong>safios, uma<br />
responsabilida<strong>de</strong> assumida em gran<strong>de</strong> parte<br />
do dia com cada criança confiada a nós.<br />
Em meio a essa realida<strong>de</strong>, um dos processos<br />
mais evi<strong>de</strong>ntes <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é a<br />
adaptação.<br />
No início do ano com o “Grupo Cachorro –<br />
Berçário II”, não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Os<br />
bebês inseridos nesta realida<strong>de</strong>, em que<br />
muitos pela primeira vez iriam frequentar<br />
o CEI, sofreram, choraram pela ausência<br />
<strong>de</strong> seus familiares. Estando diretamente<br />
envolvida nesse processo, percebi que<br />
minhas aulas se resumiam, muitas vezes, em<br />
promover vínculo <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> com os bebês:<br />
colos, abraços, beijos, acalentos, faziam<br />
parte do <strong>de</strong>senvolver das aulas <strong>de</strong> Educação<br />
Física.<br />
Como esperado, com o passar das sema<strong>na</strong>s,<br />
a maioria da turma foi apresentando-se mais<br />
adaptada e familiarizada com o ambiente e<br />
as roti<strong>na</strong>s. Contudo, alguns bebês apresentavam<br />
ainda muita fragilida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>
em permanecer no ambiente escolar, pois<br />
cada criança é única e correspon<strong>de</strong> a situações<br />
semelhantes <strong>de</strong> forma diferente. Existiam<br />
momentos que eu percebia que a turma<br />
equalizava a calma, momentos em que eu<br />
oferecia mais gestos <strong>de</strong> acolhimento. Essas<br />
<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> carinho supriam <strong>de</strong> certa<br />
forma a ausência dos familiares.<br />
Em uma conversa com a agente do período<br />
matutino, Julia<strong>na</strong>, percebemos a importância<br />
e a diferença que faz o tocar com amor<br />
em nossos bebês, surgindo, assim, a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realizar algo que evi<strong>de</strong>nciasse essa<br />
ação. Logo surgiu a sugestão <strong>de</strong> realizarmos<br />
massagens nos bebês. Escolhemos, <strong>de</strong>ssa<br />
forma, a Shantala. Ao selecio<strong>na</strong>r essa prática,<br />
não tínhamos consciência do respaldo<br />
positivo que as massagens fariam nos bebês<br />
e <strong>na</strong>s famílias.<br />
Descoberta <strong>na</strong> Índia em 1970, a Shantala foi<br />
vista pela primeira vez pelo médico obstetra<br />
Frédérick Leboyer, que, andando pelas ruas,<br />
avistou uma mulher sentada <strong>na</strong> calçada com<br />
seu bebê entre as per<strong>na</strong>s a massageá-lo.<br />
Frédérick ficou encantado com a expressão<br />
singela do bebê, e a concentração da mãe<br />
no <strong>de</strong>senvolver da massagem, e, principalmente,<br />
com o intenso vínculo afetivo entre<br />
mãe e filho que aquela prática apresentava.<br />
Ao ler o livro Shantala – Arte tradicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
massagem para bebês, que o próprio Frédérick<br />
Leboyer escreveu, percebi quantos benefícios<br />
essa prática ofereceria para os bebês,<br />
certificando-me que contribuiria para<br />
os nossos também.<br />
Com a realida<strong>de</strong> que nos cerca, em que a<br />
maior parte do dia os bebês encontram-se no<br />
CEI, longe <strong>de</strong> seus familiares, sabendo que<br />
essa ausência diminui diretamente os laços<br />
afetivos e po<strong>de</strong> interferir diretamente <strong>na</strong><br />
construção bio-psico-social <strong>de</strong>les, tivemos<br />
como objetivo aumentar o vínculo afetivo<br />
com os bebês, proporcio<strong>na</strong>ndo os benefícios<br />
que a área sinestésica atribui, acompanhando<br />
em casa as reações que eles tinham com<br />
suas famílias após receber a massagem. Segundo<br />
Leboyer:<br />
Ser levados, embalados, acariciados, pegos,<br />
massageados constitui para os bebês, alimentos<br />
tão indispensáveis, senão mais, do<br />
que vitami<strong>na</strong>s, sais minerais e proteí<strong>na</strong>s. Se<br />
for privada disso tudo, e do cheiro, do calor,<br />
e da voz que ela conhece bem, mesmo cheia<br />
<strong>de</strong> leite, a criança vai-se <strong>de</strong>ixar morrer <strong>de</strong><br />
fome. (LEBOYER, 1995, p. 18).<br />
Nossas práticas: a Shantala<br />
Iniciamos nossas práticas realizando, em<br />
cada intervenção, massagens <strong>de</strong> 30 minutos<br />
em cada bebê. Em cada intervenção, quatro<br />
bebês - a professora e a agente realizavam<br />
a massagem em dois bebês cada uma. Percebemos<br />
que alguns bebês ficavam com a<br />
musculatura contraída e até dispensavam a<br />
prática, por não terem vivenciado <strong>na</strong>da parecido,<br />
e por ser algo tão íntimo. Assim, alguns<br />
não tiveram boa aceitação <strong>na</strong> primeira<br />
tentativa. Seguimos, no entanto, com cada<br />
bebê até que todos (inclusive os bebês que<br />
<strong>de</strong> imediato não aceitaram) tivessem vivenciado<br />
a Shantala.<br />
Ao perguntar para os familiares sobre a massagem,<br />
tivemos uma explosão <strong>de</strong> informações.<br />
Alguns pais apresentavam colocações<br />
bastante positivas para o nosso projeto. Separamos<br />
algumas colocações apresentadas<br />
por eles:<br />
“As noites seguintes após a massagem, J. G.<br />
dormiu super bem, antes era comum levantar<br />
às quatro e meia da manhã e não dormir<br />
mais. No dia em que ganhou a massagem,<br />
dormiu bem e parecia mais calmo. Gostaria<br />
<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r para fazer com frequência nele<br />
em casa” (Mãe do aluno J. G.).<br />
“Ao chegar em casa com P.H., percebi que<br />
ele estava mais relaxado e <strong>na</strong> hora <strong>de</strong> dormir,<br />
foi bastante fácil, percebi também que seu<br />
sono estava melhor, pois há tempo não dormia<br />
a noite inteira, e após a massagem ele<br />
dormiu sem intervalos a noite” (Mãe <strong>de</strong> P.H.).<br />
“Ela dormiu super bem, percebi que não chegou<br />
tão acelerada como sempre chega em<br />
casa, além da facilida<strong>de</strong> que tive em fazê-la<br />
dormir” (Mãe <strong>de</strong> A. S.).<br />
Com os relatos, percebemos que a massagem,<br />
além <strong>de</strong> relaxar os bebês, contribuiu<br />
diretamente em seu comportamento e bem<br />
-estar, facilitando, assim, o contato entre<br />
mãe e filho, que, muitas vezes, os pais, após<br />
um dia inteiro <strong>de</strong> trabalho, não conseguem<br />
doar a atenção necessária a seus filhos. O<br />
52 Projeto Shantala Toque <strong>de</strong> amor
stress do cotidiano muitas vezes nos rouba<br />
dos nossos mais próximos.<br />
[...] a roti<strong>na</strong> das mães é particularmente organizada<br />
em razão <strong>de</strong>les, principalmente<br />
quando são pequenos: o dia começa muito<br />
cedo, com a arrumação da mochila, vestimenta,<br />
alimentação e banho para que as<br />
crianças possam ser <strong>de</strong>ixadas <strong>na</strong> creche ou<br />
escolinha. Também envolve, no fim do dia,<br />
tarefas como lavar, passar e cozinhar, especialmente<br />
a tarefa do jantar, uma vez que<br />
muitas mães passam o dia inteiro fora <strong>de</strong><br />
casa, sendo o almoço provi<strong>de</strong>nciado por terceiros.<br />
Além das tarefas, o cuidado também<br />
inclui educar/orientar, acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
escolar (ver ca<strong>de</strong>rnos, lição <strong>de</strong><br />
casa, participar <strong>de</strong> reuniões, conversar com<br />
professores), dar atenção, conversar, enfim,<br />
passar algum tempo com os filhos (o que<br />
po<strong>de</strong>ria ser interpretado também como uma<br />
prestação <strong>de</strong> atenção psicológica). (BRUS-<br />
CHINI; RICOLDI, 2009, p. 99).<br />
Percebemos que a massagem proporcionou,<br />
além <strong>de</strong> vínculos extremamente importantes,<br />
facilida<strong>de</strong>s para os familiares. As mães<br />
que, muitas vezes, acabavam se <strong>de</strong>sgastando<br />
para realizar o terceiro turno <strong>de</strong> seu dia,<br />
em que não há mais muita energia em estoque,<br />
pu<strong>de</strong>ram observar seus filhos e se fazer<br />
mais próximas, pois percebiam em seus filhos<br />
mais serenida<strong>de</strong> e tranquilida<strong>de</strong>, tor<strong>na</strong>ndo<br />
os cuidados que vão até pegar no sono mais<br />
leves e agradáveis. Evi<strong>de</strong>nciamos que essa<br />
prática vai além do tocar, do sentir ou do relaxar.<br />
Ela esta diretamente ligada em estar<br />
próximo, ser confiável, propor mais <strong>de</strong> si para<br />
o outro e amar incondicio<strong>na</strong>lmente.<br />
Contribuições: da porta para <strong>de</strong>ntro<br />
Ficamos muito realizadas com a proporção<br />
que tomou nosso projeto e mais felizes por<br />
po<strong>de</strong>r fazer algo que efetivamente e <strong>de</strong> forma<br />
palpável contribuiu diretamente para<br />
formação integral <strong>de</strong> nossos bebês. Apren<strong>de</strong>mos<br />
que o que realizamos da porta para<br />
<strong>de</strong>ntro forma seu caráter, <strong>de</strong>screve suas vivências,<br />
amplia seus horizontes e os tor<strong>na</strong>m<br />
seres imprescindíveis para a existência do<br />
professor, O SER CRIANÇA. Acredito que<br />
isso é ser Educador.<br />
Referências<br />
BRUSCHINI, M. C.; RICOLDI, A. M. Família e<br />
trabalho: difícil conciliação para mães trabalhadoras<br />
<strong>de</strong> baixa renda. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa,<br />
São Paulo, v. 39, n. 136, p. 93-123, jan./<br />
abr. 2009.<br />
LEBOYER, F. Shantala – Arte tradicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
massagem para bebês. Tradução <strong>de</strong> Luiz Roberto<br />
Be<strong>na</strong>ti e Maria Silvia Cintra Martins.<br />
São Paulo: Ground, 1995<br />
Com todas essas importâncias em nossas<br />
mãos, realizamos a culminância <strong>de</strong>ste projeto<br />
com um convite a ensi<strong>na</strong>r às mães a prática<br />
<strong>de</strong> massagem Shantala. Tivemos a presença<br />
<strong>de</strong> sete mães. Passamos um ví<strong>de</strong>o da<br />
prática, explicamos os benefícios e realizamos<br />
a massagem, cada mãe com seus filhos.<br />
Foi muito gratificante perceber o empenho<br />
das mães em sair do trabalho, pegar uma folga,<br />
ou até repor a hora <strong>de</strong>pois para estarem<br />
ali apren<strong>de</strong>ndo esse método tão benéfico.<br />
Assim, realizamos as massagens, e junto à<br />
prática, entregamos um livro ilustrado com<br />
o passo-a-passo da prática <strong>de</strong> massagem<br />
Shantala.<br />
Camila da Silva Gomes das Neves<br />
53
54<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Me encaixa<br />
nessa caixa<br />
Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />
Educação Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, a linguagem<br />
do movimento <strong>na</strong> infância ...brincar<br />
<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>r a brincar ... apren<strong>de</strong>r<br />
a ser, a fazer, a apren<strong>de</strong>r, a conviver... tratar<br />
a criança exatamente como <strong>de</strong>ve ser... aten<strong>de</strong>r<br />
seus interesses e necessida<strong>de</strong>s, usando<br />
as diferentes linguagens (oral, corporal, artística,<br />
estética, plástica), estimular as percepções<br />
(auditiva, visual, tátil...espaço temporal),<br />
por meio das sensações. Palavras que<br />
hoje fazem parte do meu cotidiano: leituras,<br />
pesquisas, trocas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias...planejamento,<br />
execução, observação...constatação...Buscar<br />
aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s e os interesses<br />
das crianças, fazer com que se sintam felizes,<br />
que <strong>de</strong>senvolvam habilida<strong>de</strong>s, valores...<br />
Quem são essas crianças e como se reconhecem?<br />
Como reconhecem seus amigos?<br />
Venho constantemente pensando e repensando<br />
ativida<strong>de</strong>s que possibilitem a <strong>de</strong>scoberta<br />
<strong>de</strong> si mesmas e do outro... brinca<strong>de</strong>iras<br />
e interações ...brinca<strong>de</strong>iras ou interações?<br />
Imitar, repetir, recriar, ter iniciativa, saber fazer<br />
escolhas, interagir.
Se pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>finir nossa intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />
como educadores, ousaria dizer que temos<br />
obrigação <strong>de</strong> permitir que a criança seja ela<br />
mesma, que possa fazer o que tem direito,<br />
ser ape<strong>na</strong>s e só uma criança, brincar e brincar.<br />
Estou apren<strong>de</strong>ndo a apren<strong>de</strong>r com eles,<br />
continuo procurando inovar. Algumas palavras<br />
ouvidas durante um curso ressoam nos<br />
meus ouvidos: “Quando você for comprar um<br />
brinquedo para uma criança, <strong>de</strong>ixe o brinquedo,<br />
leve a caixa”. Configuração cerebral...<br />
as i<strong>de</strong>ias unem-se e tudo se encaixa. Sempre<br />
gostei <strong>de</strong> caixas. Observo que elas carregam<br />
consigo a sensação <strong>de</strong> aconchego, a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scoberto, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir, do<br />
encontro, do <strong>de</strong>sencontro, entusiasmo, alegria.<br />
Constatação: eles realmente adoram<br />
brincar com caixas (sempre que disponibilizo<br />
caixas para brinca<strong>de</strong>iras há disputa... tem<br />
<strong>de</strong> ter muitas caixas... carrego bolas, bolinhas,<br />
cordas, potinhos, garrafas em caixas, e,<br />
quando planejo alguma ativida<strong>de</strong> com esses<br />
objetos, brincam um pouco e, normalmente,<br />
acabam... <strong>na</strong> caixa) ... e mais uma vez....<br />
tudo se encaixa...e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criar um espaço<br />
mais amplo, produzido com a participação<br />
das crianças, concretiza-se … a construção<br />
do túnel <strong>de</strong> caixas...<br />
Desenvolver habilida<strong>de</strong>s e competências<br />
como: ampliar o conhecimento do mundo,<br />
manipular diferentes materiais, explorar<br />
suas características, proprieda<strong>de</strong>s e possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> manuseio, entrar em contato<br />
com formas diversas <strong>de</strong> expressão artística,<br />
corporal, oral, estética, plástica; <strong>de</strong>senvolver<br />
posturas a<strong>de</strong>quadas para o dia a dia, bem<br />
como expressão e comunicação dos movimentos;<br />
manipular diferentes materiais para<br />
o fazer artístico; <strong>de</strong>senvolver o gosto, o cuidado<br />
e o respeito pelo processo <strong>de</strong> produção<br />
e <strong>de</strong> criação; interessar-se pelas próprias<br />
produções e pela dos colegas; perceber e<br />
explorar formas, cores e texturas, expressarse<br />
por meio da pintura; <strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong><br />
e criativida<strong>de</strong> em diversas situações;<br />
respeitar a própria integrida<strong>de</strong> física e a do<br />
colega; <strong>de</strong>senvolver noção espaço temporal;<br />
<strong>de</strong>senvolver o senso <strong>de</strong> cooperação e colaboração,<br />
assim como o cuidado consigo,<br />
com o outro e com o material; expressar-se<br />
com <strong>de</strong>senvoltura <strong>na</strong> sessão <strong>de</strong> fotos e apreciá-las;<br />
brincar e interagir no túnel; <strong>de</strong>senvolver<br />
noções matemáticas (<strong>de</strong>ntro, fora; em<br />
cima, em baixo; atrás, <strong>na</strong> frente; <strong>de</strong>ste lado,<br />
do outro lado; gran<strong>de</strong>, pequeno; pesado,<br />
leve) são objetivos a serem conquistados <strong>na</strong><br />
exploração do túnel.<br />
Túnel <strong>de</strong> caixas: trabalho coletivo<br />
Ao retor<strong>na</strong>r das férias, ao entrar em contato<br />
com as crianças, procurei unir o útil ao agradável:<br />
consegui diversas caixas e planejava<br />
usá-las <strong>na</strong>s aulas, mas sabia que precisava <strong>de</strong><br />
tempo para forrá-las ou pintá-las, e aí surgiu<br />
a i<strong>de</strong>ia da participação das crianças <strong>na</strong> pintura<br />
das caixas, <strong>de</strong>ixando-as à vonta<strong>de</strong> para<br />
vivenciar essa experiência, brincando (on<strong>de</strong><br />
<strong>na</strong>turalmente sujariam o corpo <strong>de</strong> tinta) e,<br />
em um clima bastante quente, participariam<br />
<strong>de</strong> um prazeroso banho <strong>de</strong> mangueira (já<br />
que durante os dias <strong>de</strong> aula normal não teria<br />
tempo <strong>de</strong> realizar as ativida<strong>de</strong>s, realizei-as<br />
durante duas manhãs, uma com o Mater<strong>na</strong>l<br />
II e outra com o Jardim I, pois queria fazer<br />
a ativida<strong>de</strong> sem pressa). Planejei e organizei<br />
a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira que pu<strong>de</strong>ssem perceber<br />
como surge um túnel: abri as caixas,<br />
distribui as tintas em potinhos (cada um escolhia<br />
a cor que queria pintar, i<strong>de</strong>ntificando-a).<br />
Sentados no chão ao redor das caixas<br />
abertas, <strong>de</strong>i um pincel para cada criança,<br />
organizei os espaços on<strong>de</strong> cada um pintaria,<br />
mostrei a maneira correta <strong>de</strong> segurar o<br />
pincel, sem apertar, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tinta<br />
que mais ou menos <strong>de</strong>veriam pegar do pote,<br />
56 Me encaixa nessa caixa
espalhando-a, preenchendo os espaços vazios.<br />
Deixei-os à vonta<strong>de</strong>, sugerindo que<br />
pedissem ajuda quando necessário; fiquei<br />
observando e repondo as tintas nos potes.<br />
Acabando a pintura, pedi para que olhassem<br />
se tinha algum lugar que não houvesse tinta<br />
para dar os “retoques”, que ficaria mais bonito.<br />
Eles concordaram. Acabado, recolhi os<br />
pincéis e os potes. Pedi para que levantassem<br />
e observassem a beleza da arte produzida,<br />
elogiei-os e agra<strong>de</strong>ci pela ajuda. Ficaram<br />
sorri<strong>de</strong>ntes, alegres, e fomos para a sessão<br />
<strong>de</strong> fotos... amaram ver sua produção e ficaram<br />
orgulhosos com os elogios...bom <strong>de</strong>mais<br />
ser valorizado e reconhecido… se sentir útil.<br />
Em seguida, banho <strong>de</strong> mangueira (com direito<br />
a chafariz e tudo). Participaram também<br />
do processo <strong>de</strong> secar o corpo e colocar a<br />
roupa. Repeti todo o processo com o Jardim<br />
I no outro dia. Todos se envolveram com a<br />
ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrando bastante atenção e<br />
capricho <strong>na</strong> pintura. Conversei com o grupo<br />
e falei que montaria as caixas e faria um túnel<br />
com elas; comentei também que os grupos<br />
Mater<strong>na</strong>l I e berçários amariam brincar<br />
com o túnel que eles pintaram. Adoraram a<br />
i<strong>de</strong>ia. Montei o túnel (feriados, greve.... ufa...<br />
consegui), abri porta, fiz furos circulares no<br />
teto e <strong>na</strong>s laterais, e reforcei com fitas a<strong>de</strong>sivas,<br />
colei as fotos e …fi<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong>s aulas<br />
<strong>de</strong> cada grupo, apresentei o tão esperado<br />
túnel <strong>de</strong> caixas. Ficaram eufóricos, impetuosos,<br />
curiosos... adoraram. Estabeleci regras<br />
<strong>de</strong> convivência a todos: um <strong>de</strong> cada vez, sem<br />
empurrar... enquanto uns entravam, outros<br />
espiavam por fora, olhavam as fotos....fomos<br />
revezando, um entra e sai ansioso, uns querendo<br />
ficar, mas precisando liberar... e pouco<br />
a pouco, <strong>de</strong>senvolvendo noção <strong>de</strong> tempo e<br />
espaço; encolhendo ou esten<strong>de</strong>ndo o corpo;<br />
enfiando a cabeça ou braços no buraco; entrando<br />
ou saindo <strong>de</strong>le, dizendo “Oi”; aba<strong>na</strong>ndo,<br />
expressando seu contentamento quando<br />
reconhecido, ou, ao reconhecer o amigo,<br />
respeitá-lo (senão ficava fora da brinca<strong>de</strong>ira);<br />
e, também, cuidando para não estragar o<br />
túnel que ajudaram a construir (fazer parte<br />
do processo, ajudar a cuidar).<br />
O túnel é leve e prático <strong>de</strong> carregar, o que<br />
permite ser usado em diferentes espaços<br />
(<strong>na</strong> sala, <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong>, em busca <strong>de</strong> um<br />
sol quando muito frio). Era visível a satisfação<br />
ao ver suas fotos no túnel e eu reforçava<br />
que estava lindo e o quanto foi importante<br />
sua colaboração <strong>na</strong> pintura. No <strong>de</strong>correr<br />
das aulas, disponibilizei o túnel com outros<br />
materiais (outras caixas, bolas, túnel <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras)<br />
e organizei circuito, bola ao túnel,<br />
adivinhe quem está no túnel. Dividi o grupo<br />
em subgrupos, no qual iam se organizando<br />
e criando novas brinca<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitassem<br />
regras <strong>de</strong> convivência já estipuladas.<br />
Mostrei também ao Mater<strong>na</strong>l I e Jardim I<br />
os bebês brincando no túnel que ajudaram a<br />
construir...ficavam “bobos”, sorri<strong>de</strong>ntes.<br />
A experiência: brincando<br />
<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>ndo a brincar<br />
Foi uma experiência incrível, e ainda é...parece<br />
incrível, mas o túnel <strong>de</strong> papelão ainda resiste<br />
(com alguns reparos a cada uso, é claro<br />
- após pegar chuva, ele encolheu – foi, assim,<br />
necessariamente reduzido). Resiste porque foi<br />
construído pelas mesmas mãos <strong>de</strong> quem está<br />
usufruindo. O túnel está sendo cuidado, valorizado<br />
por esse grupo <strong>de</strong> crianças que, nesse<br />
processo, <strong>de</strong>senvolveram, acima <strong>de</strong> tudo, valores<br />
como cooperação, respeito, colaboração,<br />
responsabilida<strong>de</strong>. Enquanto brincam <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>m a brincar, exercendo seu<br />
direito <strong>de</strong> ser ape<strong>na</strong>s uma criança.<br />
Enquanto as crianças brincavam e interagiam,<br />
sentindo-as crianças felizes a sorrir, escrevi:<br />
Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />
57
58 Me encaixa nessa caixa
Me encaixa nessa caixa<br />
Gosto que me enrosco<br />
da caixa que entra, da caixa que sai<br />
da caixa que acolhe, que encanta, que aquece<br />
Num só instante,<br />
o encontro … eu e você, acontece...<br />
Gosto e me enrosco<br />
no amigo que entra, no amigo que sai<br />
<strong>na</strong> caixa que encolhe, encanta e aquece<br />
Não fosse o bastante<br />
te encontro... e você não me esquece<br />
Enroscar, aquecer, encantar, num só instante...<br />
não fosse o bastante...adorei me encaixar<br />
As i<strong>de</strong>ias fluem a cada encontro, no qual me<br />
encanto com a vibração das crianças. Em<br />
uma constante procura <strong>de</strong> inovação, surge<br />
a “Caixa do palhaço”, satisfazendo a simples<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parar e brincar.<br />
Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />
59
60<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Meu corpinho<br />
vou cuidar chuá,<br />
chuá, o banho<br />
vai começar<br />
Marcia Eliane Lorenzoni<br />
A roti<strong>na</strong> <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é a base do cotidiano.<br />
Planejada pelo adulto e pelas crianças<br />
é merecedora <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância.<br />
Suas vivências <strong>de</strong>vem contemplar estratégias<br />
diferenciadas: música, dança, expressão<br />
corporal e brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>vem fazer parte<br />
<strong>de</strong>sse contexto para que as crianças envolvidas<br />
nessas diferentes linguagens possam,<br />
<strong>de</strong> forma prazerosa, se <strong>de</strong>senvolver.<br />
Promover uma roti<strong>na</strong> planejada e diferenciada<br />
é <strong>de</strong> forma tranquila interagir com os pequenos<br />
nesse momento, é preciso dialogar<br />
para ensi<strong>na</strong>r e apren<strong>de</strong>r. As interações da<br />
criança com seus parceiros sociais provocam<br />
confrontos <strong>de</strong> significações e incentivam os<br />
parceiros a consi<strong>de</strong>rar as intenções dos outros<br />
e superar contradições que surjam entre<br />
eles. Com isso, ela constitui formas mais elaboradas<br />
<strong>de</strong> perceber, memorizar, solucio<strong>na</strong>r<br />
problemas, lembrar-se <strong>de</strong> algo, emocio<strong>na</strong>r-se<br />
com alguma coisa, formas essas historicamente<br />
construídas. (OLIVEIRA, 2002, p. 138).
Como profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação Física, uma<br />
das roti<strong>na</strong>s que vivencio <strong>na</strong> instituição é o<br />
momento da higiene. Essa roti<strong>na</strong> me <strong>de</strong>ixa<br />
inquieta <strong>na</strong> hora <strong>de</strong> elaborar o planejamento,<br />
<strong>de</strong> buscar ativida<strong>de</strong>s diferenciadas que envolvam<br />
o grupo <strong>de</strong> crianças. Ao pesquisar as<br />
Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is para Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, observei que, quando se refere<br />
ao atendimento <strong>de</strong> bebês e <strong>de</strong> crianças<br />
peque<strong>na</strong>s, o documento enfatiza formas <strong>de</strong><br />
trabalhos pedagógicos que “[...] possibilitem<br />
situações <strong>de</strong> aprendizagem mediadas para a<br />
elaboração da autonomia das crianças <strong>na</strong>s<br />
ações <strong>de</strong> cuidado pessoal, auto-organização,<br />
saú<strong>de</strong> e bem-estar” (BRASIL, 2009, p. 26).<br />
Assim, é preciso organizar momentos individuais<br />
e coletivos, <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> em que as crianças<br />
possam sentir-se motivadas, construir sua autoimagem<br />
<strong>de</strong> forma positiva e vivenciar experiências<br />
que possibilitem um aprendizado, “[...]<br />
organizar um cotidiano <strong>de</strong> situações agradáveis,<br />
estimulantes, que <strong>de</strong>safiem o que cada<br />
criança e seu grupo <strong>de</strong> crianças já sabem sem<br />
ameaçar sua autoestima nem promover competitivida<strong>de</strong>”<br />
(OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />
Na minha prática <strong>de</strong> Educação Física, <strong>na</strong> roti<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> higiene, exploro muito com os pequenos<br />
aspectos corporais, pois os bebês são<br />
extremamente sensitivos ao toque, apren<strong>de</strong>m<br />
muito com o corpo. Assim, envolvi o<br />
grupo <strong>de</strong> crianças, a turma do berçário II, em<br />
uma vivência sobre a questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
corporal e todas as premissas que envolvem<br />
a cultura do corpo, o conhecimento <strong>de</strong>le, a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nomear, i<strong>de</strong>ntificar e reconhecer<br />
suas partes e explorar semelhanças<br />
e diferenças do próprio corpo e do corpo do<br />
outro. Assim sendo, as crianças participaram<br />
<strong>de</strong> um momento lúdico que oportunizou<br />
a curiosida<strong>de</strong> e a valorização dos cuidados<br />
com o corpo, um importante aspecto <strong>na</strong><br />
construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Os momentos <strong>de</strong> higiene foram sempre motivo<br />
<strong>de</strong> inquietação ao planejar, afi<strong>na</strong>l conseguir<br />
a atenção dos pequenos e sua participação<br />
não é tarefa fácil. Assim, busquei alter<strong>na</strong>tivas<br />
que <strong>de</strong>senvolvessem habilida<strong>de</strong>s referentes à<br />
higiene <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> da faixa etária <strong>de</strong> 1 a 2 anos,<br />
para que as crianças se envolvessem e juntos<br />
conquistassem aprendizagens.<br />
Minha observação inicial foi durante uma<br />
aula <strong>na</strong> qual parei para observar a interação<br />
62 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar
das crianças com o espelho. Percebi que alguns<br />
dos bebês brincavam, se apreciavam.<br />
Aproveitei, então, para entrar <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />
e mostrar o rosto <strong>de</strong>les refletido no espelho,<br />
para que se reconhecessem. Fui <strong>na</strong>turalmente<br />
nomeando e apontando a boca, o<br />
<strong>na</strong>riz, a língua, os olhos e, posteriormente, os<br />
<strong>de</strong>ntes, dando ênfase <strong>na</strong> valorização da autoestima<br />
das crianças, fazendo-as perceber<br />
semelhanças e diferenças <strong>de</strong>stacando as belezas<br />
<strong>de</strong> cada uma e do grupo.<br />
[...] os educadores po<strong>de</strong>m estimular, motivar<br />
e facilitar o brincar, encorajando as crianças<br />
a funcio<strong>na</strong>rem em um nível mais profundo do<br />
que aquele em que funcio<strong>na</strong>riam se fossem<br />
entregues a si mesmas. O adulto que está<br />
<strong>de</strong>sempenhando um papel não só oferece<br />
as crianças um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento,<br />
como também po<strong>de</strong> alterar esse papel para<br />
introduzir no brincar uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “pessoas”,<br />
problemas, <strong>de</strong>safios e assim por diante.<br />
(MÓYLES, 2006, p. 120).<br />
Para valorizar momentos <strong>de</strong> movimentação<br />
dos pequenos, dançamos ao som do grupo<br />
Palavra Cantada (lavar as mãos) e Xuxa (hora<br />
do banho e escovar os <strong>de</strong>ntes). Acompanhando<br />
a letra da música, fui fazendo os gestos<br />
e a maioria os repetia. Foi um momento <strong>de</strong><br />
alegria, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Sabendo que a turma do Berçário II <strong>de</strong>monstra<br />
gran<strong>de</strong> interesse por literatura, fiz a leitura<br />
do livro Saú<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>ntes (Heloísa Bertane<br />
e Roberto Belli). Recontei a história com<br />
o auxílio <strong>de</strong> fantoches. Para os pequenos<br />
foram momentos <strong>de</strong> interação. As crianças<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s dialogavam<br />
por gestos e balbucios com os fantoches.<br />
No brincar, a criança assume a posição <strong>de</strong> sujeito<br />
falante, o que possibilita ao professor escutar<br />
e conhecer a criança com mais proprieda<strong>de</strong>.<br />
Em razão disto, o brincar não <strong>de</strong>ve ser compreendido<br />
<strong>na</strong> educação infantil nem tampouco no<br />
ensino fundamental como um conhecimento<br />
pronto e por isso reproduzido em manuais que<br />
apresentam cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras acompanhadas<br />
<strong>de</strong> procedimentos a serem executados<br />
pelo professor junto às crianças. (SOM-<br />
MERHALDER; ALVES, 2011, p. 62).<br />
A troca <strong>de</strong> fraldas <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> aos objetivos<br />
trabalhados. A cada troca foi valorizado<br />
o toque <strong>na</strong>s diferentes partes do corpo. Foram<br />
Marcia Eliane Lorenzoni<br />
63
momentos <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira para nomeá-las e<br />
tateá-las. Na oportunida<strong>de</strong>, os bebês manusearam<br />
objetos relacio<strong>na</strong>dos à higiene corporal,<br />
elas os exploraram e brincaram com eles.<br />
Ampliar as possibilida<strong>de</strong>s da criança cuidar<br />
e ser cuidada, <strong>de</strong> se expressar, comunicar e<br />
criar, <strong>de</strong> organizar pensamentos e i<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong><br />
conviver, brincar e trabalhar em grupo, <strong>de</strong> ter<br />
iniciativa e buscar soluções para os problemas<br />
e conflitos que se apresentam <strong>na</strong>s mais<br />
diferentes ida<strong>de</strong>s” (OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />
Pela motivação observada <strong>na</strong> participação<br />
das crianças em sala, resolvi planejar um<br />
momento <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong> com ativida<strong>de</strong>s<br />
concretas, para que os bebês pu<strong>de</strong>ssem explorar<br />
vários materiais <strong>de</strong> higiene. Segundo<br />
Ostetto (2000), é preciso oferecer espaços<br />
com propostas diferenciadas, situações diversificadas,<br />
que ampliem as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> exploração e “pesquisa” infantis. As crianças<br />
realmente ampliam suas possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> exercitar a autonomia, a liberda<strong>de</strong>, a iniciativa,<br />
a livre escolha, quando o espaço está<br />
a<strong>de</strong>quadamente organizado.<br />
Para a vivência, organizei um espaço com<br />
vários bonecos <strong>de</strong>snudos, bacias coloridas<br />
com a água, mini sabonetes e xampus, toalhas<br />
e escova corporal. A princípio, eles posaram<br />
para foto e escutaram atentamente as<br />
orientações dadas pela professora. Depois,<br />
gradativamente, o grupo <strong>de</strong> crianças foi manipulando<br />
os materiais, uns com menos interesses,<br />
outros com mais.<br />
molhassem muito, afi<strong>na</strong>l estamos iniciando<br />
o inverno, foram confeccio<strong>na</strong>dos aventais<br />
<strong>de</strong> <strong>na</strong>pa ilustrativos com <strong>de</strong>senhos relacio<strong>na</strong>dos<br />
à higiene, bem como touca <strong>de</strong> banho.<br />
“Assegurar às crianças a manifestação <strong>de</strong><br />
seus interesses, <strong>de</strong>sejos, e curiosida<strong>de</strong>s ao<br />
participar das práticas educativas; apoiar a<br />
conquista pelas crianças <strong>de</strong> autonomia <strong>na</strong><br />
escolha <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e<br />
para a realização <strong>de</strong> cuidados pessoais diários”<br />
(OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />
Dando continuida<strong>de</strong> à essa vivência, com auxílio<br />
<strong>de</strong> uma arcada <strong>de</strong>ntária feita com garrafa<br />
pet e isopor em tamanho gigante, com<br />
a escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, fui fazendo <strong>de</strong>monstração<br />
sobre os movimentos corretos utilizados<br />
para escovar os <strong>de</strong>ntes. Em seguida, cada<br />
criança recebeu uma escova com creme<br />
<strong>de</strong>ntal para escovar os <strong>de</strong>ntes dos bonecos.<br />
Foi um momento <strong>de</strong> encantamento, pois alguns<br />
escovaram os seus próprios <strong>de</strong>ntes, outros<br />
seguiram as orientações e escovaram os<br />
<strong>de</strong>ntes do boneco. O interessante foi perceber<br />
que, em ambas as situações, as crianças<br />
já souberam relacio<strong>na</strong>r objeto e função. Foi<br />
gratificante observar a interação dos bebês<br />
<strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s propostas e perceber a riqueza<br />
<strong>de</strong> estar e pertencer ao universo da Educação<br />
<strong>Infantil</strong>.<br />
As ativida<strong>de</strong>s realizadas foram motivo <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> satisfação profissio<strong>na</strong>l ao perceber o<br />
envolvimento e o aprendizado das crianças.<br />
Todo o tempo participamos, orientando e ensi<strong>na</strong>ndo<br />
para que servia cada material utilizado<br />
e também nomeando as partes do corpo.<br />
Ramos (apud FORTUNA, 2003) diz que a<br />
brinca<strong>de</strong>ira não <strong>de</strong>ve ser uma ativida<strong>de</strong> tão<br />
“largada” que dispense o educador, nem tão<br />
dirigida que <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser brinca<strong>de</strong>ira. Enten<strong>de</strong>mos<br />
que a ação do educador é fundamental<br />
no processo <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do brinca<strong>de</strong>ira,<br />
pois a sua intermediação po<strong>de</strong>rá ser requisitada<br />
a qualquer momento, seja para incentivar<br />
ou para mo<strong>de</strong>rar as ativida<strong>de</strong>s. Houve<br />
crianças que superaram nossas expectativas,<br />
pois pareciam já saber que o xampu era<br />
para colocar <strong>na</strong> cabeça e, antes mesmo da<br />
orientação, passavam o sabonete no corpo<br />
do boneco. Após o banho, elas receberam<br />
a toalha e, com auxílio, o secaram. Pensando<br />
no cuidado para que as crianças não se<br />
64 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar
Muitas foram as situações <strong>de</strong> aprendizagem<br />
observadas durante a realização do presente<br />
trabalho. Entre elas, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar<br />
que muitas crianças já i<strong>de</strong>ntificam as partes<br />
do corpo, sabem até apontá-las e alguns até<br />
balbuciam o nome. A participação no momento<br />
da literatura e a compreensão dos<br />
bebês <strong>na</strong> interação com os fantoches foram<br />
pontos muito positivos, pois eles interagiam<br />
com os fantoches apontando com os <strong>de</strong>dos<br />
as partes do corpo. O envolvimento no momento<br />
da música fez com que as crianças<br />
a acompanhassem dançando no ritmo <strong>de</strong>la<br />
e fazendo movimentos harmoniosos relacio<strong>na</strong>dos<br />
à letra da canção e ao meu movimento,<br />
visto que, nesse momento, me permiti<br />
dançar com eles. Percebemos o entusiasmo<br />
dos pequenos em participar da ativida<strong>de</strong><br />
do banho dos bonecos, pois somente uma<br />
criança se dispersou e foi brincar no parque.<br />
Eles adoraram mexer <strong>na</strong> água e sabiam que<br />
ao balançar a mão espuma se formava. Foi<br />
uma festa só, um borbulhar constante. Aqui<br />
reforçamos o que as diretrizes <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e<br />
municipais e outros estudos referentes ao<br />
aprendizado <strong>de</strong> crianças já vem apontando,<br />
pois ativida<strong>de</strong>s diferentes realmente pren<strong>de</strong>m<br />
a atenção e <strong>de</strong> forma envolvente e lúdica<br />
beneficiam a aprendizagem.<br />
Enfim, a higiene corporal é essencial. Destacamos,<br />
assim, por meio <strong>de</strong>ste trabalho, a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> as crianças serem beneficiadas<br />
e orientadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo sobre a importância<br />
do cuidado com o corpo como um todo<br />
para que percebam que seu corpo é feito <strong>de</strong><br />
“vida” e que ele merece carinho e cuidados<br />
especiais.<br />
Referências<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />
<strong>de</strong> Educação Básica. Diretrizes curriculares<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is para a educação infantil. Brasília:<br />
MEC, SEB, 2009.<br />
FORTUNA, T. R. O brincar <strong>na</strong> educação infantil.<br />
Revista Pátio – Educação <strong>Infantil</strong>, ano<br />
1, n. 3, <strong>de</strong>z. 2003.<br />
MÓYLES, J. R. A excelência do brincar. Porto<br />
Alegre: Artmed, 2006.<br />
OLIVEIRA, Z. R. <strong>de</strong>. Educação <strong>Infantil</strong>: fundamentos<br />
e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.<br />
OLIVEIRA, Z. R. <strong>de</strong>. O trabalho do professor<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. São Paulo: Biruta,<br />
2012.<br />
OSTETTO, L. E. Encontros e encantamento<br />
<strong>na</strong> educação infantil. São Paulo: Papirus,<br />
2000.<br />
SOMMERHALDER, A.; ALVES, F. D. Jogo e<br />
a educação da infância: muito prazer em<br />
apren<strong>de</strong>r. Paraná: CRV, 2011.<br />
Marcia Eliane Lorenzoni<br />
65
66<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Interagindo<br />
com a<br />
Diversida<strong>de</strong><br />
O Maracatu <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
educação infantil<br />
Rodrigo Zapparoli<br />
Trabalhar a temática da diversida<strong>de</strong> <strong>na</strong> educação<br />
infantil através do profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
educação física é uma rica possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
construir novos saberes.<br />
Existe por parte do profissio<strong>na</strong>l a preocupação<br />
com a questão do respeito a diversida<strong>de</strong><br />
cultural, haja vista que as crianças estão<br />
se constituindo enquanto cidadãos. BASEI<br />
(2008) enfatiza:<br />
A escola infantil e, portanto, conforme nossa<br />
compreensão, um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas e<br />
<strong>de</strong> ampliação das experiências individuais,<br />
culturais, sociais e educativas, através da
inserção da criança em ambientes distintos<br />
dos da família. Um espaço e um tempo em<br />
que sejam integrados o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
criança, seu mundo <strong>de</strong> vida, sua subjetivida<strong>de</strong>,<br />
com os contextos sociais e culturais que<br />
a envolvem através das inúmeras experiências<br />
que ela <strong>de</strong>ve ter a oportunida<strong>de</strong> estimulo<br />
<strong>de</strong> vivências nesse espaço <strong>de</strong> formação.<br />
Concebi o momento da Kizomba como uma<br />
rica oportunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver um trabalho<br />
que abarcasse tanto o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
infantil, como suas questões sociais e<br />
também legais.<br />
Um dos objetivos fundamentais da República<br />
Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil: “Promover o bem<br />
<strong>de</strong> todos, sem preconceito <strong>de</strong> origem, raça,<br />
sexo, cor, ida<strong>de</strong> e quaisquer outras formas<br />
<strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção” (CRFB/88. Art. 3º inciso<br />
IV). Vê-se que a exploração do tema da<br />
igualda<strong>de</strong> envolve questões éticas, respeito<br />
ao próximo e atenção aos direitos humanos.<br />
Através da Lei nº 10.639 <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 2003 e da Lei nº 11.654 <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> março<br />
<strong>de</strong> 2008, as Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacio<strong>na</strong>l (Lei nº 9.394/96), foi acrescida da<br />
obrigatorieda<strong>de</strong> da inclusão da temática<br />
“História e Cultura Afro-Brasileira e Indíge<strong>na</strong>”<br />
no currículo oficial das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino,<br />
como <strong>de</strong>stacado no Plano Municipal <strong>de</strong> Promoção<br />
da Igualda<strong>de</strong> Racial <strong>de</strong> Itajaí. Diante<br />
do exposto acima e também <strong>de</strong> um grupo<br />
formado por várias crianças, familiares e<br />
também profissio<strong>na</strong>is, ascen<strong>de</strong>ntes da cultura<br />
afro-brasileira como é o caso do nosso<br />
CEI, se tor<strong>na</strong> fundamental trabalharmos essa<br />
temática por todos os profissio<strong>na</strong>is.<br />
A preocupação dos educadores no intuito<br />
<strong>de</strong> promover a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s,<br />
bem como a valorização das semelhanças e<br />
diferenças, permite que as crianças se sintam<br />
bem, inseridas no ambiente escolar. A<br />
felicida<strong>de</strong> e o bem-estar da criança favorecem<br />
o seu <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>de</strong> forma<br />
saudável.<br />
Tivemos como objetivos a serem atingidos<br />
nesse projeto, sensibilizar as crianças, bem<br />
como a comunida<strong>de</strong> escolar sobre a importância<br />
da promoção da igualda<strong>de</strong> racial, em<br />
conformida<strong>de</strong> à Lei 12.288/2010, artigo 11 e<br />
seguintes que asseguram o direito a igualda<strong>de</strong><br />
racial <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida e cidadania,<br />
assim como, garante igual direito às histórias<br />
e cultura que compõem a <strong>na</strong>ção brasileira,<br />
além do direito <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> diferentes<br />
fontes da cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. De forma a vivenciar<br />
a diversida<strong>de</strong> cultural através dos grupos<br />
oriundos <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> quilombola,<br />
estimular o <strong>de</strong>senvolvimento das crianças<br />
por intermédio <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> origem<br />
africa<strong>na</strong>; estimular o <strong>de</strong>senvolvimento motor<br />
da criança por intermédio da música e da<br />
dança, Sociabilizar as diferentes faixas etárias<br />
durante as ativida<strong>de</strong>s culturais.<br />
Ao receber da gestora da unida<strong>de</strong> em reunião<br />
com os <strong>de</strong>mais professores, as orientações<br />
sobre a Kizomba (Projeto Institucio<strong>na</strong>l)<br />
para constituirmos nosso Plano <strong>de</strong> Ação,<br />
percebi uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar algo<br />
diferente e proveitoso para todo o grupo que<br />
fosse além as ativida<strong>de</strong>s envolvendo movimentos.<br />
Foram realizadas durante todo mês <strong>de</strong> agosto,<br />
brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> origens africa<strong>na</strong>s com a<br />
turma do Jardim I, <strong>de</strong>ntre elas: TERRA-MAR<br />
<strong>de</strong> Moçambique, esta é uma variação da<br />
brinca<strong>de</strong>ira morto-vivo. Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> correr:<br />
PEGUE A CAUDA, da Nigéria, uma variação<br />
da brinca<strong>de</strong>ira pega rabinho, mas esse<br />
feito em equipes e as crianças <strong>de</strong>vem ser<br />
colocadas em fileira segurando pelo ombro<br />
ou cintura e ape<strong>na</strong>s o último da fila que possui<br />
a cauda. Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> saltar: SALTAN-<br />
DO O FEIJÃO, da Nigéria, um círculo é realizado<br />
com as crianças e o professor fica no<br />
meio, rodando uma corda rente ao chão e as<br />
crianças <strong>de</strong>vem saltar sobre a corda, quem<br />
for atingido sai da roda; Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lançamentos:<br />
KUDODA, do Zimbábue, nesta é<br />
realizado um círculo com corda, colocamos<br />
diversas bolas peque<strong>na</strong>s <strong>de</strong>ntro e as crianças<br />
<strong>de</strong>veriam utilizar uma bola maior com o<br />
objetivo <strong>de</strong> tirar as menores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do círculo;<br />
GUTERA URIZIGA, da Angola tem como<br />
objetivo jogar lanças <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um círculo,<br />
bambolê. Para esta ativida<strong>de</strong> fizemos uma<br />
ofici<strong>na</strong> <strong>de</strong> lanças feitas <strong>de</strong> jor<strong>na</strong>l e <strong>de</strong>pois<br />
fomos aumentando a dificulda<strong>de</strong> ao fazer o<br />
lançamento, rolando o bambolê pelo chão e<br />
as crianças tendo que acertar o bambolê em<br />
movimento. Todas estas brinca<strong>de</strong>iras foram<br />
realizadas pelas crianças do Jardim I, que <strong>de</strong><br />
forma gradativa compreen<strong>de</strong>u suas regras.<br />
Brinca<strong>de</strong>iras cantadas também foram realizadas,<br />
<strong>de</strong>ntre elas: SI MAMMA KAA, da Tan-<br />
68 Interagindo com a Diversida<strong>de</strong>
zânia, que é cantada em roda seguindo as<br />
instruções da música, SI MAMMA que significa<br />
ficar parado em pé e KAA significa abaixar;<br />
RUKA significa pular; TEMBEA significa<br />
andar e KIMBIA significa correr. Essa ativida<strong>de</strong><br />
em si, a professora da turma do Jardim<br />
I comentou que as crianças continuaram<br />
brincando em sala <strong>de</strong> aula e também no parque.<br />
Foram momentos <strong>de</strong> ricos estímulos entre<br />
as crianças.<br />
O professor <strong>de</strong> Educação Física em parceria<br />
com a professora do Jardim I confeccio<strong>na</strong>ram<br />
juntamente com os familiares pipas,<br />
petecas, chocalhos (caxixis) utilizando materiais<br />
reciclados. Foi uma ativida<strong>de</strong> muito<br />
rica que favoreceu o resgate cultural <strong>na</strong> Noite<br />
da Família que aconteceu no CEI dia 25<br />
<strong>de</strong> agosto. As crianças gostaram <strong>de</strong> ter seus<br />
pais/mães junto a elas realizando ativida<strong>de</strong>s.<br />
Em culminância a temática: Interagindo com<br />
a diversida<strong>de</strong>, foram também convidados os<br />
dois grupos para realizar apresentação cultural<br />
para as crianças. Como eu já conhecia<br />
o grupo Maracatu do Quilombo do Morro do<br />
Boi, busquei contato com os integrantes do<br />
grupo. Em uma breve conversa, expliquei o<br />
motivo do contato e a proposta do trabalho<br />
com a visita do grupo <strong>de</strong> Maracatu em nosso<br />
CEI. A apresentação <strong>de</strong>stes favorecerá o<br />
resgate folclórico, cultural e étnico, <strong>de</strong>vido<br />
à origem do grupo ser <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong><br />
ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> escravos.<br />
Definimos nós do CEI, professores e gestores,<br />
em parceria com os representantes dos grupos<br />
que a ativida<strong>de</strong>, seria uma apresentação,<br />
primeiramente dos integrantes dos grupos,<br />
para uma familiarização das crianças com<br />
eles, após isso seria feito uma apresentação<br />
dos instrumentos musicais utilizados, falando<br />
seus <strong>de</strong>vidos nomes e <strong>de</strong>monstrando os<br />
sons reproduzidos por eles, bem como qual<br />
era o som base <strong>de</strong> cada instrumento especificamente<br />
para o Maracatu e por fim eles<br />
fariam uma apresentação das musicas populares<br />
do maracatu com sua dança típica.<br />
Os integrantes do grupo Encantos do Sul e<br />
Quilombo Morro do Boi chegaram, as crianças<br />
já os aguardavam ansiosas e curiosas.<br />
Foi somente o tempo <strong>de</strong> organizar os instrumentos<br />
musicais, as vestimentas das dançari<strong>na</strong>s<br />
para iniciar a apresentação. Eu também<br />
estava ansioso e até certo ponto receoso,<br />
pois o Maracatu é um ritmo contagiante,<br />
mas com uma percussão bastante forte. Fiquei<br />
com medo das crianças se assustarem<br />
com o barulho dos tambores, principalmente<br />
os menores do berçário.<br />
Tudo pronto, iniciou-se conforme o combi<strong>na</strong>do.<br />
Logo <strong>de</strong> início, ao apresentarem os instrumentos<br />
musicais, as crianças já começaram<br />
a ficar mais agitadas e empolgadas, algumas<br />
ficaram realmente um pouco assustadas,<br />
principalmente com o timbre dos tambores,<br />
chamados por eles <strong>de</strong> alfaias. Este possui um<br />
timbre grave <strong>de</strong> volume alto, mas aos poucos<br />
as crianças foram se acostumando.<br />
O integrante foi bastante didático nessa<br />
hora <strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r as canções, cantou os refrões<br />
das músicas com as crianças e elas<br />
adoraram participar e interagir. A festa realmente<br />
ficou divertida quando se iniciou a<br />
música, que foi tocada e cantada com toda<br />
a sua energia. O ritmo contagiante, a dança<br />
e a alegria envolveram a todos, crianças, professores,<br />
agentes, gestora e supervisora.<br />
As crianças tinham um sorriso fácil no rosto,<br />
a batida da música fazia com que nossos<br />
corpos se mexessem mesmo sem querer, era<br />
impossível ficarmos parados, foi visível a felicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos durante a apresentação,<br />
nem mesmos os bebes choraram, prestavam<br />
muita atenção. Tudo isso registrado pelas<br />
lentes da RIS Record que ainda entrevistou<br />
a mim, a gestora da Unida<strong>de</strong>, os integrantes<br />
do grupo Encantos do Sul e da Comunida<strong>de</strong><br />
Quilombola Morro do boi. Fomos notícia no<br />
Jor<strong>na</strong>l do Meio-dia da Record no sábado dia<br />
29 <strong>de</strong> agosto, o que <strong>de</strong>ixou a todos do CEI<br />
muito contentes.<br />
Fi<strong>na</strong>lizamos esta experiência com chave <strong>de</strong><br />
ouro, já que o mesmo foi um sucesso entre<br />
os profissio<strong>na</strong>is do CEI, com a colaboração<br />
<strong>de</strong> todos. Deixo aqui minha gratidão a todos<br />
os envolvidos que dispuseram um pouco da<br />
sua <strong>de</strong>dicação e tempo para que pudéssemos<br />
tor<strong>na</strong>r realida<strong>de</strong> esta vivência positiva e<br />
enriquecedora para nossas crianças. As exposições<br />
acima, <strong>de</strong>monstraram que o profissio<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> Educação Física po<strong>de</strong> enriquecer<br />
e muito o aprendizado das crianças no que<br />
tange aos valores morais, éticos e culturais,<br />
bem como seus aspectos motores.<br />
Rodrigo Zapparoli<br />
69
Referências<br />
BASEI, Andreia Paula. A Educação Física <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong>: a importância do movimentar-se<br />
e suas contribuições no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da criança. Revista Iberoamerica<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong> Educacion n°47/3 outubro <strong>de</strong> 2008.<br />
BRASIL. Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa<br />
do Brasil, 1988.<br />
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is<br />
Gerais da Educação Básica, MEC, SEB, DICEI,<br />
2013.<br />
BRASIL. Plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> implementação<br />
das diretrizes curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is para<br />
educação das relações étnico-raciais e para<br />
o ensino <strong>de</strong> história e cultura afro-brasileira<br />
e africa<strong>na</strong>. MEC, SECADI, 2013.<br />
Brasil. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental.<br />
Parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is: Educação<br />
física / Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental<br />
– Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível<br />
em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/<br />
pdf/livro07.pdf> Acessado em: 18/09/2015.<br />
70 Interagindo com a Diversida<strong>de</strong>
Rodrigo Zapparoli<br />
71
72<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
O corpo fala:<br />
bRINCADEIRAS<br />
COM TECIDOS<br />
Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />
A Educação Física tem um papel fundamental<br />
no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong><br />
aprendizagem da criança. Por meio <strong>de</strong> jogos,<br />
brinca<strong>de</strong>iras, ativida<strong>de</strong>s lúdicas e interações,<br />
a Educação Física é responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da criança em todos os aspectos:<br />
motor, cognitivo, social-afetivo, proporcio<strong>na</strong>ndo<br />
um aprendizado integral <strong>de</strong> forma<br />
lúdica e significativa. Dessa forma, a Educação<br />
Física é importante nessa etapa da Educação<br />
<strong>Infantil</strong>, pois, por meio da linguagem<br />
corporal, a criança <strong>de</strong>scobre possibilida<strong>de</strong>s,<br />
experimenta e explora o mundo.<br />
Com a formação continuada, eu, professora<br />
<strong>de</strong> Educação Física da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong><br />
Educação <strong>de</strong> Itajaí, tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conhecer sobre Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l,<br />
método <strong>de</strong> mediação corporal criado pelos<br />
professores André Lapierre e Anne Lapierre.<br />
Nosso objetivo em psicomotricida<strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>l<br />
é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar, <strong>na</strong> medida do possível,<br />
os sentimentos conflituais reprimidos no
inconsciente que provocam perturbações<br />
<strong>na</strong> vida afetiva e relacio<strong>na</strong>l da criança. Esses<br />
sentimentos se expressam espontaneamente<br />
no jogo, e <strong>de</strong> maneira mais autêntica se o<br />
adulto o favorece, entrando ele também no<br />
jogo não-verbal. Desse modo, dirige-se diretamente<br />
ao inconsciente da criança. As verbalizações<br />
do adulto constituiriam, neste caso,<br />
uma ruptura nesse nível <strong>de</strong> comunicação.<br />
(LAPIERRE; LAPIERRE, 2002, p. 107-108).<br />
A Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l tem colaborado<br />
para a minha prática do dia-dia, pois,<br />
mesmo não tendo olhar técnico e não sendo<br />
profissio<strong>na</strong>l da Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l,<br />
observei que alguns materiais já eram explorados<br />
pelas crianças <strong>na</strong>s minhas aulas <strong>de</strong><br />
forma lúdica e com outros objetivos. Assim,<br />
fui percebendo que o valor simbólico <strong>de</strong>ssas<br />
vivências é muito importante para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
global das crianças.<br />
Resolvi, <strong>de</strong>ssa forma, realizar uma ativida<strong>de</strong><br />
com meus grupos do Mater<strong>na</strong>l Misto e Mater<strong>na</strong>l<br />
I: brinca<strong>de</strong>iras com tecidos. Essa ativida<strong>de</strong><br />
eu ainda não havia vivenciado em minhas<br />
aulas. Após muita observação durante<br />
as aulas, o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto foi escolhido.<br />
A maioria <strong>de</strong>sse grupo, além <strong>de</strong> ingressar<br />
pela primeira vez no Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />
apresentava dificulda<strong>de</strong> no período <strong>de</strong><br />
adaptação, pois ele passou, também, por troca<br />
<strong>de</strong> professoras da sala. Decorrente <strong>de</strong>ssas<br />
situações, eu resolvi fazer essa ativida<strong>de</strong><br />
com o intuito <strong>de</strong> conhecer um pouco mais<br />
<strong>de</strong> cada criança e <strong>de</strong> como elas estavam se<br />
sentindo <strong>na</strong>quele momento. Por meio das<br />
brinca<strong>de</strong>iras, estimulei a criativida<strong>de</strong>, a afetivida<strong>de</strong><br />
e as interações. Após realizar a ativida<strong>de</strong><br />
com o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto, percebi o<br />
sucesso da aula e suas múltiplas vivências, e<br />
então apliquei a proposta com o Mater<strong>na</strong>l I.<br />
As brinca<strong>de</strong>iras livres com algum tipo <strong>de</strong> material,<br />
no caso aqui os tecidos, possibilitam<br />
expressivida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser observadas<br />
pelo professor, proporcio<strong>na</strong>m a interação e<br />
um brincar que estimula o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
global das crianças.<br />
O objetivo geral <strong>de</strong>sse projeto foi <strong>de</strong>senvolver<br />
a criança em todos os aspectos: cognitivo,<br />
motor social e afetivo, por meio da linguagem<br />
corporal, possibilitando momentos<br />
<strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras em um mundo<br />
<strong>de</strong> faz <strong>de</strong> conta.<br />
74 O corpo fala
Brinca<strong>de</strong>iras livres com tecidos<br />
Para colocar em ação meu planejamento,<br />
procurei ter mais proximida<strong>de</strong> com as crianças<br />
e, assim, realizei uma brinca<strong>de</strong>ira “adaptada”:<br />
brinca<strong>de</strong>iras livres com tecidos. Como<br />
eu não tinha tecidos gran<strong>de</strong>s e nem lençóis,<br />
como sugere os livros, utilizei TNT <strong>de</strong> diversas<br />
cores e tamanhos. Essa ação foi realizada<br />
com os grupos Mater<strong>na</strong>l Misto e Mater<strong>na</strong>l<br />
I, ida<strong>de</strong> entre dois e três anos.<br />
Tive <strong>de</strong> conseguir o TNT. Com a parceria do<br />
CEI, consegui alguns que já tínhamos <strong>na</strong> creche<br />
e outros eu comprei, pois, como se trata<br />
<strong>de</strong> um material muito acessível e rico para<br />
novas criações, é interessante tê-lo como<br />
material pedagógico. Em seguida, cortei o<br />
TNT em diversos tamanhos e diferentes formas<br />
para estimular a criativida<strong>de</strong> e a fantasia.<br />
Organizei um espaço que conseguiria<br />
realizar a ativida<strong>de</strong> com segurança e sucesso.<br />
O primeiro momento foi realizado com<br />
o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto, composto por 25<br />
crianças. O espaço organizado foi no corredor,<br />
em frente à sala do grupo. Criei um espaço<br />
muito legal para <strong>de</strong>senvolver a ativida<strong>de</strong>,<br />
colocando tapetes, amarrando as pontas <strong>de</strong><br />
um dos TNTs nos pilares, <strong>de</strong>ixando o espaço<br />
organizado e acolhedor. Eu tinha 30 minutos<br />
para realizar essa aula.<br />
Iniciei a aula conversando com o grupo sobre<br />
a ativida<strong>de</strong> que iria acontecer. Expliquei<br />
que a brinca<strong>de</strong>ira era livre, que eles iriam utilizar<br />
a imagi<strong>na</strong>ção e que eles po<strong>de</strong>riam criar<br />
as brinca<strong>de</strong>iras que quisessem. Mencionei,<br />
ainda, que eu e a Agente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> em<br />
educação também brincaríamos com eles,<br />
e, aos poucos, fomos colocando os TNTs em<br />
volta do grupo. Eles ficaram encantados<br />
com aquele material colorido e diferente em<br />
volta <strong>de</strong>les. Seus olhos brilhavam e foi interessante<br />
observar a reação <strong>de</strong> cada um que,<br />
aos poucos, foram se levantado e pegando o<br />
material. A princípio fiquei ansiosa, pois não<br />
sabia qual seria a reação <strong>de</strong>les e nem se a<br />
ativida<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>ria como planejado.<br />
Então, as crianças foram interagindo com o<br />
material com muita calma e paciência, o que<br />
chamou muita a minha atenção. Elas interagiram<br />
umas com as outras, criaram, imagi<strong>na</strong>ram,<br />
cada uma do seu jeito. Umas preferiram<br />
brincar sozinhas, outras interagiram com o<br />
grupo, e outras com a Agente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />
Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />
75
em educação e comigo também. Ainda assim,<br />
tiveram algumas crianças que preferiram<br />
só observar e não tiveram contato com<br />
o material. Foram poucas, pois a maioria se<br />
envolveu <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira. Durante a ação,<br />
observei e registrei os momentos, <strong>de</strong>pois<br />
troquei com a agente, e fui brincar com as<br />
crianças, e a agente observou e registrou.<br />
Os gestos <strong>de</strong> uma criança po<strong>de</strong>m refletir seu<br />
estado emocio<strong>na</strong>l. Quando os movimentos<br />
são acanhados, transmitem inibição; e quando<br />
seus movimentos se mostram expansivos,<br />
po<strong>de</strong>m ser traduzidos como euforia, conquista<br />
e satisfação. Assim, po<strong>de</strong>mos dizer<br />
que o corpo é a via <strong>de</strong> acesso ao emocio<strong>na</strong>l.<br />
(NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 37).<br />
Com o sucesso das ações nesse grupo, resolvi<br />
realizar a mesma ativida<strong>de</strong> com o grupo<br />
do Mater<strong>na</strong>l I composto por 20 crianças, pois<br />
fiquei ansiosa para observar a reação <strong>de</strong> outro<br />
grupo. Essa aula foi realizada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
sala. Realizei o mesmo processo com esse<br />
grupo. Conversei sobre a ativida<strong>de</strong> e eles ficaram<br />
bem interessados e ansiosos. Entreguei<br />
o material e tudo pareceu mágico. Com<br />
muita calma, as crianças foram pegando os<br />
tecidos coloridos, cada um escolhendo a cor<br />
e os tamanhos diferentes. De início, comecei<br />
a observar a afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns que<br />
promoveu um momento muito agradável <strong>de</strong><br />
cuidado um com o outro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fazer dormir,<br />
esten<strong>de</strong>r a coberta sobre o outro, pois estava<br />
frio, fazer vestidos, roupas, <strong>de</strong>itar-se sobre<br />
a cama, até rolavam sobre os tecidos. Alguns<br />
preferiram observar e não quiseram se<br />
envolver. “Colocar à disposição das crianças<br />
ou dos adultos diferentes tipos <strong>de</strong> objetos e<br />
observar a forma que eles os utilizam, como<br />
eles investem progressivamente, é, com efeito,<br />
muito rico em ensi<strong>na</strong>mentos”. (LAPIER-<br />
RE; AUCOUTURIER, 1986, p. 16).<br />
Momentos <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> e interações<br />
Uma brinca<strong>de</strong>ira simples e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor<br />
simbólico. Os bebês se envolveram e apresentaram<br />
vários comportamentos, expressões<br />
e criaram brinca<strong>de</strong>iras on<strong>de</strong> o mundo<br />
do faz <strong>de</strong> conta parecia ser real diante <strong>de</strong><br />
76 O corpo fala
tantas emoções e interações. Uma brinca<strong>de</strong>ira<br />
muito interessante que proporcionou<br />
um momento agradável para os bebês, o qual<br />
o corpo é quem fala e se expressa. A brinca<strong>de</strong>ira<br />
durou cerca <strong>de</strong> 30 minutos, até mesmo<br />
porque teríamos <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> às<br />
roti<strong>na</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens, mas acredito que<br />
po<strong>de</strong>ria ter se estendido, pois as crianças estavam<br />
muitos envolvidas.<br />
O brincar espontâneo abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
observar e escutar as crianças <strong>na</strong>s suas linguagens<br />
expressivas mais autênticas. Esse<br />
brincar incentiva a criativida<strong>de</strong> e constitui<br />
um dos meios essenciais <strong>de</strong> estimular o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>Infantil</strong> e as diversas aprendizagens.<br />
(FRIEDMANN, 2012, p. 47).<br />
Não tenho conhecimento técnico para avaliar<br />
cada comportamento, porém, <strong>de</strong> acordo<br />
com a minha experiência <strong>de</strong> professora<br />
<strong>de</strong> Educação Física, pu<strong>de</strong> observar a grandiosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma simples brinca<strong>de</strong>ira, as<br />
expressivida<strong>de</strong>s do grupo e até mesmo as<br />
individuais. Perceber o quanto os bebês se<br />
envolveram <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong> que abriu espaço<br />
para jogos, fantasias, aniversários, rei, rainha,<br />
entre outros. O valor simbólico nessas<br />
brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>senvolveu a criança num<br />
todo, pois todos os aspectos estavam envolvidos,<br />
estimulou a criativida<strong>de</strong> e possibilitou<br />
momentos <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> e interações.<br />
Referências<br />
FRIEDMANN, A. O brincar <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>:<br />
observação, a<strong>de</strong>quação e inclusão.<br />
São Paulo, Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, 2012.<br />
LAPIERRE, A.; LAPIERRE, A. O Adulto diante<br />
da criança <strong>de</strong> 0 a 3 anos: psicomotricida<strong>de</strong><br />
relacio<strong>na</strong>l e formação da perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>. 2.<br />
ed. Curitiba: UFPR, 2002.<br />
LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia<br />
do movimento: psicomotricida<strong>de</strong> e educação.<br />
Porto Alegre: Artes médicas, 1986.<br />
NISTA-PICCOLO, V.; MOREIRA, W. W. Corpo<br />
em movimento <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Telos, 2012.<br />
Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />
77
78<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Apren<strong>de</strong>ndo<br />
as diferenças<br />
por meio<br />
do esporte<br />
Fayola Daiane Bueno da Silva<br />
Ao educar a criança por meio da prática esportiva,<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, almeja-se difundir<br />
e reforçar a construção dos valores <strong>de</strong><br />
cidadania. Esse valor está intrinsecamente<br />
ligado à construção <strong>de</strong> um mundo melhor e<br />
mais pacífico, livre <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção.<br />
O entendimento da diversida<strong>de</strong><br />
huma<strong>na</strong> possibilita <strong>de</strong>ntro do espírito <strong>de</strong><br />
compreensão mútua: fraternida<strong>de</strong>, solidarieda<strong>de</strong>,<br />
cultura <strong>de</strong> paz e fair-play (jogo limpo).<br />
Por intermédio das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas,<br />
crianças constroem seus valores, seus conceitos,<br />
socializam-se e, principalmente, vivem<br />
a realida<strong>de</strong> (BRASIL, 1997).<br />
O esporte como um direito <strong>de</strong> todos está<br />
comprometido em promover as novas gerações<br />
um caminho estratégico para conciliar<br />
a transformação produtiva e a justiça social<br />
como pré-condição para <strong>de</strong>senvolvimento<br />
humano pleno. Assim, apropriando-se do esporte<br />
como um importante instrumento <strong>de</strong><br />
educação, vindo ao encontro das ativida<strong>de</strong>s
da XII Sema<strong>na</strong> da Pessoa com Deficiência do<br />
Município <strong>de</strong> Itajaí, o Projeto: Apren<strong>de</strong>ndo as<br />
diferenças por meio do esporte, apresentou<br />
para as crianças as modalida<strong>de</strong>s para<strong>de</strong>sportivas,<br />
acreditando que é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno,<br />
que se ensi<strong>na</strong> e se apren<strong>de</strong> a respeitar as diferenças.<br />
O objetivo do projeto foi oportunizar e apresentar<br />
às crianças peque<strong>na</strong>s o esporte paralímpico<br />
em sua totalida<strong>de</strong>, as diferentes modalida<strong>de</strong>s,<br />
as <strong>de</strong>ficiências dos atletas (físicas, visuais, intelectuais,<br />
auditivas e síndromes), e suas especificida<strong>de</strong>s.<br />
Além <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da criança como ser social, autônomo,<br />
<strong>de</strong>mocrático e participante, estimulando o pleno<br />
exercício da cidadania por intermédio do esporte,<br />
<strong>de</strong>spertando o senso crítico <strong>de</strong> respeito e<br />
igualda<strong>de</strong> perante as diferenças, <strong>de</strong>senvolvendo<br />
valores, promovendo o respeito, sentimento<br />
<strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>na</strong> prática do <strong>de</strong>sporto<br />
e a percepção das diferenças.<br />
Quando a criança brinca, ela <strong>de</strong>scobre e (re)<br />
significa o mundo, experimenta novos papéis<br />
sociais, sensações, coopera, cria, imagi<strong>na</strong> e se<br />
expressa. Baseado nessa premissa, Kishimoto<br />
aponta que:<br />
O brincar é uma ativida<strong>de</strong> principal do dia a dia.<br />
É importante porque dá o po<strong>de</strong>r à criança para<br />
tomar <strong>de</strong>cisões, expressar sentimentos e valores,<br />
conhecer a si, os outros e o mundo, repetir<br />
ações prazerosas partilhar brinca<strong>de</strong>iras com o<br />
outro, expressar sua individualida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />
explorar o mundo dos objetos, das pessoas,<br />
da <strong>na</strong>tureza e da cultura para compreendê-lo,<br />
usar o corpo, os sentidos, os movimentos, as<br />
várias linguagens para experimentar situações<br />
que lhe chamam a atenção, solucio<strong>na</strong>r problema<br />
e criar. (KISHIMOTO, 2010, p. 1).<br />
Primeiro passo<br />
A metodologia aplicada para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong>ste projeto foi pensada <strong>de</strong> maneira<br />
que realmente as crianças pu<strong>de</strong>ssem apren<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> forma clara e simples, apropriando-se<br />
em todos os momentos da ludicida<strong>de</strong> e do<br />
brincar.<br />
No início da primeira sema<strong>na</strong>, organizamos<br />
uma roda <strong>de</strong> conversa relatando sobre as<br />
<strong>de</strong>ficiências: o que é, por que a pessoa tem<br />
80 Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte
<strong>de</strong>ficiência, quais os tipos, quais as diferenças.<br />
Observei que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>sconhecia<br />
completamente o tema. Escutaram com atenção<br />
as explicações e as exemplificações dadas.<br />
A surpresa<br />
Logo após, as crianças souberam que, mesmo<br />
com <strong>de</strong>ficiências, algumas <strong>de</strong>ssas pessoas<br />
praticavam esportes em diversas modalida<strong>de</strong>s<br />
que elas já conheciam como: atletismo,<br />
futebol, vôlei, <strong>na</strong>tação, basquete, mas com<br />
adaptações, ou seja, atletismo (corridas com<br />
olhos vendados, saltos com uma per<strong>na</strong>), futebol<br />
para cegos (com os olhos vendados),<br />
voleibol sentado (pessoas saindo das ca<strong>de</strong>iras<br />
<strong>de</strong> rodas e sentando no chão para jogar),<br />
<strong>na</strong>tação (sem os braços), basquetebol em<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas. E também esportes que<br />
elas nunca viram como o bocha paralímpica<br />
(crianças jogando sentadas <strong>na</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
rodas com os movimentos comprometidos),<br />
paraciclismo. Após essa conversa, as crianças<br />
pu<strong>de</strong>ram visualizar tudo por meio <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os<br />
e imagens institucio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> paratletas<br />
praticando as diversas modalida<strong>de</strong>s para<strong>de</strong>sportivas.<br />
Praticando no CEI<br />
Na segunda sema<strong>na</strong>, por meio <strong>de</strong> jogos e<br />
brinca<strong>de</strong>iras, os alunos vivenciaram <strong>na</strong> prática<br />
alguns esportes adaptados como:<br />
Atletismo: Corrida às cegas – nessa ativida<strong>de</strong>,<br />
as crianças experimentaram a corrida<br />
para cegos. Individualmente, as crianças foram<br />
vendadas e em três etapas realizaram<br />
a ativida<strong>de</strong>: 1) ao si<strong>na</strong>l da Agente <strong>de</strong> Educação,<br />
elas corriam conduzidas pela professora<br />
um percurso <strong>de</strong> quinze metros; 2) sozinhos<br />
tinham que correr até o som (palmas) realizado<br />
pela professora; 3) uma criança sem a<br />
venda conduzia o amigo vendado.<br />
Futebol <strong>de</strong> 5 (para pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />
visual): Futebolzinho – com os olhos vendados,<br />
a criança conduzia a bola até o gol (uma<br />
vez com os pés e outra com as mãos), elas<br />
eram direcio<strong>na</strong>das pelo som emitido pela<br />
professora ou pela agente, posicio<strong>na</strong>da atrás<br />
do gol.<br />
Fayola Daiane Bueno da Silva<br />
81
Voleibol sentado: Sem Cair – sentadas no<br />
chão, divididas em duas turmas, as crianças<br />
tinham <strong>de</strong>, sem levantar o bumbum do chão,<br />
passar a bola por cima da re<strong>de</strong>, para o outro<br />
lado, porém, antes, a bola tinha que passar<br />
<strong>na</strong> mão <strong>de</strong> todos os amigos.<br />
Vivenciando com paratletas<br />
A primeira vivência foi realizada com paratletas<br />
da Associação <strong>de</strong> Deficientes Visuais <strong>de</strong><br />
Itajaí e Região (ADVIR). Na modalida<strong>de</strong> atletismo,<br />
um paratleta juntamente ao seu cão-guia<br />
(este que foi a maior atração para as crianças),<br />
falou das provas em que participava e da ajuda<br />
<strong>de</strong> seu cão no seu dia-a-dia. As crianças fizeram<br />
muitas perguntas, como, por exemplo:<br />
“Como você toma banho”, “Como o seu cão<br />
te auxilia nos trei<strong>na</strong>mentos?”. Na sequência,<br />
um atleta do paraciclismo foi apresentado,<br />
que levou sua bicicleta <strong>de</strong> competição. Após<br />
contar sua história, ele <strong>de</strong>u uma volta com sua<br />
bicicleta, sendo observado atentamente pelas<br />
crianças. Também tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conhecer o tabuleiro <strong>de</strong> xadrez adaptado e a<br />
bola com guizo on<strong>de</strong> jogamos o gooalbol.<br />
A segunda vivência foi com um paratleta do<br />
Bocha Paralímpica, da Associação <strong>de</strong> Pais e<br />
Amigos das Pessoas com Deficiência (AFADE-<br />
FI) <strong>de</strong> Balneário Camboriú e com um funcionário<br />
ca<strong>de</strong>irante da prefeitura municipal <strong>de</strong><br />
Itajaí. Em uma quadra <strong>de</strong> bocha, feita com fitas<br />
a<strong>de</strong>sivas brancas, o paratleta, mesmo com<br />
a fala e os movimentos comprometidos pela<br />
paralisia cerebral, usuário <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas,<br />
interagiu com as crianças, contando sua história<br />
<strong>de</strong> vida, sua trajetória no esporte e os benefícios<br />
que este trouxe para sua vida. Ele ainda<br />
jogou com as crianças. Mais uma vez foi muito<br />
prazeroso ver as crianças envolverem-se e<br />
sensibilizarem-se com o paratleta, curiosas e<br />
atentas, divertindo-se e apren<strong>de</strong>ndo.<br />
Chegando ao fim<br />
Na última sema<strong>na</strong>, levei alguns filmes e <strong>de</strong>senhos<br />
infantis que apresentavam crianças com<br />
82 Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte
<strong>de</strong>ficiência <strong>na</strong> escola. As crianças assistiram e<br />
i<strong>de</strong>ntificaram os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências e perceberam<br />
que <strong>na</strong> sua instituição também há crianças<br />
com <strong>de</strong>ficiência.<br />
Ao avaliar cada etapa realizada <strong>de</strong>ste projeto,<br />
constatei, por meio dos olhares curiosos<br />
e interessados, das atitu<strong>de</strong>s, das falas,<br />
as formas como os alunos se portavam e se<br />
expressavam diante <strong>de</strong>sse novo assunto.<br />
Des<strong>de</strong> o início, compreendi que, por serem<br />
tão pequenos, não iriam enten<strong>de</strong>r completamente<br />
o que é ter uma <strong>de</strong>ficiência, mas o<br />
maior objetivo foi dissemi<strong>na</strong>r este sentimento<br />
<strong>de</strong> compreensão e solidarieda<strong>de</strong> pela diferença<br />
dos outros, e que levassem por toda<br />
a vida esse sentimento <strong>de</strong> amor e respeito<br />
ao próximo.<br />
O término do projeto foi prazeroso, porque<br />
aprendi a não subestimar a inteligência das<br />
crianças, observando o reflexo da aprendizagem<br />
em seu <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>na</strong>s suas<br />
atitu<strong>de</strong>s. Com o Projeto “Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças<br />
por meio do esporte”, conclui que<br />
o professor <strong>de</strong>ve contribuir para a formação<br />
integral das crianças, possibilitando mudanças<br />
e reflexões para que sejam críticos e autônomos,<br />
capazes <strong>de</strong> viver em socieda<strong>de</strong> livres<br />
<strong>de</strong> preconceitos e capazes <strong>de</strong> respeitar<br />
a todos sem diferença.<br />
Referências<br />
BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental.<br />
Parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is: introdução<br />
aos parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.<br />
Brasília: MEC/SEF, 1997.<br />
KISHIMOTO, T. M. Brinquedo e brinca<strong>de</strong>iras<br />
<strong>na</strong> educação infantil. SEMINÁRIO NACIO-<br />
NAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO, Perspectivas<br />
Atuais, 1., Belo Horizonte, 2010. A<strong>na</strong>is<br />
eletrônicos...Belo Horizonte: CENPEC, 2010.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 8 jul. 2016.<br />
Fayola Daiane Bueno da Silva<br />
83
84<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Brincando <strong>de</strong><br />
Lanchonete!<br />
Jorge Luís da Silva<br />
A Educação <strong>Infantil</strong> evoluiu muito nos últimos<br />
anos. Assim sendo, é preciso repensar<br />
práticas e ações para garantir experiências<br />
que valorizem a aprendizagem no espaço<br />
coletivo. Momentos importantes da roti<strong>na</strong>,<br />
que <strong>na</strong> minha prática <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> Educação<br />
Física vem me <strong>de</strong>safiando, são o planejamento<br />
e a prática no momento da alimentação.<br />
“A alimentação é o momento importante<br />
para a nutrição da criança e aprendizagens<br />
relacio<strong>na</strong>das ao <strong>de</strong>senvolvimento da motricida<strong>de</strong><br />
fi<strong>na</strong> no manuseio dos utensílios <strong>na</strong>s<br />
refeições” (ITAJAÍ, 2015, p. 48.)<br />
Com um olhar atento e observando as especificida<strong>de</strong>s<br />
da roti<strong>na</strong> da alimentação, constatei<br />
que as crianças <strong>de</strong>ixavam cair seus<br />
pratos com frequência, muitas vezes por<br />
falta <strong>de</strong> atenção, pela coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora<br />
precoce ou pela falta <strong>de</strong> percepção espacial.<br />
Para algumas turmas, era uma novida<strong>de</strong>; no<br />
entanto, as crianças apresentavam uma certa<br />
insegurança. Objetivando avanços nesse<br />
aspecto, <strong>de</strong>senvolvi ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> equilíbrio,<br />
<strong>de</strong> lateralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> noção espacial. Estas<br />
possibilitaram que as crianças percebessem<br />
o espaço a sua volta e começassem a executar<br />
seus trajetos com mais segurança e<br />
<strong>de</strong>streza.
As ativida<strong>de</strong>s: simular para estimular<br />
Tendo como base a percepção espacial, o<br />
equilíbrio e a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora ampla,<br />
executamos brinca<strong>de</strong>iras simulando lanchonetes<br />
e restaurantes, em que as crianças se<br />
serviram e levaram os pratos à sua mesa.<br />
Pelo seu trajeto, passaram por alguns obstáculos<br />
como cones ou arcos (bambolês). As<br />
ativida<strong>de</strong>s foram dinâmicas e estimuladoras,<br />
instigando os alunos a não <strong>de</strong>ixarem as bolinhas<br />
caírem do seu prato e percorrerem caminhos<br />
que simulavam portas <strong>de</strong> restaurante<br />
e obstáculos, como mesas apresentando<br />
graus diferentes <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>.<br />
Com essa proposta, diversas áreas do conhecimento<br />
foram estimuladas, como o trabalho<br />
com quantida<strong>de</strong>s, texturas, tamanhos, pesos<br />
e cores. Os diferentes modos <strong>de</strong> manuseio <strong>de</strong><br />
uma criança para outra foram observados:<br />
segurar o prato por baixo <strong>na</strong>s laterais, com<br />
uma das mãos, com o auxílio dos braços...<br />
A aprendizagem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte<br />
da motivação: as necessida<strong>de</strong>s e os interesses<br />
das crianças são mais importantes que<br />
qualquer outra razão para que elas se <strong>de</strong>diquem<br />
a uma ativida<strong>de</strong>. Ser esperta, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
curiosa, ter iniciativa e confiança em<br />
sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir uma i<strong>de</strong>ia própria<br />
sobre as coisas, assim como expressar<br />
seu pensamento e sentimentos com convicção,<br />
são características inerentes à perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />
integral da criança. (FRIEDMANN,<br />
1996, p. 45).<br />
A ativida<strong>de</strong> foi executada <strong>de</strong> forma lúdica,<br />
sendo repetida algumas vezes em um período<br />
<strong>de</strong> dois meses. Almejou-se que a criança<br />
conseguisse assimilar as habilida<strong>de</strong>s e os<br />
conteúdos propostos pelo professor e, assim,<br />
conseguir adquiri-las, pois são necessárias<br />
para seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> da<br />
alimentação.<br />
Com muita alegria e entusiasmo, as crianças<br />
manuseavam seus pratos e equilibravam<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les diversas bolas <strong>de</strong> variados tamanhos.<br />
As crianças incorporaram as perso<strong>na</strong>gens<br />
e se sentiram os garçons mais importantes<br />
do momento. De acordo com as Diretrizes<br />
Curriculares Nacio<strong>na</strong>is, a criança é:<br />
86 Brincando <strong>de</strong> Lanchonete!
[...] o centro do planejamento curricular, é<br />
sujeito histórico e <strong>de</strong> direitos que, <strong>na</strong>s interações,<br />
relações e práticas cotidia<strong>na</strong>s que<br />
vivência, constrói sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal e<br />
coletiva, brinca, imagi<strong>na</strong>, fantasia, <strong>de</strong>seja,<br />
apren<strong>de</strong>, observa, experimenta, <strong>na</strong>rra, questio<strong>na</strong><br />
e constrói sentidos sobre a <strong>na</strong>tureza<br />
e a socieda<strong>de</strong>, produzindo cultura. (BRASIL,<br />
2009, p. 97).<br />
As contribuições<br />
Foi notável a evolução das crianças em relação<br />
às habilida<strong>de</strong>s motoras, principalmente<br />
nos aspectos <strong>de</strong> noção espacial e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção<br />
motora ampla. Notável também a aceitação<br />
e a alegria nos momentos da execução<br />
das ativida<strong>de</strong>s. Para o momento <strong>de</strong> alimentação,<br />
a ativida<strong>de</strong> contribuiu <strong>na</strong> questão da<br />
segurança ao caminhar e manusear o prato.<br />
Esse é o reflexo <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>senvolvido<br />
tendo sempre como objetivo a aprendizagem<br />
e o bem-estar das crianças <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s<br />
com evolução nos aspectos psicomotor, social<br />
e afetivo.<br />
Referências<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />
<strong>de</strong> Educação Básica. Diretrizes Curriculares<br />
Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong>. Brasília:<br />
MEC, SEB, 2009.<br />
FRIEDMAN, A. Brincar, crescer e apren<strong>de</strong>r: o<br />
resgate do jogo infantil. São Paulo: Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>,<br />
1996.<br />
ITAJAÍ. Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> Augusto<br />
Bento <strong>de</strong> Oliveira. Projeto Político Pedagógico.<br />
Itajaí, 2015.<br />
Jorge Luís da Silva<br />
87
88<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Quem quer<br />
pedalar põe o<br />
<strong>de</strong>do aqui!<br />
Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />
No Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> (CEI) é muito<br />
importante a participação da família nos<br />
processos educativos. Cabe ao CEI também<br />
oportunizar, em seu planejamento, momentos<br />
em que a família possa participar diretamente<br />
em suas ações. A Educação Física, <strong>na</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong>, po<strong>de</strong> ser uma ferramenta<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para os planejamentos que<br />
envolvam a comunida<strong>de</strong> escolar. A área tem<br />
ple<strong>na</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articular ações e processos<br />
que envolvam o corpo, o movimento<br />
e a socialização.<br />
Enfim, temos uma ferramenta que contribui<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança,<br />
permitindo a ela o contato com novas formas<br />
<strong>de</strong> interações, sem per<strong>de</strong>r o caráter lúdico e<br />
expressivo (GONÇALVES, 2010 p. 313). É preciso,<br />
assim, recuperar esse “tesouro corporal”,<br />
próprio da criança, e auxiliá-la em suas<br />
aprendizagens, oportunizando a aquisição<br />
<strong>de</strong> algumas competências necessárias ao<br />
seu aprendizado escolar e da vida.<br />
A criança e a sua família <strong>de</strong>vem ser incentivadas<br />
para ter uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>
90 Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!
vida, tendo uma vida ativa, saudável, prazerosa<br />
e harmoniosa. A saú<strong>de</strong>, prazer e equilíbrio<br />
são fundamentais para que as pessoas<br />
vivam bem. Depen<strong>de</strong> fundamentalmente da<br />
prática <strong>de</strong> hábitos saudáveis ou práticas básicas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (GUISSELINI, 2004, p. 70).<br />
A prática da ativida<strong>de</strong> física contribui para<br />
que as pessoas tenham uma melhor qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida. O andar <strong>de</strong> bicicleta po<strong>de</strong> ser<br />
comparado à caminhada ou até mesmo à<br />
corrida. Em um passeio <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40 minutos,<br />
três vezes por sema<strong>na</strong>, já é possível<br />
dar a<strong>de</strong>us a diversos problemas <strong>de</strong>correntes<br />
do se<strong>de</strong>ntarismo (TAVARES, 2016).<br />
Oportunizar às famílias a participação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
corporais, estabelecendo relações<br />
equilibradas e construtivas com os outros<br />
é um momento privilegiado em um passeio<br />
ciclístico. Reconhecer-se como elemento<br />
integrante do ambiente, adotando hábitos<br />
saudáveis <strong>de</strong> higiene, <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s corporais, relacio<strong>na</strong>ndo-os com<br />
os efeitos sobre a própria saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> melhoria<br />
da saú<strong>de</strong> coletiva.<br />
Dessa forma, este trabalho tornou público<br />
o passeio ciclístico, tendo como principal<br />
objetivo promover a prática da ativida<strong>de</strong> física<br />
com o uso da bicicleta, ativida<strong>de</strong> esta<br />
que envolve o corpo em movimento para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento físico-motor, visando uma<br />
melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e socialização das<br />
famílias.<br />
O corpo em movimento:<br />
o passeio ciclístico<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento da ação inicial <strong>de</strong>u-se<br />
com os alunos e seus familiares em frente à<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, recebendo a<strong>de</strong>sivos que<br />
os i<strong>de</strong>ntificavam, frutas e água. Em seguida,<br />
foi realizado o alongamento com um fundo<br />
musical e solicitado às famílias e seus filhos<br />
que o fizessem juntos. Nessa ativida<strong>de</strong> foi<br />
possível perceber o envolvimento, o entusiasmo<br />
e a alegria <strong>de</strong> eles participarem <strong>de</strong><br />
uma ativida<strong>de</strong> com um grupo tão gran<strong>de</strong> e<br />
muito acolhedor.<br />
Após o alongamento, foram realizadas duas<br />
dinâmicas com o objetivo <strong>de</strong> socialização.<br />
Foi formado um círculo em frente ao CEI e<br />
todos os participantes <strong>de</strong> mãos dadas ob-<br />
Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />
91
servaram quem estava ao seu lado direito e<br />
esquerdo. Foi frisado que eles não po<strong>de</strong>riam<br />
esquecer e nem trocar. Foi pedido a diretora<br />
que se encaminhasse para o centro da roda;<br />
então, ela “puxou” os <strong>de</strong>mais em um trajeto<br />
<strong>de</strong> caracol, até que ela ficasse no centro e<br />
os <strong>de</strong>mais em seu entorno. Enquanto estava<br />
enrolada, os componentes da fila tinham<br />
<strong>de</strong> passar por baixo dos <strong>de</strong>mais até que saíssem<br />
totalmente do centro. Todos tinham<br />
que seguir, pois ela estava <strong>de</strong> mão dada com<br />
o segundo, e assim por diante até passar o<br />
último integrante da fila. Algo interessante<br />
aconteceu, pois o círculo ficou <strong>de</strong> costas<br />
para o centro. Então, eles tiveram <strong>de</strong> encontrar<br />
uma forma <strong>de</strong> voltar para a posição inicial,<br />
em que todos ficassem <strong>de</strong> frente para o<br />
centro da roda. As famílias tiveram que resolver<br />
esse <strong>de</strong>safio, que foi conseguido com<br />
as sugestões e/ou orientações dos próprios<br />
componentes da equipe. Foi enfatizado,<br />
nesse momento, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />
um dos componentes para que a ativida<strong>de</strong><br />
obtivesse êxito.<br />
“Massageando o Amigo” foi a segunda dinâmica<br />
realizada. Ao som <strong>de</strong> uma música<br />
suave, foi solicitado que o grupo formasse<br />
duplas e, <strong>de</strong>pois, cada amigo tinha <strong>de</strong> fazer<br />
uma massagem no outro. Na sequência, os<br />
agentes <strong>de</strong> trânsito posicio<strong>na</strong>ram-se em locais<br />
estratégicos, dando total apoio e segurança<br />
aos participantes do passeio ciclístico<br />
e conduzindo os participantes pelas ruas do<br />
bairro.<br />
Os resultados: incentivo,<br />
socialização, bem-estar<br />
Foi muito expressiva a participação das famílias<br />
que estavam muito felizes no evento.<br />
Proporcio<strong>na</strong>r momentos prazerosos e que<br />
possam servir para a adoção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s que<br />
visam o bem-estar e a saú<strong>de</strong> é um dos objetivos<br />
da equipe do CEI. A i<strong>de</strong>ia do passeio foi<br />
incentivar a prática da ativida<strong>de</strong> física, pois,<br />
<strong>na</strong> criança, o movimento é o que impulsio<strong>na</strong><br />
as significações do apren<strong>de</strong>r. Isso ocorre<br />
porque a criança se apropria daquilo que<br />
po<strong>de</strong> experimentar corporalmente e o seu<br />
pensamento é construído, inicialmente, por<br />
meio da ação.<br />
Servir como referência para a mudança <strong>de</strong><br />
postura <strong>na</strong> adoção <strong>de</strong> hábitos saudáveis e<br />
92 Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!
usufruir da presença das famílias é um dos<br />
eixos que se baseia a Educação Física, que<br />
vê <strong>na</strong> socialização um modo <strong>de</strong> utilizar a linguagem<br />
do movimento para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da autonomia e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> corporal,<br />
por meio da ampliação do conhecimento das<br />
práticas corporais.<br />
A ativida<strong>de</strong> do passeio ciclístico oportunizou,<br />
também, um estreitamento <strong>na</strong>s relações<br />
entre os profissio<strong>na</strong>is do CEI e as famílias, visando<br />
sempre o bem-estar das crianças. Participar<br />
com os seus amigos e suas famílias<br />
<strong>de</strong> um passeio ciclístico, além <strong>de</strong> ampliar o<br />
círculo social das crianças, oportuniza o seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento biopsicossocial.<br />
Referências<br />
GONÇALVES, F. Psicomotricida<strong>de</strong> & Educação<br />
Física. São Paulo: Cultura RBL, 2010.<br />
GUISELINI, M. Aptidão física, saú<strong>de</strong> e bem<br />
-estar: fundamentos teóricos e exercícios<br />
práticos. São Paulo: Phorte, 2004.<br />
TAVARES, L. Conheça sete benefícios <strong>de</strong> andar<br />
<strong>de</strong> bicicleta. Minha Vida. Catraca livre.<br />
2016. Disponível em: .<br />
Acesso em: 2 jun. 2016.<br />
Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />
93
94<br />
Práticas <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
A magia<br />
das cores<br />
sobre o corpo<br />
Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />
Como principal instrumento <strong>de</strong> trabalho das<br />
aulas <strong>de</strong> Educação Física, o corpo passa a<br />
ser visto <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong>ntro do Centro <strong>de</strong><br />
Educação <strong>Infantil</strong> Nossa Senhora das Graças.<br />
Com o início das aulas <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong>,<br />
no ano <strong>de</strong> 2014, iniciou-se um novo movimento,<br />
com novas possibilida<strong>de</strong>s - o corpo<br />
passa a ser visto <strong>de</strong> outras formas, passa a<br />
executar novos movimentos. Quanto maior o<br />
<strong>de</strong>safio, maior o interesse e satisfação.<br />
Após familiarizarmo-nos e exercitarmo-nos<br />
durante todo o ano, fez-se necessária uma<br />
ativida<strong>de</strong> especial para o encerramento das<br />
aulas <strong>de</strong> Educação Física, momento que<br />
crianças <strong>de</strong> 3 a 5 anos participariam, <strong>de</strong> uma<br />
forma inesquecível, do sentir e do reconhecer<br />
cada parte <strong>de</strong> seu corpo e exercitariam<br />
suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação. Por meio da<br />
ativida<strong>de</strong> A magia das cores sobre o corpo,<br />
as crianças pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>ixar a imagi<strong>na</strong>ção<br />
fluir, transformando-se em tudo o que <strong>de</strong>sejassem.
A magia<br />
Com tinta guache e um espaço <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong>,<br />
<strong>de</strong>senvolvemos a ativida<strong>de</strong>. Com quatro<br />
cores dispostas para cada aluno, iniciamos<br />
um processo <strong>de</strong> novas sensações, <strong>de</strong>slizando<br />
as mãos com tinta pelo corpo, possibilitando<br />
uma experiência diferenciada. Conforme o<br />
Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l para a Educação<br />
<strong>Infantil</strong>:<br />
A aquisição da consciência dos limites do<br />
próprio corpo é um aspecto importante do<br />
processo <strong>de</strong> diferenciação do eu e do outro<br />
e da construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Por meio das<br />
explorações que faz, do contato físico com<br />
outras pessoas, da observação daqueles<br />
com quem convive, a criança apren<strong>de</strong> sobre<br />
o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela<br />
linguagem corporal. (BRASIL, 1998, p. 5).<br />
A sensação da tinta em contato com o corpo,<br />
a cada movimento das mãos ou dos <strong>de</strong>dos<br />
pintando, se pintando, <strong>de</strong>scobria-se uma<br />
nova sensação, uma <strong>de</strong>scoberta sobre seu<br />
próprio corpo. Aos poucos as crianças foram<br />
se apropriando e tomando consciência das<br />
dimensões do seu corpo.<br />
Durante a ativida<strong>de</strong>, os alunos pu<strong>de</strong>ram fazer<br />
suas escolhas em relação às cores que<br />
gostariam <strong>de</strong> usar, como e on<strong>de</strong> pintar seu<br />
próprio corpo. Elas vivenciaram uma prática<br />
diferenciada, ampliaram suas possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> movimento e controle motor, estimularam<br />
e aprimoraram, assim, o sistema sensório<br />
motor.<br />
Durante o ano <strong>de</strong> 2014, o foco das aulas <strong>de</strong><br />
Educação Física foi o corpo. Tendo como<br />
objetivo principal conhecer esse corpo, aos<br />
poucos os alunos foram se percebendo e as<br />
possíveis possibilida<strong>de</strong>s e formas <strong>de</strong> utilizar<br />
o próprio corpo para brincar com prazer. A<br />
práxis huma<strong>na</strong> é essa unida<strong>de</strong> indissolúvel<br />
entre conhecimento e ações sobre o mundo,<br />
o que nos tor<strong>na</strong>m sujeitos com capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> transformação e criação. Transformar o<br />
mundo, expressá-lo e expressar-se são condições<br />
próprias dos seres humanos (FREIRE,<br />
1983).<br />
Foram <strong>de</strong>senvolvidos vários trabalhos importantes<br />
para que as crianças compreen<strong>de</strong>ssem<br />
o corpo como um todo e suas sensações.<br />
Na primeira etapa, confeccio<strong>na</strong>mos<br />
um cartaz com as medidas <strong>de</strong> todos os colegas,<br />
para que visualizassem a altura <strong>de</strong><br />
cada um. Na segunda etapa, <strong>de</strong>senvolvemos<br />
ativida<strong>de</strong>s com foco em movimentos do corpo<br />
com o corpo. Ginástica, massagem, ativida<strong>de</strong>s<br />
corporais em grupo. Carregar um<br />
colega e rolar por cima do corpo dos colegas<br />
foram algumas das ativida<strong>de</strong>s preferidas<br />
dos grupos. Na terceira etapa, os <strong>de</strong>safios<br />
só aumentaram. Pilhas <strong>de</strong> colchões, mesas,<br />
bancos, re<strong>de</strong>s e cordas penduradas e escada<br />
tor<strong>na</strong>ram-se gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios, e cada um<br />
passou a reconhecer e/ou a vencer seus limites.<br />
No entanto, o sorriso e a euforia sempre<br />
estavam presentes durante as aulas.<br />
Durante o ano, pu<strong>de</strong> perceber que o “material<br />
mais mágico” para as crianças, em ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora fi<strong>na</strong>, era a tinta<br />
guache. Sempre que trabalhávamos com<br />
ela, em alguma ativida<strong>de</strong>, parecia hipnotizá<br />
-los - a felicida<strong>de</strong> tomava conta do momento.<br />
Dessa forma, baseada em experiências da<br />
Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l, resolvi aplicar<br />
a ativida<strong>de</strong> do banho <strong>de</strong> tinta, voltada ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> uma consciência corporal.<br />
No início do mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2014, utilizando<br />
o maior espaço da creche, <strong>de</strong>senvolvemos<br />
a ativida<strong>de</strong> com duas turmas por vez.<br />
Com uma lo<strong>na</strong> estendida no chão, os alunos<br />
foram colocados sentados, espalhados pelo<br />
espaço. Todos os alunos estavam ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong><br />
trajes <strong>de</strong> banho para que pu<strong>de</strong>ssem aproveitar<br />
a ativida<strong>de</strong> ao máximo sem se preocupar<br />
com o fato <strong>de</strong> sujarem-se. Com todos os alunos<br />
acomodados, cada aluno recebeu quatro<br />
cores diferentes <strong>de</strong> tinta guache dispostas<br />
em copinhos <strong>de</strong>scartáveis. A professora <strong>de</strong><br />
Educação Física participou junto aos alunos,<br />
servindo <strong>de</strong> referência e fazendo o fechamento<br />
dos vínculos já estabelecidos durante<br />
o ano. A curiosida<strong>de</strong> e a euforia diante dos<br />
copinhos <strong>de</strong> tinta tomaram conta <strong>de</strong> todos.<br />
A ativida<strong>de</strong> teve início com a escolha da cor<br />
preferida <strong>de</strong> cada um, a qual <strong>de</strong>veria ser passada<br />
<strong>na</strong> testa, utilizando os <strong>de</strong>dos. Durante<br />
toda a ativida<strong>de</strong>, utilizamos ape<strong>na</strong>s o corpo<br />
e as tintas. Inicialmente, as perguntas começaram<br />
a aparecer: “Professora, e agora?<br />
Po<strong>de</strong> passar <strong>na</strong> per<strong>na</strong>? E no braço?”.<br />
Começaram assim as obras <strong>de</strong> arte por todo<br />
o corpo; vários <strong>de</strong>senhos; várias cores. Alguns<br />
mais tímidos, outros com medo: “Será<br />
96 A magia das cores sobre o corpo
que posso mesmo me sujar?”. Uma colega<br />
precisou da ajuda da professora para entrar<br />
<strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira - aos poucos ela se esqueceu<br />
<strong>de</strong> seus medos e se envolveu com o grupo.<br />
A sensação da tinta em contato com o corpo,<br />
a cada movimento das mãos <strong>de</strong>slizando,<br />
era uma nova <strong>de</strong>scoberta sobre seu próprio<br />
eu. Aos poucos as crianças foram se apropriando<br />
e tomando consciência das dimensões<br />
do seu corpo.<br />
Os sentidos sensoriais são a porta <strong>de</strong> entrada<br />
para aprendizagem no corpo humano.<br />
Explorar técnicas que privilegiam o uso dos<br />
sentidos auxilia a captação dos mais diversos<br />
conteúdos. “Maria Montessori <strong>de</strong>fendia<br />
que o caminho do intelecto passa pelas<br />
mãos, porque é por meio do movimento e do<br />
toque que as crianças exploram e <strong>de</strong>codificam<br />
o mundo ao seu redor. ‘A criança ama<br />
tocar os objetos para <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>r reconhecê-los’,<br />
disse certa vez”. (GOLDSCHMIDT et<br />
al., 2008, s/p).<br />
A todo momento, eles perguntavam se po<strong>de</strong>ria<br />
pintar esta ou aquela parte do corpo.<br />
Cada um se pintou com as cores preferidas,<br />
alguns coloriram cada parte do corpo com<br />
uma cor, outros misturaram todas as cores<br />
e passaram pelo corpo. Cada um com o seu<br />
jeito e preferência. Após colorirem todo o<br />
corpo on<strong>de</strong> alcançavam, as crianças começaram<br />
a pedir ajuda aos colegas para colorir<br />
as costas. Surgiram, então, vários <strong>de</strong>senhos.<br />
A criativida<strong>de</strong> e a imagi<strong>na</strong>ção tomaram conta<br />
<strong>de</strong> todos.<br />
No primeiro momento, cada um <strong>de</strong>senhou e<br />
coloriu o seu corpo. No segundo momento,<br />
era a hora <strong>de</strong> estabelecer as parcerias, reforçar<br />
a confiança. Foi o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar<br />
no corpo do amigo e disponibilizar-se para o<br />
outro. De acordo com Lapierre e Aucouturier<br />
(2004), o prazer estabelecido com o outro<br />
e o entendimento envolvem, muitas vezes, a<br />
compreensão, a aceitação e o respeito, resultando<br />
<strong>na</strong> socialização dos indivíduos. Nessa<br />
relação, o outro po<strong>de</strong> ser encarado como um<br />
instrumento <strong>de</strong> ajuda <strong>na</strong>s <strong>de</strong>mais relações.<br />
Após a maioria estar com quase todo o corpo<br />
pintado, as meni<strong>na</strong>s afirmaram para os meninos:<br />
“Não po<strong>de</strong> pintar o cabelo!”. Eles olharam<br />
para a professora com carinhas cheias<br />
<strong>de</strong> dúvidas. “Será que não po<strong>de</strong>? O corpo<br />
não está todo colorido? Então, o cabelo também<br />
faz parte do corpo!”.<br />
Dessa forma, eu escolhi uma das cores e disse:<br />
“O meu cabelo faz parte do meu corpo,<br />
não é?”. Assim, passei a cor azul por algumas<br />
mechas do meu cabelo. Eles ficaram<br />
surpreendidos e tor<strong>na</strong>ram a entrar <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />
novamente, pintando seus cabelos<br />
com uma ou mais cores. As meni<strong>na</strong>s inventaram<br />
maquiagens, penteados e máscaras<br />
exuberantes.<br />
As cores, a alegria e as parcerias estavam<br />
estabelecidas no gran<strong>de</strong> grupo. Era motivo<br />
<strong>de</strong> festa. Após todas as cores estarem misturadas,<br />
tor<strong>na</strong>ndo-se ape<strong>na</strong>s uma, comecei<br />
o processo <strong>de</strong> volta à calma. Aos poucos, comecei<br />
o banho <strong>de</strong> mangueira para remover<br />
toda a tinta, proporcio<strong>na</strong>ndo, assim, vários<br />
momentos <strong>de</strong> prazer.<br />
Nesse momento, a professora <strong>de</strong> Educação<br />
Física <strong>de</strong>u o banho <strong>de</strong> mangueira e as agentes<br />
<strong>de</strong> educação auxiliaram no processo <strong>de</strong><br />
secar e vestir as crianças para retor<strong>na</strong>rem<br />
aos momentos <strong>de</strong> roti<strong>na</strong> da creche. De fato,<br />
conforme o Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l<br />
para a Educação <strong>Infantil</strong>:<br />
Propiciar a interação quer dizer, portanto,<br />
consi<strong>de</strong>rar que as diferentes formas <strong>de</strong> sentir,<br />
expressar e comunicar a realida<strong>de</strong> pelas<br />
crianças resultam em respostas diversas<br />
que são trocadas entre elas e que garantem<br />
parte significativa <strong>de</strong> suas aprendizagens.<br />
Uma das formas <strong>de</strong> propiciar essa troca é a<br />
socialização <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>scobertas, quando o<br />
professor organiza as situações para que as<br />
crianças compartilhem seus percursos individuais<br />
<strong>na</strong> elaboração dos diferentes trabalhos<br />
realizados. (BRASIL, 1998, p. 31).<br />
Cuidados e vínculos reforçados<br />
Foi uma experiência inovadora. O recurso<br />
utilizado possibilitou a exploração <strong>de</strong> movimentos<br />
corporais e a utilização <strong>de</strong> todos os<br />
sentidos sensoriais. 99% dos alunos participaram<br />
da ativida<strong>de</strong> com prazer. Ape<strong>na</strong>s uma<br />
criança não quis se envolver <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong>, já<br />
<strong>de</strong> início. Dessa forma, ela ficou a observar<br />
<strong>de</strong> longe como preferiu.<br />
Durante a ativida<strong>de</strong>, pu<strong>de</strong> perceber que as<br />
Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />
97
98 A magia das cores sobre o corpo
Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />
99
noções <strong>de</strong> esquema corporal já estavam integradas,<br />
as <strong>de</strong>scobertas foram as sensações<br />
causadas pela tinta <strong>na</strong>s diferentes partes do<br />
corpo, estimulando, assim, os sistemas sensoriais.<br />
A prática, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lúdica,<br />
fornece subsídio para a criança observar,<br />
interagir, experimentar, investigar e formar<br />
vínculos, facilitando os processos <strong>de</strong> ensino<br />
aprendizagem, auxiliando nos processos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> seus próprios limites e do seu<br />
próprio “Eu”.<br />
O cuidado com o corpo e os vínculos afetivos<br />
foram reforçados no grupo. Assim sendo,<br />
os objetivos da ativida<strong>de</strong> foram amplamente<br />
alcançados. Enfatizo, <strong>de</strong>ssa forma, a importância<br />
<strong>de</strong> inovar e arriscar mais ativida<strong>de</strong>s<br />
diferenciadas para proporcio<strong>na</strong>r o prazer a<br />
todos os envolvidos.<br />
Referências<br />
BRASIL. Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l<br />
para a Educação <strong>Infantil</strong>: Introdução, volume<br />
1. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />
FREIRE, P. Educação como prática <strong>de</strong> mudanças.<br />
15. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />
1983.<br />
GOLDSCHMIDT, A. I. et al. A importância do<br />
lúdico e dos sentidos sensoriais humanos <strong>na</strong><br />
aprendizagem do meio ambiente. 2008. Disponível<br />
em: . Acesso em: 15 set.<br />
2015.<br />
LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia<br />
do movimento: psicomotricida<strong>de</strong> e educação.<br />
3 ed. Curitiba, PR: Filosofart, 2004.<br />
100 A magia das cores sobre o corpo
Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />
101
Práticas <strong>de</strong> Educação Física<br />
<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Créditos<br />
Secretário <strong>de</strong> Educação<br />
Edison D’Ávila<br />
Direção Geral<br />
Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora Técnica<br />
Prof.ª Dra. Sandra Cristi<strong>na</strong> Vanzuita da Silva<br />
Diretora da Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />
Prof.ª Sueli da Costa<br />
Organização:<br />
Prof.ª A<strong>na</strong> Paula Rudolf Dagnoni<br />
Prof.ª Débora Adami Domingos<br />
Prof.ª Fer<strong>na</strong>nda Seara Cera<br />
Prof.ª Lidiane <strong>de</strong> Souza Candido<br />
Prof.ª Meri Margareth Rodrigues<br />
Prof.ª Nazedir <strong>de</strong> Amorim <strong>de</strong> Menezes<br />
Prof.ª Uiara Bertholdi Vargas<br />
Apoio:<br />
Prof.ª Daniela Christiane da Silva dos Santos<br />
Diagramação<br />
Bresciani Design | Lucas Bresciani<br />
Revisão<br />
Janete Bridon