Revista literalivre - 7ª edição
7ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 7nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
7ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 7nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
LiteraLivre nº 7 – janeiro de 2018<br />
Eni Ilis<br />
Mesa com Toalha Branca<br />
Campinas/SP<br />
Mesa com toalha branca, tão branca que intensifica a claridade do dia tão branco.<br />
Cada qual em seu lugar diante do prato que é fino contorno tão, tão branco é.<br />
Refeição imersa em claridade, claridade que ofusca e cintila. Uma colherada,<br />
estranheza. Duas colheradas, persistência. Três colheradas, consequência. Fios<br />
de sangue a misturar, grudar nos cacos de luz, que vão do prato para a boca.<br />
Mastigar, engolir, raspar, rasgar, trajeto que começa com a mão que move a<br />
colher que alimenta; colher que cava no prato mais um bocado, colher que deixa<br />
no prato mais um vermelho, arrasta para a borda, escapa, pinga, mancha a<br />
toalha branca, tão branca que bebe e endoidece com essa cor de vida! Quatro<br />
colheradas. Cinco colheradas, seis colheradas. Repetição e aguentar-se. Deixar,<br />
por instante a colher, segurar o copo com sua água. Um e dois goles, tempo que<br />
para, água que corre e mistura sangue. Sete colheradas e oito e nove cada vez<br />
mais a claridade se estendendo, cada vez menos presenças à mesa. Mais uma<br />
colherada, gesto para mais uma colherada e não mais. Chegará a sobremesa,<br />
pois. Que a mão tenha a força para mais um gesto. Dez colheradas. Quanto<br />
sangue no fundo do prato! Quanto sangue no canto da boca, debaixo da unha,<br />
entre os dentes! Segue que seca, sangue que fica. Pele quebradiça.<br />
78