GAZETA DIARIO 604
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Foz do Iguaçu, quinta-feira, 14 de junho de 2018<br />
EPIDEMIA<br />
Cidade<br />
07<br />
Pesquisadores da Unila buscam<br />
vacina para leishmaniose canina<br />
A doença é endêmica em Foz do Iguaçu; situação vem agravando-se nos últimos três<br />
anos, com o aumento de 30% no número de casos<br />
AI Unila<br />
Reportgagem<br />
Foz do Iguaçu é considerada<br />
área endêmica para<br />
a leishmaniose canina visceral.<br />
Situação agravada<br />
pelo aumento no número de<br />
casos: 30% nos últimos três<br />
anos, de acordo com dados<br />
do Centro de Controle de<br />
Zoonoses. Em 2015 eram<br />
790, número que subiu para<br />
1.038 no ano passado.<br />
Buscando novas formas<br />
de combate à doença, o professor<br />
da área de Biologia da<br />
Universidade Federal da Integração<br />
Latino-Americana<br />
(Unila) Kelvinson Fernandes<br />
Viana vem realizando,<br />
com estudantes de graduação<br />
e mestrado, pesquisas<br />
para o desenvolvimento de<br />
um medicamento e de uma<br />
vacina preventiva.<br />
A leishmaniose visceral<br />
canina é transmitida por um<br />
vetor, o flebotomíneo ou flebótomo,<br />
conhecido popularmente<br />
como "mosquito-palha".<br />
Os sintomas da doença<br />
incluem o emagrecimento<br />
e fraqueza (o animal fica<br />
caquético), perda de pelos,<br />
feridas e gânglios inchados,<br />
entre outros. Não há cura<br />
para o animal infectado,<br />
apenas controle da carga parasitária<br />
e da sintomatologia.<br />
A leishmaniose também<br />
acomete humanos, mas<br />
pode ser curada. No Brasil,<br />
a grande preocupação são os<br />
animais.<br />
O objetivo de uma das<br />
pesquisas é a obtenção de<br />
um medicamento, para animais<br />
e humanos, a partir do<br />
óleo essencial de uma planta<br />
do cerrado — a Siparuna<br />
guianensis. "Um dos problemas<br />
dessa doença, tanto em<br />
animais quanto em humanos,<br />
é que existem pouquíssimos<br />
medicamentos para o<br />
tratamento. Essa planta já<br />
foi testada em larvas do<br />
Aedes e como repelente, e<br />
mostrou um efeito muito<br />
bom. Também existem resultados<br />
sobre cândida e algumas<br />
espécies de estafilococos.<br />
Mata muito bem e é um<br />
produto natural", explica o<br />
pesquisador. "Queremos ver<br />
se o óleo dessa planta tem<br />
atividade leishmanicida, se<br />
consegue matar o parasito,<br />
sem matar as células de animais<br />
ou humanos", completa.<br />
Na Unila, os pesquisadores<br />
estão fazendo o cultivo<br />
dos parasitos (leishmanias)<br />
para os testes em<br />
células animais e humanas.<br />
"O parasito se esconde<br />
dentro das células. Se<br />
[o produto] matar as células,<br />
significa que é tóxico.<br />
Muitos medicamentos acabam<br />
falhando aí", detalha<br />
Kelvinson.<br />
Fernandes Viana desenvolve pesquisas para o<br />
tratamento e prevenção da leishmaniose<br />
Os testes de laboratório<br />
são a primeira fase da<br />
pesquisa e devem mostrar<br />
se a droga é eficiente e se<br />
não é tóxica. Essa fase deve<br />
estar concluída até julho,<br />
segundo o pesquisador.<br />
"Os testes laboratoriais são<br />
rápidos. A dificuldade maior<br />
é cultivar o parasito,<br />
porque cultivar o leishmania<br />
não é tão fácil como<br />
cultivar uma bactéria, por<br />
exemplo. Há uma dificuldade<br />
maior para crescimento<br />
e alguns outros detalhes<br />
nessa prática de cultivo",<br />
esclarece.<br />
Se o produto demonstrar<br />
que tem efeito positivo, inicia-se<br />
a segunda fase da pesquisa,<br />
que são os testes clínicos.<br />
Segundo Kelvinson,<br />
testes preliminares, feitos<br />
em outra instituição de pesquisa,<br />
mostram que o óleo<br />
de Siparuna teve ação parcial<br />
contra o parasito, mas<br />
não foram feitos testes em<br />
células. "A gente tem de infectar<br />
a célula e, depois, testar<br />
o produto na célula infectada."<br />
Para os testes clínicos<br />
ou testes em animais, o pesquisador<br />
deve buscar parcerias<br />
com clínicas veterinárias<br />
da cidade. Essa é uma<br />
fase mais demorada — deve<br />
levar entre dois e três anos.<br />
O teste clínico é obrigatório<br />
para o licenciamento do<br />
medicamento pelas autoridades<br />
de saúde e também<br />
para o teste de campo, a última<br />
fase da pesquisa.<br />
Biotecnologia e vacina<br />
Uma outra pesquisa de Kelvinson e seus<br />
estudantes trata do desenvolvimento de<br />
uma vacina contra a leishmaniose visceral<br />
canina, uma alternativa preventiva. A<br />
pesquisa foi objeto de sua tese de<br />
doutorado e de seu período de docência na<br />
Universidade Federal do Tocantins. "A<br />
pesquisa envolve muita biotecnologia, e<br />
conseguimos alguns resultados<br />
interessantes com testes em animais em<br />
laboratório. Uma das minhas vontades é<br />
testar algumas vacinas a campo."<br />
A vacina que está sendo pesquisada por<br />
Kelvinson é baseada em bioinformática. A<br />
bioinformática e a biotecnologia são<br />
ferramentas que estão facilitando e<br />
reduzindo o tempo de pesquisas. "Hoje em<br />
dia, com as ferramentas de genômica, se<br />
consegue desenvolver uma molécula em<br />
programa de computador. E, a partir daí,<br />
testar aquela molécula no animal, já com<br />
resultados preliminares. O nome disso é<br />
predição", ensina Kelvinson. "Fazemos<br />
predição — tentamos prever o que aquela<br />
proteína ou aquela molécula vai nos dar de<br />
resultado. Antigamente, se testava às<br />
cegas: um, dois anos, para ver que não<br />
funcionava", conta.<br />
"Essa ferramenta é alimentada por<br />
pesquisadores que usam bancos de dados<br />
alimentados por outros pesquisadores,<br />
que, à medida que vão avançando com<br />
suas pesquisas genômicas, vão<br />
depositando as informações", explica. É<br />
uma rede global, reunindo pesquisas do<br />
mundo inteiro. "Só consigo usar essa<br />
ferramenta porque alguém, em algum<br />
momento, trabalhou com a parte de<br />
genética ou genômica dos micro-<br />
-organismos e começou a depositar seus<br />
resultados."