GAZETA DIARIO 827
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Quando a tecnologia se torna uma<br />
arma contra crianças e adolescentes<br />
JR<br />
Sociedade Brasileira de<br />
Pediatria alerta para os perigos<br />
do uso precoce e excessivo<br />
Erika Braz, para o Blog da Saúde<br />
Reportagem<br />
Divulgação<br />
Fotografia<br />
Você já viu alguma criança portando celular, tablet ou notebook<br />
e até passando horas usando estes equipamentos? Se tratando dos<br />
adolescentes, então, é bem difícil encontrar algum que não desfrute<br />
da tecnologia. Claro, ela facilita a comunicação, inclusive com os<br />
pais, e ajuda nas pesquisas escolares, trazendo conteúdos acadêmicos<br />
e atualizados. Mas também existe muito perigo por trás<br />
desses dispositivos: prejuízos à saúde mental, física e à segurança<br />
destes usuários mirins.<br />
No Brasil, 80% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos<br />
usam a internet. Desses, 66% acessam a rede mundial de computadores<br />
mais de uma vez por dia, principalmente por meio de<br />
smartphones. Preste atenção nestas informações: 21% dos adolescentes<br />
já deixaram de comer ou dormir por causa da internet,<br />
17% procuraram formas de emagrecer, 10% para machucar a si<br />
mesmo, 8% relataram formas de experimentar ou usar drogas e<br />
7% formas de cometer suicídio. Todos estes dados são da pesquisa<br />
TIC Kids Online Brasil - 2015, feita pelo Comitê Gestor da<br />
internet e o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade<br />
de Informação.<br />
O que dizem os pediatras<br />
Foi a partir destes dados que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)<br />
elaborou um documento com recomendações para os profissionais de saúde,<br />
para pais e responsáveis e para as próprias crianças e adolescentes sobre o<br />
uso das tecnologias. Um dos principais alertas é o seguinte: a internet deixa<br />
as crianças e adolescentes "expostas numa rede totalmente incontrolável".<br />
O manual de orientação "Saúde de Crianças e Adolescentes na Era<br />
Digital" está disponível no link www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/<br />
11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf. Ele enumera os seguintes<br />
sintomas do uso precoce e excessivo das tecnologias:<br />
• Cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas<br />
auditivos por uso de headphones, problemas visuais, problemas<br />
posturais e lesões de esforço repetitivo;<br />
• Problemas que envolvem a sexualidade, como maior vulnerabilidade à<br />
pornografia, acesso facilitado às redes de pedofilia e exploração sexual online;<br />
• Compra e uso de drogas;<br />
• Pensamentos ou gestos de autoagressão e suicídio;<br />
• "Brincadeiras" ou "desafios" online que podem ocasionar consequências<br />
graves, inclusive a morte.<br />
Evelyn Eisenstein, pediatra e membro do Departamento Científico de<br />
Adolescência da SBP, chama a atenção para a ausência de controle por parte<br />
dos adultos. "Se nós somarmos os pais que nada sabem sobre o que os filhos<br />
estão fazendo ou que sabem mais ou menos do que os filhos estão fazendo<br />
nas redes sociais, nós temos quase que 52% do total. Mais do que a metade<br />
dos pais pouco sabem do que seus filhos estão acessando," adverte.<br />
Atenção, pais<br />
Para a SBP, esta é uma questão de saúde pública, pelos<br />
inúmeros sintomas apresentados, de educação, por causa da<br />
queda do rendimento escolar e de segurança. "Ao todo, 41%<br />
das crianças e adolescentes já sofreram discriminação, que são<br />
casos de violência online. Outros 42% já se encontraram com<br />
desconhecidos. Imagina o perigo! Internet e redes sociais não<br />
são uma brincadeirinha, não é uma distração", reforça a médica<br />
e estudiosa sobre o assunto, Eisenstein.<br />
O apelo da Sociedade Brasileira de Pediatria é para que os<br />
pais exerçam o papel de mediadores. Estas são algumas recomendações<br />
da SBP:<br />
• Supervisione o que os filhos acessam;<br />
• Limite o tempo dedicado aos aparelhos;<br />
• Impeça o uso em local isolado;<br />
• Oriente sobre os perigos da web;<br />
• Impeça o uso por crianças menores de dois anos.<br />
Nas escolas, professores podem contribuir com esta tarefa.<br />
"Temos principalmente que evitar o abandono afetivo, para se<br />
beneficiar do lado positivo da tecnologia," explica a pediatra.<br />
Clarissa Ludovico já tinha alguma noção dos males do uso<br />
exagerado da tecnologia, mas quando soube de alguns dos<br />
sintomas apontados pela Sociedade Brasileira de Pediatria, disse<br />
que vai ficar ainda mais atenta com os filhos. "Pensando<br />
bem, é um acesso muito fácil a coisas perigosas. Agora eu vou<br />
controlar bem mais. Eu entendo que é muito sério e que tudo tem<br />
que ser controlado."