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Descolonizar_o_Imaginario_web

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transferidas à sociedade: basta lembrar a devastação social<br />

e ambiental ocorrida no nordeste da Amazônia equatoriana,<br />

que depois deu origem a um processo judicial contra a companhia<br />

Chevron-Texaco.<br />

Também deveriam entrar na lista de custos os denominados<br />

“subsídios perversos”, que se expressam no fornecimento<br />

de energia a preços mais baixos, água sem custo ou custo<br />

muito reduzido e, inclusive, infraestrutura de transporte. 17<br />

Essas avaliações têm sido apresentadas? Não, provavelmente<br />

porque assumir esses custos reduziria a rentabilidade das<br />

empresas e evidenciaria os magros benefícios do extrativismo<br />

para o Estado e a sociedade.<br />

As atividades extrativistas desencadeiam graves tensões<br />

sociais nas regiões onde são realizadas, já que apenas uma<br />

parcela da população pode integrar-se à equipe de trabalho<br />

das empresas mineradoras e petrolíferas. Os impactos<br />

econômicos e sociais provocam a divisão de comunidades,<br />

violência intrafamiliar, violação de direitos comunitários e<br />

humanos, crescimento da criminalidade, tráfico de terras etc.<br />

Nas economias primário-exportadoras da América<br />

Latina, após décadas de acumulação extrativista, geraram-se<br />

níveis elevados de subemprego e desemprego, pobreza e uma<br />

distribuição de renda e de ativos ainda mais desigual. Com<br />

isso vão se fechando as portas à ampliação do mercado interno,<br />

porque não se geram empregos, nem renda suficientes –<br />

não há nem haverá “gotejamento”. 18 No entanto, são mantidas<br />

as pressões para orientar a economia cada vez mais para<br />

o exterior, pois “não há a quem vender no mercado interno”,<br />

como afirmam preguiçosamente os defensores do modelo.<br />

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17 Eduardo Gudynas, “¿Hicieron las cuentas? Los costos de la minería a<br />

cielo abierto” (La República, Montevidéu, 23 jul. 2011).<br />

18 Em espanhol, chorreo. Referência a trickle down economy, tese segundo<br />

a qual o enriquecimento dos mais ricos promove naturalmente um<br />

efeito de “gotejamento” na economia, beneficiando também os mais<br />

pobres. [n. e.]<br />

Essa “monomentalidade exportadora” inibe a criatividade<br />

e os incentivos dos empresários nacionais.<br />

Também no seio do governo, e inclusive entre amplos<br />

segmentos da sociedade, reproduz-se quase patologicamente<br />

a “mentalidade pró-exportadora”, baseada<br />

no famoso slogan “exportar ou morrer”, o que conduz<br />

ao desprezo das enormes capacidades e potencialidades<br />

disponíveis no país.<br />

Neoextrativismo, uma versão<br />

contemporânea do extrativismo<br />

Desde suas origens, as repúblicas primário-exportadoras<br />

da América Latina não conseguiram estabelecer<br />

um esquema de desenvolvimento que permita superar<br />

as armadilhas da pobreza e do autoritarismo. Este é o<br />

grande paradoxo: há países que são muito ricos em recursos<br />

naturais, que inclusive podem obter importantes<br />

ingressos financeiros, mas que não conseguiram estabelecer<br />

as bases para seu desenvolvimento e continuam<br />

sendo pobres. E são pobres porque são ricos em recursos<br />

naturais, porque apostaram prioritariamente na extração<br />

dessa riqueza natural para o mercado mundial,<br />

marginalizando outras formas de criação de valor, sustentadas<br />

mais no esforço humano do que na exploração<br />

inclemente da Natureza.<br />

Nos últimos anos, conscientes de algumas das patologias<br />

econômicas a que nos referimos anteriormente,<br />

vários governos progressistas da região impulsionaram<br />

mudanças importantes a certos elementos da modalidade<br />

extrativista. No entanto, para além dos discursos<br />

e planos oficiais, não há sinais claros de que pretendam<br />

realmente superar tal modalidade de acumulação. Entre<br />

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