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ZEMARIA 01

Edição 1/ Fev2017

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DE BUTUCA<br />

TIC, TAC, TIC, TAC<br />

Ana Carla Santiago<br />

Começa o refão: “hello daddy, hello mom,<br />

I’m your ch ch ch ch ch cherry bomb”.<br />

São as The Runaways e a música Cherry<br />

Bomb. A canção fala sobre uma garota<br />

rebelde que bebe, fuma, perambula pelas ruas, vai<br />

a festas e faz o que bem entende. “Olá, mundo, eu<br />

sou sua garota selvagem”, continuam em outro<br />

verso. Assim como a maioria das canções da<br />

banda, Cherry Bomb é um hino para a libertação<br />

adolescente e feminina. Um incentivo implícito e<br />

simbólico para a liberdade sexual e independência<br />

das mulheres em uma época muito conservadora.<br />

Quando se fala sobre o Punk Rock, movimento<br />

musical surgido em meados da década de 1970, é<br />

fácil lembrar os principais artistas e bandas que se<br />

destacaram e deram visibilidade a essa corrente<br />

cultural. A maioria, homens e grupos masculinos.<br />

Mas mulheres também fizeram parte do movimento<br />

e com uma responsabilidade ainda maior: enfrentar<br />

o machismo. É neste cenário que surge na Califórnia<br />

(EUA), em 1975, a banda The Runaways, composta<br />

por cinco mulheres americanas que não tinham<br />

medo de ousar e de serem sensuais no palco.<br />

The Runaways foi uma estratégia de marketing<br />

que deu certo. Kim Fowley era um famoso produtor<br />

musical de Los Angeles, cidade da Califórnia, quando<br />

conheceu Joan Jett e Sandy West, que tocavam,<br />

respectivamente, guitarra e bateria. Elas já tinham<br />

vontade de formar uma banda de rock apenas com<br />

garotas. Logo se juntaram a elas Jackie Fox (baixista),<br />

Lita Ford (guitarrista solo) e Cherie Currie (vocalista),<br />

que na época tinha apenas 16 anos. O objetivo era<br />

chamar a atenção do público e da mídia para mulheres<br />

que tocavam rock. O plano deu certo, já que os shows<br />

sempre lotavam. A plateia era formada por curiosos<br />

que queriam confirmar com os próprios olhos se as<br />

garotas sabiam tocar seus instrumentos e por fãs, que<br />

amavam o som pesado e a presença de palco da banda.<br />

Além do barulho típico do punk rock, elas<br />

não hesitavam em abusar da sensualidade nas<br />

performances. Danças com as guitarras, microfones<br />

enrolados nas pernas, rebolados sexy, movimentos<br />

de vai-e-vem e um “teatrinho”, no qual as guitarras<br />

eram posicionadas como se fossem armas. Esses eram<br />

alguns dos artifícios que faziam parte dos shows. Ao<br />

mesmo tempo em que mostravam que mulheres<br />

podiam tocar os instrumentos que “pertenciam”<br />

aos homens, elas também reafirmavam suas<br />

identidades femininas e questionavam o estereótipo<br />

masculinizado que se criou das rockeiras. Eram<br />

sensuais, provocantes e ousadas. As roupas variavam:<br />

shorts curtos, jeans apertados, botas de salto, blusas<br />

brilhosas ou de bandas e, até mesmo, espartilhos.<br />

Já para apresentar a música Cherry Bomb, a<br />

vestimenta “oficial” da vocalista Cherie era um lingerie.<br />

Sempre que os primeiros acordes de Cherry Bomb<br />

começavam a soar nos shows das “Runaways”, Cherie<br />

surgia no palco vestindo a roupa apertada e curta.<br />

Era imediatamente ovacionada, com o público indo<br />

à loucura. Um verdadeiro choque para a sociedade<br />

da época, uma grande ousadia de uma menina de 16<br />

anos na geração dos anos 1970. Adoradas e desejadas,<br />

em um contexto masculino e opressor, Cherie e as<br />

The Runaways se impuseram como garotas que<br />

também fazia parte daquela cena musical e que<br />

tinha direito de expressar seus desejos e vontades.<br />

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