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EDIÇÃO 41 RBCIAMB

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Acumulação de microcistinas no mexilhão dourado Limnoperna fortunei e riscos para a biota aquática<br />

nobactérias registradas nos locais de coleta durante o<br />

estudo. Contudo, em alguns meses amostrados (maio<br />

e dezembro) não foi detectada a hepatotoxina nos locais,<br />

embora houvesse a presença, em baixas densidades<br />

(≥10 3 cel.ml -1 ), de cianobactérias (Microcystis e<br />

Anabaena) potencialmente produtoras de toxinas.<br />

De forma semelhante às amostras do seston, foi identificada<br />

e detectada em Limnoperna fortunei a presença<br />

da variante de (D-Leu 1 )-microcistina-LR. A toxina contida<br />

nos bivalves apresentou seus maiores valores nas<br />

amostras coletadas no ponto S1. Não foi constatado<br />

padrão temporal no acúmulo de microcistinas no mexilhão<br />

dourado. Os maiores níveis dessa toxina no mexilhão<br />

dourado foram registrados nos meses de março<br />

(170,0 µg. g -1 – Ponto S2) e julho (195,2 µg.g -1 – Ponto<br />

S1). Em determinados períodos de coleta, como nos<br />

meses de abril e maio, não foi registrada a toxina nos<br />

bivalves, apesar da presença confirmada de cianobactérias<br />

(Microcystis e Anabaena) produtoras de toxinas<br />

nas amostras. Situações inversas foram observadas na<br />

ocasião da detecção de toxina no molusco, nos meses<br />

de agosto (47,6 µg.g -1 – Ponto S1) e dezembro (49,6<br />

µg.g -1 – Ponto S2), frente à reduzida presença ou ausência,<br />

respectivamente, da toxina no seston. Não foi<br />

constatada correlação significativa (r=0,33; p>0,01) entre<br />

as concentrações de microcistinas no seston e seus<br />

níveis acumulados nos moluscos.<br />

Os resultados apontaram que a composição da comunidade<br />

fitoplanctônica foi influenciada por características<br />

físicas e químicas da água no ambiente, desde o<br />

fitoplâncton total, o total de cianobactérias presentes<br />

e o domínio de Microcystis spp e Anabaena spp nas<br />

florações registradas. De modo geral, o surgimento de<br />

florescimentos de cianobactérias está condicionado a<br />

ambientes com temperaturas elevadas e pH próximos<br />

ou acima da neutralidade. Os resultados apresentados<br />

no estudo apontaram os meses mais quentes, principalmente<br />

no verão, como os mais propícios para uma<br />

maior diversidade de táxons, embora os florescimentos<br />

de cianobactérias encontrados nesse período tenham<br />

apresentado uma composição específica reduzida nos<br />

representantes das comunidades fitoplanctônicas. Segundo<br />

Paerl et al. (2001), são inúmeros e complexos<br />

os fatores físicos e químicos que controlam a formação<br />

de florescimentos de cianobactérias planctônicas.<br />

Frequentemente, fatores físicos e químicos da água podem<br />

influenciar na dominância e no estabelecimento<br />

de gêneros e espécies fitoplanctônicas em diferentes<br />

ecossistemas aquáticos. Em adição, esses organismos<br />

podem estar fortemente regulados por condições ambientais<br />

presentes no ambiente (LINS et al., 2016).<br />

A ocorrência de frequências de florescimentos de cianobactérias<br />

(Microcystis spp e Anabaena spp) no rio<br />

São José dos Dourados demonstra a influência das variáveis<br />

físicas e químicas da água como condicionantes<br />

para sua manutenção no ambiente. Os valores registrados<br />

em alguns dos parâmetros físicos e químicos na<br />

área de estudo foram próximos aos descritos por Kotak<br />

DISCUSSÃO<br />

(2000) e Zurawell et al. (2005) como os principais fatores<br />

condicionantes na formação e na manutenção de<br />

florações em ambientes eutrofizados. A presença desses<br />

florescimentos no ambiente monitorado é indicativo<br />

do comprometimento da qualidade de suas águas<br />

registradas nos últimos anos. Uma série de fatores desencadeantes<br />

poderia estar propiciando condições aos<br />

florescimentos de cianobactérias recorrentes no ambiente<br />

avaliado. Entre esses possíveis fatores está o aumento<br />

de poluição nas fontes pontuais e difusas, que<br />

favorece uma maior entrada da carga de nutrientes no<br />

ambiente aquático. Ações associadas ao uso do solo na<br />

área de entorno do corpo hídrico — como monoculturas<br />

intensivas (como a cana-de-açúcar), o uso crescente<br />

de defensivos agrícolas; o aumento da carga de esgoto<br />

sanitário e industrial lançado no corpo hídrico, sem um<br />

tratamento apropriado; e a crescente expansão de empreendimentos<br />

aquícolas ao longo do rio (pisciculturas<br />

intensivas em sistemas de tanque-rede) — podem vir a<br />

contribuir para a eutrofização do local.<br />

Os maiores níveis registrados de microcistinas no seston<br />

estiveram associados com os picos de maiores densidades<br />

de Microcystis spp e Anabaena spp. Contudo, houve<br />

ocasiões com ausência da toxina nas amostras analisadas<br />

apesar da presença de cianobactérias produtoras no<br />

local. Essa condição de ausência das toxinas pode estar<br />

associada não apenas à composição de representantes<br />

(espécies/gêneros) potencialmente tóxicos, mas também<br />

à proporção relativa de linhagens tóxicas e não tóxicas<br />

de cianobactérias dentro de uma mesma população<br />

(PARK et al., 1998; OZAWA et al., 2003). Outro aspecto<br />

51<br />

<strong>RBCIAMB</strong> | n.<strong>41</strong> | set 2016 | 42-57

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