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s órfãos de Twin Peaks, que ficaram compreensivelmente<br />
arrasados com o cancelamento da série<br />
em 1991, tiveram uma luz no fim do túnel pouco<br />
tempo depois, com o anúncio de que David Lynch<br />
continuaria (de certa forma) a história daquela cidade em<br />
um longa-metragem para o cinema. Como os engravatados<br />
da ABC se mostraram um tanto obtusos com os caminhos<br />
que o programa de televisão poderia trilhar, Lynch<br />
calculou que teria mais liberdade para continuar a trajetória<br />
de seus personagens na tela grande e, assim, concebeu<br />
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer, uma misto<br />
de prelúdio e continuação. Com a ausência de Mark Frost,<br />
que já não tinha uma boa relação com Lynch após o final<br />
da série, mas com a maioria dos atores da TV reprisando<br />
seus papéis, o longa-metragem foi exibido no Festival de<br />
Cannes, em 1992, e recebeu uma recepção negativa do<br />
público, tendo sido vaiado na croisette. Teria acabado o<br />
amor por Twin Peaks?<br />
Nem tanto. A questão de Os Últimos Dias de Laura<br />
Palmer pode ser o clássico caso da expectativa versus realidade.<br />
Quem imaginava que Lynch faria algo igual à série,<br />
certamente saiu frustrado da experiência. Embora conte<br />
uma história que já conhecemos superficialmente, Lynch<br />
se dá o direito de criar e exagerar em cima daqueles derradeiros<br />
dias de sua protagonista, algo que não poderia<br />
fazer na TV aberta. Portanto, mais drogas, muito mais<br />
sexo, alguma nudez e palavrões aqui e ali. Para espectadores<br />
mais conservadores, certamente algo que incomoda.<br />
Mas não é só isso. Da mesma forma que a segunda metade<br />
da segunda temporada da série abandonou o lado mais<br />
sombrio, abraçando de vez a comédia e o estilo campy,<br />
neste longa-metragem, Lynch esqueceu do bom humor<br />
que fez o sucesso do programa. São 134 minutos bastante<br />
pesados, um mergulho no lado mais diabólico de Twin<br />
Peaks. Por essas e outras, o longa desagradou a tantos,<br />
sendo um fracasso de público e de crítica.<br />
Na trama, assinada por Lynch ao lado de Robert<br />
Engels, iniciamos com um espécie de prólogo longo, de<br />
uns 30 minutos, nos mostrando a investigação do FBI a<br />
respeito da morte de Teresa Banks (mencionada no início<br />
da primeira temporada). O agente especial Chester Desmond<br />
(Chris Isaak) e seu novo parceiro Sam Stanley (Kiefer<br />
Sutherland) partem para Deer Meadow, Oregon, à mando<br />
de Gordon Cole (Lynch) e encontram uma cidade pouco<br />
afeita a forasteiros. Durante a autópsia do corpo de Teresa,<br />
é encontrado debaixo de uma de suas unhas a letra<br />
“T”. Além disso, os agentes dão falta de um anel que a<br />
moça usava. Indo mais a fundo no caso, Desmond encontra<br />
o tal anel, mas desaparece. Assim surge Dale Cooper<br />
(Kyle MacLachlan), que é incumbido de encontrar seu<br />
colega sumido. Em uma cena que mistura sonho e realidade,<br />
o agente do FBI enxerga outro de seus colegas desaparecidos,<br />
Phillip Jeffries (David Bowie), que lhes diz a respeito<br />
de MIKE, Bob e outros espíritos que vagam a zona<br />
conhecida como Black Lodge. Em Deer Meadow, Coop<br />
parte para investigação, entendendo que, aquilo, só pode<br />
ser o começo de um crime ainda maior.<br />
Um ano se passa. Estamos agora em Twin Peaks,<br />
acompanhando os últimos dias de Laura Palmer – como o<br />
título nacional do filme deixa claro. Seu namoro pouco<br />
promissor com Bobby (Dana Ashbrook), sua amizade com<br />
Donna (Moira Kelly), seu caso com James Hurley (James<br />
Marshall), seu contato com Jacques Renault (Walter Olkewicz)<br />
e Leo Johnson (Eric DaRe) e, claro, o relacionamento<br />
deturpado com o pai, Leland Palmer (Ray Wise), habitado<br />
por BOB (Frank Silva). Enquanto vemos o espiral de loucura<br />
de seus últimos dias, tomamos conhecimento de que<br />
Laura enxergava Bob, não seu pai a abusando. Quando ela<br />
descobre o papel de Leland nisso, ela mergulha definitivamente<br />
nas trevas, determinando seu destino fatal. Em<br />
pequenas participações, alguns personagens da série retornam<br />
como Shelly (Madchen Amick), Mike (Gary Hershberger),<br />
Margaret (Catherine E. Coulson), Norma (Peggy<br />
Lipton), Harold Smith (Lenny Von Dohlen) e Annie<br />
(Heather Graham). Essa última, faz ligação direta com o<br />
final da segunda temporada, dando dicas do que teria<br />
acontecido com Dale Cooper dentro de Black Lodge. Além<br />
deles, o misterioso Homem de Outro Lugar (Michael J.<br />
Anderson) também dá as caras, assim como o Homem de<br />
um Braço Só (Al Strobel).<br />
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