Jornal Cocamar Novembro 2017 (2)
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Pequeno paraíso<br />
Casal mora onde era o sítio da família<br />
A casa onde Antonio mora fica<br />
onde era o carreador de café. E<br />
ainda é o local onde toda a família<br />
“bate ponto”, reunindo<br />
quase quarenta pessoas.<br />
Do sítio, só preservaram uma<br />
chácara de dois hectares, no<br />
meio da cidade, onde Antonio<br />
planta de tudo para subsistência<br />
da família, sem agrotóxicos,<br />
além de criar animais. Aos 80<br />
anos não conseguiu ficar longe<br />
do campo e do trabalho.<br />
Sem saída<br />
Logo que se mudou para Maringá,<br />
a família morava no final<br />
da estrada, que era a única<br />
saída, mas esta passava no<br />
meio do sítio do vizinho. Ao<br />
redor era tudo cafezal plantado.<br />
Do nada, o vizinho decidiu<br />
fechar e impedir o trânsito<br />
e foi bem no dia em que ia nascer<br />
o segundo filho, Valter.<br />
Depois da geada de 1975, as fazendas<br />
de café próximas a sua,<br />
na zona norte de Maringá, foram<br />
aos poucos sendo loteadas.<br />
“Era só barulho de martelo”,<br />
conta Antonio. O sítio dos<br />
Lucas ficava entre a Fazenda<br />
Maringá, de Alfredo Nyffeler e<br />
a Fazenda Santa Alice, do engenheiro<br />
Alexandre Rasgulaeff.<br />
LOTEADO - Quando tudo foi<br />
sendo loteado e teve até mesmo<br />
parte de seu lote desapropriado<br />
e a casa demolida para<br />
a passagem da avenida, Antonio<br />
viu que não tinha mais<br />
como continuar ali. “Estávamos<br />
cercados pela cidade e não<br />
podíamos aplicar agrotóxicos.<br />
As pessoas cortavam caminho<br />
pela lavoura pisando nas plantas,<br />
roubavam milho. Estava difícil.<br />
Fui obrigado a lotear”.<br />
Sem ter como sair com o caminhão<br />
para buscar a parteira,<br />
Antonio recorreu à<br />
velha bicicleta, percorrendo<br />
oito quilômetros por entre o<br />
cafezal. Quando chegou, com<br />
a parteira na garupa e esbaforido,<br />
o bebe estava nascendo.<br />
O problema teve fim quando<br />
Antonio recorreu ao então promotor<br />
João Paulino Vieira Filho<br />
e a estrada, que era pública, foi<br />
liberada pela justiça.<br />
Acidentes e milagres<br />
A energia elétrica chegou ao<br />
sítio trazendo alegria, mas<br />
também desespero. Junto<br />
com a energia, Antonio pediu<br />
ao eletricista que instalasse<br />
a serra elétrica. Quando ele<br />
foi testar o equipamento, a<br />
estrutura se rompeu e a serra<br />
voou, acertando a perna de<br />
Antonio e em cheio no rosto<br />
do filho Valdir, que tinha<br />
cinco anos na época e brincava<br />
ali perto.<br />
Na década de 1980, Antonio<br />
chegou a colher, em 12 hectares,<br />
66 sacas/ha de média da<br />
variedade BR 16 da Embrapa,<br />
o que foi uma supersafra. “Foi<br />
um ano em que tudo deu<br />
certo”.<br />
O início da mudança do café<br />
para soja, porém, foi muito difícil.<br />
Por causa da geada, a família<br />
tinha perdido a produção<br />
de café e estava sem nada<br />
para vender. “Lembro quando<br />
o Antonio terminou de arrancar<br />
o café e plantar soja, tirou<br />
o chapéu e disse. Agora só teremos<br />
dinheiro daqui a seis<br />
meses”, conta Evanilda.<br />
HIPOTECA - Sem recursos para<br />
comprar o trator, a grade, a<br />
plantadeira e o arado, Emílio<br />
hipotecou os 63 hectares que<br />
O eletricista desmaiou, Antonio<br />
estava esvaindo em sangue<br />
e Evanilda é quem pegou<br />
o filho no colo e correu para<br />
o hospital. Os médicos desenganaram<br />
o menino. Valdir<br />
ficou 11 dias em coma. “Viver<br />
foi um milagre de Deus. E<br />
quando abriu os olhos, a primeira<br />
coisa que pediu foi sorvete”,<br />
conta Evanilda.<br />
SEGUNDO - O segundo milagre<br />
na família aconteceu seis<br />
meses depois. Evanilda e Antonio<br />
estavam batendo soja e<br />
deixaram os filhos mais velhos<br />
cuidando dos mais novos. No<br />
meio do dia, um deles veio correndo<br />
até onde estavam e<br />
disse: “A Selma (que era a caçula)<br />
morreu na caixa d’água”.<br />
Eles se descuidaram e a irmã<br />
foi brincar na água. Quando<br />
viram, ela já estava roxa. Tiraram<br />
da água e correram chamar<br />
os pais. Um vendedor de<br />
frango que passava por ali<br />
ouviu os gritos desesperados<br />
e socorreu a menina fazendo<br />
respiração boca a boca. O alíviofoi<br />
geral quando Selma deu<br />
uma golfada de água e tossiu.<br />
SEM MÉDICO - Em outra ocasião,<br />
estavam jogando bola<br />
quando um dos filhos veio falando:<br />
“Acho que quebrei o<br />
braço”. O osso estava deslocado,<br />
saltado para fora. Recorreram<br />
ao vizinho japonês, que<br />
era massagista. Enquanto<br />
conversava com o menino,<br />
para distraí-lo, num tranco colocou<br />
no lugar e pôs uma tala.<br />
Ir ao médico, na época, era<br />
para poucos. “Quando o Valdir<br />
sofreu o acidente, vendi<br />
toda colheita de café para<br />
pagar o hospital. Sobrevivemos<br />
com as culturas de subsistência.<br />
Foi um período<br />
muito difícil”.<br />
Supersafra nos anos de 1980<br />
possuíam em 1972 para financiar.<br />
Mas também, mal colheu,<br />
correu para pagar tudo. Após<br />
o sufoco, veio um período de<br />
bonança e fartura. “Colhemos<br />
bem tanto a soja quanto o<br />
café”, diz Antonio. O trator ele<br />
guarda como relíquia até hoje.<br />
Anos mais tarde, quando começou<br />
a expandir, o apoio da<br />
<strong>Cocamar</strong> foi fundamental, diz<br />
Antonio. Ao lado dos 36 hectares<br />
que possuía em Paiçandu,<br />
teve a oportunidade de<br />
comprar outros 20 hectares,<br />
entre o final da década de<br />
1980 e início de 1990. Mas<br />
isso só foi possível porque<br />
vendeu parte da soja antecipadamente.<br />
“Se tivesse vendido<br />
mais, dava para comprar<br />
mais 17 hectares, mas tive<br />
medo de arriscar”. No final,<br />
colheu 63 sacas por hectare.<br />
Geraldo e Antonio: parceria antiga<br />
J o rn al d e S er vi ç o C oc am ar | 4 9