Sangue Latino - Revista Filme Cultura - via: Ed. Alápis
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv. Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
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e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv.
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À esquerda: Cronica de un niño solo<br />
À direita: Tiro de gracia<br />
Não é o caso de superestimar este conflito. Uma evidência de que as relações não eram<br />
belicosas é que o documento final deste festival realizado na Itália, a “Declaração do cinema<br />
latino-americano independente”, contou com a assinatura de todos os cineastas ainda<br />
presentes: assinaram a carta, por exemplo, tanto os argentinos David J. Kohon e Rodolfo<br />
Kuhn como os cinemanovistas Glauber Rocha e Gustavo Dahl, assim como o cubano Alfredo<br />
Guevara e outros cineastas brasileiros que, nos anos seguintes, entrariam em conflito com os<br />
cinemanovistas, como Anselmo Duarte e Luís Sérgio Person. Outros documentos produzidos<br />
em festivais nos anos seguintes (como em Viña del Mar, 1967) também contaram com as<br />
assinaturas de cineastas desses grupos.<br />
Ainda assim, mesmo que não seja simples definir as características “exóticas” esperadas de<br />
um filme latino-americano na década de 1960, esses trechos aqui citados nos lembram que<br />
o grupo dos cinemanovistas tinha interesse em enfocar “o drama do povo” (nas palavras de<br />
Glauber Rocha) e o conflito “histórico-universal” em detrimento do “particular-psicológico”,<br />
nos termos de Dahl. Este movimento, francamente movido por um desejo militante de<br />
transformação social, provocou um interesse maior de festivais, críticos e cinéfilos desde<br />
então. Alguns dos mais talentosos cineastas do grupo cinemanovista foram beneficiados<br />
por essa onda de interesse por um cinema latino ativista e anti-ilusionista. Também foram<br />
beneficiados por esse interesse ideológico da crítica internacional os cineastas argentinos<br />
que se identificaram e participaram desse movimento: antes de todos, Fernando Birri, que,<br />
além de cineasta, também foi fundador da Escola <strong>Latino</strong>-americana de Documentários de<br />
Santa Fé; mais tarde, Fernando “Pino” Solanas, diretor de La hora de los hornos, de 1968,<br />
que teve codireção de Octavio Getino.<br />
Sem desmerecer o talento desses cineastas, é preciso notar que essa disposição ativista<br />
em certo momento se tornou um bônus, um elemento de valor, uma espécie de commodity<br />
estética na visão de um discurso bastante disseminado. Assim, as relações que esses grupos<br />
vieram a estabelecer com a crítica e a historiografia foram bastante diversas: enquanto o<br />
Cinema Novo, descartadas suas questões internas, foi lembrado como um movimento de<br />
renovação de linguagem somada ao ativismo político, o que acabou por beneficiar a difusão<br />
dos seus filmes, os cineastas da Geração dos 60 foram menosprezados, caracterizados como<br />
conformistas, estetizantes e excessivamente devedores dos cineastas europeus da época.<br />
No final da década de 1960, com uma diferença de pouco mais de um ano, começaram a<br />
surgir em ambos os países novas gerações com tendência de radicalização experimental:<br />
no Brasil, o dito Cinema Marginal; na Argentina, o caso mais conhecido (ainda assim, muito<br />
38 filmecultura 57 | outubro · novembro · dezembro 2012 Dossiê SANGUE LATINO