Sangue Latino - Revista Filme Cultura - via: Ed. Alápis
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv. Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela
parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC
e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv.
Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
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Desde sempre, o pertencimento ou não do Brasil à comunidade latinoamericana<br />
foi motivo de controvérsia entre intelectuais e políticos. A começar pelo fato de ter<br />
sido o conceito de “América Latina” uma invenção francesa dos tempos de Napoleão III para<br />
justificar o imperialismo francês no México. Com o passar dos séculos, a ideia de um latinoamericanismo<br />
passou a se confundir com os contornos de uma América hispânica, à qual,<br />
teoricamente, o Brasil não pertenceria.<br />
Raros foram os pensadores que, como Gilberto Freyre, afirmaram nossa identificação com a cultura<br />
hispânica, para além do dualismo histórico Portugal-Espanha. O fato é que, com suas maiores cidades<br />
voltadas para o litoral do Oceano Atlântico, uma formação cultural diferenciada e um idioma próximo<br />
mas não idêntico ao espanhol falado nos seus vizinhos da América do Sul, o Brasil desenvolveu<br />
relações de imaginário mais afinadas às culturas europeia, norte-americana e mesmo africana.<br />
Isso sem falar nas dimensões do território, que geram uma espécie de consciência continental.<br />
O fenômeno da globalização veio tornar ainda mais ambígua essa relação, dissolvendo noções<br />
de fronteira e fomentando em muita gente a rejeição de um pensamento voltado para identidades<br />
nacionais ou regionais. No cinema, passados vários ciclos de aproximação com o ideário e<br />
as produções dos outros países latino-americanos, vivemos um período de novas tentativas.<br />
Frequentes coproduções, alguns eventos especializados e certos vínculos pessoais tentam<br />
minimizar o abismo mais ou menos costumeiro entre “nós” e “eles” – para usar os pronomes<br />
que frequentemente enfatizam essa distância.<br />
Nesta edição, a <strong>Filme</strong> <strong>Cultura</strong> saiu no encalço de traços de latinidade no cinema brasileiro de hoje e<br />
de ontem. Nossos redatores e colaboradores se debruçaram sobre a maneira como esses traços se<br />
manifestam na dramaturgia dos filmes, nas relações da indústria e do mercado, nos paralelos entre<br />
movimentos históricos, na convergência de projetos autorais e de pendores técnicos. Examinamos<br />
exemplos de como o nosso cinema representa seus vizinhos e de como é visto por eles.<br />
Há lugar aí para o cinema político e o militante, o melodrama, o realismo fantástico,<br />
o experimentalismo poético e o espetáculo de massa. Olhando para trás e para o presente,<br />
constatamos, enfim, que não estamos, literalmente, nem tanto ao mar nem tanto à terra.<br />
Se não estamos integrados de modo pleno, tampouco nos encontramos drasticamente<br />
separados do que poderia se chamar de uma cinematografia latino-americana. Nosso sangue<br />
cinematográfico tem bem mais componentes latinos/hispânicos do que supõe o senso comum.<br />
Em tempos de redesenho de prioridades geopolíticas e intenso intercâmbio transnacional na<br />
cultura, avaliar nossa latinidade no cinema pode ser, quando nada, uma eloquente ilustração de<br />
toda a conversa.<br />
filmecultura 57 | outubro · novembro · dezembro 2012