Revista Pauta Nossa Janeiro 2018
Revista destinada a divulgar nosso entorno através da arte e cultura edição nº 4 Janeiro 2018
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Marco Antônio Santos<br />
NOVEMBRO/2017<br />
Abstrair de si integralmente<br />
penso que é o<br />
sentido de morte. E o<br />
cansaço que expresso não<br />
se trata de desapego da<br />
vida, é apenas um desejo<br />
de silenciar em minha alma<br />
tudo que há de mim, todos<br />
os meus pensamentos,<br />
sonhos, anseios e um<br />
acervo de impressões que<br />
vão se acumulando na rota<br />
da vivência. É um desejo de<br />
desconexão temporária<br />
para me lançar sem resistência<br />
no aconchego do<br />
Deus refletido em minha fé.<br />
De tudo que posso<br />
falar de meu Deus, muito<br />
mais há que as palavras<br />
não alcançam. Mas daquilo<br />
que posso falar, refiro-me<br />
aqui aos esforços empreendidos<br />
para materializar<br />
virtudes associados a<br />
valiosas e potentes lições<br />
que a minha mãe parece ter<br />
me preparado desde o<br />
útero.<br />
Portanto, o que me<br />
identifico com o Deus que<br />
me acolhe é a liberdade de<br />
dizer que sempre quero ser<br />
melhor e não me regozijo<br />
do mal que sai de mim. No<br />
máximo, conforme-me com<br />
o álibi de que a imperfeição<br />
é inerente à criatura humana.<br />
Resistir à imperfeição<br />
natural é um ofício de vida.<br />
Se consegui expressar<br />
o Deus em cujos braços<br />
me lanço, fica possível<br />
entender que o cansaço<br />
sobre o que digo nem<br />
tristeza é. É um esgotamento<br />
cautelosamente<br />
despendido, resultante da<br />
absorção do ofício da vida.<br />
Há também de ser claro<br />
que, ainda se este cansaço<br />
me envolve, não viceja o<br />
ardil, o ímpeto de dirigir-me<br />
de modo a negar o que é<br />
bom. Trata-se apenas de<br />
um propósito momentâneo<br />
de espiritualmente dormir e<br />
manter-me vivente sem<br />
qualquer expressão de<br />
arbítrio. Apenas os dedos<br />
de Deus, meu Pai, passand<br />
o e m m e u s c a b e l o s<br />
e n q u a n t o r e c o b r o a s<br />
energias.<br />
«Não nos fez assimilar<br />
vínculos variados em vão.<br />
Se sou filho, se sou pai,<br />
se sou marido...»<br />
Viver não é fácil,<br />
mas é bom. Quando Deus<br />
declara o seu projeto de<br />
amor em cadeia, de elos<br />
interpessoais, penso que<br />
compõe sua engenharia<br />
estratégica de repercutir<br />
esta máxima através do<br />
outro. Não nos fez assimilar<br />
vínculos variados em vão.<br />
Se sou filho, se sou pai, se<br />
sou marido, se há qualquer<br />
parentesco ou mesmo o<br />
sopro da empatia, nisto<br />
estão dispostas as engrenagens<br />
do viver em Deus.<br />
É lógico que as discórdias<br />
devem ser superadas<br />
continuamente, que jamais<br />
se delegue a elas a força da<br />
última palavra.<br />
Entrego aqui como<br />
texto, a expressão de um<br />
momento assim. Se fosse<br />
um escrever qualquer,<br />
estaria ocupado com a<br />
técnica de encerrar ideias,<br />
mas não é. Neste caso, um<br />
louvor silencioso, um<br />
suspiro e um ponto final.<br />
*Marco Antonio C. Santos,<br />
A l é m d e s e r o fi c i a l d e<br />
justiça,há anos dedica a arte de<br />
ministrar aulas preparatórias para<br />
concurso. Nos intervalos dessas<br />
atividades, reserva tempo para<br />
escrever crônicas e tecer alguns<br />
comentários sobre nossa cultura e<br />
política.