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Maestro<br />
(sobre o meu pai, José Francisco)<br />
Eu adorava ver aquela cena, que de<br />
vez em quando se repetia, e que<br />
nós imitávamos ao redor dele.<br />
Acontecia sempre após o jantar -<br />
pulando, dançando, implicando uns<br />
com os outros, até ele mandar todo<br />
mundo ficar quieto, sem que a sua<br />
sinfonia acabasse.<br />
naquele tempo o jantar era com a<br />
família toda ao redor da mesa, numa<br />
conversa sobre o cotidiano.<br />
A cena se dava no campo da<br />
fantasia, do sonho, que ele sabia<br />
criar com talento próprio, numa<br />
pequena sala de apartamento.<br />
Ele, diante de uma estante, onde um<br />
aparelho de som dos anos 70 tomava<br />
ares de orquestra. Na vitrola girava<br />
um disco. Podia ser Paul Mauriat ou<br />
E ele continuava a sua regência. E da<br />
dissonância encontrava a harmonia e<br />
ria, e brincava, e sonhava. Era<br />
Frank Pourcel, seus preferidos. Na mágico, como encantador é<br />
mão, algum objeto que aos nossos<br />
olhos era uma batuta. No imaginário<br />
dele, também.<br />
encontrar essa lembrança no meio<br />
de tanta saudade.<br />
Ele foi e sempre será o nosso<br />
Assim, nosso pai se empolgava com maestro inesquecível, pela<br />
o brincar de ser maestro, um sonho<br />
realizado ali, com três filhos que<br />
sintonizavam na mesma alegria dele;<br />
fosse imitando seus gestos no ar,<br />
integridade com que regeu a sua<br />
existência, sempre afinado com os<br />
nobres ideais de amor ao bem.<br />
Sônia Cristina Corrêa da Silva