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O amor não<br />

é um erro!<br />

Poema de um portador de TOC<br />

“No nosso primeiro encontro, eu passei mais tempo organizando minha<br />

comida por cor do que comendo ou falando com ela. Mas ela amou…”<br />

“Ela amou ter demorado uma eternidade para chegar em casa porque tem<br />

muitas rachaduras nessa calçada. Quando fomos morar juntos, ela disse<br />

que se sentia segura, como se ninguém fosse nos roubar porque eu com<br />

certeza tranquei a porta dezoito vezes.<br />

Quando ela dizia que me amava, sua boca se curvava nos cantos.<br />

À noite, ela deitava na cama e me assistia ligar e desligar, ligar e deslizar,<br />

ligar e desligar, ligar e deslizar, todas as luzes. Ela fechava os olhos e<br />

imaginava que dias e noites passavam à sua frente. Em algumas manhãs<br />

eu começava a dar beijos de tchau nela, mas ela ia embora porque eu a<br />

estava atrasando para o trabalho. Quando eu parava em frente a uma<br />

rachadura na calçada, ela continuava andando. Quando ela dizia que me<br />

amava a boca dela era uma linha reta.<br />

Ela me disse que eu estava tomando muito tempo dela. Semana passada<br />

começou a dormir na casa da mãe. Me disse que não deveria ter deixado<br />

eu me aproximar dela, que tudo foi um erro. Mas como pode ser um erro,<br />

se eu não tenho que lavar as mãos depois de tocar nela? O amor não é<br />

um erro.<br />

E está me matando que ela consegue correr disso e eu não.<br />

Eu não consigo sair de casa e achar alguém novo, porque eu sempre penso<br />

nela. Normalmente, quando eu me obceco por coisas, eu vejo germes<br />

entrando na minha pele. Me vejo esmagado por uma sucessão sem fim de<br />

carros. E ela foi a primeira coisa bonita em que eu fiquei preso.<br />

Quero acordar todas as manhãs pensando na maneira que ela segura o<br />

volante, em como ela abre o registro do chuveiro como se fosse um cofre, o<br />

jeito que ela apaga velas. Agora, eu só penso em quem está beijando ela.<br />

Eu não consigo respirar porque ele só a beija uma vez, ele não se importa<br />

se é perfeito!<br />

Eu a quero tanto de volta que agora eu deixo a porta destrancada, eu deixo<br />

as luzes ligadas…”<br />

(HILBORN, 2014)

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