Revista literalivre - 7ª edição
7ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 7nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
7ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 7nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018<br />
senhor continuava onde estava e solitário. Lamentou consigo mesma o pouco<br />
caso da mulher com o marido, ao atrasar-se tanto para vir ao seu encontro.<br />
Outra hora passou-se, mais uns amigos apareceram e ajudaram a estender o<br />
prazer daquela noite. Numa das ocasiões em que, casualmente, olhou para o<br />
balcão do bar, constatou que o velho se retirara. Ao sair com seus amigos, a<br />
moça não resistiu à curiosidade e perguntou ao barman se a esposa do homem<br />
tinha chegado afinal. A resposta foi surpreendente: o barman explicou que o<br />
cliente era viúvo, mas sempre dizia que aguardava a esposa. Em tom sarcástico,<br />
acrescentou que o vira agir, da vez passada, como se ela estivesse a seu lado.<br />
A jovem continuou a frequentar o bar, só ou – no mais das vezes – na<br />
companhia dos amigos. Em algumas ocasiões, voltou a ver o viúvo solitário,<br />
sempre no mesmo lugar, defronte ao balcão e ao espelho que intermitentemente<br />
mirava (será que enxergava, ali, o reflexo da falecida esposa?). A moça ficou com<br />
a impressão de que o senhor parecia mais velho cada vez que o via. Sentiu<br />
compaixão por aquele homem que vivia a esperar sua cara metade, como se ela<br />
ainda fosse viva. Apesar desse sentimento, bem assim da sincera dor que passou<br />
sempre a experimentar quando vinha ao bar, ela jamais conseguiu reaproximarse<br />
do velho, fosse para verificar se poderia ajudá-lo (o que considerava<br />
improvável, na verdade), fosse apenas para retomar a conversa sobre obras<br />
literárias e musicais. A vontade de procurar atenuar a solidão daquele senhor<br />
contrapunha-se ao temor de que ele pudesse revelar algum desvio mental mais<br />
sério, capaz de colocar risco à segurança da moça. Essa ambivalência perturbou<br />
o prazer de suas vindas àquele bar de tal modo que finalmente decidiu não mais<br />
o frequentar, inventando desculpa que seus amigos engoliram com a mesma<br />
facilidade com que todos continuaram a engolir seus drinques de descontraída<br />
felicidade em diversos outros pontos de encontro. Sem a presença incômoda da<br />
dor de uma solidão interminável. Sem a dor ainda maior que causa a sensação<br />
de impotência ante o sofrimento humano.<br />
*JAX é pseudônimo de Fernando Jacques de M. Pimenta, Brasília, DF<br />
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