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100% Corrida - julho 2017

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HÁ VIDA ALÉM DA CORRIDA CORREDORES ANÓNIMOS 37<br />

Antes de tudo, é de referir que<br />

o livro poderá causar alguma<br />

frustração em leitores que<br />

procuram encontrar uma obra<br />

de “humor brejeiro”, já que uma<br />

leitura menos atenta terá como<br />

consequência a impossibilidade<br />

de captar o fino e quase<br />

impercetível humor de G. & W.<br />

Grossmith. E é precisamente<br />

esse “pormenor” que transforma<br />

esta obra numa das referências<br />

do género.<br />

Na realidade, estamos perante<br />

uma espécie de crónica social,<br />

com os autores a aproveitarem o<br />

personagem Sr. Charles Pooter,<br />

o Zé Ninguém do título, para<br />

apresentarem uma sátira voraz<br />

contra a classe média suburbana<br />

inglesa de finais do século<br />

XIX. No fundo, o que deseja o<br />

protagonista é apenas paz e<br />

desfrutar da sua nova casa, nos<br />

subúrbios de Londres, ao lado da<br />

sua mulher, Carry. Mas a verdade<br />

é que acaba por ser importunado<br />

por vorazes comerciantes,<br />

funcionários administrativos que<br />

ficam aquém do esperado e pelos<br />

inconvenientes “amigos”, mas<br />

também pelo Lupin, que regressa<br />

ao lar após ser despedido (e leva<br />

consigo as suas amizades mais<br />

do que questionáveis…). Ou seja,<br />

definitivamente a vida não está<br />

fácil para Pooter, como podemos<br />

verificar através do seu diário…<br />

«Diário de um Zé Ninguém»<br />

apresenta assim uma deliciosa<br />

comédia de costumes na qual<br />

a crítica é colocada de forma<br />

elegante e inteligente. As<br />

maneiras e os hábitos vitorianos<br />

são olhados aos milímetros pelos<br />

autores, que fazem questão de<br />

oferecerem um leque memorável<br />

de personagens bastante<br />

díspares entre si, o que aumenta<br />

a riqueza do livro.<br />

A ironia ao longo das páginas<br />

é constante, com George e<br />

Weedon Grossmith a controlarem<br />

com grande segurança a história,<br />

preenchida de pequenas histórias,<br />

uma mais rica do que a outra, fruto<br />

das mais absurdas situações<br />

criadas pelos autores. Deste<br />

modo, «Diário de um Zé Ninguém»<br />

consegue a proeza de manter o<br />

frenético ritmo ao longo das cerca<br />

de 200 páginas, com a ironia a<br />

ser algo constante em todos os<br />

momentos. Os autores controlam<br />

por completo a intensidade do<br />

texto, sendo a escolha do “diário”<br />

para relatar a história uma decisão<br />

mais do que acertada. A verdade<br />

é que dificilmente teríamos a<br />

riqueza que temos se a opção<br />

escolhida fosse, por exemplo,<br />

um texto narrativo.<br />

Por último, de referir que<br />

George Grossmith (Londres,<br />

1847 – Folkstone, 1912) foi um<br />

comediante inglês, escritor,<br />

compositor, ator e músico. Já<br />

o seu irmão, Weedon (Londres,<br />

1854 – 1919), foi escritor, pintor,<br />

ator e dramaturgo. São aliás<br />

das suas mãos que saíram<br />

as ilustrações que podemos<br />

encontrar no interior do livro.<br />

No entanto, pelo menos neste<br />

caso, as imagens não valem<br />

as palavras…

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