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Jornal Cocamar Novembro 2017 (2)

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Pequeno paraíso<br />

Casal mora onde era o sítio da família<br />

A casa onde Antonio mora fica<br />

onde era o carreador de café. E<br />

ainda é o local onde toda a família<br />

“bate ponto”, reunindo<br />

quase quarenta pessoas.<br />

Do sítio, só preservaram uma<br />

chácara de dois hectares, no<br />

meio da cidade, onde Antonio<br />

planta de tudo para subsistência<br />

da família, sem agrotóxicos,<br />

além de criar animais. Aos 80<br />

anos não conseguiu ficar longe<br />

do campo e do trabalho.<br />

Sem saída<br />

Logo que se mudou para Maringá,<br />

a família morava no final<br />

da estrada, que era a única<br />

saída, mas esta passava no<br />

meio do sítio do vizinho. Ao<br />

redor era tudo cafezal plantado.<br />

Do nada, o vizinho decidiu<br />

fechar e impedir o trânsito<br />

e foi bem no dia em que ia nascer<br />

o segundo filho, Valter.<br />

Depois da geada de 1975, as fazendas<br />

de café próximas a sua,<br />

na zona norte de Maringá, foram<br />

aos poucos sendo loteadas.<br />

“Era só barulho de martelo”,<br />

conta Antonio. O sítio dos<br />

Lucas ficava entre a Fazenda<br />

Maringá, de Alfredo Nyffeler e<br />

a Fazenda Santa Alice, do engenheiro<br />

Alexandre Rasgulaeff.<br />

LOTEADO - Quando tudo foi<br />

sendo loteado e teve até mesmo<br />

parte de seu lote desapropriado<br />

e a casa demolida para<br />

a passagem da avenida, Antonio<br />

viu que não tinha mais<br />

como continuar ali. “Estávamos<br />

cercados pela cidade e não<br />

podíamos aplicar agrotóxicos.<br />

As pessoas cortavam caminho<br />

pela lavoura pisando nas plantas,<br />

roubavam milho. Estava difícil.<br />

Fui obrigado a lotear”.<br />

Sem ter como sair com o caminhão<br />

para buscar a parteira,<br />

Antonio recorreu à<br />

velha bicicleta, percorrendo<br />

oito quilômetros por entre o<br />

cafezal. Quando chegou, com<br />

a parteira na garupa e esbaforido,<br />

o bebe estava nascendo.<br />

O problema teve fim quando<br />

Antonio recorreu ao então promotor<br />

João Paulino Vieira Filho<br />

e a estrada, que era pública, foi<br />

liberada pela justiça.<br />

Acidentes e milagres<br />

A energia elétrica chegou ao<br />

sítio trazendo alegria, mas<br />

também desespero. Junto<br />

com a energia, Antonio pediu<br />

ao eletricista que instalasse<br />

a serra elétrica. Quando ele<br />

foi testar o equipamento, a<br />

estrutura se rompeu e a serra<br />

voou, acertando a perna de<br />

Antonio e em cheio no rosto<br />

do filho Valdir, que tinha<br />

cinco anos na época e brincava<br />

ali perto.<br />

Na década de 1980, Antonio<br />

chegou a colher, em 12 hectares,<br />

66 sacas/ha de média da<br />

variedade BR 16 da Embrapa,<br />

o que foi uma supersafra. “Foi<br />

um ano em que tudo deu<br />

certo”.<br />

O início da mudança do café<br />

para soja, porém, foi muito difícil.<br />

Por causa da geada, a família<br />

tinha perdido a produção<br />

de café e estava sem nada<br />

para vender. “Lembro quando<br />

o Antonio terminou de arrancar<br />

o café e plantar soja, tirou<br />

o chapéu e disse. Agora só teremos<br />

dinheiro daqui a seis<br />

meses”, conta Evanilda.<br />

HIPOTECA - Sem recursos para<br />

comprar o trator, a grade, a<br />

plantadeira e o arado, Emílio<br />

hipotecou os 63 hectares que<br />

O eletricista desmaiou, Antonio<br />

estava esvaindo em sangue<br />

e Evanilda é quem pegou<br />

o filho no colo e correu para<br />

o hospital. Os médicos desenganaram<br />

o menino. Valdir<br />

ficou 11 dias em coma. “Viver<br />

foi um milagre de Deus. E<br />

quando abriu os olhos, a primeira<br />

coisa que pediu foi sorvete”,<br />

conta Evanilda.<br />

SEGUNDO - O segundo milagre<br />

na família aconteceu seis<br />

meses depois. Evanilda e Antonio<br />

estavam batendo soja e<br />

deixaram os filhos mais velhos<br />

cuidando dos mais novos. No<br />

meio do dia, um deles veio correndo<br />

até onde estavam e<br />

disse: “A Selma (que era a caçula)<br />

morreu na caixa d’água”.<br />

Eles se descuidaram e a irmã<br />

foi brincar na água. Quando<br />

viram, ela já estava roxa. Tiraram<br />

da água e correram chamar<br />

os pais. Um vendedor de<br />

frango que passava por ali<br />

ouviu os gritos desesperados<br />

e socorreu a menina fazendo<br />

respiração boca a boca. O alíviofoi<br />

geral quando Selma deu<br />

uma golfada de água e tossiu.<br />

SEM MÉDICO - Em outra ocasião,<br />

estavam jogando bola<br />

quando um dos filhos veio falando:<br />

“Acho que quebrei o<br />

braço”. O osso estava deslocado,<br />

saltado para fora. Recorreram<br />

ao vizinho japonês, que<br />

era massagista. Enquanto<br />

conversava com o menino,<br />

para distraí-lo, num tranco colocou<br />

no lugar e pôs uma tala.<br />

Ir ao médico, na época, era<br />

para poucos. “Quando o Valdir<br />

sofreu o acidente, vendi<br />

toda colheita de café para<br />

pagar o hospital. Sobrevivemos<br />

com as culturas de subsistência.<br />

Foi um período<br />

muito difícil”.<br />

Supersafra nos anos de 1980<br />

possuíam em 1972 para financiar.<br />

Mas também, mal colheu,<br />

correu para pagar tudo. Após<br />

o sufoco, veio um período de<br />

bonança e fartura. “Colhemos<br />

bem tanto a soja quanto o<br />

café”, diz Antonio. O trator ele<br />

guarda como relíquia até hoje.<br />

Anos mais tarde, quando começou<br />

a expandir, o apoio da<br />

<strong>Cocamar</strong> foi fundamental, diz<br />

Antonio. Ao lado dos 36 hectares<br />

que possuía em Paiçandu,<br />

teve a oportunidade de<br />

comprar outros 20 hectares,<br />

entre o final da década de<br />

1980 e início de 1990. Mas<br />

isso só foi possível porque<br />

vendeu parte da soja antecipadamente.<br />

“Se tivesse vendido<br />

mais, dava para comprar<br />

mais 17 hectares, mas tive<br />

medo de arriscar”. No final,<br />

colheu 63 sacas por hectare.<br />

Geraldo e Antonio: parceria antiga<br />

J o rn al d e S er vi ç o C oc am ar | 4 9

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