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V - Brasiliana USP

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22 LUIZ<br />

vencidos, como a Greoia alguns séculos antes se havia imposto aos vencedores de<br />

Pydna.<br />

Se quizesse prolongar este confronto, lembraria a cidade dos propnetas, aquella<br />

poética e dramática Jerusalém, que ouviu a palavra de Jesus e recolheu as lagrimas<br />

de David.<br />

No paiz insignificante da Palestina, a velha cidade de Salomão, morta hoje politicamente,<br />

segregada de todo o movimento que abala os grandes centros europeus,<br />

Jerusalém, que evangelisou pelo mundo a idéa da unidade de Deus, como a Grécia<br />

evangelisou o bello, e Roma o direito; Jerusalém não seria recordada com saudade,<br />

se não fora a grandeza das suas tradições, se não fora o prestigio dos homens<br />

que a mandaram á posteridade.<br />

Esta força do elemento tradicional ampara ainda esse velho guerreiro que se<br />

chama Portugal, e que deve o nome que tem, e algum respeito que lhe tributam<br />

ainda, ao seu antigo prestigio conquistado no oriente através dos perigos mariti-'<br />

mos com heroicidades tamanhas, que não chegaram chronicas antigas para as trasladar<br />

ao papel.<br />

A nação por hoje não vê entrar na barra os alterosos galeões que nos tempos<br />

de D. Manuel ancoravam no Tejo, avergados de oiro e especiarias; a sua fronte<br />

já se não retouca das pérolas de Ceylão, e a cobrir, a magreza do seu corpo já não<br />

ondeiam em pregas voluptuosas as finíssimas sedas da Pérsia.<br />

É verdade, mas por isso mesmo que passou essa opulencia, por isso mesmo<br />

que já não podemos assistir senão em espirito ao espectaculo da antiga grandeza,<br />

façamos renascer esse velho espirito que uma longa noite adormeceu, evoquemol-o<br />

das cinzas para a luz da moderna idade, e comecemos por honrar a memória d'a-<br />

uelles que nos fizeram grandes no passado, e salvaram para a posteridade a honra<br />

ã<br />

o seu paiz, que é a nossa. (Apoiados.)<br />

Quanto mais, sr. presidente, que o esplendor d'essas tradições que ainda hão<br />

de existir, embora uma fatalidade qualquer mude os destinos a Portugal; quanto<br />

mais, repito, que esse esplendor está nitidamente consubstanciado na pessoa de<br />

um homem que n'elle collaborou com o seu braço e o eternisou com a sua penna,:<br />

podendo' dizer-se, como expuz no meu relatório, que nunca a tamanho talento andou<br />

alliado tamanho patriotismo. (Apoiados.)<br />

Filho da idade media pelas relações do seu espirito, pela índole do seu caracter<br />

e pelo vigor da sua individualidade, Luiz de Camões é o mais galhardo cavalleiro<br />

que no segundo quartel do século xvi vem alistar-se n'essa milicia sagrada,<br />

que não pôde chamar-se a cavallaria andante, porque essa estava eondemnada á<br />

morte pelos golpes certeiros de Cervantes, mas cavallaria patriótica e redemplora,,<br />

porque civilisou a África, a Ásia e a America, e deu os materiaes; para a elàba?<br />

ração do poema mais assombroso que produziu a renascença portugueza.<br />

Sr. presidente, não me canso mais em accentuar o grande papel que na civilisação<br />

portugueza representa o nome de Camões, e julgo desnecessário repetir qiií<br />

o pensamento do meu projecto é altamente justo, patriótico, moderno e aernocraj<br />

tico; que a nossa obrigação, como parlamento de um paiz que se honra com ser<br />

o berço de Camões, é collocarmo-nos na corrente do século, collaborando para a<br />

commemoração do grande poeta; que precisámos mostrar, por qualquer providencia<br />

legislativa, que aos representantes do povo não é indifferente o dia 10 de<br />

junho de 1880, e que, em nome da nação que representámos.aqui, assumimos a<br />

grata responsabilidade de não esquecer em Portugal um nome portuguez que não<br />

é esquecido no estrangeiro.<br />

Que não se diga, sr. presidente, que o parlamento se recusou a votar á memória<br />

de Camões alguns centos de mil réis, qae lhe regateou

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