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insistiu.<br />
Ah Chun balançou a cabeça, convicta. “As trancas não tinham sido<br />
abertas ainda.”<br />
Começou a chorar outra vez, e falou sobre ir embora.<br />
“Como assim, menina boba?”, disse Amah.<br />
“Foram fantasmas. <strong>Fantasma</strong>s fizeram isso.”<br />
O resto do dia passou muito triste. Ah Chun chorava e dizia querer ir para casa.<br />
Disse que ouvira sobre essas histórias acontecendo antes em sua vila natal, e que<br />
sempre terminavam em desgraça para os envolvidos. Olhei para a soleira<br />
novamente, depois do Velho Wong ter lavado a porta. Ele era um velho magro,<br />
com o pouco cabelo se tornando grisalho, mas eu nunca fora tão grata por sua<br />
presença grave.<br />
“O que você acha que era?”, perguntei.<br />
“Sangue”, respondeu, breve.<br />
“Mas que tipo de sangue?”<br />
“De porco, talvez. Há muito sangue quando se mata um porco.”<br />
“Você não acha que pudesse ser humano?”<br />
Ele fechou a cara. “Minha senhorita, eu a conheço desde que você<br />
batia em minha canela. Quantas vezes fiz você preparar chouriço de sangue?<br />
Tem cheiro de porco, eu acho que é porco.”<br />
Olhei para baixo, para meus pés. “Ah Chun diz que fantasmas<br />
fizeram isso. Acredita nela?”<br />
Riu, desdenhoso. “Ah Chim também diz que espíritos comeram os<br />
bolinhos de arroz que sobraram na despensa.” Com um aceno seco, foi embora.<br />
“Será possível que algum bandido tenha confundido nossa casa?”,<br />
disse Amah, sem esperanças. Suas palavras incutiram novo medo em meu<br />
coração. Credores. O que meu pai andava fazendo? Por milagre, estava em casa.<br />
Estivera em casa por toda a manhã, na verdade, e dormira durante todo o<br />
incidente. Quando abriu a porta do escritório, a sala fedia a ópio.<br />
“Pai!” Eu estava dividida entre o alívio e o medo de sua presença.<br />
Seus olhos estavam esbugalhados, a barba por fazer e as roupas, amarrotadas,<br />
pendiam de seu corpo. Quando eu contei sobre o incidente da manhã, ele mal<br />
prestou atenção.<br />
“E já está tudo bem?”, perguntou.<br />
“O Velho Wong lavou a porta.”<br />
“Bom, bom...”<br />
“Pai, você tomou dinheiro emprestado de alguém?”<br />
Ele esfregou os olhos vermelhos. “O único que detém minhas<br />
dívidas é o mestre da família Lim, Lim Teck Kiong”, disse, devagar. “E não creio<br />
que ele se valeria dessas táticas. De que serviria? Se tudo que ele quer...” Sua voz<br />
falhou conforme ele se envergonhava.<br />
“Ele quer que eu case com seu filho. Você disse sim?” Por um<br />
momento, meu coração se encheu de uma suspeita aterradora.<br />
“Não, não. Eu disse que pensaria nisso.”