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voar, e nós, eu e meus irmãos, seguíamos atrás. Às vezes íamos lá<br />
para fora e, entre as altas velas, continuávamos a dançar, um ritual<br />
de adoração à eternidade.<br />
No espaço não há tempo, não é contado, não há pressa , não<br />
vamos a lado algum, não temos horário, seguimos o nosso ritmo,<br />
parado, lento, um ritmo cheio de descobertas, complementado com<br />
novos significados. No silêncio, não há espera, não há desejos,<br />
ansiedade, em tudo há uma paz inexplicável, uma união plena com<br />
o mistério do universo, a última grande fronteira.<br />
No espaço, não há outros, apenas nós. Um dia vieram outros. O<br />
mundo dos outros era diferente, não tinha velas, a ausência dos<br />
altos mastros era uma novidade para mim, o mundo deles era<br />
gigante, tão grande como uma pequena lua, ruidosa e frenética. Eles<br />
desconheciam o silêncio e eu lamentei-os, que estranha existência.<br />
A nossa nave entrou no seu interior, o encontro estava marcado.<br />
- Vamos entregar os novos mapas e reabastecer. – explicou o<br />
meu pai. – Não te preocupes Natal, nós não vamos sair e eles não<br />
vão entrar.<br />
Não compreendi porque não podíamos entrar naquele mundo<br />
diferente do nosso. Aquele mundo não era assim tão grande tendo<br />
em conta o número de pessoas que ali viviam, compartilhando o<br />
mesmo espaço. Centenas delas, muito barulhentas, falavam muito,<br />
palavras sem sentido, frases inúteis, sem explicação. Porque<br />
precisavam de falar tanto? Eu não precisava de explicar a minha<br />
mãe o que precisava, ela sabia sempre o que e quando. Quando<br />
estava triste, quando estava contente, quando tinha fome, quando<br />
tinha sede, quando queria saber alguma coisa. No nosso mundo não<br />
precisávamos de todas aquelas palavras, sabíamos sempre o que<br />
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