2017

Avenida Vilarinho
29
Júlia Beatriz, Maria Eduarda, Maria Luíza,
Matheus Botrel, Pedro Miranda, Pedro Palma
Sempre
que
eu passava por ali,
sentia o medo pulsando
em minhas
veias. O desconforto
se estabelecia em
algum lugar do
meu estômago. Os
pelos da minha nuca
eriçavam e, talvez,
talvez eu começasse
a suar frio.
Não sei o que havia me ocorrido para arranjar compromissos semanais tão longe de
casa, mas, toda segunda à noite, lá estava eu de novo, descendo a Rua Cascalheira para pegar
o ônibus na estação Quadras da Vilarinho. Toda vez, a sensação era a mesma.
Talvez o mesmo não acontecesse se eu estivesse acompanhada, se fosse fim de semana
ou se eu não fosse tão supersticiosa, mas eu já passava dos vinte, já podia me cuidar. Podia
ignorar o terror absurdo, no qual meu instinto insistia, e continuar andando.
Era estupidez, afinal – ter medo de uma lenda urbana. Uma lenda urbana inofensiva,
ainda mais. “O capeta do Vilarinho”. Apenas mais um rumor que se espalhara e acabara ficando
no imaginário coletivo. Seria até interessante encontrá-lo, se fosse real – um ser sobrenatural,
com habilidades de dança excepcionais. Eu fingia que sentia apenas curiosidade,
mentindo para mim mesma sobre o pânico inacreditável que me corroía por dentro.
A pior parte do trajeto era provavelmente andar na Avenida em si. Por mais que fosse
pouco, nem um quarteirão, e que houvesse mais movimento que nas ruas por ali, o medo se
intensificava. Meu estômago se revirava e meus pés pareciam pesar toneladas – além disso,
eu podia jurar que ouvia risadas tenebrosas e alguma música de bossa nova, baixinho.
Depois de entrar na rua da estação, depois de subir no ônibus todo iluminado, eu juro
que vi uma sobra na esquina, rindo para mim.
No Memorial Minas Gerais, a “Sala do susto”, que trata das mais variadas
lendas urbanas da capital, serviu de inspiração para este conto de terror.