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DE BUTUCA<br />
TIC, TAC, TIC, TAC<br />
Ana Carla Santiago<br />
Começa o refão: “hello daddy, hello mom,<br />
I’m your ch ch ch ch ch cherry bomb”.<br />
São as The Runaways e a música Cherry<br />
Bomb. A canção fala sobre uma garota<br />
rebelde que bebe, fuma, perambula pelas ruas, vai<br />
a festas e faz o que bem entende. “Olá, mundo, eu<br />
sou sua garota selvagem”, continuam em outro<br />
verso. Assim como a maioria das canções da<br />
banda, Cherry Bomb é um hino para a libertação<br />
adolescente e feminina. Um incentivo implícito e<br />
simbólico para a liberdade sexual e independência<br />
das mulheres em uma época muito conservadora.<br />
Quando se fala sobre o Punk Rock, movimento<br />
musical surgido em meados da década de 1970, é<br />
fácil lembrar os principais artistas e bandas que se<br />
destacaram e deram visibilidade a essa corrente<br />
cultural. A maioria, homens e grupos masculinos.<br />
Mas mulheres também fizeram parte do movimento<br />
e com uma responsabilidade ainda maior: enfrentar<br />
o machismo. É neste cenário que surge na Califórnia<br />
(EUA), em 1975, a banda The Runaways, composta<br />
por cinco mulheres americanas que não tinham<br />
medo de ousar e de serem sensuais no palco.<br />
The Runaways foi uma estratégia de marketing<br />
que deu certo. Kim Fowley era um famoso produtor<br />
musical de Los Angeles, cidade da Califórnia, quando<br />
conheceu Joan Jett e Sandy West, que tocavam,<br />
respectivamente, guitarra e bateria. Elas já tinham<br />
vontade de formar uma banda de rock apenas com<br />
garotas. Logo se juntaram a elas Jackie Fox (baixista),<br />
Lita Ford (guitarrista solo) e Cherie Currie (vocalista),<br />
que na época tinha apenas 16 anos. O objetivo era<br />
chamar a atenção do público e da mídia para mulheres<br />
que tocavam rock. O plano deu certo, já que os shows<br />
sempre lotavam. A plateia era formada por curiosos<br />
que queriam confirmar com os próprios olhos se as<br />
garotas sabiam tocar seus instrumentos e por fãs, que<br />
amavam o som pesado e a presença de palco da banda.<br />
Além do barulho típico do punk rock, elas<br />
não hesitavam em abusar da sensualidade nas<br />
performances. Danças com as guitarras, microfones<br />
enrolados nas pernas, rebolados sexy, movimentos<br />
de vai-e-vem e um “teatrinho”, no qual as guitarras<br />
eram posicionadas como se fossem armas. Esses eram<br />
alguns dos artifícios que faziam parte dos shows. Ao<br />
mesmo tempo em que mostravam que mulheres<br />
podiam tocar os instrumentos que “pertenciam”<br />
aos homens, elas também reafirmavam suas<br />
identidades femininas e questionavam o estereótipo<br />
masculinizado que se criou das rockeiras. Eram<br />
sensuais, provocantes e ousadas. As roupas variavam:<br />
shorts curtos, jeans apertados, botas de salto, blusas<br />
brilhosas ou de bandas e, até mesmo, espartilhos.<br />
Já para apresentar a música Cherry Bomb, a<br />
vestimenta “oficial” da vocalista Cherie era um lingerie.<br />
Sempre que os primeiros acordes de Cherry Bomb<br />
começavam a soar nos shows das “Runaways”, Cherie<br />
surgia no palco vestindo a roupa apertada e curta.<br />
Era imediatamente ovacionada, com o público indo<br />
à loucura. Um verdadeiro choque para a sociedade<br />
da época, uma grande ousadia de uma menina de 16<br />
anos na geração dos anos 1970. Adoradas e desejadas,<br />
em um contexto masculino e opressor, Cherie e as<br />
The Runaways se impuseram como garotas que<br />
também fazia parte daquela cena musical e que<br />
tinha direito de expressar seus desejos e vontades.<br />
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