Saberes Necessarios para uma Educação Inclusiva
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<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong>
2<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Editorial<br />
<strong>Saberes</strong> necessários <strong>para</strong><br />
<strong>uma</strong> educação inclusiva<br />
Prof.º Wladimir José Roslindo<br />
Diretor da Diretoria de <strong>Educação</strong><br />
Integral e Ações Educativas<br />
A Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações Educativas<br />
– DEIN, executa, acompanha, avalia, planeja e<br />
desenvolve ações monitorando sistematicamente<br />
a execução das práticas educativas em tempo<br />
integral, seja coordenando a criação, a implantação<br />
e a implementação de programas educacionais<br />
<strong>para</strong> a <strong>Educação</strong> Básica. Na estrutura organizacional<br />
da DEIN, incluem, além da supervisão<br />
em <strong>Educação</strong> Integral, <strong>Educação</strong> Especial e Esporte<br />
Escolar, os seguintes programas educacionais:<br />
Gestão Compartilhada, Cultura e Travessura,<br />
Leitura/Prolei, Diversidade Étnico-Racial, Gênero<br />
e Combate ao Bullying e <strong>Educação</strong> Ambiental.<br />
Por isso, a oportunidade de relatar nesta publicação,<br />
experiências exitosas do Programa de<br />
Diversidade Étnico-Racial, Gênero e Combate ao<br />
Bullyng e da Supervisão de <strong>Educação</strong> Especial<br />
através de práticas oriundas das unidades de ensino<br />
da Rede Municipal, significa compartilhar<br />
aprendizados em atividades do cotidiano das<br />
ações da DEIN.<br />
Na primeira sessão da revista, trataremos de práticas<br />
que rementem a possibilidades do ensino<br />
da história africana e afro-brasileira nas unidades<br />
de educação básica. Estas reflexões se fazem necessárias,<br />
pois de acordo com IBGE (2014), nossa<br />
nação é composta por 54% de pretos e de pardos.<br />
Sabe-se que há correlação entre pertencimento<br />
etnico-racial e sucesso escolar, indicando, portan-
to, que é necessária firme determinação <strong>para</strong> que<br />
a diversidade cultural brasileira passe a integrar<br />
o ideário educacional. Não como um problema,<br />
mas como um rico acervo de valores, posturas e<br />
práticas que devem conduzir ao melhor acolhimento<br />
e maior valorização dessa diversidade no<br />
ambiente escolar.<br />
Salientamos a Lei 10.639/03, de 9 de janeiro de 2003,<br />
que simboliza um marco histórico, tornando-se<br />
simultaneamente um ponto de chegada das lutas<br />
antirracistas no Brasil e um ponto de partida<br />
<strong>para</strong> a renovação da qualidade social da educação<br />
brasileira. Ciente desses desafios, o Conselho<br />
Nacional de <strong>Educação</strong>, já em 2004, dedicou-se<br />
ao tema, em diálogo com reivindicações históricas<br />
dos movimentos sociais, em especial do movimento<br />
negro, elaborou um parecer e exarou resolução,<br />
homologada pelo Ministro da <strong>Educação</strong>,<br />
no sentido de orientar os sistemas de ensino e<br />
as instituições dedicadas à educação, <strong>para</strong> que<br />
dediquem cuidadosa atenção à incorporação da<br />
diversidade da sociedade brasileira nas práticas<br />
escolares.<br />
Na segunda sessão desta publicação apresentamos<br />
relatos da <strong>Educação</strong> Especial, modalidade<br />
que constituiu elemento marcante na constituição<br />
de políticas públicas promotoras de <strong>uma</strong><br />
educação de qualidade. Políticas instituídas <strong>para</strong><br />
atender a necessidade histórica da educação brasileira<br />
em promover as condições de acesso, participação<br />
e aprendizagem aos estudantes com deficiência,<br />
transtornos globais de desenvolvimento<br />
e altas habilidades superdotação. Tais propostas<br />
ocorrem por meio de diferentes serviços como:<br />
Atendimento Educacional Especializado nas salas<br />
de recurso multifuncionais; Interpretação em<br />
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS; Apoio nas<br />
Atividades de Vida Diária (AVD’s); Atendimento<br />
Especializado; e outras que promovam a acessibilidade<br />
das práticas pedagógicas.<br />
Estas ações são estruturadas n<strong>uma</strong> concepção<br />
que merece destaque, intituladas de educação<br />
inclusiva. São atividades de apoio à escola comum,<br />
no cumprimento de sua função social que<br />
é o acesso à educação enquanto direito de todos.<br />
Tais ações visam a constituição de sistemas de<br />
ensino mais inclusivos, que se caracteriza em propostas<br />
pedagógicas que valorizem as diferenças<br />
e eliminem barreiras.<br />
Assim, os relatos aqui apresentados tem essa<br />
pretensão de “propor um diálogo entre conhecimentos<br />
de educadores e sua prática” apontando<br />
<strong>para</strong> alternativas na construção de práticas mais<br />
inclusivas, comprometidas com mudanças, e com<br />
o princípio de democracia, que rejeita qualquer<br />
forma de discriminação, dominação e integra<br />
<strong>uma</strong> atitude de inovação e renovação na crença<br />
de que é possível transformar.
Sumário<br />
Diversidade Étnico-Racial | Palavra do Secretário ................................. 6<br />
Depoimentos ......................................................................................................................... 8<br />
ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas<br />
Sidneya Silva dos Santos ................................................................................................. 10<br />
Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola<br />
Cíntia Aparecida da Silva .................................................................................................. 16<br />
Respeito a si e ao outro, reconhecendo as diferenças<br />
Maierly Santos Souza ...................................................................................................... 22<br />
Viajando pela diversidade: eu e meus heróis<br />
Lucimara dos Santos ........................................................................................................ 26<br />
A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza<br />
Geni Terezinha Cardoso Gonçalves ............................................................................... 32<br />
Resgate da identidade negra em Itajaí<br />
Fábia Simone de Aguiar.................................................................................................... 38<br />
Gincana pedagógica: desafio cultural<br />
Daniela Silveira D´Ávila Werner ...................................................................................... 42
<strong>Educação</strong> Especial | Palavra do Secretário ............................................... 48<br />
A inclusão do aluno com deficiência no Ensino Fundamental dos anos iniciais<br />
Daniela Cristina Furtado | Terezinha Aparecida Buss de Carvalho<br />
Gisele Cristina Régis de Souza ...................................................................................... 50<br />
Uma visão cidadã no Centro de <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Suriane Latini | Luciana Otto Freire ............................................................................... 54<br />
Novas descobertas no mundo Down<br />
Simone Conti Pereira ........................................................................................................ 58<br />
Os Mosqueteiros<br />
Karina Pickering Pollheim ............................................................................................... 66<br />
Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!<br />
Janine Calixto ..................................................................................................................... 72<br />
Descoberta<br />
Erickson Jones Lima ........................................................................................................ 80
6<br />
Diversidade<br />
Étnico-Racial<br />
Palavra do Secretário<br />
Prof. Edison d’Ávila<br />
Secretário Municipal de <strong>Educação</strong><br />
No âmbito da Secretaria Municipal de <strong>Educação</strong><br />
de Itajaí, o Programa Diversidade Étnico-Racial,<br />
de Gênero e Combate ao Bullying se constitui<br />
num conjunto de ações assertivas e eficientes<br />
pela conquista de mestres e educandos <strong>para</strong> a<br />
h<strong>uma</strong>nização das relações sociais, na escola e<br />
fora dela, através da eliminação de toda forma de<br />
discriminação.<br />
O fortalecimento institucional do Programa se<br />
dá pela existência de Supervisão Educacional específica<br />
na estrutura da Secretaria Municipal de<br />
<strong>Educação</strong>, integrante das Diretorias de Ensino; o<br />
que assegura os meios legais e administrativos<br />
capazes de implementar as políticas públicas<br />
<strong>para</strong> a educação das relações étnico-raciais, de<br />
gênero e de combate ao bullying, nas unidades<br />
escolares da rede municipal de ensino.
As normas legais de origem federal e aquelas produzidas<br />
pelo Município de Itajaí, quais sejam, a<br />
obrigatoriedade do ensino da História da cultura<br />
afro-brasileira e indígena (2003); a implementação<br />
do Programa Municipal de <strong>Educação</strong> <strong>para</strong> a<br />
Diversidade Étnico-Cultural (2011) e o Plano Municipal<br />
de Promoção da Igualdade Racial de Itajaí<br />
(2011) têm sido norteadoras do programa e de<br />
projetos educativos que envolvem, a cada ano,<br />
milhares de professores, alunos e pais.<br />
O conjunto de toda esta obra construída pelo<br />
Programa Diversidade Étnico-Racial, de Gênero e<br />
Combate ao Bullying se compõe de ações como<br />
formação continuada <strong>para</strong> o cotidiano dos atores<br />
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem;<br />
produção/utilização de materiais de aprendizagem<br />
que promovam a diversidade; formação de<br />
grupo de reeditores do Programa <strong>para</strong> fortalecimento<br />
da idéia e do trabalho em cada unidade<br />
escolar; eventos de culminância e celebração (kizombas,<br />
blitzes, etc.) <strong>para</strong> construção de espaços<br />
de diálogo e divulgação entre os atores/comunidade<br />
e as diferentes temáticas do Programa; integração<br />
com parceiros institucionais Secretarias/<br />
Fundações/COMED/CONEGI/COMDIM/ITJ.<br />
Deste modo, Educar <strong>para</strong> a Diversidade tem sido<br />
<strong>uma</strong> ação constante do Programa Diversidade<br />
Étnico-Racial, de Gênero e Combate ao Bullying,<br />
de maneira a implementar essa política pública<br />
no âmbito do Município de Itajaí, na área da educação,<br />
a enfrentar o preconceito, racismo e discriminação,<br />
buscando construir <strong>uma</strong> sociedade<br />
democrática.
8<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Depoimentos<br />
Graziela Cristina Gonçalves<br />
Coordenadora da Coordenadoria de<br />
Promoção da Igualdade Racial, Gênero e<br />
Pessoa com Deficiência<br />
“Discutir as relações étnico-raciais que construíram<br />
esse país, logo, deveria ser <strong>uma</strong> obrigação<br />
de todos os cidadãos, não importando<br />
sua origem ou etnia. São esforços que não<br />
apenas se somam na luta contra o racismo,<br />
como também na consolidação da democracia,<br />
da promoção da cidadania e no reforço à<br />
igualdade social e racial”.<br />
Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />
Professora Membro da Associação<br />
Grupo Mariama<br />
“Valorizar a cultura afro-brasileira como um<br />
componente nacional, estudar a história<br />
mundial com um olhar menos eurocêntrico,<br />
compreender as lutas do movimento negro<br />
pela igualdade social e racial no país, bem<br />
como pela superação do racismo, são etapas<br />
de transformação e contribuição <strong>para</strong> o fim<br />
dasdesigualdades raciais e sociais”.<br />
Eugênia Maria da Silva Brito Francelino<br />
Presidente do Conselho Municipal de<br />
Desenvolvimento da Comunidade Negra<br />
de Itajaí.<br />
“A educação das relações etnicorraciais, vem<br />
oferecer <strong>uma</strong> resposta à demanda da população<br />
afrodescendente e indígena, no sentido<br />
de políticas de ações afirmativas, isto é, de<br />
políticas de re<strong>para</strong>ções, de reconhecimento e<br />
valorização de suas histórias, culturas e identidades.<br />
O resgate da memória coletiva e da<br />
história da comunidade negra e indígena não<br />
interessa apenas aos alunos de ascendência<br />
nessas etnias, interessa a todos”.<br />
Lucimara dos Santos<br />
Grupo de Trabalho Diversidade,<br />
instituído em 2005<br />
É importante ensinar a história africana e<br />
afro-brasileira nas escolas, <strong>para</strong> que seja garantido<br />
aos estudantes brasileiros o direito<br />
ao conhecimento sobre “A História da África<br />
e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a<br />
cultura negra brasileira e o negro na formação<br />
da sociedade”, <strong>para</strong> que possamos enfim, colocar<br />
um fim no preconceito racial e afirmar<br />
a identidade e orgulho das origens. É isso que<br />
preconiza a lei 10.639/03, além de tratar-se de<br />
<strong>uma</strong> medida re<strong>para</strong>tória e de inclusão que visa<br />
contribuir <strong>para</strong> a construção de <strong>uma</strong> sociedade<br />
mais justa, livre de preconceitos e com<br />
igual oportunidades.<br />
Após <strong>uma</strong> década da adoção do ensino da história<br />
e cultura africanas, muitas escolas, gestores<br />
e professores ainda resistem a trabalhar a lei,<br />
seja por falta de formação do docente, seja por<br />
preconceito racial e religioso ou, até mesmo, por<br />
desinteresse julgando ser a Lei desnecessária.<br />
Se faz urgente discutir os valores civilizatórios<br />
da cultura afro-brasileira nas escolas, <strong>uma</strong> vez<br />
que a presença do negro nos currículos oficiais<br />
muitas vezes é reduzida à <strong>uma</strong> concepção folclorizante<br />
e estereotipada. Nossos currículos<br />
são eurocêntricos e invisibilizam ou restringem<br />
a presença negra a alguns lamentos do período<br />
escravista.
Como diz Mônica Lima, não podemos a despeito<br />
da exigência da lei sair repassando nas salas de<br />
aula informações equivocadas ou tratar o tema<br />
de <strong>uma</strong> maneira idealizada. Então o grande desafio<br />
dos professores hoje com as limitações da<br />
sua formação básica é a obrigatoriedade de ensinar<br />
a história da África e cultura afro-brasileira.<br />
Não há “receitas prontas”, o que conta “talvez”<br />
é a experiência dos professores na hora de<br />
passar os conteúdos, os livros didáticos, a convivência<br />
comunitária, a troca, a solidariedade,<br />
a promoção da identidade negra, o respeito<br />
com os mais velhos e a aceitação da LEI. São<br />
possibilidades de se trabalhar <strong>uma</strong> educação<br />
pluricultural, onde é possível combater a discriminação<br />
e o racismo na educação.<br />
LIMA, Mônica. A África na Sala de Aula: obrigatoriedade<br />
de ensinar história e cultura<br />
africanas é o novo desafio dos professores<br />
brasileiros. In: revista Nossa História. Fevereiro,<br />
2004. n. 4.<br />
Professor Mestre em <strong>Educação</strong> Carlos<br />
Roberto Nascimento<br />
Coordenador do Curso de Pedagogia<br />
do Instituto Cenecista Fayal de Ensino<br />
Superior<br />
A criação da revista “<strong>Saberes</strong> necessários <strong>para</strong><br />
<strong>uma</strong> educação inclusiva” somada a outras iniciativas<br />
exitosas de valorização da diversidade<br />
na cidade de Itajaí, constituir-se-á em mais <strong>uma</strong><br />
ferramenta de promoção de práticas educativas<br />
que reconheçam de forma positiva a presença<br />
dos diferentes grupos étnicos nos diversos segmentos<br />
da sociedade, em especial a compreensão<br />
das lutas dos movimentos negro e indígena<br />
pela igualdade racial e social no Brasil.<br />
Atuo no magistério desde o ano de 1988 e<br />
tenho visto que nessas duas últimas décadas<br />
houve importantes avanços na luta pela igualdade<br />
racial em nosso país, em especial pela<br />
promulgação das leis 10.639/03 que inclui no<br />
âmbito escolar o debate sobre a história africana<br />
e cultura afro-brasileira e a 11.645/08<br />
que inclui também, a questão indígena.<br />
Mais recentemente, a obrigatoriedade, enquanto<br />
componente curricular em cursos<br />
Licenciatura do ensino superior, além da inserção<br />
do conteúdo em disciplinas dos demais<br />
cursos, abriram outras possibilidades<br />
da inclusão de tão importante debate na<br />
formação tanto de docentes, como de profissionais<br />
de diferentes áreas.<br />
Enquanto docente do Instituto Fayal de Ensino<br />
Superior, e lecionando a disciplina de<br />
Diversidade das Relações Etnicorracias, percebo<br />
que, ainda, há muito a ser feito <strong>para</strong><br />
que de fato se possa discutir no âmbito das<br />
escolas e, por conseguinte, na sociedade em<br />
geral as relações etnicorraciais que construíram<br />
o Brasil, pois que historicamente a figura<br />
do negro e do índio tem sido folclorizada,<br />
apresentadas como exóticas e sinônimas de<br />
sofrimento e miséria.<br />
O debate necessita ser aprofundado, pois<br />
ainda há muita resistência dentro e fora dos<br />
muros das escolas, daqueles que possuem<br />
preconceitos arraigados no seu imaginário<br />
social, ou que entendem a inclusão da educação<br />
das relações etnicorraciais desnecessárias,<br />
ideologizados pela noção da falsa<br />
“democracia racial”, não percebem a manutenção<br />
do racismo e as diferenças de oportunidades<br />
desses grupos étnicos.
10<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
ABAYOMI<br />
Bonecos e<br />
bonecas<br />
africanas<br />
Sidneya Silva dos Santos<br />
A educação é um processo histórico no qual<br />
procuramos reafirmar a condição do ser h<strong>uma</strong>no<br />
em um ser que se distingue de todos os<br />
outros, no conjunto da natureza e na interação<br />
com o outro, como meio da reflexão da própria<br />
vida, com a capacidade de criar símbolos e de<br />
transmitir conhecimentos produzidos e acumulados<br />
aos seus descentes. Nessa perspectiva,<br />
o processo educacional inclui mecanismos<br />
de socialização, como a educação escolar, a<br />
produção cultural, a “natureza” social h<strong>uma</strong>na.<br />
Dessa forma, este trabalho pretende contribuir<br />
sobre as diferentes presenças na escola e na<br />
sociedade e sua relação com as transformações<br />
socioculturais dos últimos tempos.<br />
A proposta deste projeto foi possibilitar <strong>uma</strong><br />
aventura por meio dos estudos sobre os contos<br />
e as brincadeiras lúdicas de matriz africana. Por<br />
meio de pesquisas, de estudos sobre a história<br />
e sobre a cultura afro-brasileira, destacamos a
importância de valorizar a diversidade cultural<br />
dentro do âmbito escolar, criando espaços com<br />
o desenvolvimento de atividades variadas envolvendo<br />
as bonecas e os bonecos Abayomis.<br />
O projeto ABAYOMI: bonecos e bonecas africanas<br />
visou o resgate da contribuição da<br />
cultura da população negra nas artes e nas<br />
brincadeiras presentes em nossa cultura.<br />
Para isso, foram elencados os seguintes objetivos<br />
específicos:<br />
• Conhecer o significado da palavra<br />
ABAYOMI.<br />
• Aprender a confeccionar as bonecas e<br />
bonecos Abayomi.<br />
• Resgatar a história e a cultura afro-brasileira<br />
por meio da brincadeira com bonecos<br />
feitos de pano.<br />
• Desenvolver a coordenação motora fina.<br />
• Conhecer e explorar as noções de formas,<br />
texturas e tamanhos.<br />
• Identificar semelhanças e diferenças no<br />
esquema corporal.<br />
• Exercitar a identidade e a autonomia nas<br />
opções de escolhas dos materiais.<br />
• Brincar com as Abayomis.<br />
• Socializar o conhecimento em forma de<br />
exposição.<br />
Levando em consideração a Lei 10.639, que<br />
“[...] estabelece as diretrizes e bases da educação<br />
nacional, <strong>para</strong> incluir no currículo oficial<br />
da Rede de Ensino a obrigatoriedade da<br />
temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’<br />
[...]” (BRASIL, 2003, p. 1), este projeto proporcionou<br />
às crianças um conhecimento<br />
rico de vocabulários e diversas formas de linguagens<br />
oriundas da cultura afro-brasileira<br />
(SILVA, 2012).<br />
A metodologia utilizada neste trabalho foi <strong>uma</strong><br />
narrativa, um relato de experiência. Na roda da<br />
novidade, em um momento rotineiro que fazemos<br />
<strong>uma</strong> vez por semana, eu sugeri às crianças<br />
<strong>uma</strong> proposta nova de atividade: “Vamos fazer<br />
as bonecas ABAYOMI?”. As meninas prontamente<br />
responderam: “Vamos!”. Já os meninos,<br />
na mesma hora, hesitaram: “Boneca é coisa<br />
de menina!”. Então eu respondi: “Vejo vocês<br />
brincando com bonecos do Batman, Homem<br />
-Aranha, que são heróis das nossas crianças.<br />
Se vocês brincam com bonecos também po-<br />
12 ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas
dem fazer bonecos”. “Se forem bonecos sim!”,<br />
responderam os meninos. Mas, afinal, o que é<br />
um boneco ou <strong>uma</strong> boneca ABAYOMI? Para<br />
descobrir o que era, combinamos de pesquisar<br />
com os pais o significado da palavra ABAYOMI.<br />
ABAYOMI: “Encontro precioso”,<br />
“Aquele que traz felicidade e alegria”<br />
No outro dia, as crianças eufóricas trouxeram<br />
suas pesquisas, cheias de informações,<br />
fotos e figuras que foram cuidadosamente<br />
lidas e expostas <strong>para</strong> o grupo e mais tarde<br />
<strong>para</strong> todo o Centro de <strong>Educação</strong> Infantil.<br />
Todos aprenderam que a palavra ABAYOMI<br />
era de origem iorubá, um dialeto falado na<br />
África, que, em nossa língua, pode ter vários<br />
significados, como: “encontro precioso”<br />
ou “aquele que traz alegria”. Identificamos<br />
as letras do alfabeto que formam a palavra<br />
ABAYOMI e pintamos cada <strong>uma</strong> delas com<br />
tinta guache. No entanto, como essa palavra<br />
saiu da África e veio <strong>para</strong>r no Brasil? Foi<br />
o questionamento que um aluno fez. Aproveitei<br />
a pergunta <strong>para</strong> respondê-la por meio<br />
de <strong>uma</strong> história. Contei que as mães negras,<br />
como eu, que vieram da África <strong>para</strong> o Brasil,<br />
há muitos anos, inventaram essas bonecas<br />
e esses bonecos de pano <strong>para</strong> que seus filhos<br />
brincassem e não chorassem durante<br />
a longa viagem da África até o Brasil. Mostrei<br />
no mapa, <strong>para</strong> as crianças, onde a África<br />
se localiza, os mares percorridos e o Brasil.<br />
Com retalhos de panos em mãos, aproveitei<br />
<strong>para</strong> ensinar às crianças a fazer as Abayomis,<br />
dramatizando ser a mãe dessa história. Logo<br />
apresentei o material <strong>para</strong> a confecção dos<br />
bonecos e bonecas <strong>para</strong> as crianças.<br />
Mãos à obra<br />
As crianças tiveram a oportunidade de escolher<br />
os mais variados retalhos de tecidos de<br />
acordo com o gosto pessoal de cada <strong>uma</strong>.<br />
O critério básico a ser seguido era o corpo<br />
do boneco ou boneca a ser feito de tecido<br />
preto e a roupa poderia ser de qualquer cor<br />
ou estampa. Fazer os nós <strong>para</strong> dar o formato<br />
da malha preta ao corpo dos bonecos e bonecas<br />
foi um desafio, mas as crianças não<br />
desanimaram. Com muita paciência, a pro-<br />
Sidneya Silva dos Santos<br />
13
fessora e as agentes ensinaram cada criança<br />
a dar os nós necessários <strong>para</strong> formarem seus<br />
bonequinhos.<br />
Após todos os corpinhos prontos, com<strong>para</strong>mos<br />
as semelhanças e as diferenças do nosso<br />
corpo com o corpo dos bonecos, brincando<br />
de “Mestre mandou”. Exemplo: Mestre<br />
mandou por a sua mão na mão da Abayomi.<br />
Então, partimos <strong>para</strong> a próxima etapa: vestir<br />
e caracterizar os bonecos e as bonecas<br />
Abayomis. Fizemos a classificação dos tecidos<br />
por cores. Depois, percebemos a diferença<br />
entre os tecidos lisos e estampados e as<br />
texturas dos tecidos - uns eram de algodão,<br />
outros de malha.<br />
Observamos os tamanhos dos bonecos e<br />
cortamos os tecidos escolhidos pelas crianças.<br />
Realizamos a contagem dos bonecos e<br />
das bonecas e observamos suas medidas.<br />
Enfim, as crianças puderam brincar com<br />
suas criações. Vê-los brincar com os bonecos<br />
e as bonecas Abayomis, feitos de pano<br />
por suas próprias mãos, com a mesma alegria<br />
que brincam com suas Barbies e Batmans<br />
foi, <strong>para</strong> minha vivência de educadora,<br />
<strong>uma</strong> experiência inesquecível.<br />
O desafio e as aprendizagens<br />
O desenvolvimento dessa atividade permitiu<br />
a aquisição de vários conhecimentos e quebra<br />
de <strong>para</strong>digmas. A pesquisa possibilitou a<br />
interação com os pais e o contato com um<br />
conhecimento novo e <strong>uma</strong> vivência lúdica de<br />
duas tradições da cultura africana: a contação<br />
de história oral e a confecção de bonecas de<br />
pano. A tentativa de fazer os nós <strong>para</strong> formar<br />
o corpo foi um desafio que eles venceram com<br />
orgulho, porque, mais tarde, já conseguiam<br />
fazer sozinhos os corpos dos bonecos sem a<br />
nossa ajuda. O relato dos pais durante a exposição<br />
que fizemos dos nossos trabalhos,<br />
sobre a empolgação dos filhos com a palavra<br />
nova e o brinquedo novo que aprenderam, foi<br />
gratificante. Perceber as crianças falando sobre<br />
suas próprias roupas, que suas camisetas<br />
eram feitas de malha, demonstrou que elas<br />
assimilaram os conceitos trabalhados de formas,<br />
de medidas e de texturas. O melhor de<br />
tudo foi que elas aprenderam a brincar com os<br />
bonecos e as bonecas Abayomis, os quais representam<br />
parte de <strong>uma</strong> diversidade cultural a<br />
ser valorizada e respeitada por todos.<br />
14<br />
ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas
Referências<br />
BRASIL. Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de<br />
2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro<br />
de 1996, que estabelece as diretrizes e<br />
bases da educação nacional, <strong>para</strong> incluir no<br />
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade<br />
da temática “História e Cultura<br />
Afro-Brasileira”, e dá outras providências.<br />
Diário Oficial [da] República Federativa do<br />
Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 jan.<br />
2003. Seção 1, no 8, p. 1.<br />
SILVA, S. M. de. Experiência Abayomi. Niterói:<br />
UFF, 2012.<br />
Sidneya Silva dos Santos<br />
15
16<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Direitos<br />
h<strong>uma</strong>nos:<br />
diversidade<br />
étnico-racial<br />
e de gênero<br />
na escola<br />
Cíntia Aparecida da Silva<br />
Este trabalho teve início em 2015, com os<br />
8os anos, após o estudo sobre Revolução<br />
Francesa e Brasil colonial. Ele teve continuidade,<br />
em 2016, nos 9os anos com o estudo<br />
das 1ª e 2ª Guerras Mundiais. Em ambas as<br />
turmas, os conteúdos programáticos foram<br />
associados aos Direitos H<strong>uma</strong>nos e à atualidade,<br />
com um enfoque na diversidade étnico-racial<br />
e de gênero, partindo do princípio<br />
de que todos somos sujeitos históricos e que<br />
possuímos poder <strong>para</strong> influenciar a história<br />
positiva ou negativamente.<br />
Inicio a justificativa <strong>para</strong> a elaboração deste<br />
projeto com a seguinte citação:
O papel social do professor e da professora<br />
é discorrer sobre o preconceito, falar<br />
abertamente, sem medos. Falar com<br />
sutileza, sem ofender os que cometem o<br />
crime da intolerância. Com afetividade e<br />
boa argumentação conseguimos barrar<br />
não apenas o preconceito, como também,<br />
fazemos as pessoas que cometem<br />
hostilidades perceberem o quanto são<br />
ingênuas ou ideologicamente conduzidas<br />
ao reproduzir o que a própria sociedade<br />
reproduz e a partir daí sensibilizar<br />
o alunado ao caminho da tolerância e do<br />
respeito mútuo. (SILVA, 2013, p. 16).<br />
Partindo desse princípio, acredito que a escola<br />
tem papel fundamental na formação de<br />
crianças e de adolescentes críticos e com<br />
condições de possuírem argumentos fortes<br />
e capazes de desenvolver práticas que influenciem<br />
positivamente a sociedade. É de<br />
extrema importância, portanto, trabalhar<br />
em sala os Direitos H<strong>uma</strong>nos com o objetivo<br />
de levar novos conhecimentos relacionados<br />
aos conteúdos programáticos. Dessa forma,<br />
o estudante pode relacionar os fatos históricos<br />
com a realidade em que ele vive, percebendo-se<br />
como sujeito dessa história e que<br />
a nossa realidade é <strong>uma</strong> construção sociocultural.<br />
Um jovem com leituras sobre diversidade étnico-racial<br />
e de gênero poderá ser um sujeito<br />
crítico e capaz de detectar comportamentos<br />
intolerantes na sociedade e promover ações<br />
<strong>para</strong> combatê-las. Assim, o objetivo deste<br />
projeto foi levar os alunos a compreenderse<br />
como Sujeitos Históricos com poder <strong>para</strong><br />
influenciar o comportamento em sociedade,<br />
partindo do conhecimento sobre os Direitos<br />
H<strong>uma</strong>nos com enfoque na diversidade étnico-racial<br />
e de gênero. A partir desse pressuposto,<br />
buscamos desenvolver especificamente<br />
os seguintes objetivos:<br />
• Perceber a necessidade e a importância<br />
da criação dos Direitos H<strong>uma</strong>nos.<br />
• Compreender que somos todos iguais perante<br />
a lei e que temos direito à liberdade.<br />
Assim sendo, não existe lógica em se<br />
sentir superior por questões étnicas-raciais,<br />
de gênero e por credos religiosos.<br />
• Transmitir, por meio de cartazes, <strong>uma</strong><br />
ideia sobre Direitos H<strong>uma</strong>nos e a boa<br />
convivência em sociedade sem a existência<br />
de preconceito ou discriminação.<br />
• Conhecer e analisar a história dos africanos<br />
no Brasil e sua contribuição sociocultural<br />
com leituras de trechos do<br />
livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto<br />
Freyre.<br />
• Elaboração de maquetes sobre a sociedade<br />
colonial brasileira <strong>para</strong> destacar a<br />
casa grande e a senzala.<br />
• Observação e análise de telas feitas pelos<br />
artistas da Missão Francesa no Brasil<br />
Colonial.<br />
• Conhecer um pouco da contribuição dos<br />
povos africanos <strong>para</strong> a cultura brasileira,<br />
focando a influência nas brincadeiras infantis.<br />
• Conhecer o pensamento nazista, percebendo<br />
os danos causados à h<strong>uma</strong>nidade<br />
com a perseguição às minorias, entre<br />
elas os negros e os homossexuais.<br />
• Analisar a sociedade atual percebendo<br />
nela os preconceitos intrínsecos relacionados<br />
aos negros e aos homossexuais.<br />
• Com<strong>para</strong>r as perseguições nazistas contra<br />
negros e homossexuais com as atrocidades<br />
e as intolerâncias atuais – exemplo:<br />
ataque à boate gay nos Estados<br />
Unidos da América.<br />
• Planejar ações que promovam a reflexão<br />
dos problemas de preconceito e intolerância<br />
existentes em nossa sociedade,<br />
objetivando <strong>uma</strong> mudança no comportamento<br />
coletivo no ambiente escolar.<br />
• Elaborar um infográfico com desenhos de<br />
símbolos que lembrem o quanto a guerra,<br />
o nazismo, a intolerância, o fascismo e a<br />
violência são nocivos a <strong>uma</strong> sociedade.<br />
• Criar <strong>uma</strong> página no Facebook <strong>para</strong> postagens<br />
e discussões sobre questões étnicas-raciais<br />
e de gênero.<br />
• Analisar a letra da música Racismo é<br />
burrice <strong>para</strong> desenvolver, criativamente,<br />
<strong>uma</strong> apresentação <strong>para</strong> o Kizomba.<br />
Este projeto foi desenvolvido com uso da<br />
metodologia da problematização - <strong>uma</strong> metodologia<br />
ativa muito utilizada no Ensino<br />
Superior. No nosso caso, ela foi adaptada<br />
<strong>para</strong> ser usada em sala com estudantes de<br />
séries finais do Ensino Fundamental. Essa<br />
metodologia é conhecida também como Método<br />
Maguerezo (Método do Arco) (Figura<br />
18 Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola
1). Uma metodologia que tem como base a<br />
realidade que deve ser observada, <strong>para</strong> retirar<br />
pontos chaves; leituras teóricas que, no<br />
nosso contexto, foram feitas pela professora<br />
e repassada aos estudantes; elaboração de<br />
hipóteses de solução; e, por fim, a aplicação<br />
na realidade.<br />
Proposta de Maguerez<br />
Método de Arco<br />
Pontos Chaves<br />
Observação da<br />
realidade (problema)<br />
Teorização<br />
Hipóteses de Solução<br />
Aplicação à realidade<br />
(prática)<br />
REALIDADE<br />
Figura 1 – Dinâmica do Método de Maguerez<br />
Fonte: Unifesp didática (2014).<br />
Com o intuito de apresentar a relevância<br />
dessa metodologia, cito Colombo e Berbel:<br />
Berbel (1995, 1998 entre outros), defensora<br />
da Metodologia da Problematização,<br />
a propôs inicialmente como um<br />
caminho de ensino e mais recentemente<br />
como de pesquisa, como um processo<br />
rico, porém complexo, demandando<br />
esforços pelos que a desenvolvem, no<br />
sentido de seguir as cinco etapas do<br />
Arco de Maguerez e alcançar os resultados<br />
que suas características prometem<br />
como potencial educativo. (COLOMBO;<br />
BERBEL, 2006, p. 3355).<br />
O desenvolvimento do projeto<br />
Os conteúdos escolhidos <strong>para</strong> serem relacionados<br />
aos direitos H<strong>uma</strong>nos foram: 8o ano<br />
- “Revolução Francesa”, a “Declaração dos<br />
Direitos do Homem” e “A sociedade no Brasil<br />
Colonial” com a “Missão Francesa”. Para o<br />
9o ano, foram: as “1ª e 2ª Guerras Mundiais”<br />
e a “ONU com a Declaração Universal dos<br />
Direitos do Homem”, aprovada no dia 10 de<br />
dezembro de 1948. O foco foi a diversidade<br />
étnico-racial e de gênero. Assim sendo, a<br />
proposta foi de analisar a realidade em que<br />
o estudante está inserido, destacar alguns<br />
pontos <strong>para</strong> estudo, que foram as questões<br />
de diversidade étnico-raciais e de gênero.<br />
Posteriormente, entraram as pesquisas feitas<br />
pelos estudantes e pela professora (neste<br />
último caso, com explicações em sala sobre<br />
suas leituras. Os estudantes expuseram<br />
suas pesquisas em forma de seminários dirigidos<br />
pela professora estilo roda de conversa).<br />
Criamos hipóteses sobre os problemas<br />
sociais e, por fim, houve a elaboração de<br />
ações <strong>para</strong> haver mudança da realidade.<br />
Em 2015, com os alunos das turmas do 8o<br />
ano, foi desenvolvida <strong>uma</strong> aula expositiva<br />
dialogada sobre Revolução Francesa, pesquisa<br />
sobre direitos h<strong>uma</strong>nos, aula com vídeos<br />
(“Era <strong>uma</strong> vez outra Maria” e “Minha<br />
vida de João”). Diálogos sobre sexualidade<br />
e relato da história de Arthur, um menino<br />
transgênero brasileiro. Por fim, houve a elaboração<br />
de cartazes sobre Direitos H<strong>uma</strong>nos<br />
e a sua importância <strong>para</strong> <strong>uma</strong> vida em<br />
sociedade sem intolerâncias. O objetivo era<br />
informar os membros da escola sobre esses<br />
direitos e instigar a curiosidade pelo tema.<br />
Para falar sobre as questões étnico<br />
-raciais, foi escolhido o conteúdo sobre o<br />
Brasil Colonial. Trabalhamos com a leitura<br />
do livro Casa Grande e Senzala – utilizamos<br />
citações do livro. Houve <strong>uma</strong> aula expositiva<br />
dialogada sobre a sociedade colonial e suas<br />
características, imagens sobre a arquitetura<br />
do período, destacando a casa grande, a<br />
senzala, o engenho e a igreja. Telas da Missão<br />
Francesa foram usadas nas aulas <strong>para</strong><br />
explicar a vida em sociedade, modo de vida,<br />
vestimentas, alimentação, contribuições dos<br />
africanos em conhecimentos de culinária,<br />
medicina, dança, música, rituais religiosos,<br />
entre outros. Alg<strong>uma</strong>s das telas de Debret e<br />
Rugendas foram expostas na Kizomba com<br />
explicações feitas pelos estudantes. Junto a<br />
essas telas, foram expostas também maquetes<br />
elaboradas pelos estudantes com o tema<br />
Sociedade no Brasil Colonial. O foco foi mostrar<br />
a contribuição do africano na construção<br />
arquitetônica brasileira: Construção de<br />
Igrejas, casas coloniais (casa grande), casa<br />
de câmara e cadeia, estradas e senzalas.<br />
Para dar continuidade ao estudo sobre a<br />
contribuição do africano na formação cultural<br />
do Brasil, foi elaborado um estudo sobre<br />
Cíntia Aparecida da Silva<br />
19
as brincadeiras de origem africanas, como a<br />
Simamakaa, brincadeira originária da Tanzânia;<br />
a música Escravos de Jó, entre outras<br />
cantigas. As músicas foram apresentadas<br />
também na Kizomba, exposição de trabalhos<br />
sobre a diversidade étnico-racial que<br />
acontece na escola no mês de novembro em<br />
comemoração ao Dia da Consciência Negra.<br />
As músicas foram apresentadas em formato<br />
de oficina, momento que os visitantes também<br />
puderam participar. As estudantes que<br />
ficaram como monitoras da oficina estavam<br />
vestidas com roupas que lembram as mulheres<br />
africanas que viveram no Brasil no período<br />
colonial. Com esses trabalhos, foi focada<br />
a história e as contribuições desse povo <strong>para</strong><br />
a formação do Brasil e, <strong>para</strong>lelamente, trabalhadas<br />
as questões de direitos à diversidade<br />
religiosa e à igualdade de direito de todo cidadão.<br />
O trabalho continuou em 2016, com as turmas<br />
do 9o ano. Foram realizadas aulas expositivas<br />
sobre as 1ª e 2ª Guerras Mundiais, a<br />
Organização das Nações Unidas (ONU) e os<br />
direitos h<strong>uma</strong>nos <strong>para</strong> combater as atrocidades<br />
cometidas durante a 2ª Guerra Mundial,<br />
como: intolerância religiosa, racial e de<br />
gênero, entre outras. Houve rodas de conversa<br />
sobre o tema; elaboração de infográfico<br />
com símbolos focando as intolerâncias<br />
da Guerra e da sociedade atual. Os alunos<br />
com<strong>para</strong>ram a intolerância existente na 2ª<br />
Guerra Mundial contra homossexuais e negros<br />
e a existência dessas intolerâncias na<br />
nossa sociedade atual.<br />
Essa segunda parte, nesse momento, não<br />
está concluída. Os infográficos foram construídos<br />
e o próximo passo será fazer estudos<br />
de casos reais e atuais que envolvam intolerância<br />
étnico-racial e de gênero. Posteriormente,<br />
faremos um debate em sala entre os<br />
estudantes sobre essas questões - de um<br />
lado, um grupo a favor da igualdade, combate<br />
ao racismo e combate a homofobia; e, do<br />
outro, um grupo contra.<br />
Serão feitas a leitura e a análise da música<br />
de Gabriel o Pensador - Racismo é Burrice.<br />
A partir dessa música, pretendo elaborar<br />
<strong>uma</strong> apresentação <strong>para</strong> o Kizomba de 2016.<br />
Como sugestão dos próprios alunos, será<br />
criada <strong>uma</strong> página no Facebook <strong>para</strong> postagens<br />
de conteúdos sobre intolerâncias étnico-raciais<br />
e de gênero - será um espaço <strong>para</strong><br />
20<br />
Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola
debates online <strong>para</strong> provocar a reflexão sobre<br />
o assunto.<br />
Resultados parciais: o que<br />
os estudantes demonstram<br />
Como resultado parcial deste trabalho, percebi<br />
que os estudantes demonstram criticidade<br />
na hora de formar opinião sobre as<br />
intolerâncias étnico-raciais e de gênero<br />
existentes em nossa sociedade. Para terminar,<br />
cito Paulo Freire:<br />
Não devemos chamar o povo à escola <strong>para</strong><br />
receber instruções, postulados, receitas,<br />
ameaças, repreensões e punições, mas <strong>para</strong><br />
participar coletivamente da construção de<br />
um saber, que vai além do saber de pura experiência<br />
feito, que leve em conta as suas<br />
necessidades e o torne instrumento de luta,<br />
possibilitando-lhe transformar-se em sujeito<br />
de sua própria história. (FREIRE, 1991, p. 16).<br />
Referências<br />
COLOMBO, A. A.; BERBEL, N. A. N. Aplicações<br />
da metodologia da problematização<br />
com o arco de Maguerez. Uma investigação<br />
no site de pesquisa Cadê. 2006. Disponível<br />
em: . Acesso em: 20 jul. 2016.<br />
FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo:<br />
Cortez, 1991.<br />
SILVA, A. K. L. S. da. Diversidade sexual e de<br />
gênero: a construção do sujeito social. NU-<br />
FEN, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 12-25, jan./jul.<br />
2013.<br />
UNIFESP DIDÁTICA. 8º Encontro: Metodologia<br />
da Problematização e Júri Simulado.<br />
2014. Disponível em: .<br />
Acesso em: 20 out.<br />
2016.<br />
Cíntia Aparecida da Silva<br />
21
22<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Respeito a<br />
si e ao outro,<br />
reconhecendo<br />
as diferenças<br />
Maierly Santos Souza<br />
Em um momento que as atenções estão voltadas<br />
às discussões acerca dos direitos h<strong>uma</strong>nos,<br />
da cidadania e da educação, o presente<br />
trabalho procurou contribuir <strong>para</strong> o<br />
entendimento do desafio que é desenvolver<br />
com os/as alunos/as o gosto pela leitura em<br />
um contexto de formação <strong>para</strong> a cidadania<br />
plena.<br />
O objetivo foi articular cidadania e educação<br />
às relações étnico-raciais por meio da<br />
leitura/literatura, trazendo, <strong>para</strong> essa discussão,<br />
considerações, temáticas e questões<br />
relativas às formas pelas quais o hábito da<br />
leitura pode promover a educação das relações<br />
étnico-raciais, entendida como direito<br />
h<strong>uma</strong>no fundamental. O projeto pretendeu<br />
ainda contribuir <strong>para</strong> o fomento da leitura<br />
na formação de cidadãos, tendo em vista a<br />
construção de relações sociais positivas e o<br />
engajamento em discussões pela eliminação<br />
de toda e qualquer forma de preconceito e<br />
discriminação.<br />
Reconhecer e identificar a diversidade conduzem-nos<br />
a um mundo melhor, onde os<br />
indivíduos podem ter mais chances de serem<br />
incluídos e buscarem suas realizações.<br />
Nessa perspectiva, desenvolvemos o projeto<br />
com os seguintes objetivos:
• Desenvolver o gosto pela leitura.<br />
• Incentivar a verbalização do aluno.<br />
• Levar o aluno a compreender as diversidades.<br />
• Aprender a respeitar o outro, independentemente<br />
de suas peculiaridades.<br />
• Promover discussão sobre os valores h<strong>uma</strong>nos<br />
e a diversidade.<br />
• Perceber-se como diferente e peculiar<br />
em relação ao outro.<br />
Iniciamos com <strong>uma</strong> roda de conversa falando<br />
sobre o tema diversidade. Durante o período<br />
de aplicação da proposta, os alunos receberam<br />
orientações de como proceder com a leitura<br />
e a discussão dos textos em sala de aula.<br />
Eles responderam, também, questões em atividades<br />
extra-classe, relacionadas ao conteúdo,<br />
o qual foi desenvolvido com base nos seguintes<br />
temas: etnia, gênero, modos de pensar,<br />
hábitos e costumes. O intuito foi desenvolver<br />
conceitos como solidariedade, cooperação,<br />
respeito e ajuda mútua <strong>para</strong> que eles pudessem<br />
se familiarizar com a própria diversidade<br />
e a do outro.<br />
Ancorados no texto “Diversidade”, de autoria<br />
de Tatiana Belinky, fizemos <strong>uma</strong> leitura compartilhada<br />
da história, discutimos a leitura<br />
baseados nas seguintes questões: O que é diversidade?<br />
O que é preciso <strong>para</strong> respeitar as<br />
diferenças? Qual o significado da diversidade?<br />
Solicitamos, também, que eles escrevessem<br />
um pequeno texto a partir das seguintes questões:<br />
Na sua percepção, como você identifica<br />
a diversidade nas pessoas? O que é possível<br />
fazer <strong>para</strong> que as pessoas valorizem a diversidade<br />
e respeitem as diferenças entre os indivíduos<br />
em relação ao modo de viver, de ser, de<br />
produzir na escola ou no seu trabalho? Solicitei<br />
ainda aos alunos que lessem e refletissem<br />
sobre os versos finais do livro “Diversidade”:<br />
Tudo é h<strong>uma</strong>no, bem diferente.<br />
Assim, assado, todos são gente!<br />
Cada um na sua e não faz mal,<br />
Diversidade é que é legal!<br />
Vamos, venhamos, isso é um fato!<br />
Tudo igualzinho, ai como é chato!<br />
(BELINKY, 1999).<br />
Pedi, então, aos alunos <strong>para</strong> lembrarem ou<br />
observarem as características do colega,<br />
24 Respeito a si e ao outro, reconhecendo as diferenças
<strong>para</strong> criar <strong>uma</strong> história com base nas diferenças/semelhanças<br />
entre eles, e/ou representassem<br />
em forma de comunicação visual.<br />
Com o intuito de dar mais legitimidade ao<br />
nosso trabalho, passamos a observar e registrar<br />
as diferenças que encontramos na nossa<br />
escola, de maneira gráfica ou fotográfica.<br />
Ao retornar <strong>para</strong> a sala, os/as alunos/as organizaram<br />
as informações em categorias, reunindo<br />
todas as informações colhidas. Eles<br />
discutiram e produziram um cartaz sobre a<br />
diversidade presente na escola.<br />
Todas as questões propostas ao longo do<br />
trabalho foram respondidas na forma escrita<br />
e oral, o que tornou possível o entendimento<br />
do tema em questão. Concluída a<br />
etapa de leitura e discussão das questões<br />
pelos alunos, as respostas por eles fornecidas<br />
às questões concernentes ao processo<br />
de construção do conhecimento foram<br />
amplamente debatidas em <strong>uma</strong> aula. Essa<br />
atividade visou confrontar as ideias que os/<br />
as alunos/as demonstraram acerca do tema<br />
proposto. Ao final da atividade, cada aluno/a<br />
apresentou sua produção e compôs o cartaz<br />
cuja culminância de apresentação se deu na<br />
Semana da Pessoa com Deficiência.<br />
Avaliação: sensibilização dos alunos<br />
A avaliação deu-se com a observação e a<br />
constatação do quanto os/as alunos/as se<br />
sensibilizaram com o tema e conseguiram<br />
perceber a importância de se valorizar como<br />
pessoa. Eles desenvolveram a autoestima e<br />
passaram a acreditar que conseguem aprender.<br />
No momento, já identifico progressos<br />
em relação à diversidade em nosso meio escolar.<br />
Identifiquei que os alunos já haviam<br />
observado, em nossa escola e na sua própria<br />
sala de aula, estudantes com características<br />
físicas e psicológicas diferentes. Com base<br />
nas discussões realizadas e trabalhos produzidos,<br />
verifiquei que os alunos compreenderam<br />
o tema abordado e demonstraram disposição<br />
em viabilizar que a diversidade seja<br />
reconhecida e a indiferença seja combatida.<br />
Referências<br />
BELINSKY, T. Diversidade. São Paulo: Quinteto,<br />
1999.<br />
Maierly Santos Souza<br />
25
26<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Viajando pela<br />
diversidade:<br />
eu e meus heróis<br />
Lucimara dos Santos<br />
Este projeto trata de <strong>uma</strong> proposta construída,<br />
mas não acabada. Ele estará sujeito<br />
a mudanças de acordo com o cotidiano da<br />
sala do Espaço de Vivência e Aprendizagem<br />
(EVA), considerando que a aprendizagem<br />
dos alunos está fundamentada na leitura e<br />
que a sala do EVA é um espaço diferenciado<br />
e especial dentro da escola. Com o projeto,<br />
procurei buscar um novo foco <strong>para</strong> a leitura,<br />
algo que saísse do cotidiano e que prendesse<br />
o interesse dos alunos. Assim, aliei a tecnologia<br />
(histórias digitalizadas) ao cotidiano<br />
das nossas aulas.<br />
A inspiração veio dos livros de literatura infantil<br />
sobre DIVERSIDADE e baseada nos Parâmetros<br />
Curriculares Nacionais.<br />
O grande desafio da escola é reconhecer<br />
a diversidade como parte inseparável<br />
da identidade nacional e dar a conhecer<br />
a riqueza representada por essa diversidade<br />
etnocultural que compõe o patrimônio<br />
sociocultural brasileiro, investindo<br />
na superação de qualquer tipo de<br />
discriminação e valorizando a trajetória<br />
particular dos grupos que compõem a<br />
sociedade. (BRASIL, 1998, p. 117).<br />
A Lei 10.639 modificou a Lei de Diretrizes e<br />
Bases <strong>para</strong> a <strong>Educação</strong> Nacional (LDB), ampliando<br />
a obrigatoriedade do ensino da his-
tória da África e africanidades, elementos da<br />
cultura no currículo das escolas. De acordo<br />
com Silva:<br />
O principal objetivo das diretrizes é<br />
assegurar (em todos os níveis educacionais)<br />
o reconhecimento e a valorização<br />
da identidade negra, bem como<br />
o reconhecimento da pluralidade étnico<br />
racial, na tentativa de identificar e<br />
superar as manifestações de racismo,<br />
preconceitos e discriminações e, consequentemente,<br />
produzir nas instituições<br />
educacionais <strong>uma</strong> nova relação entre os<br />
diferentes grupos étnicos raciais [...].<br />
(SILVA, 2012, p. 87).<br />
Ainda, conforme o Projeto Político Pedagógico<br />
(PPP) da escola:<br />
É base <strong>para</strong> o ser h<strong>uma</strong>no, em seu desenvolvimento,<br />
o autoconhecimento.<br />
De que adianta ‘inserir’ no sujeito conhecimentos<br />
matemáticos, lingüísticos,<br />
geográficos e científicos? Se ele<br />
não consegue se identificar com o meio<br />
no qual vive, não se reconhece como sujeito,<br />
não se sente integrado à sociedade.<br />
(ITAJAÍ, 2014).<br />
Dessa maneira, o indivíduo pode ser capaz de:<br />
• Aprender conceitos, mas não os usará<br />
<strong>para</strong> transformar o local/meio onde vive.<br />
• Sem o autoconhecimento, por meio da<br />
construção de sua identidade não se forma<br />
cidadãos ativos e atuantes.<br />
Penso na literatura como caminho possível<br />
e interessante <strong>para</strong> “pensar e questionar” assuntos<br />
ligados à diferença. Não posso deixar<br />
de destacar o potencial crítico que a leitura<br />
pode proporcionar, visto que pode levar<br />
a criança a se questionar sobre aquilo que<br />
é lido e visto. Assim, a literatura, além de<br />
conter informações e ensinamentos morais,<br />
possibilita ao leitor desdobramentos de suas<br />
capacidades intelectuais (LAJOLO; ZILBER-<br />
MAN, 2003).<br />
O livro de literatura não é um objeto meramente<br />
destinado a entreter as crianças.<br />
Ele pode ser considerado um suporte que<br />
envolve conteúdos como: crenças, estereótipos,<br />
ideologias e vários outros conceitos.<br />
O mesmo livro que diverte e estimula com<br />
suas histórias e ilustrações é também um<br />
instrumento relevante <strong>para</strong> ensinar conhecimentos<br />
que a criança vai acumulando à<br />
sua bagagem cultural e, dessa maneira, vai<br />
entendendo e repensando o mundo em que<br />
vive; afinal, <strong>uma</strong> história infantil não é só o<br />
famoso “Era <strong>uma</strong> vez” ou “Viveram felizes<br />
<strong>para</strong> sempre”<br />
É na interação com o outro e com o mundo<br />
que vamos construindo nossa identidade. É<br />
por meio da palavra e do olhar do outro que<br />
se compreende e se desperta <strong>para</strong> a tomada<br />
de consciência de si como sujeito. Então, na<br />
relação do leitor com o livro e nas discussões<br />
que podem suscitar dessas leituras, tendo<br />
contato com histórias de protagonistas negros<br />
ou histórias de origem africana, pode-se<br />
abrir caminhos <strong>para</strong> a busca da identidade étnica<br />
da criança negra.<br />
Facilitar o contato das crianças com a literatura<br />
infantil direcionada às questões raciais<br />
podem, somado ao prazer e ao lazer, desenvolver<br />
o hábito e o gosto pela leitura. Além<br />
disso, a leitura tem importante papel na construção<br />
da identidade, pois, na maioria dos livros<br />
mais utilizados pelas crianças nas bibliotecas<br />
ou até mesmo em casa, os negros não<br />
aparecem, e, se aparecem, muitas vezes são<br />
personagens sem voz, sem vez, sem história.<br />
Há histórias que tratam de questões étnico<br />
-raciais; outras que contam histórias do cotidiano.<br />
Há, ainda, as que procuram resgatar<br />
um pouco da cultura africana, entre outros.<br />
Todos com sua importância, pois uns mostram<br />
o negro como pessoas comuns, que vivem<br />
histórias comuns ou fantásticas; outros<br />
por tratarem as questões como o racismo, o<br />
bullying e o preconceito. Isso se faz necessário<br />
e urgente discutir nas escolas e não ignoradas<br />
nas salas de aula. Além disso, as histórias<br />
que mostram o negro também descendente<br />
de povos que têm culturas, tradições e histórias<br />
<strong>para</strong> contar, o que geralmente é deixado<br />
de lado nos currículos escolares. Vivemos em<br />
um mundo constituído pelas diferenças que,<br />
infelizmente, ainda não são devidamente reconhecidas<br />
e respeitadas.<br />
Dessa forma, desenvolvemos um projeto<br />
que propõe <strong>uma</strong> leitura digital, de histórias<br />
baseadas nas questões raciais, que sejam<br />
envolventes, proporcionando leituras diferenciadas,<br />
<strong>para</strong> que a criança possa identifi-<br />
28 Viajando pela diversidade: eu e meus heróis
car-se com os personagens, reconhecendose<br />
também como um herói ou <strong>uma</strong> heroína,<br />
trazendo resultados positivos, <strong>uma</strong> vez que<br />
os alunos passam a considerar as diferenças.<br />
Assim, a escola pode divulgar o lado positivo<br />
da história negra, permitindo que, junto às<br />
crianças, possamos refletir sobre as questões<br />
raciais, familiares, afetivas.<br />
Os objetivos deste trabalho foram garantir<br />
que a escola seja um ambiente de igualdade<br />
de tratamento e de oportunidades e entender<br />
que, nós educadores, temos a responsabilidade<br />
de ampliar e “deslocar” os nossos<br />
conhecimentos; superar o velho e inventar<br />
o novo; promover o respeito mútuo, respeito<br />
ao outro; reconhecer as diferenças; utilizar<br />
como ferramenta a leitura e, consequentemente,<br />
o debate sobre o preconceito, valorização<br />
do povo negro, da cultura africana e<br />
afro-brasileira; destacar a importância destes<br />
na sociedade sem medo nem receios.<br />
Para tanto, é preciso educar as crianças <strong>para</strong><br />
a quebra de preconceitos, promovendo a inclusão<br />
social das etnias <strong>para</strong> <strong>uma</strong> convivência<br />
saudável no espaço em que estão inseridas.<br />
Os objetivos específicos foram:<br />
• Desenvolver as habilidades linguísticas:<br />
falar, escutar, ler e escrever.<br />
• Propor atividades orais em que os alunos<br />
tenham de perguntar opinar, resumir,<br />
com<strong>para</strong>r opiniões, analisar.<br />
• Perceber, por meio da leitura, os diferentes<br />
tipos físicos, religiões, costumes.<br />
• Relacionar as histórias lidas com a vida<br />
cotidiana.<br />
• Promover <strong>uma</strong> reflexão sobre como as<br />
crianças negras constroem sua identidade.<br />
• Desmistificar estereótipos sobre as características<br />
estéticas/físicas.<br />
• Oferecer elementos que permitam as<br />
crianças questionarem e se reconhecerem<br />
como heróis da história.<br />
Despertar o prazer, por meio da leitura, sobre<br />
a importância das diferenças étnico raciais,<br />
respeitada de forma positiva nas páginas dos<br />
livros de literatura virtual sobre diversidade.<br />
Ao atender os objetivos específicos, durante<br />
a execução do projeto, os/as alunos/as deverão<br />
desenvolver as seguintes habilidades:<br />
• Identificar as consequências do racismo<br />
em nossa sociedade.<br />
• Hábito de ler e interpretar histórias.<br />
• Comunicação, criatividade, expressão<br />
crítica<br />
• Respeito às diferenças e às diversas<br />
culturas.<br />
• Aprimorar o gosto pela leitura.<br />
• Linguagem oral, diálogo (histórias infantis).<br />
O projeto<br />
Para iniciar o projeto, histórias relacionadas<br />
ao tema foram pesquisadas, organizadas e<br />
exploradas. Em seguida, foram promovidos<br />
momentos de leitura com livros de literatura<br />
que abordam o tema DIVERSIDADE, já que,<br />
na maioria dos livros infantis mais conhecidos<br />
e utilizados, os negros não aparecem.<br />
Por meio da pesquisa de novas histórias, em<br />
formato de PowerPoint ou PDF, os quais facilitaram<br />
bastante o meu trabalho, haja vista que<br />
cada aluno fica em média duas horas semanais<br />
no Espaço de Vivência e Aprendizagem<br />
(EVA), o tempo é curto e é necessário inovar.<br />
Propor as leituras <strong>para</strong> os pequenos foi <strong>uma</strong><br />
tarefa desafiadora. Integrei a tecnologia,<br />
que facilitou bastante o meu trabalho. O uso<br />
de PowerPoint ou PDF permitiu aos alunos<br />
<strong>uma</strong> maneira lúdica e diferenciada de ler histórias,<br />
o que veio enriquecer a proposta do<br />
EVA, que são as aulas diferenciadas, atividades<br />
que os alunos não realizam em sala no<br />
cotidiano escolar, com histórias que os nossos<br />
alunos não têm acesso nos momentos<br />
de leitura oferecidos pelos professores.<br />
Ao iniciar as leituras de histórias infantis<br />
com foco no tema DIVERSIDADE, ressaltei<br />
a proposta do projeto, que visava mostrar<br />
aos alunos a alegria e a majestade da cultura<br />
africana, suas histórias, tudo como deve<br />
ser sem constrangimentos nem equívocos.<br />
A participação foi excelente; todos queriam<br />
ler. Ficaram curiosos <strong>para</strong> conhecer a história<br />
que fica estampada nas telas dos computadores.<br />
Ao entrarem na sala do EVA, neste ano,<br />
acrescentei mais um desafio aos alunos:<br />
descobrir, entre eles, aquele/a que mais se<br />
Lucimara dos Santos<br />
29
identificou com o livro lido (características<br />
físicas ou psicológicas). Após, as crianças<br />
foram caracterizadas e fotografadas <strong>para</strong><br />
fazerem parte da exposição no KIZOMBAR<br />
(Kizomba do Antônio Ramos) - Heróis da literatura<br />
afro EVA 2015.<br />
Momentos de observância e participação<br />
O momento que mais apreciei do projeto foi<br />
o dia em que todos os computadores se encontravam<br />
em manutenção e um aluno do<br />
50 ano me indagou se não haveria o momento<br />
da leitura. Quando expliquei o motivo, ele<br />
ficou decepcionado, porque estava esperando<br />
conhecer <strong>uma</strong> nova história sobre a<br />
diversidade. Construímos, assim, <strong>uma</strong> nova<br />
maneira de ler histórias, aprender, organizar<br />
nossos conceitos, reconhecer-se, mudar as<br />
atitudes e as formas de pensar sobre a DI-<br />
VERSIDADE. Essa experiência está sendo<br />
muito enriquecedora e gratificante, mas o<br />
essencial é o que fica <strong>para</strong> os alunos: o sentimento<br />
de que eles devem opinar e participar<br />
das questões que os cercam e poder influenciar<br />
no modo que as pessoas pensam, agem<br />
e, principalmente, podem promover mudanças<br />
no meio em que vivem. Trabalhar sobre<br />
DIVERSIDADE, questões étnicas raciais, religiosas,<br />
culturais com os alunos do EVA, é<br />
muito prazeroso, pois apresenta resultados<br />
positivos, <strong>uma</strong> vez que elas passam a considerar<br />
as diferenças (não só quanto à cor da<br />
pele, mas também quanto a outras questões<br />
do dia-a-dia.).<br />
Essas questões puderam ser observadas durante<br />
as conversas após as leituras, momento<br />
que os alunos expunham suas opiniões,<br />
considerações e observações sobre as histórias<br />
lidas e que fazem parte do seu cotidiano<br />
(apelidos, brigas, discriminação, amizades,<br />
perdão, bullying).<br />
Outra avaliação efetiva é a observância sobre<br />
o comportamento dos alunos em relação<br />
às leituras, usando como termômetro a solicitação<br />
das crianças em ter esses momentos<br />
de leitura, quando deixam explícitos os<br />
títulos preferidos, comentam e reclamam<br />
quando não conseguem realizar a leitura,<br />
além das relações intra e interpessoais, que<br />
gerenciam a construção do processo de ensino-aprendizagem,<br />
além da participação<br />
efetiva na escolha dos alunos <strong>para</strong> represen-<br />
30<br />
Viajando pela diversidade: eu e meus heróis
tarem os “heróis das histórias lidas”. A avaliação<br />
acontece de forma contínua e processual,<br />
de forma natural, por meio das conversas<br />
promovidas ao longo do ano. Um processo<br />
de avaliação que será espontâneo e verificará<br />
o potencial e a competência dos alunos<br />
em relação à temática, bem como a mudança<br />
de atitude mediante o conhecimento adquirido<br />
com as leituras.<br />
Tento deixar a minha contribuição, buscando<br />
e sentindo a necessidade de realizar algo<br />
que colabore <strong>para</strong> transformar o mundo, a<br />
sociedade e, principalmente, promover a<br />
aprendizagem que serve de influência <strong>para</strong><br />
a construção de sujeitos mais questionadores.<br />
Durante os momentos de leitura, além<br />
da aprendizagem, foi possível também fazer<br />
<strong>uma</strong> reflexão sobre minha prática pedagógica.<br />
Pensei em coisas que nunca havia <strong>para</strong>do<br />
<strong>para</strong> pensar. Esse conjunto de aprendizagens<br />
e reflexões me estimulou a querer<br />
melhorar e inovar cada vez mais meu trabalho<br />
com os alunos.<br />
Referências<br />
BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong>. Secretaria<br />
de <strong>Educação</strong> Fundamental. Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais: Ética e Pluralidade Cultural.<br />
Brasília: MEC,1998<br />
ITAJAÍ. Escola Básica Antônio Ramos. Projeto<br />
Político Pedagógico. <strong>Educação</strong> <strong>para</strong> Diversidade<br />
Étnico Racial. Itajaí: EBAR: 2014.<br />
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A formação da<br />
leitura no Brasil. São Paulo: Ética, 2003.<br />
SILVA, T. F. de O. Lei 10.639/03: por <strong>uma</strong><br />
educação antirracismo no Brasil. Interdisciplinar:<br />
Revista de estudos em língua e literatura,<br />
São Cristóvão, ano 6, v. 12, p. 80-93,<br />
jul./dez. 2012.<br />
Lucimara dos Santos<br />
31
32<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
A cultura<br />
africana:<br />
sabedoria<br />
milenar que<br />
protege a<br />
natureza<br />
Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />
Pensar <strong>uma</strong> escola ideal no mundo atual e<br />
na realidade brasileira não é pensar somente<br />
<strong>uma</strong> escola que esteja equipada com toda<br />
tecnologia. É, sobretudo, pensar <strong>uma</strong> escola<br />
que contemple as diferentes culturas e etnias.<br />
Foi por essa razão que se pensou na relevância<br />
de entender um pouco mais a cultura<br />
milenar chamada cultura africana. O baú<br />
com jogos (ECOTECA) disponibilizado pela<br />
Secretaria Municipal de <strong>Educação</strong> de Itajaí<br />
permitiu aos educandos vivenciar atividades<br />
referentes ao meio ambiente. Então, essa<br />
perspectiva ambiental consiste um modo de<br />
ver o mundo, em que se evidenciam as inter<br />
-relações e a interdependência dos diversos<br />
elementos na constituição e na manutenção<br />
da vida. Espera-se que, em termos de educação,<br />
essa perspectiva possa contribuir <strong>para</strong><br />
evidenciar a necessidade de um trabalho<br />
vinculado aos princípios da dignidade do ser<br />
h<strong>uma</strong>no, da co-responsabilidade, da solidariedade<br />
e da equidade.<br />
Esses critérios podem contribuir e construir<br />
a autonomia dos alunos, favorecendo<br />
sua aprendizagem. Para tanto, foi por meio
desse olhar transformador que se pensou<br />
na cultura africana <strong>para</strong> conscientizar os<br />
alunos da importância da valorização de um<br />
dos elementos da natureza mais preciosos:<br />
a água. A água <strong>para</strong> o povo negro sempre foi<br />
valorizada e muito sagrada, visto que a Deusa<br />
das Águas salgadas – Iemanjá, a rainha do<br />
mar –, <strong>para</strong> as culturas de matriz africana,<br />
como é o caso do Candomblé, da Umbanda,<br />
está lá cuidando desse ecossistema e protegendo-o.<br />
Necessária em todos os aspectos da vida, a<br />
água está vinculada e imbricada ao processo<br />
de desenvolvimento global, seja como insumo<br />
fundamental <strong>para</strong> produção nas diversas<br />
industrias ou pela produção agrícola, por sua<br />
influência sobre a saúde, ou, ainda, meio do<br />
debate sobre a sustentabilidade do desenvolvimento.<br />
A escassez das águas doces, em<br />
função de questões como a poluição e o desperdício,<br />
já desperta conflitos em várias partes<br />
do mundo, em razão do seu uso e condições<br />
de acesso. Afinal, água doce é um bem<br />
finito que corresponde aproximadamente a<br />
3% de toda a água existente no planeta. Em<br />
um cenário em que as notícias com temas<br />
ambientais têm ocupado expressivo espaço<br />
na mídia, se com<strong>para</strong>do com décadas anteriores,<br />
assuntos como aceleração do aquecimento<br />
global, mudanças climáticas, seca<br />
e guerras em função da água doce tomam<br />
conta do noticiário.<br />
Para a cultura africana, estar ligado à terra,<br />
ao mar, ao fogo e a todos os elementos da<br />
natureza é, simplesmente, viver respeitando<br />
tudo aquilo que Olorum fez e deixou <strong>para</strong><br />
que cultivemos. Então, é hora de cada um<br />
de nós pensarmos no desperdício da água,<br />
no aquecimento do mundo e nos desastres<br />
ecológicos, de forma a pensar e agir <strong>para</strong><br />
proteger esses bens naturais. Assim, continuamos<br />
o projeto de Olorum, o de podermos<br />
desfrutar da natureza e viver em paz com<br />
ela. Então, por que não pensar <strong>uma</strong> maneira<br />
de inserir o pensamento de outras religiões<br />
com relação à proteção ao meio ambiente?<br />
Pensamos nisso, pois existem outras religiões<br />
que também dão ênfase à valorização da<br />
natureza e do meio ambiente.<br />
Assim sendo, este projeto teve como objetivo<br />
geral promover a educação ambiental de<br />
modo a reforçar o papel da escola e dos educadores<br />
na formação de agentes multipli-<br />
34 A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza
Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />
35
cadores, estimulando a participação social<br />
do aluno junto a aulas diversificadas e soluções<br />
de aprendizagem, que permitam a sua<br />
construção na área ambiental e cultural, resgatando<br />
o respeito por meio da história da<br />
identidade e do modo de falar do orgulho de<br />
ser afrodescendente. Para isso, os seguintes<br />
objetivos específicos foram delineados:<br />
• Compreender a cultura milenar dos africanos<br />
e afro-brasileiros em relação à<br />
água.<br />
• Perceber as interferências negativas e<br />
positivas que o homem pode fazer na natureza,<br />
a partir de sua realidade social e<br />
cultural.<br />
• Adotar, por meio de atitudes cotidianas,<br />
medidas de valorização da água, a partir<br />
de <strong>uma</strong> postura crítica.<br />
• Explorar o meio ambiente com curiosidade,<br />
percebendo-se como ser integrante,<br />
dependente, transformador e, acima de<br />
tudo, que tem atitudes de conservação.<br />
O projeto foi organizado de forma interdisciplinar,<br />
transitando entre conteúdos de<br />
Artes, História, Geografia, Ciências e Ensino<br />
Religioso. Os alunos vivenciaram diferentes<br />
experiências nessas áreas. Por meio da linguagem,<br />
eles ouviram relatos, registraram<br />
conhecimentos, ampliaram a leitura.<br />
Vivências, leituras e outros contatos<br />
Ao apresentar um baú cheio de jogos referentes<br />
ao meio ambiente, chamado ECOTE-<br />
CA, os alunos ficaram entusiasmados com<br />
tantos jogos. Resolvemos abrir todos <strong>para</strong><br />
ver. Então, iniciamos atividades com quebracabeças,<br />
pois foram os que mais chamaram<br />
a atenção das crianças. No entanto, quando<br />
eles conseguiram montar os jogos, perceberam<br />
que as imagens mostravam destruição<br />
da natureza. Logo as crianças me faziam<br />
perguntas sobre o assunto. Foi aí que consegui<br />
entrar no meu objetivo, falar da falta de<br />
respeito do homem com a natureza e também<br />
como a cultura africana respeita a natureza<br />
a milhares de anos nessas questões.<br />
A água, por exemplo, é muito respeitada pelos<br />
povos de muitas religiões, especialmente<br />
a dos povos africanos, pois o líquido é sagrado<br />
e respeitado quando é usado. Até os rituais<br />
do batismo das pessoas são feitos nas<br />
águas, assim como no fogo, na terra e no ar.<br />
Para essa cultura, o elemento natureza deve<br />
ser sagrado. Também fomos fazer <strong>uma</strong> visita<br />
a um rio poluído. Registramos toda a visita<br />
com <strong>uma</strong> máquina fotográfica. Depois voltamos<br />
<strong>para</strong> a sala de aula, discutimos sobre a<br />
importância de um rio não ser poluído, pois<br />
não tinha peixes - nada de seres vivos naquele<br />
rio. Então, com a ajuda de lápis e papel,<br />
fizemos textos e desenhos referentes ao<br />
meio ambiente, repudiando as atitudes de<br />
destruição com a natureza.<br />
Com entendimento de estar em um espaço<br />
escolar, aceitei um convite da professora do<br />
quarto ano <strong>para</strong> apresentar o projeto A cultura<br />
africana: sabedoria milenar que protege<br />
a natureza. Contudo, <strong>para</strong> que esse momento<br />
tivesse um encantamento maior, solicitei<br />
que as crianças, com ajuda de avó ou da mãe,<br />
trouxessem de casa folhas verdes das ervas<br />
medicinais plantadas em seus canteiros.<br />
Para minha surpresa, quase todas as crianças<br />
trouxeram diferentes folhas curativas. Espalhamos<br />
as folhas sobre <strong>uma</strong> mesa e fui explicando<br />
folha por folha e as suas propriedades<br />
curativas. Os alunos ficaram curiosos e logo<br />
queriam saber mais sobre as folhas que eles<br />
mesmos trouxeram de casa. Muito impressionados<br />
com a explanação do conteúdo,<br />
também quiseram saber mais sobre a cultura<br />
milenar africana, trazida pelos negros escravizados<br />
aqui no Brasil. Depois, apresentei um<br />
texto complementar: O malabarismo das folhas.<br />
Esse texto relata <strong>uma</strong> história de como<br />
um senhor das divindades havia descoberto<br />
o poder das folhas. Eles ficaram atentamente<br />
acompanhando a leitura emocionados. Assim,<br />
percebi que valeu a pena aquele momento<br />
rico de aprendizagem.<br />
Na sala do Espaço de Vivências em Alfabetização,<br />
convidei a avó de <strong>uma</strong> das crianças<br />
<strong>para</strong> falar sobre o conhecimento da cultura<br />
africana, pois ela é afrodescendente e teria<br />
muito a colaborar com o projeto. Não poderia<br />
ter sido melhor escolha, pois os alunos<br />
ouviram com atenção toda fala da senhora,<br />
sobre os conhecimentos aprendidos pelos<br />
seus ancestrais e aprendizagem que carrega<br />
ao longo de sua vida. Ela falou sobre o poder<br />
de cura que as folhas de alg<strong>uma</strong>s ervas<br />
têm e as propriedades medicinais contidas.<br />
Enquanto falava, percebia a emoção dela<br />
36 A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza
ao explicar cada tipo de folha. A senhora relatou-nos<br />
alguns fatos de sua vida <strong>para</strong> as<br />
crianças, como as ervas medicinais influenciou<br />
na cura de um dos seus familiares, por<br />
exemplo.<br />
Depois da explanação da avó, agradecemos<br />
a sua boa vontade de vir até a escola e falar<br />
sobre seus conhecimentos. Ela nos prometeu<br />
mandar, pela sua neta, alg<strong>uma</strong>s ervas<br />
que ela tinha no seu quintal. No dia seguinte,<br />
recebi vários tipos de ervas e também<br />
cinco livros que continham muitas receitas<br />
de vários tipos de plantas medicinais. As outras<br />
crianças ficaram curiosas de ver tantas<br />
plantas ao passar na sala do Espaço de Vivências<br />
Pedagógica. Quando percebi aquela<br />
curiosidade das crianças, perguntei aos seus<br />
professores se poderia ministrar <strong>uma</strong> aula<br />
sobre a cultura milenar que protege a natureza<br />
na sala de aula daqueles alunos. Foi<br />
<strong>uma</strong> metodologia diferente que me trouxe<br />
<strong>uma</strong> satisfação muito grande. Ver os olhinhos<br />
dos alunos brilharem de curiosidade foi<br />
muito gratificante. Eles estão sendo objeto<br />
de estudo do Espaço de Vivências em Alfabetização,<br />
porque estão em contato com leituras<br />
diversas e fazendo perguntas diferentes<br />
sobre um assunto tão importante como é<br />
o meio ambiente.<br />
Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />
37
38<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Resgate da<br />
identidade<br />
negra em Itajaí<br />
Fábia Simone de Aguiar<br />
Aqui no litoral, fala-se muito sobre as histórias<br />
de estrangeiros portugueses, italianos, alemães.<br />
Embora sejam maioria, há imigrantes<br />
que chegaram de mansinho e fizeram a diferença<br />
na região, como os negros que contribuíram<br />
<strong>para</strong> a história de Itajaí. No entanto, hoje,<br />
eles representam apenas 15% da população<br />
total do município.<br />
Ao falar da sociedade Itajaiense, é preciso destacar<br />
a importância da participação negra e<br />
afrodescendente na formação política, econômica,<br />
religiosa, educacional, social e cultural<br />
da cidade. Cumpre ressaltar que os bairros Arraial<br />
dos Cunhas, Itaipava, e outras mediações,<br />
contaram com a mão de obra escrava. No trabalho<br />
portuário, fizeram-se presentes como<br />
estivadores, e, em outras áreas, foram pescadores,<br />
marinheiros, pedreiros, carpinteiros e<br />
trabalhadores da lavoura.<br />
Definidos como “as mãos e os pés” dos senhores,<br />
eles buscavam em seus momentos de lazer<br />
transmitir sua cultura (danças, crenças, costumes,<br />
vestuário, culinários e superstições),<br />
por meio das manifestações artísticas, como:<br />
capoeira, puxada de rede, maculelê e samba<br />
de roda. Partindo desse pressuposto, busquei<br />
resgatar o passado desses imigrantes e a sua<br />
representação <strong>para</strong> a sociedade Itajaiense,<br />
possibilitando a ampliação dos conhecimentos<br />
histórico-culturais de um povo tão rico e<br />
belo, que nos deixou <strong>uma</strong> grande herança.
Com o intuito de motivar os alunos <strong>para</strong> o<br />
aprendizado da cultura negra, surgiu a necessidade<br />
de propiciar o resgate e a compreensão<br />
histórica dessa cultura por meio da pesquisa<br />
e da representação cênica. Para tanto,<br />
foi necessário inovar, buscar novas metodologias<br />
que estimulassem a vontade pelo saber.<br />
Unir a aprendizagem com a emoção e abrir<br />
caminho <strong>para</strong> explorar o prazer de aprender<br />
na tentativa de integrar o domínio cognitivo<br />
com o afetivo foi o grande desafio que<br />
permeou este projeto cultural desenvolvido<br />
com os alunos do Ensino Fundamental do 4º<br />
ano e do 1º ano. A leitura, a oralidade, a pesquisa<br />
e a dinâmica cénica proporcionaram<br />
aos alunos <strong>uma</strong> viagem ao passado, desenvolvendo<br />
<strong>uma</strong> nova releitura cultural acerca<br />
da população negra oriunda de diversas regiões<br />
africanas.<br />
Realizamos este projeto sobre um contexto<br />
histórico, descrevendo e apontando os caminhos<br />
trilhados <strong>para</strong> a aplicação das atividades<br />
expressadas em dança, teatro e música.<br />
Buscamos trabalhar com <strong>uma</strong> pesquisa qualitativa,<br />
pois, segundo Neves (1996), podemos<br />
obter dados descritivos mediante contato<br />
direto e interativo do pesquisador com<br />
o objeto de estudo.<br />
A dança e o teatro podem realizar <strong>uma</strong> parceria<br />
muito enriquecedora com as brincadeiras<br />
de faz-de-conta, tão presentes no<br />
mundo infantil. Com essas aliadas, propiciase<br />
à criança assumir papéis, contextualizar,<br />
transformando-se em pessoas e/ou personagens<br />
diferentes. Enfim, experimentar todas<br />
as possibilidades de movimento, criação e<br />
expressão, cujo principal objetivo é conhecer<br />
e valorizar as manifestações históricas e<br />
culturais da imigração negra em Itajaí e, com<br />
isso, alcançar objetivos específicos como:<br />
• Promover a construção do conhecimento<br />
por meio da pesquisa dirigida.<br />
Ao iniciar minhas atividades docentes no ano<br />
de 2015, observei a realidade da turma, suas<br />
características, e o que compreendiam sobre<br />
os conhecimentos históricos de Itajaí. Por<br />
meio da leitura da oralidade e diversas dinâmicas,<br />
foi desenvolvida <strong>uma</strong> nova releitura cultural.<br />
Assim, percebi que era necessário compartilhar<br />
com o grupo fatos importantes que<br />
contribuíram <strong>para</strong> a formação da nossa cidade<br />
e da história de Itajaí, que não foi diferente de<br />
outras cidades, onde o negro esteve presente.<br />
Após a abolição, os escravos continuaram<br />
sendo discriminados, humilhados e sofrendo<br />
maus tratos. Muitos não possuíam bens<br />
e local <strong>para</strong> morar; assim tiveram que procurar<br />
o seu sustento e de sua família. Alguns<br />
partiram <strong>para</strong> pesca artesanal e, por Itajaí ser<br />
<strong>uma</strong> cidade litorânea, banhada por dois rios,<br />
a pesca foi a atividade predominante. Os negros<br />
encontraram nessa atividade <strong>uma</strong> forma<br />
de sobrevivência.<br />
Eles eram requisitados por sua força e competência.<br />
Eles agregaram cantigas, louvores,<br />
e <strong>uma</strong> sequência de movimentos que marcaram<br />
a história pesqueira com o nome intitulado<br />
de “puxada de rede”, na qual os negros<br />
cantavam e saldavam a rainha do mar. Eles<br />
partiam com sua força braçal e sua fé, que,<br />
do mar, retiraria seu alimento e sustento.<br />
Logo após a boa puxada de rede e do bom<br />
peixe “xaréu”, como era chamado, os negros<br />
• Desenvolver o conhecimento histórico<br />
de Itajaí, sua colonização, representação<br />
social e cultural na segmentação afro<br />
-brasileira.<br />
• Ampliar os conhecimentos geográficos e<br />
econômicos sobre o município de Itajaí.<br />
• Desenvolver a competência linguística<br />
nas práticas de leitura.<br />
• Conhecer e valorizar as culturas e etnias<br />
por meio de manifestações artísticas.<br />
40 Resgate da identidade negra em Itajaí
comemoravam na beira do mar com muita<br />
música e samba de roda.<br />
No entanto, nem tudo era um mar de rosas.<br />
Em dias de tempestades em alto mar, barcos<br />
viravam, pescadores não voltavam, deixando<br />
suas esposas e seus filhos a lamentarem<br />
a sua morte. Com o passar do tempo, essa<br />
atividade foi esquecida, vieram às máquinas,<br />
grandes embarcações, equipamentos modernos,<br />
mas pouco se registrou sobre esse<br />
fato cultural.<br />
A partir de então, a capoeira, que é <strong>uma</strong> prática<br />
esportiva e cultural dos negros e afrodescendentes<br />
no Brasil, passou a resgatar a<br />
puxada de rede em suas apresentações artísticas,<br />
assim como o maculelê e o samba<br />
de roda. Dessa maneira, busquei mais conhecimentos<br />
sobre essa atividade artística e<br />
cultural, criando estratégias que contribuíssem<br />
<strong>para</strong> o desenvolvimento pleno dos meus<br />
alunos. Além de abordar o conteúdo de forma<br />
teórica, preocupei-me em transformar o<br />
assunto abordado em <strong>uma</strong> vivência significativa<br />
com documentários, trocas de e-mails<br />
com mestres de capoeira de outra cidade,<br />
fotos, arquivos e músicas, enriquecendo o<br />
conteúdo <strong>para</strong> que este fosse compreendido<br />
de maneira concreta, lúdica e artística.<br />
Delineando os caminhos selecionados <strong>para</strong> a<br />
aplicação das atividades expressivas em dança<br />
e teatro, começamos a pre<strong>para</strong>r nossas<br />
almas <strong>para</strong> vivenciar o que os negros pescadores<br />
viveram no passado. Isso despertou a<br />
curiosidade dos alunos sobre a cultura e etnia<br />
da colonização de Itajaí, propiciando o desenvolvimento<br />
da temática Resgate da Identidade<br />
Negra de Itajaí, inserida como sequência<br />
didática nas disciplinas de história, geografia,<br />
língua portuguesa e ensino religioso.<br />
Busquei enfatizar a ludicidade por meio da<br />
música, da dança e da representação teatral,<br />
envolvendo os alunos na criação de personagens,<br />
a seleção de personagens, confecção<br />
do cenário (que foi feito em várias etapas), a<br />
procura de tecidos, acessórios, maquiagem,<br />
um figurino completo detalhado, ensaios diários<br />
com cantigas, instrumentos musicais e<br />
de trabalho com o destaque da rede de pesca.<br />
Muitos dos alunos, ali personagens, não<br />
conheciam esse instrumento artesanal.<br />
A projeção do trabalho completou-se e sua<br />
culminância com a encenação da puxada de<br />
rede foi apresentada <strong>para</strong> todos os alunos da<br />
escola, incorporando a vivência do passado e<br />
o resgate dos personagens que fizeram a história<br />
de Itajaí e do Brasil em geral. Os alunos,<br />
atores do próprio trabalho, sentiram algo mágico,<br />
suas expressões corporais, seus cantos,<br />
sua concentração, a sincronia dos movimentos,<br />
a energia transmitida, foram perfeitos,<br />
criativos e a todos emocionaram.<br />
Dias depois da apresentação dos alunos na<br />
escola, tivemos o privilégio da visita do “Mestre<br />
Tuti” do Projeto Capoeira nas Escolas, nas<br />
cidades de Florianópolis, Biguaçu e Governador<br />
Celso Ramos. O grande colaborador deste<br />
trabalho, na oportunidade o Mestre Tuti,<br />
sua equipe e seus alunos da APAE de Biguaçu,<br />
vieram até nossa escola e apresentaram<br />
a mesma peça teatral da puxada de rede, só<br />
que com alunos especiais. Esse contato com<br />
o mestre, com os alunos especiais e sua equipe<br />
na apresentação, fez com que os alunos<br />
valorizassem a cultura, a história afro-brasileira,<br />
bem como os potenciais artísticos, promovendo<br />
maior socialização e conhecimento.<br />
Referência<br />
NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características,<br />
usos e possibilidades. Cadernos de<br />
Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1,<br />
n. 3, p. 1-5,1996.<br />
Fábia Simone de Aguiar<br />
41
42<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
Gincana<br />
pedagógica:<br />
desafio<br />
cultural<br />
Daniela Silveira D´Ávila Werner<br />
O processo de globalização busca a mundialização<br />
do espaço geográfico, que ocorre<br />
principalmente pelos meios de comunicação.<br />
E criar <strong>uma</strong> sociedade homogênea com aspectos<br />
locais que continuem fortemente presentes<br />
é um desafio. A diversidade cultural<br />
é um desses aspectos. Várias comunidades<br />
continuam mantendo seus costumes e suas<br />
tradições e é isso que devemos estimular no<br />
processo de ensino e aprendizagem, promovendo<br />
o respeito e também o intercâmbio de<br />
experiências culturais, com vistas a:<br />
• sensibilizar professores e funcionários a<br />
respeito dos temas abordados;<br />
• incentivar a participação dos alunos no<br />
envolvimento das tarefas propostas;<br />
• envolver os pais na contribuição e na<br />
execução das tarefas e dos temas abordados;<br />
• reconhecer o ambiente escolar como um<br />
espaço de socialização, integração, e de<br />
apropriação cultural, incentivando o respeito<br />
à diversidade;<br />
ampliar o envolvimento dos pais e comunidade<br />
nas atividades da unidade escolar;
44 Gincana pedagógica: desafio cultural
Daniela Silveira D´Ávila Werner<br />
45
econhecer a sinalização de trânsito proporcionando<br />
mais cautela e prevenção nas vias<br />
da nossa comunidade.<br />
As tarefas: integrando as famílias<br />
Organizei <strong>uma</strong> reunião pedagógica com a<br />
intenção de sensibilizar professores e funcionários<br />
sobre a necessidade de integrar<br />
a família no contexto do cotidiano escolar.<br />
Dessa forma, com a socialização das ideias<br />
sugeridas pela equipe, criamos um conjunto<br />
de atividades e o projeto “Desafio Cultural”.<br />
Em assembleia com alunos, professores e<br />
funcionários, foram apresentadas as tarefas,<br />
as regras, a pontuação e realizado o sorteio<br />
dos países. As atividades tiveram início a partir<br />
das pesquisas conduzidas pelos professores<br />
em sala, tendo parceria dos funcionários<br />
e da equipe pedagógica. Após esse processo<br />
de pesquisa, começaram a execução das tarefas<br />
com a participação dos pais.<br />
• Tarefa 7 – Varal literário – Criar um poema<br />
que representa os temas propostos:<br />
etnia e cultura dos países.<br />
• Tarefa 8 – O espaço criativo – Tarefa na<br />
qual os trabalhos devem ser expostos nos<br />
stands de maneira criativa. A quadra de esportes<br />
da unidade escolar foi disponibilizada<br />
<strong>para</strong> cada turma montar seu stand com<br />
seus professores e familiares. Os espaços<br />
foram delimitados <strong>para</strong> cada equipe expor<br />
seus trabalhos, os quais foram avaliados<br />
no dia da culminância pela comissão julgadora<br />
composta por funcionários da escola<br />
e dos pais. No dia da Culminância, houve<br />
as apresentações artísticas e culturais de<br />
cada equipe. Foram avaliadas ainda as<br />
torcidas, a participação do público e todo<br />
o material produzido. Esse projeto estreitou<br />
os laços entre família, escola, alunos,<br />
funcionários, professores e demonstrou o<br />
quanto trabalhar em equipe pode motivar<br />
e transformar o contexto escolar.<br />
Os trabalhos foram realizados por meio de<br />
equipes divididas por temas com tarefas coletivas<br />
e individuais. As turmas foram divididas<br />
<strong>para</strong> competir desta forma: anos inicias<br />
em um bloco, e anos finais em outro. Ao todo<br />
foram oito tarefas distribuídas da seguinte<br />
forma:<br />
• Tarefa 1 – Criar um nome <strong>para</strong> a equipe<br />
e seu grito de guerra, inspirados em seu<br />
país.<br />
• Tarefa 2 – Curtir sua Equipe. Cada turma<br />
teve de criar <strong>uma</strong> arte de divulgação étnica<br />
e cultural.<br />
• Tarefa 3 – Mascote original – Confeccionar<br />
<strong>uma</strong> mascote com material reciclado,<br />
inspirados nos temas propostos.<br />
• Tarefa 4 – Paródia – Criar <strong>uma</strong> paródia.<br />
• Tarefa 5 – Pais Valem Muito – Nessa tarefa<br />
a finalidade foi envolver o maior número<br />
de famílias nas seguintes atividades:<br />
escola de pais, caminhada sustentável,<br />
blitz pedagógica do CIFESO - Desafio das<br />
Culturas e montagem dos stands <strong>para</strong> as<br />
apresentações da culminância do projeto.<br />
• Tarefa 6 – O lixo que vira Luxo – Confecção<br />
de roupas recicladas inspiradas na<br />
etnia e cultura dos países.<br />
46<br />
Gincana pedagógica: desafio cultural
Podemos concluir que, depois de todo o projeto<br />
realizado, despertamos a motivação e<br />
sensibilizamos os alunos sobre a necessidade<br />
de respeitar a diversidade cultural e étnica.<br />
Proporcionamos <strong>uma</strong> bagagem de conhecimento<br />
não só curricular mas também<br />
relações interpessoais, as quais são extremamente<br />
necessárias e fundamentais por<br />
toda a vida escolar.<br />
Para mudarmos a nossa cultura, aprendendo<br />
com as diversidades, envolve <strong>uma</strong> série de<br />
fatores, dentre eles o perfil do professor, sua<br />
relação com os alunos e as estratégias de ensino<br />
que despertam a vontade de aprender e<br />
facilitar a compreensão dos conteúdos, além<br />
de desenvolver habilidades e competências.<br />
A busca por alternativas diferenciadas de<br />
ensino que levem os alunos a <strong>uma</strong> aprendizagem<br />
significativa e prazerosa, fazendo-os<br />
atores do processo, participantes da construção<br />
dos materiais, da compreensão das<br />
inter-relações dos conteúdos de forma interdisciplinar,<br />
faz com que a aprendizagem<br />
aconteça de forma plena e as dificuldades<br />
de compreensão e entendimento sejam minimizadas.<br />
Há, também, a socialização dos<br />
conhecimentos e a ajuda mútua em relação<br />
à resolução dos problemas. Assim, entendo<br />
ser esta <strong>uma</strong> das melhores estratégias motivadoras<br />
<strong>para</strong> o desenvolvimento dos conteúdos<br />
curriculares, pois aproxima o grupo, socializa<br />
conhecimentos, aproxima o professor<br />
do grupo, pois este passa a ser também um<br />
integrante, o facilitador do processo. Além<br />
de proporcionar mais integração da escola,<br />
pois o desenvolvimento e a aplicação da<br />
gincana pode extrapolar os limites da sala<br />
de aula e estender-se à toda a comunidade<br />
escolar.<br />
A reflexão em torno da cultura como construção<br />
sócio-histórica tem feito parte dos<br />
principais debates da educação e deve<br />
permanecer. Esse tema deve continuar ganhando<br />
notoriedade, também nos diversos<br />
espaços sociais, acadêmicos, dentre outros.<br />
Conclui-se, assim, que é fundamental que o<br />
professor trabalhe com os alunos atividades<br />
que os conduzam a experimentar novas possibilidades<br />
de aprendizagem, que tenham<br />
caráter dinâmico e investigativo. Um discurso<br />
de tolerância é confrontado com outro<br />
que diz respeito à afirmação dos direitos civis,<br />
sociais, políticos e identitários de reconhecimento<br />
e de respeito ao direito à diferença,<br />
que permitam aos alunos estabelecer<br />
relações entre os conteúdos estudados e o<br />
mundo que os cerca.<br />
As estratégias aqui propostas e defendidas<br />
fazem com que os alunos desenvolvam<br />
a motivação e a sensibilidade necessária<br />
<strong>para</strong> preservar o meio ambiente e respeitar<br />
a diversidade cultural existente de forma<br />
simples, estimulando o espírito criativo e<br />
inovador, o cumprimento de regras, o desenvolvimento<br />
da responsabilidade, do poder de<br />
decisão, proporcionando a aprendizagem<br />
interdisciplinar e consciente. Por fim, afirmo<br />
que a aprendizagem por meio de estratégias<br />
de ensino diferenciadas como gincanas culturais<br />
é simples e gratificante, proporcionando<br />
a integração dos alunos e a flexibilidade<br />
do professor ao se desfazer das amarras de<br />
mestre condutor do processo <strong>para</strong> facilitador<br />
do processo de ensino e aprendizagem.<br />
Daniela Silveira D´Ávila Werner 47
48<br />
<strong>Educação</strong><br />
Especial<br />
Palavra do Secretário<br />
Prof. Edison d’Ávila<br />
Secretário Municipal de <strong>Educação</strong><br />
A Secretaria Muncipal de <strong>Educação</strong> assenta<br />
suas políticas em <strong>Educação</strong> Especial no<br />
conjunto de atividades e ações, recursos de<br />
acessbilidade e pedagógicos que caracterizam<br />
o Atendimento Educacional Especializado.<br />
Estão organizadas institucionalmente<br />
pela Supervisão de <strong>Educação</strong> Especial alocada<br />
na Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações<br />
Educativas. Tais ações incluem a aquisição e<br />
distribuição de recursos educacionais <strong>para</strong><br />
a acessibilidade que complementam e/ou<br />
suplementam a formação do aluno especial,<br />
visando a sua autonomia na escola e fora<br />
dela, constituindo oferta obrigatória pelos<br />
sistemas de ensino.<br />
É nesse contexto que os profissionais envolvidos<br />
com a Educaçõa Especial da Rede
Municipal de Ensino de Itajaí, podem desenvolver<br />
os processos de ensino e de aprendizagem,<br />
favorecendo a participação da família<br />
dos alunos, das parcerias intersetoriais com<br />
a comunidade, onde a escola está inserida, e<br />
com todos os segmentos da sociedade civil.<br />
As práticas aqui descritas revelam um trabalho<br />
de extrema importância desenvolvido nas escolas,<br />
onde professores, convivem com os mais<br />
diversos perfis de alunos, que têm o direito de<br />
acesso à melhor educação. Trata-se da equi<strong>para</strong>ção<br />
das oportunidades entre aqueles que sempre<br />
foram excluídos e aqueles que se incluem<br />
naturalmente no sistema educacional comum.<br />
e única. E que os professores devem estar pre<strong>para</strong>dos<br />
<strong>para</strong> atender à necessidade especial<br />
de cada aluno. Diversidade é algo fundamental<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> sociedade realmente democrática. Ou<br />
seja, diferenças existem e devem ser aceitas e<br />
respeitadas sempre e em qualquer lugar.<br />
Assim, as políticas públicas em <strong>Educação</strong> Especial<br />
de Itajaí seguem na perspectiva de superação<br />
do passado, apontando <strong>para</strong> um presente<br />
de múltiplas possibilidades, mas, sobretudo, um<br />
futuro como lugar e tempo naturalizado <strong>para</strong><br />
aquilo que seria o melhor <strong>para</strong> todas as nossa<br />
crianças, adolescentes, jovens e adultos.<br />
Como defensores da <strong>Educação</strong> Especial nas escolas,<br />
acreditamos que toda criança é especial
50<br />
<strong>Saberes</strong> Necessários<br />
<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
A inclusão<br />
do aluno com<br />
deficiência<br />
no Ensino<br />
Fundamental<br />
dos anos iniciais<br />
Daniela Cristina Furtado<br />
Terezinha Aparecida<br />
Buss de Carvalho<br />
Gisele Cristina Régis de Souza<br />
O desafio da inclusão<br />
Percebemos a cada dia a distância que existe<br />
entre sociedade e escola. As duas trabalham<br />
com o mesmo objetivo, a educação da<br />
criança e/ou adolescente com necessidades<br />
educacionais especiais. No entanto, as diferenças<br />
e o distanciamento entre elas estão<br />
dificultando fatores que seriam agradáveis e<br />
fáceis de lidar como o convívio e o relacionamento<br />
entre entidade educacional e aluno.<br />
Sabemos da necessidade e da urgência<br />
de enfrentar o desafio da inclusão escolar e<br />
de colocar em ação os meios pelos quais ela<br />
verdadeiramente concretiza.<br />
O fato é que as pessoas não se reduzem a modelos<br />
identitários, estabelecidos arbitrariamente<br />
e produzidos pela dificuldade de lidarmos<br />
com o caráter emergente, imanente e inacabado<br />
do sujeito em todas as fases de sua existên-
cia. As diferenças definidas por agrupamentos<br />
constituídos pela semelhança de um ou mais<br />
atributos tendem a se tornarem permanentes,<br />
reificadas descartando o caráter mutante da<br />
diferença e sua capacidade de escapar a toda<br />
convenção possível. (MANTOAN, 2013, p. 2).<br />
É comum chegarem até mim casos em que <strong>uma</strong><br />
criança, um jovem é barrado no acesso à escola,<br />
em razão de sua diferença. O fato é que as<br />
pessoas não se reduzem a modelos prontos e<br />
produzidos pela dificuldade de lidarmos com diferenças,<br />
mas exige tratar as pessoas igualmente,<br />
independentemente de suas especificidades,<br />
sem excluí-las! Nesse processo, são fundamentais<br />
ações que favoreçam o conhecimento sobre<br />
as diferenças encontradas no contexto escolar e<br />
que proponham aproximar alunos, independentemente<br />
de suas diferenças.<br />
Incluir o aluno, dentro e fora das escolas, na<br />
comunidade em geral, implica na quebra de<br />
barreiras físicas, atitudinais, comunicacionais,<br />
que impedem alg<strong>uma</strong>s pessoas em certas situações<br />
e circunstâncias de conviverem, de estarem<br />
com os outros, de participarem, compartilhando<br />
com os demais da vida social, escolar,<br />
familiar, como sujeitos de direito e de deveres<br />
comuns a todos.<br />
Assim sendo, este provejo teve como objetivo<br />
geral propor esclarecimentos sobre as principais<br />
deficiências encontradas no contexto<br />
escolar e aproximar alunos com e sem deficiências.<br />
Para alcançar esse objetivo, os seguintes<br />
objetivos específicos foram traçados:<br />
• Analisar como se dá o processo da inclusão<br />
de alunos com deficiência na sociedade<br />
por meio da nossa unidade escolar.<br />
• Propor esclarecimentos sobre deficiências<br />
de educandos inseridos na unidade<br />
escolar.<br />
• Definir a importância da inclusão na escola<br />
regular.<br />
• Respeitar os limites dos alunos com deficiência.<br />
O início de <strong>uma</strong> história<br />
Na semana da pessoa com deficiência na escola<br />
onde trabalhamos, estabelecemos um<br />
cronograma de filmes e palestras <strong>para</strong> falar<br />
sobre alguns tipos de deficiência mais comuns,<br />
como: a deficiência física, intelectual,<br />
cegueira bilateral. Abordamos, também, temas<br />
como a epilepsia decorrente do vírus da<br />
toxoplasmose, Autismo e também surdez em<br />
proveniência de meningite, <strong>para</strong> conscientizar<br />
também sobre a importância da prevenção<br />
em alguns casos.<br />
Estabelecemos um cronograma na unidade<br />
escolar <strong>para</strong> que durante essa semana,<br />
no período das três primeiras aulas do dia,<br />
pudéssemos realizar esse trabalho de conscientização.<br />
O trabalho atingiu alunos desde<br />
a pré-escola até o 9°ano. Inicialmente, apresentamos<br />
aos alunos o filme A história de<br />
Hellen Keller, que relata como <strong>uma</strong> professora<br />
conseguiu romper o isolamento imposto<br />
pelos padrões sociais diante da quase total<br />
falta de comunicação, de <strong>uma</strong> aluna com deficiência<br />
auditiva. Nesse momento, foi possível<br />
esclarecer suas causas e consequências.<br />
Logo após, foi apresentado o curta metragem<br />
Cordas/Cuerdas, que apresenta outra<br />
história de um aluno com Paralisia Cerebral<br />
e todo o esforço de <strong>uma</strong> colega da escola<br />
<strong>para</strong> incluí-lo nas atividades do dia a dia.<br />
Esse momento também nos possibilitou observar<br />
o processo de aproximação do aluno<br />
com e sem deficiências e ficou evidente em<br />
todas as sessões que houve bastante comoção,<br />
tantos dos pequenos quanto dos adolescentes.<br />
Na sequência, o espaço estava destinado a<br />
promover a conversa entre os alunos com e<br />
sem deficiência. Esse momento fortaleceu<br />
um aspecto pretendido no projeto no intuito<br />
de aproximar os estudantes, e foi possível<br />
perceber a possibilidade “de se iniciar <strong>uma</strong><br />
amizade”, mesmo que alguns alunos não<br />
se aproximassem devido ao sentimento de<br />
medo, por não saber o que fazer ou que falar<br />
diante dessa pessoa, considerada por ele<br />
“diferente”. Isso foi se diluindo na interação<br />
dos grupos.<br />
A inclusão de alunos com deficiência vem<br />
mobilizando tanto a sociedade quanto a<br />
comunidade escolar frente ao desafio de<br />
propor este novo modelo de escola, em que<br />
todos os alunos sejam incluídos em todos<br />
os contextos, desde os mais complexos aos<br />
mais simples como se relacionar com o próximo.<br />
Esse movimento faz com que a escola<br />
52 A inclusão do aluno com deficiência no Ensino Fundamental dos anos iniciais
eflita sobre princípios desse novo olhar, vão<br />
desde a convivência em um mesmo espaço<br />
até <strong>uma</strong> mudança na organização de todo o<br />
trabalho pedagógico da escola.<br />
Os registros que ficaram<br />
Este projeto permitiu propor esclarecimentos<br />
sobre as principais deficiências encontradas<br />
no cotidiano escolar. Nesse processo,<br />
verificamos que muitas vezes subestimamos<br />
o potencial dos alunos com diagnóstico,<br />
pois eles a cada momento nos surpreendem.<br />
O ato de conversar ou se aproximar de alguém<br />
é, às vezes, simplificado no dia a dia.<br />
No entanto, ficou evidente nessa atuação<br />
que é de grande importância a inclusão na<br />
escola comum, acontecendo a verdadeira<br />
inclusão dentro de cada um de nós, quando<br />
passamos a ver e a enxergar o outro, independentemente<br />
de suas limitações ou suas<br />
diferenças.<br />
Diante deste projeto, o mais importante<br />
foi transmitir que a inclusão não significa<br />
apenas o preenchimento de espaço físico;<br />
significa entender que as pessoas têm possibilidades<br />
de aprender e ensinar das mais<br />
variadas formas e com diferentes ritmos.<br />
Referências<br />
MANTOAN, M. T. E. Diferenciar <strong>para</strong> incluir<br />
ou <strong>para</strong> excluir? Por <strong>uma</strong> pedagogia da diferença.<br />
Diversa: <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong> na prática<br />
[online], p. 1-5, out. 2013. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 15 out. 2016.<br />
Daniela Cristina Furtado, Terezinha Aparecida Buss de Carvalho, Gisele Cristina Régis de Souza<br />
53
54<br />
Práticas de <strong>Educação</strong><br />
Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Uma visão<br />
cidadã no Centro<br />
de <strong>Educação</strong><br />
Infantil<br />
Suriane Latini<br />
Luciana Otto Freire<br />
A realização deste projeto justificou-se a<br />
partir da demanda de execução de atividades<br />
que criassem <strong>uma</strong> visão de igualdade<br />
no tratamento entre os alunos e os profissionais<br />
do Centro de <strong>Educação</strong> Infantil (CEI),<br />
respeitando a diversidade linguística proveniente<br />
da diferenciação oralização x Língua<br />
Brasileira de Sinais (LIBRAS), que, muitas vezes,<br />
impõe barreiras no ato de comunicação<br />
de estudantes.<br />
A comunicação ocorre de diferentes formas e<br />
estilos, como no caso da LIBRAS. Assim, pensando<br />
em <strong>uma</strong> proposta inclusiva, este projeto<br />
teve como objetivo estimular <strong>uma</strong> visão<br />
cidadã nos alunos e nos funcionários do Centro<br />
de <strong>Educação</strong> Infantil, visando a inclusão<br />
do aluno surdo. As metas dessa ação foram:<br />
• Mostrar a importância da comunicação<br />
por meio da Libras.<br />
• Estimular <strong>uma</strong> consciência cidadã, visando<br />
o respeito ao outro.<br />
• Proporcionar experiências de forma a ampliar<br />
a percepção e o respeito ao outro.
O projeto Acessibilidade<br />
por meio da cidadania<br />
A semana da pessoa com deficiência veio<br />
fomentar a ideia de trabalharmos o tema cidadania<br />
com as crianças do maternal I, tendo<br />
por foco a surdez e estratégias <strong>para</strong> que<br />
elas pudessem vivenciar tal limitação, pois<br />
os alunos possuem um colega nessa condição.<br />
Este projeto aconteceu em <strong>uma</strong> parceria<br />
da profissional interprete de LIBRAS<br />
com as professoras do Maternal I, a fim de<br />
compartilhar conhecimentos e desenvolver<br />
atividades <strong>para</strong> fortalecer a interação e a comunicação<br />
dessa turma.<br />
Em um primeiro momento, fizemos <strong>uma</strong> contação<br />
de história do livro Chapéu, de Paul<br />
Hoppe, quando tratamos dos temas valorização<br />
e respeito ao outro. As crianças recontaram<br />
a história e o aluno surdo também o fez,<br />
do jeito dele, considerando que a sua aquisição<br />
da LIBRAS ainda está em fase inicial de<br />
aprendizagem, sendo sua comunicação em<br />
forma de apontamentos.<br />
Em um segundo momento, a professora<br />
trouxe um fone de ouvido abafador, <strong>para</strong> que<br />
fosse colocado nas crianças e estas percebessem<br />
como é a ausência do som. Alg<strong>uma</strong>s<br />
crianças perderam o equilíbrio, outras se<br />
sentiram desconfortáveis e alg<strong>uma</strong>s gostaram<br />
da experiência.<br />
Após essas duas atividades, fizemos <strong>uma</strong><br />
roda de conversa, explicando a importância<br />
da comunicação e a forma de dirigir-se ao<br />
colega com atitudes como tocar, superando<br />
o chamar, olhar frente a frente. Aproveitando<br />
do contexto, ensinamos aos alunos alguns<br />
sinais como: oi, banheiro, comer, brincar,<br />
desculpas, etc. As crianças partici<strong>para</strong>m<br />
ativamente e interagiram com o colega.<br />
Para finalizar, fizemos <strong>uma</strong> apresentação<br />
cultural <strong>para</strong> todo o Centro de <strong>Educação</strong><br />
Infantil sobre a semana da Pátria, quando<br />
interpretei o Hino Nacional em LIBRAS juntamente<br />
ao hasteamento da bandeira realizada<br />
pelo aluno surdo. Ao fim do hasteamento,<br />
esse estudante se dirigiu <strong>para</strong> a caixa de<br />
som a fim de sentir a vibração sonora e ficou<br />
encantado ao sentir tal experiência. Os alunos<br />
partici<strong>para</strong>m caracterizados de verde e<br />
amarelo e com bandeirinhas.<br />
56 Uma visão cidadã no Centro de <strong>Educação</strong> Infantil
Eu atuei todo o tempo dando suporte e orientação<br />
à professora e aos alunos e demais funcionários<br />
do centro de educação infantil.<br />
Contribuições <strong>para</strong> a turma<br />
Por meio de observação e registro percebemos<br />
que as atividades propostas nesse projeto<br />
fizeram com que os alunos interagissem<br />
mais com o colega e vice-versa, havendo<br />
mais interação durante as brincadeiras e o<br />
uso de alguns sinais <strong>para</strong> se comunicarem.<br />
Afinal, segundo, Quadros e Schmiedt (2006,<br />
p. 7): “A educação constitui direito de todos<br />
os cidadãos brasileiros, surdos ou não,<br />
e cabe aos sistemas de ensino viabilizar as<br />
condições de comunicação que garantam o<br />
acesso ao currículo e à informação”.<br />
Referência<br />
QUADROS, R. M. de.; SCHMIEDT, M. L. P.<br />
Idéias <strong>para</strong> ensinar português <strong>para</strong> alunos<br />
surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.<br />
Suriane Latini , Luciana Otto Freire<br />
57
58<br />
Práticas de <strong>Educação</strong><br />
Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Novas<br />
descobertas<br />
no mundo<br />
Down<br />
Simone Conti Pereira<br />
Conhecendo a Síndrome de Down<br />
O presente projeto Novas Descobertas no<br />
Mundo Down teve como ponto de partida<br />
a inclusão escolar de <strong>uma</strong> determinada<br />
criança com Síndrome de Down (SD), a qual<br />
auxilio desde 2014. O projeto trouxe a ideia<br />
de igualdade de direitos e, principalmente,<br />
o respeito às diferenças independentemente<br />
das necessidades especiais que o sujeito<br />
apresenta mediante as atividades propostas<br />
a todo o grupo.<br />
Segundo a Fundação Síndrome de Down:<br />
A síndrome de Down é <strong>uma</strong> alteração<br />
genética produzida pela presença de<br />
um cromossomo a mais, o par 21, por<br />
isso também conhecida comotrissomia<br />
21. A SD foi descrita em 1866 por John<br />
Langdon Down. Esta alteração genética<br />
afeta o desenvolvimento do indivíduo,<br />
determinando alg<strong>uma</strong>s características<br />
físicas e cognitivas. A maioria das pessoas<br />
com SD apresenta a denominadatrissomia<br />
21 simples, isto significa que
um cromossomo extra está presente<br />
em todas as células do organismo, devido<br />
a um erro na se<strong>para</strong>ção dos cromossomos<br />
21 em <strong>uma</strong> das células dos<br />
pais. Este fenômeno é conhecido como<br />
disfunção cromossômica. (FUNDAÇÃO<br />
SÍNDROME DE DOWN, 2013).<br />
Acredito e considero a possibilidade de um<br />
desenvolvimento que leve o educando à manifestação<br />
de desejos de independência e<br />
participação, fazendo-o importante no processo<br />
de interação do aluno na escola, lugar<br />
onde poderá mostrar que é capaz de superar<br />
suas limitações e desenvolver habilidades. É<br />
no dia a dia que as dificuldades podem ser<br />
superadas com metas e objetivos a serem alcançados<br />
e, principalmente, com a parceria<br />
família, escola e sociedade.<br />
O empenho e a afetividade representam o<br />
primeiro passo <strong>para</strong> essa descoberta com<br />
os princípios de aceitação, valorização, convivência<br />
dentro da diversidade e aprendizagem<br />
por meio da interação.<br />
A inclusão escolar deve considerar a diferença<br />
dos alunos em processo educacional<br />
iguais <strong>para</strong> todos. Cada criança desenvolve<br />
sua própria maneira de aprender a ler e a escrever.<br />
Esse processo inicia-se no ambiente<br />
familiar quando a criança buscar compreender<br />
o mundo ao seu redor. Segundo a teoria<br />
piagetiana, é um ser ativo que pensa sobre<br />
o objeto de conhecimento da língua escrita,<br />
em um processo interativo, social e escolar.<br />
Para compreender o aluno com SD, é necessário<br />
conhecer suas características <strong>para</strong><br />
desenvolver <strong>uma</strong> ação pedagógica, promovendo<br />
a inclusão escolar. Assim, a educação<br />
escolar deve aproveitar o máximo da capacidade<br />
do aluno com SD <strong>para</strong> que ele interaja<br />
e relacione-se com as demais pessoas de<br />
forma natural. Sua aprendizagem é mais lenta,<br />
assim as etapas devem ser respeitadas e<br />
estimuladas por meio de atividades lúdicas.<br />
Como parceria <strong>para</strong> o desenvolvimento do<br />
educando, a criança com SD frequenta:<br />
• O Centro Municipal de <strong>Educação</strong> Alternativa<br />
de Itajaí (CEMESPI), atualmente<br />
com atendimento especializado com<br />
cada criança matriculada no ensino regular<br />
nas áreas de estimulação, psicopedagogia,<br />
fonoaudiologia, psicologia e<br />
60 Novas descobertas no mundo Down
Simone Conti Pereira<br />
61
fisioterapia, além de ter grande parceria<br />
com os educandos na rede municipal de<br />
ensino, favorecendo a participação e a<br />
aprendizagem, no período contra-turno.<br />
• A Associação de Equoterapia do Vale de<br />
Itajaí e Litoral (ADEVIL), <strong>uma</strong> entidade<br />
sem fins lucrativos que utiliza o cavalo<br />
em <strong>uma</strong> abordagem interdisciplinar, nas<br />
áreas de Saúde, <strong>Educação</strong> e Equitação,<br />
<strong>para</strong> o tratamento de pessoas com necessidades<br />
especiais.<br />
A equoterapia, <strong>para</strong> as pessoas com SD,<br />
possui um método terapêutico educacional,<br />
buscando o desenvolvimento biológico,<br />
psicológico e social. Seu objetivo é diminuir<br />
o atraso da motricidade ampla e fina, facilitando<br />
as reações posturais necessárias<br />
<strong>para</strong> o desempenho normal, contribuir <strong>para</strong><br />
o aprendizado e aumentar a capacidade de<br />
independência.<br />
A rotina na vida do educando com SD é algo<br />
que traz segurança e tranquilidade, pois ele<br />
compreende a sequência das atividades desenvolvendo<br />
a noção de tempo, observa a<br />
sequência dos acontecimentos no cotidiano<br />
escolar, resultando na aprendizagem e no<br />
desenvolvimento da autonomia. Nesse sentido,<br />
as ações desse relato visaram auxiliar o<br />
aluno com Síndrome de Down no processo<br />
de ensino – aprendizagem, superando suas<br />
limitações e desafios, tornando-o sujeito<br />
participativo e ativo no cotidiano escolar.<br />
Outras metas da ação foram:<br />
• Estimular a autonomia nas situações<br />
simples do dia a dia (Guardar mochila, ir<br />
ao banheiro, organização de materiais<br />
pedagógicos).<br />
• Degustar e experimentar alimentos diversos<br />
com autonomia, demonstrando<br />
suas preferências, se servindo no buffet.<br />
• Estabelecer vínculo de confiança com a<br />
criança e a família.<br />
• Realizar inicialmente com auxílio, <strong>para</strong><br />
depois com autonomia, as atividades<br />
pedagógicas de complexidade proposta<br />
pela professora regente.<br />
• Adquirir hábitos de higiene.<br />
• Ter autonomia <strong>para</strong> lavar as mãos, esco-<br />
62<br />
Novas descobertas no mundo Down
var os dentes, limpar-se, despir-se, vestirse<br />
e calçar-se.<br />
• Criar um ambiente igualitário e de aceitação<br />
entre o sujeito em questão com os<br />
demais alunos e profissionais no contexto<br />
escolar.<br />
Nesse sentido, as atividades relatadas basearam-se<br />
em alguns eixos de ação pautados<br />
em aspectos como: afetividade; autonomia;<br />
corpo/equilíbrio; coordenação motora ampla<br />
e fina; expressão oral; interação e socialização;<br />
hábitos de higiene pessoal e alimentar;<br />
globalização; valores e respeito.<br />
Projeto Novas descobertas<br />
no mundo Down<br />
Apropriei-me dos momentos planejados e<br />
executados pela professora regente, em comum<br />
acordo, <strong>para</strong> que as atividades propostas<br />
incluíssem o educando com SD sem<br />
distinção, mas sim com igualdade, capacitando-o<br />
e estimulando-o <strong>para</strong> ultrapassar suas<br />
limitações provenientes a sua síndrome.<br />
Conviver com crianças de diferentes origens<br />
e culturas em <strong>uma</strong> unidade escolar possibilitou<br />
ao educando desenvolver sua capacidade<br />
de superação no caminhar, brincar com<br />
os brinquedos no parque e até mesmo jogar<br />
futebol com o grupo.<br />
No início do trabalho com o aluno, ele somente<br />
se locomovia sentado. Após vários<br />
estímulos e a parceria dos profissionais do<br />
CEMESPI, da Equoterapia, da professora de<br />
educação física, da professora regente e da<br />
família, fomos estimulando a criança a caminhar<br />
segurando suas mãos, por meio das<br />
brincadeiras como pega-pega, pisar na corda,<br />
jogar bola, dançar, subir e descer as escadas<br />
do parque.<br />
O Referencial Curricular Nacional <strong>para</strong> a<br />
<strong>Educação</strong> Infantil afirma que:<br />
Brincar é <strong>uma</strong> das atividades fundamentais<br />
<strong>para</strong> o desenvolvimento da identidade<br />
e da autonomia da criança. Desde<br />
muito cedo, pode se comunicar por meio<br />
de gestos, sons e mais tarde ter determinado<br />
papel na brincadeira faz com<br />
que ela desenvolva sua imaginação... A<br />
Simone Conti Pereira<br />
63
fantasia e a imaginação são elementos<br />
fundamentais <strong>para</strong> que a criança aprenda<br />
mais sobre a relação entre pessoas.<br />
(BRASIL, 1998, p. 22).<br />
O processo <strong>para</strong> o desenvolvimento foi lento,<br />
em alguns momentos precisei respeitar<br />
seu ritmo, interesse, procurando sempre<br />
oferecer o melhor <strong>para</strong> atender suas necessidades.<br />
Em <strong>uma</strong> linda manhã, o educando<br />
caminhou sozinho pela primeira vez no parque,<br />
resultado de vários estímulos. Foi gratificante<br />
ver a alegria da nova descoberta no<br />
mundo Down do meu educando.<br />
Dessa forma, quanto mais estímulos o aluno<br />
recebia, maior a confiança de continuar<br />
prosseguindo. No segundo semestre, despertou<br />
o interesse de brincar no parque,<br />
imitando seus amigos a subir e a descer no<br />
escorregador. No início, com muitas dificuldades<br />
e com meu auxílio, a criança subia e,<br />
ao descer, ela sentava <strong>para</strong> depois escorregar.<br />
Sempre havia um amigo <strong>para</strong> segurá-la<br />
e fazer a festa na descida. Foram várias tentativas<br />
durante uns três meses, mas, com<br />
insistência do aluno, ele conseguiu subir as<br />
escadas e soltar as mãos, escorregando de<br />
barriga <strong>para</strong> baixo. No início do ano letivo,<br />
o aluno continuava brincando no escorregador,<br />
mas, logo após um mês, ele se sentou<br />
e desceu o escorregador. Atualmente o educando<br />
brinca no parque com independência,<br />
interagindo com os demais do grupo, jogando<br />
futebol no gramado, por exemplo.<br />
No decorrer do ano, durante o projeto, no<br />
momento de utilizar a massa de modelar e a<br />
tinta guache, sempre ao lado dele, o estimulava<br />
de forma lúdica, fazendo ter confiança,<br />
curiosidade e prazer ao manusear o material,<br />
sentir a textura, observar as cores com<br />
o objetivo de realizar a atividade proposta<br />
naquele dia. Hoje o educando já manuseia<br />
com facilidade, chegando ao proposto com<br />
independência e autonomia expressando-se<br />
com prazer.<br />
Inicialmente, o aluno não se alimentava sozinho,<br />
não segurava os talheres e não aceitava<br />
a degustação. Durante o processo, com bastante<br />
calma, já que alimentação precisa ser<br />
prazerosa, eu o auxiliava, esperando sua vez<br />
na fila, se servindo no buffet e alimentandose<br />
com autonomia, muitas vezes repetindo<br />
as refeições.<br />
A convivência com o grupo e a socialização<br />
no começo do ano letivo fez com que a parceria<br />
escola e família fossem trabalhando<br />
sua independência e autonomia <strong>para</strong> o desfralde,<br />
já que o aluno ainda usava fraldas. A<br />
Incluí-lo nos momentos da música, da dança<br />
e da expressão corporal demonstrou alg<strong>uma</strong>s<br />
vezes timidez, mas, aos poucos, a criança<br />
foi socializando e expressando-se. Foi assim,<br />
então, que o meu aluno participou do<br />
momento cultural. Ele apresentou ao CEI e<br />
aos pais a música do nome do grupo Abelha.<br />
Seu desenvolvimento tem sido produtivo.<br />
Ele ainda apresenta dificuldades em relacionar-se<br />
com alguns tipos de materiais, como,<br />
por exemplo: a massa de modelar e a tinta<br />
guache, sentindo um pouco de receio ao<br />
manuseá-los.<br />
64<br />
Novas descobertas no mundo Down
insistência e a perseverança fizeram com<br />
que ir ao banheiro se tornasse rotina no seu<br />
cotidiano, ainda com auxílio, satisfazendo<br />
assim suas necessidades fisiológicas.<br />
Resultados alcançados<br />
No decorrer de cada metodologia já descrita,<br />
houve pontuações de desenvolvimento do aluno,<br />
com aceitações devido às características da<br />
síndrome. O aluno respondeu positivamente a<br />
alg<strong>uma</strong>s atividades e superações, mas há alg<strong>uma</strong>s<br />
limitações e desafios a serem superados,<br />
tais como a pintura.<br />
As atividades pedagógicas o incluírem na rotina<br />
fazendo-o respeitar, valorizar e agir com todas<br />
as outras crianças, como, por exemplo: estar na<br />
fila, guardar a mochila, não bater nos amigos.<br />
Foi produtivo e positivo adquirir a confiança<br />
da família e do aluno a cada dia, caminhando<br />
juntos no caminho das aceitações, autonomia<br />
e independência. Cada resultado alcançado<br />
foi <strong>uma</strong> gratificação. Assim sei que<br />
estamos percorrendo e alcançando as “Novas<br />
descobertas do mundo Down”.<br />
Referências<br />
BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong> e do Desporto.<br />
Secretaria de <strong>Educação</strong> Fundamental. Referencial<br />
Curricular Nacional <strong>para</strong> a <strong>Educação</strong><br />
Infantil: introdução. v. 2. Brasília: MEC, 1998.<br />
FUNDAÇÃO SÍNDROME DE DOWN. O que<br />
é Síndrome de Down. 2013. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 24 maio 2016.<br />
Simone Conti Pereira<br />
65
66<br />
Práticas de <strong>Educação</strong><br />
Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Os Mosqueteiros<br />
Karina Pickering Pollheim<br />
O foco do trabalho da psicopedagoga institucional<br />
que realizo em <strong>uma</strong> escola da Rede<br />
Municipal de Ensino é identificar as dificuldades<br />
de aprendizagem e apresentar caminhos<br />
possíveis <strong>para</strong> suavizá-las. Partindo<br />
desse princípio, elaborei instrumentais <strong>para</strong><br />
utilização durante o período de sondagem<br />
com os alunos da Escola Básica Marechal<br />
Olímpio Falconieri da Cunha.<br />
Nesse processo, observei um número acentuado<br />
de alunos com idade entre 13 e 16<br />
anos que apresentavam grande defasagem<br />
nas habilidades da leitura e da escrita e, consequentemente,<br />
encontravam-se com sua<br />
autoestima abalada, apresentando transtornos<br />
emocionais que dificultavam ainda mais<br />
o desenvolvimento da sua aprendizagem.<br />
Esses alunos apresentavam características<br />
semelhantes à dislexia, porém a maioria deles<br />
não possuía laudo médico, embora tenham<br />
sido encaminhados pela escola. Por<br />
<strong>uma</strong> série de motivos, eles nunca foram avaliados<br />
por médicos ou especialistas. Eles estavam,<br />
assim, desam<strong>para</strong>dos de adaptações<br />
curriculares garantidas por lei. Ao analisar<br />
os resultados, encontrei dezenove adolescentes<br />
nessa condição. Assim sendo, resolvi<br />
desenvolver um projeto <strong>para</strong> modificar essa<br />
realidade cognitiva e afetiva frente ao universo<br />
escolar.<br />
Ao analisarmos a literatura, podemos compreender<br />
que a dislexia é um distúrbio na<br />
leitura que acarreta dificuldades também na<br />
escrita. Normalmente, é detectada na fase<br />
de alfabetização, período em que a criança
inicia o processo de leitura e escrita, devido<br />
à dificuldade do aluno aprender o código<br />
gráfico.<br />
Baseada em Jimenez (1989), podemos afirmar<br />
que a criança com dislexia geralmente<br />
possui inteligência normal ou até acima da<br />
média da maioria das pessoas, desenvolvendo<br />
habilidades artísticas, interpessoais e em<br />
pesquisas e novas descobertas, por possuir<br />
<strong>uma</strong> mente criativa e inovadora.<br />
Habitualmente diz-se que <strong>uma</strong> criança<br />
é disléxica quando encontra dificuldades<br />
na aprendizagem da leitura apesar<br />
de ter um desenvolvimento intelectual<br />
adequado <strong>para</strong> esse processo. Existem<br />
alguns autores que fazem <strong>uma</strong> diferenciação<br />
entre leitores com atraso e sujeito<br />
disléxico. Com isso, referem-se às<br />
crianças que tem um atraso de dois ou<br />
mais anos na aprendizagem da leitura<br />
e que pode ser devido a fatores emocionais,<br />
motivacionais, socioculturais<br />
ou educativos. No caso da dislexia,<br />
nenhum dos fatores mencionados é a<br />
causa explicativa, o que não exclui que<br />
alg<strong>uma</strong>s crianças que apresentam dislexia<br />
tenham alg<strong>uma</strong>s das características<br />
mencionadas, associadas ao seu<br />
problema. (JIMENEZ; ARTICLES, 1989).<br />
Posso pontuar celebridades em destaque<br />
que confirmam a inteligência da pessoa com<br />
dislexia, é o caso de mentes geniais como<br />
Bill Gates, Albert Einstein, Steven Jobs, Johnny<br />
Depp, Graham Bell, Agatha Christie, entre<br />
outros.<br />
Diante da real situação apresentada por esses<br />
alunos identificados pela escola e que<br />
não tinham diagnóstico, porém com <strong>uma</strong><br />
grande defasagem no seu processo de leitura<br />
e escrita, surgiu a ideia de organizar <strong>uma</strong><br />
ação multiprofissional, composta pela profissional<br />
de Psicopedagogia, a professora de<br />
<strong>Educação</strong> Especial, a professora de Língua<br />
Portuguesa e a Orientadora Educacional,<br />
<strong>para</strong> desenvolver atividades lúdicas, dinâmicas,<br />
reflexões, orientações pedagógicas,<br />
educacionais e emocionais, com o principal<br />
objetivo de buscar mecanismos e recursos<br />
que possibilitassem os avanços do grupo<br />
em relação a sua aprendizagem emocional<br />
e acadêmica. Nesse contexto, nasceu o projeto<br />
“Os mosqueteiros”. O objetivo foi, então,<br />
68 Os Mosqueteiros
estimular a inteligência emocional <strong>para</strong> ampliar<br />
o nível da construção e da aquisição da<br />
leitura e escrita e buscar mecanismos e recursos<br />
que desenvolvessem a aprendizagem<br />
de forma global.<br />
• Para atingir esse objetivo, pensamos nas<br />
seguintes ações:<br />
• Desenvolver no grupo <strong>uma</strong> autoestima<br />
fortalecida e apresentar habilidades e<br />
inteligências adormecidas por falta de<br />
estímulos.<br />
• Estimular a reflexão, trabalhando perdas<br />
e frustrações, desenvolvendo o autocontrole<br />
dos pensamentos e das atitudes.<br />
• Desenvolver a consciência fonológica, na<br />
percepção e na relação dos grafemas e<br />
dos fonemas.<br />
• Ampliar o vocabulário do grupo, organizando<br />
ideias e pensamentos em forma<br />
de frases, observando a sequência, as<br />
concordâncias, a pontuação gráfica e o<br />
espaçamento entre palavras.<br />
• Estruturar pequenos textos, seguindo<br />
<strong>uma</strong> sequência lógica e coerente na sua<br />
elaboração.<br />
“Um por todos e todos por um”<br />
Iniciei o projeto com a proposta de trabalhar<br />
quinzenalmente, durante <strong>uma</strong> hora e<br />
trinta minutos, desenvolvendo momentos<br />
de reflexão, análise e intervenções pisicopedagógicas.<br />
Minha proposta era buscar o<br />
envolvimento e o crescimento emocional e<br />
pedagógico dos educandos.<br />
Iniciei apresentando um livro em PDF, chamado<br />
João presta atenção, da autora Patrícia<br />
Secco. A autora relata a história de um<br />
garoto de 9 anos que passava por muitos<br />
momentos de frustrações na escola, até o<br />
momento que recebeu o diagnóstico de dislexia<br />
e TDAH. A partir desse momento, tudo<br />
mudou em sua vida escolar, familiar e social.<br />
Concluído o filme, realizei <strong>uma</strong> roda de conversa,<br />
onde cada aluno se percebeu em algum<br />
momento de sua vida escolar ou familiar,<br />
vivendo as mesmas situações e dificuldades<br />
encontradas por João. Na sequência, pontuei<br />
o que é a dislexia, como é identificada<br />
e quais os meios que encontramos <strong>para</strong> con-<br />
Karina Pickering Pollheim<br />
69
viver e superar esta dificuldade centrada na<br />
aquisição da leitura e na escrita.<br />
Ao perceberem que não eram únicos diante<br />
das dificuldades apresentadas, eles se sentiram<br />
motivados e criaram um nome ao grupo:<br />
“Os Mosqueteiros”, com o lema: “Um por todos<br />
e todos por um”. Todos buscavam o mesmo<br />
objetivo, de serem mais seguros, felizes<br />
e autônomos, desenvolvendo habilidades<br />
que auxilissem a superar suas dificuldades e<br />
suas limitações.<br />
Organizei um café delicioso <strong>para</strong> o grupo.<br />
Muitas ideias foram surgindo nesse momento<br />
de descontração, como a criação de<br />
um brasão, entre muitas outras sugestões.<br />
Muitos deles ainda estavam inseguros, com<br />
medo de se manifestar ou expor suas ideias,<br />
mas a vontade de cada educando foi respeitada<br />
e todo momento trabalhei com reforços<br />
positivos.<br />
No segundo encontro, contei a história dos<br />
Mosqueteiros, falando do seu criador e apresentando<br />
<strong>uma</strong> pequena síntese da história,<br />
assim como as características de cada personagem.<br />
Propus que eles escolhessem um<br />
deles que lhes gerassem mais identificação.<br />
O grupo observou características como coragem,<br />
lealdade, curiosidade, liderança, entre<br />
outras, as quais geraram <strong>uma</strong> motivação<br />
de buscar essas qualidades. Diante dessa<br />
troca de experiências e desejos, a proposta<br />
de realizar a primeira coleta de escrita foi<br />
aceita com alegria e tranquilidade.<br />
Começamos também a desenvolver o brasão<br />
do grupo, que ficou decidido que seria o desenho<br />
dos lápis cruzados (como se fossem<br />
espadas) e o caderno (o escudo), representando<br />
o objetivo do grupo de desenvolver a<br />
leitura e a escrita, com resultados positivos<br />
nas diversas áreas do desenvolvimento do<br />
grupo.<br />
A cada encontro foi trabalhada <strong>uma</strong> técnica<br />
de motivação <strong>para</strong> desenvolver o autocontrole,<br />
a determinação e a autoestima. Paralelamente<br />
a essas atividades foram sendo<br />
desenvolvidos exercícios de consciência fonológica,<br />
utilizando o alfabeto móvel, tablet,<br />
jogos de soletrar, rimas, histórias em sequência,<br />
elaboração e estruturação de pequenos<br />
textos, entre outras atividades.<br />
Uma das técnicas realizadas e que produziu<br />
excelente efeito foi a técnica VENCENDO<br />
SEUS MONSTROS, em que o aluno fez <strong>uma</strong><br />
auto análise de tudo que vinha atrapalhando<br />
sua vida e seu crescimento e, em seguida,<br />
eles realizaram o desenho do monstro, colocando<br />
nele todos os sentimentos e pensamentos<br />
negativos.<br />
No espaço externo da escola, reuni o grupo<br />
com seus respectivos desenhos e realizamos<br />
a fogueira, onde cada aluno queimou e eliminou<br />
seus medos e suas angústias. Em outro<br />
momento, dirigi um estudo sobre os “Famosos<br />
Dislexicos”. Nesse momento, os alunos<br />
tiveram a oportunidade de conhecer a realidade<br />
de artistas com dislexia e reconhecerem<br />
neles suas próprias dificudades.<br />
“Você não quer ser retardada ou estúpida<br />
a vida inteira. Ouvia isso sempre<br />
de seus professores, mas enquanto isso<br />
minha mãe dizia: Você pode ser qualquer<br />
coisa que queira”. Eu sabia que eu<br />
não era nem muda e nem estúpida e corri<br />
atrás do meu sonho. Ser atriz. Um dia<br />
Steven Spielberg me viu em um show de<br />
comédia e me convidou <strong>para</strong> participar<br />
do filme ‘A Cor Púrpura’”. Whoopi Goldberg.<br />
“A dislexia não é <strong>uma</strong> deficiência é um<br />
presente. Sou capaz de ler o mundo visual<br />
mais rapidamente que muitos dos<br />
meus amigos não disléxicos”. Steven<br />
Jobs.<br />
Fui totalmente desestimulado em meus<br />
dias de escola. E nada é mais desencorajador<br />
do que ser marginalizado em<br />
sala de aula, o que nos leva a sentirmonos<br />
inferiores em nossa origem h<strong>uma</strong>na.<br />
Winston Churchill.<br />
Falhei na minha escola por minha dificuldade<br />
na leitura e escrita. Sempre fui<br />
incentivado por meu pai, que era professor<br />
de artes, assim fui desenvolvendo<br />
meu talento. Pablo Picasso.<br />
Este estudo promoveu <strong>uma</strong> grande transformação<br />
na mente de cada um desses alunos.<br />
Começaram a acreditar que poderiam lutar<br />
pelos seus sonhos e que poderiam desenvolver<br />
muitas habilidades mesmo diante das dificuldades<br />
apresentadas.<br />
70<br />
Os Mosqueteiros
A partir dessa conquista, desenvolvi um<br />
trabalho com a equipe multiprofissional da<br />
escola. Forneci <strong>para</strong> cada professor em momento<br />
de pré-conselho <strong>uma</strong> listagem dos<br />
alunos participantes do projeto e orientações<br />
de atividades que favorecessem a aprendizagem<br />
de todos os alunos, de maneira que<br />
eles se sentissem seguros e estimulados no<br />
ambiente de sala de aula. Essa parceria entre<br />
os professores e a equipe multiprofissional,<br />
tanto na orientação, na aplicação e na<br />
supervisão das atividades e da avaliações,<br />
foi fundamental.<br />
Já posso observar os avanços nesses adolescentes.<br />
A luta contra as dificuldades que<br />
possuem e que juntos, a cada dia, eles vêm<br />
melhorando o desempenho escolar. Por meio<br />
desse projeto, tenho conseguido fazer valer<br />
nosso lema: “Um por Todos Todos Por Um!”.<br />
Contribuições <strong>para</strong> o grupo<br />
As primeiras observações de avanços foram<br />
em relação à motivação e à segurança do<br />
grupo. Aos poucos todos conseguiram se<br />
expressar, com segurança e alegria. O relato<br />
dos professores em relação à autonomia e à<br />
autoestima dos alunos participantes do projeto<br />
tem sido positivas. Eles têm realizado as<br />
atividades propostas com resultados efetivos,<br />
o que me leva a perceber que o objetivo<br />
do projeto foi alcançado.<br />
Nos momentos da coleta de escrita, percebi<br />
<strong>uma</strong> evolução significativa na relação do<br />
fonema e do grafema; os alunos procuram<br />
escutar, identificar e buscar o código escrito<br />
que represente o som. Realizando pequenas<br />
produções textuais, percebi o crescimento<br />
em relação à estruturação, à pontuação e ao<br />
espaçamento entre as palavras na organização<br />
de frases.<br />
Nas atividades no computador, de cruzadinhas<br />
e caça palavras, os alunos apresentaram<br />
um progresso na leitura e na escrita,<br />
caracterizando um avanço do aluno<br />
disléxico, na utilização desses recursos.<br />
Referência<br />
JIMENEZ, J.; ARTICLES, C. Como prevenir e<br />
corrigir as dificuldades de aprendizagem da<br />
escrita e leitura. Madri: Editorial Síntesis,<br />
1989.<br />
Karina Pickering Pollheim<br />
71
72<br />
Práticas de <strong>Educação</strong><br />
Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Oficinas de<br />
vivências...<br />
é sentindo que<br />
se aprende!<br />
Janine Calixto<br />
Vivências à “flor da pele”<br />
Nos tempos atuais do cotidiano escolar, de<strong>para</strong>mo-nos<br />
com <strong>uma</strong> rotina cada dia mais<br />
automatizada. Dentre os motivos, podemos<br />
destacar o grande montante de conteúdos<br />
curriculares, o cumprimento de diversas tarefas<br />
do calendário escolar, entre outras que<br />
ocasionam a falta de tempo <strong>para</strong> dialogar sobre<br />
as dificuldades da escola atual. Diante<br />
disso, não existe momento propício <strong>para</strong> tratarmos<br />
diretamente de temas emergentes<br />
de nosso contexto como as diferenças e o<br />
respeito à diversidade no cotidiano escolar.<br />
Embora o tema diversidade remeta às pessoas<br />
com deficiência, se pensarmos por outro<br />
lado, são elas as que encontram mais dificuldades<br />
no seu dia a dia e na vida escolar,<br />
e muitas vezes não têm suas possibilidades<br />
valorizadas. Diante de perguntas frequentes<br />
que os alunos fazem em relação aos alunos<br />
com deficiência, por meio de alguns olhares<br />
curiosos e alguns comentários desinformados,<br />
observo a necessidade de conversar e<br />
esclarecer o assunto, destacando as diferenças<br />
que encontramos em sala de aula mais do<br />
que o tema “deficiências”, como forma de enriquecimento<br />
de todos os alunos <strong>para</strong> a vida.
74<br />
Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!
Janine Calixto<br />
75
O processo de elevação do respeito às diferenças<br />
exige que possamos minimizar a distância<br />
de conhecimento entre eu e o outro,<br />
sendo o bom convívio e o relacionamento<br />
“peças-chave” <strong>para</strong> favorecer o processo de<br />
inclusão das crianças com deficiência no<br />
ensino comum e papel fundamental da escola<br />
atual. Segundo Mantoan (2006, p. 61):<br />
“A escola pre<strong>para</strong> o futuro, e, se as crianças<br />
aprenderem a valorizar e a conviver com as<br />
diferenças nas salas de aula, serão adultos<br />
bem diferentes de nós, que temos de nos<br />
empenhar tanto <strong>para</strong> entender e viver a experiência<br />
da inclusão!”.<br />
Nesse sentido, este relato detalha a experiência<br />
vivenciada na Semana da pessoa com<br />
deficiência, que é um evento municipal que<br />
acontece há 13 anos, entre os dias 21 e 28<br />
de agosto, e visa organizar atividades que<br />
permitam aos alunos, professores, pais e<br />
comunidade escolar refletirem sobre temas<br />
relacionados às temáticas da inclusão. Baseada<br />
nisso, as atividades descritas caracterizam-se<br />
por experiências e vivências voltadas<br />
à sensibilização de alunos do ensino comum<br />
de nossa unidade escolar.<br />
Neste espaço, priorizei experiências que promovessem<br />
a sensibilização, favorecendo a<br />
ideia de respeito às diferenças entre nossos<br />
alunos, por meio de atividades, como as de<br />
privação de sentidos <strong>para</strong> potencializar esse<br />
processo de identificação dessas diferenças.<br />
Salientamos que o conhecimento do limite<br />
do outro e, acima de tudo, o respeito àquilo<br />
que não é exatamente igual a mim, sempre<br />
é um processo enriquecedor, mesmo quando<br />
as diferenças pareçam imperceptíveis. Repensar<br />
o meu jeito de ser, de falar, de pensar,<br />
de caminhar, entre outros, definitivamente<br />
destaca que não somos iguais, e que essas<br />
diferenças merecem ser valorizadas.<br />
Assim sendo, proponho neste trabalho o<br />
compartilhamento de <strong>uma</strong> experiência prática<br />
que objetivou sensibilizar os alunos <strong>para</strong><br />
reflexão sobre dificuldades encontradas por<br />
alunos com deficiências, proporcionando vivências<br />
em que eles se colocassem no lugar<br />
do outro percebendo suas limitações e possibilidades.<br />
Podemos destacar como objetivos<br />
específicos <strong>para</strong> essa ação:<br />
• Proporcionar um ambiente desafiador com<br />
pequenas barreiras sensoriais e motoras.<br />
76<br />
Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!
Janine Calixto<br />
77
• Destacar limitações decorrentes das diversas<br />
deficiências.<br />
• Identificar novos caminhos e soluções<br />
<strong>para</strong> as limitações encontradas nas atividades<br />
desenvolvidas.<br />
• Valorizar o outro nas suas diferenças.<br />
• Reconhecer a necessidade de ser ajudado<br />
em atividades cotidianas.<br />
• Refletir sobre os diferentes caminhos encontrados<br />
<strong>para</strong> a superação dos desafios<br />
das diversas deficiências.<br />
• Mãos à obra: oficinas de vivências - é<br />
sentindo que se aprende<br />
Quando somos privados de utilizar nossos<br />
sentidos e enfrentamos na prática atividades<br />
do dia a dia, percebemos as várias barreiras<br />
encontradas por aqueles que vivenciam<br />
sempre essa privação. Essa experiência favorece<br />
o processo de nos colocarmos no lugar<br />
do outro e “sentir na pele” as limitações<br />
vivenciadas no dia a dia. Partindo dessa lógica,<br />
planejamos a estrutura de atividades<br />
que aconteceu em <strong>uma</strong> sala de vivências<br />
<strong>para</strong> alunos de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental,<br />
de <strong>uma</strong> unidade escolar da Rede<br />
Municipal de Ensino de Itajaí.<br />
Nesse espaço, os alunos puderam experimentar<br />
atividades diferenciadas, vivenciando<br />
a utilização de outras habilidades, como:<br />
tato e sensações (deficiência visual); tarefas<br />
de mobilidade (deficiência física), e outras.<br />
O foco foi desenvolver a percepção de<br />
potencialidade existente nas deficiências,<br />
desconstruindo alguns conceitos errôneos<br />
sobre capacidades e limitações, bem como<br />
promover a reflexão sobre a forma de auxiliar<br />
os colegas quando necessário, respeitando-os<br />
da forma como são.<br />
Tendo em vista que, na maioria das turmas,<br />
estudam alunos com diferentes deficiências<br />
e também com sérias dificuldades de<br />
aprendizagem e problemas de relacionamentos<br />
entre colegas de classe, as atividades<br />
também visaram o desenvolvimento<br />
dessas habilidades, abrangendo a todos no<br />
trabalho de questões como respeito mútuo,<br />
aceitação das individualidades e diferenças,<br />
compreensão de características físicas, culturais,<br />
sociais, percebendo que, quando nos<br />
colocamos no lugar do outro, atentamos a<br />
detalhes, limitações, dificuldades, capacida-<br />
des e passamos a entendê-lo sem julgamentos.<br />
Assim, temos a convicção de que as diferenças<br />
que existem nas escolas contribuem<br />
grandemente <strong>para</strong> o crescimento de todos.<br />
Assim sendo, propus-me a desenvolver um<br />
trabalho, aproveitando a Semana da pessoa<br />
com deficiência. Montei <strong>uma</strong> sala de vivências,<br />
contemplando alunos de 1º ao 4º ano<br />
do Ensino Fundamental, que puderam realizar<br />
as seguintes atividades:<br />
• Vivência 1: Com os olhos vendados, os<br />
alunos montaram <strong>uma</strong> carinha, encaixando<br />
olhos e boca nos seus devidos<br />
lugares. Primeiro, eles colocaram velcro<br />
nos olhos e na boca, e, depois, deveriam<br />
caminhar <strong>uma</strong> pequena distância, até o<br />
painel, e usar o tato <strong>para</strong> colar o velcro e<br />
compor corretamente o rosto do boneco<br />
ou da boneca.<br />
• Vivência 2: Ainda com os olhos vendados,<br />
os alunos deveriam experimentar alguns<br />
alimentos (como sal, vinagre, leite condensado,<br />
molho de tomate, açúcar, etc.).<br />
Após degustar cada alimento, eles deveriam<br />
dizer o que estavam comendo.<br />
• Vivência 3: De olhos vendados, os alunos<br />
passaram por diferentes texturas (como<br />
lã, lixa, areia, gelo, tecidos, etc.).<br />
• Vivência 4: Os alunos, com a mobilidade<br />
do braço afetada (braços imobilizados<br />
por <strong>uma</strong> tala adaptada), deveriam pintar<br />
seus desenhos com guache.<br />
• Vivência 5: Os alunos, com a mobilidade<br />
da perna afetada (pernas imobilizadas<br />
por <strong>uma</strong> tala adaptada), deveriam ser colocados<br />
deitados, de barriga. Logo após,<br />
eles foram convidados a ficar de pé e caminhar<br />
um pouco.<br />
Finalizadas todas essas experiências, foi feita<br />
<strong>uma</strong> roda de conversa <strong>para</strong> que todos pudessem<br />
falar o que sentiram, quais as sensações<br />
e os medos, o que foi mais fácil e o que<br />
foi mais difícil. Foram questionados: “Vocês<br />
gostaram ou não das atividades desenvolvidas?”,<br />
“O que puderam perceber com estas<br />
vivências?”, “Qual tipo de tratamento que os<br />
meus colegas, que são diferentes de mim,<br />
devem receber?”, “Quem sabia de que tipo<br />
de deficiência estávamos tratando?”. Ao final<br />
dessa etapa, muitos foram os questionamentos<br />
e as contribuições dos alunos.<br />
78<br />
Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!
No final da roda de conversa, todos os participantes<br />
puderam deixar sua impressão sobre<br />
as atividades vivenciadas, contando com<br />
a participação da professora da sala de aula.<br />
Nesse momento, realizei minhas considerações<br />
finais sobre este trabalho, pontuando<br />
a importância das atividades <strong>para</strong> todos os<br />
alunos, qual foi meu objetivo, onde eu queria<br />
chegar ao propô-las. Unanimemente, todos<br />
concordaram que cada pessoa tem suas dificuldades,<br />
suas limitações, mas que todos<br />
nós temos condições de superá-las.<br />
A experiência e as aprendizagens<br />
Durante a realização do projeto percebi o<br />
quanto foi construtivo a realização das atividades<br />
<strong>para</strong> avanço no objetivo da ação que<br />
priorizava “sensibilizar”, “refletir” e “proporcionar<br />
vivências”, desde o ato de sair da sala<br />
de aula (que já torna a ação menos rotineira),<br />
quanto mudar o espaço, oportunizar aos<br />
alunos um novo ambiente de vivências, sem<br />
formato de sala de aula.<br />
Durante as tarefas que os alunos executaram,<br />
muitos perceberam que existem muitas<br />
habilidades requeridas nas atividades,<br />
tornando-se as tarefas mais simples quase<br />
que impossíveis com a privação de algum<br />
sentido. Todas as experiências visaram a superação<br />
do medo, de insegurança, capacidade<br />
em confiar e depender do outro e oportunizar<br />
a criação de momento de vivências<br />
“a flor da pele”. As experiências vivenciadas<br />
causaram <strong>uma</strong> reflexão sobre as situações<br />
vividas pelos alunos com deficiência em sala<br />
de aula.<br />
No relatar das experiências, muitos alunos<br />
informaram que se sentiram mal e que ficaram<br />
nervosos e apavorados ao perceber<br />
que não poderiam usar a visão, mesmo que<br />
momentaneamente. Outros disseram sentir<br />
muita dificuldade com a redução de mobilidade,<br />
na execução das tarefas. Muitos falaram<br />
que foi possível entender o que o outro<br />
aluno sentia ao não conseguir realizar as<br />
atividades, e que puderam compreender o<br />
quanto é frustrante querer fazer e não conseguir<br />
e tentar várias vezes. Essa reflexão é<br />
<strong>uma</strong> maneira de criar situações <strong>para</strong> transformar<br />
as relações entre os participantes do<br />
projeto, em ações futuras.<br />
Toda a aprendizagem nova do projeto foi<br />
<strong>para</strong> os alunos, <strong>uma</strong> experiência que causou<br />
medo e às vezes irritabilidade, mas todos<br />
estavam muito curiosos e ansiosos que chegasse<br />
logo a sua vez. Eles foram apreensivos,<br />
receptivos e abertos aos novos desafios. Nenhum<br />
aluno negou-se a participar. Ao final<br />
das atividades, alguns agradeceram a oportunidade<br />
e questionaram se a experiência se<br />
repetiria.<br />
As professoras que partici<strong>para</strong>m do projeto<br />
também se envolveram e deram continuidade<br />
às ações em suas atividades de sala<br />
de aula <strong>para</strong> construir textos, fazer relatos,<br />
montar painéis e outras produções com os<br />
alunos participantes. Muitos alunos conheceram<br />
meu trabalho e o da Sala Multifuncional,<br />
e, atualmente, me visitam. Foi <strong>uma</strong><br />
experiência muito dinâmica, com <strong>uma</strong> troca<br />
muito grande de informações e novas aprendizagens.<br />
Para finalizar, ficou claro que necessitamos<br />
de momentos de sair da rotina, viver outras<br />
experiências, usar outros sentidos, sentir e<br />
tocar diferentes texturas, conhecer o nosso<br />
corpo e tudo aquilo que ele nos proporciona,<br />
aprender a nos conhecer, inventar novas<br />
possibilidades, aprender com o outro, observar<br />
e sentir. Vale ressaltar o quanto ficou<br />
perceptível que todos temos limitações, que<br />
todos nós temos ou podemos ter deficiências,<br />
que não somos perfeitos e que juntos<br />
somos muito melhores.<br />
Referência<br />
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar - O que<br />
é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,<br />
2006.<br />
Janine Calixto<br />
79
80<br />
Práticas de <strong>Educação</strong><br />
Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Descoberta<br />
Erickson Jones Lima<br />
Primeira descoberta<br />
Com mais de 201.557 habitantes, localizada no<br />
litoral centro norte catarinense, a cidade de<br />
Itajaí realiza há algum tempo um trabalho de<br />
educação especial na Rede Municipal de Ensino<br />
que se diferencia de inúmeras localidades<br />
do Brasil. A partir do ano de 1999, tiveram início<br />
as atividades do Centro Municipal de <strong>Educação</strong><br />
Alternativa de Itajaí, e, em 2005, foi inaugurada<br />
a primeira Sala de Recursos Multifuncional,<br />
totalizando, atualmente, um número de 32 unidades,<br />
as quais oferecem atendimento educacional<br />
especializado, apoio e serviços especializados<br />
a mais de 600 crianças e adolescentes<br />
com deficiência em todo o município.<br />
Esse conjunto de espaços e serviços compõe<br />
esse novo conceito de trabalho, que constitui a<br />
idéia de rede de atenção e favorece a possibilidade<br />
de articulação interdisciplinar entre profissionais<br />
dos mais diferentes segmentos, tais<br />
quais: professor de educação especial, intérprete<br />
de Libras, agente de apoio em atividade<br />
de educação especial, psicólogo, fonoaudiólogo,<br />
psicopedagogo, fisioterapeuta, e outros que<br />
compõem o quadro de profissionais dessa área.<br />
Diante da complexidade do contexto educacional<br />
atual, a educação especial possui <strong>uma</strong> proposta<br />
de atenção às demandas de <strong>uma</strong> clientela<br />
específica, ou seja, alunos com deficiência,<br />
transtornos globais do desenvolvimento e altas<br />
habilidade/superdotação, considerados público<br />
-alvo dessa ação, como resposta especializada<br />
as suas diferenças.
A partir da elaboração da Política de <strong>Educação</strong><br />
Especial na Perspectiva da <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />
(BRASIL, 2008), o Brasil assume <strong>uma</strong><br />
nova postura com o intuito de “constituir<br />
políticas públicas promotoras de <strong>uma</strong> educação<br />
de qualidade <strong>para</strong> todos os alunos”,<br />
passando a escola a ser concebida como<br />
<strong>uma</strong> instituição de educação formal fundamentada<br />
na concepção de direitos h<strong>uma</strong>nos,<br />
buscando a construção de um sistema<br />
educacional inclusivo, promovendo acesso a<br />
todos os alunos à escola comum; e, na <strong>Educação</strong><br />
Especial, a inclusão desses alunos<br />
público-alvo no ensino comum, conforme regulamentado<br />
na Meta 4 do Plano Nacional<br />
de <strong>Educação</strong> – PNE, conforme lei 13.005/14<br />
(BRASIL, 2014).<br />
A proposta da construção de um sistema<br />
educacional inclusivo é <strong>uma</strong> modificação<br />
intencional das políticas públicas que se encontram<br />
am<strong>para</strong>das legalmente em princípios<br />
teóricos fundamentados na valorização<br />
da igualdade e das diferenças presentes no<br />
ambiente escolar. Embora os conceitos “inclusão”,<br />
“diferença” e “respeito” figurem nessa<br />
perspectiva, o que percebemos na prática<br />
nos distancia muito desse ideal.<br />
Diante desse contexto, resolvi propor o diálogo<br />
com alguns segmentos da <strong>Educação</strong><br />
Especial, no caso dessa experiência, com as<br />
professoras das Salas de Recursos Multifuncionais,<br />
<strong>para</strong> identificar sua percepção sobre<br />
a realidade do Atendimento Educacional<br />
Especializado na Rede Municipal de Ensino.<br />
No primeiro momento, foi possível verificar<br />
inúmeras queixas, reclamações, indagações,<br />
mas indicações de possibilidade de mudança,<br />
cristalizando a realidade. Segundo Paulo<br />
Freire:<br />
Enquanto a mudança implica, em si<br />
mesma, <strong>uma</strong> constante ruptura, ora lenta,<br />
ora brusca, da inércia, a estabilidade<br />
encarna a tendência dessa pela cristalização<br />
da criação. Enquanto a estrutura<br />
social se renova através da mudança<br />
de suas formas, da mudança de instituições<br />
econômicas, políticas, sociais,<br />
culturais, a estabilidade representa a<br />
tendência de normalização da estrutura.<br />
(FREIRE, 1999, p. 47).<br />
Nesse sentido, verifiquei que, em todas as<br />
exposições de descontentamento do grupo,<br />
não existia espaço <strong>para</strong> comprometimento<br />
com a mudança e esforços necessários à<br />
modificação que qualquer realidade exige.<br />
Diante dessas situações, resolvi buscar subsídios<br />
teóricos e metodológicos que possibilitassem<br />
<strong>uma</strong> proposta de intervenção baseada<br />
no diálogo. Assim, nasceu a primeira<br />
descoberta, como ação <strong>para</strong> “Construir <strong>uma</strong><br />
prática pedagógica de valorização das diferenças,<br />
pautada na experimentação, criação,<br />
<strong>para</strong> construção de práticas mais h<strong>uma</strong>nitárias<br />
e inclusivas”. E, nesse sentido, melhorar<br />
os serviços de atendimento das crianças e<br />
dos adolescentes como público-alvo do AEE,<br />
atendidas na Rede de Ensino de Itajaí.<br />
Foram principais motivadoras dessa<br />
ação as seguintes indagações: Como podemos<br />
favorecer a comunicação como instrumento<br />
de h<strong>uma</strong>nização das relações entre<br />
os profissionais do AEE? Como podemos<br />
facilitar o processo de reflexão, mudança a<br />
partir de problemáticas do cotidiano com<br />
apoio de um grupo de referência? Como podemos<br />
auxiliar o professor de educação especial<br />
a estruturar seu processo de criação e<br />
registro? Como podemos divulgar o resultado<br />
desse trabalho?<br />
Imersão<br />
A partir dessa demanda de ação, e de todas<br />
as indagações geradas pelo diálogo com as<br />
professoras de <strong>Educação</strong> Especial, das Salas<br />
de Recursos Multifuncionais da Rede Municipal<br />
de Ensino de Itajaí, iniciei um processo<br />
de estruturação de <strong>uma</strong> proposta. Inicialmente,<br />
elaborei um instrumental intitulado<br />
“Caderno de atividades” com o intuito de<br />
favorecer o processo de registro e estruturação<br />
dos planos do professor de educação<br />
especial.<br />
O primeiro encontro do grupo, intitulado<br />
“Primeira fase”, aconteceu no auditório da<br />
Biblioteca Pública Municipal, no dia 18 de<br />
março. Ele contou com a apresentação do<br />
conceito geral do projeto, apresentação do<br />
vídeo “Quem se Importa?” (que retrata ações<br />
efetivadas em diferentes partes do mundo,<br />
como resposta a <strong>uma</strong> problemática local).<br />
Foram apresentados conceitos importantes<br />
do projeto, e, na sequência, houve a divisão<br />
dos profissionais em grupos conforme sua<br />
localidade. Eles foram assim distribuídos:<br />
82 Descoberta
Central, Cidade Nova, Cordeiros, Fazenda,<br />
Itaipava, Salseiros e São Vicente.<br />
Cada grupo deveria identificar as problemáticas<br />
de sua localidade, por meio de <strong>uma</strong> discussão.<br />
Na sequência, eles deveriam compor<br />
um quadro respondendo as seguintes<br />
questões: “O que você quer <strong>para</strong> o AEE?” e<br />
“Quais a limitações <strong>para</strong> essa efetivação?”.<br />
Após discussões e produções, o encontro foi<br />
encerrado, sendo, posteriormente, cada participante<br />
incluído em um grupo (no aplicativo<br />
WhatsApp), de acordo com o grupo que<br />
compunha, <strong>para</strong> favorecer as trocas locais e<br />
a comunicação entre os integrantes e o organizador<br />
do projeto.<br />
Após o primeiro encontro coletivo, aconteceram<br />
os encontros presenciais em pequenos<br />
grupos, intitulado “Segunda fase”. Nele,<br />
foram retomadas as discussões do primeiro<br />
encontro e trazidas questões de aspirações<br />
e limites <strong>para</strong> organizar coletivamente o<br />
desafio do grupo, oportunizando o encadeamento<br />
das ideias coletivas. Os encontros<br />
aconteceram nas salas de recursos multifuncionais<br />
das escolas municipais e foram<br />
confirmados previamente com os gestores e<br />
os professores, conforme contato via e-mail.<br />
Na sequência, houve a “Terceira fase”, momento<br />
que os professores tiveram a oportunidade<br />
de criar um plano <strong>para</strong> o desafio do<br />
grupo. Eles aplicaram instrumentais como o<br />
“Mapa de Empatia” <strong>para</strong> compreender a percepção<br />
de outros sujeitos sobre a educação<br />
especial. Eles definiram os objetivos de sua<br />
ação, limites, indicadores e, por fim, estabeleceram<br />
um cronograma <strong>para</strong> realização de<br />
suas metas. O Quadro 1 a seguir mostra os<br />
principais objetivos elencados pelos grupos.<br />
Quadro 1 - Principais objetivos dos grupos<br />
Grupo Nome Projeto<br />
Central Central Como podemos conseguir consultoria do MEC <strong>para</strong> o Órgão Central da Rede Municipal<br />
de Ensino de Itajaí?<br />
Cidade<br />
Nova<br />
Verde Como podemos desenvolver projetos de parceria com os professores que favoreçam<br />
a mudança de pensamento e de comportamento dos alunos na sua relação com a<br />
aprendizagem?<br />
Cordeiros Cordeiros Como podemos ter materiais Pedagógicos adaptados <strong>para</strong> crianças da <strong>Educação</strong><br />
Infantil até Anos Finais e oficinas <strong>para</strong> produção de materiais pedagógicos?<br />
Fazenda Fazenda Como podemos oportunizar ao profissional do AEE mais autonomia quanto a sua<br />
organização de atendimento ao aluno, planejamento, orientação <strong>para</strong> professores e<br />
em seus planejamentos, elaboração de material, adaptação, formação em serviço dos<br />
demais profissionais da unidade de ensino, assim como <strong>para</strong> as demais funções exercidas<br />
de professor de educação especial?<br />
Itaipava Itaipava Como podemos permanecendo 40 horas na mesma unidade escolar?<br />
São Vicente<br />
Superação<br />
Como podemos fomentar entre os professores do ensino comum a necessidade de<br />
buscar conhecimentos específicos de estratégias diferenciadas que promovam o<br />
aprendizado da diversidade da sala de aula?<br />
Salseiros Tenacidade Como podemos ter disponibilidade de literatura infantil acessível às crianças com<br />
deficiência sensorial em parceria com a Biblioteca Pública Municipal?<br />
Fonte: Elaborado pelo autor.<br />
A produção desencadeou <strong>uma</strong> série de novos<br />
instrumentos como indicadores, questionários,<br />
reuniões, análises, que demandavam<br />
mais organização e comunicação entre os<br />
grupos. Desse modo, foi incentivado aos grupos<br />
a criação de e-mails com o nome escolhido<br />
pelo respectivo grupo, <strong>para</strong> favorecer<br />
a criação de um endereço, onde pudessem<br />
ser indicadas outras demandas comunicativas.<br />
Essa etapa foi intitulada “Quarta fase” e<br />
contou também com a criação de <strong>uma</strong> nova<br />
ação alinhada a esse projeto, intitulada “Coolab<br />
- Rede Colaborativa”.<br />
Nas diferentes redes sociais dessa ação, foi<br />
oportunizada a divulgação do que é o “Atendimento<br />
Educacional Especializado?”, “O<br />
que é Centro Municipal de <strong>Educação</strong> Especial?”,<br />
e, principalmente, foram divulgadas<br />
ações envolvendo aprendizagem e desenvol-<br />
Erickson Jones Lima<br />
83
vimento de alunos com deficiência da Rede<br />
Municipal de Ensino de Itajaí. Atualmente, a<br />
COOLAB conta com grupo de participantes<br />
diretos e outros indiretos, em diferentes redes<br />
sociais: (1) grupo no WhatsApp; (2) Página<br />
no Facebook; (3) Instagram; (4) Twitter.<br />
Cada grupo tem <strong>uma</strong> finalidade associada à<br />
característica da rede, sendo o Facebook e<br />
WhatsApp compostos por participantes de<br />
todo o Brasil.<br />
Baseados na consolidação dos espaços virtuais<br />
do projeto, os grupos foram desafiados<br />
a promover ações relacionadas aos seus objetivos<br />
na XIII Semana da pessoa com deficiência<br />
do município de Itajaí (Quadro2). Essa<br />
etapa foi intitulada “Quinta fase” e aconteceu<br />
de 20 a 26 de agosto de 2016. Essa etapa<br />
do projeto contou com a publicação de<br />
todos os acontecimentos e descobertas do<br />
projeto. Na página do Facebook da COOLAB,<br />
com o título “Diário de Bordo”, há relatos das<br />
experiências, devolutivas e as impressões<br />
dos envolvidos no evento.<br />
Quadro 2 - Ações relacionadas aos objetivos dos grupos<br />
materiais, criados espaços e grupos de estudos<br />
<strong>para</strong> desenvolver atividades que favorecessem<br />
a comunicação entre os profissionais<br />
do AEE.<br />
Nesse sentido, o projeto investiu em algo<br />
que se localizava nas perspectivas dos participantes,<br />
acreditando em seu potencial criador.<br />
No entanto, durante o processo muitas<br />
dúvidas surgiram, muitas incertezas, sobre<br />
possíveis caminhos, mas foi possível perceber<br />
<strong>uma</strong> reflexão mais aprofundada sobre as<br />
problemáticas do cotidiano, principalmente<br />
nos encontros dos pequenos grupos. Na estruturação<br />
dos desafios, foi possível questionar<br />
o inquestionável, e rever alguns mitos<br />
que impediam novos pensamentos sobre a<br />
realidade. Para isso, o processo de registro<br />
e o caderno, como instrumento pedagógico,<br />
foram muito importantes.<br />
Grupo Nome Projeto<br />
Central Central Formação em Deficiência Visual/Parceria ADVIR.<br />
Cidade<br />
Nova<br />
Verde Vivências e Percepções na Inclusão: Dialogando sobre o Transtorno do Espectro<br />
Autista (TEA); Parceria CER UNIVALI.<br />
Cordeiros Cordeiros Desenvolvimento Infantil na Perspectiva <strong>Inclusiva</strong>/Parceria APAE.<br />
Fazenda Fazenda<br />
Itaipava Itaipava Blitz Educativa – <strong>Educação</strong> Especial; Parceria SERIT e CODETRAN.<br />
São Vicente<br />
Superação Seminário Municipal de <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong> Escolar - SEMEIE/Parceria CER UNIVALI.<br />
Salseiros Tenacidade Rodas de Conversa: Saúde Mental da Rede Municipal de Ensino/ Parceria CAPSI.<br />
Fonte: Elaborado pelo autor.<br />
Na última etapa, foi apresentado aos participantes<br />
os principais dados dessa ação coletiva,<br />
públicos atingidos, retorno da comunidade,<br />
além de ser oportunizado ao grupo um<br />
momento de relato de experiência, quando<br />
cada projeto desenvolvido oportunizou novas<br />
experiências e descobertas.<br />
Da exploração à evolução<br />
O ato de descobrir exige a crença no potencial<br />
das habilidades criativas. O projeto Descoberta<br />
possibilitou um processo de transformação<br />
de desafios em oportunidades.<br />
Com essa finalidade, foram desenvolvidos<br />
Outra descoberta do projeto foi na utilização<br />
de ferramentas virtuais, compartilhamento<br />
dessas ações do projeto. Essa experiência<br />
foi muito rica, pois o espaço virtual promoveu<br />
interação entre o conhecimento de <strong>Educação</strong><br />
Especial e sociedade civil, que, muitas<br />
vezes, desconhece a existência desses serviços.<br />
Diante do retorno de pessoas dos mais<br />
variados lugares do Brasil, por meio de ferramentas<br />
como o WhatsApp e o Facebook, foi<br />
possível visualizar <strong>uma</strong> futura atividade de<br />
fomento e criação de <strong>uma</strong> cultura de valorização<br />
dos serviços de educação especial.<br />
Nas experiências e ações que aconteceram<br />
na XIII Semana da pessoa com deficiência de<br />
Itajaí, seria possível escrever um novo relato<br />
apenas sobre os aprendizados, mas gostaria<br />
de destacar dois exemplos dessa rica experiência:<br />
“Roda de Conversa sobre Saúde Mental”,<br />
que aconteceu no CEI Diva, no interior<br />
84 Descoberta
do Município, que oportunizou <strong>uma</strong> troca<br />
muito rica com o psiquiatra e dois psicólogos<br />
da área de saúde. Nesse encontro foi possível<br />
verificar quantos conhecimentos podemos<br />
compartilhar nesses espaços e verificar<br />
o potencial de um trabalho interdisciplinar.<br />
Outra experiência que aconteceu durante<br />
a organização do SEMEIE foi a definição do<br />
desafio de produzir um vídeo sobre práticas<br />
inclusivas no ensino comum. O material final<br />
dessa ação gerou um vídeo que relata a experiência<br />
da professora na inclusão de atividades<br />
de libras a atividades curriculares. O<br />
mais precioso é seu relato sobre o papel do<br />
processo de inclusão e como essa experiência<br />
transformou a relação de aprendizagem<br />
de seu aluno surdo em sua sala. Esse vídeo<br />
foi publicado no site da prefeitura e teve<br />
mais de 20 mil visualizações.<br />
Para finalizar, encontrar oportunidades<br />
quase sempre é resultado da percepção do<br />
problema. Alg<strong>uma</strong>s vezes ela aparece como<br />
desejo: “Eu gostaria que minha sala de recur-<br />
sos tivesse...”. Outros vezes aparece como<br />
reclamação: “Me irrita não ter em minha sala<br />
...”. A partir dessa experiência, posso afirmar<br />
que sempre é possível encontrar <strong>uma</strong> oportunidade<br />
se refinarmos nossa percepção e<br />
utilizarmos nossa habilidade criativa.<br />
Referências<br />
BRASIL. Lei Nº 13.005, de 25 de junho de<br />
2014. Aprova o Plano Nacional de <strong>Educação</strong><br />
- PNE e dá outras providências. Diário Oficial<br />
[da] República Federativa do Brasil, Poder<br />
Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Seção<br />
1, n. 120-A, edição extra, p. 1-7.<br />
BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong>. Secretaria<br />
de <strong>Educação</strong> Especial. Política nacional de<br />
<strong>Educação</strong> Especial na perspectiva da <strong>Educação</strong><br />
<strong>Inclusiva</strong>. Brasília: MEC/SEESP, 2008.<br />
FREIRE, P. <strong>Educação</strong> e mudança. 12. ed. Rio<br />
de Janeiro: Paz e Terra, 1999.<br />
Erickson Jones Lima<br />
85
Práticas de <strong>Educação</strong> Física<br />
na <strong>Educação</strong> Infantil<br />
Créditos<br />
Secretário de <strong>Educação</strong><br />
Edison D’Ávila<br />
Direção Geral<br />
Coordenadora Técnica<br />
Prof. Dra. Sandra Cristina Vanzuita da Silva<br />
Diretor da Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações Educativas<br />
Prof. Wladimir José Roslindo<br />
Organização:<br />
Erickson Jones Lima<br />
Prof. Regina de Jesus Almeida<br />
Apoio:<br />
Prof. Daniela Christiane da Silva dos Santos<br />
Diagramação<br />
Bresciani Design | Lucas Bresciani<br />
Revisão<br />
Janete Bridon