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Saberes Necessarios para uma Educação Inclusiva

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<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong>


2<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Editorial<br />

<strong>Saberes</strong> necessários <strong>para</strong><br />

<strong>uma</strong> educação inclusiva<br />

Prof.º Wladimir José Roslindo<br />

Diretor da Diretoria de <strong>Educação</strong><br />

Integral e Ações Educativas<br />

A Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações Educativas<br />

– DEIN, executa, acompanha, avalia, planeja e<br />

desenvolve ações monitorando sistematicamente<br />

a execução das práticas educativas em tempo<br />

integral, seja coordenando a criação, a implantação<br />

e a implementação de programas educacionais<br />

<strong>para</strong> a <strong>Educação</strong> Básica. Na estrutura organizacional<br />

da DEIN, incluem, além da supervisão<br />

em <strong>Educação</strong> Integral, <strong>Educação</strong> Especial e Esporte<br />

Escolar, os seguintes programas educacionais:<br />

Gestão Compartilhada, Cultura e Travessura,<br />

Leitura/Prolei, Diversidade Étnico-Racial, Gênero<br />

e Combate ao Bullying e <strong>Educação</strong> Ambiental.<br />

Por isso, a oportunidade de relatar nesta publicação,<br />

experiências exitosas do Programa de<br />

Diversidade Étnico-Racial, Gênero e Combate ao<br />

Bullyng e da Supervisão de <strong>Educação</strong> Especial<br />

através de práticas oriundas das unidades de ensino<br />

da Rede Municipal, significa compartilhar<br />

aprendizados em atividades do cotidiano das<br />

ações da DEIN.<br />

Na primeira sessão da revista, trataremos de práticas<br />

que rementem a possibilidades do ensino<br />

da história africana e afro-brasileira nas unidades<br />

de educação básica. Estas reflexões se fazem necessárias,<br />

pois de acordo com IBGE (2014), nossa<br />

nação é composta por 54% de pretos e de pardos.<br />

Sabe-se que há correlação entre pertencimento<br />

etnico-racial e sucesso escolar, indicando, portan-


to, que é necessária firme determinação <strong>para</strong> que<br />

a diversidade cultural brasileira passe a integrar<br />

o ideário educacional. Não como um problema,<br />

mas como um rico acervo de valores, posturas e<br />

práticas que devem conduzir ao melhor acolhimento<br />

e maior valorização dessa diversidade no<br />

ambiente escolar.<br />

Salientamos a Lei 10.639/03, de 9 de janeiro de 2003,<br />

que simboliza um marco histórico, tornando-se<br />

simultaneamente um ponto de chegada das lutas<br />

antirracistas no Brasil e um ponto de partida<br />

<strong>para</strong> a renovação da qualidade social da educação<br />

brasileira. Ciente desses desafios, o Conselho<br />

Nacional de <strong>Educação</strong>, já em 2004, dedicou-se<br />

ao tema, em diálogo com reivindicações históricas<br />

dos movimentos sociais, em especial do movimento<br />

negro, elaborou um parecer e exarou resolução,<br />

homologada pelo Ministro da <strong>Educação</strong>,<br />

no sentido de orientar os sistemas de ensino e<br />

as instituições dedicadas à educação, <strong>para</strong> que<br />

dediquem cuidadosa atenção à incorporação da<br />

diversidade da sociedade brasileira nas práticas<br />

escolares.<br />

Na segunda sessão desta publicação apresentamos<br />

relatos da <strong>Educação</strong> Especial, modalidade<br />

que constituiu elemento marcante na constituição<br />

de políticas públicas promotoras de <strong>uma</strong><br />

educação de qualidade. Políticas instituídas <strong>para</strong><br />

atender a necessidade histórica da educação brasileira<br />

em promover as condições de acesso, participação<br />

e aprendizagem aos estudantes com deficiência,<br />

transtornos globais de desenvolvimento<br />

e altas habilidades superdotação. Tais propostas<br />

ocorrem por meio de diferentes serviços como:<br />

Atendimento Educacional Especializado nas salas<br />

de recurso multifuncionais; Interpretação em<br />

Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS; Apoio nas<br />

Atividades de Vida Diária (AVD’s); Atendimento<br />

Especializado; e outras que promovam a acessibilidade<br />

das práticas pedagógicas.<br />

Estas ações são estruturadas n<strong>uma</strong> concepção<br />

que merece destaque, intituladas de educação<br />

inclusiva. São atividades de apoio à escola comum,<br />

no cumprimento de sua função social que<br />

é o acesso à educação enquanto direito de todos.<br />

Tais ações visam a constituição de sistemas de<br />

ensino mais inclusivos, que se caracteriza em propostas<br />

pedagógicas que valorizem as diferenças<br />

e eliminem barreiras.<br />

Assim, os relatos aqui apresentados tem essa<br />

pretensão de “propor um diálogo entre conhecimentos<br />

de educadores e sua prática” apontando<br />

<strong>para</strong> alternativas na construção de práticas mais<br />

inclusivas, comprometidas com mudanças, e com<br />

o princípio de democracia, que rejeita qualquer<br />

forma de discriminação, dominação e integra<br />

<strong>uma</strong> atitude de inovação e renovação na crença<br />

de que é possível transformar.


Sumário<br />

Diversidade Étnico-Racial | Palavra do Secretário ................................. 6<br />

Depoimentos ......................................................................................................................... 8<br />

ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas<br />

Sidneya Silva dos Santos ................................................................................................. 10<br />

Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola<br />

Cíntia Aparecida da Silva .................................................................................................. 16<br />

Respeito a si e ao outro, reconhecendo as diferenças<br />

Maierly Santos Souza ...................................................................................................... 22<br />

Viajando pela diversidade: eu e meus heróis<br />

Lucimara dos Santos ........................................................................................................ 26<br />

A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza<br />

Geni Terezinha Cardoso Gonçalves ............................................................................... 32<br />

Resgate da identidade negra em Itajaí<br />

Fábia Simone de Aguiar.................................................................................................... 38<br />

Gincana pedagógica: desafio cultural<br />

Daniela Silveira D´Ávila Werner ...................................................................................... 42


<strong>Educação</strong> Especial | Palavra do Secretário ............................................... 48<br />

A inclusão do aluno com deficiência no Ensino Fundamental dos anos iniciais<br />

Daniela Cristina Furtado | Terezinha Aparecida Buss de Carvalho<br />

Gisele Cristina Régis de Souza ...................................................................................... 50<br />

Uma visão cidadã no Centro de <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Suriane Latini | Luciana Otto Freire ............................................................................... 54<br />

Novas descobertas no mundo Down<br />

Simone Conti Pereira ........................................................................................................ 58<br />

Os Mosqueteiros<br />

Karina Pickering Pollheim ............................................................................................... 66<br />

Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!<br />

Janine Calixto ..................................................................................................................... 72<br />

Descoberta<br />

Erickson Jones Lima ........................................................................................................ 80


6<br />

Diversidade<br />

Étnico-Racial<br />

Palavra do Secretário<br />

Prof. Edison d’Ávila<br />

Secretário Municipal de <strong>Educação</strong><br />

No âmbito da Secretaria Municipal de <strong>Educação</strong><br />

de Itajaí, o Programa Diversidade Étnico-Racial,<br />

de Gênero e Combate ao Bullying se constitui<br />

num conjunto de ações assertivas e eficientes<br />

pela conquista de mestres e educandos <strong>para</strong> a<br />

h<strong>uma</strong>nização das relações sociais, na escola e<br />

fora dela, através da eliminação de toda forma de<br />

discriminação.<br />

O fortalecimento institucional do Programa se<br />

dá pela existência de Supervisão Educacional específica<br />

na estrutura da Secretaria Municipal de<br />

<strong>Educação</strong>, integrante das Diretorias de Ensino; o<br />

que assegura os meios legais e administrativos<br />

capazes de implementar as políticas públicas<br />

<strong>para</strong> a educação das relações étnico-raciais, de<br />

gênero e de combate ao bullying, nas unidades<br />

escolares da rede municipal de ensino.


As normas legais de origem federal e aquelas produzidas<br />

pelo Município de Itajaí, quais sejam, a<br />

obrigatoriedade do ensino da História da cultura<br />

afro-brasileira e indígena (2003); a implementação<br />

do Programa Municipal de <strong>Educação</strong> <strong>para</strong> a<br />

Diversidade Étnico-Cultural (2011) e o Plano Municipal<br />

de Promoção da Igualdade Racial de Itajaí<br />

(2011) têm sido norteadoras do programa e de<br />

projetos educativos que envolvem, a cada ano,<br />

milhares de professores, alunos e pais.<br />

O conjunto de toda esta obra construída pelo<br />

Programa Diversidade Étnico-Racial, de Gênero e<br />

Combate ao Bullying se compõe de ações como<br />

formação continuada <strong>para</strong> o cotidiano dos atores<br />

envolvidos no processo de ensino-aprendizagem;<br />

produção/utilização de materiais de aprendizagem<br />

que promovam a diversidade; formação de<br />

grupo de reeditores do Programa <strong>para</strong> fortalecimento<br />

da idéia e do trabalho em cada unidade<br />

escolar; eventos de culminância e celebração (kizombas,<br />

blitzes, etc.) <strong>para</strong> construção de espaços<br />

de diálogo e divulgação entre os atores/comunidade<br />

e as diferentes temáticas do Programa; integração<br />

com parceiros institucionais Secretarias/<br />

Fundações/COMED/CONEGI/COMDIM/ITJ.<br />

Deste modo, Educar <strong>para</strong> a Diversidade tem sido<br />

<strong>uma</strong> ação constante do Programa Diversidade<br />

Étnico-Racial, de Gênero e Combate ao Bullying,<br />

de maneira a implementar essa política pública<br />

no âmbito do Município de Itajaí, na área da educação,<br />

a enfrentar o preconceito, racismo e discriminação,<br />

buscando construir <strong>uma</strong> sociedade<br />

democrática.


8<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Depoimentos<br />

Graziela Cristina Gonçalves<br />

Coordenadora da Coordenadoria de<br />

Promoção da Igualdade Racial, Gênero e<br />

Pessoa com Deficiência<br />

“Discutir as relações étnico-raciais que construíram<br />

esse país, logo, deveria ser <strong>uma</strong> obrigação<br />

de todos os cidadãos, não importando<br />

sua origem ou etnia. São esforços que não<br />

apenas se somam na luta contra o racismo,<br />

como também na consolidação da democracia,<br />

da promoção da cidadania e no reforço à<br />

igualdade social e racial”.<br />

Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />

Professora Membro da Associação<br />

Grupo Mariama<br />

“Valorizar a cultura afro-brasileira como um<br />

componente nacional, estudar a história<br />

mundial com um olhar menos eurocêntrico,<br />

compreender as lutas do movimento negro<br />

pela igualdade social e racial no país, bem<br />

como pela superação do racismo, são etapas<br />

de transformação e contribuição <strong>para</strong> o fim<br />

dasdesigualdades raciais e sociais”.<br />

Eugênia Maria da Silva Brito Francelino<br />

Presidente do Conselho Municipal de<br />

Desenvolvimento da Comunidade Negra<br />

de Itajaí.<br />

“A educação das relações etnicorraciais, vem<br />

oferecer <strong>uma</strong> resposta à demanda da população<br />

afrodescendente e indígena, no sentido<br />

de políticas de ações afirmativas, isto é, de<br />

políticas de re<strong>para</strong>ções, de reconhecimento e<br />

valorização de suas histórias, culturas e identidades.<br />

O resgate da memória coletiva e da<br />

história da comunidade negra e indígena não<br />

interessa apenas aos alunos de ascendência<br />

nessas etnias, interessa a todos”.<br />

Lucimara dos Santos<br />

Grupo de Trabalho Diversidade,<br />

instituído em 2005<br />

É importante ensinar a história africana e<br />

afro-brasileira nas escolas, <strong>para</strong> que seja garantido<br />

aos estudantes brasileiros o direito<br />

ao conhecimento sobre “A História da África<br />

e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a<br />

cultura negra brasileira e o negro na formação<br />

da sociedade”, <strong>para</strong> que possamos enfim, colocar<br />

um fim no preconceito racial e afirmar<br />

a identidade e orgulho das origens. É isso que<br />

preconiza a lei 10.639/03, além de tratar-se de<br />

<strong>uma</strong> medida re<strong>para</strong>tória e de inclusão que visa<br />

contribuir <strong>para</strong> a construção de <strong>uma</strong> sociedade<br />

mais justa, livre de preconceitos e com<br />

igual oportunidades.<br />

Após <strong>uma</strong> década da adoção do ensino da história<br />

e cultura africanas, muitas escolas, gestores<br />

e professores ainda resistem a trabalhar a lei,<br />

seja por falta de formação do docente, seja por<br />

preconceito racial e religioso ou, até mesmo, por<br />

desinteresse julgando ser a Lei desnecessária.<br />

Se faz urgente discutir os valores civilizatórios<br />

da cultura afro-brasileira nas escolas, <strong>uma</strong> vez<br />

que a presença do negro nos currículos oficiais<br />

muitas vezes é reduzida à <strong>uma</strong> concepção folclorizante<br />

e estereotipada. Nossos currículos<br />

são eurocêntricos e invisibilizam ou restringem<br />

a presença negra a alguns lamentos do período<br />

escravista.


Como diz Mônica Lima, não podemos a despeito<br />

da exigência da lei sair repassando nas salas de<br />

aula informações equivocadas ou tratar o tema<br />

de <strong>uma</strong> maneira idealizada. Então o grande desafio<br />

dos professores hoje com as limitações da<br />

sua formação básica é a obrigatoriedade de ensinar<br />

a história da África e cultura afro-brasileira.<br />

Não há “receitas prontas”, o que conta “talvez”<br />

é a experiência dos professores na hora de<br />

passar os conteúdos, os livros didáticos, a convivência<br />

comunitária, a troca, a solidariedade,<br />

a promoção da identidade negra, o respeito<br />

com os mais velhos e a aceitação da LEI. São<br />

possibilidades de se trabalhar <strong>uma</strong> educação<br />

pluricultural, onde é possível combater a discriminação<br />

e o racismo na educação.<br />

LIMA, Mônica. A África na Sala de Aula: obrigatoriedade<br />

de ensinar história e cultura<br />

africanas é o novo desafio dos professores<br />

brasileiros. In: revista Nossa História. Fevereiro,<br />

2004. n. 4.<br />

Professor Mestre em <strong>Educação</strong> Carlos<br />

Roberto Nascimento<br />

Coordenador do Curso de Pedagogia<br />

do Instituto Cenecista Fayal de Ensino<br />

Superior<br />

A criação da revista “<strong>Saberes</strong> necessários <strong>para</strong><br />

<strong>uma</strong> educação inclusiva” somada a outras iniciativas<br />

exitosas de valorização da diversidade<br />

na cidade de Itajaí, constituir-se-á em mais <strong>uma</strong><br />

ferramenta de promoção de práticas educativas<br />

que reconheçam de forma positiva a presença<br />

dos diferentes grupos étnicos nos diversos segmentos<br />

da sociedade, em especial a compreensão<br />

das lutas dos movimentos negro e indígena<br />

pela igualdade racial e social no Brasil.<br />

Atuo no magistério desde o ano de 1988 e<br />

tenho visto que nessas duas últimas décadas<br />

houve importantes avanços na luta pela igualdade<br />

racial em nosso país, em especial pela<br />

promulgação das leis 10.639/03 que inclui no<br />

âmbito escolar o debate sobre a história africana<br />

e cultura afro-brasileira e a 11.645/08<br />

que inclui também, a questão indígena.<br />

Mais recentemente, a obrigatoriedade, enquanto<br />

componente curricular em cursos<br />

Licenciatura do ensino superior, além da inserção<br />

do conteúdo em disciplinas dos demais<br />

cursos, abriram outras possibilidades<br />

da inclusão de tão importante debate na<br />

formação tanto de docentes, como de profissionais<br />

de diferentes áreas.<br />

Enquanto docente do Instituto Fayal de Ensino<br />

Superior, e lecionando a disciplina de<br />

Diversidade das Relações Etnicorracias, percebo<br />

que, ainda, há muito a ser feito <strong>para</strong><br />

que de fato se possa discutir no âmbito das<br />

escolas e, por conseguinte, na sociedade em<br />

geral as relações etnicorraciais que construíram<br />

o Brasil, pois que historicamente a figura<br />

do negro e do índio tem sido folclorizada,<br />

apresentadas como exóticas e sinônimas de<br />

sofrimento e miséria.<br />

O debate necessita ser aprofundado, pois<br />

ainda há muita resistência dentro e fora dos<br />

muros das escolas, daqueles que possuem<br />

preconceitos arraigados no seu imaginário<br />

social, ou que entendem a inclusão da educação<br />

das relações etnicorraciais desnecessárias,<br />

ideologizados pela noção da falsa<br />

“democracia racial”, não percebem a manutenção<br />

do racismo e as diferenças de oportunidades<br />

desses grupos étnicos.


10<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

ABAYOMI<br />

Bonecos e<br />

bonecas<br />

africanas<br />

Sidneya Silva dos Santos<br />

A educação é um processo histórico no qual<br />

procuramos reafirmar a condição do ser h<strong>uma</strong>no<br />

em um ser que se distingue de todos os<br />

outros, no conjunto da natureza e na interação<br />

com o outro, como meio da reflexão da própria<br />

vida, com a capacidade de criar símbolos e de<br />

transmitir conhecimentos produzidos e acumulados<br />

aos seus descentes. Nessa perspectiva,<br />

o processo educacional inclui mecanismos<br />

de socialização, como a educação escolar, a<br />

produção cultural, a “natureza” social h<strong>uma</strong>na.<br />

Dessa forma, este trabalho pretende contribuir<br />

sobre as diferentes presenças na escola e na<br />

sociedade e sua relação com as transformações<br />

socioculturais dos últimos tempos.<br />

A proposta deste projeto foi possibilitar <strong>uma</strong><br />

aventura por meio dos estudos sobre os contos<br />

e as brincadeiras lúdicas de matriz africana. Por<br />

meio de pesquisas, de estudos sobre a história<br />

e sobre a cultura afro-brasileira, destacamos a


importância de valorizar a diversidade cultural<br />

dentro do âmbito escolar, criando espaços com<br />

o desenvolvimento de atividades variadas envolvendo<br />

as bonecas e os bonecos Abayomis.<br />

O projeto ABAYOMI: bonecos e bonecas africanas<br />

visou o resgate da contribuição da<br />

cultura da população negra nas artes e nas<br />

brincadeiras presentes em nossa cultura.<br />

Para isso, foram elencados os seguintes objetivos<br />

específicos:<br />

• Conhecer o significado da palavra<br />

ABAYOMI.<br />

• Aprender a confeccionar as bonecas e<br />

bonecos Abayomi.<br />

• Resgatar a história e a cultura afro-brasileira<br />

por meio da brincadeira com bonecos<br />

feitos de pano.<br />

• Desenvolver a coordenação motora fina.<br />

• Conhecer e explorar as noções de formas,<br />

texturas e tamanhos.<br />

• Identificar semelhanças e diferenças no<br />

esquema corporal.<br />

• Exercitar a identidade e a autonomia nas<br />

opções de escolhas dos materiais.<br />

• Brincar com as Abayomis.<br />

• Socializar o conhecimento em forma de<br />

exposição.<br />

Levando em consideração a Lei 10.639, que<br />

“[...] estabelece as diretrizes e bases da educação<br />

nacional, <strong>para</strong> incluir no currículo oficial<br />

da Rede de Ensino a obrigatoriedade da<br />

temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’<br />

[...]” (BRASIL, 2003, p. 1), este projeto proporcionou<br />

às crianças um conhecimento<br />

rico de vocabulários e diversas formas de linguagens<br />

oriundas da cultura afro-brasileira<br />

(SILVA, 2012).<br />

A metodologia utilizada neste trabalho foi <strong>uma</strong><br />

narrativa, um relato de experiência. Na roda da<br />

novidade, em um momento rotineiro que fazemos<br />

<strong>uma</strong> vez por semana, eu sugeri às crianças<br />

<strong>uma</strong> proposta nova de atividade: “Vamos fazer<br />

as bonecas ABAYOMI?”. As meninas prontamente<br />

responderam: “Vamos!”. Já os meninos,<br />

na mesma hora, hesitaram: “Boneca é coisa<br />

de menina!”. Então eu respondi: “Vejo vocês<br />

brincando com bonecos do Batman, Homem<br />

-Aranha, que são heróis das nossas crianças.<br />

Se vocês brincam com bonecos também po-<br />

12 ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas


dem fazer bonecos”. “Se forem bonecos sim!”,<br />

responderam os meninos. Mas, afinal, o que é<br />

um boneco ou <strong>uma</strong> boneca ABAYOMI? Para<br />

descobrir o que era, combinamos de pesquisar<br />

com os pais o significado da palavra ABAYOMI.<br />

ABAYOMI: “Encontro precioso”,<br />

“Aquele que traz felicidade e alegria”<br />

No outro dia, as crianças eufóricas trouxeram<br />

suas pesquisas, cheias de informações,<br />

fotos e figuras que foram cuidadosamente<br />

lidas e expostas <strong>para</strong> o grupo e mais tarde<br />

<strong>para</strong> todo o Centro de <strong>Educação</strong> Infantil.<br />

Todos aprenderam que a palavra ABAYOMI<br />

era de origem iorubá, um dialeto falado na<br />

África, que, em nossa língua, pode ter vários<br />

significados, como: “encontro precioso”<br />

ou “aquele que traz alegria”. Identificamos<br />

as letras do alfabeto que formam a palavra<br />

ABAYOMI e pintamos cada <strong>uma</strong> delas com<br />

tinta guache. No entanto, como essa palavra<br />

saiu da África e veio <strong>para</strong>r no Brasil? Foi<br />

o questionamento que um aluno fez. Aproveitei<br />

a pergunta <strong>para</strong> respondê-la por meio<br />

de <strong>uma</strong> história. Contei que as mães negras,<br />

como eu, que vieram da África <strong>para</strong> o Brasil,<br />

há muitos anos, inventaram essas bonecas<br />

e esses bonecos de pano <strong>para</strong> que seus filhos<br />

brincassem e não chorassem durante<br />

a longa viagem da África até o Brasil. Mostrei<br />

no mapa, <strong>para</strong> as crianças, onde a África<br />

se localiza, os mares percorridos e o Brasil.<br />

Com retalhos de panos em mãos, aproveitei<br />

<strong>para</strong> ensinar às crianças a fazer as Abayomis,<br />

dramatizando ser a mãe dessa história. Logo<br />

apresentei o material <strong>para</strong> a confecção dos<br />

bonecos e bonecas <strong>para</strong> as crianças.<br />

Mãos à obra<br />

As crianças tiveram a oportunidade de escolher<br />

os mais variados retalhos de tecidos de<br />

acordo com o gosto pessoal de cada <strong>uma</strong>.<br />

O critério básico a ser seguido era o corpo<br />

do boneco ou boneca a ser feito de tecido<br />

preto e a roupa poderia ser de qualquer cor<br />

ou estampa. Fazer os nós <strong>para</strong> dar o formato<br />

da malha preta ao corpo dos bonecos e bonecas<br />

foi um desafio, mas as crianças não<br />

desanimaram. Com muita paciência, a pro-<br />

Sidneya Silva dos Santos<br />

13


fessora e as agentes ensinaram cada criança<br />

a dar os nós necessários <strong>para</strong> formarem seus<br />

bonequinhos.<br />

Após todos os corpinhos prontos, com<strong>para</strong>mos<br />

as semelhanças e as diferenças do nosso<br />

corpo com o corpo dos bonecos, brincando<br />

de “Mestre mandou”. Exemplo: Mestre<br />

mandou por a sua mão na mão da Abayomi.<br />

Então, partimos <strong>para</strong> a próxima etapa: vestir<br />

e caracterizar os bonecos e as bonecas<br />

Abayomis. Fizemos a classificação dos tecidos<br />

por cores. Depois, percebemos a diferença<br />

entre os tecidos lisos e estampados e as<br />

texturas dos tecidos - uns eram de algodão,<br />

outros de malha.<br />

Observamos os tamanhos dos bonecos e<br />

cortamos os tecidos escolhidos pelas crianças.<br />

Realizamos a contagem dos bonecos e<br />

das bonecas e observamos suas medidas.<br />

Enfim, as crianças puderam brincar com<br />

suas criações. Vê-los brincar com os bonecos<br />

e as bonecas Abayomis, feitos de pano<br />

por suas próprias mãos, com a mesma alegria<br />

que brincam com suas Barbies e Batmans<br />

foi, <strong>para</strong> minha vivência de educadora,<br />

<strong>uma</strong> experiência inesquecível.<br />

O desafio e as aprendizagens<br />

O desenvolvimento dessa atividade permitiu<br />

a aquisição de vários conhecimentos e quebra<br />

de <strong>para</strong>digmas. A pesquisa possibilitou a<br />

interação com os pais e o contato com um<br />

conhecimento novo e <strong>uma</strong> vivência lúdica de<br />

duas tradições da cultura africana: a contação<br />

de história oral e a confecção de bonecas de<br />

pano. A tentativa de fazer os nós <strong>para</strong> formar<br />

o corpo foi um desafio que eles venceram com<br />

orgulho, porque, mais tarde, já conseguiam<br />

fazer sozinhos os corpos dos bonecos sem a<br />

nossa ajuda. O relato dos pais durante a exposição<br />

que fizemos dos nossos trabalhos,<br />

sobre a empolgação dos filhos com a palavra<br />

nova e o brinquedo novo que aprenderam, foi<br />

gratificante. Perceber as crianças falando sobre<br />

suas próprias roupas, que suas camisetas<br />

eram feitas de malha, demonstrou que elas<br />

assimilaram os conceitos trabalhados de formas,<br />

de medidas e de texturas. O melhor de<br />

tudo foi que elas aprenderam a brincar com os<br />

bonecos e as bonecas Abayomis, os quais representam<br />

parte de <strong>uma</strong> diversidade cultural a<br />

ser valorizada e respeitada por todos.<br />

14<br />

ABAYOMI Bonecos e bonecas africanas


Referências<br />

BRASIL. Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de<br />

2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro<br />

de 1996, que estabelece as diretrizes e<br />

bases da educação nacional, <strong>para</strong> incluir no<br />

currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade<br />

da temática “História e Cultura<br />

Afro-Brasileira”, e dá outras providências.<br />

Diário Oficial [da] República Federativa do<br />

Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 jan.<br />

2003. Seção 1, no 8, p. 1.<br />

SILVA, S. M. de. Experiência Abayomi. Niterói:<br />

UFF, 2012.<br />

Sidneya Silva dos Santos<br />

15


16<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Direitos<br />

h<strong>uma</strong>nos:<br />

diversidade<br />

étnico-racial<br />

e de gênero<br />

na escola<br />

Cíntia Aparecida da Silva<br />

Este trabalho teve início em 2015, com os<br />

8os anos, após o estudo sobre Revolução<br />

Francesa e Brasil colonial. Ele teve continuidade,<br />

em 2016, nos 9os anos com o estudo<br />

das 1ª e 2ª Guerras Mundiais. Em ambas as<br />

turmas, os conteúdos programáticos foram<br />

associados aos Direitos H<strong>uma</strong>nos e à atualidade,<br />

com um enfoque na diversidade étnico-racial<br />

e de gênero, partindo do princípio<br />

de que todos somos sujeitos históricos e que<br />

possuímos poder <strong>para</strong> influenciar a história<br />

positiva ou negativamente.<br />

Inicio a justificativa <strong>para</strong> a elaboração deste<br />

projeto com a seguinte citação:


O papel social do professor e da professora<br />

é discorrer sobre o preconceito, falar<br />

abertamente, sem medos. Falar com<br />

sutileza, sem ofender os que cometem o<br />

crime da intolerância. Com afetividade e<br />

boa argumentação conseguimos barrar<br />

não apenas o preconceito, como também,<br />

fazemos as pessoas que cometem<br />

hostilidades perceberem o quanto são<br />

ingênuas ou ideologicamente conduzidas<br />

ao reproduzir o que a própria sociedade<br />

reproduz e a partir daí sensibilizar<br />

o alunado ao caminho da tolerância e do<br />

respeito mútuo. (SILVA, 2013, p. 16).<br />

Partindo desse princípio, acredito que a escola<br />

tem papel fundamental na formação de<br />

crianças e de adolescentes críticos e com<br />

condições de possuírem argumentos fortes<br />

e capazes de desenvolver práticas que influenciem<br />

positivamente a sociedade. É de<br />

extrema importância, portanto, trabalhar<br />

em sala os Direitos H<strong>uma</strong>nos com o objetivo<br />

de levar novos conhecimentos relacionados<br />

aos conteúdos programáticos. Dessa forma,<br />

o estudante pode relacionar os fatos históricos<br />

com a realidade em que ele vive, percebendo-se<br />

como sujeito dessa história e que<br />

a nossa realidade é <strong>uma</strong> construção sociocultural.<br />

Um jovem com leituras sobre diversidade étnico-racial<br />

e de gênero poderá ser um sujeito<br />

crítico e capaz de detectar comportamentos<br />

intolerantes na sociedade e promover ações<br />

<strong>para</strong> combatê-las. Assim, o objetivo deste<br />

projeto foi levar os alunos a compreenderse<br />

como Sujeitos Históricos com poder <strong>para</strong><br />

influenciar o comportamento em sociedade,<br />

partindo do conhecimento sobre os Direitos<br />

H<strong>uma</strong>nos com enfoque na diversidade étnico-racial<br />

e de gênero. A partir desse pressuposto,<br />

buscamos desenvolver especificamente<br />

os seguintes objetivos:<br />

• Perceber a necessidade e a importância<br />

da criação dos Direitos H<strong>uma</strong>nos.<br />

• Compreender que somos todos iguais perante<br />

a lei e que temos direito à liberdade.<br />

Assim sendo, não existe lógica em se<br />

sentir superior por questões étnicas-raciais,<br />

de gênero e por credos religiosos.<br />

• Transmitir, por meio de cartazes, <strong>uma</strong><br />

ideia sobre Direitos H<strong>uma</strong>nos e a boa<br />

convivência em sociedade sem a existência<br />

de preconceito ou discriminação.<br />

• Conhecer e analisar a história dos africanos<br />

no Brasil e sua contribuição sociocultural<br />

com leituras de trechos do<br />

livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto<br />

Freyre.<br />

• Elaboração de maquetes sobre a sociedade<br />

colonial brasileira <strong>para</strong> destacar a<br />

casa grande e a senzala.<br />

• Observação e análise de telas feitas pelos<br />

artistas da Missão Francesa no Brasil<br />

Colonial.<br />

• Conhecer um pouco da contribuição dos<br />

povos africanos <strong>para</strong> a cultura brasileira,<br />

focando a influência nas brincadeiras infantis.<br />

• Conhecer o pensamento nazista, percebendo<br />

os danos causados à h<strong>uma</strong>nidade<br />

com a perseguição às minorias, entre<br />

elas os negros e os homossexuais.<br />

• Analisar a sociedade atual percebendo<br />

nela os preconceitos intrínsecos relacionados<br />

aos negros e aos homossexuais.<br />

• Com<strong>para</strong>r as perseguições nazistas contra<br />

negros e homossexuais com as atrocidades<br />

e as intolerâncias atuais – exemplo:<br />

ataque à boate gay nos Estados<br />

Unidos da América.<br />

• Planejar ações que promovam a reflexão<br />

dos problemas de preconceito e intolerância<br />

existentes em nossa sociedade,<br />

objetivando <strong>uma</strong> mudança no comportamento<br />

coletivo no ambiente escolar.<br />

• Elaborar um infográfico com desenhos de<br />

símbolos que lembrem o quanto a guerra,<br />

o nazismo, a intolerância, o fascismo e a<br />

violência são nocivos a <strong>uma</strong> sociedade.<br />

• Criar <strong>uma</strong> página no Facebook <strong>para</strong> postagens<br />

e discussões sobre questões étnicas-raciais<br />

e de gênero.<br />

• Analisar a letra da música Racismo é<br />

burrice <strong>para</strong> desenvolver, criativamente,<br />

<strong>uma</strong> apresentação <strong>para</strong> o Kizomba.<br />

Este projeto foi desenvolvido com uso da<br />

metodologia da problematização - <strong>uma</strong> metodologia<br />

ativa muito utilizada no Ensino<br />

Superior. No nosso caso, ela foi adaptada<br />

<strong>para</strong> ser usada em sala com estudantes de<br />

séries finais do Ensino Fundamental. Essa<br />

metodologia é conhecida também como Método<br />

Maguerezo (Método do Arco) (Figura<br />

18 Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola


1). Uma metodologia que tem como base a<br />

realidade que deve ser observada, <strong>para</strong> retirar<br />

pontos chaves; leituras teóricas que, no<br />

nosso contexto, foram feitas pela professora<br />

e repassada aos estudantes; elaboração de<br />

hipóteses de solução; e, por fim, a aplicação<br />

na realidade.<br />

Proposta de Maguerez<br />

Método de Arco<br />

Pontos Chaves<br />

Observação da<br />

realidade (problema)<br />

Teorização<br />

Hipóteses de Solução<br />

Aplicação à realidade<br />

(prática)<br />

REALIDADE<br />

Figura 1 – Dinâmica do Método de Maguerez<br />

Fonte: Unifesp didática (2014).<br />

Com o intuito de apresentar a relevância<br />

dessa metodologia, cito Colombo e Berbel:<br />

Berbel (1995, 1998 entre outros), defensora<br />

da Metodologia da Problematização,<br />

a propôs inicialmente como um<br />

caminho de ensino e mais recentemente<br />

como de pesquisa, como um processo<br />

rico, porém complexo, demandando<br />

esforços pelos que a desenvolvem, no<br />

sentido de seguir as cinco etapas do<br />

Arco de Maguerez e alcançar os resultados<br />

que suas características prometem<br />

como potencial educativo. (COLOMBO;<br />

BERBEL, 2006, p. 3355).<br />

O desenvolvimento do projeto<br />

Os conteúdos escolhidos <strong>para</strong> serem relacionados<br />

aos direitos H<strong>uma</strong>nos foram: 8o ano<br />

- “Revolução Francesa”, a “Declaração dos<br />

Direitos do Homem” e “A sociedade no Brasil<br />

Colonial” com a “Missão Francesa”. Para o<br />

9o ano, foram: as “1ª e 2ª Guerras Mundiais”<br />

e a “ONU com a Declaração Universal dos<br />

Direitos do Homem”, aprovada no dia 10 de<br />

dezembro de 1948. O foco foi a diversidade<br />

étnico-racial e de gênero. Assim sendo, a<br />

proposta foi de analisar a realidade em que<br />

o estudante está inserido, destacar alguns<br />

pontos <strong>para</strong> estudo, que foram as questões<br />

de diversidade étnico-raciais e de gênero.<br />

Posteriormente, entraram as pesquisas feitas<br />

pelos estudantes e pela professora (neste<br />

último caso, com explicações em sala sobre<br />

suas leituras. Os estudantes expuseram<br />

suas pesquisas em forma de seminários dirigidos<br />

pela professora estilo roda de conversa).<br />

Criamos hipóteses sobre os problemas<br />

sociais e, por fim, houve a elaboração de<br />

ações <strong>para</strong> haver mudança da realidade.<br />

Em 2015, com os alunos das turmas do 8o<br />

ano, foi desenvolvida <strong>uma</strong> aula expositiva<br />

dialogada sobre Revolução Francesa, pesquisa<br />

sobre direitos h<strong>uma</strong>nos, aula com vídeos<br />

(“Era <strong>uma</strong> vez outra Maria” e “Minha<br />

vida de João”). Diálogos sobre sexualidade<br />

e relato da história de Arthur, um menino<br />

transgênero brasileiro. Por fim, houve a elaboração<br />

de cartazes sobre Direitos H<strong>uma</strong>nos<br />

e a sua importância <strong>para</strong> <strong>uma</strong> vida em<br />

sociedade sem intolerâncias. O objetivo era<br />

informar os membros da escola sobre esses<br />

direitos e instigar a curiosidade pelo tema.<br />

Para falar sobre as questões étnico<br />

-raciais, foi escolhido o conteúdo sobre o<br />

Brasil Colonial. Trabalhamos com a leitura<br />

do livro Casa Grande e Senzala – utilizamos<br />

citações do livro. Houve <strong>uma</strong> aula expositiva<br />

dialogada sobre a sociedade colonial e suas<br />

características, imagens sobre a arquitetura<br />

do período, destacando a casa grande, a<br />

senzala, o engenho e a igreja. Telas da Missão<br />

Francesa foram usadas nas aulas <strong>para</strong><br />

explicar a vida em sociedade, modo de vida,<br />

vestimentas, alimentação, contribuições dos<br />

africanos em conhecimentos de culinária,<br />

medicina, dança, música, rituais religiosos,<br />

entre outros. Alg<strong>uma</strong>s das telas de Debret e<br />

Rugendas foram expostas na Kizomba com<br />

explicações feitas pelos estudantes. Junto a<br />

essas telas, foram expostas também maquetes<br />

elaboradas pelos estudantes com o tema<br />

Sociedade no Brasil Colonial. O foco foi mostrar<br />

a contribuição do africano na construção<br />

arquitetônica brasileira: Construção de<br />

Igrejas, casas coloniais (casa grande), casa<br />

de câmara e cadeia, estradas e senzalas.<br />

Para dar continuidade ao estudo sobre a<br />

contribuição do africano na formação cultural<br />

do Brasil, foi elaborado um estudo sobre<br />

Cíntia Aparecida da Silva<br />

19


as brincadeiras de origem africanas, como a<br />

Simamakaa, brincadeira originária da Tanzânia;<br />

a música Escravos de Jó, entre outras<br />

cantigas. As músicas foram apresentadas<br />

também na Kizomba, exposição de trabalhos<br />

sobre a diversidade étnico-racial que<br />

acontece na escola no mês de novembro em<br />

comemoração ao Dia da Consciência Negra.<br />

As músicas foram apresentadas em formato<br />

de oficina, momento que os visitantes também<br />

puderam participar. As estudantes que<br />

ficaram como monitoras da oficina estavam<br />

vestidas com roupas que lembram as mulheres<br />

africanas que viveram no Brasil no período<br />

colonial. Com esses trabalhos, foi focada<br />

a história e as contribuições desse povo <strong>para</strong><br />

a formação do Brasil e, <strong>para</strong>lelamente, trabalhadas<br />

as questões de direitos à diversidade<br />

religiosa e à igualdade de direito de todo cidadão.<br />

O trabalho continuou em 2016, com as turmas<br />

do 9o ano. Foram realizadas aulas expositivas<br />

sobre as 1ª e 2ª Guerras Mundiais, a<br />

Organização das Nações Unidas (ONU) e os<br />

direitos h<strong>uma</strong>nos <strong>para</strong> combater as atrocidades<br />

cometidas durante a 2ª Guerra Mundial,<br />

como: intolerância religiosa, racial e de<br />

gênero, entre outras. Houve rodas de conversa<br />

sobre o tema; elaboração de infográfico<br />

com símbolos focando as intolerâncias<br />

da Guerra e da sociedade atual. Os alunos<br />

com<strong>para</strong>ram a intolerância existente na 2ª<br />

Guerra Mundial contra homossexuais e negros<br />

e a existência dessas intolerâncias na<br />

nossa sociedade atual.<br />

Essa segunda parte, nesse momento, não<br />

está concluída. Os infográficos foram construídos<br />

e o próximo passo será fazer estudos<br />

de casos reais e atuais que envolvam intolerância<br />

étnico-racial e de gênero. Posteriormente,<br />

faremos um debate em sala entre os<br />

estudantes sobre essas questões - de um<br />

lado, um grupo a favor da igualdade, combate<br />

ao racismo e combate a homofobia; e, do<br />

outro, um grupo contra.<br />

Serão feitas a leitura e a análise da música<br />

de Gabriel o Pensador - Racismo é Burrice.<br />

A partir dessa música, pretendo elaborar<br />

<strong>uma</strong> apresentação <strong>para</strong> o Kizomba de 2016.<br />

Como sugestão dos próprios alunos, será<br />

criada <strong>uma</strong> página no Facebook <strong>para</strong> postagens<br />

de conteúdos sobre intolerâncias étnico-raciais<br />

e de gênero - será um espaço <strong>para</strong><br />

20<br />

Direitos h<strong>uma</strong>nos: diversidade étnico-racial e de gênero na escola


debates online <strong>para</strong> provocar a reflexão sobre<br />

o assunto.<br />

Resultados parciais: o que<br />

os estudantes demonstram<br />

Como resultado parcial deste trabalho, percebi<br />

que os estudantes demonstram criticidade<br />

na hora de formar opinião sobre as<br />

intolerâncias étnico-raciais e de gênero<br />

existentes em nossa sociedade. Para terminar,<br />

cito Paulo Freire:<br />

Não devemos chamar o povo à escola <strong>para</strong><br />

receber instruções, postulados, receitas,<br />

ameaças, repreensões e punições, mas <strong>para</strong><br />

participar coletivamente da construção de<br />

um saber, que vai além do saber de pura experiência<br />

feito, que leve em conta as suas<br />

necessidades e o torne instrumento de luta,<br />

possibilitando-lhe transformar-se em sujeito<br />

de sua própria história. (FREIRE, 1991, p. 16).<br />

Referências<br />

COLOMBO, A. A.; BERBEL, N. A. N. Aplicações<br />

da metodologia da problematização<br />

com o arco de Maguerez. Uma investigação<br />

no site de pesquisa Cadê. 2006. Disponível<br />

em: . Acesso em: 20 jul. 2016.<br />

FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo:<br />

Cortez, 1991.<br />

SILVA, A. K. L. S. da. Diversidade sexual e de<br />

gênero: a construção do sujeito social. NU-<br />

FEN, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 12-25, jan./jul.<br />

2013.<br />

UNIFESP DIDÁTICA. 8º Encontro: Metodologia<br />

da Problematização e Júri Simulado.<br />

2014. Disponível em: .<br />

Acesso em: 20 out.<br />

2016.<br />

Cíntia Aparecida da Silva<br />

21


22<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Respeito a<br />

si e ao outro,<br />

reconhecendo<br />

as diferenças<br />

Maierly Santos Souza<br />

Em um momento que as atenções estão voltadas<br />

às discussões acerca dos direitos h<strong>uma</strong>nos,<br />

da cidadania e da educação, o presente<br />

trabalho procurou contribuir <strong>para</strong> o<br />

entendimento do desafio que é desenvolver<br />

com os/as alunos/as o gosto pela leitura em<br />

um contexto de formação <strong>para</strong> a cidadania<br />

plena.<br />

O objetivo foi articular cidadania e educação<br />

às relações étnico-raciais por meio da<br />

leitura/literatura, trazendo, <strong>para</strong> essa discussão,<br />

considerações, temáticas e questões<br />

relativas às formas pelas quais o hábito da<br />

leitura pode promover a educação das relações<br />

étnico-raciais, entendida como direito<br />

h<strong>uma</strong>no fundamental. O projeto pretendeu<br />

ainda contribuir <strong>para</strong> o fomento da leitura<br />

na formação de cidadãos, tendo em vista a<br />

construção de relações sociais positivas e o<br />

engajamento em discussões pela eliminação<br />

de toda e qualquer forma de preconceito e<br />

discriminação.<br />

Reconhecer e identificar a diversidade conduzem-nos<br />

a um mundo melhor, onde os<br />

indivíduos podem ter mais chances de serem<br />

incluídos e buscarem suas realizações.<br />

Nessa perspectiva, desenvolvemos o projeto<br />

com os seguintes objetivos:


• Desenvolver o gosto pela leitura.<br />

• Incentivar a verbalização do aluno.<br />

• Levar o aluno a compreender as diversidades.<br />

• Aprender a respeitar o outro, independentemente<br />

de suas peculiaridades.<br />

• Promover discussão sobre os valores h<strong>uma</strong>nos<br />

e a diversidade.<br />

• Perceber-se como diferente e peculiar<br />

em relação ao outro.<br />

Iniciamos com <strong>uma</strong> roda de conversa falando<br />

sobre o tema diversidade. Durante o período<br />

de aplicação da proposta, os alunos receberam<br />

orientações de como proceder com a leitura<br />

e a discussão dos textos em sala de aula.<br />

Eles responderam, também, questões em atividades<br />

extra-classe, relacionadas ao conteúdo,<br />

o qual foi desenvolvido com base nos seguintes<br />

temas: etnia, gênero, modos de pensar,<br />

hábitos e costumes. O intuito foi desenvolver<br />

conceitos como solidariedade, cooperação,<br />

respeito e ajuda mútua <strong>para</strong> que eles pudessem<br />

se familiarizar com a própria diversidade<br />

e a do outro.<br />

Ancorados no texto “Diversidade”, de autoria<br />

de Tatiana Belinky, fizemos <strong>uma</strong> leitura compartilhada<br />

da história, discutimos a leitura<br />

baseados nas seguintes questões: O que é diversidade?<br />

O que é preciso <strong>para</strong> respeitar as<br />

diferenças? Qual o significado da diversidade?<br />

Solicitamos, também, que eles escrevessem<br />

um pequeno texto a partir das seguintes questões:<br />

Na sua percepção, como você identifica<br />

a diversidade nas pessoas? O que é possível<br />

fazer <strong>para</strong> que as pessoas valorizem a diversidade<br />

e respeitem as diferenças entre os indivíduos<br />

em relação ao modo de viver, de ser, de<br />

produzir na escola ou no seu trabalho? Solicitei<br />

ainda aos alunos que lessem e refletissem<br />

sobre os versos finais do livro “Diversidade”:<br />

Tudo é h<strong>uma</strong>no, bem diferente.<br />

Assim, assado, todos são gente!<br />

Cada um na sua e não faz mal,<br />

Diversidade é que é legal!<br />

Vamos, venhamos, isso é um fato!<br />

Tudo igualzinho, ai como é chato!<br />

(BELINKY, 1999).<br />

Pedi, então, aos alunos <strong>para</strong> lembrarem ou<br />

observarem as características do colega,<br />

24 Respeito a si e ao outro, reconhecendo as diferenças


<strong>para</strong> criar <strong>uma</strong> história com base nas diferenças/semelhanças<br />

entre eles, e/ou representassem<br />

em forma de comunicação visual.<br />

Com o intuito de dar mais legitimidade ao<br />

nosso trabalho, passamos a observar e registrar<br />

as diferenças que encontramos na nossa<br />

escola, de maneira gráfica ou fotográfica.<br />

Ao retornar <strong>para</strong> a sala, os/as alunos/as organizaram<br />

as informações em categorias, reunindo<br />

todas as informações colhidas. Eles<br />

discutiram e produziram um cartaz sobre a<br />

diversidade presente na escola.<br />

Todas as questões propostas ao longo do<br />

trabalho foram respondidas na forma escrita<br />

e oral, o que tornou possível o entendimento<br />

do tema em questão. Concluída a<br />

etapa de leitura e discussão das questões<br />

pelos alunos, as respostas por eles fornecidas<br />

às questões concernentes ao processo<br />

de construção do conhecimento foram<br />

amplamente debatidas em <strong>uma</strong> aula. Essa<br />

atividade visou confrontar as ideias que os/<br />

as alunos/as demonstraram acerca do tema<br />

proposto. Ao final da atividade, cada aluno/a<br />

apresentou sua produção e compôs o cartaz<br />

cuja culminância de apresentação se deu na<br />

Semana da Pessoa com Deficiência.<br />

Avaliação: sensibilização dos alunos<br />

A avaliação deu-se com a observação e a<br />

constatação do quanto os/as alunos/as se<br />

sensibilizaram com o tema e conseguiram<br />

perceber a importância de se valorizar como<br />

pessoa. Eles desenvolveram a autoestima e<br />

passaram a acreditar que conseguem aprender.<br />

No momento, já identifico progressos<br />

em relação à diversidade em nosso meio escolar.<br />

Identifiquei que os alunos já haviam<br />

observado, em nossa escola e na sua própria<br />

sala de aula, estudantes com características<br />

físicas e psicológicas diferentes. Com base<br />

nas discussões realizadas e trabalhos produzidos,<br />

verifiquei que os alunos compreenderam<br />

o tema abordado e demonstraram disposição<br />

em viabilizar que a diversidade seja<br />

reconhecida e a indiferença seja combatida.<br />

Referências<br />

BELINSKY, T. Diversidade. São Paulo: Quinteto,<br />

1999.<br />

Maierly Santos Souza<br />

25


26<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Viajando pela<br />

diversidade:<br />

eu e meus heróis<br />

Lucimara dos Santos<br />

Este projeto trata de <strong>uma</strong> proposta construída,<br />

mas não acabada. Ele estará sujeito<br />

a mudanças de acordo com o cotidiano da<br />

sala do Espaço de Vivência e Aprendizagem<br />

(EVA), considerando que a aprendizagem<br />

dos alunos está fundamentada na leitura e<br />

que a sala do EVA é um espaço diferenciado<br />

e especial dentro da escola. Com o projeto,<br />

procurei buscar um novo foco <strong>para</strong> a leitura,<br />

algo que saísse do cotidiano e que prendesse<br />

o interesse dos alunos. Assim, aliei a tecnologia<br />

(histórias digitalizadas) ao cotidiano<br />

das nossas aulas.<br />

A inspiração veio dos livros de literatura infantil<br />

sobre DIVERSIDADE e baseada nos Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais.<br />

O grande desafio da escola é reconhecer<br />

a diversidade como parte inseparável<br />

da identidade nacional e dar a conhecer<br />

a riqueza representada por essa diversidade<br />

etnocultural que compõe o patrimônio<br />

sociocultural brasileiro, investindo<br />

na superação de qualquer tipo de<br />

discriminação e valorizando a trajetória<br />

particular dos grupos que compõem a<br />

sociedade. (BRASIL, 1998, p. 117).<br />

A Lei 10.639 modificou a Lei de Diretrizes e<br />

Bases <strong>para</strong> a <strong>Educação</strong> Nacional (LDB), ampliando<br />

a obrigatoriedade do ensino da his-


tória da África e africanidades, elementos da<br />

cultura no currículo das escolas. De acordo<br />

com Silva:<br />

O principal objetivo das diretrizes é<br />

assegurar (em todos os níveis educacionais)<br />

o reconhecimento e a valorização<br />

da identidade negra, bem como<br />

o reconhecimento da pluralidade étnico<br />

racial, na tentativa de identificar e<br />

superar as manifestações de racismo,<br />

preconceitos e discriminações e, consequentemente,<br />

produzir nas instituições<br />

educacionais <strong>uma</strong> nova relação entre os<br />

diferentes grupos étnicos raciais [...].<br />

(SILVA, 2012, p. 87).<br />

Ainda, conforme o Projeto Político Pedagógico<br />

(PPP) da escola:<br />

É base <strong>para</strong> o ser h<strong>uma</strong>no, em seu desenvolvimento,<br />

o autoconhecimento.<br />

De que adianta ‘inserir’ no sujeito conhecimentos<br />

matemáticos, lingüísticos,<br />

geográficos e científicos? Se ele<br />

não consegue se identificar com o meio<br />

no qual vive, não se reconhece como sujeito,<br />

não se sente integrado à sociedade.<br />

(ITAJAÍ, 2014).<br />

Dessa maneira, o indivíduo pode ser capaz de:<br />

• Aprender conceitos, mas não os usará<br />

<strong>para</strong> transformar o local/meio onde vive.<br />

• Sem o autoconhecimento, por meio da<br />

construção de sua identidade não se forma<br />

cidadãos ativos e atuantes.<br />

Penso na literatura como caminho possível<br />

e interessante <strong>para</strong> “pensar e questionar” assuntos<br />

ligados à diferença. Não posso deixar<br />

de destacar o potencial crítico que a leitura<br />

pode proporcionar, visto que pode levar<br />

a criança a se questionar sobre aquilo que<br />

é lido e visto. Assim, a literatura, além de<br />

conter informações e ensinamentos morais,<br />

possibilita ao leitor desdobramentos de suas<br />

capacidades intelectuais (LAJOLO; ZILBER-<br />

MAN, 2003).<br />

O livro de literatura não é um objeto meramente<br />

destinado a entreter as crianças.<br />

Ele pode ser considerado um suporte que<br />

envolve conteúdos como: crenças, estereótipos,<br />

ideologias e vários outros conceitos.<br />

O mesmo livro que diverte e estimula com<br />

suas histórias e ilustrações é também um<br />

instrumento relevante <strong>para</strong> ensinar conhecimentos<br />

que a criança vai acumulando à<br />

sua bagagem cultural e, dessa maneira, vai<br />

entendendo e repensando o mundo em que<br />

vive; afinal, <strong>uma</strong> história infantil não é só o<br />

famoso “Era <strong>uma</strong> vez” ou “Viveram felizes<br />

<strong>para</strong> sempre”<br />

É na interação com o outro e com o mundo<br />

que vamos construindo nossa identidade. É<br />

por meio da palavra e do olhar do outro que<br />

se compreende e se desperta <strong>para</strong> a tomada<br />

de consciência de si como sujeito. Então, na<br />

relação do leitor com o livro e nas discussões<br />

que podem suscitar dessas leituras, tendo<br />

contato com histórias de protagonistas negros<br />

ou histórias de origem africana, pode-se<br />

abrir caminhos <strong>para</strong> a busca da identidade étnica<br />

da criança negra.<br />

Facilitar o contato das crianças com a literatura<br />

infantil direcionada às questões raciais<br />

podem, somado ao prazer e ao lazer, desenvolver<br />

o hábito e o gosto pela leitura. Além<br />

disso, a leitura tem importante papel na construção<br />

da identidade, pois, na maioria dos livros<br />

mais utilizados pelas crianças nas bibliotecas<br />

ou até mesmo em casa, os negros não<br />

aparecem, e, se aparecem, muitas vezes são<br />

personagens sem voz, sem vez, sem história.<br />

Há histórias que tratam de questões étnico<br />

-raciais; outras que contam histórias do cotidiano.<br />

Há, ainda, as que procuram resgatar<br />

um pouco da cultura africana, entre outros.<br />

Todos com sua importância, pois uns mostram<br />

o negro como pessoas comuns, que vivem<br />

histórias comuns ou fantásticas; outros<br />

por tratarem as questões como o racismo, o<br />

bullying e o preconceito. Isso se faz necessário<br />

e urgente discutir nas escolas e não ignoradas<br />

nas salas de aula. Além disso, as histórias<br />

que mostram o negro também descendente<br />

de povos que têm culturas, tradições e histórias<br />

<strong>para</strong> contar, o que geralmente é deixado<br />

de lado nos currículos escolares. Vivemos em<br />

um mundo constituído pelas diferenças que,<br />

infelizmente, ainda não são devidamente reconhecidas<br />

e respeitadas.<br />

Dessa forma, desenvolvemos um projeto<br />

que propõe <strong>uma</strong> leitura digital, de histórias<br />

baseadas nas questões raciais, que sejam<br />

envolventes, proporcionando leituras diferenciadas,<br />

<strong>para</strong> que a criança possa identifi-<br />

28 Viajando pela diversidade: eu e meus heróis


car-se com os personagens, reconhecendose<br />

também como um herói ou <strong>uma</strong> heroína,<br />

trazendo resultados positivos, <strong>uma</strong> vez que<br />

os alunos passam a considerar as diferenças.<br />

Assim, a escola pode divulgar o lado positivo<br />

da história negra, permitindo que, junto às<br />

crianças, possamos refletir sobre as questões<br />

raciais, familiares, afetivas.<br />

Os objetivos deste trabalho foram garantir<br />

que a escola seja um ambiente de igualdade<br />

de tratamento e de oportunidades e entender<br />

que, nós educadores, temos a responsabilidade<br />

de ampliar e “deslocar” os nossos<br />

conhecimentos; superar o velho e inventar<br />

o novo; promover o respeito mútuo, respeito<br />

ao outro; reconhecer as diferenças; utilizar<br />

como ferramenta a leitura e, consequentemente,<br />

o debate sobre o preconceito, valorização<br />

do povo negro, da cultura africana e<br />

afro-brasileira; destacar a importância destes<br />

na sociedade sem medo nem receios.<br />

Para tanto, é preciso educar as crianças <strong>para</strong><br />

a quebra de preconceitos, promovendo a inclusão<br />

social das etnias <strong>para</strong> <strong>uma</strong> convivência<br />

saudável no espaço em que estão inseridas.<br />

Os objetivos específicos foram:<br />

• Desenvolver as habilidades linguísticas:<br />

falar, escutar, ler e escrever.<br />

• Propor atividades orais em que os alunos<br />

tenham de perguntar opinar, resumir,<br />

com<strong>para</strong>r opiniões, analisar.<br />

• Perceber, por meio da leitura, os diferentes<br />

tipos físicos, religiões, costumes.<br />

• Relacionar as histórias lidas com a vida<br />

cotidiana.<br />

• Promover <strong>uma</strong> reflexão sobre como as<br />

crianças negras constroem sua identidade.<br />

• Desmistificar estereótipos sobre as características<br />

estéticas/físicas.<br />

• Oferecer elementos que permitam as<br />

crianças questionarem e se reconhecerem<br />

como heróis da história.<br />

Despertar o prazer, por meio da leitura, sobre<br />

a importância das diferenças étnico raciais,<br />

respeitada de forma positiva nas páginas dos<br />

livros de literatura virtual sobre diversidade.<br />

Ao atender os objetivos específicos, durante<br />

a execução do projeto, os/as alunos/as deverão<br />

desenvolver as seguintes habilidades:<br />

• Identificar as consequências do racismo<br />

em nossa sociedade.<br />

• Hábito de ler e interpretar histórias.<br />

• Comunicação, criatividade, expressão<br />

crítica<br />

• Respeito às diferenças e às diversas<br />

culturas.<br />

• Aprimorar o gosto pela leitura.<br />

• Linguagem oral, diálogo (histórias infantis).<br />

O projeto<br />

Para iniciar o projeto, histórias relacionadas<br />

ao tema foram pesquisadas, organizadas e<br />

exploradas. Em seguida, foram promovidos<br />

momentos de leitura com livros de literatura<br />

que abordam o tema DIVERSIDADE, já que,<br />

na maioria dos livros infantis mais conhecidos<br />

e utilizados, os negros não aparecem.<br />

Por meio da pesquisa de novas histórias, em<br />

formato de PowerPoint ou PDF, os quais facilitaram<br />

bastante o meu trabalho, haja vista que<br />

cada aluno fica em média duas horas semanais<br />

no Espaço de Vivência e Aprendizagem<br />

(EVA), o tempo é curto e é necessário inovar.<br />

Propor as leituras <strong>para</strong> os pequenos foi <strong>uma</strong><br />

tarefa desafiadora. Integrei a tecnologia,<br />

que facilitou bastante o meu trabalho. O uso<br />

de PowerPoint ou PDF permitiu aos alunos<br />

<strong>uma</strong> maneira lúdica e diferenciada de ler histórias,<br />

o que veio enriquecer a proposta do<br />

EVA, que são as aulas diferenciadas, atividades<br />

que os alunos não realizam em sala no<br />

cotidiano escolar, com histórias que os nossos<br />

alunos não têm acesso nos momentos<br />

de leitura oferecidos pelos professores.<br />

Ao iniciar as leituras de histórias infantis<br />

com foco no tema DIVERSIDADE, ressaltei<br />

a proposta do projeto, que visava mostrar<br />

aos alunos a alegria e a majestade da cultura<br />

africana, suas histórias, tudo como deve<br />

ser sem constrangimentos nem equívocos.<br />

A participação foi excelente; todos queriam<br />

ler. Ficaram curiosos <strong>para</strong> conhecer a história<br />

que fica estampada nas telas dos computadores.<br />

Ao entrarem na sala do EVA, neste ano,<br />

acrescentei mais um desafio aos alunos:<br />

descobrir, entre eles, aquele/a que mais se<br />

Lucimara dos Santos<br />

29


identificou com o livro lido (características<br />

físicas ou psicológicas). Após, as crianças<br />

foram caracterizadas e fotografadas <strong>para</strong><br />

fazerem parte da exposição no KIZOMBAR<br />

(Kizomba do Antônio Ramos) - Heróis da literatura<br />

afro EVA 2015.<br />

Momentos de observância e participação<br />

O momento que mais apreciei do projeto foi<br />

o dia em que todos os computadores se encontravam<br />

em manutenção e um aluno do<br />

50 ano me indagou se não haveria o momento<br />

da leitura. Quando expliquei o motivo, ele<br />

ficou decepcionado, porque estava esperando<br />

conhecer <strong>uma</strong> nova história sobre a<br />

diversidade. Construímos, assim, <strong>uma</strong> nova<br />

maneira de ler histórias, aprender, organizar<br />

nossos conceitos, reconhecer-se, mudar as<br />

atitudes e as formas de pensar sobre a DI-<br />

VERSIDADE. Essa experiência está sendo<br />

muito enriquecedora e gratificante, mas o<br />

essencial é o que fica <strong>para</strong> os alunos: o sentimento<br />

de que eles devem opinar e participar<br />

das questões que os cercam e poder influenciar<br />

no modo que as pessoas pensam, agem<br />

e, principalmente, podem promover mudanças<br />

no meio em que vivem. Trabalhar sobre<br />

DIVERSIDADE, questões étnicas raciais, religiosas,<br />

culturais com os alunos do EVA, é<br />

muito prazeroso, pois apresenta resultados<br />

positivos, <strong>uma</strong> vez que elas passam a considerar<br />

as diferenças (não só quanto à cor da<br />

pele, mas também quanto a outras questões<br />

do dia-a-dia.).<br />

Essas questões puderam ser observadas durante<br />

as conversas após as leituras, momento<br />

que os alunos expunham suas opiniões,<br />

considerações e observações sobre as histórias<br />

lidas e que fazem parte do seu cotidiano<br />

(apelidos, brigas, discriminação, amizades,<br />

perdão, bullying).<br />

Outra avaliação efetiva é a observância sobre<br />

o comportamento dos alunos em relação<br />

às leituras, usando como termômetro a solicitação<br />

das crianças em ter esses momentos<br />

de leitura, quando deixam explícitos os<br />

títulos preferidos, comentam e reclamam<br />

quando não conseguem realizar a leitura,<br />

além das relações intra e interpessoais, que<br />

gerenciam a construção do processo de ensino-aprendizagem,<br />

além da participação<br />

efetiva na escolha dos alunos <strong>para</strong> represen-<br />

30<br />

Viajando pela diversidade: eu e meus heróis


tarem os “heróis das histórias lidas”. A avaliação<br />

acontece de forma contínua e processual,<br />

de forma natural, por meio das conversas<br />

promovidas ao longo do ano. Um processo<br />

de avaliação que será espontâneo e verificará<br />

o potencial e a competência dos alunos<br />

em relação à temática, bem como a mudança<br />

de atitude mediante o conhecimento adquirido<br />

com as leituras.<br />

Tento deixar a minha contribuição, buscando<br />

e sentindo a necessidade de realizar algo<br />

que colabore <strong>para</strong> transformar o mundo, a<br />

sociedade e, principalmente, promover a<br />

aprendizagem que serve de influência <strong>para</strong><br />

a construção de sujeitos mais questionadores.<br />

Durante os momentos de leitura, além<br />

da aprendizagem, foi possível também fazer<br />

<strong>uma</strong> reflexão sobre minha prática pedagógica.<br />

Pensei em coisas que nunca havia <strong>para</strong>do<br />

<strong>para</strong> pensar. Esse conjunto de aprendizagens<br />

e reflexões me estimulou a querer<br />

melhorar e inovar cada vez mais meu trabalho<br />

com os alunos.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong>. Secretaria<br />

de <strong>Educação</strong> Fundamental. Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais: Ética e Pluralidade Cultural.<br />

Brasília: MEC,1998<br />

ITAJAÍ. Escola Básica Antônio Ramos. Projeto<br />

Político Pedagógico. <strong>Educação</strong> <strong>para</strong> Diversidade<br />

Étnico Racial. Itajaí: EBAR: 2014.<br />

LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A formação da<br />

leitura no Brasil. São Paulo: Ética, 2003.<br />

SILVA, T. F. de O. Lei 10.639/03: por <strong>uma</strong><br />

educação antirracismo no Brasil. Interdisciplinar:<br />

Revista de estudos em língua e literatura,<br />

São Cristóvão, ano 6, v. 12, p. 80-93,<br />

jul./dez. 2012.<br />

Lucimara dos Santos<br />

31


32<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

A cultura<br />

africana:<br />

sabedoria<br />

milenar que<br />

protege a<br />

natureza<br />

Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />

Pensar <strong>uma</strong> escola ideal no mundo atual e<br />

na realidade brasileira não é pensar somente<br />

<strong>uma</strong> escola que esteja equipada com toda<br />

tecnologia. É, sobretudo, pensar <strong>uma</strong> escola<br />

que contemple as diferentes culturas e etnias.<br />

Foi por essa razão que se pensou na relevância<br />

de entender um pouco mais a cultura<br />

milenar chamada cultura africana. O baú<br />

com jogos (ECOTECA) disponibilizado pela<br />

Secretaria Municipal de <strong>Educação</strong> de Itajaí<br />

permitiu aos educandos vivenciar atividades<br />

referentes ao meio ambiente. Então, essa<br />

perspectiva ambiental consiste um modo de<br />

ver o mundo, em que se evidenciam as inter<br />

-relações e a interdependência dos diversos<br />

elementos na constituição e na manutenção<br />

da vida. Espera-se que, em termos de educação,<br />

essa perspectiva possa contribuir <strong>para</strong><br />

evidenciar a necessidade de um trabalho<br />

vinculado aos princípios da dignidade do ser<br />

h<strong>uma</strong>no, da co-responsabilidade, da solidariedade<br />

e da equidade.<br />

Esses critérios podem contribuir e construir<br />

a autonomia dos alunos, favorecendo<br />

sua aprendizagem. Para tanto, foi por meio


desse olhar transformador que se pensou<br />

na cultura africana <strong>para</strong> conscientizar os<br />

alunos da importância da valorização de um<br />

dos elementos da natureza mais preciosos:<br />

a água. A água <strong>para</strong> o povo negro sempre foi<br />

valorizada e muito sagrada, visto que a Deusa<br />

das Águas salgadas – Iemanjá, a rainha do<br />

mar –, <strong>para</strong> as culturas de matriz africana,<br />

como é o caso do Candomblé, da Umbanda,<br />

está lá cuidando desse ecossistema e protegendo-o.<br />

Necessária em todos os aspectos da vida, a<br />

água está vinculada e imbricada ao processo<br />

de desenvolvimento global, seja como insumo<br />

fundamental <strong>para</strong> produção nas diversas<br />

industrias ou pela produção agrícola, por sua<br />

influência sobre a saúde, ou, ainda, meio do<br />

debate sobre a sustentabilidade do desenvolvimento.<br />

A escassez das águas doces, em<br />

função de questões como a poluição e o desperdício,<br />

já desperta conflitos em várias partes<br />

do mundo, em razão do seu uso e condições<br />

de acesso. Afinal, água doce é um bem<br />

finito que corresponde aproximadamente a<br />

3% de toda a água existente no planeta. Em<br />

um cenário em que as notícias com temas<br />

ambientais têm ocupado expressivo espaço<br />

na mídia, se com<strong>para</strong>do com décadas anteriores,<br />

assuntos como aceleração do aquecimento<br />

global, mudanças climáticas, seca<br />

e guerras em função da água doce tomam<br />

conta do noticiário.<br />

Para a cultura africana, estar ligado à terra,<br />

ao mar, ao fogo e a todos os elementos da<br />

natureza é, simplesmente, viver respeitando<br />

tudo aquilo que Olorum fez e deixou <strong>para</strong><br />

que cultivemos. Então, é hora de cada um<br />

de nós pensarmos no desperdício da água,<br />

no aquecimento do mundo e nos desastres<br />

ecológicos, de forma a pensar e agir <strong>para</strong><br />

proteger esses bens naturais. Assim, continuamos<br />

o projeto de Olorum, o de podermos<br />

desfrutar da natureza e viver em paz com<br />

ela. Então, por que não pensar <strong>uma</strong> maneira<br />

de inserir o pensamento de outras religiões<br />

com relação à proteção ao meio ambiente?<br />

Pensamos nisso, pois existem outras religiões<br />

que também dão ênfase à valorização da<br />

natureza e do meio ambiente.<br />

Assim sendo, este projeto teve como objetivo<br />

geral promover a educação ambiental de<br />

modo a reforçar o papel da escola e dos educadores<br />

na formação de agentes multipli-<br />

34 A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza


Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />

35


cadores, estimulando a participação social<br />

do aluno junto a aulas diversificadas e soluções<br />

de aprendizagem, que permitam a sua<br />

construção na área ambiental e cultural, resgatando<br />

o respeito por meio da história da<br />

identidade e do modo de falar do orgulho de<br />

ser afrodescendente. Para isso, os seguintes<br />

objetivos específicos foram delineados:<br />

• Compreender a cultura milenar dos africanos<br />

e afro-brasileiros em relação à<br />

água.<br />

• Perceber as interferências negativas e<br />

positivas que o homem pode fazer na natureza,<br />

a partir de sua realidade social e<br />

cultural.<br />

• Adotar, por meio de atitudes cotidianas,<br />

medidas de valorização da água, a partir<br />

de <strong>uma</strong> postura crítica.<br />

• Explorar o meio ambiente com curiosidade,<br />

percebendo-se como ser integrante,<br />

dependente, transformador e, acima de<br />

tudo, que tem atitudes de conservação.<br />

O projeto foi organizado de forma interdisciplinar,<br />

transitando entre conteúdos de<br />

Artes, História, Geografia, Ciências e Ensino<br />

Religioso. Os alunos vivenciaram diferentes<br />

experiências nessas áreas. Por meio da linguagem,<br />

eles ouviram relatos, registraram<br />

conhecimentos, ampliaram a leitura.<br />

Vivências, leituras e outros contatos<br />

Ao apresentar um baú cheio de jogos referentes<br />

ao meio ambiente, chamado ECOTE-<br />

CA, os alunos ficaram entusiasmados com<br />

tantos jogos. Resolvemos abrir todos <strong>para</strong><br />

ver. Então, iniciamos atividades com quebracabeças,<br />

pois foram os que mais chamaram<br />

a atenção das crianças. No entanto, quando<br />

eles conseguiram montar os jogos, perceberam<br />

que as imagens mostravam destruição<br />

da natureza. Logo as crianças me faziam<br />

perguntas sobre o assunto. Foi aí que consegui<br />

entrar no meu objetivo, falar da falta de<br />

respeito do homem com a natureza e também<br />

como a cultura africana respeita a natureza<br />

a milhares de anos nessas questões.<br />

A água, por exemplo, é muito respeitada pelos<br />

povos de muitas religiões, especialmente<br />

a dos povos africanos, pois o líquido é sagrado<br />

e respeitado quando é usado. Até os rituais<br />

do batismo das pessoas são feitos nas<br />

águas, assim como no fogo, na terra e no ar.<br />

Para essa cultura, o elemento natureza deve<br />

ser sagrado. Também fomos fazer <strong>uma</strong> visita<br />

a um rio poluído. Registramos toda a visita<br />

com <strong>uma</strong> máquina fotográfica. Depois voltamos<br />

<strong>para</strong> a sala de aula, discutimos sobre a<br />

importância de um rio não ser poluído, pois<br />

não tinha peixes - nada de seres vivos naquele<br />

rio. Então, com a ajuda de lápis e papel,<br />

fizemos textos e desenhos referentes ao<br />

meio ambiente, repudiando as atitudes de<br />

destruição com a natureza.<br />

Com entendimento de estar em um espaço<br />

escolar, aceitei um convite da professora do<br />

quarto ano <strong>para</strong> apresentar o projeto A cultura<br />

africana: sabedoria milenar que protege<br />

a natureza. Contudo, <strong>para</strong> que esse momento<br />

tivesse um encantamento maior, solicitei<br />

que as crianças, com ajuda de avó ou da mãe,<br />

trouxessem de casa folhas verdes das ervas<br />

medicinais plantadas em seus canteiros.<br />

Para minha surpresa, quase todas as crianças<br />

trouxeram diferentes folhas curativas. Espalhamos<br />

as folhas sobre <strong>uma</strong> mesa e fui explicando<br />

folha por folha e as suas propriedades<br />

curativas. Os alunos ficaram curiosos e logo<br />

queriam saber mais sobre as folhas que eles<br />

mesmos trouxeram de casa. Muito impressionados<br />

com a explanação do conteúdo,<br />

também quiseram saber mais sobre a cultura<br />

milenar africana, trazida pelos negros escravizados<br />

aqui no Brasil. Depois, apresentei um<br />

texto complementar: O malabarismo das folhas.<br />

Esse texto relata <strong>uma</strong> história de como<br />

um senhor das divindades havia descoberto<br />

o poder das folhas. Eles ficaram atentamente<br />

acompanhando a leitura emocionados. Assim,<br />

percebi que valeu a pena aquele momento<br />

rico de aprendizagem.<br />

Na sala do Espaço de Vivências em Alfabetização,<br />

convidei a avó de <strong>uma</strong> das crianças<br />

<strong>para</strong> falar sobre o conhecimento da cultura<br />

africana, pois ela é afrodescendente e teria<br />

muito a colaborar com o projeto. Não poderia<br />

ter sido melhor escolha, pois os alunos<br />

ouviram com atenção toda fala da senhora,<br />

sobre os conhecimentos aprendidos pelos<br />

seus ancestrais e aprendizagem que carrega<br />

ao longo de sua vida. Ela falou sobre o poder<br />

de cura que as folhas de alg<strong>uma</strong>s ervas<br />

têm e as propriedades medicinais contidas.<br />

Enquanto falava, percebia a emoção dela<br />

36 A cultura africana: sabedoria milenar que protege a natureza


ao explicar cada tipo de folha. A senhora relatou-nos<br />

alguns fatos de sua vida <strong>para</strong> as<br />

crianças, como as ervas medicinais influenciou<br />

na cura de um dos seus familiares, por<br />

exemplo.<br />

Depois da explanação da avó, agradecemos<br />

a sua boa vontade de vir até a escola e falar<br />

sobre seus conhecimentos. Ela nos prometeu<br />

mandar, pela sua neta, alg<strong>uma</strong>s ervas<br />

que ela tinha no seu quintal. No dia seguinte,<br />

recebi vários tipos de ervas e também<br />

cinco livros que continham muitas receitas<br />

de vários tipos de plantas medicinais. As outras<br />

crianças ficaram curiosas de ver tantas<br />

plantas ao passar na sala do Espaço de Vivências<br />

Pedagógica. Quando percebi aquela<br />

curiosidade das crianças, perguntei aos seus<br />

professores se poderia ministrar <strong>uma</strong> aula<br />

sobre a cultura milenar que protege a natureza<br />

na sala de aula daqueles alunos. Foi<br />

<strong>uma</strong> metodologia diferente que me trouxe<br />

<strong>uma</strong> satisfação muito grande. Ver os olhinhos<br />

dos alunos brilharem de curiosidade foi<br />

muito gratificante. Eles estão sendo objeto<br />

de estudo do Espaço de Vivências em Alfabetização,<br />

porque estão em contato com leituras<br />

diversas e fazendo perguntas diferentes<br />

sobre um assunto tão importante como é<br />

o meio ambiente.<br />

Geni Terezinha Cardoso Gonçalves<br />

37


38<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Resgate da<br />

identidade<br />

negra em Itajaí<br />

Fábia Simone de Aguiar<br />

Aqui no litoral, fala-se muito sobre as histórias<br />

de estrangeiros portugueses, italianos, alemães.<br />

Embora sejam maioria, há imigrantes<br />

que chegaram de mansinho e fizeram a diferença<br />

na região, como os negros que contribuíram<br />

<strong>para</strong> a história de Itajaí. No entanto, hoje,<br />

eles representam apenas 15% da população<br />

total do município.<br />

Ao falar da sociedade Itajaiense, é preciso destacar<br />

a importância da participação negra e<br />

afrodescendente na formação política, econômica,<br />

religiosa, educacional, social e cultural<br />

da cidade. Cumpre ressaltar que os bairros Arraial<br />

dos Cunhas, Itaipava, e outras mediações,<br />

contaram com a mão de obra escrava. No trabalho<br />

portuário, fizeram-se presentes como<br />

estivadores, e, em outras áreas, foram pescadores,<br />

marinheiros, pedreiros, carpinteiros e<br />

trabalhadores da lavoura.<br />

Definidos como “as mãos e os pés” dos senhores,<br />

eles buscavam em seus momentos de lazer<br />

transmitir sua cultura (danças, crenças, costumes,<br />

vestuário, culinários e superstições),<br />

por meio das manifestações artísticas, como:<br />

capoeira, puxada de rede, maculelê e samba<br />

de roda. Partindo desse pressuposto, busquei<br />

resgatar o passado desses imigrantes e a sua<br />

representação <strong>para</strong> a sociedade Itajaiense,<br />

possibilitando a ampliação dos conhecimentos<br />

histórico-culturais de um povo tão rico e<br />

belo, que nos deixou <strong>uma</strong> grande herança.


Com o intuito de motivar os alunos <strong>para</strong> o<br />

aprendizado da cultura negra, surgiu a necessidade<br />

de propiciar o resgate e a compreensão<br />

histórica dessa cultura por meio da pesquisa<br />

e da representação cênica. Para tanto,<br />

foi necessário inovar, buscar novas metodologias<br />

que estimulassem a vontade pelo saber.<br />

Unir a aprendizagem com a emoção e abrir<br />

caminho <strong>para</strong> explorar o prazer de aprender<br />

na tentativa de integrar o domínio cognitivo<br />

com o afetivo foi o grande desafio que<br />

permeou este projeto cultural desenvolvido<br />

com os alunos do Ensino Fundamental do 4º<br />

ano e do 1º ano. A leitura, a oralidade, a pesquisa<br />

e a dinâmica cénica proporcionaram<br />

aos alunos <strong>uma</strong> viagem ao passado, desenvolvendo<br />

<strong>uma</strong> nova releitura cultural acerca<br />

da população negra oriunda de diversas regiões<br />

africanas.<br />

Realizamos este projeto sobre um contexto<br />

histórico, descrevendo e apontando os caminhos<br />

trilhados <strong>para</strong> a aplicação das atividades<br />

expressadas em dança, teatro e música.<br />

Buscamos trabalhar com <strong>uma</strong> pesquisa qualitativa,<br />

pois, segundo Neves (1996), podemos<br />

obter dados descritivos mediante contato<br />

direto e interativo do pesquisador com<br />

o objeto de estudo.<br />

A dança e o teatro podem realizar <strong>uma</strong> parceria<br />

muito enriquecedora com as brincadeiras<br />

de faz-de-conta, tão presentes no<br />

mundo infantil. Com essas aliadas, propiciase<br />

à criança assumir papéis, contextualizar,<br />

transformando-se em pessoas e/ou personagens<br />

diferentes. Enfim, experimentar todas<br />

as possibilidades de movimento, criação e<br />

expressão, cujo principal objetivo é conhecer<br />

e valorizar as manifestações históricas e<br />

culturais da imigração negra em Itajaí e, com<br />

isso, alcançar objetivos específicos como:<br />

• Promover a construção do conhecimento<br />

por meio da pesquisa dirigida.<br />

Ao iniciar minhas atividades docentes no ano<br />

de 2015, observei a realidade da turma, suas<br />

características, e o que compreendiam sobre<br />

os conhecimentos históricos de Itajaí. Por<br />

meio da leitura da oralidade e diversas dinâmicas,<br />

foi desenvolvida <strong>uma</strong> nova releitura cultural.<br />

Assim, percebi que era necessário compartilhar<br />

com o grupo fatos importantes que<br />

contribuíram <strong>para</strong> a formação da nossa cidade<br />

e da história de Itajaí, que não foi diferente de<br />

outras cidades, onde o negro esteve presente.<br />

Após a abolição, os escravos continuaram<br />

sendo discriminados, humilhados e sofrendo<br />

maus tratos. Muitos não possuíam bens<br />

e local <strong>para</strong> morar; assim tiveram que procurar<br />

o seu sustento e de sua família. Alguns<br />

partiram <strong>para</strong> pesca artesanal e, por Itajaí ser<br />

<strong>uma</strong> cidade litorânea, banhada por dois rios,<br />

a pesca foi a atividade predominante. Os negros<br />

encontraram nessa atividade <strong>uma</strong> forma<br />

de sobrevivência.<br />

Eles eram requisitados por sua força e competência.<br />

Eles agregaram cantigas, louvores,<br />

e <strong>uma</strong> sequência de movimentos que marcaram<br />

a história pesqueira com o nome intitulado<br />

de “puxada de rede”, na qual os negros<br />

cantavam e saldavam a rainha do mar. Eles<br />

partiam com sua força braçal e sua fé, que,<br />

do mar, retiraria seu alimento e sustento.<br />

Logo após a boa puxada de rede e do bom<br />

peixe “xaréu”, como era chamado, os negros<br />

• Desenvolver o conhecimento histórico<br />

de Itajaí, sua colonização, representação<br />

social e cultural na segmentação afro<br />

-brasileira.<br />

• Ampliar os conhecimentos geográficos e<br />

econômicos sobre o município de Itajaí.<br />

• Desenvolver a competência linguística<br />

nas práticas de leitura.<br />

• Conhecer e valorizar as culturas e etnias<br />

por meio de manifestações artísticas.<br />

40 Resgate da identidade negra em Itajaí


comemoravam na beira do mar com muita<br />

música e samba de roda.<br />

No entanto, nem tudo era um mar de rosas.<br />

Em dias de tempestades em alto mar, barcos<br />

viravam, pescadores não voltavam, deixando<br />

suas esposas e seus filhos a lamentarem<br />

a sua morte. Com o passar do tempo, essa<br />

atividade foi esquecida, vieram às máquinas,<br />

grandes embarcações, equipamentos modernos,<br />

mas pouco se registrou sobre esse<br />

fato cultural.<br />

A partir de então, a capoeira, que é <strong>uma</strong> prática<br />

esportiva e cultural dos negros e afrodescendentes<br />

no Brasil, passou a resgatar a<br />

puxada de rede em suas apresentações artísticas,<br />

assim como o maculelê e o samba<br />

de roda. Dessa maneira, busquei mais conhecimentos<br />

sobre essa atividade artística e<br />

cultural, criando estratégias que contribuíssem<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento pleno dos meus<br />

alunos. Além de abordar o conteúdo de forma<br />

teórica, preocupei-me em transformar o<br />

assunto abordado em <strong>uma</strong> vivência significativa<br />

com documentários, trocas de e-mails<br />

com mestres de capoeira de outra cidade,<br />

fotos, arquivos e músicas, enriquecendo o<br />

conteúdo <strong>para</strong> que este fosse compreendido<br />

de maneira concreta, lúdica e artística.<br />

Delineando os caminhos selecionados <strong>para</strong> a<br />

aplicação das atividades expressivas em dança<br />

e teatro, começamos a pre<strong>para</strong>r nossas<br />

almas <strong>para</strong> vivenciar o que os negros pescadores<br />

viveram no passado. Isso despertou a<br />

curiosidade dos alunos sobre a cultura e etnia<br />

da colonização de Itajaí, propiciando o desenvolvimento<br />

da temática Resgate da Identidade<br />

Negra de Itajaí, inserida como sequência<br />

didática nas disciplinas de história, geografia,<br />

língua portuguesa e ensino religioso.<br />

Busquei enfatizar a ludicidade por meio da<br />

música, da dança e da representação teatral,<br />

envolvendo os alunos na criação de personagens,<br />

a seleção de personagens, confecção<br />

do cenário (que foi feito em várias etapas), a<br />

procura de tecidos, acessórios, maquiagem,<br />

um figurino completo detalhado, ensaios diários<br />

com cantigas, instrumentos musicais e<br />

de trabalho com o destaque da rede de pesca.<br />

Muitos dos alunos, ali personagens, não<br />

conheciam esse instrumento artesanal.<br />

A projeção do trabalho completou-se e sua<br />

culminância com a encenação da puxada de<br />

rede foi apresentada <strong>para</strong> todos os alunos da<br />

escola, incorporando a vivência do passado e<br />

o resgate dos personagens que fizeram a história<br />

de Itajaí e do Brasil em geral. Os alunos,<br />

atores do próprio trabalho, sentiram algo mágico,<br />

suas expressões corporais, seus cantos,<br />

sua concentração, a sincronia dos movimentos,<br />

a energia transmitida, foram perfeitos,<br />

criativos e a todos emocionaram.<br />

Dias depois da apresentação dos alunos na<br />

escola, tivemos o privilégio da visita do “Mestre<br />

Tuti” do Projeto Capoeira nas Escolas, nas<br />

cidades de Florianópolis, Biguaçu e Governador<br />

Celso Ramos. O grande colaborador deste<br />

trabalho, na oportunidade o Mestre Tuti,<br />

sua equipe e seus alunos da APAE de Biguaçu,<br />

vieram até nossa escola e apresentaram<br />

a mesma peça teatral da puxada de rede, só<br />

que com alunos especiais. Esse contato com<br />

o mestre, com os alunos especiais e sua equipe<br />

na apresentação, fez com que os alunos<br />

valorizassem a cultura, a história afro-brasileira,<br />

bem como os potenciais artísticos, promovendo<br />

maior socialização e conhecimento.<br />

Referência<br />

NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características,<br />

usos e possibilidades. Cadernos de<br />

Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1,<br />

n. 3, p. 1-5,1996.<br />

Fábia Simone de Aguiar<br />

41


42<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

Gincana<br />

pedagógica:<br />

desafio<br />

cultural<br />

Daniela Silveira D´Ávila Werner<br />

O processo de globalização busca a mundialização<br />

do espaço geográfico, que ocorre<br />

principalmente pelos meios de comunicação.<br />

E criar <strong>uma</strong> sociedade homogênea com aspectos<br />

locais que continuem fortemente presentes<br />

é um desafio. A diversidade cultural<br />

é um desses aspectos. Várias comunidades<br />

continuam mantendo seus costumes e suas<br />

tradições e é isso que devemos estimular no<br />

processo de ensino e aprendizagem, promovendo<br />

o respeito e também o intercâmbio de<br />

experiências culturais, com vistas a:<br />

• sensibilizar professores e funcionários a<br />

respeito dos temas abordados;<br />

• incentivar a participação dos alunos no<br />

envolvimento das tarefas propostas;<br />

• envolver os pais na contribuição e na<br />

execução das tarefas e dos temas abordados;<br />

• reconhecer o ambiente escolar como um<br />

espaço de socialização, integração, e de<br />

apropriação cultural, incentivando o respeito<br />

à diversidade;<br />

ampliar o envolvimento dos pais e comunidade<br />

nas atividades da unidade escolar;


44 Gincana pedagógica: desafio cultural


Daniela Silveira D´Ávila Werner<br />

45


econhecer a sinalização de trânsito proporcionando<br />

mais cautela e prevenção nas vias<br />

da nossa comunidade.<br />

As tarefas: integrando as famílias<br />

Organizei <strong>uma</strong> reunião pedagógica com a<br />

intenção de sensibilizar professores e funcionários<br />

sobre a necessidade de integrar<br />

a família no contexto do cotidiano escolar.<br />

Dessa forma, com a socialização das ideias<br />

sugeridas pela equipe, criamos um conjunto<br />

de atividades e o projeto “Desafio Cultural”.<br />

Em assembleia com alunos, professores e<br />

funcionários, foram apresentadas as tarefas,<br />

as regras, a pontuação e realizado o sorteio<br />

dos países. As atividades tiveram início a partir<br />

das pesquisas conduzidas pelos professores<br />

em sala, tendo parceria dos funcionários<br />

e da equipe pedagógica. Após esse processo<br />

de pesquisa, começaram a execução das tarefas<br />

com a participação dos pais.<br />

• Tarefa 7 – Varal literário – Criar um poema<br />

que representa os temas propostos:<br />

etnia e cultura dos países.<br />

• Tarefa 8 – O espaço criativo – Tarefa na<br />

qual os trabalhos devem ser expostos nos<br />

stands de maneira criativa. A quadra de esportes<br />

da unidade escolar foi disponibilizada<br />

<strong>para</strong> cada turma montar seu stand com<br />

seus professores e familiares. Os espaços<br />

foram delimitados <strong>para</strong> cada equipe expor<br />

seus trabalhos, os quais foram avaliados<br />

no dia da culminância pela comissão julgadora<br />

composta por funcionários da escola<br />

e dos pais. No dia da Culminância, houve<br />

as apresentações artísticas e culturais de<br />

cada equipe. Foram avaliadas ainda as<br />

torcidas, a participação do público e todo<br />

o material produzido. Esse projeto estreitou<br />

os laços entre família, escola, alunos,<br />

funcionários, professores e demonstrou o<br />

quanto trabalhar em equipe pode motivar<br />

e transformar o contexto escolar.<br />

Os trabalhos foram realizados por meio de<br />

equipes divididas por temas com tarefas coletivas<br />

e individuais. As turmas foram divididas<br />

<strong>para</strong> competir desta forma: anos inicias<br />

em um bloco, e anos finais em outro. Ao todo<br />

foram oito tarefas distribuídas da seguinte<br />

forma:<br />

• Tarefa 1 – Criar um nome <strong>para</strong> a equipe<br />

e seu grito de guerra, inspirados em seu<br />

país.<br />

• Tarefa 2 – Curtir sua Equipe. Cada turma<br />

teve de criar <strong>uma</strong> arte de divulgação étnica<br />

e cultural.<br />

• Tarefa 3 – Mascote original – Confeccionar<br />

<strong>uma</strong> mascote com material reciclado,<br />

inspirados nos temas propostos.<br />

• Tarefa 4 – Paródia – Criar <strong>uma</strong> paródia.<br />

• Tarefa 5 – Pais Valem Muito – Nessa tarefa<br />

a finalidade foi envolver o maior número<br />

de famílias nas seguintes atividades:<br />

escola de pais, caminhada sustentável,<br />

blitz pedagógica do CIFESO - Desafio das<br />

Culturas e montagem dos stands <strong>para</strong> as<br />

apresentações da culminância do projeto.<br />

• Tarefa 6 – O lixo que vira Luxo – Confecção<br />

de roupas recicladas inspiradas na<br />

etnia e cultura dos países.<br />

46<br />

Gincana pedagógica: desafio cultural


Podemos concluir que, depois de todo o projeto<br />

realizado, despertamos a motivação e<br />

sensibilizamos os alunos sobre a necessidade<br />

de respeitar a diversidade cultural e étnica.<br />

Proporcionamos <strong>uma</strong> bagagem de conhecimento<br />

não só curricular mas também<br />

relações interpessoais, as quais são extremamente<br />

necessárias e fundamentais por<br />

toda a vida escolar.<br />

Para mudarmos a nossa cultura, aprendendo<br />

com as diversidades, envolve <strong>uma</strong> série de<br />

fatores, dentre eles o perfil do professor, sua<br />

relação com os alunos e as estratégias de ensino<br />

que despertam a vontade de aprender e<br />

facilitar a compreensão dos conteúdos, além<br />

de desenvolver habilidades e competências.<br />

A busca por alternativas diferenciadas de<br />

ensino que levem os alunos a <strong>uma</strong> aprendizagem<br />

significativa e prazerosa, fazendo-os<br />

atores do processo, participantes da construção<br />

dos materiais, da compreensão das<br />

inter-relações dos conteúdos de forma interdisciplinar,<br />

faz com que a aprendizagem<br />

aconteça de forma plena e as dificuldades<br />

de compreensão e entendimento sejam minimizadas.<br />

Há, também, a socialização dos<br />

conhecimentos e a ajuda mútua em relação<br />

à resolução dos problemas. Assim, entendo<br />

ser esta <strong>uma</strong> das melhores estratégias motivadoras<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento dos conteúdos<br />

curriculares, pois aproxima o grupo, socializa<br />

conhecimentos, aproxima o professor<br />

do grupo, pois este passa a ser também um<br />

integrante, o facilitador do processo. Além<br />

de proporcionar mais integração da escola,<br />

pois o desenvolvimento e a aplicação da<br />

gincana pode extrapolar os limites da sala<br />

de aula e estender-se à toda a comunidade<br />

escolar.<br />

A reflexão em torno da cultura como construção<br />

sócio-histórica tem feito parte dos<br />

principais debates da educação e deve<br />

permanecer. Esse tema deve continuar ganhando<br />

notoriedade, também nos diversos<br />

espaços sociais, acadêmicos, dentre outros.<br />

Conclui-se, assim, que é fundamental que o<br />

professor trabalhe com os alunos atividades<br />

que os conduzam a experimentar novas possibilidades<br />

de aprendizagem, que tenham<br />

caráter dinâmico e investigativo. Um discurso<br />

de tolerância é confrontado com outro<br />

que diz respeito à afirmação dos direitos civis,<br />

sociais, políticos e identitários de reconhecimento<br />

e de respeito ao direito à diferença,<br />

que permitam aos alunos estabelecer<br />

relações entre os conteúdos estudados e o<br />

mundo que os cerca.<br />

As estratégias aqui propostas e defendidas<br />

fazem com que os alunos desenvolvam<br />

a motivação e a sensibilidade necessária<br />

<strong>para</strong> preservar o meio ambiente e respeitar<br />

a diversidade cultural existente de forma<br />

simples, estimulando o espírito criativo e<br />

inovador, o cumprimento de regras, o desenvolvimento<br />

da responsabilidade, do poder de<br />

decisão, proporcionando a aprendizagem<br />

interdisciplinar e consciente. Por fim, afirmo<br />

que a aprendizagem por meio de estratégias<br />

de ensino diferenciadas como gincanas culturais<br />

é simples e gratificante, proporcionando<br />

a integração dos alunos e a flexibilidade<br />

do professor ao se desfazer das amarras de<br />

mestre condutor do processo <strong>para</strong> facilitador<br />

do processo de ensino e aprendizagem.<br />

Daniela Silveira D´Ávila Werner 47


48<br />

<strong>Educação</strong><br />

Especial<br />

Palavra do Secretário<br />

Prof. Edison d’Ávila<br />

Secretário Municipal de <strong>Educação</strong><br />

A Secretaria Muncipal de <strong>Educação</strong> assenta<br />

suas políticas em <strong>Educação</strong> Especial no<br />

conjunto de atividades e ações, recursos de<br />

acessbilidade e pedagógicos que caracterizam<br />

o Atendimento Educacional Especializado.<br />

Estão organizadas institucionalmente<br />

pela Supervisão de <strong>Educação</strong> Especial alocada<br />

na Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações<br />

Educativas. Tais ações incluem a aquisição e<br />

distribuição de recursos educacionais <strong>para</strong><br />

a acessibilidade que complementam e/ou<br />

suplementam a formação do aluno especial,<br />

visando a sua autonomia na escola e fora<br />

dela, constituindo oferta obrigatória pelos<br />

sistemas de ensino.<br />

É nesse contexto que os profissionais envolvidos<br />

com a Educaçõa Especial da Rede


Municipal de Ensino de Itajaí, podem desenvolver<br />

os processos de ensino e de aprendizagem,<br />

favorecendo a participação da família<br />

dos alunos, das parcerias intersetoriais com<br />

a comunidade, onde a escola está inserida, e<br />

com todos os segmentos da sociedade civil.<br />

As práticas aqui descritas revelam um trabalho<br />

de extrema importância desenvolvido nas escolas,<br />

onde professores, convivem com os mais<br />

diversos perfis de alunos, que têm o direito de<br />

acesso à melhor educação. Trata-se da equi<strong>para</strong>ção<br />

das oportunidades entre aqueles que sempre<br />

foram excluídos e aqueles que se incluem<br />

naturalmente no sistema educacional comum.<br />

e única. E que os professores devem estar pre<strong>para</strong>dos<br />

<strong>para</strong> atender à necessidade especial<br />

de cada aluno. Diversidade é algo fundamental<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> sociedade realmente democrática. Ou<br />

seja, diferenças existem e devem ser aceitas e<br />

respeitadas sempre e em qualquer lugar.<br />

Assim, as políticas públicas em <strong>Educação</strong> Especial<br />

de Itajaí seguem na perspectiva de superação<br />

do passado, apontando <strong>para</strong> um presente<br />

de múltiplas possibilidades, mas, sobretudo, um<br />

futuro como lugar e tempo naturalizado <strong>para</strong><br />

aquilo que seria o melhor <strong>para</strong> todas as nossa<br />

crianças, adolescentes, jovens e adultos.<br />

Como defensores da <strong>Educação</strong> Especial nas escolas,<br />

acreditamos que toda criança é especial


50<br />

<strong>Saberes</strong> Necessários<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

A inclusão<br />

do aluno com<br />

deficiência<br />

no Ensino<br />

Fundamental<br />

dos anos iniciais<br />

Daniela Cristina Furtado<br />

Terezinha Aparecida<br />

Buss de Carvalho<br />

Gisele Cristina Régis de Souza<br />

O desafio da inclusão<br />

Percebemos a cada dia a distância que existe<br />

entre sociedade e escola. As duas trabalham<br />

com o mesmo objetivo, a educação da<br />

criança e/ou adolescente com necessidades<br />

educacionais especiais. No entanto, as diferenças<br />

e o distanciamento entre elas estão<br />

dificultando fatores que seriam agradáveis e<br />

fáceis de lidar como o convívio e o relacionamento<br />

entre entidade educacional e aluno.<br />

Sabemos da necessidade e da urgência<br />

de enfrentar o desafio da inclusão escolar e<br />

de colocar em ação os meios pelos quais ela<br />

verdadeiramente concretiza.<br />

O fato é que as pessoas não se reduzem a modelos<br />

identitários, estabelecidos arbitrariamente<br />

e produzidos pela dificuldade de lidarmos<br />

com o caráter emergente, imanente e inacabado<br />

do sujeito em todas as fases de sua existên-


cia. As diferenças definidas por agrupamentos<br />

constituídos pela semelhança de um ou mais<br />

atributos tendem a se tornarem permanentes,<br />

reificadas descartando o caráter mutante da<br />

diferença e sua capacidade de escapar a toda<br />

convenção possível. (MANTOAN, 2013, p. 2).<br />

É comum chegarem até mim casos em que <strong>uma</strong><br />

criança, um jovem é barrado no acesso à escola,<br />

em razão de sua diferença. O fato é que as<br />

pessoas não se reduzem a modelos prontos e<br />

produzidos pela dificuldade de lidarmos com diferenças,<br />

mas exige tratar as pessoas igualmente,<br />

independentemente de suas especificidades,<br />

sem excluí-las! Nesse processo, são fundamentais<br />

ações que favoreçam o conhecimento sobre<br />

as diferenças encontradas no contexto escolar e<br />

que proponham aproximar alunos, independentemente<br />

de suas diferenças.<br />

Incluir o aluno, dentro e fora das escolas, na<br />

comunidade em geral, implica na quebra de<br />

barreiras físicas, atitudinais, comunicacionais,<br />

que impedem alg<strong>uma</strong>s pessoas em certas situações<br />

e circunstâncias de conviverem, de estarem<br />

com os outros, de participarem, compartilhando<br />

com os demais da vida social, escolar,<br />

familiar, como sujeitos de direito e de deveres<br />

comuns a todos.<br />

Assim sendo, este provejo teve como objetivo<br />

geral propor esclarecimentos sobre as principais<br />

deficiências encontradas no contexto<br />

escolar e aproximar alunos com e sem deficiências.<br />

Para alcançar esse objetivo, os seguintes<br />

objetivos específicos foram traçados:<br />

• Analisar como se dá o processo da inclusão<br />

de alunos com deficiência na sociedade<br />

por meio da nossa unidade escolar.<br />

• Propor esclarecimentos sobre deficiências<br />

de educandos inseridos na unidade<br />

escolar.<br />

• Definir a importância da inclusão na escola<br />

regular.<br />

• Respeitar os limites dos alunos com deficiência.<br />

O início de <strong>uma</strong> história<br />

Na semana da pessoa com deficiência na escola<br />

onde trabalhamos, estabelecemos um<br />

cronograma de filmes e palestras <strong>para</strong> falar<br />

sobre alguns tipos de deficiência mais comuns,<br />

como: a deficiência física, intelectual,<br />

cegueira bilateral. Abordamos, também, temas<br />

como a epilepsia decorrente do vírus da<br />

toxoplasmose, Autismo e também surdez em<br />

proveniência de meningite, <strong>para</strong> conscientizar<br />

também sobre a importância da prevenção<br />

em alguns casos.<br />

Estabelecemos um cronograma na unidade<br />

escolar <strong>para</strong> que durante essa semana,<br />

no período das três primeiras aulas do dia,<br />

pudéssemos realizar esse trabalho de conscientização.<br />

O trabalho atingiu alunos desde<br />

a pré-escola até o 9°ano. Inicialmente, apresentamos<br />

aos alunos o filme A história de<br />

Hellen Keller, que relata como <strong>uma</strong> professora<br />

conseguiu romper o isolamento imposto<br />

pelos padrões sociais diante da quase total<br />

falta de comunicação, de <strong>uma</strong> aluna com deficiência<br />

auditiva. Nesse momento, foi possível<br />

esclarecer suas causas e consequências.<br />

Logo após, foi apresentado o curta metragem<br />

Cordas/Cuerdas, que apresenta outra<br />

história de um aluno com Paralisia Cerebral<br />

e todo o esforço de <strong>uma</strong> colega da escola<br />

<strong>para</strong> incluí-lo nas atividades do dia a dia.<br />

Esse momento também nos possibilitou observar<br />

o processo de aproximação do aluno<br />

com e sem deficiências e ficou evidente em<br />

todas as sessões que houve bastante comoção,<br />

tantos dos pequenos quanto dos adolescentes.<br />

Na sequência, o espaço estava destinado a<br />

promover a conversa entre os alunos com e<br />

sem deficiência. Esse momento fortaleceu<br />

um aspecto pretendido no projeto no intuito<br />

de aproximar os estudantes, e foi possível<br />

perceber a possibilidade “de se iniciar <strong>uma</strong><br />

amizade”, mesmo que alguns alunos não<br />

se aproximassem devido ao sentimento de<br />

medo, por não saber o que fazer ou que falar<br />

diante dessa pessoa, considerada por ele<br />

“diferente”. Isso foi se diluindo na interação<br />

dos grupos.<br />

A inclusão de alunos com deficiência vem<br />

mobilizando tanto a sociedade quanto a<br />

comunidade escolar frente ao desafio de<br />

propor este novo modelo de escola, em que<br />

todos os alunos sejam incluídos em todos<br />

os contextos, desde os mais complexos aos<br />

mais simples como se relacionar com o próximo.<br />

Esse movimento faz com que a escola<br />

52 A inclusão do aluno com deficiência no Ensino Fundamental dos anos iniciais


eflita sobre princípios desse novo olhar, vão<br />

desde a convivência em um mesmo espaço<br />

até <strong>uma</strong> mudança na organização de todo o<br />

trabalho pedagógico da escola.<br />

Os registros que ficaram<br />

Este projeto permitiu propor esclarecimentos<br />

sobre as principais deficiências encontradas<br />

no cotidiano escolar. Nesse processo,<br />

verificamos que muitas vezes subestimamos<br />

o potencial dos alunos com diagnóstico,<br />

pois eles a cada momento nos surpreendem.<br />

O ato de conversar ou se aproximar de alguém<br />

é, às vezes, simplificado no dia a dia.<br />

No entanto, ficou evidente nessa atuação<br />

que é de grande importância a inclusão na<br />

escola comum, acontecendo a verdadeira<br />

inclusão dentro de cada um de nós, quando<br />

passamos a ver e a enxergar o outro, independentemente<br />

de suas limitações ou suas<br />

diferenças.<br />

Diante deste projeto, o mais importante<br />

foi transmitir que a inclusão não significa<br />

apenas o preenchimento de espaço físico;<br />

significa entender que as pessoas têm possibilidades<br />

de aprender e ensinar das mais<br />

variadas formas e com diferentes ritmos.<br />

Referências<br />

MANTOAN, M. T. E. Diferenciar <strong>para</strong> incluir<br />

ou <strong>para</strong> excluir? Por <strong>uma</strong> pedagogia da diferença.<br />

Diversa: <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong> na prática<br />

[online], p. 1-5, out. 2013. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 15 out. 2016.<br />

Daniela Cristina Furtado, Terezinha Aparecida Buss de Carvalho, Gisele Cristina Régis de Souza<br />

53


54<br />

Práticas de <strong>Educação</strong><br />

Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Uma visão<br />

cidadã no Centro<br />

de <strong>Educação</strong><br />

Infantil<br />

Suriane Latini<br />

Luciana Otto Freire<br />

A realização deste projeto justificou-se a<br />

partir da demanda de execução de atividades<br />

que criassem <strong>uma</strong> visão de igualdade<br />

no tratamento entre os alunos e os profissionais<br />

do Centro de <strong>Educação</strong> Infantil (CEI),<br />

respeitando a diversidade linguística proveniente<br />

da diferenciação oralização x Língua<br />

Brasileira de Sinais (LIBRAS), que, muitas vezes,<br />

impõe barreiras no ato de comunicação<br />

de estudantes.<br />

A comunicação ocorre de diferentes formas e<br />

estilos, como no caso da LIBRAS. Assim, pensando<br />

em <strong>uma</strong> proposta inclusiva, este projeto<br />

teve como objetivo estimular <strong>uma</strong> visão<br />

cidadã nos alunos e nos funcionários do Centro<br />

de <strong>Educação</strong> Infantil, visando a inclusão<br />

do aluno surdo. As metas dessa ação foram:<br />

• Mostrar a importância da comunicação<br />

por meio da Libras.<br />

• Estimular <strong>uma</strong> consciência cidadã, visando<br />

o respeito ao outro.<br />

• Proporcionar experiências de forma a ampliar<br />

a percepção e o respeito ao outro.


O projeto Acessibilidade<br />

por meio da cidadania<br />

A semana da pessoa com deficiência veio<br />

fomentar a ideia de trabalharmos o tema cidadania<br />

com as crianças do maternal I, tendo<br />

por foco a surdez e estratégias <strong>para</strong> que<br />

elas pudessem vivenciar tal limitação, pois<br />

os alunos possuem um colega nessa condição.<br />

Este projeto aconteceu em <strong>uma</strong> parceria<br />

da profissional interprete de LIBRAS<br />

com as professoras do Maternal I, a fim de<br />

compartilhar conhecimentos e desenvolver<br />

atividades <strong>para</strong> fortalecer a interação e a comunicação<br />

dessa turma.<br />

Em um primeiro momento, fizemos <strong>uma</strong> contação<br />

de história do livro Chapéu, de Paul<br />

Hoppe, quando tratamos dos temas valorização<br />

e respeito ao outro. As crianças recontaram<br />

a história e o aluno surdo também o fez,<br />

do jeito dele, considerando que a sua aquisição<br />

da LIBRAS ainda está em fase inicial de<br />

aprendizagem, sendo sua comunicação em<br />

forma de apontamentos.<br />

Em um segundo momento, a professora<br />

trouxe um fone de ouvido abafador, <strong>para</strong> que<br />

fosse colocado nas crianças e estas percebessem<br />

como é a ausência do som. Alg<strong>uma</strong>s<br />

crianças perderam o equilíbrio, outras se<br />

sentiram desconfortáveis e alg<strong>uma</strong>s gostaram<br />

da experiência.<br />

Após essas duas atividades, fizemos <strong>uma</strong><br />

roda de conversa, explicando a importância<br />

da comunicação e a forma de dirigir-se ao<br />

colega com atitudes como tocar, superando<br />

o chamar, olhar frente a frente. Aproveitando<br />

do contexto, ensinamos aos alunos alguns<br />

sinais como: oi, banheiro, comer, brincar,<br />

desculpas, etc. As crianças partici<strong>para</strong>m<br />

ativamente e interagiram com o colega.<br />

Para finalizar, fizemos <strong>uma</strong> apresentação<br />

cultural <strong>para</strong> todo o Centro de <strong>Educação</strong><br />

Infantil sobre a semana da Pátria, quando<br />

interpretei o Hino Nacional em LIBRAS juntamente<br />

ao hasteamento da bandeira realizada<br />

pelo aluno surdo. Ao fim do hasteamento,<br />

esse estudante se dirigiu <strong>para</strong> a caixa de<br />

som a fim de sentir a vibração sonora e ficou<br />

encantado ao sentir tal experiência. Os alunos<br />

partici<strong>para</strong>m caracterizados de verde e<br />

amarelo e com bandeirinhas.<br />

56 Uma visão cidadã no Centro de <strong>Educação</strong> Infantil


Eu atuei todo o tempo dando suporte e orientação<br />

à professora e aos alunos e demais funcionários<br />

do centro de educação infantil.<br />

Contribuições <strong>para</strong> a turma<br />

Por meio de observação e registro percebemos<br />

que as atividades propostas nesse projeto<br />

fizeram com que os alunos interagissem<br />

mais com o colega e vice-versa, havendo<br />

mais interação durante as brincadeiras e o<br />

uso de alguns sinais <strong>para</strong> se comunicarem.<br />

Afinal, segundo, Quadros e Schmiedt (2006,<br />

p. 7): “A educação constitui direito de todos<br />

os cidadãos brasileiros, surdos ou não,<br />

e cabe aos sistemas de ensino viabilizar as<br />

condições de comunicação que garantam o<br />

acesso ao currículo e à informação”.<br />

Referência<br />

QUADROS, R. M. de.; SCHMIEDT, M. L. P.<br />

Idéias <strong>para</strong> ensinar português <strong>para</strong> alunos<br />

surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.<br />

Suriane Latini , Luciana Otto Freire<br />

57


58<br />

Práticas de <strong>Educação</strong><br />

Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Novas<br />

descobertas<br />

no mundo<br />

Down<br />

Simone Conti Pereira<br />

Conhecendo a Síndrome de Down<br />

O presente projeto Novas Descobertas no<br />

Mundo Down teve como ponto de partida<br />

a inclusão escolar de <strong>uma</strong> determinada<br />

criança com Síndrome de Down (SD), a qual<br />

auxilio desde 2014. O projeto trouxe a ideia<br />

de igualdade de direitos e, principalmente,<br />

o respeito às diferenças independentemente<br />

das necessidades especiais que o sujeito<br />

apresenta mediante as atividades propostas<br />

a todo o grupo.<br />

Segundo a Fundação Síndrome de Down:<br />

A síndrome de Down é <strong>uma</strong> alteração<br />

genética produzida pela presença de<br />

um cromossomo a mais, o par 21, por<br />

isso também conhecida comotrissomia<br />

21. A SD foi descrita em 1866 por John<br />

Langdon Down. Esta alteração genética<br />

afeta o desenvolvimento do indivíduo,<br />

determinando alg<strong>uma</strong>s características<br />

físicas e cognitivas. A maioria das pessoas<br />

com SD apresenta a denominadatrissomia<br />

21 simples, isto significa que


um cromossomo extra está presente<br />

em todas as células do organismo, devido<br />

a um erro na se<strong>para</strong>ção dos cromossomos<br />

21 em <strong>uma</strong> das células dos<br />

pais. Este fenômeno é conhecido como<br />

disfunção cromossômica. (FUNDAÇÃO<br />

SÍNDROME DE DOWN, 2013).<br />

Acredito e considero a possibilidade de um<br />

desenvolvimento que leve o educando à manifestação<br />

de desejos de independência e<br />

participação, fazendo-o importante no processo<br />

de interação do aluno na escola, lugar<br />

onde poderá mostrar que é capaz de superar<br />

suas limitações e desenvolver habilidades. É<br />

no dia a dia que as dificuldades podem ser<br />

superadas com metas e objetivos a serem alcançados<br />

e, principalmente, com a parceria<br />

família, escola e sociedade.<br />

O empenho e a afetividade representam o<br />

primeiro passo <strong>para</strong> essa descoberta com<br />

os princípios de aceitação, valorização, convivência<br />

dentro da diversidade e aprendizagem<br />

por meio da interação.<br />

A inclusão escolar deve considerar a diferença<br />

dos alunos em processo educacional<br />

iguais <strong>para</strong> todos. Cada criança desenvolve<br />

sua própria maneira de aprender a ler e a escrever.<br />

Esse processo inicia-se no ambiente<br />

familiar quando a criança buscar compreender<br />

o mundo ao seu redor. Segundo a teoria<br />

piagetiana, é um ser ativo que pensa sobre<br />

o objeto de conhecimento da língua escrita,<br />

em um processo interativo, social e escolar.<br />

Para compreender o aluno com SD, é necessário<br />

conhecer suas características <strong>para</strong><br />

desenvolver <strong>uma</strong> ação pedagógica, promovendo<br />

a inclusão escolar. Assim, a educação<br />

escolar deve aproveitar o máximo da capacidade<br />

do aluno com SD <strong>para</strong> que ele interaja<br />

e relacione-se com as demais pessoas de<br />

forma natural. Sua aprendizagem é mais lenta,<br />

assim as etapas devem ser respeitadas e<br />

estimuladas por meio de atividades lúdicas.<br />

Como parceria <strong>para</strong> o desenvolvimento do<br />

educando, a criança com SD frequenta:<br />

• O Centro Municipal de <strong>Educação</strong> Alternativa<br />

de Itajaí (CEMESPI), atualmente<br />

com atendimento especializado com<br />

cada criança matriculada no ensino regular<br />

nas áreas de estimulação, psicopedagogia,<br />

fonoaudiologia, psicologia e<br />

60 Novas descobertas no mundo Down


Simone Conti Pereira<br />

61


fisioterapia, além de ter grande parceria<br />

com os educandos na rede municipal de<br />

ensino, favorecendo a participação e a<br />

aprendizagem, no período contra-turno.<br />

• A Associação de Equoterapia do Vale de<br />

Itajaí e Litoral (ADEVIL), <strong>uma</strong> entidade<br />

sem fins lucrativos que utiliza o cavalo<br />

em <strong>uma</strong> abordagem interdisciplinar, nas<br />

áreas de Saúde, <strong>Educação</strong> e Equitação,<br />

<strong>para</strong> o tratamento de pessoas com necessidades<br />

especiais.<br />

A equoterapia, <strong>para</strong> as pessoas com SD,<br />

possui um método terapêutico educacional,<br />

buscando o desenvolvimento biológico,<br />

psicológico e social. Seu objetivo é diminuir<br />

o atraso da motricidade ampla e fina, facilitando<br />

as reações posturais necessárias<br />

<strong>para</strong> o desempenho normal, contribuir <strong>para</strong><br />

o aprendizado e aumentar a capacidade de<br />

independência.<br />

A rotina na vida do educando com SD é algo<br />

que traz segurança e tranquilidade, pois ele<br />

compreende a sequência das atividades desenvolvendo<br />

a noção de tempo, observa a<br />

sequência dos acontecimentos no cotidiano<br />

escolar, resultando na aprendizagem e no<br />

desenvolvimento da autonomia. Nesse sentido,<br />

as ações desse relato visaram auxiliar o<br />

aluno com Síndrome de Down no processo<br />

de ensino – aprendizagem, superando suas<br />

limitações e desafios, tornando-o sujeito<br />

participativo e ativo no cotidiano escolar.<br />

Outras metas da ação foram:<br />

• Estimular a autonomia nas situações<br />

simples do dia a dia (Guardar mochila, ir<br />

ao banheiro, organização de materiais<br />

pedagógicos).<br />

• Degustar e experimentar alimentos diversos<br />

com autonomia, demonstrando<br />

suas preferências, se servindo no buffet.<br />

• Estabelecer vínculo de confiança com a<br />

criança e a família.<br />

• Realizar inicialmente com auxílio, <strong>para</strong><br />

depois com autonomia, as atividades<br />

pedagógicas de complexidade proposta<br />

pela professora regente.<br />

• Adquirir hábitos de higiene.<br />

• Ter autonomia <strong>para</strong> lavar as mãos, esco-<br />

62<br />

Novas descobertas no mundo Down


var os dentes, limpar-se, despir-se, vestirse<br />

e calçar-se.<br />

• Criar um ambiente igualitário e de aceitação<br />

entre o sujeito em questão com os<br />

demais alunos e profissionais no contexto<br />

escolar.<br />

Nesse sentido, as atividades relatadas basearam-se<br />

em alguns eixos de ação pautados<br />

em aspectos como: afetividade; autonomia;<br />

corpo/equilíbrio; coordenação motora ampla<br />

e fina; expressão oral; interação e socialização;<br />

hábitos de higiene pessoal e alimentar;<br />

globalização; valores e respeito.<br />

Projeto Novas descobertas<br />

no mundo Down<br />

Apropriei-me dos momentos planejados e<br />

executados pela professora regente, em comum<br />

acordo, <strong>para</strong> que as atividades propostas<br />

incluíssem o educando com SD sem<br />

distinção, mas sim com igualdade, capacitando-o<br />

e estimulando-o <strong>para</strong> ultrapassar suas<br />

limitações provenientes a sua síndrome.<br />

Conviver com crianças de diferentes origens<br />

e culturas em <strong>uma</strong> unidade escolar possibilitou<br />

ao educando desenvolver sua capacidade<br />

de superação no caminhar, brincar com<br />

os brinquedos no parque e até mesmo jogar<br />

futebol com o grupo.<br />

No início do trabalho com o aluno, ele somente<br />

se locomovia sentado. Após vários<br />

estímulos e a parceria dos profissionais do<br />

CEMESPI, da Equoterapia, da professora de<br />

educação física, da professora regente e da<br />

família, fomos estimulando a criança a caminhar<br />

segurando suas mãos, por meio das<br />

brincadeiras como pega-pega, pisar na corda,<br />

jogar bola, dançar, subir e descer as escadas<br />

do parque.<br />

O Referencial Curricular Nacional <strong>para</strong> a<br />

<strong>Educação</strong> Infantil afirma que:<br />

Brincar é <strong>uma</strong> das atividades fundamentais<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento da identidade<br />

e da autonomia da criança. Desde<br />

muito cedo, pode se comunicar por meio<br />

de gestos, sons e mais tarde ter determinado<br />

papel na brincadeira faz com<br />

que ela desenvolva sua imaginação... A<br />

Simone Conti Pereira<br />

63


fantasia e a imaginação são elementos<br />

fundamentais <strong>para</strong> que a criança aprenda<br />

mais sobre a relação entre pessoas.<br />

(BRASIL, 1998, p. 22).<br />

O processo <strong>para</strong> o desenvolvimento foi lento,<br />

em alguns momentos precisei respeitar<br />

seu ritmo, interesse, procurando sempre<br />

oferecer o melhor <strong>para</strong> atender suas necessidades.<br />

Em <strong>uma</strong> linda manhã, o educando<br />

caminhou sozinho pela primeira vez no parque,<br />

resultado de vários estímulos. Foi gratificante<br />

ver a alegria da nova descoberta no<br />

mundo Down do meu educando.<br />

Dessa forma, quanto mais estímulos o aluno<br />

recebia, maior a confiança de continuar<br />

prosseguindo. No segundo semestre, despertou<br />

o interesse de brincar no parque,<br />

imitando seus amigos a subir e a descer no<br />

escorregador. No início, com muitas dificuldades<br />

e com meu auxílio, a criança subia e,<br />

ao descer, ela sentava <strong>para</strong> depois escorregar.<br />

Sempre havia um amigo <strong>para</strong> segurá-la<br />

e fazer a festa na descida. Foram várias tentativas<br />

durante uns três meses, mas, com<br />

insistência do aluno, ele conseguiu subir as<br />

escadas e soltar as mãos, escorregando de<br />

barriga <strong>para</strong> baixo. No início do ano letivo,<br />

o aluno continuava brincando no escorregador,<br />

mas, logo após um mês, ele se sentou<br />

e desceu o escorregador. Atualmente o educando<br />

brinca no parque com independência,<br />

interagindo com os demais do grupo, jogando<br />

futebol no gramado, por exemplo.<br />

No decorrer do ano, durante o projeto, no<br />

momento de utilizar a massa de modelar e a<br />

tinta guache, sempre ao lado dele, o estimulava<br />

de forma lúdica, fazendo ter confiança,<br />

curiosidade e prazer ao manusear o material,<br />

sentir a textura, observar as cores com<br />

o objetivo de realizar a atividade proposta<br />

naquele dia. Hoje o educando já manuseia<br />

com facilidade, chegando ao proposto com<br />

independência e autonomia expressando-se<br />

com prazer.<br />

Inicialmente, o aluno não se alimentava sozinho,<br />

não segurava os talheres e não aceitava<br />

a degustação. Durante o processo, com bastante<br />

calma, já que alimentação precisa ser<br />

prazerosa, eu o auxiliava, esperando sua vez<br />

na fila, se servindo no buffet e alimentandose<br />

com autonomia, muitas vezes repetindo<br />

as refeições.<br />

A convivência com o grupo e a socialização<br />

no começo do ano letivo fez com que a parceria<br />

escola e família fossem trabalhando<br />

sua independência e autonomia <strong>para</strong> o desfralde,<br />

já que o aluno ainda usava fraldas. A<br />

Incluí-lo nos momentos da música, da dança<br />

e da expressão corporal demonstrou alg<strong>uma</strong>s<br />

vezes timidez, mas, aos poucos, a criança<br />

foi socializando e expressando-se. Foi assim,<br />

então, que o meu aluno participou do<br />

momento cultural. Ele apresentou ao CEI e<br />

aos pais a música do nome do grupo Abelha.<br />

Seu desenvolvimento tem sido produtivo.<br />

Ele ainda apresenta dificuldades em relacionar-se<br />

com alguns tipos de materiais, como,<br />

por exemplo: a massa de modelar e a tinta<br />

guache, sentindo um pouco de receio ao<br />

manuseá-los.<br />

64<br />

Novas descobertas no mundo Down


insistência e a perseverança fizeram com<br />

que ir ao banheiro se tornasse rotina no seu<br />

cotidiano, ainda com auxílio, satisfazendo<br />

assim suas necessidades fisiológicas.<br />

Resultados alcançados<br />

No decorrer de cada metodologia já descrita,<br />

houve pontuações de desenvolvimento do aluno,<br />

com aceitações devido às características da<br />

síndrome. O aluno respondeu positivamente a<br />

alg<strong>uma</strong>s atividades e superações, mas há alg<strong>uma</strong>s<br />

limitações e desafios a serem superados,<br />

tais como a pintura.<br />

As atividades pedagógicas o incluírem na rotina<br />

fazendo-o respeitar, valorizar e agir com todas<br />

as outras crianças, como, por exemplo: estar na<br />

fila, guardar a mochila, não bater nos amigos.<br />

Foi produtivo e positivo adquirir a confiança<br />

da família e do aluno a cada dia, caminhando<br />

juntos no caminho das aceitações, autonomia<br />

e independência. Cada resultado alcançado<br />

foi <strong>uma</strong> gratificação. Assim sei que<br />

estamos percorrendo e alcançando as “Novas<br />

descobertas do mundo Down”.<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong> e do Desporto.<br />

Secretaria de <strong>Educação</strong> Fundamental. Referencial<br />

Curricular Nacional <strong>para</strong> a <strong>Educação</strong><br />

Infantil: introdução. v. 2. Brasília: MEC, 1998.<br />

FUNDAÇÃO SÍNDROME DE DOWN. O que<br />

é Síndrome de Down. 2013. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 24 maio 2016.<br />

Simone Conti Pereira<br />

65


66<br />

Práticas de <strong>Educação</strong><br />

Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Os Mosqueteiros<br />

Karina Pickering Pollheim<br />

O foco do trabalho da psicopedagoga institucional<br />

que realizo em <strong>uma</strong> escola da Rede<br />

Municipal de Ensino é identificar as dificuldades<br />

de aprendizagem e apresentar caminhos<br />

possíveis <strong>para</strong> suavizá-las. Partindo<br />

desse princípio, elaborei instrumentais <strong>para</strong><br />

utilização durante o período de sondagem<br />

com os alunos da Escola Básica Marechal<br />

Olímpio Falconieri da Cunha.<br />

Nesse processo, observei um número acentuado<br />

de alunos com idade entre 13 e 16<br />

anos que apresentavam grande defasagem<br />

nas habilidades da leitura e da escrita e, consequentemente,<br />

encontravam-se com sua<br />

autoestima abalada, apresentando transtornos<br />

emocionais que dificultavam ainda mais<br />

o desenvolvimento da sua aprendizagem.<br />

Esses alunos apresentavam características<br />

semelhantes à dislexia, porém a maioria deles<br />

não possuía laudo médico, embora tenham<br />

sido encaminhados pela escola. Por<br />

<strong>uma</strong> série de motivos, eles nunca foram avaliados<br />

por médicos ou especialistas. Eles estavam,<br />

assim, desam<strong>para</strong>dos de adaptações<br />

curriculares garantidas por lei. Ao analisar<br />

os resultados, encontrei dezenove adolescentes<br />

nessa condição. Assim sendo, resolvi<br />

desenvolver um projeto <strong>para</strong> modificar essa<br />

realidade cognitiva e afetiva frente ao universo<br />

escolar.<br />

Ao analisarmos a literatura, podemos compreender<br />

que a dislexia é um distúrbio na<br />

leitura que acarreta dificuldades também na<br />

escrita. Normalmente, é detectada na fase<br />

de alfabetização, período em que a criança


inicia o processo de leitura e escrita, devido<br />

à dificuldade do aluno aprender o código<br />

gráfico.<br />

Baseada em Jimenez (1989), podemos afirmar<br />

que a criança com dislexia geralmente<br />

possui inteligência normal ou até acima da<br />

média da maioria das pessoas, desenvolvendo<br />

habilidades artísticas, interpessoais e em<br />

pesquisas e novas descobertas, por possuir<br />

<strong>uma</strong> mente criativa e inovadora.<br />

Habitualmente diz-se que <strong>uma</strong> criança<br />

é disléxica quando encontra dificuldades<br />

na aprendizagem da leitura apesar<br />

de ter um desenvolvimento intelectual<br />

adequado <strong>para</strong> esse processo. Existem<br />

alguns autores que fazem <strong>uma</strong> diferenciação<br />

entre leitores com atraso e sujeito<br />

disléxico. Com isso, referem-se às<br />

crianças que tem um atraso de dois ou<br />

mais anos na aprendizagem da leitura<br />

e que pode ser devido a fatores emocionais,<br />

motivacionais, socioculturais<br />

ou educativos. No caso da dislexia,<br />

nenhum dos fatores mencionados é a<br />

causa explicativa, o que não exclui que<br />

alg<strong>uma</strong>s crianças que apresentam dislexia<br />

tenham alg<strong>uma</strong>s das características<br />

mencionadas, associadas ao seu<br />

problema. (JIMENEZ; ARTICLES, 1989).<br />

Posso pontuar celebridades em destaque<br />

que confirmam a inteligência da pessoa com<br />

dislexia, é o caso de mentes geniais como<br />

Bill Gates, Albert Einstein, Steven Jobs, Johnny<br />

Depp, Graham Bell, Agatha Christie, entre<br />

outros.<br />

Diante da real situação apresentada por esses<br />

alunos identificados pela escola e que<br />

não tinham diagnóstico, porém com <strong>uma</strong><br />

grande defasagem no seu processo de leitura<br />

e escrita, surgiu a ideia de organizar <strong>uma</strong><br />

ação multiprofissional, composta pela profissional<br />

de Psicopedagogia, a professora de<br />

<strong>Educação</strong> Especial, a professora de Língua<br />

Portuguesa e a Orientadora Educacional,<br />

<strong>para</strong> desenvolver atividades lúdicas, dinâmicas,<br />

reflexões, orientações pedagógicas,<br />

educacionais e emocionais, com o principal<br />

objetivo de buscar mecanismos e recursos<br />

que possibilitassem os avanços do grupo<br />

em relação a sua aprendizagem emocional<br />

e acadêmica. Nesse contexto, nasceu o projeto<br />

“Os mosqueteiros”. O objetivo foi, então,<br />

68 Os Mosqueteiros


estimular a inteligência emocional <strong>para</strong> ampliar<br />

o nível da construção e da aquisição da<br />

leitura e escrita e buscar mecanismos e recursos<br />

que desenvolvessem a aprendizagem<br />

de forma global.<br />

• Para atingir esse objetivo, pensamos nas<br />

seguintes ações:<br />

• Desenvolver no grupo <strong>uma</strong> autoestima<br />

fortalecida e apresentar habilidades e<br />

inteligências adormecidas por falta de<br />

estímulos.<br />

• Estimular a reflexão, trabalhando perdas<br />

e frustrações, desenvolvendo o autocontrole<br />

dos pensamentos e das atitudes.<br />

• Desenvolver a consciência fonológica, na<br />

percepção e na relação dos grafemas e<br />

dos fonemas.<br />

• Ampliar o vocabulário do grupo, organizando<br />

ideias e pensamentos em forma<br />

de frases, observando a sequência, as<br />

concordâncias, a pontuação gráfica e o<br />

espaçamento entre palavras.<br />

• Estruturar pequenos textos, seguindo<br />

<strong>uma</strong> sequência lógica e coerente na sua<br />

elaboração.<br />

“Um por todos e todos por um”<br />

Iniciei o projeto com a proposta de trabalhar<br />

quinzenalmente, durante <strong>uma</strong> hora e<br />

trinta minutos, desenvolvendo momentos<br />

de reflexão, análise e intervenções pisicopedagógicas.<br />

Minha proposta era buscar o<br />

envolvimento e o crescimento emocional e<br />

pedagógico dos educandos.<br />

Iniciei apresentando um livro em PDF, chamado<br />

João presta atenção, da autora Patrícia<br />

Secco. A autora relata a história de um<br />

garoto de 9 anos que passava por muitos<br />

momentos de frustrações na escola, até o<br />

momento que recebeu o diagnóstico de dislexia<br />

e TDAH. A partir desse momento, tudo<br />

mudou em sua vida escolar, familiar e social.<br />

Concluído o filme, realizei <strong>uma</strong> roda de conversa,<br />

onde cada aluno se percebeu em algum<br />

momento de sua vida escolar ou familiar,<br />

vivendo as mesmas situações e dificuldades<br />

encontradas por João. Na sequência, pontuei<br />

o que é a dislexia, como é identificada<br />

e quais os meios que encontramos <strong>para</strong> con-<br />

Karina Pickering Pollheim<br />

69


viver e superar esta dificuldade centrada na<br />

aquisição da leitura e na escrita.<br />

Ao perceberem que não eram únicos diante<br />

das dificuldades apresentadas, eles se sentiram<br />

motivados e criaram um nome ao grupo:<br />

“Os Mosqueteiros”, com o lema: “Um por todos<br />

e todos por um”. Todos buscavam o mesmo<br />

objetivo, de serem mais seguros, felizes<br />

e autônomos, desenvolvendo habilidades<br />

que auxilissem a superar suas dificuldades e<br />

suas limitações.<br />

Organizei um café delicioso <strong>para</strong> o grupo.<br />

Muitas ideias foram surgindo nesse momento<br />

de descontração, como a criação de<br />

um brasão, entre muitas outras sugestões.<br />

Muitos deles ainda estavam inseguros, com<br />

medo de se manifestar ou expor suas ideias,<br />

mas a vontade de cada educando foi respeitada<br />

e todo momento trabalhei com reforços<br />

positivos.<br />

No segundo encontro, contei a história dos<br />

Mosqueteiros, falando do seu criador e apresentando<br />

<strong>uma</strong> pequena síntese da história,<br />

assim como as características de cada personagem.<br />

Propus que eles escolhessem um<br />

deles que lhes gerassem mais identificação.<br />

O grupo observou características como coragem,<br />

lealdade, curiosidade, liderança, entre<br />

outras, as quais geraram <strong>uma</strong> motivação<br />

de buscar essas qualidades. Diante dessa<br />

troca de experiências e desejos, a proposta<br />

de realizar a primeira coleta de escrita foi<br />

aceita com alegria e tranquilidade.<br />

Começamos também a desenvolver o brasão<br />

do grupo, que ficou decidido que seria o desenho<br />

dos lápis cruzados (como se fossem<br />

espadas) e o caderno (o escudo), representando<br />

o objetivo do grupo de desenvolver a<br />

leitura e a escrita, com resultados positivos<br />

nas diversas áreas do desenvolvimento do<br />

grupo.<br />

A cada encontro foi trabalhada <strong>uma</strong> técnica<br />

de motivação <strong>para</strong> desenvolver o autocontrole,<br />

a determinação e a autoestima. Paralelamente<br />

a essas atividades foram sendo<br />

desenvolvidos exercícios de consciência fonológica,<br />

utilizando o alfabeto móvel, tablet,<br />

jogos de soletrar, rimas, histórias em sequência,<br />

elaboração e estruturação de pequenos<br />

textos, entre outras atividades.<br />

Uma das técnicas realizadas e que produziu<br />

excelente efeito foi a técnica VENCENDO<br />

SEUS MONSTROS, em que o aluno fez <strong>uma</strong><br />

auto análise de tudo que vinha atrapalhando<br />

sua vida e seu crescimento e, em seguida,<br />

eles realizaram o desenho do monstro, colocando<br />

nele todos os sentimentos e pensamentos<br />

negativos.<br />

No espaço externo da escola, reuni o grupo<br />

com seus respectivos desenhos e realizamos<br />

a fogueira, onde cada aluno queimou e eliminou<br />

seus medos e suas angústias. Em outro<br />

momento, dirigi um estudo sobre os “Famosos<br />

Dislexicos”. Nesse momento, os alunos<br />

tiveram a oportunidade de conhecer a realidade<br />

de artistas com dislexia e reconhecerem<br />

neles suas próprias dificudades.<br />

“Você não quer ser retardada ou estúpida<br />

a vida inteira. Ouvia isso sempre<br />

de seus professores, mas enquanto isso<br />

minha mãe dizia: Você pode ser qualquer<br />

coisa que queira”. Eu sabia que eu<br />

não era nem muda e nem estúpida e corri<br />

atrás do meu sonho. Ser atriz. Um dia<br />

Steven Spielberg me viu em um show de<br />

comédia e me convidou <strong>para</strong> participar<br />

do filme ‘A Cor Púrpura’”. Whoopi Goldberg.<br />

“A dislexia não é <strong>uma</strong> deficiência é um<br />

presente. Sou capaz de ler o mundo visual<br />

mais rapidamente que muitos dos<br />

meus amigos não disléxicos”. Steven<br />

Jobs.<br />

Fui totalmente desestimulado em meus<br />

dias de escola. E nada é mais desencorajador<br />

do que ser marginalizado em<br />

sala de aula, o que nos leva a sentirmonos<br />

inferiores em nossa origem h<strong>uma</strong>na.<br />

Winston Churchill.<br />

Falhei na minha escola por minha dificuldade<br />

na leitura e escrita. Sempre fui<br />

incentivado por meu pai, que era professor<br />

de artes, assim fui desenvolvendo<br />

meu talento. Pablo Picasso.<br />

Este estudo promoveu <strong>uma</strong> grande transformação<br />

na mente de cada um desses alunos.<br />

Começaram a acreditar que poderiam lutar<br />

pelos seus sonhos e que poderiam desenvolver<br />

muitas habilidades mesmo diante das dificuldades<br />

apresentadas.<br />

70<br />

Os Mosqueteiros


A partir dessa conquista, desenvolvi um<br />

trabalho com a equipe multiprofissional da<br />

escola. Forneci <strong>para</strong> cada professor em momento<br />

de pré-conselho <strong>uma</strong> listagem dos<br />

alunos participantes do projeto e orientações<br />

de atividades que favorecessem a aprendizagem<br />

de todos os alunos, de maneira que<br />

eles se sentissem seguros e estimulados no<br />

ambiente de sala de aula. Essa parceria entre<br />

os professores e a equipe multiprofissional,<br />

tanto na orientação, na aplicação e na<br />

supervisão das atividades e da avaliações,<br />

foi fundamental.<br />

Já posso observar os avanços nesses adolescentes.<br />

A luta contra as dificuldades que<br />

possuem e que juntos, a cada dia, eles vêm<br />

melhorando o desempenho escolar. Por meio<br />

desse projeto, tenho conseguido fazer valer<br />

nosso lema: “Um por Todos Todos Por Um!”.<br />

Contribuições <strong>para</strong> o grupo<br />

As primeiras observações de avanços foram<br />

em relação à motivação e à segurança do<br />

grupo. Aos poucos todos conseguiram se<br />

expressar, com segurança e alegria. O relato<br />

dos professores em relação à autonomia e à<br />

autoestima dos alunos participantes do projeto<br />

tem sido positivas. Eles têm realizado as<br />

atividades propostas com resultados efetivos,<br />

o que me leva a perceber que o objetivo<br />

do projeto foi alcançado.<br />

Nos momentos da coleta de escrita, percebi<br />

<strong>uma</strong> evolução significativa na relação do<br />

fonema e do grafema; os alunos procuram<br />

escutar, identificar e buscar o código escrito<br />

que represente o som. Realizando pequenas<br />

produções textuais, percebi o crescimento<br />

em relação à estruturação, à pontuação e ao<br />

espaçamento entre as palavras na organização<br />

de frases.<br />

Nas atividades no computador, de cruzadinhas<br />

e caça palavras, os alunos apresentaram<br />

um progresso na leitura e na escrita,<br />

caracterizando um avanço do aluno<br />

disléxico, na utilização desses recursos.<br />

Referência<br />

JIMENEZ, J.; ARTICLES, C. Como prevenir e<br />

corrigir as dificuldades de aprendizagem da<br />

escrita e leitura. Madri: Editorial Síntesis,<br />

1989.<br />

Karina Pickering Pollheim<br />

71


72<br />

Práticas de <strong>Educação</strong><br />

Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Oficinas de<br />

vivências...<br />

é sentindo que<br />

se aprende!<br />

Janine Calixto<br />

Vivências à “flor da pele”<br />

Nos tempos atuais do cotidiano escolar, de<strong>para</strong>mo-nos<br />

com <strong>uma</strong> rotina cada dia mais<br />

automatizada. Dentre os motivos, podemos<br />

destacar o grande montante de conteúdos<br />

curriculares, o cumprimento de diversas tarefas<br />

do calendário escolar, entre outras que<br />

ocasionam a falta de tempo <strong>para</strong> dialogar sobre<br />

as dificuldades da escola atual. Diante<br />

disso, não existe momento propício <strong>para</strong> tratarmos<br />

diretamente de temas emergentes<br />

de nosso contexto como as diferenças e o<br />

respeito à diversidade no cotidiano escolar.<br />

Embora o tema diversidade remeta às pessoas<br />

com deficiência, se pensarmos por outro<br />

lado, são elas as que encontram mais dificuldades<br />

no seu dia a dia e na vida escolar,<br />

e muitas vezes não têm suas possibilidades<br />

valorizadas. Diante de perguntas frequentes<br />

que os alunos fazem em relação aos alunos<br />

com deficiência, por meio de alguns olhares<br />

curiosos e alguns comentários desinformados,<br />

observo a necessidade de conversar e<br />

esclarecer o assunto, destacando as diferenças<br />

que encontramos em sala de aula mais do<br />

que o tema “deficiências”, como forma de enriquecimento<br />

de todos os alunos <strong>para</strong> a vida.


74<br />

Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!


Janine Calixto<br />

75


O processo de elevação do respeito às diferenças<br />

exige que possamos minimizar a distância<br />

de conhecimento entre eu e o outro,<br />

sendo o bom convívio e o relacionamento<br />

“peças-chave” <strong>para</strong> favorecer o processo de<br />

inclusão das crianças com deficiência no<br />

ensino comum e papel fundamental da escola<br />

atual. Segundo Mantoan (2006, p. 61):<br />

“A escola pre<strong>para</strong> o futuro, e, se as crianças<br />

aprenderem a valorizar e a conviver com as<br />

diferenças nas salas de aula, serão adultos<br />

bem diferentes de nós, que temos de nos<br />

empenhar tanto <strong>para</strong> entender e viver a experiência<br />

da inclusão!”.<br />

Nesse sentido, este relato detalha a experiência<br />

vivenciada na Semana da pessoa com<br />

deficiência, que é um evento municipal que<br />

acontece há 13 anos, entre os dias 21 e 28<br />

de agosto, e visa organizar atividades que<br />

permitam aos alunos, professores, pais e<br />

comunidade escolar refletirem sobre temas<br />

relacionados às temáticas da inclusão. Baseada<br />

nisso, as atividades descritas caracterizam-se<br />

por experiências e vivências voltadas<br />

à sensibilização de alunos do ensino comum<br />

de nossa unidade escolar.<br />

Neste espaço, priorizei experiências que promovessem<br />

a sensibilização, favorecendo a<br />

ideia de respeito às diferenças entre nossos<br />

alunos, por meio de atividades, como as de<br />

privação de sentidos <strong>para</strong> potencializar esse<br />

processo de identificação dessas diferenças.<br />

Salientamos que o conhecimento do limite<br />

do outro e, acima de tudo, o respeito àquilo<br />

que não é exatamente igual a mim, sempre<br />

é um processo enriquecedor, mesmo quando<br />

as diferenças pareçam imperceptíveis. Repensar<br />

o meu jeito de ser, de falar, de pensar,<br />

de caminhar, entre outros, definitivamente<br />

destaca que não somos iguais, e que essas<br />

diferenças merecem ser valorizadas.<br />

Assim sendo, proponho neste trabalho o<br />

compartilhamento de <strong>uma</strong> experiência prática<br />

que objetivou sensibilizar os alunos <strong>para</strong><br />

reflexão sobre dificuldades encontradas por<br />

alunos com deficiências, proporcionando vivências<br />

em que eles se colocassem no lugar<br />

do outro percebendo suas limitações e possibilidades.<br />

Podemos destacar como objetivos<br />

específicos <strong>para</strong> essa ação:<br />

• Proporcionar um ambiente desafiador com<br />

pequenas barreiras sensoriais e motoras.<br />

76<br />

Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!


Janine Calixto<br />

77


• Destacar limitações decorrentes das diversas<br />

deficiências.<br />

• Identificar novos caminhos e soluções<br />

<strong>para</strong> as limitações encontradas nas atividades<br />

desenvolvidas.<br />

• Valorizar o outro nas suas diferenças.<br />

• Reconhecer a necessidade de ser ajudado<br />

em atividades cotidianas.<br />

• Refletir sobre os diferentes caminhos encontrados<br />

<strong>para</strong> a superação dos desafios<br />

das diversas deficiências.<br />

• Mãos à obra: oficinas de vivências - é<br />

sentindo que se aprende<br />

Quando somos privados de utilizar nossos<br />

sentidos e enfrentamos na prática atividades<br />

do dia a dia, percebemos as várias barreiras<br />

encontradas por aqueles que vivenciam<br />

sempre essa privação. Essa experiência favorece<br />

o processo de nos colocarmos no lugar<br />

do outro e “sentir na pele” as limitações<br />

vivenciadas no dia a dia. Partindo dessa lógica,<br />

planejamos a estrutura de atividades<br />

que aconteceu em <strong>uma</strong> sala de vivências<br />

<strong>para</strong> alunos de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental,<br />

de <strong>uma</strong> unidade escolar da Rede<br />

Municipal de Ensino de Itajaí.<br />

Nesse espaço, os alunos puderam experimentar<br />

atividades diferenciadas, vivenciando<br />

a utilização de outras habilidades, como:<br />

tato e sensações (deficiência visual); tarefas<br />

de mobilidade (deficiência física), e outras.<br />

O foco foi desenvolver a percepção de<br />

potencialidade existente nas deficiências,<br />

desconstruindo alguns conceitos errôneos<br />

sobre capacidades e limitações, bem como<br />

promover a reflexão sobre a forma de auxiliar<br />

os colegas quando necessário, respeitando-os<br />

da forma como são.<br />

Tendo em vista que, na maioria das turmas,<br />

estudam alunos com diferentes deficiências<br />

e também com sérias dificuldades de<br />

aprendizagem e problemas de relacionamentos<br />

entre colegas de classe, as atividades<br />

também visaram o desenvolvimento<br />

dessas habilidades, abrangendo a todos no<br />

trabalho de questões como respeito mútuo,<br />

aceitação das individualidades e diferenças,<br />

compreensão de características físicas, culturais,<br />

sociais, percebendo que, quando nos<br />

colocamos no lugar do outro, atentamos a<br />

detalhes, limitações, dificuldades, capacida-<br />

des e passamos a entendê-lo sem julgamentos.<br />

Assim, temos a convicção de que as diferenças<br />

que existem nas escolas contribuem<br />

grandemente <strong>para</strong> o crescimento de todos.<br />

Assim sendo, propus-me a desenvolver um<br />

trabalho, aproveitando a Semana da pessoa<br />

com deficiência. Montei <strong>uma</strong> sala de vivências,<br />

contemplando alunos de 1º ao 4º ano<br />

do Ensino Fundamental, que puderam realizar<br />

as seguintes atividades:<br />

• Vivência 1: Com os olhos vendados, os<br />

alunos montaram <strong>uma</strong> carinha, encaixando<br />

olhos e boca nos seus devidos<br />

lugares. Primeiro, eles colocaram velcro<br />

nos olhos e na boca, e, depois, deveriam<br />

caminhar <strong>uma</strong> pequena distância, até o<br />

painel, e usar o tato <strong>para</strong> colar o velcro e<br />

compor corretamente o rosto do boneco<br />

ou da boneca.<br />

• Vivência 2: Ainda com os olhos vendados,<br />

os alunos deveriam experimentar alguns<br />

alimentos (como sal, vinagre, leite condensado,<br />

molho de tomate, açúcar, etc.).<br />

Após degustar cada alimento, eles deveriam<br />

dizer o que estavam comendo.<br />

• Vivência 3: De olhos vendados, os alunos<br />

passaram por diferentes texturas (como<br />

lã, lixa, areia, gelo, tecidos, etc.).<br />

• Vivência 4: Os alunos, com a mobilidade<br />

do braço afetada (braços imobilizados<br />

por <strong>uma</strong> tala adaptada), deveriam pintar<br />

seus desenhos com guache.<br />

• Vivência 5: Os alunos, com a mobilidade<br />

da perna afetada (pernas imobilizadas<br />

por <strong>uma</strong> tala adaptada), deveriam ser colocados<br />

deitados, de barriga. Logo após,<br />

eles foram convidados a ficar de pé e caminhar<br />

um pouco.<br />

Finalizadas todas essas experiências, foi feita<br />

<strong>uma</strong> roda de conversa <strong>para</strong> que todos pudessem<br />

falar o que sentiram, quais as sensações<br />

e os medos, o que foi mais fácil e o que<br />

foi mais difícil. Foram questionados: “Vocês<br />

gostaram ou não das atividades desenvolvidas?”,<br />

“O que puderam perceber com estas<br />

vivências?”, “Qual tipo de tratamento que os<br />

meus colegas, que são diferentes de mim,<br />

devem receber?”, “Quem sabia de que tipo<br />

de deficiência estávamos tratando?”. Ao final<br />

dessa etapa, muitos foram os questionamentos<br />

e as contribuições dos alunos.<br />

78<br />

Oficinas de vivências... é sentindo que se aprende!


No final da roda de conversa, todos os participantes<br />

puderam deixar sua impressão sobre<br />

as atividades vivenciadas, contando com<br />

a participação da professora da sala de aula.<br />

Nesse momento, realizei minhas considerações<br />

finais sobre este trabalho, pontuando<br />

a importância das atividades <strong>para</strong> todos os<br />

alunos, qual foi meu objetivo, onde eu queria<br />

chegar ao propô-las. Unanimemente, todos<br />

concordaram que cada pessoa tem suas dificuldades,<br />

suas limitações, mas que todos<br />

nós temos condições de superá-las.<br />

A experiência e as aprendizagens<br />

Durante a realização do projeto percebi o<br />

quanto foi construtivo a realização das atividades<br />

<strong>para</strong> avanço no objetivo da ação que<br />

priorizava “sensibilizar”, “refletir” e “proporcionar<br />

vivências”, desde o ato de sair da sala<br />

de aula (que já torna a ação menos rotineira),<br />

quanto mudar o espaço, oportunizar aos<br />

alunos um novo ambiente de vivências, sem<br />

formato de sala de aula.<br />

Durante as tarefas que os alunos executaram,<br />

muitos perceberam que existem muitas<br />

habilidades requeridas nas atividades,<br />

tornando-se as tarefas mais simples quase<br />

que impossíveis com a privação de algum<br />

sentido. Todas as experiências visaram a superação<br />

do medo, de insegurança, capacidade<br />

em confiar e depender do outro e oportunizar<br />

a criação de momento de vivências<br />

“a flor da pele”. As experiências vivenciadas<br />

causaram <strong>uma</strong> reflexão sobre as situações<br />

vividas pelos alunos com deficiência em sala<br />

de aula.<br />

No relatar das experiências, muitos alunos<br />

informaram que se sentiram mal e que ficaram<br />

nervosos e apavorados ao perceber<br />

que não poderiam usar a visão, mesmo que<br />

momentaneamente. Outros disseram sentir<br />

muita dificuldade com a redução de mobilidade,<br />

na execução das tarefas. Muitos falaram<br />

que foi possível entender o que o outro<br />

aluno sentia ao não conseguir realizar as<br />

atividades, e que puderam compreender o<br />

quanto é frustrante querer fazer e não conseguir<br />

e tentar várias vezes. Essa reflexão é<br />

<strong>uma</strong> maneira de criar situações <strong>para</strong> transformar<br />

as relações entre os participantes do<br />

projeto, em ações futuras.<br />

Toda a aprendizagem nova do projeto foi<br />

<strong>para</strong> os alunos, <strong>uma</strong> experiência que causou<br />

medo e às vezes irritabilidade, mas todos<br />

estavam muito curiosos e ansiosos que chegasse<br />

logo a sua vez. Eles foram apreensivos,<br />

receptivos e abertos aos novos desafios. Nenhum<br />

aluno negou-se a participar. Ao final<br />

das atividades, alguns agradeceram a oportunidade<br />

e questionaram se a experiência se<br />

repetiria.<br />

As professoras que partici<strong>para</strong>m do projeto<br />

também se envolveram e deram continuidade<br />

às ações em suas atividades de sala<br />

de aula <strong>para</strong> construir textos, fazer relatos,<br />

montar painéis e outras produções com os<br />

alunos participantes. Muitos alunos conheceram<br />

meu trabalho e o da Sala Multifuncional,<br />

e, atualmente, me visitam. Foi <strong>uma</strong><br />

experiência muito dinâmica, com <strong>uma</strong> troca<br />

muito grande de informações e novas aprendizagens.<br />

Para finalizar, ficou claro que necessitamos<br />

de momentos de sair da rotina, viver outras<br />

experiências, usar outros sentidos, sentir e<br />

tocar diferentes texturas, conhecer o nosso<br />

corpo e tudo aquilo que ele nos proporciona,<br />

aprender a nos conhecer, inventar novas<br />

possibilidades, aprender com o outro, observar<br />

e sentir. Vale ressaltar o quanto ficou<br />

perceptível que todos temos limitações, que<br />

todos nós temos ou podemos ter deficiências,<br />

que não somos perfeitos e que juntos<br />

somos muito melhores.<br />

Referência<br />

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar - O que<br />

é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,<br />

2006.<br />

Janine Calixto<br />

79


80<br />

Práticas de <strong>Educação</strong><br />

Física na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Descoberta<br />

Erickson Jones Lima<br />

Primeira descoberta<br />

Com mais de 201.557 habitantes, localizada no<br />

litoral centro norte catarinense, a cidade de<br />

Itajaí realiza há algum tempo um trabalho de<br />

educação especial na Rede Municipal de Ensino<br />

que se diferencia de inúmeras localidades<br />

do Brasil. A partir do ano de 1999, tiveram início<br />

as atividades do Centro Municipal de <strong>Educação</strong><br />

Alternativa de Itajaí, e, em 2005, foi inaugurada<br />

a primeira Sala de Recursos Multifuncional,<br />

totalizando, atualmente, um número de 32 unidades,<br />

as quais oferecem atendimento educacional<br />

especializado, apoio e serviços especializados<br />

a mais de 600 crianças e adolescentes<br />

com deficiência em todo o município.<br />

Esse conjunto de espaços e serviços compõe<br />

esse novo conceito de trabalho, que constitui a<br />

idéia de rede de atenção e favorece a possibilidade<br />

de articulação interdisciplinar entre profissionais<br />

dos mais diferentes segmentos, tais<br />

quais: professor de educação especial, intérprete<br />

de Libras, agente de apoio em atividade<br />

de educação especial, psicólogo, fonoaudiólogo,<br />

psicopedagogo, fisioterapeuta, e outros que<br />

compõem o quadro de profissionais dessa área.<br />

Diante da complexidade do contexto educacional<br />

atual, a educação especial possui <strong>uma</strong> proposta<br />

de atenção às demandas de <strong>uma</strong> clientela<br />

específica, ou seja, alunos com deficiência,<br />

transtornos globais do desenvolvimento e altas<br />

habilidade/superdotação, considerados público<br />

-alvo dessa ação, como resposta especializada<br />

as suas diferenças.


A partir da elaboração da Política de <strong>Educação</strong><br />

Especial na Perspectiva da <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong><br />

(BRASIL, 2008), o Brasil assume <strong>uma</strong><br />

nova postura com o intuito de “constituir<br />

políticas públicas promotoras de <strong>uma</strong> educação<br />

de qualidade <strong>para</strong> todos os alunos”,<br />

passando a escola a ser concebida como<br />

<strong>uma</strong> instituição de educação formal fundamentada<br />

na concepção de direitos h<strong>uma</strong>nos,<br />

buscando a construção de um sistema<br />

educacional inclusivo, promovendo acesso a<br />

todos os alunos à escola comum; e, na <strong>Educação</strong><br />

Especial, a inclusão desses alunos<br />

público-alvo no ensino comum, conforme regulamentado<br />

na Meta 4 do Plano Nacional<br />

de <strong>Educação</strong> – PNE, conforme lei 13.005/14<br />

(BRASIL, 2014).<br />

A proposta da construção de um sistema<br />

educacional inclusivo é <strong>uma</strong> modificação<br />

intencional das políticas públicas que se encontram<br />

am<strong>para</strong>das legalmente em princípios<br />

teóricos fundamentados na valorização<br />

da igualdade e das diferenças presentes no<br />

ambiente escolar. Embora os conceitos “inclusão”,<br />

“diferença” e “respeito” figurem nessa<br />

perspectiva, o que percebemos na prática<br />

nos distancia muito desse ideal.<br />

Diante desse contexto, resolvi propor o diálogo<br />

com alguns segmentos da <strong>Educação</strong><br />

Especial, no caso dessa experiência, com as<br />

professoras das Salas de Recursos Multifuncionais,<br />

<strong>para</strong> identificar sua percepção sobre<br />

a realidade do Atendimento Educacional<br />

Especializado na Rede Municipal de Ensino.<br />

No primeiro momento, foi possível verificar<br />

inúmeras queixas, reclamações, indagações,<br />

mas indicações de possibilidade de mudança,<br />

cristalizando a realidade. Segundo Paulo<br />

Freire:<br />

Enquanto a mudança implica, em si<br />

mesma, <strong>uma</strong> constante ruptura, ora lenta,<br />

ora brusca, da inércia, a estabilidade<br />

encarna a tendência dessa pela cristalização<br />

da criação. Enquanto a estrutura<br />

social se renova através da mudança<br />

de suas formas, da mudança de instituições<br />

econômicas, políticas, sociais,<br />

culturais, a estabilidade representa a<br />

tendência de normalização da estrutura.<br />

(FREIRE, 1999, p. 47).<br />

Nesse sentido, verifiquei que, em todas as<br />

exposições de descontentamento do grupo,<br />

não existia espaço <strong>para</strong> comprometimento<br />

com a mudança e esforços necessários à<br />

modificação que qualquer realidade exige.<br />

Diante dessas situações, resolvi buscar subsídios<br />

teóricos e metodológicos que possibilitassem<br />

<strong>uma</strong> proposta de intervenção baseada<br />

no diálogo. Assim, nasceu a primeira<br />

descoberta, como ação <strong>para</strong> “Construir <strong>uma</strong><br />

prática pedagógica de valorização das diferenças,<br />

pautada na experimentação, criação,<br />

<strong>para</strong> construção de práticas mais h<strong>uma</strong>nitárias<br />

e inclusivas”. E, nesse sentido, melhorar<br />

os serviços de atendimento das crianças e<br />

dos adolescentes como público-alvo do AEE,<br />

atendidas na Rede de Ensino de Itajaí.<br />

Foram principais motivadoras dessa<br />

ação as seguintes indagações: Como podemos<br />

favorecer a comunicação como instrumento<br />

de h<strong>uma</strong>nização das relações entre<br />

os profissionais do AEE? Como podemos<br />

facilitar o processo de reflexão, mudança a<br />

partir de problemáticas do cotidiano com<br />

apoio de um grupo de referência? Como podemos<br />

auxiliar o professor de educação especial<br />

a estruturar seu processo de criação e<br />

registro? Como podemos divulgar o resultado<br />

desse trabalho?<br />

Imersão<br />

A partir dessa demanda de ação, e de todas<br />

as indagações geradas pelo diálogo com as<br />

professoras de <strong>Educação</strong> Especial, das Salas<br />

de Recursos Multifuncionais da Rede Municipal<br />

de Ensino de Itajaí, iniciei um processo<br />

de estruturação de <strong>uma</strong> proposta. Inicialmente,<br />

elaborei um instrumental intitulado<br />

“Caderno de atividades” com o intuito de<br />

favorecer o processo de registro e estruturação<br />

dos planos do professor de educação<br />

especial.<br />

O primeiro encontro do grupo, intitulado<br />

“Primeira fase”, aconteceu no auditório da<br />

Biblioteca Pública Municipal, no dia 18 de<br />

março. Ele contou com a apresentação do<br />

conceito geral do projeto, apresentação do<br />

vídeo “Quem se Importa?” (que retrata ações<br />

efetivadas em diferentes partes do mundo,<br />

como resposta a <strong>uma</strong> problemática local).<br />

Foram apresentados conceitos importantes<br />

do projeto, e, na sequência, houve a divisão<br />

dos profissionais em grupos conforme sua<br />

localidade. Eles foram assim distribuídos:<br />

82 Descoberta


Central, Cidade Nova, Cordeiros, Fazenda,<br />

Itaipava, Salseiros e São Vicente.<br />

Cada grupo deveria identificar as problemáticas<br />

de sua localidade, por meio de <strong>uma</strong> discussão.<br />

Na sequência, eles deveriam compor<br />

um quadro respondendo as seguintes<br />

questões: “O que você quer <strong>para</strong> o AEE?” e<br />

“Quais a limitações <strong>para</strong> essa efetivação?”.<br />

Após discussões e produções, o encontro foi<br />

encerrado, sendo, posteriormente, cada participante<br />

incluído em um grupo (no aplicativo<br />

WhatsApp), de acordo com o grupo que<br />

compunha, <strong>para</strong> favorecer as trocas locais e<br />

a comunicação entre os integrantes e o organizador<br />

do projeto.<br />

Após o primeiro encontro coletivo, aconteceram<br />

os encontros presenciais em pequenos<br />

grupos, intitulado “Segunda fase”. Nele,<br />

foram retomadas as discussões do primeiro<br />

encontro e trazidas questões de aspirações<br />

e limites <strong>para</strong> organizar coletivamente o<br />

desafio do grupo, oportunizando o encadeamento<br />

das ideias coletivas. Os encontros<br />

aconteceram nas salas de recursos multifuncionais<br />

das escolas municipais e foram<br />

confirmados previamente com os gestores e<br />

os professores, conforme contato via e-mail.<br />

Na sequência, houve a “Terceira fase”, momento<br />

que os professores tiveram a oportunidade<br />

de criar um plano <strong>para</strong> o desafio do<br />

grupo. Eles aplicaram instrumentais como o<br />

“Mapa de Empatia” <strong>para</strong> compreender a percepção<br />

de outros sujeitos sobre a educação<br />

especial. Eles definiram os objetivos de sua<br />

ação, limites, indicadores e, por fim, estabeleceram<br />

um cronograma <strong>para</strong> realização de<br />

suas metas. O Quadro 1 a seguir mostra os<br />

principais objetivos elencados pelos grupos.<br />

Quadro 1 - Principais objetivos dos grupos<br />

Grupo Nome Projeto<br />

Central Central Como podemos conseguir consultoria do MEC <strong>para</strong> o Órgão Central da Rede Municipal<br />

de Ensino de Itajaí?<br />

Cidade<br />

Nova<br />

Verde Como podemos desenvolver projetos de parceria com os professores que favoreçam<br />

a mudança de pensamento e de comportamento dos alunos na sua relação com a<br />

aprendizagem?<br />

Cordeiros Cordeiros Como podemos ter materiais Pedagógicos adaptados <strong>para</strong> crianças da <strong>Educação</strong><br />

Infantil até Anos Finais e oficinas <strong>para</strong> produção de materiais pedagógicos?<br />

Fazenda Fazenda Como podemos oportunizar ao profissional do AEE mais autonomia quanto a sua<br />

organização de atendimento ao aluno, planejamento, orientação <strong>para</strong> professores e<br />

em seus planejamentos, elaboração de material, adaptação, formação em serviço dos<br />

demais profissionais da unidade de ensino, assim como <strong>para</strong> as demais funções exercidas<br />

de professor de educação especial?<br />

Itaipava Itaipava Como podemos permanecendo 40 horas na mesma unidade escolar?<br />

São Vicente<br />

Superação<br />

Como podemos fomentar entre os professores do ensino comum a necessidade de<br />

buscar conhecimentos específicos de estratégias diferenciadas que promovam o<br />

aprendizado da diversidade da sala de aula?<br />

Salseiros Tenacidade Como podemos ter disponibilidade de literatura infantil acessível às crianças com<br />

deficiência sensorial em parceria com a Biblioteca Pública Municipal?<br />

Fonte: Elaborado pelo autor.<br />

A produção desencadeou <strong>uma</strong> série de novos<br />

instrumentos como indicadores, questionários,<br />

reuniões, análises, que demandavam<br />

mais organização e comunicação entre os<br />

grupos. Desse modo, foi incentivado aos grupos<br />

a criação de e-mails com o nome escolhido<br />

pelo respectivo grupo, <strong>para</strong> favorecer<br />

a criação de um endereço, onde pudessem<br />

ser indicadas outras demandas comunicativas.<br />

Essa etapa foi intitulada “Quarta fase” e<br />

contou também com a criação de <strong>uma</strong> nova<br />

ação alinhada a esse projeto, intitulada “Coolab<br />

- Rede Colaborativa”.<br />

Nas diferentes redes sociais dessa ação, foi<br />

oportunizada a divulgação do que é o “Atendimento<br />

Educacional Especializado?”, “O<br />

que é Centro Municipal de <strong>Educação</strong> Especial?”,<br />

e, principalmente, foram divulgadas<br />

ações envolvendo aprendizagem e desenvol-<br />

Erickson Jones Lima<br />

83


vimento de alunos com deficiência da Rede<br />

Municipal de Ensino de Itajaí. Atualmente, a<br />

COOLAB conta com grupo de participantes<br />

diretos e outros indiretos, em diferentes redes<br />

sociais: (1) grupo no WhatsApp; (2) Página<br />

no Facebook; (3) Instagram; (4) Twitter.<br />

Cada grupo tem <strong>uma</strong> finalidade associada à<br />

característica da rede, sendo o Facebook e<br />

WhatsApp compostos por participantes de<br />

todo o Brasil.<br />

Baseados na consolidação dos espaços virtuais<br />

do projeto, os grupos foram desafiados<br />

a promover ações relacionadas aos seus objetivos<br />

na XIII Semana da pessoa com deficiência<br />

do município de Itajaí (Quadro2). Essa<br />

etapa foi intitulada “Quinta fase” e aconteceu<br />

de 20 a 26 de agosto de 2016. Essa etapa<br />

do projeto contou com a publicação de<br />

todos os acontecimentos e descobertas do<br />

projeto. Na página do Facebook da COOLAB,<br />

com o título “Diário de Bordo”, há relatos das<br />

experiências, devolutivas e as impressões<br />

dos envolvidos no evento.<br />

Quadro 2 - Ações relacionadas aos objetivos dos grupos<br />

materiais, criados espaços e grupos de estudos<br />

<strong>para</strong> desenvolver atividades que favorecessem<br />

a comunicação entre os profissionais<br />

do AEE.<br />

Nesse sentido, o projeto investiu em algo<br />

que se localizava nas perspectivas dos participantes,<br />

acreditando em seu potencial criador.<br />

No entanto, durante o processo muitas<br />

dúvidas surgiram, muitas incertezas, sobre<br />

possíveis caminhos, mas foi possível perceber<br />

<strong>uma</strong> reflexão mais aprofundada sobre as<br />

problemáticas do cotidiano, principalmente<br />

nos encontros dos pequenos grupos. Na estruturação<br />

dos desafios, foi possível questionar<br />

o inquestionável, e rever alguns mitos<br />

que impediam novos pensamentos sobre a<br />

realidade. Para isso, o processo de registro<br />

e o caderno, como instrumento pedagógico,<br />

foram muito importantes.<br />

Grupo Nome Projeto<br />

Central Central Formação em Deficiência Visual/Parceria ADVIR.<br />

Cidade<br />

Nova<br />

Verde Vivências e Percepções na Inclusão: Dialogando sobre o Transtorno do Espectro<br />

Autista (TEA); Parceria CER UNIVALI.<br />

Cordeiros Cordeiros Desenvolvimento Infantil na Perspectiva <strong>Inclusiva</strong>/Parceria APAE.<br />

Fazenda Fazenda<br />

Itaipava Itaipava Blitz Educativa – <strong>Educação</strong> Especial; Parceria SERIT e CODETRAN.<br />

São Vicente<br />

Superação Seminário Municipal de <strong>Educação</strong> <strong>Inclusiva</strong> Escolar - SEMEIE/Parceria CER UNIVALI.<br />

Salseiros Tenacidade Rodas de Conversa: Saúde Mental da Rede Municipal de Ensino/ Parceria CAPSI.<br />

Fonte: Elaborado pelo autor.<br />

Na última etapa, foi apresentado aos participantes<br />

os principais dados dessa ação coletiva,<br />

públicos atingidos, retorno da comunidade,<br />

além de ser oportunizado ao grupo um<br />

momento de relato de experiência, quando<br />

cada projeto desenvolvido oportunizou novas<br />

experiências e descobertas.<br />

Da exploração à evolução<br />

O ato de descobrir exige a crença no potencial<br />

das habilidades criativas. O projeto Descoberta<br />

possibilitou um processo de transformação<br />

de desafios em oportunidades.<br />

Com essa finalidade, foram desenvolvidos<br />

Outra descoberta do projeto foi na utilização<br />

de ferramentas virtuais, compartilhamento<br />

dessas ações do projeto. Essa experiência<br />

foi muito rica, pois o espaço virtual promoveu<br />

interação entre o conhecimento de <strong>Educação</strong><br />

Especial e sociedade civil, que, muitas<br />

vezes, desconhece a existência desses serviços.<br />

Diante do retorno de pessoas dos mais<br />

variados lugares do Brasil, por meio de ferramentas<br />

como o WhatsApp e o Facebook, foi<br />

possível visualizar <strong>uma</strong> futura atividade de<br />

fomento e criação de <strong>uma</strong> cultura de valorização<br />

dos serviços de educação especial.<br />

Nas experiências e ações que aconteceram<br />

na XIII Semana da pessoa com deficiência de<br />

Itajaí, seria possível escrever um novo relato<br />

apenas sobre os aprendizados, mas gostaria<br />

de destacar dois exemplos dessa rica experiência:<br />

“Roda de Conversa sobre Saúde Mental”,<br />

que aconteceu no CEI Diva, no interior<br />

84 Descoberta


do Município, que oportunizou <strong>uma</strong> troca<br />

muito rica com o psiquiatra e dois psicólogos<br />

da área de saúde. Nesse encontro foi possível<br />

verificar quantos conhecimentos podemos<br />

compartilhar nesses espaços e verificar<br />

o potencial de um trabalho interdisciplinar.<br />

Outra experiência que aconteceu durante<br />

a organização do SEMEIE foi a definição do<br />

desafio de produzir um vídeo sobre práticas<br />

inclusivas no ensino comum. O material final<br />

dessa ação gerou um vídeo que relata a experiência<br />

da professora na inclusão de atividades<br />

de libras a atividades curriculares. O<br />

mais precioso é seu relato sobre o papel do<br />

processo de inclusão e como essa experiência<br />

transformou a relação de aprendizagem<br />

de seu aluno surdo em sua sala. Esse vídeo<br />

foi publicado no site da prefeitura e teve<br />

mais de 20 mil visualizações.<br />

Para finalizar, encontrar oportunidades<br />

quase sempre é resultado da percepção do<br />

problema. Alg<strong>uma</strong>s vezes ela aparece como<br />

desejo: “Eu gostaria que minha sala de recur-<br />

sos tivesse...”. Outros vezes aparece como<br />

reclamação: “Me irrita não ter em minha sala<br />

...”. A partir dessa experiência, posso afirmar<br />

que sempre é possível encontrar <strong>uma</strong> oportunidade<br />

se refinarmos nossa percepção e<br />

utilizarmos nossa habilidade criativa.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei Nº 13.005, de 25 de junho de<br />

2014. Aprova o Plano Nacional de <strong>Educação</strong><br />

- PNE e dá outras providências. Diário Oficial<br />

[da] República Federativa do Brasil, Poder<br />

Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Seção<br />

1, n. 120-A, edição extra, p. 1-7.<br />

BRASIL. Ministério da <strong>Educação</strong>. Secretaria<br />

de <strong>Educação</strong> Especial. Política nacional de<br />

<strong>Educação</strong> Especial na perspectiva da <strong>Educação</strong><br />

<strong>Inclusiva</strong>. Brasília: MEC/SEESP, 2008.<br />

FREIRE, P. <strong>Educação</strong> e mudança. 12. ed. Rio<br />

de Janeiro: Paz e Terra, 1999.<br />

Erickson Jones Lima<br />

85


Práticas de <strong>Educação</strong> Física<br />

na <strong>Educação</strong> Infantil<br />

Créditos<br />

Secretário de <strong>Educação</strong><br />

Edison D’Ávila<br />

Direção Geral<br />

Coordenadora Técnica<br />

Prof. Dra. Sandra Cristina Vanzuita da Silva<br />

Diretor da Diretoria de <strong>Educação</strong> Integral e Ações Educativas<br />

Prof. Wladimir José Roslindo<br />

Organização:<br />

Erickson Jones Lima<br />

Prof. Regina de Jesus Almeida<br />

Apoio:<br />

Prof. Daniela Christiane da Silva dos Santos<br />

Diagramação<br />

Bresciani Design | Lucas Bresciani<br />

Revisão<br />

Janete Bridon

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