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Práticas de Educacao-Fisica-na-Educacao-Infantil

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Práticas <strong>de</strong> Educação Física<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>


Palavra do<br />

Secretário<br />

Prof. Edison d’Ávila<br />

Secretário Municipal <strong>de</strong> Educação


A escola <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é entendida pela<br />

Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação como um lugar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas e <strong>de</strong> ampliação das experiências<br />

individuais, culturais, sociais e educativas,<br />

através da inserção da criança em ambientes<br />

distintos dos da família. Um espaço e um tempo<br />

que necessitam contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança, seu mundo <strong>de</strong> vida e sua subjetivida<strong>de</strong>.<br />

É um contexto social e cultural que envolve,<br />

através das inúmeras experiências, a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> promover vivências num espaço <strong>de</strong> formação<br />

integral.<br />

Acreditando nesta concepção é que criamos<br />

uma política que integrou profissio<strong>na</strong>is da área da<br />

Educação Física <strong>na</strong>s escolas <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

da Re<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>mos que a Educação Física<br />

tem um papel fundamental <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />

pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r às crianças<br />

uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências, através <strong>de</strong> situações<br />

<strong>na</strong>s quais elas possam criar, inventar, <strong>de</strong>scobrir<br />

movimentos novos, reelaborar conceitos e<br />

i<strong>de</strong>ias sobre o movimento e suas ações.<br />

Além disso, é um espaço para que, através <strong>de</strong><br />

situações <strong>de</strong> experiências – com o corpo, com<br />

materiais e <strong>de</strong> interação social – as crianças<br />

<strong>de</strong>scubram os próprios limites, enfrentem <strong>de</strong>safios,<br />

conheçam e valorizem o próprio corpo,<br />

relacionem-se com outras pessoas, percebam a<br />

origem do movimento, expressem sentimentos,<br />

utilizando a linguagem corporal, localizem-se no<br />

espaço, entre outras situações voltadas ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s intelectuais<br />

e afetivas, numa atuação consciente e crítica.<br />

As práticas publicadas nesta edição, <strong>de</strong>monstram<br />

a serieda<strong>de</strong> e o compromisso <strong>de</strong>stes profissio<strong>na</strong>is<br />

com a concepção <strong>de</strong> ensino proposta<br />

pela Secretaria. Observamos nos relatos <strong>de</strong>scritos,<br />

como esta área do conhecimento contribui<br />

para a efetivação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, comprometido com os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança e com a formação <strong>de</strong><br />

sujeitos emancipados.


Sumário<br />

Prefácio ................................................................................................................................... 6<br />

Educação Física e suas contribuições para Educação <strong>Infantil</strong> ................................. 8<br />

O encontro da Educação Física com os pequenos .................................................. 10<br />

Luz <strong>na</strong> passarela que la vem eles!<br />

Camila <strong>de</strong> Oliveira ............................................................................................................... 12<br />

Relaxamento <strong>na</strong> educação infantil<br />

Ricardo da Costa Pereira ................................................................................................... 16<br />

Ginca<strong>na</strong> do Movimento<br />

Leandro Aguiar ................................................................................................................... 20<br />

Bal<strong>de</strong>s dançantes<br />

Eliton Clayton Rufino Seára............................................................................................ 26<br />

Corpo, campo e movimento<br />

Solange Maria Nunes........................................................................................................ 32<br />

Movimentos <strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras com bebês<br />

Solange Maria Nunes ....................................................................................................... 40<br />

O eu, o outro e o nós:<br />

jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Heitor Luiz Furtado ............................................................................................................ 44


Projeto Shantala Toque <strong>de</strong> amor<br />

Camila da Silva Gomes das Neves .............................................................................. 50<br />

Me encaixa nessa caixa<br />

Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério .................................................................................... 54<br />

Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar<br />

Marcia Eliane Lorenzoni .................................................................................................. 60<br />

Interagindo com a Diversida<strong>de</strong><br />

Rodrigo Zapparoli ............................................................................................................. 66<br />

O corpo fala<br />

Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil ................................................................................................ 72<br />

Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte<br />

Fayola Daiane Bueno da Silva ....................................................................................... 78<br />

Brincando <strong>de</strong> Lanchonete!<br />

Jorge Luís da Silva ........................................................................................................... 84<br />

Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!<br />

Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza ..................................................................................................... 88<br />

A magia das cores sobre o corpo<br />

Leticia Gra<strong>na</strong>do .................................................................................................................. 94


6<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Prefácio<br />

Marynelma Camargo Garanhani<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná


Seja qual for o sonho comece... ousadia tem<br />

genealida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r!<br />

Empresto estes dizeres <strong>de</strong> Goethe para iniciar<br />

o prefácio <strong>de</strong>sta revista a qual mostra o protagonismo<br />

<strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino que<br />

ousou oferecer para suas crianças peque<strong>na</strong>s um<br />

novo projeto <strong>de</strong> educação. Uma educação em<br />

que o corpo em movimento ganhou <strong>de</strong>staque<br />

<strong>na</strong>s orientações pedagógicas e práticas docentes,<br />

como uma linguagem da infância.<br />

Neste cenário, a genealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores fez<br />

com que as crianças pu<strong>de</strong>ssem vivenciar, nos<br />

Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> <strong>de</strong> Itajaí, experiências<br />

<strong>de</strong> movimento fasci<strong>na</strong>ntes, divertidas e criativas.<br />

Enfim, experiências brincantes, <strong>na</strong>s quais o<br />

corpo pula e se movimenta com alegria, o corpo<br />

dança e constrói coreografias, o corpo se <strong>de</strong>safia<br />

e explora o mundo, o corpo se expressa e no<br />

seu movimentar se comunica.<br />

Para isto, foi necessário a ousadia da gestão municipal<br />

inserir, neste contexto <strong>de</strong> educação institucio<strong>na</strong>l,<br />

professores licenciados em Educação<br />

Física, os quais são especialistas em educação<br />

do corpo em movimento. E, por meio <strong>de</strong> práticas<br />

corporais infantis, integradas aos saberes da<br />

Educação <strong>Infantil</strong> e <strong>de</strong> seus professores, realizam<br />

um trabalho educativo do movimento como<br />

uma linguagem da criança.<br />

A leitura dos primeiros textos da revista possibilita<br />

a compreensão do processo da inserção <strong>de</strong><br />

professores da Educação Física <strong>na</strong> Educação<br />

<strong>Infantil</strong> <strong>de</strong> Itajaí. E, a ousadia <strong>de</strong> integrar saberes<br />

<strong>de</strong> diferentes profissio<strong>na</strong>is responsáveis pela<br />

educação da criança peque<strong>na</strong>, mostrou a construção<br />

<strong>de</strong> parcerias, não hierarquizadas, entre<br />

diferentes profissio<strong>na</strong>is da educação que atuam<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Mostrou, também, a genealida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pensar não mais em professores<br />

generalistas ou especialistas, mas em professores<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> (Ayoub, 2001)<br />

Os relatos das experiências <strong>de</strong> movimento que<br />

a revista nos oferece à leitura, nos mostram o<br />

quanto este projeto <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>u certo!!! E<br />

parabenizo a gestão municipal responsável por<br />

este feito!!!<br />

Para fi<strong>na</strong>lizar empresto novamente os dizeres <strong>de</strong><br />

Goethe para consi<strong>de</strong>rar que ousadia é uma palavra<br />

mágica, ouse e o po<strong>de</strong>r lhe será dado... ou<br />

seja, a Secretaria da Educação <strong>de</strong> Itajaí ousou e<br />

nesta revista apresenta resultados <strong>de</strong> muito trabalho.<br />

Não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> participar da formação continuada<br />

dos professores <strong>de</strong> Educação Física que passaram<br />

a integrar a Educação <strong>Infantil</strong> do município<br />

e convido os leitores a conhecer relatos <strong>de</strong> experiências<br />

<strong>de</strong>sses professores com as crianças.<br />

Vamos à leitura!!!


8<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Educação<br />

Física e suas<br />

contribuições<br />

para Educação<br />

<strong>Infantil</strong><br />

Prof.ª Dr.ª Sandra Cristi<strong>na</strong><br />

Vanzuita da Silva<br />

Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora Técnica<br />

Prof.ª Cristiane <strong>de</strong> Cássia Heusi<br />

Álvares Silva<br />

Ao ingressar <strong>na</strong> escola, a criança sofre consi<strong>de</strong>rável<br />

impacto físico-emocio<strong>na</strong>l, pois até então sua vida<br />

era exclusivamente <strong>de</strong>dicada aos brinquedos e ao<br />

ambiente familiar. Nesta fase, a Educação Física<br />

<strong>de</strong>tém séria responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve proporcio<strong>na</strong>r à<br />

criança oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a confiança<br />

em si mesma, a compreensão do ambiente e a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comunicação.<br />

Cada criança possui inúmeras maneiras <strong>de</strong> pensar,<br />

jogar, brincar, falar, escutar e se movimentar. Por<br />

meio <strong>de</strong>stas diferentes linguagens é que se comunicam<br />

no seu cotidiano, no convívio familiar e social,<br />

construindo sua cultura e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> infantil. Através<br />

do movimento, utiliza seu corpo como forma <strong>de</strong><br />

interagir com outras crianças e com o meio, produzindo<br />

culturas. Estas culturas estão embasadas em<br />

valores como a ludicida<strong>de</strong>, a criativida<strong>de</strong> e também<br />

<strong>na</strong>s experiências vividas por meio da expressão corporal<br />

(SAYÃO, 1997).<br />

É preciso ter o entendimento <strong>de</strong> que a linguagem<br />

corporal <strong>de</strong>ve ultrapassar o dualismo cartesiano entre<br />

o corpo e mente. O ser humano é uno, portanto<br />

a expressão corporal também é sentimento e pensamento.<br />

Devemos pensar o ser humano, <strong>de</strong> forma<br />

integrada, cada qual <strong>de</strong>senvolvendo o ensino com<br />

ênfase <strong>na</strong> formação adquirida, contudo sem dicotomizá-lo.<br />

Faz-se necessário, levar em conta também<br />

a importância do movimento, inclusive para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento e a manutenção<br />

da atenção. Assim propõe-se que sejam propiciadas<br />

situações especialmente planejadas para trabalhar<br />

as várias dimensões do movimento com as crianças.<br />

Conforme a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacio<strong>na</strong>l - LDB 9.394/1996 art.26 inciso 3, “a educação<br />

física, integrada à proposta pedagógica da escola,<br />

é componente curricular obrigatório da educação<br />

básica.” Sendo assim, o papel da Educação Física no<br />

processo educativo, é auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do indivíduo como um ser social,<br />

contribuir para a saú<strong>de</strong> e fazê-lo reconhecer as suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s físicas (BRASIL, 1997).<br />

Além do que <strong>de</strong>fine a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases, é preciso<br />

também consi<strong>de</strong>rar o que si<strong>na</strong>lizam as Diretrizes<br />

Curriculares Nacio<strong>na</strong>is Gerais para a Educação<br />

Básica que <strong>de</strong>finem em seu Cap. I Seção I que, “A<br />

Educação <strong>Infantil</strong> tem por objetivo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

integral da criança em seus aspectos físico,<br />

afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando<br />

a ação da família e da comunida<strong>de</strong>.” (BRASIL,<br />

2010).<br />

Consi<strong>de</strong>rando as prerrogativas legais e as disposições<br />

teóricas que embasam a área, o município <strong>de</strong><br />

Itajaí incorpora ao quadro <strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>is dos Centros<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, o professor (a) <strong>de</strong> Educação<br />

Física. A proposta tem como objetivo principal o<br />

atendimento das crianças <strong>de</strong> 0 a 5 anos, enten<strong>de</strong>ndo<br />

a infância como um tempo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s específicas,<br />

on<strong>de</strong> as formas <strong>de</strong> ver e explicar o mundo<br />

são traduzidas em movimentos, <strong>na</strong>s diferentes formas<br />

<strong>de</strong> expressão e <strong>na</strong> comunicação das crianças.<br />

A contratação dos Profissio<strong>na</strong>is:<br />

o início <strong>de</strong> uma história<br />

A integração do Professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong> é uma política pública da Secretaria<br />

Municipal <strong>de</strong> Educação que aten<strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> 0 a<br />

6 anos. Através do concurso público 004/2011, a administração<br />

pública efetivou no ano <strong>de</strong> implantação<br />

do trabalho, 38 (trinta e oito) professores, além da<br />

efetivação ocorreu ainda a contratação em caráter<br />

temporário <strong>de</strong> 26 (vinte e seis) profissio<strong>na</strong>is.<br />

Concluído os processos <strong>de</strong> contratação e efetivação,<br />

os profissio<strong>na</strong>is apresentaram-se <strong>na</strong>s unida<strong>de</strong>s para<br />

reconhecimento dos espaços, materiais disponíveis


e roti<strong>na</strong>s das crianças. Neste momento, a Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>doria<br />

Técnica elaborou um instrumento <strong>de</strong> coleta<br />

para i<strong>de</strong>ntificar o perfil do Professor <strong>de</strong> Educação<br />

Física que atuará <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>.<br />

Alguns indicadores foram priorizados: gênero, formação<br />

acadêmica, atuação <strong>na</strong> área. Os dados apontaram<br />

que a composição etária <strong>de</strong>stes professores<br />

é formada <strong>na</strong> sua maioria entre 25 e 35 anos. Onze<br />

por cento são acima <strong>de</strong> 50 anos. Quanto ao gênero<br />

a composição do grupo é equilibrada. Em relação<br />

à formação inicial, constatou-se que a maioria tem<br />

sua formação inicial pela Universida<strong>de</strong> do Vale do<br />

Itajaí (UNIVALI), porém aparecem outras instituições<br />

como UNIFEBE e FURB. Noventa e sete por cento<br />

possuem formação inicial, com curso superior completo,<br />

ou seja, temos um número significativo <strong>de</strong><br />

profissio<strong>na</strong>is habilitados. Destes setenta e oito por<br />

cento dos profissio<strong>na</strong>is possuem especialização,<br />

sessenta e sete por cento com uma pós-graduação<br />

e vinte e sete com duas.<br />

Ao serem questio<strong>na</strong>dos sobre as leituras a respeito<br />

da infância, <strong>na</strong> formação especialmente <strong>na</strong> faixa<br />

etária <strong>de</strong> 0 a 5 anos, setenta e um por cento afirmam<br />

ter realizado leituras sobre a infância. Em relação<br />

a experiência <strong>na</strong> área, sessenta e três por cento<br />

já realizou trabalhos com crianças nesta faixa etária.<br />

E trinta e cinco por cento não <strong>de</strong>senvolveu nenhuma<br />

ativida<strong>de</strong> com crianças <strong>de</strong> 0 a 5 anos.<br />

Além do perfil os professores respon<strong>de</strong>ram sobre<br />

suas expectativas em relação a este trabalho. As respostas<br />

foram: realizar um ótimo trabalho, contribuir<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e aprendizagem<br />

das crianças, experimentar novas vivências. Apesar<br />

das respostas mostrarem expectativas boas em relação<br />

ao trabalho, gran<strong>de</strong> parte dizia não possuir conhecimento<br />

<strong>de</strong>sta faixa etária e precisar <strong>de</strong> suporte<br />

<strong>de</strong> materiais, bem como <strong>de</strong> formação continuada.<br />

Os professores também foram indagados sobre suas<br />

principais dúvidas em relação a este trabalho. Uma<br />

peque<strong>na</strong> parcela respon<strong>de</strong>u como planejar, falta<br />

<strong>de</strong> experiência, material e espaço físico e, a gran<strong>de</strong><br />

maioria respon<strong>de</strong>u, conseguir planejar <strong>de</strong>ntro da roti<strong>na</strong><br />

ou não respon<strong>de</strong>u. Neste item observa-se que<br />

o planejamento ainda é um instrumento <strong>de</strong> roti<strong>na</strong><br />

e não é utilizado como guia para a organização do<br />

trabalho pedagógico. Isto se confirma novamente<br />

ao serem perguntado sobre a concepção <strong>de</strong> planejamento,<br />

a gran<strong>de</strong> maioria respon<strong>de</strong>u que serve<br />

para Organização dos conteúdos em cada turma e<br />

50%não respon<strong>de</strong>ram.<br />

A partir do conhecimento do perfil traçamos um planejamento<br />

da formação continuada que superasse<br />

o mo<strong>de</strong>lo histórico reprodutivista e <strong>de</strong> atualização<br />

<strong>de</strong> conteúdos exclusivamente teóricos, mas que tomasse<br />

como eixo formador o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

competências necessárias ao bom <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do trabalho.<br />

Nessa perspectiva, valorizamos um mo<strong>de</strong>lo mais indagativo<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos, <strong>de</strong> modo<br />

a levar ao exercício do protagonismo <strong>de</strong> quem planeja,<br />

executa e avalia sua própria formação. Ou seja,<br />

superar a visão individualista <strong>de</strong> que basta fornecer<br />

mais informações; recompor o equilíbrio entre os esquemas<br />

práticos predomi<strong>na</strong>ntes e os esquemas teóricos<br />

inovadores; refletir sobre situações práticas e<br />

gerar mudanças <strong>na</strong> cultura escolar tradicio<strong>na</strong>l, bem<br />

como incentivar a mudança e a inovação.<br />

Como resultado da formação continuada os professores<br />

e professoras <strong>de</strong> Educação Física têm <strong>de</strong>senvolvido<br />

práticas <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> que proporcio<strong>na</strong>m<br />

espaços em que a criança apren<strong>de</strong>, brinca, se<br />

<strong>de</strong>senvolve, se relacio<strong>na</strong> com outras crianças, dialoga,<br />

<strong>de</strong>senvolve seus aspectos cognitivos, sociais,<br />

afetivos. E isso é essencial, já que é a primeira experiência<br />

educacio<strong>na</strong>l da criança fora do ambiente familiar,<br />

longe dos pais, que são os meios <strong>de</strong> proteção.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que todo o processo <strong>de</strong> implantação<br />

da Educação Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é um momento<br />

oportuno para os educadores físicos reivindicarem<br />

seu espaço nesta etapa da Educação Básica,<br />

para realização <strong>de</strong> práticas que instiguem discussões<br />

e uma reflexão mais profunda sobre o papel<br />

<strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l e sua valiosa contribuição para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da criança.<br />

A presença <strong>de</strong> um professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong> é a comunicação, a compreensão,<br />

a leitura, a interação e o envolvimento, a promoção<br />

da evolução da criança por intermédio das manifestações<br />

corporais, do movimento, do jogo e das ativida<strong>de</strong>s<br />

lúdicas. Essas capacida<strong>de</strong>s são exercitadas<br />

pelos profissio<strong>na</strong>is que, conscientes da importância<br />

das primeiras comunicações não verbais entram em<br />

comunicação corporal com as crianças e promovem<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento integral. (ROCHA, s/d)


10<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

O encontro da<br />

educação física<br />

com os pequenos:<br />

A inserção do Professor <strong>de</strong><br />

Educação Física<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Respeitar e ampliar o direito do livre movimento<br />

do corpo infantil é o objetivo principal da inserção<br />

do profissio<strong>na</strong>l da Educação Física <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong> da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Ensino<br />

<strong>de</strong> Itajaí. A presença <strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> primeira<br />

etapa da educação básica permite que,<br />

as crianças peque<strong>na</strong>s e os adultos vivenciem<br />

novas experiências, aprendizagens e ampliem<br />

<strong>de</strong> forma significativa as linguagens e as diferentes<br />

formas <strong>de</strong> expressão.<br />

Des<strong>de</strong> que o trabalho iniciou nos Centros <strong>de</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong>, a linguagem do movimento<br />

é resgatada e aperfeiçoada cotidia<strong>na</strong>mente<br />

pelo profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação Física em parceria<br />

com os profissio<strong>na</strong>is da Pedagogia. Para<br />

que o trabalho se efetive e atinja seus objetivos,<br />

a Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> procura<br />

estabelecer um diálogo constante entre estes<br />

profissio<strong>na</strong>is, no sentido <strong>de</strong> alinhar as práticas<br />

cotidia<strong>na</strong>s às publicações curriculares que estruturam<br />

o currículo.<br />

O eixo do trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelo do profissio<strong>na</strong>l<br />

<strong>de</strong> Educação Física que atua <strong>na</strong> Educação<br />

<strong>Infantil</strong> da re<strong>de</strong> pública municipal <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong> Itajaí é compreen<strong>de</strong>r a linguagem do<br />

movimento como uma referência para práticas<br />

que permitam a livre expressão, a multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> experiências corporais e transmitam<br />

a i<strong>de</strong>ia da dimensão corporal, a partir das roti<strong>na</strong>s<br />

intencio<strong>na</strong>lmente planejadas pelos profissio<strong>na</strong>is.<br />

Para tanto, o currículo é estruturado a<br />

partir das premissas das Diretrizes Curriculares<br />

Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong> (BRASIL,<br />

2009), Diretrizes Curriculares Municipais para<br />

Educação <strong>Infantil</strong> do Município <strong>de</strong> Itajaí (ITAJAÍ,<br />

2015), além do acompanhamento <strong>de</strong> pesquisas<br />

e publicações da área que enriquecem nossas<br />

reflexões cotidia<strong>na</strong>s.<br />

Vários estudos da área da Pedagogia, Filosofia<br />

e Sociologia têm também se <strong>de</strong>bruçado a<br />

(re) afirmar a importância do movimento para<br />

a aprendizagem e o <strong>de</strong>senvolvimento da primeira<br />

infância. E, a escola da primeira infância<br />

<strong>de</strong>ve ser o espaço intencio<strong>na</strong>lmente planejado<br />

e preparado para que a criança possa manifestar<br />

seus movimentos <strong>de</strong> forma leve e <strong>na</strong>tural,<br />

vivendo cotidia<strong>na</strong>mente experiências que favoreçam<br />

o brincar e suas relações com seus pares<br />

para a ampliação <strong>de</strong> seus significados.<br />

É no brincar que a criança apren<strong>de</strong> e se apropria<br />

do mundo ao seu redor. Por meio do brincar, a<br />

criança manifesta e se apropria <strong>de</strong> linguagens.<br />

Ela dá significados à sua realida<strong>de</strong> por meio da<br />

imagi<strong>na</strong>ção e da fantasia. Desse modo, estabelece<br />

relações e apren<strong>de</strong> sobre os papéis sociais<br />

do mundo em que está inserida. Além disso,<br />

<strong>de</strong>senvolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar ações conjuntas<br />

com outras crianças, <strong>de</strong> expressar i<strong>de</strong>ias<br />

e opiniões, controlar e ajustar o próprio comportamento<br />

com o das <strong>de</strong>mais crianças. Partindo<br />

<strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, percebe-se que no


fazer pedagógico da Educação <strong>Infantil</strong>, <strong>de</strong>vem<br />

ser contempladas as diferentes linguagens que<br />

a criança utiliza para a apropriação e construção<br />

<strong>de</strong> conhecimentos, por meio da ação <strong>de</strong><br />

brincar. (GARANHANI; NADOLNY, 2015).<br />

O brincar possibilita que as crianças com seus<br />

pares e com o seu próprio corpo <strong>de</strong>scubra seu<br />

limite, valorize sua imagem, compreenda suas<br />

possibilida<strong>de</strong>s e perceba a origem <strong>de</strong> cada<br />

movimento. Diante disto, é necessário que os<br />

profissio<strong>na</strong>is da primeira infância se comprometam<br />

com esta educação integradora e que<br />

seja efetivamente garantido no cotidiano dos<br />

Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, momentos <strong>de</strong> interação<br />

e brinca<strong>de</strong>ira.<br />

Para acompanhar, assessorar, observar e orientar<br />

o professor <strong>de</strong> Educação Física <strong>na</strong>s instituições<br />

que aten<strong>de</strong>m crianças peque<strong>na</strong>s, a<br />

Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> procura articular<br />

os saberes da formação inicial dos professores<br />

<strong>de</strong> Educação Física com os saberes que<br />

vem se constituindo <strong>na</strong>s práticas dos Centros<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Esta articulação vem se<br />

constituindo por meio do programa <strong>de</strong> formação<br />

continuada. Os professores participam <strong>de</strong><br />

encontros presenciais mensais, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> garantir uma aproximação contínua com os<br />

profissio<strong>na</strong>is e um acompanhamento sistemático<br />

das práticas. Além <strong>de</strong> encontros presenciais,<br />

há também um Ambiente Virtual <strong>de</strong> Aprendizagem<br />

on<strong>de</strong> ocorre o armaze<strong>na</strong>mento e troca<br />

<strong>de</strong> informações dos profissio<strong>na</strong>is, garantindo<br />

total interação entre eles. As formações são<br />

pautadas numa concepção <strong>de</strong> que a teoria e a<br />

prática <strong>de</strong>vem caminhar juntas num processo<br />

<strong>de</strong> reflexão sobre a ação. Além do programa<br />

<strong>de</strong> formação continuada, as Supervisoras <strong>de</strong><br />

Gestão da Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, em<br />

suas visitas <strong>de</strong> assessoramento às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ensino, acompanham as práticas pedagógicas,<br />

o planejamento e registro, as reflexões da sua<br />

prática e as sugestões <strong>de</strong> novas experiências.<br />

Após três anos <strong>de</strong> implantação da Educação<br />

Física nos Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é possível<br />

observar que a cada ano se constrói novas<br />

formas <strong>de</strong> pensar a atuação <strong>de</strong>ste profissio<strong>na</strong>l<br />

<strong>na</strong> re<strong>de</strong>, sobretudo no sentido <strong>de</strong> qualificar o<br />

atendimento das crianças peque<strong>na</strong>s e ampliar o<br />

campo <strong>de</strong> atuação do Profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação<br />

Física. As observações dos momentos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

com as crianças e o Profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação<br />

Física nos espaços <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

tem representado um momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração,<br />

alegria, mas principalmente <strong>de</strong> ampliação<br />

<strong>de</strong> movimentos para a primeira infância.<br />

Referências:<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria <strong>de</strong><br />

Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is<br />

para a Educação <strong>Infantil</strong>. Brasília: 2009.<br />

GARANHANI, Marynelma Camargo, NA-<br />

DOLNY, Lore<strong>na</strong> <strong>de</strong> F. Movimento do corpo<br />

<strong>Infantil</strong>: uma linguagem da criança. Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná/Curitiba, 2015. Disponível<br />

em http://www.acervodigital.unesp.br/<br />

handle/123456789/447?locale=pt_BR. Acesso<br />

em: 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2016.<br />

ITAJAÍ, Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação. Diretrizes<br />

Municipais para a Educação <strong>Infantil</strong>.<br />

Itajaí, 2015.


12<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Luz <strong>na</strong><br />

passarela<br />

que la<br />

vem eles!<br />

Camila <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ao iniciar o ano letivo, anseios relacio<strong>na</strong>dos<br />

ao trabalho da Educação Física com a turma<br />

do Berçário I estiveram presentes em meu<br />

dia a dia, pela nova experiência ao se trabalhar<br />

com bebês e, também, pela preocupação<br />

constante em como atingir positivamente o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento motor, cognitivo e afetivo<br />

dos bebês.<br />

Por meio <strong>de</strong> pesquisas e leituras, percebi<br />

que, <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia<br />

disponibilizar o maior número possível <strong>de</strong> experiências,<br />

propiciando novos conhecimentos<br />

aos envolvidos no processo <strong>de</strong> ensino e<br />

aprendizagem. Durante essa importante fase,<br />

a criança começa a relacio<strong>na</strong>r-se com o meio<br />

físico e social, e a Educação Física com sua<br />

abrangência <strong>de</strong> conteúdos e possibilida<strong>de</strong>s<br />

metodológicas consegue propiciar esses momentos<br />

<strong>de</strong> forma prazerosa e significativa.<br />

De acordo com Gallahue e Ozmun (2005),<br />

as crianças que frequentam a Educação <strong>Infantil</strong><br />

expan<strong>de</strong>m seus horizontes com muita


facilida<strong>de</strong>, enfatizando suas próprias perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s,<br />

aprimorando e <strong>de</strong>senvolvendo habilida<strong>de</strong>s,<br />

além <strong>de</strong> testar seus limites e os do<br />

que fazem parte <strong>de</strong> seu convívio.<br />

Um dos principais objetivos da Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é enfatizar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s motoras<br />

auxiliando as crianças a tor<strong>na</strong>rem-se conscientes<br />

do seu potencial <strong>de</strong> movimentos,<br />

conseguindo realizá-los com confiança e<br />

<strong>de</strong>streza pelos ambientes do Centro <strong>de</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong>. Dessa maneira, meu objetivo<br />

principal foi estimular a aquisição e o<br />

aperfeiçoamento das habilida<strong>de</strong>s motoras<br />

básicas (andar, engatinhar, rolar, manter-se<br />

em pé, <strong>de</strong>ntre outros) dos bebês da turma<br />

do Berçário I do Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Nilton <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, localizado no bairro<br />

Itaipava. E os objetivos específicos foram os<br />

seguintes: explorar os <strong>de</strong>safios oferecidos<br />

pela ativida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>slocar-se com autonomia e<br />

<strong>de</strong>streza pelos espaços; adquirir e aperfeiçoar<br />

gradativamente movimentos <strong>de</strong> locomoção<br />

(engatinhar, sentar, andar, subir, <strong>de</strong>scer,<br />

etc.); adquirir e aperfeiçoar movimentos corporais<br />

(levantar a cabeça, girar o pescoço,<br />

sustentar o tronco, manter-se em pé, etc.);<br />

adquirir e aperfeiçoar gradativamente movimentos<br />

<strong>de</strong> estabilização (<strong>de</strong>itar, rolar, rastejar,<br />

apoiar, girar, etc.).<br />

Passarela <strong>de</strong> apoio:<br />

locomoção e estabilização<br />

Percebendo que a turma do Berçário I apresentava<br />

uma faixa etária entre quatro (4) meses a<br />

um (1) ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, resolvi criar algo que facilitasse<br />

meu trabalho e auxiliasse <strong>de</strong> maneira<br />

positiva no aperfeiçoamento e <strong>na</strong> aquisição <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s motoras básicas necessárias aos<br />

bebês. Como <strong>de</strong>staca Piaget (1971), as crianças<br />

<strong>de</strong> zero até dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> encontram-se<br />

no Estágio sensório-motor, quando se inicia o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ções motoras.<br />

Nesse período, a criança ten<strong>de</strong> a apren<strong>de</strong>r a<br />

diferenciar os objetos do próprio corpo ligando<br />

seus pensamentos ao concreto.<br />

Ao a<strong>na</strong>lisar o repertório já apresentado pelos<br />

bebês, tanto das habilida<strong>de</strong>s quanto das dificulda<strong>de</strong>s,<br />

criei um objeto intitulado “Passarela<br />

<strong>de</strong> apoio” para que os bebês conseguissem<br />

aperfeiçoar e adquirir com mais facilida<strong>de</strong> as<br />

habilida<strong>de</strong>s motoras básicas <strong>de</strong> locomoção e<br />

14 Luz <strong>na</strong> passarelaque la vem eles!


estabilização. Essa “Passarela <strong>de</strong> apoio” foi confeccio<strong>na</strong>da<br />

com tábuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras, cabos <strong>de</strong><br />

vassoura (utilizado para que os bebês se apoiassem),<br />

espuma para proteger as laterais, evitando<br />

possíveis aci<strong>de</strong>ntes. Para fi<strong>na</strong>lizar essa confecção,<br />

foi colocado um tapete parecido com<br />

grama sintética para possibilitar a utilização<br />

sem calçado e o contato com uma textura diferenciada.<br />

Com os cabos <strong>de</strong> vassoura <strong>na</strong>s laterais, os bebês<br />

podiam se segurar ficando em pé, como também<br />

tentar alguns passinhos com e sem auxílio<br />

das educadoras envolvidas <strong>na</strong>quele momento.<br />

Meu trabalho com essa “Passarela <strong>de</strong> apoio” foi<br />

realizado por alguns meses, buscando em cada<br />

aula atingir meus objetivos específicos. Alguns<br />

já se locomoviam até o objeto. Nosso incentivo,<br />

então, era para que se agarrassem e se levantassem.<br />

Para outros, o incentivo era direcio<strong>na</strong>do<br />

para a locomoção até o objetivo, e, assim, foi<br />

possível observar a firmeza que os bebês apresentavam<br />

- alguns ao se firmarem arriscavam<br />

passos. Assim, nossa observação efetivava-se<br />

em estímulos <strong>de</strong> superar dificulda<strong>de</strong>s e auxiliar<br />

<strong>na</strong>s habilida<strong>de</strong>s apresentadas.<br />

A locomoção é um aspecto fundamental no<br />

aprendizado do movimentar-se, envolve a projeção<br />

do corpo no espaço externo, alterando<br />

sua localização, ativida<strong>de</strong>s como caminhar, correr,<br />

pular e saltar obstáculos são movimentos<br />

locomotores fundamentais. (GALLAHUE; OZ-<br />

MUN, 2005, p. 252).<br />

O primeiro contato com esse objeto foi enriquecedor<br />

tanto para mim, como educadora, quanto<br />

para os bebês envolvidos <strong>na</strong>quele momento.<br />

Quando entrei <strong>na</strong> sala <strong>de</strong> aula, todos ficaram<br />

atentos olhando para o objeto. Nesse dia, meu<br />

objetivo era permitir a vivência perante o objeto<br />

construído, ou seja, o foco era observar como<br />

os bebês utilizariam a passarela. E assim cada<br />

bebê utilizou da sua interpretação diante do<br />

objeto novo, explorando-o com <strong>de</strong>talhes, uns<br />

sentaram, <strong>de</strong>itaram, rolaram, brincaram com o<br />

tapete, mor<strong>de</strong>ram o espaço macio, se seguraram<br />

nos cabos <strong>de</strong> vassoura para ficarem em pé,<br />

e outros nem se aproximaram do objeto.<br />

Nas aulas posteriores que a “Passarela <strong>de</strong><br />

apoio” foi utilizada, meus objetivos específicos<br />

começaram a ser colocados em ação. Procurei<br />

realizar as ativida<strong>de</strong>s estimulando cada um individualmente,<br />

po<strong>de</strong>ndo, assim, potencializar as<br />

habilida<strong>de</strong>s e também auxiliar <strong>na</strong>s dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cada bebê, respeitando sempre os limites<br />

individuais <strong>de</strong> cada um. Percebi que a aquisição<br />

<strong>de</strong> novas habilida<strong>de</strong>s motoras por parte dos<br />

bebês aconteceu <strong>de</strong> maneira mais prazerosa e<br />

significativa. Não relato aqui que começaram a<br />

caminhar, ou a realizar outros movimentos <strong>de</strong><br />

locomoção e <strong>de</strong> estabilização <strong>de</strong>vido ao objeto,<br />

mas afirmo que este teve gran<strong>de</strong> importância<br />

nesse processo, pois auxiliou <strong>de</strong> maneira positiva<br />

<strong>na</strong> aquisição e no aperfeiçoamento das<br />

habilida<strong>de</strong>s necessárias ao dia a dia dos bebês.<br />

Foram algumas aulas para que todos os bebês<br />

estabelecessem uma relação <strong>de</strong> segurança<br />

com a “Passarela <strong>de</strong> apoio”. No entanto, com o<br />

passar do tempo, conquistas foram sendo feitas<br />

e todos eles a utilizaram sem medo, dando<br />

cada dia uma função diferente ao objeto.<br />

Além das expectativas<br />

Meus objetivos com esse instrumento foram alcançados,<br />

mas não me permito diagnosticar o<br />

êxito totalmente ao meu objeto criado, pois a<br />

criança <strong>de</strong>senvolve-se <strong>na</strong>turalmente, mas afirmo<br />

que a estimulação auxilia com muito mais<br />

proprieda<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento dos bebês. Assim,<br />

posso categorizar que meu objeto <strong>de</strong> trabalho<br />

auxiliou e muito no <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> autonomia nos <strong>de</strong>safios, no <strong>de</strong>slocamento<br />

com <strong>de</strong>streza e no aperfeiçoamento<br />

<strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> locomoção.<br />

Com esse trabalho e objeto <strong>de</strong> apoio, obtive<br />

satisfação ao ver o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

crianças, pois se me propus a criar um objeto,<br />

imaginei algo que me facilitasse o trabalho,<br />

mas este foi além das minhas expectativas,<br />

pois ofereceu estímulo aos pequenos. Para<br />

nós educadoras, criar um objeto digno <strong>de</strong> outra<br />

profissão (marceneiro) como instrumento<br />

para <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s <strong>na</strong> educação é<br />

como se escrevêssemos um livro <strong>de</strong> palavras<br />

técnicas para teorizar as práticas pedagógicas.<br />

Referências<br />

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreen<strong>de</strong>ndo<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento motor: bebês, crianças,<br />

adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte,<br />

2005.<br />

PIAGET, J. A epistemologia genética. Tradução<br />

Natha<strong>na</strong>el C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971.<br />

Camila <strong>de</strong> Oliveira<br />

15


16<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Relaxamento <strong>na</strong><br />

educação infantil<br />

Ricardo da Costa Pereira<br />

Des<strong>de</strong> que <strong>na</strong>scem, as crianças vivenciam<br />

experiências corporais e, progressivamente,<br />

apropriam-se <strong>de</strong> movimentos para a integração<br />

com o mundo. Por meio do movimento,<br />

apren<strong>de</strong>m sobre si mesmas, relacio<strong>na</strong>m-se<br />

com o outro e com os objetos, <strong>de</strong>senvolvem<br />

suas capacida<strong>de</strong>s e apren<strong>de</strong>m habilida<strong>de</strong>s. O<br />

movimento, portanto, é um recurso utilizado<br />

pela criança para o seu conhecimento e do<br />

meio em que se insere, para expressar seu<br />

pensamento e também experimentar relações<br />

com pessoas e objetos. O movimento,<br />

para a criança, significa muito mais do que<br />

mexer partes do corpo ou <strong>de</strong>slocar-se no espaço,<br />

o movimento é linguagem (CURITIBA,<br />

2009).<br />

Conforme o artigo 29 da Lei nº 9.394 - Lei<br />

<strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacio<strong>na</strong>l,<br />

a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> da Educação <strong>Infantil</strong> é proporcio<strong>na</strong>r<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança<br />

em todos os aspectos, físico, intelectual,<br />

linguístico, afetivo e social, visando complementar<br />

a educação recebida <strong>na</strong> família e em<br />

toda a comunida<strong>de</strong> em que a criança vive<br />

(BRASIL, 1996). Dessa forma, um dos compromissos<br />

da Educação <strong>Infantil</strong> é oferecer<br />

as crianças diferentes formas <strong>de</strong> manifestar


seu conhecimento, estimulando todas as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> elas expressarem sua criativida<strong>de</strong><br />

- inclui-se, aqui, os movimentos.<br />

Partindo do pressuposto <strong>de</strong> que a prática<br />

pedagógica com o movimento <strong>de</strong>verá proporcio<strong>na</strong>r<br />

à criança o conhecimento <strong>de</strong> seu<br />

corpo e das suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> movimentação,<br />

o domínio <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> expressão e<br />

comunicação e, como consequência, a apropriação<br />

/ ampliação <strong>de</strong> saberes das práticas<br />

<strong>de</strong> movimento da cultura infantil, justifica-se<br />

a realização do presente projeto, por aten<strong>de</strong>r<br />

três eixos recomendados por Garanhani:<br />

• Autonomia e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> corporal: referem-se<br />

às aprendizagens que envolvem<br />

o corpo em movimento para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

físico-motor, proporcio<strong>na</strong>ndo<br />

assim o domínio e a consciência do<br />

corpo, condições estas necessárias para<br />

a autonomia e a formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

corporal infantil.<br />

• Socialização: implica <strong>na</strong> compreensão<br />

<strong>de</strong> movimentos do corpo como uma forma<br />

<strong>de</strong> linguagem, utilizada <strong>na</strong> e pela interação<br />

com meio social.<br />

• Ampliação do conhecimento das práticas<br />

corporais infantis: envolver aprendizagens<br />

das práticas <strong>de</strong> movimentos que<br />

constituem e ampliam a cultura infantil,<br />

<strong>na</strong> qual a criança se encontra inserida.<br />

(GARANHANI, 2002 apud CURITIBA,<br />

2009, p. 11).<br />

Quando as crianças peque<strong>na</strong>s trabalham em<br />

pequenos grupos com ativida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas<br />

ao seu nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e a seus interesses<br />

(jogos, experimentações, brinca<strong>de</strong>iras),<br />

passam a construir sequências <strong>de</strong> trabalho<br />

em que se mostram capazes <strong>de</strong> inventar e <strong>de</strong>senvolver<br />

iniciativas. Estudos também têm <strong>de</strong>monstrado<br />

que, em ambientes <strong>de</strong> convivência<br />

coletiva, as crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo adquirem<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>r-se com parceiros<br />

diversos. Esses momentos po<strong>de</strong>m ajudar as<br />

crianças a compreen<strong>de</strong>r sentimentos e conflitos<br />

e alcançar também sua satisfação emocio<strong>na</strong>l.<br />

As interações criança/criança são ricas em<br />

conteúdos e variam nos diferentes contextos,<br />

em consequência <strong>de</strong> elementos como o tamanho<br />

do grupo, os objetos disponíveis, o tipo <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m auxiliar <strong>na</strong> construção da<br />

ética e do respeito pelo outro (SILVA, 2013).<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a Educação Física é uma<br />

discipli<strong>na</strong> que tem gran<strong>de</strong> relevância <strong>na</strong> Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, pois po<strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r às<br />

crianças momentos <strong>de</strong> novas experiências,<br />

contatos com outras pessoas que não sejam<br />

as do seu ambiente familiar, <strong>de</strong>scobertas, percepções<br />

sobre seu próprio corpo a partir da<br />

realização <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, a Educação Física<br />

atrelada à Educação <strong>Infantil</strong> contribui para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento integral das crianças.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa perspectiva, objetivamos com<br />

este trabalho relatar a experiência vivida<br />

com crianças <strong>de</strong> três a seis anos que frequentavam<br />

o Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Padre Jacob, localizado no bairro São Vicente,<br />

Itajaí. A ativida<strong>de</strong> a ser apresentada<br />

buscou conduzir uma reflexão sobre a valorização<br />

e o planejamento <strong>de</strong> práticas pedagógicas<br />

que contemplem o movimento como<br />

uma linguagem da criança.<br />

O objetivo geral <strong>de</strong>ste projeto foi proporcio<strong>na</strong>r<br />

<strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física técnicas<br />

<strong>de</strong> relaxamento para crianças da Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, com o intuito <strong>de</strong> acalmá-las para<br />

as ativida<strong>de</strong>s seguintes da roti<strong>na</strong> escolar,<br />

oportunizar momentos <strong>de</strong> bem estar e <strong>de</strong>scanso,<br />

além <strong>de</strong> estimular sua percepção e<br />

conscientização corporal e promover a sua<br />

socialização.<br />

Baseado em Nista-Picocolo e Moreira (2012),<br />

a ativida<strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> relaxamento foi a<br />

massagem com bolinhas. Foi necessário<br />

os materiais <strong>de</strong> apoio: colchonetes, músicas<br />

calmas e bolinhas (firmes e macias). A<br />

aula <strong>de</strong> Educação Física teve como objetivo<br />

<strong>de</strong>spertar o sentir, perceber e i<strong>de</strong>ntificar as<br />

partes do corpo, compreen<strong>de</strong>r os efeitos da<br />

massagem. O conteúdo atitudi<strong>na</strong>l visou <strong>de</strong>spertar<br />

a empatia, cuidado com o colega, estímulo,<br />

percepção e a conscientização corporal.<br />

O espaço para sua realização ocorreu<br />

tanto <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula, quanto <strong>na</strong> área<br />

exter<strong>na</strong> da escola.<br />

Desenvolvimento da ativida<strong>de</strong><br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> contou inicialmente<br />

com a disposição das crianças<br />

sentadas em roda para dialogar sobre o significado<br />

da massagem. O professor conduziu<br />

a plenária perguntando se já realizaram<br />

18 Relaxamento <strong>na</strong> educação infantil


em alguém ou já receberam a massagem -<br />

nesse caso, po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>monstrar a técnica<br />

em alguém.<br />

Após, com a música <strong>de</strong> fundo, foi solicitado<br />

aos alunos que fechassem seus olhos e respirassem<br />

tranquilamente, buscando silenciar<br />

os pensamentos. Nessa etapa da aula,<br />

po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>dicar mais tempo, para os alunos<br />

conseguirem silenciar por mais tempo. Em<br />

alguns momentos, ainda mais no primeiro<br />

contato com essa experiência, muitos apresentaram<br />

dificulda<strong>de</strong>s em concentrar-se.<br />

Na sequência, foi oferecido para duplas uma<br />

bolinha e solicitado que cada integrante da<br />

dupla massagiasse alguma parte do próprio<br />

corpo e <strong>de</strong>pois experimentasse massagear o<br />

colega. A i<strong>de</strong>ia é que as crianças conseguissem<br />

i<strong>de</strong>ntificar as partes do corpo que estão<br />

sendo massageadas. Então, o professor foi<br />

di<strong>na</strong>mizando a proposta para que passassem<br />

pelas partes do corpo e conseguissem<br />

memorizá-las. Caso algumas partes do corpo<br />

não fossem i<strong>de</strong>ntificadas, o professor sugeriu<br />

que fossem massageadas, complementando<br />

as informações nomeando-as. Assim sendo,<br />

a sequência didática da aula contou com as<br />

seguintes etapas: 1) Conceito <strong>de</strong> massagem;<br />

2) Técnicas <strong>de</strong> respiração, 3) Massagem individual<br />

e coletiva, 4) Conhecimento das diferentes<br />

partes do corpo humano.<br />

Benefícios da ativida<strong>de</strong> <strong>na</strong> fase infantil<br />

Dado o exposto, verificou-se a necessária articulação<br />

entre Educação Física e Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, prevendo projetos pedagógicos que<br />

fomentem o conhecimento corporal e técnicas<br />

<strong>de</strong> relaxamento. Sua prática no cotidiano<br />

escolar po<strong>de</strong> auxiliar a amenizar a hiperativida<strong>de</strong>,<br />

o estresse, a insônia e ansieda<strong>de</strong><br />

dos educandos.<br />

No nível bioquímico, ocorreu um aumento<br />

da liberação <strong>de</strong> endorfi<strong>na</strong>s – os hormônios<br />

do bem-estar – e a criança sentiu-se feliz. A<br />

circulação sanguínea também foi favorecida<br />

e toxi<strong>na</strong>s removidas – o que é ótimo para o<br />

sistema nervoso em pleno <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O padrão respiratório também melhorou,<br />

pois a respiração <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser mais curta<br />

e as inspirações tor<strong>na</strong>ram-se mais lentas e<br />

profundas.<br />

Foi por meio da coleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos das<br />

crianças que participaram do projeto e observação<br />

<strong>de</strong> suas condutas <strong>de</strong>ntro do espaço<br />

escolar que verificamos os impactos que<br />

o projeto trouxe para a vida diária <strong>de</strong>las. A<br />

princípio, as crianças ficaram bem tímidas,<br />

apresentaram dificulda<strong>de</strong>s para se concentrar.<br />

Ao longo do processo, essa barreira inicial<br />

foi sendo transposta. As crianças passaram<br />

a <strong>de</strong>monstrar maior interesse durante<br />

as ativida<strong>de</strong>s e mostraram-se bem mais participativas.<br />

No que diz respeito à execução<br />

das ativida<strong>de</strong>s pelas crianças, algumas dificulda<strong>de</strong>s<br />

foram diagnosticadas, problemas<br />

relacio<strong>na</strong>dos à movimentação, ao equilíbrio<br />

e à socialização.<br />

Em síntese, verificamos uma melhora significativa<br />

<strong>na</strong> concentração <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s<br />

diárias, bem como maior conhecimento do<br />

seu corpo e a socialização/fortalecimento<br />

<strong>de</strong> vínculos com os colegas. O relaxamento<br />

oportunizou momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e bem<br />

-estar para as crianças.<br />

As práticas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas, lúdicas e<br />

recreativas representam não ape<strong>na</strong>s uma<br />

questão <strong>de</strong> benefício físico <strong>na</strong> fase infantil,<br />

mas uma necessida<strong>de</strong> para o a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cognitivo, psicológico e relacio<strong>na</strong>l<br />

das crianças.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei Nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 1996. Estabelece as diretrizes e bases da<br />

educação <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Diário Oficial [da] República<br />

Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Po<strong>de</strong>r Legislativo,<br />

Brasília, DF, 23 <strong>de</strong>z. 1996. Seção 1, n. 248, p.<br />

27833-27841.<br />

CURITIBA. Prefeitura Municipal. Secretaria<br />

Municipal da Educação. Ca<strong>de</strong>rno pedagógico:<br />

movimento. Curitiba: SME, 2009.<br />

NISTA-PICOCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo<br />

em movimento <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. São<br />

Paulo: Telos, 2012. (Coleção educação física<br />

escolar).<br />

SILVA, S. C. V. da. Jogos e Brinca<strong>de</strong>iras <strong>na</strong><br />

infância: curso <strong>de</strong> pedagogia. Itajaí: Universida<strong>de</strong><br />

do Vale do Itajaí: Biguaçu UNIVALI<br />

Virtual, 2013.<br />

Ricardo da Costa Pereira<br />

19


20<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Ginca<strong>na</strong> do<br />

Movimento<br />

Leandro Aguiar<br />

O movimento é uma importante dimensão<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento e da cultura huma<strong>na</strong>. As<br />

crianças movimentam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>na</strong>scem<br />

adquirindo cada vez maior controle sobre seu<br />

próprio corpo e se apropriando cada vez mais<br />

das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação com o mundo.<br />

Pensando <strong>na</strong> continuida<strong>de</strong> das aulas <strong>de</strong> Educação<br />

Física, o Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Professora Diva Vieira Abrantes, a partir <strong>de</strong> um<br />

planejamento, criou a 1ª Ginca<strong>na</strong> do Movimento<br />

para os alunos, professores, agentes, pais e<br />

funcionários para que eles pu<strong>de</strong>ssem socializar<br />

todos os valores <strong>de</strong> uma forma sistematizada e<br />

pedagógica. A i<strong>de</strong>ia veio a partir <strong>de</strong> um pedido<br />

da diretora. Pensou-se em todos os segmentos,<br />

para uma execução a<strong>de</strong>quada principalmente<br />

para as crianças.<br />

Foi planejado e buscado durante o evento promover<br />

a integração, a união, a diversão, o entretenimento,<br />

o companheirismo e o espírito esportivo<br />

entre os participantes do evento. Integrando<br />

toda a comunida<strong>de</strong> escolar <strong>de</strong> forma pedagógica,<br />

<strong>de</strong>spertando o espírito <strong>de</strong> competição sadia,<br />

apren<strong>de</strong>ndo a ser, a conviver e a fazer.<br />

A 1ª Ginca<strong>na</strong> do Movimento do Centro <strong>de</strong> Educação<br />

<strong>Infantil</strong> Prof.a Diva Vieira Abrantes aconteceu<br />

em cinco dias. A comunida<strong>de</strong> escolar envolvida<br />

foi dividida em quatro equipes: vermelha,<br />

ver<strong>de</strong>, azul e amarela. Os grupos enfrentaram-


se respeitando suas faixas etárias em ativida<strong>de</strong>s<br />

diferenciadas, com propósito <strong>de</strong> troca <strong>de</strong><br />

experiências e socialização <strong>de</strong> todos os participantes.<br />

Dessa forma, criou-se um ambiente<br />

<strong>de</strong> respeito e aprendizagem com foco <strong>na</strong> importância<br />

dos valores no dia a dia do ambiente<br />

escolar e <strong>na</strong> formação do indivíduo.<br />

Durante o primeiro dia já se observou o envolvimento<br />

e a interação entre todos, que foi muito<br />

gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a participação <strong>na</strong>s provas e ativida<strong>de</strong>s<br />

como no cuidar das crianças, já que professores<br />

estavam diariamente em contato com<br />

os alunos das outras turmas, criando vínculos<br />

e amiza<strong>de</strong>s muito fortes. Eles influenciaram diretamente<br />

<strong>na</strong> confiança e <strong>na</strong> autonomia dos<br />

pequenos. Os pais e os funcionários também<br />

participaram diretamente e também entraram<br />

no contexto, conhecendo o dia-dia vivido pelos<br />

profissio<strong>na</strong>is, os seus trabalhos, as suas metodologias<br />

e os seus <strong>de</strong>safios, além das conquistas<br />

das crianças que, durante cada momento,<br />

apareciam <strong>de</strong> forma muito interessante.<br />

A Ginca<strong>na</strong> do Movimento teve um cronograma<br />

diário pré-estabelecido para que todas as<br />

pessoas envolvidas pu<strong>de</strong>ssem se direcio<strong>na</strong>r<br />

para as ações propostas para cada período e<br />

dia, além das brinca<strong>de</strong>iras envolverem uma faixa<br />

etária igual para a realização da ativida<strong>de</strong>.<br />

No cronograma, estava estabelecido o local <strong>de</strong><br />

realização; o horário; qual turmas iriam realizar<br />

as brinca<strong>de</strong>iras; on<strong>de</strong> os alunos dos berçários<br />

I e II, mater<strong>na</strong>l I e II, Jardim I e II e Pré-escolar<br />

brincavam entre si <strong>de</strong>ntro da sua faixa etária;<br />

as ações e as brinca<strong>de</strong>iras propostas, além dos<br />

confrontos das equipes e suas respectivas cores.<br />

Por exemplo, <strong>na</strong> equipe amarela havia 5<br />

alunos do Pré, do Jardim, do Mater<strong>na</strong>l, do Berçário<br />

para que, no momento das ativida<strong>de</strong>s,<br />

eles respeitassem suas individualida<strong>de</strong>s e também<br />

a integração em forma <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> grupo.<br />

Cronograma das provas,<br />

das brinca<strong>de</strong>iras e das tarefas<br />

DIA 10-11-2014 | segunda-feira<br />

Provas, brinca<strong>de</strong>iras e tarefas<br />

Local Horário Alunos das Turmas<br />

2 Pontos para os participantes<br />

+ 1 ponto para o vencedor,<br />

Confrontos<br />

2 pontos para tarefa cumprida.<br />

Pré e Pré / Jardim II<br />

Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />

Ver<strong>de</strong> X Amarelo<br />

Azul X Vermelho<br />

Gramado ou<br />

Refeitório<br />

8:45<br />

Jardim e Jardim II<br />

Mater<strong>na</strong>l e Mater<strong>na</strong>l III<br />

Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />

Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />

Vermelho X Amarelo<br />

Azul X Ver<strong>de</strong><br />

Ver<strong>de</strong> X Amarelo<br />

Azul X Vermelho<br />

Professores, funcionários e pais<br />

Cabo <strong>de</strong> Guerra<br />

Amarelo X Azul<br />

Ver<strong>de</strong> X Vermelho<br />

Solarium ou<br />

Refeitório<br />

8:45<br />

Berçario I, Berçario II e B III / M I<br />

Torre <strong>de</strong> Latas<br />

Todas as equipes<br />

22 Ginca<strong>na</strong> do Movimento


Durante a Ginca<strong>na</strong>, as ativida<strong>de</strong>s foram sempre<br />

em locais distintos para as crianças <strong>de</strong> 0<br />

a 3 anos e 4 a 6 anos. No solarium, foi feita a<br />

brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Guarda brinquedos a qual as<br />

crianças conheciam muito bem, já que era<br />

uma ativida<strong>de</strong> feita no cotidiano. A participação<br />

e o envolvimento era evi<strong>de</strong>nte. Algumas<br />

disputas instauravam-se, mas o anseio<br />

pela organização era aparente. Os bebês, já<br />

nesse período, criam uma intenção <strong>de</strong> organização<br />

muito importante.<br />

Outra proposta foi o Empilhamento <strong>de</strong> latas.<br />

As latas foram encapadas com várias cores.<br />

Além da visualização do primeiro conceito<br />

<strong>de</strong> cores, tinham as questões da lateralida<strong>de</strong><br />

e visão periférica para ser mais fácil i<strong>de</strong>ntificar<br />

on<strong>de</strong> e como estavam as latas durante<br />

a brinca<strong>de</strong>ira. Os bebês tiveram noção <strong>de</strong><br />

equilíbrio e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora fi<strong>na</strong> com o<br />

cuidado para empilhar as latas. Alguns iam<br />

falando com os outros como <strong>de</strong>veriam colocar<br />

as latas, tomando muito cuidado para<br />

não <strong>de</strong>ixá-las cair, e, ao fi<strong>na</strong>l do empilhamento,<br />

eles tinham também que retirar uma lata<br />

<strong>de</strong> cada vez com cuidado para não <strong>de</strong>rrubar<br />

a sua pilha. Os professores e os agentes<br />

sempre estavam juntos orientando e colaborando<br />

para que as crianças <strong>de</strong>senvolvessem<br />

a ação da forma mais prazerosa possível,<br />

dando confiança a eles. No Pisa balão,<br />

os pequenos pu<strong>de</strong>ram bagunçar muito indo<br />

atrás dos balões. Alguns se assustaram, mas<br />

<strong>de</strong>pois já se apresentavam ambientados, falando<br />

“heeeee” e batendo palmas.<br />

No Circuito <strong>de</strong> forma mais integrada, trabalharam-se<br />

as capacida<strong>de</strong>s físicas usando<br />

vários segmentos corporais. Em se tratando<br />

do escorregador, após ganhar confiança<br />

<strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física, as crianças<br />

queriam <strong>de</strong>scer até <strong>de</strong> frente, sendo sempre<br />

orientados a <strong>de</strong>scer <strong>de</strong> forma segura. No<br />

túnel havia um certo receio, mais logo iam<br />

com o incentivo dos professores e agentes.<br />

Eles se sentiram à vonta<strong>de</strong> e passaram por<br />

ele com velocida<strong>de</strong> e <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong><br />

pedir para ir outras vezes. O fi<strong>na</strong>l do circuito<br />

foi o trem. Os alunos receberam maior ajuda<br />

para utilizarem mãos e per<strong>na</strong>s juntos e <strong>de</strong>ixá<br />

-los mais seguros.<br />

No Andar sobre o banco, as crianças pu<strong>de</strong>ram<br />

potencializar seu equilíbrio. Ao fi<strong>na</strong>l,<br />

com ajuda, elas ganhavam confiança para<br />

pular do banco. No caminho <strong>de</strong> latas, elas<br />

Leandro Aguiar<br />

23


passavam bem <strong>de</strong>vagar para não pisar fora<br />

das latas, comemorando muito quando conseguiam.<br />

Os professores colocaram como uma proposta<br />

interessante encher o galão <strong>de</strong> água. Com<br />

uma garrafa pet peque<strong>na</strong>, as crianças iam<br />

até um bal<strong>de</strong> e enchiam a garrafa. Foi muito<br />

interessante ver o cuidado que as crianças<br />

tinham para não <strong>de</strong>rrubar água e a <strong>de</strong>streza<br />

que colocavam a garrafa no funil para não<br />

<strong>de</strong>sperdiçar <strong>na</strong>da. Fizeram muitas vezes e<br />

com ajuda <strong>de</strong> todas as crianças.<br />

Para as crianças foram feitas brinca<strong>de</strong>iras<br />

no gramado e área coberta. Na abertura da<br />

ginca<strong>na</strong>, elas brincaram com o famoso Cabo<br />

<strong>de</strong> guerra. A força mostrou-se <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte,<br />

mas a brinca<strong>de</strong>ira é o que realmente fazia<br />

a alegria da criançada. Contudo, não foram<br />

só as crianças que brincavam, ali também<br />

brincaram os pais, funcionários. Todos juntos<br />

promoveram cooperação e companheirismo<br />

durante e ao fi<strong>na</strong>l da prova. Teve gente<br />

que puxou forte o cabo e teve gente que<br />

caiu dando muita risada <strong>de</strong> tudo. Brincaram<br />

também da corrida do saco. Eles correram<br />

da forma que conseguiam, mas todos colaboram<br />

em equipe.<br />

A Corrida <strong>de</strong> pé <strong>de</strong> lata foi muito divertida<br />

com <strong>de</strong>staques para a prova dos adultos.<br />

Eles tiveram muito equilíbrio em conjunto<br />

com a velocida<strong>de</strong>. O Pega fita foi um gran<strong>de</strong><br />

sucesso. As crianças além <strong>de</strong> brincarem individualmente<br />

também criaram estratégias<br />

em grupo. Também participaram da Corrida<br />

da bolinha <strong>na</strong> colher. Não foi usado um ovo,<br />

mas sim uma bolinha. Houve muito cuidado<br />

e equilíbrio para não <strong>de</strong>ixar a bolinha cair, as<br />

crianças em sua maioria conseguiam levar<br />

a bolinha a seu <strong>de</strong>stino sem <strong>de</strong>ixá-la cair. A<br />

brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Derruba cones também fez<br />

muito sucesso, todos tentavam <strong>de</strong>rrubar os<br />

cones da forma mais rápida possível. Tanto<br />

as crianças quanto os adultos usavam estratégias<br />

se dividindo em direções diferentes<br />

para alcançar mais rápido todos os cones.<br />

Na Prova dos bambolês, eles tiveram <strong>de</strong><br />

correr saltando <strong>de</strong>ntro dos bambolês até o<br />

outro lado e voltar para a fila on<strong>de</strong> estava o<br />

próximo amigo.<br />

Na Prova do futebol, eles bateram pê<strong>na</strong>ltis em<br />

traves peque<strong>na</strong>s. Ao fi<strong>na</strong>l, eles faziam a contagem<br />

para ver quantos cada equipe acertou.<br />

A prova foi no gramado dando um contexto<br />

maior <strong>de</strong> futebol. Alguns pais se <strong>de</strong>stacaram<br />

acertando, dando dicas e apoio aos que acertavam<br />

e aos que não acertavam. Na brinca<strong>de</strong>ira<br />

da Caneta <strong>na</strong> garrafa, as crianças tinham que<br />

ter paciência e uma gran<strong>de</strong> noção <strong>de</strong> tempo e<br />

espaço para colocar a caneta pendurada por<br />

um cordão <strong>de</strong>ntro do galão <strong>de</strong> cinco litros. Alguns<br />

queriam botar a mão que não era permitido,<br />

principalmente quando não conseguiam;<br />

outros queriam direcio<strong>na</strong>r a garrafa com as<br />

mãos, o que também não era permitido. Ao fi<strong>na</strong>l<br />

todos conseguiram realizar a brinca<strong>de</strong>ira.<br />

Na brinca<strong>de</strong>ira do Cadê o sapato?, eles tinham<br />

<strong>de</strong> achar seu calçado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma pilha e<br />

calçá-lo e amarrá-lo ao fi<strong>na</strong>l. Alguns ajudavam<br />

os outros mostrando muita solidarieda<strong>de</strong> com<br />

os amigos. A ação que terminou as brinca<strong>de</strong>iras<br />

foi o Caça ao tesouro. Os grupos procuravam<br />

as pistas pelo CEI para tentar encontrar<br />

um prêmio ao fi<strong>na</strong>l. A procura foi gran<strong>de</strong>, mas<br />

alguns <strong>de</strong>sistiram porque não achavam algumas<br />

pistas. A equipe ver<strong>de</strong> acabou achando e<br />

comemorando muito ao fi<strong>na</strong>l.<br />

Além das brinca<strong>de</strong>iras, os grupos também tinham<br />

que realizar tarefas, trazer uma pessoa<br />

com mais <strong>de</strong> 90 anos, fazer brinquedos recicláveis<br />

e apresentar uma ativida<strong>de</strong> durante<br />

sessenta segundos (Se vira nos 60).<br />

A GINCANA também teve uma proposta solidária<br />

com a prova da cesta básica. Os grupos<br />

tinham <strong>de</strong> trazer um quilo <strong>de</strong> alimento não<br />

perecível para a formação <strong>de</strong> cestas básicas.<br />

Foram feitas 6 cestas básicas e os alunos as<br />

entregaram para famílias carentes da comunida<strong>de</strong>.<br />

Os talentos da comunida<strong>de</strong> também<br />

foram evi<strong>de</strong>nciados, os quais apareceram <strong>na</strong><br />

tarefa da canção. Os pais tinham <strong>de</strong> cantar<br />

uma música - um dos <strong>de</strong>staques foi a mãe<br />

que contou um hino e a filha acompanhou<br />

no violão.<br />

Na sexta-feira, foi feita a culminância do projeto.<br />

As crianças trouxeram muitas frutas e<br />

foi feito, com ajuda <strong>de</strong> todos, um suculento<br />

piquenique <strong>de</strong> frutas. Todos os envolvidos<br />

pu<strong>de</strong>ram confraternizar, contar histórias, falar<br />

das brinca<strong>de</strong>iras e experiências vividas,<br />

momento em que os pais vivenciaram o cotidiano<br />

da unida<strong>de</strong> escolar.<br />

A entrega <strong>de</strong> medalhas foi <strong>de</strong> forma igual<br />

para todos. Cada equipe recebeu a medalha<br />

da sua cor em pódio, mostrando ao fi<strong>na</strong>l que<br />

24 Ginca<strong>na</strong> do Movimento


todos foram vencedores em participação e<br />

integração. De forma misturada, as turmas<br />

<strong>de</strong>sfilavam alegria em receber suas medalhas.<br />

Eles foram para casa com uma lembrança<br />

pendurada no pescoço, não <strong>de</strong> vitória ou<br />

<strong>de</strong>rrota, mas <strong>de</strong> uma competição sadia, com<br />

muita orientação e foco <strong>na</strong>s brinca<strong>de</strong>iras.<br />

Ao fi<strong>na</strong>l, percebeu-se gran<strong>de</strong> participação <strong>de</strong><br />

todos. Além <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duzentas e vinte seis<br />

crianças, também participaram os quarenta<br />

e dois funcionários, professoras, agentes em<br />

educação, secretárias, supervisora, diretora,<br />

cozinheiras, vigia e pessoal da área da limpeza.<br />

Os pais e os familiares também participaram<br />

significativamente - mais <strong>de</strong> cem familiares<br />

envolveram-se no evento, brincando e<br />

ajudando <strong>de</strong> várias formas.<br />

A integração entre família e escola foi a principal<br />

observação. As famílias, participaram,<br />

brincaram, ajudaram a cuidar, <strong>de</strong>ixando as<br />

crianças muito felizes. Os pais, assim, envolveram-se<br />

com o trabalho dos profissio<strong>na</strong>is<br />

no dia-dia da creche.<br />

A organização com cronograma diário dos<br />

locais das ativida<strong>de</strong>s e horários ajudou para<br />

que o evento saísse <strong>de</strong> forma muito organizada,<br />

já que aconteceram mais <strong>de</strong> sessenta ativida<strong>de</strong>s,<br />

tarefas e brinca<strong>de</strong>iras que proporcio<strong>na</strong>ram<br />

as crianças um ambiente educacio<strong>na</strong>l<br />

e familiar, mostrando o que fazem durante o<br />

ano <strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação Física, dando visibilida<strong>de</strong><br />

e ênfase <strong>na</strong> importância da discipli<strong>na</strong><br />

<strong>de</strong> forma organizada e com o profissio<strong>na</strong>l específico.<br />

As crianças conseguiram, <strong>de</strong> forma<br />

mais integrada, melhorar suas habilida<strong>de</strong>s<br />

motoras, cognitivas e sociais, oportunizando<br />

a autonomia e a confiança com seu corpo,<br />

conhecendo seus limites e possibilida<strong>de</strong>s por<br />

meio das oportunida<strong>de</strong>s que a Ginca<strong>na</strong> do<br />

movimento po<strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r a todos que<br />

estiveram envolvidos.<br />

Leandro Aguiar<br />

25


26<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Bal<strong>de</strong>s<br />

dançantes<br />

A CRIATIVIDADE<br />

COMO PROCESSO<br />

DE ENSINO-<br />

APRENDIZAGEM<br />

NAS AULAS DE<br />

EDUCAÇÃO FÍSICA<br />

DA PRÉ-ESCOLA<br />

1<br />

Eliton Clayton<br />

Rufino Seára<br />

Trilhando o(s) caminho(s)...<br />

É preciso, inicialmente, ao dialogar<br />

com o leitor, observar algumas questões<br />

que entoam pulsantemente <strong>na</strong><br />

Educação Física como componente<br />

curricular no ensino escolar: a ênfase<br />

<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong>, nos mo<strong>de</strong>los engessados,<br />

<strong>na</strong> mecanização do movimento<br />

e, progressivamente, no tradicio<strong>na</strong>lismo<br />

que nós, professores, ainda mantemos<br />

quanto ao seu ensino.<br />

Nesse contexto, ao pensarmos especificamente<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />

precisamos (<strong>de</strong>s)construir, ainda<br />

mais, os mo<strong>de</strong>los arraigados em uma<br />

objetivida<strong>de</strong> racio<strong>na</strong>l e <strong>na</strong> comparação<br />

2 objetiva entre os educandos.


1 Professor <strong>de</strong> Educação Física da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Educação. Licenciado em Educação<br />

Física, Mestre em Educação e Doutorando em Ciências Huma<strong>na</strong>s (UFSC).<br />

2 Entendo por comparação objetiva uma relação <strong>de</strong> sempre buscar estar acima,<br />

ganhando do outro e, para isso, usando um movimento, uma técnica em específico que<br />

faz com que se busque o único objetivo <strong>de</strong> sobrepujar o outro.


Com isso, este relato expõe o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> que buscou essa<br />

<strong>de</strong>sconstrução por meio do ato criativo <strong>na</strong>s<br />

aulas <strong>de</strong> Educação Física e, com ela, uma<br />

possibilida<strong>de</strong> dos educandos agirem com<br />

criticida<strong>de</strong> e autonomia.<br />

Dessa forma, buscou-se atingir esses<br />

preceitos por meio da ativida<strong>de</strong> intitulada<br />

Bal<strong>de</strong>s Dançantes. Ela foi <strong>de</strong>senvolvida com<br />

a turma do Pré-vespertino que é composta<br />

por 25 educandos; assim, pelo menos 25 novas<br />

maneiras <strong>de</strong> manusear ou brincar com o<br />

bal<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riam e, como se esperava, foram<br />

criadas.<br />

Construindo (teoricamente) as i<strong>de</strong>ias<br />

Pensar no objetivo <strong>de</strong> aprendizagem é relevar<br />

aquilo que o professor busca possibilitar<br />

para que seus educandos alcancem novos<br />

saberes. Por isso, este relato buscou <strong>de</strong>senvolver<br />

habilida<strong>de</strong>s cognitivo-motoras <strong>de</strong> forma<br />

a buscar a coparticipação criativa dos<br />

educandos <strong>na</strong> resolução <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios com o<br />

objeto bal<strong>de</strong>.<br />

Não é só um bal<strong>de</strong>,<br />

é um mundo <strong>de</strong> criações<br />

para as aulas <strong>de</strong> EF. Lá, estavam dispostos,<br />

perto da pare<strong>de</strong>, 26 bal<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lenço ume<strong>de</strong>cido<br />

(do berçário, obviamente) um do lado<br />

do outro. Fiz a primeira pergunta: Para que<br />

serve o bal<strong>de</strong>? Um dos educandos respon<strong>de</strong>u<br />

que servia para colocar água <strong>de</strong>ntro.<br />

Outro disse que era para guardar uma coisa<br />

para limpar o bumbum dos bebês (risos e risos<br />

nessa hora). Então, diante daquele ocorrido,<br />

indaguei <strong>de</strong> novo: Dá para fazer mais alguma<br />

coisa com os bal<strong>de</strong>s? Dá para inventar<br />

outras formas <strong>de</strong> usá-lo? Prontamente a resposta<br />

foi um FORTE simmmmmmmmmmm!!!<br />

A partir disso, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> questões<br />

<strong>de</strong> segurança, estabeleci, juntamente a eles,<br />

duas regras: que o bal<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>ria ser<br />

usado para machucar <strong>de</strong> nenhuma maneira<br />

os colegas, e que não po<strong>de</strong>ria ser arremessado<br />

muito alto, haja vista a queda brusca<br />

sobre algum colega.<br />

Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, fiz um<br />

primeiro pedido: “Todos <strong>de</strong>vem andar com o<br />

bal<strong>de</strong> <strong>na</strong>s mãos até a pare<strong>de</strong> e voltar, Ok?”;<br />

“Sim”. E aí, o que tem <strong>de</strong> criativo nisso? Ora,<br />

<strong>na</strong>da! Mas a i<strong>de</strong>ia era mostrar justamente<br />

isso, que nós estamos acostumados a fazer o<br />

O processo do <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem<br />

tor<strong>na</strong>-se mais eficaz quando o educando<br />

recebe alguns <strong>de</strong>safios em que ele<br />

necessita refletir antes <strong>de</strong> dar uma resposta<br />

(CUNHA, 1977). Nesse contexto, o educando<br />

<strong>de</strong>ve ser atuante como propõe o processo<br />

do ato criativo, no qual serão lançados a<br />

ele <strong>de</strong>safios para que ele busque soluções.<br />

É nesse momento que o processo <strong>de</strong> aprendizado<br />

acontece <strong>de</strong> forma criativa, lúdica e<br />

autônoma. Para esse processo, segundo Seára<br />

(2014, p. 1), chamaremos <strong>de</strong> “diálogo em<br />

movimento”.<br />

Diante disso, a ativida<strong>de</strong> bal<strong>de</strong>s dançantes<br />

foi realizada da seguinte maneira: Inicialmente,<br />

cheguei à sala <strong>de</strong> aula para começar<br />

a aula <strong>de</strong> Educação Física (EF). Ao realizar<br />

minha fala (dimensão conceitual), <strong>de</strong>ixei os<br />

educandos curiosos, pois disse que <strong>na</strong>quela<br />

intervenção bal<strong>de</strong>s dançariam. Posteriormente,<br />

levei os alunos em um gran<strong>de</strong> trem<br />

até o ‘’famoso areião’’, local muito utilizado<br />

28 Bal<strong>de</strong>s Dançantes


que é padrão, o que já é o mo<strong>de</strong>lo que nos é<br />

estabelecido. Então, <strong>na</strong> volta, pedi a eles que<br />

levassem o bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira diferente<br />

da que tinha sido feita. Foi então que o processo<br />

<strong>de</strong> aprendizagem criativo se iniciou.<br />

Era possível ver os bal<strong>de</strong>s sendo levados <strong>na</strong><br />

cabeça (um chapéu <strong>de</strong> pirata), <strong>na</strong> cabeça<br />

(um chapéu <strong>de</strong> cozinheiro), <strong>na</strong> cabeça (um<br />

ninho <strong>de</strong> passarinho). Também <strong>na</strong>s costas<br />

(um camelo), <strong>na</strong>s costas (um cavalo levando<br />

uma pessoa), <strong>na</strong>s costas (um avião). Ainda,<br />

colocaram nos joelhos, <strong>na</strong>s <strong>na</strong><strong>de</strong>gas (bunda<br />

como disse um <strong>de</strong>les), no cotovelo (um braço<br />

espacial), <strong>na</strong> testa, <strong>na</strong> barriga (imitando<br />

um caranguejo), nos pés (saci Pererê e per<strong>na</strong><br />

<strong>de</strong> pirata), no meio das per<strong>na</strong>s (andar <strong>de</strong> pinguim),<br />

entre a panturrilha (pulo <strong>de</strong> canguru<br />

ou sapo), com as duas mãos enfiadas juntas<br />

no bal<strong>de</strong>, em cima do ombro e foi o que eu<br />

pu<strong>de</strong> ver no momento - Ufaaaaa!!!!<br />

Andando com os bal<strong>de</strong>s<br />

Depois <strong>de</strong>ssa primeira parte, fiz uma roda e<br />

pedi que eles colocassem os bal<strong>de</strong>s em frente<br />

a suas per<strong>na</strong>s com a boca (do bal<strong>de</strong>) virada<br />

para si. Diante disso, pedi que eles ‘‘pegassem’’<br />

os bal<strong>de</strong>s, porém sem usar as mãos.<br />

Todos, prontamente, tentaram pegar com<br />

os pés e, ao notar as dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> imediato,<br />

queriam usar as mãos para ajudar. Só<br />

que, como já lembrado, não po<strong>de</strong>riam usar<br />

as mãos e, então, falavam: “É muito difícil,<br />

sorr”, “o profi, não dá pra se equilibrar”. Dessa<br />

maneira, perguntei a eles como po<strong>de</strong>riam se<br />

ajudar a equilibrarem-se e um <strong>de</strong>les já foi dizendo:<br />

segura no amigo do lado, segura. Com<br />

isso, eles se apoiavam nos amigos e conseguiam<br />

com mais facilida<strong>de</strong> elevar os bal<strong>de</strong>s<br />

com os pés até que, em um dado momento,<br />

eles viram que podiam tentar sozinhos e que<br />

aquela dificulda<strong>de</strong>/<strong>de</strong>safio tor<strong>na</strong>va a brinca<strong>de</strong>ira<br />

mais atrativa, pois não era algo que<br />

estavam acostumados a fazer (<strong>de</strong>senvolvimento<br />

cognitivo-motor/equilíbrio dinâmico,<br />

tônus muscular, habilida<strong>de</strong> óculo-pedal).<br />

Por fim, nos últimos 10 minutos <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>ixei-os<br />

fazer o que quisessem (com exceção<br />

das regras estabelecidas) com os bal<strong>de</strong>s. Um<br />

grupo criou um castelo, outros batucaram o<br />

bal<strong>de</strong> como se fosse um tambor, outros continuavam<br />

a brincar <strong>de</strong> equilibrar e alguns jogaram<br />

o bal<strong>de</strong> como se estivessem fazendo<br />

malabarismo. Ao observar que eles estavam<br />

respeitando certo limite <strong>de</strong> segurança, tudo<br />

ocorreu com tranquilida<strong>de</strong>. Tudo isso, ocorreu<br />

ao som <strong>de</strong> uma música <strong>na</strong> qual toquei<br />

no violão:<br />

Sou um baldinho dançante,<br />

um baldinho dançante, sou baldinho<br />

dançante. E esse baldinho dança<br />

agora, agora, agora, agora!!!!!!!!<br />

O que apren<strong>de</strong>mos hoje?<br />

No processo avaliativo, que neste escrito vou<br />

chamar <strong>de</strong> formativo, encontrei a relação <strong>de</strong><br />

coparticipação <strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />

Esse processo <strong>de</strong>u-se diretamente no diálogo<br />

com os educandos perante a ativida<strong>de</strong>.<br />

Assim, foi possível observar <strong>de</strong> um pedido<br />

para (re)significar o uso do bal<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

potencial criativo e, mais que isso, uma<br />

troca por meio da observação já que, quando<br />

os educandos olhavam outros colegas,<br />

eles também queriam fazer parecido com<br />

eles.<br />

Eliton Clayton Rufino Seára<br />

29


30 Bal<strong>de</strong>s Dançantes


Ainda, em um processo dialógico, ao retor<strong>na</strong>rmos<br />

à sala <strong>de</strong> aula, conversamos<br />

sobre a aula e ressaltamos os pontos<br />

principais <strong>de</strong>la, tais como: que todos<br />

têm muita inteligência e po<strong>de</strong>m criar<br />

coisas novas, que apren<strong>de</strong>mos com<br />

nossos colegas ao observá-los, que<br />

precisamos usar os objetos pensando<br />

<strong>na</strong> segurança do outro e <strong>na</strong> nossa própria,<br />

e que a linguagem figurativa do<br />

bal<strong>de</strong> dançar era realmente para mostrar<br />

que um bal<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser muito mais<br />

divertido do que imagi<strong>na</strong>mos.<br />

Concluí, nesse contexto, que a CRI(A-<br />

ÇÃO)/CRI(ATIVIDADE) é a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>safiado, <strong>de</strong> sair da caixa do igual,<br />

<strong>de</strong> fazer pensar além dos quadrados fechados<br />

e inertes, <strong>de</strong> dançar <strong>de</strong> um novo jeito, <strong>de</strong><br />

imitar outra voz, <strong>de</strong> respeitar o outro, porque<br />

se é e se faz diferente e, principalmente, que<br />

ensi<strong>na</strong>r e apren<strong>de</strong>r é um ato <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> intelectual.<br />

Referências<br />

CUNHA, R. M. M. da. Criativida<strong>de</strong> e processos<br />

cognitivos. Petrópolis: Vozes, 1977.<br />

SEÁRA, E. C. R. A capoeira como conteúdo escolar:<br />

uma proposta didática para as aulas <strong>de</strong><br />

Educação Física. EF Deportes.com, Revista<br />

Digital, Buenos Aires, ano 19, n. 193, jun. 2014.<br />

Eliton Clayton Rufino Seára<br />

31


32<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Corpo, campo<br />

e movimento:<br />

uMA EXPERIÊNCIA<br />

DE EQUOTERAPIA<br />

EQUITAÇÃO EDUCATIVA<br />

COM JARDIM MISTO<br />

Solange Maria Nunes<br />

Des<strong>de</strong> 2015, as instituições localizadas <strong>na</strong><br />

zo<strong>na</strong> rural, Escola Básica Professor Martinho<br />

Gervási e Rancho La Cautiva (entida<strong>de</strong> que<br />

aten<strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>ficiência no trabalho<br />

<strong>de</strong> equoterapia e equitação educativa, pela<br />

proprietária Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Garcia), <strong>de</strong>senvolvem<br />

ativida<strong>de</strong>s em parceira com o projeto<br />

Educação Integral da Secretaria Municipal<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Itajaí, sob a responsabilida<strong>de</strong><br />

da professora <strong>de</strong> Educação Física Solange<br />

Nunes, no período vespertino. A perspectiva<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma ativida<strong>de</strong> periódica<br />

com o Jardim Misto Parcial da escola surgiu<br />

a partir <strong>de</strong> um projeto colaborativo entre essas<br />

instituições.<br />

Nas reuniões pedagógicas e conselhos <strong>de</strong><br />

classe, discutia-se que muitas crianças tinham<br />

dificulda<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>vido à


falta <strong>de</strong> concentração e atenção, bem como<br />

dificulda<strong>de</strong>s motoras. A psicomotricida<strong>de</strong><br />

oportuniza <strong>de</strong>senvolver integrações sociais,<br />

educacio<strong>na</strong>is, ambientais, econômicas e culturais,<br />

para que o educando possa atingir a<br />

maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo processual, consciente<br />

e integrado. Sendo a escola localizada<br />

<strong>na</strong> área rural e ter turmas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berçário<br />

ao 9º ano, percebeu-se o quanto se po<strong>de</strong>ria<br />

contribuir com a superação <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas<br />

problemáticas, explorando a localização<br />

geográfica.<br />

A vida no campo oferece possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

uma infância mais ple<strong>na</strong> <strong>na</strong> relação com a<br />

<strong>na</strong>tureza e com os espaços, porém, <strong>na</strong> escola,<br />

os espaços são poucos e têm regras, há<br />

uma sistemática peculiar. Criando interações<br />

com o conhecimento local, o campo,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, pu<strong>de</strong> auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos alunos, tanto <strong>na</strong> parte motora quanto<br />

<strong>na</strong> aprendizagem, tendo também a equoterapia<br />

educativa uma participação significativa<br />

nesse processo <strong>de</strong> interação.<br />

Levitt (1997, p.18) afirma que, “[...] mesmo<br />

quando uma criança apresenta limitações, alguma<br />

habilida<strong>de</strong> ainda resta”. Essa foi uma das<br />

gran<strong>de</strong>s motivações <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e/ou estimulação, fortalecer e acreditar<br />

no potencial e receptivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada educando,<br />

resgatando o trabalho da equoterapia<br />

educativa, e que essa dinâmica entrasse <strong>na</strong>s<br />

ativida<strong>de</strong>s oferecidas pela escola.<br />

Segundo Freitas, em tempos <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva, estudos sobre o corpo, esquema<br />

corporal e a imagem corporal são particularmente<br />

importantes para quem trabalha com<br />

cognição, ensino e aprendizagem. Espera-se<br />

do professor a compreensão mais abrangente<br />

da criança, da sua diversida<strong>de</strong>, das diferenças<br />

e dos processos que integram a cognição<br />

huma<strong>na</strong> (FREITAS, 2008).<br />

Na equoterapia, os benefícios são adquiridos<br />

por motivação, o que impulsio<strong>na</strong> o indivíduo<br />

pelo <strong>de</strong>sejo e prazer, conseguindo atrair<br />

a atenção, a concentração e o autocontrole,<br />

favorecendo a aprendizagem (MARCELINO;<br />

MELO, 2006).<br />

Para os alunos do Jardim Parcial, as experiências<br />

obtidas no Rancho La Cautiva trazem<br />

o contato com os animais, em um espaço diversificado,<br />

buscando uma relação diferente<br />

34 Corpo, campo e movimento


FOTO: ANDRÉ SCHIMIDT<br />

Solange Maria Nunes<br />

35


36 Corpo, campo e movimento


Solange Maria Nunes<br />

37


com o corpo, atenção, concentração e autoestima.<br />

Apren<strong>de</strong>m também a viver e conviver<br />

<strong>de</strong> forma harmoniosa com os animais e a<br />

<strong>na</strong>tureza. O objetivo consiste em aproximar<br />

as crianças da <strong>na</strong>tureza, com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

as interações sociais e ambientais<br />

para perceber que o contato com os animais<br />

favorece no seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

motor e no ensino e <strong>na</strong> aprendizagem.<br />

O atendimento atualmente ocorre uma vez<br />

ao mês, no período vespertino, no Rancho<br />

La Cautiva. As crianças apren<strong>de</strong>m ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> montaria e cuidados no manejo com os<br />

animais, tais como escová-los e alimentá-los.<br />

Também apren<strong>de</strong>m sobre a morfologia do<br />

animal.<br />

O Rancho La Cautiva dispõe <strong>de</strong> um ambiente<br />

espaçoso no qual as crianças, além <strong>de</strong> se envolverem<br />

com os animais, po<strong>de</strong>m se divertir<br />

no parque, correr <strong>na</strong> grama e fazer trilhas. O<br />

espaço físico dispõe <strong>de</strong>:<br />

• cavalos, ovelhas, aves, coelhos e cães;<br />

• pisci<strong>na</strong> com churrasqueira;<br />

• sanitários masculino e feminino com<br />

chuveiros;<br />

• salão multiuso;<br />

• cozinha;<br />

• horta e pastagem.<br />

Os alunos do 6° ano que frequentam o projeto<br />

Educação Integral foram capacitados e<br />

hoje auxiliam <strong>na</strong> montaria das crianças, com<br />

a supervisão da proprietária do Rancho La<br />

Cautiva, a Senhora Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Garcia.<br />

Contribuições e construções<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a psicomotricida<strong>de</strong>, antes<br />

<strong>de</strong> tudo, passa pelo <strong>de</strong>senvolvimento humano e<br />

ambiental e <strong>de</strong>ve ser aproveitada a todo instante<br />

no que diz respeito à construção do conhecimento,<br />

observou-se que aquelas crianças que<br />

tinham dificulda<strong>de</strong>s em se comunicar e eram<br />

introvertidas, após o contato com os animais e<br />

o campo, estão interagindo <strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>monstrando iniciativa e <strong>de</strong>senvolvendo<br />

sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. As<br />

aulas que propiciam o contato com os animais,<br />

principalmente com os cavalos, estão contribuindo<br />

para seu <strong>de</strong>senvolvimento motor, socialização,<br />

harmonia, autonomia e autoconfiança.<br />

38 Corpo, campo e movimento


É visível a evolução no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> algumas crianças, além <strong>de</strong> uma postura<br />

a<strong>de</strong>quada e um melhor equilíbrio <strong>de</strong> sua<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora. A questão do relacio<strong>na</strong>mento<br />

com o outro e com o meio tiveram<br />

um gran<strong>de</strong> avanço, o que faz com que consi<strong>de</strong>remos<br />

atingidos os objetivos a que nos<br />

propusemos.<br />

O registro das ativida<strong>de</strong>s é realizado por<br />

meio <strong>de</strong> fotos que são anexadas <strong>na</strong> avaliação<br />

semestral das crianças e do ví<strong>de</strong>o das<br />

aulas que está no blog da Escola, neste en<strong>de</strong>reço<br />

eletrônico: http://blog.educacao.itajai.sc,gov.br/ebpmg,<br />

para que os pais acompanhem<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus filhos no<br />

projeto.<br />

Referências<br />

FREITAS, N. K. Esquema corporal, imagem<br />

visual e representação do próprio corpo:<br />

questões teórico-conceituais. Ciências &<br />

Cognição, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 13, n. 3, p. 318-<br />

324, 2008.<br />

LEVITT, S. Habilida<strong>de</strong>s básicas: guia para <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>ficiência.<br />

Campi<strong>na</strong>s, SP: Papirus, 1997.<br />

MARCELINO, J. F. Q.; MELO, Z. M. Equoterapia:<br />

suas repercussões <strong>na</strong>s relações familiares<br />

da criança com atraso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

por prematurida<strong>de</strong>. Estudos <strong>de</strong><br />

Psicologia, Campi<strong>na</strong>s, v. 23, n. 3, p. 279-287,<br />

jul./set. 2006.<br />

Solange Maria Nunes<br />

39


40<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Movimentos<br />

<strong>de</strong> interações<br />

e brinca<strong>de</strong>iras<br />

com bebês:<br />

UMA EXPERIÊNCIA COM<br />

LUZES<br />

Solange Maria Nunes<br />

A Educação Física é uma discipli<strong>na</strong> nova no<br />

currículo da Educação <strong>Infantil</strong> da Re<strong>de</strong> Municipal<br />

<strong>de</strong> Itajaí. O que trabalhar, como trabalhar,<br />

quais experiências po<strong>de</strong>m ser significativas<br />

com o corpo? Movimento e criativida<strong>de</strong><br />

são temas recorrentes em nossas formações<br />

e <strong>de</strong>bates.<br />

Nosso saber-fazer emerge <strong>na</strong> articulação<br />

teórico-prática, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

significativas, especialmente para<br />

os pequenos <strong>de</strong> zero a três anos que estão<br />

conhecendo e construindo as diferentes linguagens.<br />

Assim, a Educação Física para os<br />

bebês perpassa o conhecimento sinestésico<br />

com percepção, interação e expressão,<br />

no qual a criança se comunica por meio da<br />

linguagem corporal, bem como acontece o<br />

<strong>de</strong>spertar intencio<strong>na</strong>l do “olhar”. As intera-


ções e as brinca<strong>de</strong>iras <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />

nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem<br />

<strong>de</strong>ntro do ambiente educacio<strong>na</strong>l,<br />

são fundamentais no início da vida escolar.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a teoria sociointeracionista<br />

<strong>de</strong> Vygotsky, e com as orientações do Ministério<br />

da Educação para a Educação infantil,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se a i<strong>de</strong>ia da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as<br />

crianças interagirem com o brincar para se<br />

<strong>de</strong>senvolver. Assim sendo, a promoção <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que favoreçam o envolvimento<br />

da criança em brinca<strong>de</strong>iras, principalmente<br />

aquelas que promovem a criação <strong>de</strong> situações<br />

imaginárias, tem uma clara função pedagógica.<br />

A escola, particularmente a pré<br />

-escola, po<strong>de</strong>ria utilizar-se <strong>de</strong>liberadamente<br />

<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> situações para atuar no processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das crianças (VY-<br />

GOTSKY, 1998).<br />

As interações e as brinca<strong>de</strong>iras têm uma função<br />

específica <strong>na</strong> infância, <strong>na</strong> qual a criança<br />

recria a realida<strong>de</strong> usando os sistemas<br />

simbólicos. Nessa fase, a criança começa<br />

a distanciar-se <strong>de</strong> seu primeiro meio social,<br />

representado pela mãe. Diante disso, cabe à<br />

instituição <strong>de</strong> ensino o papel <strong>de</strong> estabelecer<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem com a<br />

interação social com o professor e com as<br />

outras crianças.<br />

A experiência aqui relatada foi realizada com<br />

o Berçário Misto e teve como objetivo proporcio<strong>na</strong>r<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento integral das crianças<br />

em situações que envolvessem a curiosida<strong>de</strong>,<br />

a exploração e o manuseio <strong>de</strong> materiais<br />

como processo <strong>de</strong> experimentação.<br />

Luz, ação!<br />

O Berçário misto envolve crianças <strong>de</strong> zero a<br />

dois anos, fase em que o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

percepção é alimentado pela curiosida<strong>de</strong>. Assim,<br />

a montagem da experiência faz parte do<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Para iniciar o projeto, ao entrar <strong>na</strong> sala do Berçário<br />

Misto, cumprimentei-os com a alegria<br />

habitual e fui fixando malhas brancas e <strong>na</strong>rrando<br />

o que ia fazendo. Com as luzes <strong>de</strong> uma<br />

luminária móvel (abajur), com uma lâmpada<br />

com gomos tridimensio<strong>na</strong>l coloridos, busquei<br />

com que explorassem o espaço físico, o movimento,<br />

o corpo, o imaginário e as sensações.<br />

As crianças aproximaram-se aos poucos,<br />

apontando e balbuciando. Os menores<br />

acompanhavam a movimentação com o<br />

olhar. A ativida<strong>de</strong> foi se <strong>de</strong>senvolvendo: primeiro<br />

exploramos as luzes, suas cores e formas,<br />

ilumi<strong>na</strong>ndo as diversas partes da sala<br />

(chão, pare<strong>de</strong>, teto). As crianças acompanhavam<br />

olhando ou tocando.<br />

Em seguida, com a luz, fui explorando o corpo<br />

<strong>de</strong> cada um em frente ao espelho (mãos,<br />

boca, barriga, pés, cabeça). As crianças reagiram,<br />

apontando, acompanhando as luzes,<br />

falando, expondo sua curiosida<strong>de</strong> e seu saber<br />

e indicando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

sinestésica.<br />

A aprendizagem sinestésica, <strong>de</strong> acordo com<br />

Santos et al. (2009), indica que o trabalho<br />

com as partes do corpo possa permitir o autoconhecimento<br />

pelo sentido, no qual o bebê<br />

toca a parte do corpo solicitada, respeitando<br />

a lei “céfalo – caudal” e “próximo distal”. Após<br />

esse momento inicial, exploramos as luzes<br />

por meio do tecido. As crianças entraram em<br />

contato com o tecido apalpando-o, e, em seguida,<br />

uma nova <strong>de</strong>scoberta: a luz corre.<br />

Elas queriam tocar, brincar <strong>de</strong> pegar a luz,<br />

<strong>de</strong>scobrir o que tinha atrás do tecido e <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> vinha a luz. A curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las, seus<br />

sorrisos, suas ansieda<strong>de</strong>s, indicou um aspecto<br />

interessante que corroborou com o objetivo<br />

proposto para uma experiência que articula<br />

percepções e estética do movimento,<br />

dos apren<strong>de</strong>res, da beleza e da exploração<br />

dos gestos, que registra significados também<br />

pelos brilhos nos olhares.<br />

Os bebês <strong>de</strong>senvolvem-se e apren<strong>de</strong>m perceptivamente<br />

praticando exercícios motores,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo o pensamento e o conhecimento<br />

com criativida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> busca <strong>de</strong><br />

solução <strong>de</strong> problemas: as crianças usaram<br />

diferentes estratégias <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> vinha e para on<strong>de</strong> ia, seguindo as luzes.<br />

Verbalmente, adquiriram comunicação receptiva<br />

e expressiva; apren<strong>de</strong>ram a conviver<br />

com amigos e incentivá-los a experimentar,<br />

brincando <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong>, falando ou<br />

indicando para o colega olhar as formas.<br />

O registro <strong>de</strong>ssa experiência foi feito por<br />

meio <strong>de</strong> fotos e organizado em uma exposição<br />

para que os pais pu<strong>de</strong>ssem acompanhar<br />

42 Movimentos <strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras com bebês


o trabalho realizado <strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong> Educação<br />

Física da professora Solange Maria Nunes.<br />

Para Friedmann (2012), as brinca<strong>de</strong>iras constituem<br />

linguagens infantis, consi<strong>de</strong>rando<br />

a linguagem qualquer meio sistemático <strong>de</strong><br />

comunicar i<strong>de</strong>ias ou sentimentos por meio<br />

<strong>de</strong> signos. Um dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios que as<br />

linguagens lúdicas nos propõem é a leitura e<br />

a tradução <strong>de</strong>ssas “falas” infantis.<br />

Essa experiência proporcionou conhecer o<br />

prazer da <strong>de</strong>scoberta <strong>na</strong> interação com as<br />

crianças, sobre os seus sentires, surpreen<strong>de</strong>ndo<br />

com suas iniciativas, envolvimento<br />

e autonomia, <strong>na</strong> vivência da exploração da<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagens.<br />

Referências<br />

FRIEDMANN, A. O brincar <strong>na</strong> educação infantil:<br />

observação, a<strong>de</strong>quação e inclusão.<br />

São Paulo: Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, 2012.<br />

SANTOS, A. S. et al. Psicomotricida<strong>de</strong> - Educação<br />

do Movimento. 2009. Disponível<br />

em: .<br />

Acesso em: 3 jul. 2016.<br />

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente.<br />

6. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Martins Fontes, 1998.<br />

Solange Maria Nunes<br />

43


44<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

O eu, o outro<br />

e o nós: jogos<br />

cooperativos<br />

como<br />

possibilida<strong>de</strong><br />

pedagógica <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong><br />

Heitor Luiz Furtado<br />

A compreensão da importância da Educação<br />

Física nos Centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

perpassa inicialmente pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ser trabalhado o movimento, incorporando<br />

então a expressivida<strong>de</strong> e a mobilida<strong>de</strong> <strong>na</strong>tural<br />

das crianças peque<strong>na</strong>s, oportunizando o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento e a manutenção<br />

da atenção. Nesse sentido, o objetivo<br />

da Educação Física é disponibilizar o maior<br />

número <strong>de</strong> experiências possíveis, para apresentar<br />

um novo mundo, relacio<strong>na</strong>r com um<br />

meio social e físico, ajudar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

motor, cognitivo e sócio afetivo, buscar<br />

a autonomia, a socialização e a ampliação<br />

do conhecimento das práticas corporais.<br />

Nas crianças peque<strong>na</strong>s, o corpo em movi-


mento, por menor que seja, constitui a matriz<br />

básica em que se <strong>de</strong>senvolve as significações<br />

do apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que<br />

a criança transforma em símbolo aquilo que<br />

po<strong>de</strong> experimentar corporalmente. Seu pensamento<br />

se constrói, primeiramente, sob a<br />

forma <strong>de</strong> ação (GARANHANI, 2002). Além<br />

disso, <strong>na</strong> peque<strong>na</strong> infância, os movimentos<br />

do corpo são os primeiros recursos <strong>de</strong> expressão<br />

e comunicação.<br />

Compreen<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> criança é relevante<br />

<strong>na</strong> medida em que fornecerá maiores<br />

indícios da compreensão <strong>de</strong> quais crianças<br />

estamos falando. Principalmente, para qual<br />

caminho <strong>de</strong>vemos direcio<strong>na</strong>r nossas práticas<br />

pedagógicas e ações <strong>de</strong> intervenção. A<br />

criança é um ser histórico e <strong>de</strong> direitos que,<br />

<strong>na</strong>s interações, relações e práticas cotidia<strong>na</strong>s<br />

que vivencia, constrói sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

pessoal e coletiva; brinca, imagi<strong>na</strong>, fantasia,<br />

<strong>de</strong>seja, apren<strong>de</strong>, observa, experimenta,<br />

<strong>na</strong>rra, questio<strong>na</strong> e constrói sentidos sobre a<br />

<strong>na</strong>tureza e a socieda<strong>de</strong>, produzindo cultura<br />

(BRASIL, 2010).<br />

Os momentos <strong>de</strong> Educação Física nos centros<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> são importantes<br />

para a formação cognitiva, afetiva e motora<br />

das crianças, pois tematiza algo bastante<br />

presente no universo infantil que é o brincar,<br />

propiciando ações pedagógicas que<br />

respeitem as características das crianças e<br />

da peque<strong>na</strong> infância, enten<strong>de</strong>ndo-os como<br />

sujeitos produtores <strong>de</strong> cultura. Os jogos, as<br />

brinca<strong>de</strong>iras, os brinquedos, os esportes, as<br />

danças, as manifestações rítmicas são objetos<br />

<strong>de</strong> intervenção pelo qual os professores<br />

organizam suas práticas diárias. Nesse<br />

sentido, o presente relato <strong>de</strong> experiência<br />

tem como objetivo apresentar uma vivência<br />

<strong>de</strong>senvolvida com a turma <strong>de</strong> Jardim I, <strong>na</strong><br />

qual buscou tematizar os jogos cooperativos<br />

como possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas nos momentos<br />

<strong>de</strong> Educação Física.<br />

O presente projeto esteve alicerçado <strong>na</strong>s<br />

Matrizes <strong>de</strong> Habilida<strong>de</strong>s da Educação <strong>Infantil</strong><br />

do município <strong>de</strong> Itajaí, bem como<br />

referendado pela Base Nacio<strong>na</strong>l Comum<br />

Curricular, possuindo como objetivo <strong>de</strong>senvolver<br />

<strong>na</strong>s crianças as seguintes competências,<br />

habilida<strong>de</strong>s e objetivos <strong>de</strong> aprendizagem:<br />

controlar gradualmente o movimento;<br />

apren<strong>de</strong>r a conviver com pessoas entre si;<br />

brincar <strong>de</strong> diversas formas e com diferentes<br />

parceiros; explorar materiais, brinquedos,<br />

objetos, ambientes e entorno físico e<br />

social, i<strong>de</strong>ntificando suas potencialida<strong>de</strong>s,<br />

limites, interesses e <strong>de</strong>senvolver sua sensibilida<strong>de</strong><br />

em relação aos sentimentos, às necessida<strong>de</strong>s<br />

dos outros com quem interage.<br />

Por que jogos cooperativos?<br />

O interesse pelos jogos cooperativos surgiu<br />

<strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> que observei em<br />

<strong>de</strong>senvolver com as crianças o conceito <strong>de</strong><br />

que: preciso do meu amigo para brincar e<br />

que para uma brinca<strong>de</strong>ira dar certo, precisamos<br />

juntos trabalhar para o mesmo objetivo.<br />

Os jogos cooperativos são ferramentas<br />

importantes para o professor, pois cria um<br />

clima <strong>de</strong> relação social, estabelece um contexto<br />

pelo qual há algo a contribuir, promove<br />

um maior auxílio às pessoas menos hábeis e<br />

propicia trabalhar valores como solidarieda<strong>de</strong><br />

e apoio.<br />

Os jogos cooperativos são aqueles cujos objetivos<br />

dos indivíduos estão tão unidos que<br />

ele promove uma correlação positiva entre<br />

as conquistas; um indivíduo alcança seus<br />

objetivos se e somente todos os outros participantes<br />

também atingem os seus. O sucesso<br />

<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do sucesso<br />

dos <strong>de</strong>mais. Além disso, proporcio<strong>na</strong> uma<br />

responsabilida<strong>de</strong> individual <strong>de</strong>ntro do trabalho<br />

coletivo, a interação entre os participantes<br />

buscando resolver os conflitos e os <strong>de</strong>safios<br />

da ativida<strong>de</strong> proposta, o processamento<br />

em grupo e, principalmente, a habilida<strong>de</strong><br />

interpessoal.<br />

Buscou-se <strong>de</strong>senvolver a diferenciação com<br />

as crianças entre jogar com os amigos e<br />

jogar contra os amigos, isto é, para que as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssem certo, precisava-se que<br />

todos os integrantes buscassem o mesmo<br />

objetivo, estabelecendo a inter<strong>de</strong>pendência<br />

positiva entre os integrantes do grupo, articulando,<br />

assim, o Eu, o Outro e o Nós.<br />

Desenvolvimento das intervenções<br />

O projeto foi <strong>de</strong>senvolvimento ao longo <strong>de</strong><br />

um mês, com um total <strong>de</strong> 15 intervenções<br />

com as crianças. Os encontros eram sempre<br />

três vezes por sema<strong>na</strong> com duração <strong>de</strong> uma<br />

hora. Buscou-se utilizar diferentes espaços<br />

46 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>


da instituição como a própria sala <strong>de</strong> aula<br />

da turma, como o parque externo e <strong>de</strong>mais<br />

espaços disponíveis da unida<strong>de</strong>. Foram utilizados,<br />

nos momentos <strong>de</strong> intervenção, bolas<br />

<strong>de</strong> diferentes tamanhos, cordas, bambolês,<br />

barbantes, cones e fitas.<br />

Os <strong>de</strong>safios iniciais foram <strong>de</strong>senvolver a compreensão<br />

<strong>na</strong>s crianças que as brinca<strong>de</strong>iras<br />

não tinham vencedores e per<strong>de</strong>dores, mas<br />

que se todos contribuíssem e refletissem sobre<br />

o real objetivo da ativida<strong>de</strong>, todos seriam<br />

vencedores. As experiências vivenciadas nos<br />

primeiros momentos foram difíceis, pois havia<br />

crianças que não conseguiam lidar com<br />

as ações dos <strong>de</strong>mais amigos, não contribuindo<br />

com o objetivo geral assumido pelo grupo.<br />

Conflitos, discussões e diálogos fizeram<br />

parte dos momentos e propiciaram aprendizagens<br />

significativas para as crianças, bem<br />

como para o professor.<br />

A Turma do Jardim II, do Grupo Água, adaptou-se<br />

<strong>de</strong> forma bastante rápida às ativida<strong>de</strong>s<br />

propostas e conseguiram compreen<strong>de</strong>r<br />

a diferenciação dos tipos <strong>de</strong> jogos, mais precisamente<br />

os jogos cooperativos, e os objetivos<br />

das brinca<strong>de</strong>iras. Notou-se o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma afetivida<strong>de</strong> bastante significa<br />

entre a turma e o professor. Os pequenos<br />

conflitos existentes foram logo resolvidos e<br />

esclarecidos por meio do diálogo.<br />

Destaca-se a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida a qual<br />

consistia em conduzir um amigo <strong>de</strong> olhos<br />

vendados pelo parque <strong>de</strong>sviando dos obstáculos.<br />

Essa ativida<strong>de</strong> foi bastante significativa,<br />

pois materializava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

confiar no amigo, estabelecendo relações<br />

<strong>de</strong> cooperação, respeito e socialização. Notou-se<br />

a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas crianças em<br />

serem conduzidas por outras crianças, e, em<br />

alguns colegas, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduzir<br />

<strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada o colega pelo parque.<br />

Várias crianças no início não confiavam <strong>na</strong><br />

condução e buscavam abrir os olhos durante<br />

a ativida<strong>de</strong>. Após conversa e diálogo com o<br />

grupo, tais condutas pu<strong>de</strong>ram ser transformadas.<br />

Em todas as ativida<strong>de</strong>s propostas,<br />

buscou-se ao fi<strong>na</strong>l dialogar com as crianças<br />

para apontar os principais problemas, <strong>de</strong>safios<br />

e pontos que eles achavam interessantes<br />

e que necessitavam serem resolvidos.<br />

Outra ativida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stacou foi a <strong>de</strong>senvolvida<br />

com o lençol e as bolinhas <strong>de</strong> tênis,<br />

que tinha como objetivo manter todos as<br />

bolinhas sem <strong>de</strong>ixá-las cair para fora do lençol.<br />

No início, o grupo <strong>de</strong>monstrou dificulda<strong>de</strong>,<br />

pois havia crianças que balançavam<br />

muito forte o lençol, o que fazia com que as<br />

bolinhas saíssem. A partir das vivências, as<br />

próprias crianças começaram a conversar e<br />

a chamar a atenção dos amigos para explicar<br />

que se cada um puxasse para um lado ou<br />

balançasse com força não conseguiríamos<br />

atingir o objetivo da proposta.<br />

Relações e vivências<br />

O principal objetivo do projeto era vivenciar<br />

os jogos cooperativos com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

a i<strong>de</strong>ia do jogar com o outro e não contra<br />

o outro. Ao fi<strong>na</strong>l do processo, foi possível<br />

observar que as crianças <strong>de</strong>monstraram por<br />

meio das brinca<strong>de</strong>iras a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir<br />

<strong>de</strong> forma mais coletiva. Em um mundo tão individualista<br />

e egocêntrico, parece ser importante<br />

<strong>de</strong>senvolver tais habilida<strong>de</strong>s que contribuam<br />

para a construção <strong>de</strong> crianças mais<br />

participativas, respeitosas e que respeitem as<br />

individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um.<br />

O processo avaliativo <strong>de</strong>u-se por meio da observação<br />

das ativida<strong>de</strong>s, em que se buscou<br />

i<strong>de</strong>ntificar como as crianças agiam <strong>de</strong>ntro<br />

do gran<strong>de</strong> grupo e quais características individuais<br />

eram mais marcantes no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das ativida<strong>de</strong>s. Observar, dialogar e<br />

i<strong>de</strong>ntificar foram e são ferramentas importantes<br />

para o trabalho diário do professor <strong>de</strong><br />

Educação Física.<br />

É possível perceber a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />

nos momentos <strong>de</strong> Educação Física vivências<br />

que oportunizem a relação entre o Eu, <strong>de</strong> forma<br />

a resgatar as características, os <strong>de</strong>sejos<br />

e as preferências individuais; e o Outro, para<br />

respeitar as individualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada ser, construindo<br />

assim o Nós, o coletivo, o social e o<br />

integrador. A construção da legitimida<strong>de</strong> do<br />

campo da Educação Física, principalmente<br />

nos centros <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, perpassa<br />

entre práticas intencio<strong>na</strong>is que respeitam os<br />

<strong>de</strong>sejos, as características das crianças, bem<br />

como os da infância. Questio<strong>na</strong>mentos como:<br />

Que crianças queremos formar? Que professor<br />

<strong>de</strong>sejamos ser? Qual papel da Educação Física<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>?, são questões importantes<br />

para refletir continuadamente nos processos<br />

<strong>de</strong> constituição dos professores.<br />

Heitor Luiz Furtado<br />

47


48 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilida<strong>de</strong> pedagógica <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>


Referências<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />

da Educação Básica. Orientações Curriculares<br />

Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong>.<br />

2010. Disponível em: .<br />

Acesso em: 23 jul. 2016.<br />

GARANHANI, M. C. A Educação Física <strong>na</strong><br />

escolarização da peque<strong>na</strong> infância. Pensar<br />

a prática, Goiânia, n. 5, p. 106-122, jul./jun.<br />

2002.<br />

Heitor Luiz Furtado<br />

49


50<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Projeto Shantala<br />

Toque <strong>de</strong> amor<br />

Camila da Silva<br />

Gomes das Neves<br />

Ao iniciar o ano letivo, nós professores<br />

sabemos que temos muitos <strong>de</strong>safios, uma<br />

responsabilida<strong>de</strong> assumida em gran<strong>de</strong> parte<br />

do dia com cada criança confiada a nós.<br />

Em meio a essa realida<strong>de</strong>, um dos processos<br />

mais evi<strong>de</strong>ntes <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é a<br />

adaptação.<br />

No início do ano com o “Grupo Cachorro –<br />

Berçário II”, não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Os<br />

bebês inseridos nesta realida<strong>de</strong>, em que<br />

muitos pela primeira vez iriam frequentar<br />

o CEI, sofreram, choraram pela ausência<br />

<strong>de</strong> seus familiares. Estando diretamente<br />

envolvida nesse processo, percebi que<br />

minhas aulas se resumiam, muitas vezes, em<br />

promover vínculo <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> com os bebês:<br />

colos, abraços, beijos, acalentos, faziam<br />

parte do <strong>de</strong>senvolver das aulas <strong>de</strong> Educação<br />

Física.<br />

Como esperado, com o passar das sema<strong>na</strong>s,<br />

a maioria da turma foi apresentando-se mais<br />

adaptada e familiarizada com o ambiente e<br />

as roti<strong>na</strong>s. Contudo, alguns bebês apresentavam<br />

ainda muita fragilida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>


em permanecer no ambiente escolar, pois<br />

cada criança é única e correspon<strong>de</strong> a situações<br />

semelhantes <strong>de</strong> forma diferente. Existiam<br />

momentos que eu percebia que a turma<br />

equalizava a calma, momentos em que eu<br />

oferecia mais gestos <strong>de</strong> acolhimento. Essas<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> carinho supriam <strong>de</strong> certa<br />

forma a ausência dos familiares.<br />

Em uma conversa com a agente do período<br />

matutino, Julia<strong>na</strong>, percebemos a importância<br />

e a diferença que faz o tocar com amor<br />

em nossos bebês, surgindo, assim, a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> realizar algo que evi<strong>de</strong>nciasse essa<br />

ação. Logo surgiu a sugestão <strong>de</strong> realizarmos<br />

massagens nos bebês. Escolhemos, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, a Shantala. Ao selecio<strong>na</strong>r essa prática,<br />

não tínhamos consciência do respaldo<br />

positivo que as massagens fariam nos bebês<br />

e <strong>na</strong>s famílias.<br />

Descoberta <strong>na</strong> Índia em 1970, a Shantala foi<br />

vista pela primeira vez pelo médico obstetra<br />

Frédérick Leboyer, que, andando pelas ruas,<br />

avistou uma mulher sentada <strong>na</strong> calçada com<br />

seu bebê entre as per<strong>na</strong>s a massageá-lo.<br />

Frédérick ficou encantado com a expressão<br />

singela do bebê, e a concentração da mãe<br />

no <strong>de</strong>senvolver da massagem, e, principalmente,<br />

com o intenso vínculo afetivo entre<br />

mãe e filho que aquela prática apresentava.<br />

Ao ler o livro Shantala – Arte tradicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />

massagem para bebês, que o próprio Frédérick<br />

Leboyer escreveu, percebi quantos benefícios<br />

essa prática ofereceria para os bebês,<br />

certificando-me que contribuiria para<br />

os nossos também.<br />

Com a realida<strong>de</strong> que nos cerca, em que a<br />

maior parte do dia os bebês encontram-se no<br />

CEI, longe <strong>de</strong> seus familiares, sabendo que<br />

essa ausência diminui diretamente os laços<br />

afetivos e po<strong>de</strong> interferir diretamente <strong>na</strong><br />

construção bio-psico-social <strong>de</strong>les, tivemos<br />

como objetivo aumentar o vínculo afetivo<br />

com os bebês, proporcio<strong>na</strong>ndo os benefícios<br />

que a área sinestésica atribui, acompanhando<br />

em casa as reações que eles tinham com<br />

suas famílias após receber a massagem. Segundo<br />

Leboyer:<br />

Ser levados, embalados, acariciados, pegos,<br />

massageados constitui para os bebês, alimentos<br />

tão indispensáveis, senão mais, do<br />

que vitami<strong>na</strong>s, sais minerais e proteí<strong>na</strong>s. Se<br />

for privada disso tudo, e do cheiro, do calor,<br />

e da voz que ela conhece bem, mesmo cheia<br />

<strong>de</strong> leite, a criança vai-se <strong>de</strong>ixar morrer <strong>de</strong><br />

fome. (LEBOYER, 1995, p. 18).<br />

Nossas práticas: a Shantala<br />

Iniciamos nossas práticas realizando, em<br />

cada intervenção, massagens <strong>de</strong> 30 minutos<br />

em cada bebê. Em cada intervenção, quatro<br />

bebês - a professora e a agente realizavam<br />

a massagem em dois bebês cada uma. Percebemos<br />

que alguns bebês ficavam com a<br />

musculatura contraída e até dispensavam a<br />

prática, por não terem vivenciado <strong>na</strong>da parecido,<br />

e por ser algo tão íntimo. Assim, alguns<br />

não tiveram boa aceitação <strong>na</strong> primeira<br />

tentativa. Seguimos, no entanto, com cada<br />

bebê até que todos (inclusive os bebês que<br />

<strong>de</strong> imediato não aceitaram) tivessem vivenciado<br />

a Shantala.<br />

Ao perguntar para os familiares sobre a massagem,<br />

tivemos uma explosão <strong>de</strong> informações.<br />

Alguns pais apresentavam colocações<br />

bastante positivas para o nosso projeto. Separamos<br />

algumas colocações apresentadas<br />

por eles:<br />

“As noites seguintes após a massagem, J. G.<br />

dormiu super bem, antes era comum levantar<br />

às quatro e meia da manhã e não dormir<br />

mais. No dia em que ganhou a massagem,<br />

dormiu bem e parecia mais calmo. Gostaria<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r para fazer com frequência nele<br />

em casa” (Mãe do aluno J. G.).<br />

“Ao chegar em casa com P.H., percebi que<br />

ele estava mais relaxado e <strong>na</strong> hora <strong>de</strong> dormir,<br />

foi bastante fácil, percebi também que seu<br />

sono estava melhor, pois há tempo não dormia<br />

a noite inteira, e após a massagem ele<br />

dormiu sem intervalos a noite” (Mãe <strong>de</strong> P.H.).<br />

“Ela dormiu super bem, percebi que não chegou<br />

tão acelerada como sempre chega em<br />

casa, além da facilida<strong>de</strong> que tive em fazê-la<br />

dormir” (Mãe <strong>de</strong> A. S.).<br />

Com os relatos, percebemos que a massagem,<br />

além <strong>de</strong> relaxar os bebês, contribuiu<br />

diretamente em seu comportamento e bem<br />

-estar, facilitando, assim, o contato entre<br />

mãe e filho, que, muitas vezes, os pais, após<br />

um dia inteiro <strong>de</strong> trabalho, não conseguem<br />

doar a atenção necessária a seus filhos. O<br />

52 Projeto Shantala Toque <strong>de</strong> amor


stress do cotidiano muitas vezes nos rouba<br />

dos nossos mais próximos.<br />

[...] a roti<strong>na</strong> das mães é particularmente organizada<br />

em razão <strong>de</strong>les, principalmente<br />

quando são pequenos: o dia começa muito<br />

cedo, com a arrumação da mochila, vestimenta,<br />

alimentação e banho para que as<br />

crianças possam ser <strong>de</strong>ixadas <strong>na</strong> creche ou<br />

escolinha. Também envolve, no fim do dia,<br />

tarefas como lavar, passar e cozinhar, especialmente<br />

a tarefa do jantar, uma vez que<br />

muitas mães passam o dia inteiro fora <strong>de</strong><br />

casa, sendo o almoço provi<strong>de</strong>nciado por terceiros.<br />

Além das tarefas, o cuidado também<br />

inclui educar/orientar, acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

escolar (ver ca<strong>de</strong>rnos, lição <strong>de</strong><br />

casa, participar <strong>de</strong> reuniões, conversar com<br />

professores), dar atenção, conversar, enfim,<br />

passar algum tempo com os filhos (o que<br />

po<strong>de</strong>ria ser interpretado também como uma<br />

prestação <strong>de</strong> atenção psicológica). (BRUS-<br />

CHINI; RICOLDI, 2009, p. 99).<br />

Percebemos que a massagem proporcionou,<br />

além <strong>de</strong> vínculos extremamente importantes,<br />

facilida<strong>de</strong>s para os familiares. As mães<br />

que, muitas vezes, acabavam se <strong>de</strong>sgastando<br />

para realizar o terceiro turno <strong>de</strong> seu dia,<br />

em que não há mais muita energia em estoque,<br />

pu<strong>de</strong>ram observar seus filhos e se fazer<br />

mais próximas, pois percebiam em seus filhos<br />

mais serenida<strong>de</strong> e tranquilida<strong>de</strong>, tor<strong>na</strong>ndo<br />

os cuidados que vão até pegar no sono mais<br />

leves e agradáveis. Evi<strong>de</strong>nciamos que essa<br />

prática vai além do tocar, do sentir ou do relaxar.<br />

Ela esta diretamente ligada em estar<br />

próximo, ser confiável, propor mais <strong>de</strong> si para<br />

o outro e amar incondicio<strong>na</strong>lmente.<br />

Contribuições: da porta para <strong>de</strong>ntro<br />

Ficamos muito realizadas com a proporção<br />

que tomou nosso projeto e mais felizes por<br />

po<strong>de</strong>r fazer algo que efetivamente e <strong>de</strong> forma<br />

palpável contribuiu diretamente para<br />

formação integral <strong>de</strong> nossos bebês. Apren<strong>de</strong>mos<br />

que o que realizamos da porta para<br />

<strong>de</strong>ntro forma seu caráter, <strong>de</strong>screve suas vivências,<br />

amplia seus horizontes e os tor<strong>na</strong>m<br />

seres imprescindíveis para a existência do<br />

professor, O SER CRIANÇA. Acredito que<br />

isso é ser Educador.<br />

Referências<br />

BRUSCHINI, M. C.; RICOLDI, A. M. Família e<br />

trabalho: difícil conciliação para mães trabalhadoras<br />

<strong>de</strong> baixa renda. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Pesquisa,<br />

São Paulo, v. 39, n. 136, p. 93-123, jan./<br />

abr. 2009.<br />

LEBOYER, F. Shantala – Arte tradicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />

massagem para bebês. Tradução <strong>de</strong> Luiz Roberto<br />

Be<strong>na</strong>ti e Maria Silvia Cintra Martins.<br />

São Paulo: Ground, 1995<br />

Com todas essas importâncias em nossas<br />

mãos, realizamos a culminância <strong>de</strong>ste projeto<br />

com um convite a ensi<strong>na</strong>r às mães a prática<br />

<strong>de</strong> massagem Shantala. Tivemos a presença<br />

<strong>de</strong> sete mães. Passamos um ví<strong>de</strong>o da<br />

prática, explicamos os benefícios e realizamos<br />

a massagem, cada mãe com seus filhos.<br />

Foi muito gratificante perceber o empenho<br />

das mães em sair do trabalho, pegar uma folga,<br />

ou até repor a hora <strong>de</strong>pois para estarem<br />

ali apren<strong>de</strong>ndo esse método tão benéfico.<br />

Assim, realizamos as massagens, e junto à<br />

prática, entregamos um livro ilustrado com<br />

o passo-a-passo da prática <strong>de</strong> massagem<br />

Shantala.<br />

Camila da Silva Gomes das Neves<br />

53


54<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Me encaixa<br />

nessa caixa<br />

Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />

Educação Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, a linguagem<br />

do movimento <strong>na</strong> infância ...brincar<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>r a brincar ... apren<strong>de</strong>r<br />

a ser, a fazer, a apren<strong>de</strong>r, a conviver... tratar<br />

a criança exatamente como <strong>de</strong>ve ser... aten<strong>de</strong>r<br />

seus interesses e necessida<strong>de</strong>s, usando<br />

as diferentes linguagens (oral, corporal, artística,<br />

estética, plástica), estimular as percepções<br />

(auditiva, visual, tátil...espaço temporal),<br />

por meio das sensações. Palavras que<br />

hoje fazem parte do meu cotidiano: leituras,<br />

pesquisas, trocas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias...planejamento,<br />

execução, observação...constatação...Buscar<br />

aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s e os interesses<br />

das crianças, fazer com que se sintam felizes,<br />

que <strong>de</strong>senvolvam habilida<strong>de</strong>s, valores...<br />

Quem são essas crianças e como se reconhecem?<br />

Como reconhecem seus amigos?<br />

Venho constantemente pensando e repensando<br />

ativida<strong>de</strong>s que possibilitem a <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> si mesmas e do outro... brinca<strong>de</strong>iras<br />

e interações ...brinca<strong>de</strong>iras ou interações?<br />

Imitar, repetir, recriar, ter iniciativa, saber fazer<br />

escolhas, interagir.


Se pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>finir nossa intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />

como educadores, ousaria dizer que temos<br />

obrigação <strong>de</strong> permitir que a criança seja ela<br />

mesma, que possa fazer o que tem direito,<br />

ser ape<strong>na</strong>s e só uma criança, brincar e brincar.<br />

Estou apren<strong>de</strong>ndo a apren<strong>de</strong>r com eles,<br />

continuo procurando inovar. Algumas palavras<br />

ouvidas durante um curso ressoam nos<br />

meus ouvidos: “Quando você for comprar um<br />

brinquedo para uma criança, <strong>de</strong>ixe o brinquedo,<br />

leve a caixa”. Configuração cerebral...<br />

as i<strong>de</strong>ias unem-se e tudo se encaixa. Sempre<br />

gostei <strong>de</strong> caixas. Observo que elas carregam<br />

consigo a sensação <strong>de</strong> aconchego, a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scoberto, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir, do<br />

encontro, do <strong>de</strong>sencontro, entusiasmo, alegria.<br />

Constatação: eles realmente adoram<br />

brincar com caixas (sempre que disponibilizo<br />

caixas para brinca<strong>de</strong>iras há disputa... tem<br />

<strong>de</strong> ter muitas caixas... carrego bolas, bolinhas,<br />

cordas, potinhos, garrafas em caixas, e,<br />

quando planejo alguma ativida<strong>de</strong> com esses<br />

objetos, brincam um pouco e, normalmente,<br />

acabam... <strong>na</strong> caixa) ... e mais uma vez....<br />

tudo se encaixa...e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criar um espaço<br />

mais amplo, produzido com a participação<br />

das crianças, concretiza-se … a construção<br />

do túnel <strong>de</strong> caixas...<br />

Desenvolver habilida<strong>de</strong>s e competências<br />

como: ampliar o conhecimento do mundo,<br />

manipular diferentes materiais, explorar<br />

suas características, proprieda<strong>de</strong>s e possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> manuseio, entrar em contato<br />

com formas diversas <strong>de</strong> expressão artística,<br />

corporal, oral, estética, plástica; <strong>de</strong>senvolver<br />

posturas a<strong>de</strong>quadas para o dia a dia, bem<br />

como expressão e comunicação dos movimentos;<br />

manipular diferentes materiais para<br />

o fazer artístico; <strong>de</strong>senvolver o gosto, o cuidado<br />

e o respeito pelo processo <strong>de</strong> produção<br />

e <strong>de</strong> criação; interessar-se pelas próprias<br />

produções e pela dos colegas; perceber e<br />

explorar formas, cores e texturas, expressarse<br />

por meio da pintura; <strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong><br />

e criativida<strong>de</strong> em diversas situações;<br />

respeitar a própria integrida<strong>de</strong> física e a do<br />

colega; <strong>de</strong>senvolver noção espaço temporal;<br />

<strong>de</strong>senvolver o senso <strong>de</strong> cooperação e colaboração,<br />

assim como o cuidado consigo,<br />

com o outro e com o material; expressar-se<br />

com <strong>de</strong>senvoltura <strong>na</strong> sessão <strong>de</strong> fotos e apreciá-las;<br />

brincar e interagir no túnel; <strong>de</strong>senvolver<br />

noções matemáticas (<strong>de</strong>ntro, fora; em<br />

cima, em baixo; atrás, <strong>na</strong> frente; <strong>de</strong>ste lado,<br />

do outro lado; gran<strong>de</strong>, pequeno; pesado,<br />

leve) são objetivos a serem conquistados <strong>na</strong><br />

exploração do túnel.<br />

Túnel <strong>de</strong> caixas: trabalho coletivo<br />

Ao retor<strong>na</strong>r das férias, ao entrar em contato<br />

com as crianças, procurei unir o útil ao agradável:<br />

consegui diversas caixas e planejava<br />

usá-las <strong>na</strong>s aulas, mas sabia que precisava <strong>de</strong><br />

tempo para forrá-las ou pintá-las, e aí surgiu<br />

a i<strong>de</strong>ia da participação das crianças <strong>na</strong> pintura<br />

das caixas, <strong>de</strong>ixando-as à vonta<strong>de</strong> para<br />

vivenciar essa experiência, brincando (on<strong>de</strong><br />

<strong>na</strong>turalmente sujariam o corpo <strong>de</strong> tinta) e,<br />

em um clima bastante quente, participariam<br />

<strong>de</strong> um prazeroso banho <strong>de</strong> mangueira (já<br />

que durante os dias <strong>de</strong> aula normal não teria<br />

tempo <strong>de</strong> realizar as ativida<strong>de</strong>s, realizei-as<br />

durante duas manhãs, uma com o Mater<strong>na</strong>l<br />

II e outra com o Jardim I, pois queria fazer<br />

a ativida<strong>de</strong> sem pressa). Planejei e organizei<br />

a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira que pu<strong>de</strong>ssem perceber<br />

como surge um túnel: abri as caixas,<br />

distribui as tintas em potinhos (cada um escolhia<br />

a cor que queria pintar, i<strong>de</strong>ntificando-a).<br />

Sentados no chão ao redor das caixas<br />

abertas, <strong>de</strong>i um pincel para cada criança,<br />

organizei os espaços on<strong>de</strong> cada um pintaria,<br />

mostrei a maneira correta <strong>de</strong> segurar o<br />

pincel, sem apertar, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tinta<br />

que mais ou menos <strong>de</strong>veriam pegar do pote,<br />

56 Me encaixa nessa caixa


espalhando-a, preenchendo os espaços vazios.<br />

Deixei-os à vonta<strong>de</strong>, sugerindo que<br />

pedissem ajuda quando necessário; fiquei<br />

observando e repondo as tintas nos potes.<br />

Acabando a pintura, pedi para que olhassem<br />

se tinha algum lugar que não houvesse tinta<br />

para dar os “retoques”, que ficaria mais bonito.<br />

Eles concordaram. Acabado, recolhi os<br />

pincéis e os potes. Pedi para que levantassem<br />

e observassem a beleza da arte produzida,<br />

elogiei-os e agra<strong>de</strong>ci pela ajuda. Ficaram<br />

sorri<strong>de</strong>ntes, alegres, e fomos para a sessão<br />

<strong>de</strong> fotos... amaram ver sua produção e ficaram<br />

orgulhosos com os elogios...bom <strong>de</strong>mais<br />

ser valorizado e reconhecido… se sentir útil.<br />

Em seguida, banho <strong>de</strong> mangueira (com direito<br />

a chafariz e tudo). Participaram também<br />

do processo <strong>de</strong> secar o corpo e colocar a<br />

roupa. Repeti todo o processo com o Jardim<br />

I no outro dia. Todos se envolveram com a<br />

ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrando bastante atenção e<br />

capricho <strong>na</strong> pintura. Conversei com o grupo<br />

e falei que montaria as caixas e faria um túnel<br />

com elas; comentei também que os grupos<br />

Mater<strong>na</strong>l I e berçários amariam brincar<br />

com o túnel que eles pintaram. Adoraram a<br />

i<strong>de</strong>ia. Montei o túnel (feriados, greve.... ufa...<br />

consegui), abri porta, fiz furos circulares no<br />

teto e <strong>na</strong>s laterais, e reforcei com fitas a<strong>de</strong>sivas,<br />

colei as fotos e …fi<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong>s aulas<br />

<strong>de</strong> cada grupo, apresentei o tão esperado<br />

túnel <strong>de</strong> caixas. Ficaram eufóricos, impetuosos,<br />

curiosos... adoraram. Estabeleci regras<br />

<strong>de</strong> convivência a todos: um <strong>de</strong> cada vez, sem<br />

empurrar... enquanto uns entravam, outros<br />

espiavam por fora, olhavam as fotos....fomos<br />

revezando, um entra e sai ansioso, uns querendo<br />

ficar, mas precisando liberar... e pouco<br />

a pouco, <strong>de</strong>senvolvendo noção <strong>de</strong> tempo e<br />

espaço; encolhendo ou esten<strong>de</strong>ndo o corpo;<br />

enfiando a cabeça ou braços no buraco; entrando<br />

ou saindo <strong>de</strong>le, dizendo “Oi”; aba<strong>na</strong>ndo,<br />

expressando seu contentamento quando<br />

reconhecido, ou, ao reconhecer o amigo,<br />

respeitá-lo (senão ficava fora da brinca<strong>de</strong>ira);<br />

e, também, cuidando para não estragar o<br />

túnel que ajudaram a construir (fazer parte<br />

do processo, ajudar a cuidar).<br />

O túnel é leve e prático <strong>de</strong> carregar, o que<br />

permite ser usado em diferentes espaços<br />

(<strong>na</strong> sala, <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong>, em busca <strong>de</strong> um<br />

sol quando muito frio). Era visível a satisfação<br />

ao ver suas fotos no túnel e eu reforçava<br />

que estava lindo e o quanto foi importante<br />

sua colaboração <strong>na</strong> pintura. No <strong>de</strong>correr<br />

das aulas, disponibilizei o túnel com outros<br />

materiais (outras caixas, bolas, túnel <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras)<br />

e organizei circuito, bola ao túnel,<br />

adivinhe quem está no túnel. Dividi o grupo<br />

em subgrupos, no qual iam se organizando<br />

e criando novas brinca<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitassem<br />

regras <strong>de</strong> convivência já estipuladas.<br />

Mostrei também ao Mater<strong>na</strong>l I e Jardim I<br />

os bebês brincando no túnel que ajudaram a<br />

construir...ficavam “bobos”, sorri<strong>de</strong>ntes.<br />

A experiência: brincando<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>ndo a brincar<br />

Foi uma experiência incrível, e ainda é...parece<br />

incrível, mas o túnel <strong>de</strong> papelão ainda resiste<br />

(com alguns reparos a cada uso, é claro<br />

- após pegar chuva, ele encolheu – foi, assim,<br />

necessariamente reduzido). Resiste porque foi<br />

construído pelas mesmas mãos <strong>de</strong> quem está<br />

usufruindo. O túnel está sendo cuidado, valorizado<br />

por esse grupo <strong>de</strong> crianças que, nesse<br />

processo, <strong>de</strong>senvolveram, acima <strong>de</strong> tudo, valores<br />

como cooperação, respeito, colaboração,<br />

responsabilida<strong>de</strong>. Enquanto brincam <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r, apren<strong>de</strong>m a brincar, exercendo seu<br />

direito <strong>de</strong> ser ape<strong>na</strong>s uma criança.<br />

Enquanto as crianças brincavam e interagiam,<br />

sentindo-as crianças felizes a sorrir, escrevi:<br />

Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />

57


58 Me encaixa nessa caixa


Me encaixa nessa caixa<br />

Gosto que me enrosco<br />

da caixa que entra, da caixa que sai<br />

da caixa que acolhe, que encanta, que aquece<br />

Num só instante,<br />

o encontro … eu e você, acontece...<br />

Gosto e me enrosco<br />

no amigo que entra, no amigo que sai<br />

<strong>na</strong> caixa que encolhe, encanta e aquece<br />

Não fosse o bastante<br />

te encontro... e você não me esquece<br />

Enroscar, aquecer, encantar, num só instante...<br />

não fosse o bastante...adorei me encaixar<br />

As i<strong>de</strong>ias fluem a cada encontro, no qual me<br />

encanto com a vibração das crianças. Em<br />

uma constante procura <strong>de</strong> inovação, surge<br />

a “Caixa do palhaço”, satisfazendo a simples<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parar e brincar.<br />

Lour<strong>de</strong>s Hele<strong>na</strong> Bravo Gautério<br />

59


60<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Meu corpinho<br />

vou cuidar chuá,<br />

chuá, o banho<br />

vai começar<br />

Marcia Eliane Lorenzoni<br />

A roti<strong>na</strong> <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong> é a base do cotidiano.<br />

Planejada pelo adulto e pelas crianças<br />

é merecedora <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância.<br />

Suas vivências <strong>de</strong>vem contemplar estratégias<br />

diferenciadas: música, dança, expressão<br />

corporal e brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>vem fazer parte<br />

<strong>de</strong>sse contexto para que as crianças envolvidas<br />

nessas diferentes linguagens possam,<br />

<strong>de</strong> forma prazerosa, se <strong>de</strong>senvolver.<br />

Promover uma roti<strong>na</strong> planejada e diferenciada<br />

é <strong>de</strong> forma tranquila interagir com os pequenos<br />

nesse momento, é preciso dialogar<br />

para ensi<strong>na</strong>r e apren<strong>de</strong>r. As interações da<br />

criança com seus parceiros sociais provocam<br />

confrontos <strong>de</strong> significações e incentivam os<br />

parceiros a consi<strong>de</strong>rar as intenções dos outros<br />

e superar contradições que surjam entre<br />

eles. Com isso, ela constitui formas mais elaboradas<br />

<strong>de</strong> perceber, memorizar, solucio<strong>na</strong>r<br />

problemas, lembrar-se <strong>de</strong> algo, emocio<strong>na</strong>r-se<br />

com alguma coisa, formas essas historicamente<br />

construídas. (OLIVEIRA, 2002, p. 138).


Como profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação Física, uma<br />

das roti<strong>na</strong>s que vivencio <strong>na</strong> instituição é o<br />

momento da higiene. Essa roti<strong>na</strong> me <strong>de</strong>ixa<br />

inquieta <strong>na</strong> hora <strong>de</strong> elaborar o planejamento,<br />

<strong>de</strong> buscar ativida<strong>de</strong>s diferenciadas que envolvam<br />

o grupo <strong>de</strong> crianças. Ao pesquisar as<br />

Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is para Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, observei que, quando se refere<br />

ao atendimento <strong>de</strong> bebês e <strong>de</strong> crianças<br />

peque<strong>na</strong>s, o documento enfatiza formas <strong>de</strong><br />

trabalhos pedagógicos que “[...] possibilitem<br />

situações <strong>de</strong> aprendizagem mediadas para a<br />

elaboração da autonomia das crianças <strong>na</strong>s<br />

ações <strong>de</strong> cuidado pessoal, auto-organização,<br />

saú<strong>de</strong> e bem-estar” (BRASIL, 2009, p. 26).<br />

Assim, é preciso organizar momentos individuais<br />

e coletivos, <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> em que as crianças<br />

possam sentir-se motivadas, construir sua autoimagem<br />

<strong>de</strong> forma positiva e vivenciar experiências<br />

que possibilitem um aprendizado, “[...]<br />

organizar um cotidiano <strong>de</strong> situações agradáveis,<br />

estimulantes, que <strong>de</strong>safiem o que cada<br />

criança e seu grupo <strong>de</strong> crianças já sabem sem<br />

ameaçar sua autoestima nem promover competitivida<strong>de</strong>”<br />

(OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />

Na minha prática <strong>de</strong> Educação Física, <strong>na</strong> roti<strong>na</strong><br />

<strong>de</strong> higiene, exploro muito com os pequenos<br />

aspectos corporais, pois os bebês são<br />

extremamente sensitivos ao toque, apren<strong>de</strong>m<br />

muito com o corpo. Assim, envolvi o<br />

grupo <strong>de</strong> crianças, a turma do berçário II, em<br />

uma vivência sobre a questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

corporal e todas as premissas que envolvem<br />

a cultura do corpo, o conhecimento <strong>de</strong>le, a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nomear, i<strong>de</strong>ntificar e reconhecer<br />

suas partes e explorar semelhanças<br />

e diferenças do próprio corpo e do corpo do<br />

outro. Assim sendo, as crianças participaram<br />

<strong>de</strong> um momento lúdico que oportunizou<br />

a curiosida<strong>de</strong> e a valorização dos cuidados<br />

com o corpo, um importante aspecto <strong>na</strong><br />

construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Os momentos <strong>de</strong> higiene foram sempre motivo<br />

<strong>de</strong> inquietação ao planejar, afi<strong>na</strong>l conseguir<br />

a atenção dos pequenos e sua participação<br />

não é tarefa fácil. Assim, busquei alter<strong>na</strong>tivas<br />

que <strong>de</strong>senvolvessem habilida<strong>de</strong>s referentes à<br />

higiene <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> da faixa etária <strong>de</strong> 1 a 2 anos,<br />

para que as crianças se envolvessem e juntos<br />

conquistassem aprendizagens.<br />

Minha observação inicial foi durante uma<br />

aula <strong>na</strong> qual parei para observar a interação<br />

62 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar


das crianças com o espelho. Percebi que alguns<br />

dos bebês brincavam, se apreciavam.<br />

Aproveitei, então, para entrar <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />

e mostrar o rosto <strong>de</strong>les refletido no espelho,<br />

para que se reconhecessem. Fui <strong>na</strong>turalmente<br />

nomeando e apontando a boca, o<br />

<strong>na</strong>riz, a língua, os olhos e, posteriormente, os<br />

<strong>de</strong>ntes, dando ênfase <strong>na</strong> valorização da autoestima<br />

das crianças, fazendo-as perceber<br />

semelhanças e diferenças <strong>de</strong>stacando as belezas<br />

<strong>de</strong> cada uma e do grupo.<br />

[...] os educadores po<strong>de</strong>m estimular, motivar<br />

e facilitar o brincar, encorajando as crianças<br />

a funcio<strong>na</strong>rem em um nível mais profundo do<br />

que aquele em que funcio<strong>na</strong>riam se fossem<br />

entregues a si mesmas. O adulto que está<br />

<strong>de</strong>sempenhando um papel não só oferece<br />

as crianças um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento,<br />

como também po<strong>de</strong> alterar esse papel para<br />

introduzir no brincar uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “pessoas”,<br />

problemas, <strong>de</strong>safios e assim por diante.<br />

(MÓYLES, 2006, p. 120).<br />

Para valorizar momentos <strong>de</strong> movimentação<br />

dos pequenos, dançamos ao som do grupo<br />

Palavra Cantada (lavar as mãos) e Xuxa (hora<br />

do banho e escovar os <strong>de</strong>ntes). Acompanhando<br />

a letra da música, fui fazendo os gestos<br />

e a maioria os repetia. Foi um momento <strong>de</strong><br />

alegria, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Sabendo que a turma do Berçário II <strong>de</strong>monstra<br />

gran<strong>de</strong> interesse por literatura, fiz a leitura<br />

do livro Saú<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>ntes (Heloísa Bertane<br />

e Roberto Belli). Recontei a história com<br />

o auxílio <strong>de</strong> fantoches. Para os pequenos<br />

foram momentos <strong>de</strong> interação. As crianças<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s dialogavam<br />

por gestos e balbucios com os fantoches.<br />

No brincar, a criança assume a posição <strong>de</strong> sujeito<br />

falante, o que possibilita ao professor escutar<br />

e conhecer a criança com mais proprieda<strong>de</strong>.<br />

Em razão disto, o brincar não <strong>de</strong>ve ser compreendido<br />

<strong>na</strong> educação infantil nem tampouco no<br />

ensino fundamental como um conhecimento<br />

pronto e por isso reproduzido em manuais que<br />

apresentam cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras acompanhadas<br />

<strong>de</strong> procedimentos a serem executados<br />

pelo professor junto às crianças. (SOM-<br />

MERHALDER; ALVES, 2011, p. 62).<br />

A troca <strong>de</strong> fraldas <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> aos objetivos<br />

trabalhados. A cada troca foi valorizado<br />

o toque <strong>na</strong>s diferentes partes do corpo. Foram<br />

Marcia Eliane Lorenzoni<br />

63


momentos <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira para nomeá-las e<br />

tateá-las. Na oportunida<strong>de</strong>, os bebês manusearam<br />

objetos relacio<strong>na</strong>dos à higiene corporal,<br />

elas os exploraram e brincaram com eles.<br />

Ampliar as possibilida<strong>de</strong>s da criança cuidar<br />

e ser cuidada, <strong>de</strong> se expressar, comunicar e<br />

criar, <strong>de</strong> organizar pensamentos e i<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong><br />

conviver, brincar e trabalhar em grupo, <strong>de</strong> ter<br />

iniciativa e buscar soluções para os problemas<br />

e conflitos que se apresentam <strong>na</strong>s mais<br />

diferentes ida<strong>de</strong>s” (OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />

Pela motivação observada <strong>na</strong> participação<br />

das crianças em sala, resolvi planejar um<br />

momento <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong> com ativida<strong>de</strong>s<br />

concretas, para que os bebês pu<strong>de</strong>ssem explorar<br />

vários materiais <strong>de</strong> higiene. Segundo<br />

Ostetto (2000), é preciso oferecer espaços<br />

com propostas diferenciadas, situações diversificadas,<br />

que ampliem as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> exploração e “pesquisa” infantis. As crianças<br />

realmente ampliam suas possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> exercitar a autonomia, a liberda<strong>de</strong>, a iniciativa,<br />

a livre escolha, quando o espaço está<br />

a<strong>de</strong>quadamente organizado.<br />

Para a vivência, organizei um espaço com<br />

vários bonecos <strong>de</strong>snudos, bacias coloridas<br />

com a água, mini sabonetes e xampus, toalhas<br />

e escova corporal. A princípio, eles posaram<br />

para foto e escutaram atentamente as<br />

orientações dadas pela professora. Depois,<br />

gradativamente, o grupo <strong>de</strong> crianças foi manipulando<br />

os materiais, uns com menos interesses,<br />

outros com mais.<br />

molhassem muito, afi<strong>na</strong>l estamos iniciando<br />

o inverno, foram confeccio<strong>na</strong>dos aventais<br />

<strong>de</strong> <strong>na</strong>pa ilustrativos com <strong>de</strong>senhos relacio<strong>na</strong>dos<br />

à higiene, bem como touca <strong>de</strong> banho.<br />

“Assegurar às crianças a manifestação <strong>de</strong><br />

seus interesses, <strong>de</strong>sejos, e curiosida<strong>de</strong>s ao<br />

participar das práticas educativas; apoiar a<br />

conquista pelas crianças <strong>de</strong> autonomia <strong>na</strong><br />

escolha <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e<br />

para a realização <strong>de</strong> cuidados pessoais diários”<br />

(OLIVEIRA, 2012, p. 34).<br />

Dando continuida<strong>de</strong> à essa vivência, com auxílio<br />

<strong>de</strong> uma arcada <strong>de</strong>ntária feita com garrafa<br />

pet e isopor em tamanho gigante, com<br />

a escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, fui fazendo <strong>de</strong>monstração<br />

sobre os movimentos corretos utilizados<br />

para escovar os <strong>de</strong>ntes. Em seguida, cada<br />

criança recebeu uma escova com creme<br />

<strong>de</strong>ntal para escovar os <strong>de</strong>ntes dos bonecos.<br />

Foi um momento <strong>de</strong> encantamento, pois alguns<br />

escovaram os seus próprios <strong>de</strong>ntes, outros<br />

seguiram as orientações e escovaram os<br />

<strong>de</strong>ntes do boneco. O interessante foi perceber<br />

que, em ambas as situações, as crianças<br />

já souberam relacio<strong>na</strong>r objeto e função. Foi<br />

gratificante observar a interação dos bebês<br />

<strong>na</strong>s ativida<strong>de</strong>s propostas e perceber a riqueza<br />

<strong>de</strong> estar e pertencer ao universo da Educação<br />

<strong>Infantil</strong>.<br />

As ativida<strong>de</strong>s realizadas foram motivo <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> satisfação profissio<strong>na</strong>l ao perceber o<br />

envolvimento e o aprendizado das crianças.<br />

Todo o tempo participamos, orientando e ensi<strong>na</strong>ndo<br />

para que servia cada material utilizado<br />

e também nomeando as partes do corpo.<br />

Ramos (apud FORTUNA, 2003) diz que a<br />

brinca<strong>de</strong>ira não <strong>de</strong>ve ser uma ativida<strong>de</strong> tão<br />

“largada” que dispense o educador, nem tão<br />

dirigida que <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser brinca<strong>de</strong>ira. Enten<strong>de</strong>mos<br />

que a ação do educador é fundamental<br />

no processo <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do brinca<strong>de</strong>ira,<br />

pois a sua intermediação po<strong>de</strong>rá ser requisitada<br />

a qualquer momento, seja para incentivar<br />

ou para mo<strong>de</strong>rar as ativida<strong>de</strong>s. Houve<br />

crianças que superaram nossas expectativas,<br />

pois pareciam já saber que o xampu era<br />

para colocar <strong>na</strong> cabeça e, antes mesmo da<br />

orientação, passavam o sabonete no corpo<br />

do boneco. Após o banho, elas receberam<br />

a toalha e, com auxílio, o secaram. Pensando<br />

no cuidado para que as crianças não se<br />

64 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar


Muitas foram as situações <strong>de</strong> aprendizagem<br />

observadas durante a realização do presente<br />

trabalho. Entre elas, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar<br />

que muitas crianças já i<strong>de</strong>ntificam as partes<br />

do corpo, sabem até apontá-las e alguns até<br />

balbuciam o nome. A participação no momento<br />

da literatura e a compreensão dos<br />

bebês <strong>na</strong> interação com os fantoches foram<br />

pontos muito positivos, pois eles interagiam<br />

com os fantoches apontando com os <strong>de</strong>dos<br />

as partes do corpo. O envolvimento no momento<br />

da música fez com que as crianças<br />

a acompanhassem dançando no ritmo <strong>de</strong>la<br />

e fazendo movimentos harmoniosos relacio<strong>na</strong>dos<br />

à letra da canção e ao meu movimento,<br />

visto que, nesse momento, me permiti<br />

dançar com eles. Percebemos o entusiasmo<br />

dos pequenos em participar da ativida<strong>de</strong><br />

do banho dos bonecos, pois somente uma<br />

criança se dispersou e foi brincar no parque.<br />

Eles adoraram mexer <strong>na</strong> água e sabiam que<br />

ao balançar a mão espuma se formava. Foi<br />

uma festa só, um borbulhar constante. Aqui<br />

reforçamos o que as diretrizes <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e<br />

municipais e outros estudos referentes ao<br />

aprendizado <strong>de</strong> crianças já vem apontando,<br />

pois ativida<strong>de</strong>s diferentes realmente pren<strong>de</strong>m<br />

a atenção e <strong>de</strong> forma envolvente e lúdica<br />

beneficiam a aprendizagem.<br />

Enfim, a higiene corporal é essencial. Destacamos,<br />

assim, por meio <strong>de</strong>ste trabalho, a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> as crianças serem beneficiadas<br />

e orientadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo sobre a importância<br />

do cuidado com o corpo como um todo<br />

para que percebam que seu corpo é feito <strong>de</strong><br />

“vida” e que ele merece carinho e cuidados<br />

especiais.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />

<strong>de</strong> Educação Básica. Diretrizes curriculares<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is para a educação infantil. Brasília:<br />

MEC, SEB, 2009.<br />

FORTUNA, T. R. O brincar <strong>na</strong> educação infantil.<br />

Revista Pátio – Educação <strong>Infantil</strong>, ano<br />

1, n. 3, <strong>de</strong>z. 2003.<br />

MÓYLES, J. R. A excelência do brincar. Porto<br />

Alegre: Artmed, 2006.<br />

OLIVEIRA, Z. R. <strong>de</strong>. Educação <strong>Infantil</strong>: fundamentos<br />

e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

OLIVEIRA, Z. R. <strong>de</strong>. O trabalho do professor<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. São Paulo: Biruta,<br />

2012.<br />

OSTETTO, L. E. Encontros e encantamento<br />

<strong>na</strong> educação infantil. São Paulo: Papirus,<br />

2000.<br />

SOMMERHALDER, A.; ALVES, F. D. Jogo e<br />

a educação da infância: muito prazer em<br />

apren<strong>de</strong>r. Paraná: CRV, 2011.<br />

Marcia Eliane Lorenzoni<br />

65


66<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Interagindo<br />

com a<br />

Diversida<strong>de</strong><br />

O Maracatu <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

educação infantil<br />

Rodrigo Zapparoli<br />

Trabalhar a temática da diversida<strong>de</strong> <strong>na</strong> educação<br />

infantil através do profissio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />

educação física é uma rica possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

construir novos saberes.<br />

Existe por parte do profissio<strong>na</strong>l a preocupação<br />

com a questão do respeito a diversida<strong>de</strong><br />

cultural, haja vista que as crianças estão<br />

se constituindo enquanto cidadãos. BASEI<br />

(2008) enfatiza:<br />

A escola infantil e, portanto, conforme nossa<br />

compreensão, um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas e<br />

<strong>de</strong> ampliação das experiências individuais,<br />

culturais, sociais e educativas, através da


inserção da criança em ambientes distintos<br />

dos da família. Um espaço e um tempo em<br />

que sejam integrados o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

criança, seu mundo <strong>de</strong> vida, sua subjetivida<strong>de</strong>,<br />

com os contextos sociais e culturais que<br />

a envolvem através das inúmeras experiências<br />

que ela <strong>de</strong>ve ter a oportunida<strong>de</strong> estimulo<br />

<strong>de</strong> vivências nesse espaço <strong>de</strong> formação.<br />

Concebi o momento da Kizomba como uma<br />

rica oportunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver um trabalho<br />

que abarcasse tanto o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

infantil, como suas questões sociais e<br />

também legais.<br />

Um dos objetivos fundamentais da República<br />

Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil: “Promover o bem<br />

<strong>de</strong> todos, sem preconceito <strong>de</strong> origem, raça,<br />

sexo, cor, ida<strong>de</strong> e quaisquer outras formas<br />

<strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção” (CRFB/88. Art. 3º inciso<br />

IV). Vê-se que a exploração do tema da<br />

igualda<strong>de</strong> envolve questões éticas, respeito<br />

ao próximo e atenção aos direitos humanos.<br />

Através da Lei nº 10.639 <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 2003 e da Lei nº 11.654 <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 2008, as Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacio<strong>na</strong>l (Lei nº 9.394/96), foi acrescida da<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> da inclusão da temática<br />

“História e Cultura Afro-Brasileira e Indíge<strong>na</strong>”<br />

no currículo oficial das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino,<br />

como <strong>de</strong>stacado no Plano Municipal <strong>de</strong> Promoção<br />

da Igualda<strong>de</strong> Racial <strong>de</strong> Itajaí. Diante<br />

do exposto acima e também <strong>de</strong> um grupo<br />

formado por várias crianças, familiares e<br />

também profissio<strong>na</strong>is, ascen<strong>de</strong>ntes da cultura<br />

afro-brasileira como é o caso do nosso<br />

CEI, se tor<strong>na</strong> fundamental trabalharmos essa<br />

temática por todos os profissio<strong>na</strong>is.<br />

A preocupação dos educadores no intuito<br />

<strong>de</strong> promover a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s,<br />

bem como a valorização das semelhanças e<br />

diferenças, permite que as crianças se sintam<br />

bem, inseridas no ambiente escolar. A<br />

felicida<strong>de</strong> e o bem-estar da criança favorecem<br />

o seu <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>de</strong> forma<br />

saudável.<br />

Tivemos como objetivos a serem atingidos<br />

nesse projeto, sensibilizar as crianças, bem<br />

como a comunida<strong>de</strong> escolar sobre a importância<br />

da promoção da igualda<strong>de</strong> racial, em<br />

conformida<strong>de</strong> à Lei 12.288/2010, artigo 11 e<br />

seguintes que asseguram o direito a igualda<strong>de</strong><br />

racial <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida e cidadania,<br />

assim como, garante igual direito às histórias<br />

e cultura que compõem a <strong>na</strong>ção brasileira,<br />

além do direito <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> diferentes<br />

fontes da cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. De forma a vivenciar<br />

a diversida<strong>de</strong> cultural através dos grupos<br />

oriundos <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> quilombola,<br />

estimular o <strong>de</strong>senvolvimento das crianças<br />

por intermédio <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> origem<br />

africa<strong>na</strong>; estimular o <strong>de</strong>senvolvimento motor<br />

da criança por intermédio da música e da<br />

dança, Sociabilizar as diferentes faixas etárias<br />

durante as ativida<strong>de</strong>s culturais.<br />

Ao receber da gestora da unida<strong>de</strong> em reunião<br />

com os <strong>de</strong>mais professores, as orientações<br />

sobre a Kizomba (Projeto Institucio<strong>na</strong>l)<br />

para constituirmos nosso Plano <strong>de</strong> Ação,<br />

percebi uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar algo<br />

diferente e proveitoso para todo o grupo que<br />

fosse além as ativida<strong>de</strong>s envolvendo movimentos.<br />

Foram realizadas durante todo mês <strong>de</strong> agosto,<br />

brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> origens africa<strong>na</strong>s com a<br />

turma do Jardim I, <strong>de</strong>ntre elas: TERRA-MAR<br />

<strong>de</strong> Moçambique, esta é uma variação da<br />

brinca<strong>de</strong>ira morto-vivo. Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> correr:<br />

PEGUE A CAUDA, da Nigéria, uma variação<br />

da brinca<strong>de</strong>ira pega rabinho, mas esse<br />

feito em equipes e as crianças <strong>de</strong>vem ser<br />

colocadas em fileira segurando pelo ombro<br />

ou cintura e ape<strong>na</strong>s o último da fila que possui<br />

a cauda. Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> saltar: SALTAN-<br />

DO O FEIJÃO, da Nigéria, um círculo é realizado<br />

com as crianças e o professor fica no<br />

meio, rodando uma corda rente ao chão e as<br />

crianças <strong>de</strong>vem saltar sobre a corda, quem<br />

for atingido sai da roda; Brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lançamentos:<br />

KUDODA, do Zimbábue, nesta é<br />

realizado um círculo com corda, colocamos<br />

diversas bolas peque<strong>na</strong>s <strong>de</strong>ntro e as crianças<br />

<strong>de</strong>veriam utilizar uma bola maior com o<br />

objetivo <strong>de</strong> tirar as menores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do círculo;<br />

GUTERA URIZIGA, da Angola tem como<br />

objetivo jogar lanças <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um círculo,<br />

bambolê. Para esta ativida<strong>de</strong> fizemos uma<br />

ofici<strong>na</strong> <strong>de</strong> lanças feitas <strong>de</strong> jor<strong>na</strong>l e <strong>de</strong>pois<br />

fomos aumentando a dificulda<strong>de</strong> ao fazer o<br />

lançamento, rolando o bambolê pelo chão e<br />

as crianças tendo que acertar o bambolê em<br />

movimento. Todas estas brinca<strong>de</strong>iras foram<br />

realizadas pelas crianças do Jardim I, que <strong>de</strong><br />

forma gradativa compreen<strong>de</strong>u suas regras.<br />

Brinca<strong>de</strong>iras cantadas também foram realizadas,<br />

<strong>de</strong>ntre elas: SI MAMMA KAA, da Tan-<br />

68 Interagindo com a Diversida<strong>de</strong>


zânia, que é cantada em roda seguindo as<br />

instruções da música, SI MAMMA que significa<br />

ficar parado em pé e KAA significa abaixar;<br />

RUKA significa pular; TEMBEA significa<br />

andar e KIMBIA significa correr. Essa ativida<strong>de</strong><br />

em si, a professora da turma do Jardim<br />

I comentou que as crianças continuaram<br />

brincando em sala <strong>de</strong> aula e também no parque.<br />

Foram momentos <strong>de</strong> ricos estímulos entre<br />

as crianças.<br />

O professor <strong>de</strong> Educação Física em parceria<br />

com a professora do Jardim I confeccio<strong>na</strong>ram<br />

juntamente com os familiares pipas,<br />

petecas, chocalhos (caxixis) utilizando materiais<br />

reciclados. Foi uma ativida<strong>de</strong> muito<br />

rica que favoreceu o resgate cultural <strong>na</strong> Noite<br />

da Família que aconteceu no CEI dia 25<br />

<strong>de</strong> agosto. As crianças gostaram <strong>de</strong> ter seus<br />

pais/mães junto a elas realizando ativida<strong>de</strong>s.<br />

Em culminância a temática: Interagindo com<br />

a diversida<strong>de</strong>, foram também convidados os<br />

dois grupos para realizar apresentação cultural<br />

para as crianças. Como eu já conhecia<br />

o grupo Maracatu do Quilombo do Morro do<br />

Boi, busquei contato com os integrantes do<br />

grupo. Em uma breve conversa, expliquei o<br />

motivo do contato e a proposta do trabalho<br />

com a visita do grupo <strong>de</strong> Maracatu em nosso<br />

CEI. A apresentação <strong>de</strong>stes favorecerá o<br />

resgate folclórico, cultural e étnico, <strong>de</strong>vido<br />

à origem do grupo ser <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong><br />

ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> escravos.<br />

Definimos nós do CEI, professores e gestores,<br />

em parceria com os representantes dos grupos<br />

que a ativida<strong>de</strong>, seria uma apresentação,<br />

primeiramente dos integrantes dos grupos,<br />

para uma familiarização das crianças com<br />

eles, após isso seria feito uma apresentação<br />

dos instrumentos musicais utilizados, falando<br />

seus <strong>de</strong>vidos nomes e <strong>de</strong>monstrando os<br />

sons reproduzidos por eles, bem como qual<br />

era o som base <strong>de</strong> cada instrumento especificamente<br />

para o Maracatu e por fim eles<br />

fariam uma apresentação das musicas populares<br />

do maracatu com sua dança típica.<br />

Os integrantes do grupo Encantos do Sul e<br />

Quilombo Morro do Boi chegaram, as crianças<br />

já os aguardavam ansiosas e curiosas.<br />

Foi somente o tempo <strong>de</strong> organizar os instrumentos<br />

musicais, as vestimentas das dançari<strong>na</strong>s<br />

para iniciar a apresentação. Eu também<br />

estava ansioso e até certo ponto receoso,<br />

pois o Maracatu é um ritmo contagiante,<br />

mas com uma percussão bastante forte. Fiquei<br />

com medo das crianças se assustarem<br />

com o barulho dos tambores, principalmente<br />

os menores do berçário.<br />

Tudo pronto, iniciou-se conforme o combi<strong>na</strong>do.<br />

Logo <strong>de</strong> início, ao apresentarem os instrumentos<br />

musicais, as crianças já começaram<br />

a ficar mais agitadas e empolgadas, algumas<br />

ficaram realmente um pouco assustadas,<br />

principalmente com o timbre dos tambores,<br />

chamados por eles <strong>de</strong> alfaias. Este possui um<br />

timbre grave <strong>de</strong> volume alto, mas aos poucos<br />

as crianças foram se acostumando.<br />

O integrante foi bastante didático nessa<br />

hora <strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r as canções, cantou os refrões<br />

das músicas com as crianças e elas<br />

adoraram participar e interagir. A festa realmente<br />

ficou divertida quando se iniciou a<br />

música, que foi tocada e cantada com toda<br />

a sua energia. O ritmo contagiante, a dança<br />

e a alegria envolveram a todos, crianças, professores,<br />

agentes, gestora e supervisora.<br />

As crianças tinham um sorriso fácil no rosto,<br />

a batida da música fazia com que nossos<br />

corpos se mexessem mesmo sem querer, era<br />

impossível ficarmos parados, foi visível a felicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos durante a apresentação,<br />

nem mesmos os bebes choraram, prestavam<br />

muita atenção. Tudo isso registrado pelas<br />

lentes da RIS Record que ainda entrevistou<br />

a mim, a gestora da Unida<strong>de</strong>, os integrantes<br />

do grupo Encantos do Sul e da Comunida<strong>de</strong><br />

Quilombola Morro do boi. Fomos notícia no<br />

Jor<strong>na</strong>l do Meio-dia da Record no sábado dia<br />

29 <strong>de</strong> agosto, o que <strong>de</strong>ixou a todos do CEI<br />

muito contentes.<br />

Fi<strong>na</strong>lizamos esta experiência com chave <strong>de</strong><br />

ouro, já que o mesmo foi um sucesso entre<br />

os profissio<strong>na</strong>is do CEI, com a colaboração<br />

<strong>de</strong> todos. Deixo aqui minha gratidão a todos<br />

os envolvidos que dispuseram um pouco da<br />

sua <strong>de</strong>dicação e tempo para que pudéssemos<br />

tor<strong>na</strong>r realida<strong>de</strong> esta vivência positiva e<br />

enriquecedora para nossas crianças. As exposições<br />

acima, <strong>de</strong>monstraram que o profissio<strong>na</strong>l<br />

<strong>de</strong> Educação Física po<strong>de</strong> enriquecer<br />

e muito o aprendizado das crianças no que<br />

tange aos valores morais, éticos e culturais,<br />

bem como seus aspectos motores.<br />

Rodrigo Zapparoli<br />

69


Referências<br />

BASEI, Andreia Paula. A Educação Física <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong>: a importância do movimentar-se<br />

e suas contribuições no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança. Revista Iberoamerica<strong>na</strong><br />

<strong>de</strong> Educacion n°47/3 outubro <strong>de</strong> 2008.<br />

BRASIL. Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa<br />

do Brasil, 1988.<br />

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacio<strong>na</strong>is<br />

Gerais da Educação Básica, MEC, SEB, DICEI,<br />

2013.<br />

BRASIL. Plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> implementação<br />

das diretrizes curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is para<br />

educação das relações étnico-raciais e para<br />

o ensino <strong>de</strong> história e cultura afro-brasileira<br />

e africa<strong>na</strong>. MEC, SECADI, 2013.<br />

Brasil. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental.<br />

Parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is: Educação<br />

física / Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental<br />

– Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível<br />

em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/<br />

pdf/livro07.pdf> Acessado em: 18/09/2015.<br />

70 Interagindo com a Diversida<strong>de</strong>


Rodrigo Zapparoli<br />

71


72<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

O corpo fala:<br />

bRINCADEIRAS<br />

COM TECIDOS<br />

Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />

A Educação Física tem um papel fundamental<br />

no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong><br />

aprendizagem da criança. Por meio <strong>de</strong> jogos,<br />

brinca<strong>de</strong>iras, ativida<strong>de</strong>s lúdicas e interações,<br />

a Educação Física é responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança em todos os aspectos:<br />

motor, cognitivo, social-afetivo, proporcio<strong>na</strong>ndo<br />

um aprendizado integral <strong>de</strong> forma<br />

lúdica e significativa. Dessa forma, a Educação<br />

Física é importante nessa etapa da Educação<br />

<strong>Infantil</strong>, pois, por meio da linguagem<br />

corporal, a criança <strong>de</strong>scobre possibilida<strong>de</strong>s,<br />

experimenta e explora o mundo.<br />

Com a formação continuada, eu, professora<br />

<strong>de</strong> Educação Física da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong><br />

Educação <strong>de</strong> Itajaí, tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conhecer sobre Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l,<br />

método <strong>de</strong> mediação corporal criado pelos<br />

professores André Lapierre e Anne Lapierre.<br />

Nosso objetivo em psicomotricida<strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>l<br />

é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar, <strong>na</strong> medida do possível,<br />

os sentimentos conflituais reprimidos no


inconsciente que provocam perturbações<br />

<strong>na</strong> vida afetiva e relacio<strong>na</strong>l da criança. Esses<br />

sentimentos se expressam espontaneamente<br />

no jogo, e <strong>de</strong> maneira mais autêntica se o<br />

adulto o favorece, entrando ele também no<br />

jogo não-verbal. Desse modo, dirige-se diretamente<br />

ao inconsciente da criança. As verbalizações<br />

do adulto constituiriam, neste caso,<br />

uma ruptura nesse nível <strong>de</strong> comunicação.<br />

(LAPIERRE; LAPIERRE, 2002, p. 107-108).<br />

A Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l tem colaborado<br />

para a minha prática do dia-dia, pois,<br />

mesmo não tendo olhar técnico e não sendo<br />

profissio<strong>na</strong>l da Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l,<br />

observei que alguns materiais já eram explorados<br />

pelas crianças <strong>na</strong>s minhas aulas <strong>de</strong><br />

forma lúdica e com outros objetivos. Assim,<br />

fui percebendo que o valor simbólico <strong>de</strong>ssas<br />

vivências é muito importante para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

global das crianças.<br />

Resolvi, <strong>de</strong>ssa forma, realizar uma ativida<strong>de</strong><br />

com meus grupos do Mater<strong>na</strong>l Misto e Mater<strong>na</strong>l<br />

I: brinca<strong>de</strong>iras com tecidos. Essa ativida<strong>de</strong><br />

eu ainda não havia vivenciado em minhas<br />

aulas. Após muita observação durante<br />

as aulas, o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto foi escolhido.<br />

A maioria <strong>de</strong>sse grupo, além <strong>de</strong> ingressar<br />

pela primeira vez no Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong>,<br />

apresentava dificulda<strong>de</strong> no período <strong>de</strong><br />

adaptação, pois ele passou, também, por troca<br />

<strong>de</strong> professoras da sala. Decorrente <strong>de</strong>ssas<br />

situações, eu resolvi fazer essa ativida<strong>de</strong><br />

com o intuito <strong>de</strong> conhecer um pouco mais<br />

<strong>de</strong> cada criança e <strong>de</strong> como elas estavam se<br />

sentindo <strong>na</strong>quele momento. Por meio das<br />

brinca<strong>de</strong>iras, estimulei a criativida<strong>de</strong>, a afetivida<strong>de</strong><br />

e as interações. Após realizar a ativida<strong>de</strong><br />

com o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto, percebi o<br />

sucesso da aula e suas múltiplas vivências, e<br />

então apliquei a proposta com o Mater<strong>na</strong>l I.<br />

As brinca<strong>de</strong>iras livres com algum tipo <strong>de</strong> material,<br />

no caso aqui os tecidos, possibilitam<br />

expressivida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser observadas<br />

pelo professor, proporcio<strong>na</strong>m a interação e<br />

um brincar que estimula o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

global das crianças.<br />

O objetivo geral <strong>de</strong>sse projeto foi <strong>de</strong>senvolver<br />

a criança em todos os aspectos: cognitivo,<br />

motor social e afetivo, por meio da linguagem<br />

corporal, possibilitando momentos<br />

<strong>de</strong> interações e brinca<strong>de</strong>iras em um mundo<br />

<strong>de</strong> faz <strong>de</strong> conta.<br />

74 O corpo fala


Brinca<strong>de</strong>iras livres com tecidos<br />

Para colocar em ação meu planejamento,<br />

procurei ter mais proximida<strong>de</strong> com as crianças<br />

e, assim, realizei uma brinca<strong>de</strong>ira “adaptada”:<br />

brinca<strong>de</strong>iras livres com tecidos. Como<br />

eu não tinha tecidos gran<strong>de</strong>s e nem lençóis,<br />

como sugere os livros, utilizei TNT <strong>de</strong> diversas<br />

cores e tamanhos. Essa ação foi realizada<br />

com os grupos Mater<strong>na</strong>l Misto e Mater<strong>na</strong>l<br />

I, ida<strong>de</strong> entre dois e três anos.<br />

Tive <strong>de</strong> conseguir o TNT. Com a parceria do<br />

CEI, consegui alguns que já tínhamos <strong>na</strong> creche<br />

e outros eu comprei, pois, como se trata<br />

<strong>de</strong> um material muito acessível e rico para<br />

novas criações, é interessante tê-lo como<br />

material pedagógico. Em seguida, cortei o<br />

TNT em diversos tamanhos e diferentes formas<br />

para estimular a criativida<strong>de</strong> e a fantasia.<br />

Organizei um espaço que conseguiria<br />

realizar a ativida<strong>de</strong> com segurança e sucesso.<br />

O primeiro momento foi realizado com<br />

o grupo Mater<strong>na</strong>l Misto, composto por 25<br />

crianças. O espaço organizado foi no corredor,<br />

em frente à sala do grupo. Criei um espaço<br />

muito legal para <strong>de</strong>senvolver a ativida<strong>de</strong>,<br />

colocando tapetes, amarrando as pontas <strong>de</strong><br />

um dos TNTs nos pilares, <strong>de</strong>ixando o espaço<br />

organizado e acolhedor. Eu tinha 30 minutos<br />

para realizar essa aula.<br />

Iniciei a aula conversando com o grupo sobre<br />

a ativida<strong>de</strong> que iria acontecer. Expliquei<br />

que a brinca<strong>de</strong>ira era livre, que eles iriam utilizar<br />

a imagi<strong>na</strong>ção e que eles po<strong>de</strong>riam criar<br />

as brinca<strong>de</strong>iras que quisessem. Mencionei,<br />

ainda, que eu e a Agente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> em<br />

educação também brincaríamos com eles,<br />

e, aos poucos, fomos colocando os TNTs em<br />

volta do grupo. Eles ficaram encantados<br />

com aquele material colorido e diferente em<br />

volta <strong>de</strong>les. Seus olhos brilhavam e foi interessante<br />

observar a reação <strong>de</strong> cada um que,<br />

aos poucos, foram se levantado e pegando o<br />

material. A princípio fiquei ansiosa, pois não<br />

sabia qual seria a reação <strong>de</strong>les e nem se a<br />

ativida<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>ria como planejado.<br />

Então, as crianças foram interagindo com o<br />

material com muita calma e paciência, o que<br />

chamou muita a minha atenção. Elas interagiram<br />

umas com as outras, criaram, imagi<strong>na</strong>ram,<br />

cada uma do seu jeito. Umas preferiram<br />

brincar sozinhas, outras interagiram com o<br />

grupo, e outras com a Agente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />

75


em educação e comigo também. Ainda assim,<br />

tiveram algumas crianças que preferiram<br />

só observar e não tiveram contato com<br />

o material. Foram poucas, pois a maioria se<br />

envolveu <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira. Durante a ação,<br />

observei e registrei os momentos, <strong>de</strong>pois<br />

troquei com a agente, e fui brincar com as<br />

crianças, e a agente observou e registrou.<br />

Os gestos <strong>de</strong> uma criança po<strong>de</strong>m refletir seu<br />

estado emocio<strong>na</strong>l. Quando os movimentos<br />

são acanhados, transmitem inibição; e quando<br />

seus movimentos se mostram expansivos,<br />

po<strong>de</strong>m ser traduzidos como euforia, conquista<br />

e satisfação. Assim, po<strong>de</strong>mos dizer<br />

que o corpo é a via <strong>de</strong> acesso ao emocio<strong>na</strong>l.<br />

(NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 37).<br />

Com o sucesso das ações nesse grupo, resolvi<br />

realizar a mesma ativida<strong>de</strong> com o grupo<br />

do Mater<strong>na</strong>l I composto por 20 crianças, pois<br />

fiquei ansiosa para observar a reação <strong>de</strong> outro<br />

grupo. Essa aula foi realizada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

sala. Realizei o mesmo processo com esse<br />

grupo. Conversei sobre a ativida<strong>de</strong> e eles ficaram<br />

bem interessados e ansiosos. Entreguei<br />

o material e tudo pareceu mágico. Com<br />

muita calma, as crianças foram pegando os<br />

tecidos coloridos, cada um escolhendo a cor<br />

e os tamanhos diferentes. De início, comecei<br />

a observar a afetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns que<br />

promoveu um momento muito agradável <strong>de</strong><br />

cuidado um com o outro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fazer dormir,<br />

esten<strong>de</strong>r a coberta sobre o outro, pois estava<br />

frio, fazer vestidos, roupas, <strong>de</strong>itar-se sobre<br />

a cama, até rolavam sobre os tecidos. Alguns<br />

preferiram observar e não quiseram se<br />

envolver. “Colocar à disposição das crianças<br />

ou dos adultos diferentes tipos <strong>de</strong> objetos e<br />

observar a forma que eles os utilizam, como<br />

eles investem progressivamente, é, com efeito,<br />

muito rico em ensi<strong>na</strong>mentos”. (LAPIER-<br />

RE; AUCOUTURIER, 1986, p. 16).<br />

Momentos <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> e interações<br />

Uma brinca<strong>de</strong>ira simples e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor<br />

simbólico. Os bebês se envolveram e apresentaram<br />

vários comportamentos, expressões<br />

e criaram brinca<strong>de</strong>iras on<strong>de</strong> o mundo<br />

do faz <strong>de</strong> conta parecia ser real diante <strong>de</strong><br />

76 O corpo fala


tantas emoções e interações. Uma brinca<strong>de</strong>ira<br />

muito interessante que proporcionou<br />

um momento agradável para os bebês, o qual<br />

o corpo é quem fala e se expressa. A brinca<strong>de</strong>ira<br />

durou cerca <strong>de</strong> 30 minutos, até mesmo<br />

porque teríamos <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> às<br />

roti<strong>na</strong>s <strong>de</strong> aprendizagens, mas acredito que<br />

po<strong>de</strong>ria ter se estendido, pois as crianças estavam<br />

muitos envolvidas.<br />

O brincar espontâneo abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

observar e escutar as crianças <strong>na</strong>s suas linguagens<br />

expressivas mais autênticas. Esse<br />

brincar incentiva a criativida<strong>de</strong> e constitui<br />

um dos meios essenciais <strong>de</strong> estimular o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>Infantil</strong> e as diversas aprendizagens.<br />

(FRIEDMANN, 2012, p. 47).<br />

Não tenho conhecimento técnico para avaliar<br />

cada comportamento, porém, <strong>de</strong> acordo<br />

com a minha experiência <strong>de</strong> professora<br />

<strong>de</strong> Educação Física, pu<strong>de</strong> observar a grandiosida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma simples brinca<strong>de</strong>ira, as<br />

expressivida<strong>de</strong>s do grupo e até mesmo as<br />

individuais. Perceber o quanto os bebês se<br />

envolveram <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong> que abriu espaço<br />

para jogos, fantasias, aniversários, rei, rainha,<br />

entre outros. O valor simbólico nessas<br />

brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>senvolveu a criança num<br />

todo, pois todos os aspectos estavam envolvidos,<br />

estimulou a criativida<strong>de</strong> e possibilitou<br />

momentos <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong> e interações.<br />

Referências<br />

FRIEDMANN, A. O brincar <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>:<br />

observação, a<strong>de</strong>quação e inclusão.<br />

São Paulo, Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, 2012.<br />

LAPIERRE, A.; LAPIERRE, A. O Adulto diante<br />

da criança <strong>de</strong> 0 a 3 anos: psicomotricida<strong>de</strong><br />

relacio<strong>na</strong>l e formação da perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>. 2.<br />

ed. Curitiba: UFPR, 2002.<br />

LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia<br />

do movimento: psicomotricida<strong>de</strong> e educação.<br />

Porto Alegre: Artes médicas, 1986.<br />

NISTA-PICCOLO, V.; MOREIRA, W. W. Corpo<br />

em movimento <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Telos, 2012.<br />

Morga<strong>na</strong> Lorenceti Brasil<br />

77


78<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Apren<strong>de</strong>ndo<br />

as diferenças<br />

por meio<br />

do esporte<br />

Fayola Daiane Bueno da Silva<br />

Ao educar a criança por meio da prática esportiva,<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong>, almeja-se difundir<br />

e reforçar a construção dos valores <strong>de</strong><br />

cidadania. Esse valor está intrinsecamente<br />

ligado à construção <strong>de</strong> um mundo melhor e<br />

mais pacífico, livre <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> discrimi<strong>na</strong>ção.<br />

O entendimento da diversida<strong>de</strong><br />

huma<strong>na</strong> possibilita <strong>de</strong>ntro do espírito <strong>de</strong><br />

compreensão mútua: fraternida<strong>de</strong>, solidarieda<strong>de</strong>,<br />

cultura <strong>de</strong> paz e fair-play (jogo limpo).<br />

Por intermédio das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas,<br />

crianças constroem seus valores, seus conceitos,<br />

socializam-se e, principalmente, vivem<br />

a realida<strong>de</strong> (BRASIL, 1997).<br />

O esporte como um direito <strong>de</strong> todos está<br />

comprometido em promover as novas gerações<br />

um caminho estratégico para conciliar<br />

a transformação produtiva e a justiça social<br />

como pré-condição para <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano pleno. Assim, apropriando-se do esporte<br />

como um importante instrumento <strong>de</strong><br />

educação, vindo ao encontro das ativida<strong>de</strong>s


da XII Sema<strong>na</strong> da Pessoa com Deficiência do<br />

Município <strong>de</strong> Itajaí, o Projeto: Apren<strong>de</strong>ndo as<br />

diferenças por meio do esporte, apresentou<br />

para as crianças as modalida<strong>de</strong>s para<strong>de</strong>sportivas,<br />

acreditando que é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno,<br />

que se ensi<strong>na</strong> e se apren<strong>de</strong> a respeitar as diferenças.<br />

O objetivo do projeto foi oportunizar e apresentar<br />

às crianças peque<strong>na</strong>s o esporte paralímpico<br />

em sua totalida<strong>de</strong>, as diferentes modalida<strong>de</strong>s,<br />

as <strong>de</strong>ficiências dos atletas (físicas, visuais, intelectuais,<br />

auditivas e síndromes), e suas especificida<strong>de</strong>s.<br />

Além <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da criança como ser social, autônomo,<br />

<strong>de</strong>mocrático e participante, estimulando o pleno<br />

exercício da cidadania por intermédio do esporte,<br />

<strong>de</strong>spertando o senso crítico <strong>de</strong> respeito e<br />

igualda<strong>de</strong> perante as diferenças, <strong>de</strong>senvolvendo<br />

valores, promovendo o respeito, sentimento<br />

<strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>na</strong> prática do <strong>de</strong>sporto<br />

e a percepção das diferenças.<br />

Quando a criança brinca, ela <strong>de</strong>scobre e (re)<br />

significa o mundo, experimenta novos papéis<br />

sociais, sensações, coopera, cria, imagi<strong>na</strong> e se<br />

expressa. Baseado nessa premissa, Kishimoto<br />

aponta que:<br />

O brincar é uma ativida<strong>de</strong> principal do dia a dia.<br />

É importante porque dá o po<strong>de</strong>r à criança para<br />

tomar <strong>de</strong>cisões, expressar sentimentos e valores,<br />

conhecer a si, os outros e o mundo, repetir<br />

ações prazerosas partilhar brinca<strong>de</strong>iras com o<br />

outro, expressar sua individualida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

explorar o mundo dos objetos, das pessoas,<br />

da <strong>na</strong>tureza e da cultura para compreendê-lo,<br />

usar o corpo, os sentidos, os movimentos, as<br />

várias linguagens para experimentar situações<br />

que lhe chamam a atenção, solucio<strong>na</strong>r problema<br />

e criar. (KISHIMOTO, 2010, p. 1).<br />

Primeiro passo<br />

A metodologia aplicada para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste projeto foi pensada <strong>de</strong> maneira<br />

que realmente as crianças pu<strong>de</strong>ssem apren<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> forma clara e simples, apropriando-se<br />

em todos os momentos da ludicida<strong>de</strong> e do<br />

brincar.<br />

No início da primeira sema<strong>na</strong>, organizamos<br />

uma roda <strong>de</strong> conversa relatando sobre as<br />

<strong>de</strong>ficiências: o que é, por que a pessoa tem<br />

80 Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte


<strong>de</strong>ficiência, quais os tipos, quais as diferenças.<br />

Observei que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>sconhecia<br />

completamente o tema. Escutaram com atenção<br />

as explicações e as exemplificações dadas.<br />

A surpresa<br />

Logo após, as crianças souberam que, mesmo<br />

com <strong>de</strong>ficiências, algumas <strong>de</strong>ssas pessoas<br />

praticavam esportes em diversas modalida<strong>de</strong>s<br />

que elas já conheciam como: atletismo,<br />

futebol, vôlei, <strong>na</strong>tação, basquete, mas com<br />

adaptações, ou seja, atletismo (corridas com<br />

olhos vendados, saltos com uma per<strong>na</strong>), futebol<br />

para cegos (com os olhos vendados),<br />

voleibol sentado (pessoas saindo das ca<strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong> rodas e sentando no chão para jogar),<br />

<strong>na</strong>tação (sem os braços), basquetebol em<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas. E também esportes que<br />

elas nunca viram como o bocha paralímpica<br />

(crianças jogando sentadas <strong>na</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

rodas com os movimentos comprometidos),<br />

paraciclismo. Após essa conversa, as crianças<br />

pu<strong>de</strong>ram visualizar tudo por meio <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os<br />

e imagens institucio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> paratletas<br />

praticando as diversas modalida<strong>de</strong>s para<strong>de</strong>sportivas.<br />

Praticando no CEI<br />

Na segunda sema<strong>na</strong>, por meio <strong>de</strong> jogos e<br />

brinca<strong>de</strong>iras, os alunos vivenciaram <strong>na</strong> prática<br />

alguns esportes adaptados como:<br />

Atletismo: Corrida às cegas – nessa ativida<strong>de</strong>,<br />

as crianças experimentaram a corrida<br />

para cegos. Individualmente, as crianças foram<br />

vendadas e em três etapas realizaram<br />

a ativida<strong>de</strong>: 1) ao si<strong>na</strong>l da Agente <strong>de</strong> Educação,<br />

elas corriam conduzidas pela professora<br />

um percurso <strong>de</strong> quinze metros; 2) sozinhos<br />

tinham que correr até o som (palmas) realizado<br />

pela professora; 3) uma criança sem a<br />

venda conduzia o amigo vendado.<br />

Futebol <strong>de</strong> 5 (para pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />

visual): Futebolzinho – com os olhos vendados,<br />

a criança conduzia a bola até o gol (uma<br />

vez com os pés e outra com as mãos), elas<br />

eram direcio<strong>na</strong>das pelo som emitido pela<br />

professora ou pela agente, posicio<strong>na</strong>da atrás<br />

do gol.<br />

Fayola Daiane Bueno da Silva<br />

81


Voleibol sentado: Sem Cair – sentadas no<br />

chão, divididas em duas turmas, as crianças<br />

tinham <strong>de</strong>, sem levantar o bumbum do chão,<br />

passar a bola por cima da re<strong>de</strong>, para o outro<br />

lado, porém, antes, a bola tinha que passar<br />

<strong>na</strong> mão <strong>de</strong> todos os amigos.<br />

Vivenciando com paratletas<br />

A primeira vivência foi realizada com paratletas<br />

da Associação <strong>de</strong> Deficientes Visuais <strong>de</strong><br />

Itajaí e Região (ADVIR). Na modalida<strong>de</strong> atletismo,<br />

um paratleta juntamente ao seu cão-guia<br />

(este que foi a maior atração para as crianças),<br />

falou das provas em que participava e da ajuda<br />

<strong>de</strong> seu cão no seu dia-a-dia. As crianças fizeram<br />

muitas perguntas, como, por exemplo:<br />

“Como você toma banho”, “Como o seu cão<br />

te auxilia nos trei<strong>na</strong>mentos?”. Na sequência,<br />

um atleta do paraciclismo foi apresentado,<br />

que levou sua bicicleta <strong>de</strong> competição. Após<br />

contar sua história, ele <strong>de</strong>u uma volta com sua<br />

bicicleta, sendo observado atentamente pelas<br />

crianças. Também tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conhecer o tabuleiro <strong>de</strong> xadrez adaptado e a<br />

bola com guizo on<strong>de</strong> jogamos o gooalbol.<br />

A segunda vivência foi com um paratleta do<br />

Bocha Paralímpica, da Associação <strong>de</strong> Pais e<br />

Amigos das Pessoas com Deficiência (AFADE-<br />

FI) <strong>de</strong> Balneário Camboriú e com um funcionário<br />

ca<strong>de</strong>irante da prefeitura municipal <strong>de</strong><br />

Itajaí. Em uma quadra <strong>de</strong> bocha, feita com fitas<br />

a<strong>de</strong>sivas brancas, o paratleta, mesmo com<br />

a fala e os movimentos comprometidos pela<br />

paralisia cerebral, usuário <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas,<br />

interagiu com as crianças, contando sua história<br />

<strong>de</strong> vida, sua trajetória no esporte e os benefícios<br />

que este trouxe para sua vida. Ele ainda<br />

jogou com as crianças. Mais uma vez foi muito<br />

prazeroso ver as crianças envolverem-se e<br />

sensibilizarem-se com o paratleta, curiosas e<br />

atentas, divertindo-se e apren<strong>de</strong>ndo.<br />

Chegando ao fim<br />

Na última sema<strong>na</strong>, levei alguns filmes e <strong>de</strong>senhos<br />

infantis que apresentavam crianças com<br />

82 Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças por meio do esporte


<strong>de</strong>ficiência <strong>na</strong> escola. As crianças assistiram e<br />

i<strong>de</strong>ntificaram os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências e perceberam<br />

que <strong>na</strong> sua instituição também há crianças<br />

com <strong>de</strong>ficiência.<br />

Ao avaliar cada etapa realizada <strong>de</strong>ste projeto,<br />

constatei, por meio dos olhares curiosos<br />

e interessados, das atitu<strong>de</strong>s, das falas,<br />

as formas como os alunos se portavam e se<br />

expressavam diante <strong>de</strong>sse novo assunto.<br />

Des<strong>de</strong> o início, compreendi que, por serem<br />

tão pequenos, não iriam enten<strong>de</strong>r completamente<br />

o que é ter uma <strong>de</strong>ficiência, mas o<br />

maior objetivo foi dissemi<strong>na</strong>r este sentimento<br />

<strong>de</strong> compreensão e solidarieda<strong>de</strong> pela diferença<br />

dos outros, e que levassem por toda<br />

a vida esse sentimento <strong>de</strong> amor e respeito<br />

ao próximo.<br />

O término do projeto foi prazeroso, porque<br />

aprendi a não subestimar a inteligência das<br />

crianças, observando o reflexo da aprendizagem<br />

em seu <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>na</strong>s suas<br />

atitu<strong>de</strong>s. Com o Projeto “Apren<strong>de</strong>ndo as diferenças<br />

por meio do esporte”, conclui que<br />

o professor <strong>de</strong>ve contribuir para a formação<br />

integral das crianças, possibilitando mudanças<br />

e reflexões para que sejam críticos e autônomos,<br />

capazes <strong>de</strong> viver em socieda<strong>de</strong> livres<br />

<strong>de</strong> preconceitos e capazes <strong>de</strong> respeitar<br />

a todos sem diferença.<br />

Referências<br />

BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental.<br />

Parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is: introdução<br />

aos parâmetros curriculares <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.<br />

Brasília: MEC/SEF, 1997.<br />

KISHIMOTO, T. M. Brinquedo e brinca<strong>de</strong>iras<br />

<strong>na</strong> educação infantil. SEMINÁRIO NACIO-<br />

NAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO, Perspectivas<br />

Atuais, 1., Belo Horizonte, 2010. A<strong>na</strong>is<br />

eletrônicos...Belo Horizonte: CENPEC, 2010.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 8 jul. 2016.<br />

Fayola Daiane Bueno da Silva<br />

83


84<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Brincando <strong>de</strong><br />

Lanchonete!<br />

Jorge Luís da Silva<br />

A Educação <strong>Infantil</strong> evoluiu muito nos últimos<br />

anos. Assim sendo, é preciso repensar<br />

práticas e ações para garantir experiências<br />

que valorizem a aprendizagem no espaço<br />

coletivo. Momentos importantes da roti<strong>na</strong>,<br />

que <strong>na</strong> minha prática <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> Educação<br />

Física vem me <strong>de</strong>safiando, são o planejamento<br />

e a prática no momento da alimentação.<br />

“A alimentação é o momento importante<br />

para a nutrição da criança e aprendizagens<br />

relacio<strong>na</strong>das ao <strong>de</strong>senvolvimento da motricida<strong>de</strong><br />

fi<strong>na</strong> no manuseio dos utensílios <strong>na</strong>s<br />

refeições” (ITAJAÍ, 2015, p. 48.)<br />

Com um olhar atento e observando as especificida<strong>de</strong>s<br />

da roti<strong>na</strong> da alimentação, constatei<br />

que as crianças <strong>de</strong>ixavam cair seus<br />

pratos com frequência, muitas vezes por<br />

falta <strong>de</strong> atenção, pela coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora<br />

precoce ou pela falta <strong>de</strong> percepção espacial.<br />

Para algumas turmas, era uma novida<strong>de</strong>; no<br />

entanto, as crianças apresentavam uma certa<br />

insegurança. Objetivando avanços nesse<br />

aspecto, <strong>de</strong>senvolvi ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> equilíbrio,<br />

<strong>de</strong> lateralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> noção espacial. Estas<br />

possibilitaram que as crianças percebessem<br />

o espaço a sua volta e começassem a executar<br />

seus trajetos com mais segurança e<br />

<strong>de</strong>streza.


As ativida<strong>de</strong>s: simular para estimular<br />

Tendo como base a percepção espacial, o<br />

equilíbrio e a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora ampla,<br />

executamos brinca<strong>de</strong>iras simulando lanchonetes<br />

e restaurantes, em que as crianças se<br />

serviram e levaram os pratos à sua mesa.<br />

Pelo seu trajeto, passaram por alguns obstáculos<br />

como cones ou arcos (bambolês). As<br />

ativida<strong>de</strong>s foram dinâmicas e estimuladoras,<br />

instigando os alunos a não <strong>de</strong>ixarem as bolinhas<br />

caírem do seu prato e percorrerem caminhos<br />

que simulavam portas <strong>de</strong> restaurante<br />

e obstáculos, como mesas apresentando<br />

graus diferentes <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>.<br />

Com essa proposta, diversas áreas do conhecimento<br />

foram estimuladas, como o trabalho<br />

com quantida<strong>de</strong>s, texturas, tamanhos, pesos<br />

e cores. Os diferentes modos <strong>de</strong> manuseio <strong>de</strong><br />

uma criança para outra foram observados:<br />

segurar o prato por baixo <strong>na</strong>s laterais, com<br />

uma das mãos, com o auxílio dos braços...<br />

A aprendizagem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte<br />

da motivação: as necessida<strong>de</strong>s e os interesses<br />

das crianças são mais importantes que<br />

qualquer outra razão para que elas se <strong>de</strong>diquem<br />

a uma ativida<strong>de</strong>. Ser esperta, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

curiosa, ter iniciativa e confiança em<br />

sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir uma i<strong>de</strong>ia própria<br />

sobre as coisas, assim como expressar<br />

seu pensamento e sentimentos com convicção,<br />

são características inerentes à perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />

integral da criança. (FRIEDMANN,<br />

1996, p. 45).<br />

A ativida<strong>de</strong> foi executada <strong>de</strong> forma lúdica,<br />

sendo repetida algumas vezes em um período<br />

<strong>de</strong> dois meses. Almejou-se que a criança<br />

conseguisse assimilar as habilida<strong>de</strong>s e os<br />

conteúdos propostos pelo professor e, assim,<br />

conseguir adquiri-las, pois são necessárias<br />

para seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> da<br />

alimentação.<br />

Com muita alegria e entusiasmo, as crianças<br />

manuseavam seus pratos e equilibravam<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les diversas bolas <strong>de</strong> variados tamanhos.<br />

As crianças incorporaram as perso<strong>na</strong>gens<br />

e se sentiram os garçons mais importantes<br />

do momento. De acordo com as Diretrizes<br />

Curriculares Nacio<strong>na</strong>is, a criança é:<br />

86 Brincando <strong>de</strong> Lanchonete!


[...] o centro do planejamento curricular, é<br />

sujeito histórico e <strong>de</strong> direitos que, <strong>na</strong>s interações,<br />

relações e práticas cotidia<strong>na</strong>s que<br />

vivência, constrói sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal e<br />

coletiva, brinca, imagi<strong>na</strong>, fantasia, <strong>de</strong>seja,<br />

apren<strong>de</strong>, observa, experimenta, <strong>na</strong>rra, questio<strong>na</strong><br />

e constrói sentidos sobre a <strong>na</strong>tureza<br />

e a socieda<strong>de</strong>, produzindo cultura. (BRASIL,<br />

2009, p. 97).<br />

As contribuições<br />

Foi notável a evolução das crianças em relação<br />

às habilida<strong>de</strong>s motoras, principalmente<br />

nos aspectos <strong>de</strong> noção espacial e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção<br />

motora ampla. Notável também a aceitação<br />

e a alegria nos momentos da execução<br />

das ativida<strong>de</strong>s. Para o momento <strong>de</strong> alimentação,<br />

a ativida<strong>de</strong> contribuiu <strong>na</strong> questão da<br />

segurança ao caminhar e manusear o prato.<br />

Esse é o reflexo <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>senvolvido<br />

tendo sempre como objetivo a aprendizagem<br />

e o bem-estar das crianças <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s<br />

com evolução nos aspectos psicomotor, social<br />

e afetivo.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria<br />

<strong>de</strong> Educação Básica. Diretrizes Curriculares<br />

Nacio<strong>na</strong>is para a Educação <strong>Infantil</strong>. Brasília:<br />

MEC, SEB, 2009.<br />

FRIEDMAN, A. Brincar, crescer e apren<strong>de</strong>r: o<br />

resgate do jogo infantil. São Paulo: Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>,<br />

1996.<br />

ITAJAÍ. Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> Augusto<br />

Bento <strong>de</strong> Oliveira. Projeto Político Pedagógico.<br />

Itajaí, 2015.<br />

Jorge Luís da Silva<br />

87


88<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Quem quer<br />

pedalar põe o<br />

<strong>de</strong>do aqui!<br />

Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />

No Centro <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong> (CEI) é muito<br />

importante a participação da família nos<br />

processos educativos. Cabe ao CEI também<br />

oportunizar, em seu planejamento, momentos<br />

em que a família possa participar diretamente<br />

em suas ações. A Educação Física, <strong>na</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong>, po<strong>de</strong> ser uma ferramenta<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para os planejamentos que<br />

envolvam a comunida<strong>de</strong> escolar. A área tem<br />

ple<strong>na</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articular ações e processos<br />

que envolvam o corpo, o movimento<br />

e a socialização.<br />

Enfim, temos uma ferramenta que contribui<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança,<br />

permitindo a ela o contato com novas formas<br />

<strong>de</strong> interações, sem per<strong>de</strong>r o caráter lúdico e<br />

expressivo (GONÇALVES, 2010 p. 313). É preciso,<br />

assim, recuperar esse “tesouro corporal”,<br />

próprio da criança, e auxiliá-la em suas<br />

aprendizagens, oportunizando a aquisição<br />

<strong>de</strong> algumas competências necessárias ao<br />

seu aprendizado escolar e da vida.<br />

A criança e a sua família <strong>de</strong>vem ser incentivadas<br />

para ter uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


90 Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!


vida, tendo uma vida ativa, saudável, prazerosa<br />

e harmoniosa. A saú<strong>de</strong>, prazer e equilíbrio<br />

são fundamentais para que as pessoas<br />

vivam bem. Depen<strong>de</strong> fundamentalmente da<br />

prática <strong>de</strong> hábitos saudáveis ou práticas básicas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (GUISSELINI, 2004, p. 70).<br />

A prática da ativida<strong>de</strong> física contribui para<br />

que as pessoas tenham uma melhor qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida. O andar <strong>de</strong> bicicleta po<strong>de</strong> ser<br />

comparado à caminhada ou até mesmo à<br />

corrida. Em um passeio <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40 minutos,<br />

três vezes por sema<strong>na</strong>, já é possível<br />

dar a<strong>de</strong>us a diversos problemas <strong>de</strong>correntes<br />

do se<strong>de</strong>ntarismo (TAVARES, 2016).<br />

Oportunizar às famílias a participação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

corporais, estabelecendo relações<br />

equilibradas e construtivas com os outros<br />

é um momento privilegiado em um passeio<br />

ciclístico. Reconhecer-se como elemento<br />

integrante do ambiente, adotando hábitos<br />

saudáveis <strong>de</strong> higiene, <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s corporais, relacio<strong>na</strong>ndo-os com<br />

os efeitos sobre a própria saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> melhoria<br />

da saú<strong>de</strong> coletiva.<br />

Dessa forma, este trabalho tornou público<br />

o passeio ciclístico, tendo como principal<br />

objetivo promover a prática da ativida<strong>de</strong> física<br />

com o uso da bicicleta, ativida<strong>de</strong> esta<br />

que envolve o corpo em movimento para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento físico-motor, visando uma<br />

melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e socialização das<br />

famílias.<br />

O corpo em movimento:<br />

o passeio ciclístico<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da ação inicial <strong>de</strong>u-se<br />

com os alunos e seus familiares em frente à<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, recebendo a<strong>de</strong>sivos que<br />

os i<strong>de</strong>ntificavam, frutas e água. Em seguida,<br />

foi realizado o alongamento com um fundo<br />

musical e solicitado às famílias e seus filhos<br />

que o fizessem juntos. Nessa ativida<strong>de</strong> foi<br />

possível perceber o envolvimento, o entusiasmo<br />

e a alegria <strong>de</strong> eles participarem <strong>de</strong><br />

uma ativida<strong>de</strong> com um grupo tão gran<strong>de</strong> e<br />

muito acolhedor.<br />

Após o alongamento, foram realizadas duas<br />

dinâmicas com o objetivo <strong>de</strong> socialização.<br />

Foi formado um círculo em frente ao CEI e<br />

todos os participantes <strong>de</strong> mãos dadas ob-<br />

Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />

91


servaram quem estava ao seu lado direito e<br />

esquerdo. Foi frisado que eles não po<strong>de</strong>riam<br />

esquecer e nem trocar. Foi pedido a diretora<br />

que se encaminhasse para o centro da roda;<br />

então, ela “puxou” os <strong>de</strong>mais em um trajeto<br />

<strong>de</strong> caracol, até que ela ficasse no centro e<br />

os <strong>de</strong>mais em seu entorno. Enquanto estava<br />

enrolada, os componentes da fila tinham<br />

<strong>de</strong> passar por baixo dos <strong>de</strong>mais até que saíssem<br />

totalmente do centro. Todos tinham<br />

que seguir, pois ela estava <strong>de</strong> mão dada com<br />

o segundo, e assim por diante até passar o<br />

último integrante da fila. Algo interessante<br />

aconteceu, pois o círculo ficou <strong>de</strong> costas<br />

para o centro. Então, eles tiveram <strong>de</strong> encontrar<br />

uma forma <strong>de</strong> voltar para a posição inicial,<br />

em que todos ficassem <strong>de</strong> frente para o<br />

centro da roda. As famílias tiveram que resolver<br />

esse <strong>de</strong>safio, que foi conseguido com<br />

as sugestões e/ou orientações dos próprios<br />

componentes da equipe. Foi enfatizado,<br />

nesse momento, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />

um dos componentes para que a ativida<strong>de</strong><br />

obtivesse êxito.<br />

“Massageando o Amigo” foi a segunda dinâmica<br />

realizada. Ao som <strong>de</strong> uma música<br />

suave, foi solicitado que o grupo formasse<br />

duplas e, <strong>de</strong>pois, cada amigo tinha <strong>de</strong> fazer<br />

uma massagem no outro. Na sequência, os<br />

agentes <strong>de</strong> trânsito posicio<strong>na</strong>ram-se em locais<br />

estratégicos, dando total apoio e segurança<br />

aos participantes do passeio ciclístico<br />

e conduzindo os participantes pelas ruas do<br />

bairro.<br />

Os resultados: incentivo,<br />

socialização, bem-estar<br />

Foi muito expressiva a participação das famílias<br />

que estavam muito felizes no evento.<br />

Proporcio<strong>na</strong>r momentos prazerosos e que<br />

possam servir para a adoção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s que<br />

visam o bem-estar e a saú<strong>de</strong> é um dos objetivos<br />

da equipe do CEI. A i<strong>de</strong>ia do passeio foi<br />

incentivar a prática da ativida<strong>de</strong> física, pois,<br />

<strong>na</strong> criança, o movimento é o que impulsio<strong>na</strong><br />

as significações do apren<strong>de</strong>r. Isso ocorre<br />

porque a criança se apropria daquilo que<br />

po<strong>de</strong> experimentar corporalmente e o seu<br />

pensamento é construído, inicialmente, por<br />

meio da ação.<br />

Servir como referência para a mudança <strong>de</strong><br />

postura <strong>na</strong> adoção <strong>de</strong> hábitos saudáveis e<br />

92 Quem quer pedalar põe o <strong>de</strong>do aqui!


usufruir da presença das famílias é um dos<br />

eixos que se baseia a Educação Física, que<br />

vê <strong>na</strong> socialização um modo <strong>de</strong> utilizar a linguagem<br />

do movimento para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da autonomia e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> corporal,<br />

por meio da ampliação do conhecimento das<br />

práticas corporais.<br />

A ativida<strong>de</strong> do passeio ciclístico oportunizou,<br />

também, um estreitamento <strong>na</strong>s relações<br />

entre os profissio<strong>na</strong>is do CEI e as famílias, visando<br />

sempre o bem-estar das crianças. Participar<br />

com os seus amigos e suas famílias<br />

<strong>de</strong> um passeio ciclístico, além <strong>de</strong> ampliar o<br />

círculo social das crianças, oportuniza o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento biopsicossocial.<br />

Referências<br />

GONÇALVES, F. Psicomotricida<strong>de</strong> & Educação<br />

Física. São Paulo: Cultura RBL, 2010.<br />

GUISELINI, M. Aptidão física, saú<strong>de</strong> e bem<br />

-estar: fundamentos teóricos e exercícios<br />

práticos. São Paulo: Phorte, 2004.<br />

TAVARES, L. Conheça sete benefícios <strong>de</strong> andar<br />

<strong>de</strong> bicicleta. Minha Vida. Catraca livre.<br />

2016. Disponível em: .<br />

Acesso em: 2 jun. 2016.<br />

Telmo Vieira <strong>de</strong> Souza<br />

93


94<br />

Práticas <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

A magia<br />

das cores<br />

sobre o corpo<br />

Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />

Como principal instrumento <strong>de</strong> trabalho das<br />

aulas <strong>de</strong> Educação Física, o corpo passa a<br />

ser visto <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong>ntro do Centro <strong>de</strong><br />

Educação <strong>Infantil</strong> Nossa Senhora das Graças.<br />

Com o início das aulas <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong>,<br />

no ano <strong>de</strong> 2014, iniciou-se um novo movimento,<br />

com novas possibilida<strong>de</strong>s - o corpo<br />

passa a ser visto <strong>de</strong> outras formas, passa a<br />

executar novos movimentos. Quanto maior o<br />

<strong>de</strong>safio, maior o interesse e satisfação.<br />

Após familiarizarmo-nos e exercitarmo-nos<br />

durante todo o ano, fez-se necessária uma<br />

ativida<strong>de</strong> especial para o encerramento das<br />

aulas <strong>de</strong> Educação Física, momento que<br />

crianças <strong>de</strong> 3 a 5 anos participariam, <strong>de</strong> uma<br />

forma inesquecível, do sentir e do reconhecer<br />

cada parte <strong>de</strong> seu corpo e exercitariam<br />

suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação. Por meio da<br />

ativida<strong>de</strong> A magia das cores sobre o corpo,<br />

as crianças pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>ixar a imagi<strong>na</strong>ção<br />

fluir, transformando-se em tudo o que <strong>de</strong>sejassem.


A magia<br />

Com tinta guache e um espaço <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong>,<br />

<strong>de</strong>senvolvemos a ativida<strong>de</strong>. Com quatro<br />

cores dispostas para cada aluno, iniciamos<br />

um processo <strong>de</strong> novas sensações, <strong>de</strong>slizando<br />

as mãos com tinta pelo corpo, possibilitando<br />

uma experiência diferenciada. Conforme o<br />

Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l para a Educação<br />

<strong>Infantil</strong>:<br />

A aquisição da consciência dos limites do<br />

próprio corpo é um aspecto importante do<br />

processo <strong>de</strong> diferenciação do eu e do outro<br />

e da construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Por meio das<br />

explorações que faz, do contato físico com<br />

outras pessoas, da observação daqueles<br />

com quem convive, a criança apren<strong>de</strong> sobre<br />

o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela<br />

linguagem corporal. (BRASIL, 1998, p. 5).<br />

A sensação da tinta em contato com o corpo,<br />

a cada movimento das mãos ou dos <strong>de</strong>dos<br />

pintando, se pintando, <strong>de</strong>scobria-se uma<br />

nova sensação, uma <strong>de</strong>scoberta sobre seu<br />

próprio corpo. Aos poucos as crianças foram<br />

se apropriando e tomando consciência das<br />

dimensões do seu corpo.<br />

Durante a ativida<strong>de</strong>, os alunos pu<strong>de</strong>ram fazer<br />

suas escolhas em relação às cores que<br />

gostariam <strong>de</strong> usar, como e on<strong>de</strong> pintar seu<br />

próprio corpo. Elas vivenciaram uma prática<br />

diferenciada, ampliaram suas possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> movimento e controle motor, estimularam<br />

e aprimoraram, assim, o sistema sensório<br />

motor.<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2014, o foco das aulas <strong>de</strong><br />

Educação Física foi o corpo. Tendo como<br />

objetivo principal conhecer esse corpo, aos<br />

poucos os alunos foram se percebendo e as<br />

possíveis possibilida<strong>de</strong>s e formas <strong>de</strong> utilizar<br />

o próprio corpo para brincar com prazer. A<br />

práxis huma<strong>na</strong> é essa unida<strong>de</strong> indissolúvel<br />

entre conhecimento e ações sobre o mundo,<br />

o que nos tor<strong>na</strong>m sujeitos com capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> transformação e criação. Transformar o<br />

mundo, expressá-lo e expressar-se são condições<br />

próprias dos seres humanos (FREIRE,<br />

1983).<br />

Foram <strong>de</strong>senvolvidos vários trabalhos importantes<br />

para que as crianças compreen<strong>de</strong>ssem<br />

o corpo como um todo e suas sensações.<br />

Na primeira etapa, confeccio<strong>na</strong>mos<br />

um cartaz com as medidas <strong>de</strong> todos os colegas,<br />

para que visualizassem a altura <strong>de</strong><br />

cada um. Na segunda etapa, <strong>de</strong>senvolvemos<br />

ativida<strong>de</strong>s com foco em movimentos do corpo<br />

com o corpo. Ginástica, massagem, ativida<strong>de</strong>s<br />

corporais em grupo. Carregar um<br />

colega e rolar por cima do corpo dos colegas<br />

foram algumas das ativida<strong>de</strong>s preferidas<br />

dos grupos. Na terceira etapa, os <strong>de</strong>safios<br />

só aumentaram. Pilhas <strong>de</strong> colchões, mesas,<br />

bancos, re<strong>de</strong>s e cordas penduradas e escada<br />

tor<strong>na</strong>ram-se gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios, e cada um<br />

passou a reconhecer e/ou a vencer seus limites.<br />

No entanto, o sorriso e a euforia sempre<br />

estavam presentes durante as aulas.<br />

Durante o ano, pu<strong>de</strong> perceber que o “material<br />

mais mágico” para as crianças, em ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção motora fi<strong>na</strong>, era a tinta<br />

guache. Sempre que trabalhávamos com<br />

ela, em alguma ativida<strong>de</strong>, parecia hipnotizá<br />

-los - a felicida<strong>de</strong> tomava conta do momento.<br />

Dessa forma, baseada em experiências da<br />

Psicomotricida<strong>de</strong> Relacio<strong>na</strong>l, resolvi aplicar<br />

a ativida<strong>de</strong> do banho <strong>de</strong> tinta, voltada ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma consciência corporal.<br />

No início do mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2014, utilizando<br />

o maior espaço da creche, <strong>de</strong>senvolvemos<br />

a ativida<strong>de</strong> com duas turmas por vez.<br />

Com uma lo<strong>na</strong> estendida no chão, os alunos<br />

foram colocados sentados, espalhados pelo<br />

espaço. Todos os alunos estavam ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong><br />

trajes <strong>de</strong> banho para que pu<strong>de</strong>ssem aproveitar<br />

a ativida<strong>de</strong> ao máximo sem se preocupar<br />

com o fato <strong>de</strong> sujarem-se. Com todos os alunos<br />

acomodados, cada aluno recebeu quatro<br />

cores diferentes <strong>de</strong> tinta guache dispostas<br />

em copinhos <strong>de</strong>scartáveis. A professora <strong>de</strong><br />

Educação Física participou junto aos alunos,<br />

servindo <strong>de</strong> referência e fazendo o fechamento<br />

dos vínculos já estabelecidos durante<br />

o ano. A curiosida<strong>de</strong> e a euforia diante dos<br />

copinhos <strong>de</strong> tinta tomaram conta <strong>de</strong> todos.<br />

A ativida<strong>de</strong> teve início com a escolha da cor<br />

preferida <strong>de</strong> cada um, a qual <strong>de</strong>veria ser passada<br />

<strong>na</strong> testa, utilizando os <strong>de</strong>dos. Durante<br />

toda a ativida<strong>de</strong>, utilizamos ape<strong>na</strong>s o corpo<br />

e as tintas. Inicialmente, as perguntas começaram<br />

a aparecer: “Professora, e agora?<br />

Po<strong>de</strong> passar <strong>na</strong> per<strong>na</strong>? E no braço?”.<br />

Começaram assim as obras <strong>de</strong> arte por todo<br />

o corpo; vários <strong>de</strong>senhos; várias cores. Alguns<br />

mais tímidos, outros com medo: “Será<br />

96 A magia das cores sobre o corpo


que posso mesmo me sujar?”. Uma colega<br />

precisou da ajuda da professora para entrar<br />

<strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira - aos poucos ela se esqueceu<br />

<strong>de</strong> seus medos e se envolveu com o grupo.<br />

A sensação da tinta em contato com o corpo,<br />

a cada movimento das mãos <strong>de</strong>slizando,<br />

era uma nova <strong>de</strong>scoberta sobre seu próprio<br />

eu. Aos poucos as crianças foram se apropriando<br />

e tomando consciência das dimensões<br />

do seu corpo.<br />

Os sentidos sensoriais são a porta <strong>de</strong> entrada<br />

para aprendizagem no corpo humano.<br />

Explorar técnicas que privilegiam o uso dos<br />

sentidos auxilia a captação dos mais diversos<br />

conteúdos. “Maria Montessori <strong>de</strong>fendia<br />

que o caminho do intelecto passa pelas<br />

mãos, porque é por meio do movimento e do<br />

toque que as crianças exploram e <strong>de</strong>codificam<br />

o mundo ao seu redor. ‘A criança ama<br />

tocar os objetos para <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>r reconhecê-los’,<br />

disse certa vez”. (GOLDSCHMIDT et<br />

al., 2008, s/p).<br />

A todo momento, eles perguntavam se po<strong>de</strong>ria<br />

pintar esta ou aquela parte do corpo.<br />

Cada um se pintou com as cores preferidas,<br />

alguns coloriram cada parte do corpo com<br />

uma cor, outros misturaram todas as cores<br />

e passaram pelo corpo. Cada um com o seu<br />

jeito e preferência. Após colorirem todo o<br />

corpo on<strong>de</strong> alcançavam, as crianças começaram<br />

a pedir ajuda aos colegas para colorir<br />

as costas. Surgiram, então, vários <strong>de</strong>senhos.<br />

A criativida<strong>de</strong> e a imagi<strong>na</strong>ção tomaram conta<br />

<strong>de</strong> todos.<br />

No primeiro momento, cada um <strong>de</strong>senhou e<br />

coloriu o seu corpo. No segundo momento,<br />

era a hora <strong>de</strong> estabelecer as parcerias, reforçar<br />

a confiança. Foi o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar<br />

no corpo do amigo e disponibilizar-se para o<br />

outro. De acordo com Lapierre e Aucouturier<br />

(2004), o prazer estabelecido com o outro<br />

e o entendimento envolvem, muitas vezes, a<br />

compreensão, a aceitação e o respeito, resultando<br />

<strong>na</strong> socialização dos indivíduos. Nessa<br />

relação, o outro po<strong>de</strong> ser encarado como um<br />

instrumento <strong>de</strong> ajuda <strong>na</strong>s <strong>de</strong>mais relações.<br />

Após a maioria estar com quase todo o corpo<br />

pintado, as meni<strong>na</strong>s afirmaram para os meninos:<br />

“Não po<strong>de</strong> pintar o cabelo!”. Eles olharam<br />

para a professora com carinhas cheias<br />

<strong>de</strong> dúvidas. “Será que não po<strong>de</strong>? O corpo<br />

não está todo colorido? Então, o cabelo também<br />

faz parte do corpo!”.<br />

Dessa forma, eu escolhi uma das cores e disse:<br />

“O meu cabelo faz parte do meu corpo,<br />

não é?”. Assim, passei a cor azul por algumas<br />

mechas do meu cabelo. Eles ficaram<br />

surpreendidos e tor<strong>na</strong>ram a entrar <strong>na</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />

novamente, pintando seus cabelos<br />

com uma ou mais cores. As meni<strong>na</strong>s inventaram<br />

maquiagens, penteados e máscaras<br />

exuberantes.<br />

As cores, a alegria e as parcerias estavam<br />

estabelecidas no gran<strong>de</strong> grupo. Era motivo<br />

<strong>de</strong> festa. Após todas as cores estarem misturadas,<br />

tor<strong>na</strong>ndo-se ape<strong>na</strong>s uma, comecei<br />

o processo <strong>de</strong> volta à calma. Aos poucos, comecei<br />

o banho <strong>de</strong> mangueira para remover<br />

toda a tinta, proporcio<strong>na</strong>ndo, assim, vários<br />

momentos <strong>de</strong> prazer.<br />

Nesse momento, a professora <strong>de</strong> Educação<br />

Física <strong>de</strong>u o banho <strong>de</strong> mangueira e as agentes<br />

<strong>de</strong> educação auxiliaram no processo <strong>de</strong><br />

secar e vestir as crianças para retor<strong>na</strong>rem<br />

aos momentos <strong>de</strong> roti<strong>na</strong> da creche. De fato,<br />

conforme o Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l<br />

para a Educação <strong>Infantil</strong>:<br />

Propiciar a interação quer dizer, portanto,<br />

consi<strong>de</strong>rar que as diferentes formas <strong>de</strong> sentir,<br />

expressar e comunicar a realida<strong>de</strong> pelas<br />

crianças resultam em respostas diversas<br />

que são trocadas entre elas e que garantem<br />

parte significativa <strong>de</strong> suas aprendizagens.<br />

Uma das formas <strong>de</strong> propiciar essa troca é a<br />

socialização <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>scobertas, quando o<br />

professor organiza as situações para que as<br />

crianças compartilhem seus percursos individuais<br />

<strong>na</strong> elaboração dos diferentes trabalhos<br />

realizados. (BRASIL, 1998, p. 31).<br />

Cuidados e vínculos reforçados<br />

Foi uma experiência inovadora. O recurso<br />

utilizado possibilitou a exploração <strong>de</strong> movimentos<br />

corporais e a utilização <strong>de</strong> todos os<br />

sentidos sensoriais. 99% dos alunos participaram<br />

da ativida<strong>de</strong> com prazer. Ape<strong>na</strong>s uma<br />

criança não quis se envolver <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong>, já<br />

<strong>de</strong> início. Dessa forma, ela ficou a observar<br />

<strong>de</strong> longe como preferiu.<br />

Durante a ativida<strong>de</strong>, pu<strong>de</strong> perceber que as<br />

Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />

97


98 A magia das cores sobre o corpo


Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />

99


noções <strong>de</strong> esquema corporal já estavam integradas,<br />

as <strong>de</strong>scobertas foram as sensações<br />

causadas pela tinta <strong>na</strong>s diferentes partes do<br />

corpo, estimulando, assim, os sistemas sensoriais.<br />

A prática, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lúdica,<br />

fornece subsídio para a criança observar,<br />

interagir, experimentar, investigar e formar<br />

vínculos, facilitando os processos <strong>de</strong> ensino<br />

aprendizagem, auxiliando nos processos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> seus próprios limites e do seu<br />

próprio “Eu”.<br />

O cuidado com o corpo e os vínculos afetivos<br />

foram reforçados no grupo. Assim sendo,<br />

os objetivos da ativida<strong>de</strong> foram amplamente<br />

alcançados. Enfatizo, <strong>de</strong>ssa forma, a importância<br />

<strong>de</strong> inovar e arriscar mais ativida<strong>de</strong>s<br />

diferenciadas para proporcio<strong>na</strong>r o prazer a<br />

todos os envolvidos.<br />

Referências<br />

BRASIL. Referencial Curricular Nacio<strong>na</strong>l<br />

para a Educação <strong>Infantil</strong>: Introdução, volume<br />

1. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

FREIRE, P. Educação como prática <strong>de</strong> mudanças.<br />

15. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />

1983.<br />

GOLDSCHMIDT, A. I. et al. A importância do<br />

lúdico e dos sentidos sensoriais humanos <strong>na</strong><br />

aprendizagem do meio ambiente. 2008. Disponível<br />

em: . Acesso em: 15 set.<br />

2015.<br />

LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia<br />

do movimento: psicomotricida<strong>de</strong> e educação.<br />

3 ed. Curitiba, PR: Filosofart, 2004.<br />

100 A magia das cores sobre o corpo


Leticia Gra<strong>na</strong>do<br />

101


Práticas <strong>de</strong> Educação Física<br />

<strong>na</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Créditos<br />

Secretário <strong>de</strong> Educação<br />

Edison D’Ávila<br />

Direção Geral<br />

Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora Técnica<br />

Prof.ª Dra. Sandra Cristi<strong>na</strong> Vanzuita da Silva<br />

Diretora da Diretoria <strong>de</strong> Educação <strong>Infantil</strong><br />

Prof.ª Sueli da Costa<br />

Organização:<br />

Prof.ª A<strong>na</strong> Paula Rudolf Dagnoni<br />

Prof.ª Débora Adami Domingos<br />

Prof.ª Fer<strong>na</strong>nda Seara Cera<br />

Prof.ª Lidiane <strong>de</strong> Souza Candido<br />

Prof.ª Meri Margareth Rodrigues<br />

Prof.ª Nazedir <strong>de</strong> Amorim <strong>de</strong> Menezes<br />

Prof.ª Uiara Bertholdi Vargas<br />

Apoio:<br />

Prof.ª Daniela Christiane da Silva dos Santos<br />

Diagramação<br />

Bresciani Design | Lucas Bresciani<br />

Revisão<br />

Janete Bridon

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