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empreendedores

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ESPECIAL<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

TERRA<br />

de<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

PATROCINIO<br />

Guia Prático de Uso da Assinatura Visual da<br />

Universidade Federal de Juiz de Fora


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 3<br />

Ana Clara Silveira Lelis,<br />

UMA DAS FUNDADORAS DO INSTITUTO AVIVA<br />

Empreendedorismo social<br />

muda vida de 70 assistidos<br />

Marcos Araújo Repórter<br />

“O Aviva é um sopro de esperança<br />

em um mundo cada vez mais<br />

individualista. E esperança é o<br />

que mais precisamos nos dias de<br />

hoje, para que não percamos nossa<br />

capacidade de encantamento<br />

nos pequenos gestos”, afirma Ana<br />

Clara Silveira Lelis, uma das fundadoras<br />

do Instituto Aviva, ao ser<br />

questionada sobre o que significa<br />

seu trabalho junto a crianças e jovens<br />

com deficiência. A iniciativa,<br />

que é norteada pela inclusão, foi<br />

iniciada em Juiz de Fora em 2011,<br />

inspirada por uma associação espanhola<br />

de assistência a pessoas<br />

com deficiência física. Hoje, cerca<br />

de 70 pessoas e suas famílias são<br />

atendidos. Mas Ana Clara afirma<br />

que é ela quem mais se beneficia.<br />

“O Aviva é minha maior fonte de<br />

satisfação e motivação. O que eu<br />

recebo é muito maior do que ofereço.”<br />

O Instituto Aviva está hoje entre<br />

os mais promissores empreendimentos<br />

sem fins lucrativos realizados<br />

na cidade. A entidade nasceu<br />

do sonho de Ana Clara, junto<br />

com a amiga e também fundadora<br />

Ana Paula Carvalho. Ambas queriam<br />

ser voluntárias e ajudar o<br />

próximo. Sentimento que cultivaram<br />

desde a adolescência, quando<br />

estudavam na mesma escola.<br />

“Quando entramos na faculdade,<br />

não encontramos esse incentivo.<br />

Depois de me formar em Educação<br />

Física e a Ana Paula em Fisioterapia,<br />

estávamos com a vida encaminhada.<br />

Eu tinha meu estúdio<br />

de pilates, e Ana Paula foi para<br />

Salamanca, Espanha, para estudar.<br />

Lá, ela conheceu a Associação<br />

Aviva, que trabalha a inclusão<br />

com jovens e adultos deficientes<br />

por meio do esporte e outras atividades<br />

adaptadas. Ela se tornou voluntária<br />

nessa associação e, quando<br />

voltou, manifestou o desejo<br />

de criar o Aviva aqui, o que casou<br />

com minha vontade de voltar a fazer<br />

trabalhos voluntários.”<br />

Segundo Ana Clara, um projeto<br />

foi arquitetado para a realidade<br />

juiz-forana e apresentado ao Colégio<br />

dos Jesuítas, onde elas haviam<br />

estudado. “Iniciamos um projeto<br />

piloto, com duração de seis meses,<br />

em que tínhamos 20 voluntários e<br />

dez crianças indicadas pelo Hospital<br />

Universitário. Desde então,<br />

não paramos mais. Hoje, o Jesuítas<br />

é nosso parceiro e nos cede o<br />

espaço em que nossas atividades<br />

são realizadas aos sábados, assim<br />

como faz a cessão dos materiais<br />

que utilizamos.” Ela destaca que<br />

sem seus voluntários e o comprometimento<br />

deles o Aviva não<br />

teria chegado onde está. “Todos<br />

têm nas mãos o poder enorme de<br />

transformação das realidades, e o<br />

engajamento no trabalho voluntário<br />

é uma forma de canalizar essa<br />

força e potencializar essas transformações.”<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

“Por mais piegas e clichê que<br />

pareça, aquela ideia de que se<br />

cada um fizer um pouquinho, no<br />

final, conseguimos fazer uma<br />

grande diferença é a mais pura<br />

verdade”<br />

Promoção da autonomia<br />

Fazer muitas coisas<br />

ao mesmo tempo<br />

Ana Clara se identifica como<br />

alguém que gosta de fazer<br />

muitas coisas ao mesmo tempo,<br />

ímpeto que a levou a ter o próprio<br />

negócio e a criar o Instituto<br />

Aviva. “O empreendedorismo<br />

social é uma coisa que me motiva<br />

e que gosto de me envolver,<br />

principalmente, quando enxergamos<br />

a carência da sociedade.<br />

Por mais piegas e clichê que pareça,<br />

aquela ideia de que se cada<br />

um fizer um pouquinho, no<br />

final, conseguimos fazer uma<br />

grande diferença, é a mais pura<br />

verdade”, ressalta.<br />

A empreendedora enfatiza<br />

que a frase “um sonho que se<br />

sonha só é só um sonho e um<br />

sonho que se sonha junto vira<br />

realidade” faz muito sentido<br />

para ela e seu grupo de voluntários.<br />

“Isso é o que me motiva,<br />

ou seja, conseguir plantar uma<br />

semente que cresceu em mim<br />

em outras pessoas. É exatamente<br />

isso que vemos acontecer no<br />

Aviva.<br />

Diversão combinada<br />

com inclusão<br />

O Instituto Aviva atua para<br />

promover a inclusão de crianças<br />

com deficiência, utilizando<br />

atividades lúdico-desportivas<br />

adaptadas e ainda presta<br />

apoio aos familiares. As atividades<br />

são realizadas aos sábados.<br />

“Nossa ideia era trabalhar<br />

o esporte adaptado com crianças<br />

e que, nestas duas horas<br />

da semana que passamos com<br />

elas, os pais pudessem fazer<br />

outras coisas, ficando tranquilos,<br />

sabendo que seus filhos<br />

estavam bem cuidados. Mas<br />

começamos a perceber que<br />

os pais não queriam ir embora<br />

e ficavam para ver os filhos.<br />

Também começamos a perceber<br />

que havia uma demanda<br />

muito grande pelo divertimento,<br />

pelo brincar, por esse<br />

momento de lazer e ócio”, ressalta.<br />

Assim, o que era para ser<br />

uma escolinha de esportes,<br />

inicialmente, passou a ter o viés<br />

de inclusão. O instituto passou<br />

a oferecer atividades artísticas,<br />

como música, dança, teatro<br />

e trabalhos manuais, mas<br />

Conforme Ana Clara, o Instituto<br />

Aviva tem como maior proposta a<br />

disseminação da ideia de que a autonomia<br />

é possível. “Nossa proposta<br />

é oferecer uma rede de apoio para<br />

que pessoas deficientes se sintam<br />

à vontade para ocupar os espaços<br />

que quiserem. Ainda enfrentamos<br />

muita dificuldade de acessibilidade<br />

e preconceito. Muitos têm o olhar<br />

limitado a respeito de famílias com<br />

pessoas deficientes, dos próprios deficientes,<br />

achando que eles não conseguem<br />

fazer as coisas, não podem<br />

frequentar certos espaços porque<br />

não são adequados ou porque não<br />

vão se sentir bem. Hoje nosso principal<br />

objetivo é promover a autonomia<br />

dessas crianças.”<br />

Ela lembra que o trabalho desde<br />

cedo incentiva as crianças com<br />

deficiência a se tornarem adultos<br />

autônomos e independentes. “Nossa<br />

principal função é ajudar a construir<br />

essa realidade, dando voz e representatividade”,<br />

assinala. “Existe<br />

uma troca. Quando a gente convive<br />

com realidades e pessoas diferentes<br />

nos renovamos o tempo todo, e acho<br />

que o instituto me deu a possibilidade<br />

de ver as coisas de outra forma.<br />

É um exercício de empatia mesmo,<br />

de se colocar, constantemente, no<br />

lugar do outro”. Para participar da<br />

sem deixar o esporte de lado,<br />

como futebol, vôlei, basquete,<br />

handebol, natação e até tênis<br />

e futebol americano. “Buscamos<br />

sempre parceiros, para<br />

que orientem as crianças nestas<br />

práticas. Temos os esportes<br />

adaptados, como o vôlei sentado,<br />

goalball, futebol de sete<br />

e atividades diversas com cães<br />

terapeutas”.<br />

Os pais se sentiram contagiados<br />

com os avanços dos<br />

filhos e passaram a participar<br />

também. Além da parte<br />

de diversão, eles contam<br />

com palestras de psicólogos,<br />

nutricionistas e advogados.<br />

“Ao longo desses anos, fomos<br />

nos ajustando de acordo com<br />

a necessidade”, afirma Ana<br />

Clara. Com a sede própria<br />

recém-inaugurada na Avenida<br />

Olegário Maciel 2.175/211, o<br />

Aviva terá condições de fazer<br />

um trabalho contínuo. “Desejamos<br />

trabalhar a parte de<br />

apoio pedagógico, pois sabemos<br />

o quanto é difícil para<br />

essas crianças a inserção nas<br />

escolas.”<br />

instituição, as crianças precisam ter<br />

entre 5 e 14 anos de idade. Todavia,<br />

como iniciou suas ações em 2011, há<br />

integrantes com 19 anos.<br />

PRÓXIMOS SONHOS<br />

Para o futuro, Ana Clara pretende<br />

oferecer capacitação a profissionais<br />

da área. “Percebemos a falta de profissionais<br />

para atuar com crianças deficientes,<br />

tanto da área da saúde quanto<br />

da educação. Um dos objetivos é<br />

conseguir trazer pessoas que possam<br />

atuar na capacitação de profissionais<br />

em Juiz de Fora. É uma forma de continuar<br />

contribuindo para o desenvolvimento<br />

para essas crianças.”


tribunademinas.com.br<br />

Desde 1980<br />

Nossa homenagem a Juracy Neves.<br />

Referência empreendedora de Juiz de Fora.<br />

“(...)Juracy Neves tornou-se<br />

figura singular em determinação,<br />

feitos e ações. Médico, professor,<br />

antropólogo, construtor, gestor,<br />

provedor (da Santa Casa),<br />

empresário, editor; constrói<br />

hospital, hotel, funda jornais,<br />

empresa gráfica, teatro, rádios<br />

e TV. Tudo numa só vida, a se<br />

desdobrar em tantas, infindas,<br />

uma raríssima simbiose entre o<br />

intelectual e o pragmático”.<br />

Carlos Bracher<br />

Artista plástico e membro da<br />

Academia Mineira de Letras


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

Eduardo Benjamin dos Santos<br />

PRESIDENTE DO GRUPO CAMILO DOS SANTOS<br />

Direção firme pela<br />

estrada do sucesso<br />

Renato Salles Repórter<br />

A estrada da vida trouxe<br />

Eduardo Benjamin dos Santos<br />

para Juiz de Fora ainda<br />

adolescente. O ponto de partida<br />

da viagem foi a vizinha<br />

Ubá, onde nasceu e viveu os<br />

primeiros anos de vida, na<br />

casa que funcionava em cima<br />

do negócio da família: uma<br />

transportadora de cargas. Foi<br />

na Cidade Carinho, entre as<br />

décadas de 1960 e 1970, que<br />

Eduardo tomou gosto pelo<br />

óleo diesel.<br />

Antes de desembarcar em<br />

Juiz de Fora para completar o<br />

ensino científico, como eram<br />

chamados os anos finais do<br />

ensino médio, à época, Eduardo<br />

já sabia tocar uma carreta.<br />

Entre os seus 16 e 17 anos, dominava<br />

a boleia entre o trecho<br />

que vai das montanhas de Minas<br />

Gerais até a concretude<br />

das esquinas de São Paulo.<br />

A paixão pelos caminhões<br />

não refreou quando Eduardo<br />

chegou ao ensino superior.<br />

Fazia duas faculdades - Economia,<br />

na UFJF; e Administração,<br />

no Machado Sobrinho<br />

-, quando tomou coragem e<br />

pediu para montar uma filial<br />

da transportadora da família<br />

em Juiz de Fora. A princípio,<br />

“seo” Camilo torceu o nariz.<br />

“Ele sabia que, à época, meu<br />

sonho era ser motorista de caminhão”,<br />

confidencia Eduardo,<br />

na sala de reuniões da Rodoviário<br />

Camilo dos Santos<br />

Filho, holding que preside e<br />

que batizou em homenagem<br />

ao pai.<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

Tino empreendedor<br />

Convencer o pai a abrir a filial foi apenas<br />

uma das evidências de que Eduardo<br />

dos Santos tinha, de fato, tino para negócios.<br />

Mais ainda para um empreendimento<br />

específico: o transporte de cargas.<br />

“Ainda na adolescência, já ajudava meu<br />

pai no caminhão”, lembra. Tão logo conseguiu<br />

o sim de “seo” Camilo, com a ajuda<br />

dos colegas da época de faculdade, ele<br />

fez da república que ficava na Rua Oswaldo<br />

Aranha a sede do braço juiz-forano da<br />

Transporte Camilo dos Santos. “Quando<br />

o telefone tocava, todos paravam com<br />

a bagunça e alguém atendia o telefone:<br />

‘Transporte Camilo dos Santos’”, rememora<br />

Eduardo, algumas décadas depois.<br />

Crescimento exponencial<br />

Com um início mais dedicado à<br />

entrega de cargas, a nova empresa<br />

permitiu que Eduardo matasse as<br />

saudades da boleia do caminhão.<br />

Para ampliar o negócio, trouxe de<br />

Ubá uma carreta do pai. “Comprei,<br />

mas não paguei até hoje”, brinca,<br />

antes de revisitar a pavimentação<br />

da estrada que tornou a Rodoviário<br />

Camilo dos Santos uma das marcas<br />

mais consolidadas de Juiz de Fora.<br />

“Após criar a empresa, permaneci<br />

no galpão (no Poço Rico). Mas aí, já<br />

não tinha condições de ter funcionários.<br />

Comecei do zero. Dirigi esta<br />

carreta durante oito meses. Ia três<br />

vezes por semana até São Paulo. Aí,<br />

Graças a Deus, a coisa foi crescendo”,<br />

conta.<br />

Como diz o motorista desta viagem,<br />

“a coisa foi crescendo”, de fato.<br />

A carreta do pai teve companhia.<br />

Logo, chegaram mais caminhões.<br />

Não sem dificuldades e dedicação.<br />

“O crescimento foi bem devagar.<br />

Demorei entre quatro e cinco anos<br />

para comprar o primeiro caminhão<br />

zero.” Depois vieram outros. Assim,<br />

dez anos após Eduardo pisar fundo<br />

no acelerador de seu negócio<br />

pessoal, a Camilo dos Santos buscou<br />

novos ares. Em 1994, a empresa<br />

mudou-se para um espaço na Rua<br />

Henrique Burnier, próximo de onde<br />

funciona atualmente o Shopping<br />

Jardim Norte. Em 2002, transferiu-<br />

-se para o Park Sul, na BR-040, onde<br />

está radicada até hoje. “Em 1984, a<br />

gente tinha 400 metros quadrados<br />

de galpão, onde o caminhão nem<br />

entrava para descarregar. Depois, na<br />

Henrique Burnier, fomos para três<br />

mil metros. Aqui, chegamos a 22<br />

mil”, detalha o empresário.<br />

Não foi apenas o espaço físico da<br />

empresa que cresceu. Pelo caminho,<br />

a transportadora que ganhou o nome<br />

do “seo” Camilo virou uma holding.<br />

Além da Rodoviário Camilo<br />

dos Santos Filho, que trabalha com<br />

carga fracionada, o grupo tem ainda<br />

a EBS Logística - que transporta<br />

carga fechada - e uma empresa de<br />

armazenagem. “Hoje temos 400<br />

veículos de todos os tamanhos”,<br />

resume o empreendedor, que, por<br />

vez, ainda se arrisca no volante. “No<br />

pátio, ainda dirijo. Mas estou muito<br />

barbeiro”, sorri. Talvez o mesmo<br />

sorriso do jovem que sonhava em<br />

ser caminhoneiro, mas seguiu a estrada<br />

do sucesso.<br />

O presidente de uma das principais<br />

empresas da cidade lembra ainda a logística<br />

dos primeiros passos do negócio, há<br />

cerca de 35 anos, em 1984. “A carreta do<br />

meu pai saía de São Paulo e ia para Ubá<br />

direto. Quando voltava para São Paulo,<br />

passava pela república e deixava a carga<br />

dos meus clientes. No começo eram uma<br />

ou duas caixas. Aí, o volume foi crescendo<br />

e, depois de um ano mais ou menos,<br />

alugamos um galpão para a filial da<br />

Transporte Camilo dos Santos”, lembra o<br />

empresário, que, no começo de sua trajetória<br />

no ramo do transporte de cargas, fazia<br />

boa parte das entregas a bordo de um<br />

Fusquinha.<br />

“Juiz de Fora me<br />

deu tudo. Estou<br />

aqui desde 1977.<br />

Vivi aqui 42 dos<br />

meus 58 anos.<br />

Esta cidade me<br />

deu a empresa<br />

e meus filhos.<br />

Me deu tudo<br />

o que tenho.<br />

Acho que nunca<br />

vou conseguir<br />

retribuir à altura.<br />

Estarei sempre<br />

devendo”<br />

Gratidão<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 5<br />

Assim, brevemente, a filial da transportadora<br />

do “seo” Camilo estacionou<br />

em um imóvel no Bairro Poço Rico,<br />

próximo ao Tupynambás, com o filho<br />

Eduardo no volante do negócio. Mais<br />

ou menos nesta época, uma fatalidade<br />

redefiniu o trajeto da vida do jovem empreendedor.<br />

“Perdi um irmão e meu pai<br />

decidiu vender a empresa dele para os filhos.<br />

Ele queria que todos comprassem”,<br />

lembra. Dois filhos não quiseram participar<br />

da partilha da empresa da família.<br />

Um deles, Eduardo, que optou por assumir<br />

a filial juiz-forana do negócio. Nascia<br />

assim a Rodoviário Camilo dos Santos<br />

Filho Ltda.<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

O sucesso de Eduardo é compartilhado: com os colaboradores,<br />

que assimilaram o perfil arrojado da holding,<br />

e, especialmente, com a família. Dos três filhos,<br />

dois - Felipe e Eduardo Júnior - tomaram gosto pelo<br />

cheiro de óleo diesel e trabalham na transportadora.<br />

A filha Marina estuda Medicina. Aos pais, que, recentemente,<br />

seguiram viagem para outros planos, Eduardo<br />

reservou justas homenagens. Além de dar nome à<br />

Rodoviário Camilo dos Santos, “seo” Camilo tem seu<br />

retrato estampado já na recepção da empresa no Park<br />

Sul. A mãe foi lembrada em um projeto em que o<br />

empresário tenta devolver para a sociedade juiz-forana<br />

um pouco do sucesso que colheu na estrada da vida.<br />

Nice Braga dos Santos dá nome a um Centro Educacional,<br />

mantido por Eduardo há mais de uma década,<br />

que atende a cerca de 50 crianças de três a seis de comunidades<br />

do Bairro Bela Aurora, de forma gratuita e<br />

em período integral.<br />

“Faço palestras, mas não consigo fazer um discurso<br />

de final de ano da formatura da creche. A emoção é<br />

muito grande”, sorri com os olhos o empresário, que,<br />

além de ações sociais, já fomentou também o cenário<br />

do esporte profissional e amador de Juiz de Fora.<br />

Gratidão, Eduardo Benjamim dos Santos tem também<br />

pela cidade que se tornou a parada predileta do<br />

homem que tomou gosto pelos caminhões desde a<br />

adolescência. “Juiz de Fora me deu tudo. Estou aqui<br />

desde 1977. Vivi aqui 42 dos meus 58 anos. Esta cidade<br />

me deu a empresa e meus filhos. Me deu tudo o que<br />

tenho. Acho que nunca vou conseguir retribuir à altura.<br />

Estarei sempre devendo.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 7<br />

José Luiz Ribeiro<br />

DIRETOR DO GRUPO DIVULGAÇÃO<br />

‘Sempre fui fiel à minha causa’<br />

Júlio Black Repórter<br />

“O teatro entrou na minha vida pelo<br />

terror. Minha família se resumia<br />

aos meus pais e minha irmã. Então,<br />

um tio ‘emprestado’ me deixou para<br />

assistir a uma peça de teatro no<br />

Salão São Geraldo, próximo à Igreja<br />

da Glória. Aí tinha uma loira bonita<br />

com um sujeito armado (no palco),<br />

fiquei tão desesperado que fiz o porteiro<br />

me levar até a Liga Católica, onde<br />

esse meu tio estava.”<br />

Por uma dessa ironias, este depoimento<br />

traumático da infância foi<br />

dado por aquele cuja trajetória se<br />

confunde com a história do teatro<br />

em Juiz de Fora: José Luiz Ribeiro. O<br />

diretor, ator, dramaturgo, escritor e<br />

jornalista juiz-forano, que completou<br />

77 anos de vida no último dia 22, tem<br />

nada menos que 56 anos dedicados<br />

à arte, sendo 53 deles ao Centro de<br />

Estudos Teatrais - Grupo Divulgação,<br />

que criou em 1966 com a esposa<br />

Maria Lúcia e amigos da Faculdade<br />

de Filosofia e Letras, onde cursava<br />

jornalismo. Desde então, foram centenas<br />

de encenações, de alunos sob<br />

sua direção, textos escritos e incontáveis<br />

prêmios.<br />

“Comecei a trabalhar cedo, aos 14<br />

anos, no Rocha Hotel. Depois passei<br />

pela Casas Regente, Moinha Vera<br />

Cruz, servi ao Exército, sempre estudando<br />

à noite. Meu primeiro espetáculo<br />

já foi uma loucura. Ele se chamava<br />

‘Brasil, espaço 63’ e tinha mais<br />

de cem artistas. Passamos um ano<br />

ensaiando antes da apresentação, na<br />

Casa D’Itália”, relembra. “Era um garoto<br />

doido, cheio de ideias.”<br />

No ano seguinte, foi a vez de “Sinfonia<br />

de uma favela”, e, em 1965, José<br />

Luiz começou o curso de jornalismo.<br />

E lá, participando do núcleo teatral<br />

da faculdade, ele, Maria Lúcia e outros<br />

amigos fundaram o Divulgação.<br />

O primeiro espetáculo, “Amor em<br />

verso e canção”, foi apresentado em<br />

julho de 1966, reunindo poemas de<br />

Carlos Drummond de Andrade, Pablo<br />

Neruda e Cecília Meirelles. “A<br />

estreia foi na Escola de Laticínios<br />

Cândido Tostes, durante a Semana<br />

do Laticínio”, ri da lembrança.<br />

O diretor destaca que a criação<br />

do Divulgação terminou por ser a<br />

válvula de escape para quem queria<br />

fugir da censura da ditadura militar.<br />

Afinal, o Teatro Universitário vinha<br />

sendo perseguido pelo regime militar,<br />

e um grupo de teatro que se<br />

apresentava como Centro de Estudos<br />

e apostava nos clássicos estrangeiros<br />

era menos visado. Era a oportunidade<br />

de dizer o que não podia ser dito<br />

em peças como “Electra” (1968), de<br />

Sófocles, ou “Escola de Mulheres”<br />

(1970), de Molière.<br />

Mas o estratagema nem sempre<br />

funcionava. “Tive uma peça, em 1969,<br />

‘Diário de um louco’ (Nicolai Gogol),<br />

com direção da Malu, que a Polícia<br />

Federal chegou na hora da estreia<br />

e proibiu. Por sorte, o cara da PF<br />

era espírita e negociamos com ele,<br />

e disse que poderíamos apresentar<br />

sem algumas cenas. Eu interpretava<br />

o protagonista e, na hora das cenas<br />

proibidas, colocava um pano branco<br />

na boca, e todos entendiam a mensagem”,<br />

conta. “Fiquei com pena de<br />

um censor na época em que apresentamos<br />

‘Electra’, pois ele tinha que<br />

acompanhar a peça com o livro para<br />

ver se havíamos mudado algo.”<br />

Criando raízes<br />

Nos primeiros anos, o Grupo<br />

Divulgação ensaiava onde<br />

era possível. Um dos locais era<br />

a então Faculdade de Filosofia,<br />

na Avenida Rio Branco, onde<br />

atualmente funciona a Casa da<br />

Cultura da UFJF. Outra opção<br />

era um porão na Casa D’Itália.<br />

A mudança para o local definitivo<br />

se deu em 1971, quando a<br />

Faculdade de Direito da UFJF<br />

saiu da Rua Santo Antônio e se<br />

mudou para o campus. Foi José<br />

Luiz quem procurou o então<br />

reitor Gilson Salomão e sugeriu<br />

Multiplicador de talentos<br />

Uma característica que o Divulgação<br />

sempre manteve em<br />

sua trajetória: ser um grupo de<br />

formação de diretores, majoritariamente<br />

de estudantes da<br />

UFJF, instituição em que José<br />

Luiz trabalhou por décadas como<br />

professor antes de se aposentar,<br />

em 2012. Das antigas turmas<br />

há, por exemplo, a jornalista<br />

Leda Nagle, que estava no<br />

elenco de “A morta”, e dezenas<br />

de artistas que formaram e integram<br />

diversos grupos de Juiz de<br />

Fora e do país.<br />

Foi com essa turma que o Divulgação<br />

participou, em 1974, do<br />

projeto Barca da Cultura, idealizado<br />

por Paschoal Carlos Magno,<br />

com a peça “Cancioneiro de<br />

Lampião”. “Subimos o Rio São<br />

Francisco a partir de Pirapora<br />

até Juazeiro do Norte (CE), parando<br />

em diversas cidades ribeirinhas,<br />

e de lá fomos até Belém<br />

(PA), nos apresentando em cima<br />

de caminhões ou em pequenos<br />

teatros.”<br />

Um pouco antes, 1973, ele conseguiu<br />

superar em definitivo<br />

transformar o prédio num espaço<br />

para a cultura.<br />

“Sugeri adaptarmos o anfiteatro,<br />

e ele topou. Fomos para<br />

lá, e nossa primeira peça no Fórum<br />

foi ‘A morta’, de Oswald de<br />

Andrade, em 1972”, rememora,<br />

lembrando que foi mais uma<br />

ocasião em que a ditadura não<br />

deixou de levar um drible. “Era<br />

um espetáculo virulento, crítico<br />

à ditadura, mas eles não puderam<br />

fazer nada porque a peça<br />

integrava as comemorações dos<br />

50 anos da Semana de 22.”<br />

um dos seus maiores desafios:<br />

“Minha mãe falava desde o início:<br />

‘Meu filho, você trabalha,<br />

estuda, tem que descansar. Teatro<br />

não dá camisa pra ninguém.<br />

Aí apresentamos um espetáculo<br />

numa fábrica de tecidos e ganhei<br />

um corte. Entreguei para<br />

ela e falei ‘não disse que dava<br />

camisa’ (risos)? Ela nunca mais<br />

falou nada contra. E tem aquilo:<br />

começamos a ficar conhecidos,<br />

aparecer no jornal... ”<br />

À medida que o Divulgação<br />

se estabelecia, o grupo passou a<br />

ser presença constante fora dos<br />

palcos de Juiz de Fora, principalmente<br />

em festivais, nos quais<br />

colecionaram diversos prêmios.<br />

Além de se dedicar ao núcleo<br />

com os universitários, José<br />

Luiz Ribeiro passou a levar seu<br />

aprendizado para um núcleo de<br />

adolescentes e outro da terceira<br />

idade, criado há 25 anos e que se<br />

mantém até hoje.<br />

É impossível mensurar o total<br />

de público e apresentações, mas<br />

José Luiz afirma ter um currículo<br />

que soma 173 textos autorais,<br />

Foi o início de um período em<br />

que o Grupo Divulgação passou<br />

a marcar de vez seu nome<br />

na história do teatro brasileiro,<br />

com espetáculos assistidos por<br />

grandes nomes da arte (Murilo<br />

Mendes, Emilinha Borba, Doc<br />

Comparato), conquistas de inúmeros<br />

prêmios em festivais e<br />

encenações marcantes. “Fui o<br />

primeiro a encenar ‘Estado de<br />

sítio’ no Brasil, com autorização<br />

da própria madame Camus (viúva<br />

do escritor, dramaturgo e<br />

filósofo franco-argelino).”<br />

248 espetáculos diferentes apresentados<br />

nos três núcleos e mais<br />

de 500 atores que passaram pelos<br />

palcos com ele. “Nós temos<br />

a alegria de saber que existem<br />

grupos e artistas que surgiram<br />

graças ao Divulgação, de alunos<br />

que vieram para a UFJF só para<br />

estudar com a gente. Me vejo<br />

como o cordão que une as pérolas,<br />

sendo que estas vão passando<br />

e dão lugar a outras. Posso<br />

dizer que nunca estive sozinho.”<br />

José Luiz Ribeiro não pensa<br />

efetivamente na aposentadoria,<br />

“mas já tem algum tempo que<br />

falei com a (diretora) Márcia<br />

Falabella que, se ela assumisse,<br />

eu...”, deixa em suspenso. Se o<br />

futuro é na base do “amanhã<br />

eu decido”, como diria Scarlett<br />

O’Hara em “...E o vento levou”,<br />

o diretor continua firme nos<br />

propósitos que nortearam sua<br />

carreira. “Sempre disse que na<br />

escola eu fui um ator; como<br />

autor, fui jornalista; e no palco,<br />

professor. E não me importo<br />

com as batalhas que perdi, pois<br />

sempre fui fiel à minha causa.”<br />

MARCELO RIBEIRO<br />

“Nós temos<br />

a alegria<br />

de saber<br />

que existem<br />

grupos e<br />

artistas que<br />

surgiram<br />

graças ao<br />

Divulgação,<br />

de alunos<br />

que vieram<br />

para a UFJF<br />

só para<br />

estudar com<br />

a gente. Me<br />

vejo como<br />

o cordão<br />

que une as<br />

pérolas”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

Sempre em busca<br />

do próximo desafio<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 9<br />

Marcelo Mendonça<br />

ADVOGADO E EMPRESÁRIO<br />

Renato Salles Repórter<br />

Nunca o empreendedorismo<br />

esteve tão em voga quanto<br />

nos dias atuais, em que as mudanças<br />

nas relações de emprego<br />

mostram-se contínuas. Para<br />

empreender, no entanto, as<br />

máximas regem que é preciso<br />

sempre superar obstáculos. Para<br />

o advogado e empresário juiz-<br />

-forano Marcelo Mendonça, é<br />

necessário ir além na busca por<br />

novos desafios. É exatamente isto<br />

que ele faz aos 52 anos.<br />

Após acumular experiências<br />

exitosas no mundo jurídico e<br />

dos negócios, Marcelo topou o<br />

desafio de remodelar um espaço<br />

urbano histórico e transformar<br />

os imóveis onde funcionavam<br />

as antigas instalações do<br />

Moinho Vera Cruz, na Zona<br />

Norte, em um projeto moderno:<br />

o Moinho Center JK, que<br />

reunirá instalações comerciais<br />

e residenciais, além de centros<br />

educacional e médico e áreas de<br />

lazer. “Este é o maior empreendimento<br />

da minha vida”, afirma.<br />

Apesar da imponência do<br />

empreendimento, consolidado<br />

em parceria com Marcelo<br />

Machado, com investimentos<br />

da ordem de R$ 90 milhões, o<br />

Moinho Center JK não será o<br />

primeiro desafio na trajetória<br />

de Marcelo Mendonça. Nem<br />

de longe. Segundo o investidor,<br />

a emoção de tocar o projeto milionário<br />

é quase a mesma que<br />

sentiu na adolescência, quando<br />

se aventurou pelo mundo<br />

dos negócios pela primeira vez.<br />

“Com 15 anos, eu tinha uma fábrica<br />

de calcinhas com 30 empregados<br />

e exportava calcinhas<br />

para a Nigéria.”<br />

O dom natural do empreendedorismo<br />

ainda seria potencializado.<br />

Assim, o jovem investidor<br />

conciliou a graduação na<br />

Faculdade de Direito da Universidade<br />

Federal de Juiz de Fora<br />

(UFJF) com sua primeira empreitada<br />

no mundo imobiliário,<br />

com a criação da corretora de<br />

imóveis Estelar. Inquieto, logo<br />

Marcelo juntou estudos e negócios.<br />

“Após a faculdade, montei<br />

o escritório de advocacia Marcelo<br />

Mendonça Advogados Associados,<br />

que tinha sede em Juiz<br />

de Fora e com escritório no Rio<br />

de Janeiro e Belo Horizonte.”<br />

O talento para as discussões<br />

jurídicas era tão grande quanto<br />

o tino para empreender. Marcelo<br />

construiu uma carreira<br />

sólida no meio jurídico. “Fiquei<br />

uns 15 anos com o escritório,<br />

que tinha uma equipe grande.”<br />

Então, veio o convite que fez<br />

do juiz-forano um cidadão do<br />

mundo. “Fui convidado para<br />

assumir a diretoria jurídica da<br />

U&M Mineração e Construção.<br />

Em alguns anos, assumi a diretoria<br />

operacional da U&M na<br />

África.”<br />

OLAVO PRAZERES<br />

“Quem escolheu o nome do<br />

empreendimento foi a comunidade.<br />

Estamos prospectando quais<br />

empresas e lojas eles querem ver aqui.<br />

(...) Este é o futuro: fazer uma coisa<br />

aderente ao que as pessoas querem”<br />

Vitória nos<br />

tribunais ingleses<br />

O desafio internacional<br />

levou Marcelo para a Zâmbia,<br />

onde comandava as<br />

operações de uma mina de<br />

cobre, revelando o talento<br />

para gestão. Mas a nova responsabilidade<br />

não fez com<br />

que o diploma virasse um<br />

souvenir na parede. “Tivemos<br />

uma discussão contratual.<br />

Era uma empresa brasileira<br />

contratada por uma<br />

empresa indiana, operando<br />

na África. O contrato previa<br />

que qualquer discussão seria<br />

feita em Londres.”<br />

Afeito aos desafios, Marcelo<br />

arrumou novamente<br />

as malas e fez casa na Inglaterra.<br />

“Tentamos acordo,<br />

mas tivemos que recorrer ao<br />

tribunal de arbitragem em<br />

Londres.” Nos tribunais da<br />

Terra da Rainha, confrontou<br />

advogados experientes.<br />

Mas os obstáculos na corte<br />

londrina, claro, foram superados.<br />

Com o sucesso, era<br />

hora de retornar para a casa.<br />

“Quando voltei ao Brasil,<br />

terminou o meu contrato<br />

com a U&M. A sensação foi<br />

de missão cumprida. Conseguimos<br />

entregar e ganhar<br />

este processo que foi muito<br />

desgastante. Foi, com certeza,<br />

meu maior desafio na<br />

área jurídica.”<br />

Investimento<br />

na produção de<br />

produtos orgânicos<br />

No retorno a Juiz de Fora, a opção por um período<br />

de descanso em um cenário da infância se apresentou<br />

como nova oportunidade. A estada na Fazenda<br />

Reserva, próxima a Humaitá, atiçou novamente<br />

o tino empreendedor do juiz-forano, que resolveu<br />

apostar no agronegócio. “Quando era criança, ia da<br />

fazenda até Humaitá a pé. Lembro-me que todos os<br />

vizinhos produziam alguma coisa. Quando voltei da<br />

Inglaterra, passei um tempo lá e, ao fazer este caminho,<br />

tive uma surpresa: não havia nenhuma produção<br />

e tudo havia virado granjas de final de semana.”<br />

A mudança do cenário soou como mais um desafio.<br />

“Sabia que, do PIB brasileiro, 25% é oriundo do<br />

agronegócio. Analisei esta relação em Juiz de Fora e<br />

identifiquei que, na cidade, o agronegócio respondia<br />

por menos de 0,5% do PIB” Incomodado, Marcelo<br />

tratou de repaginar o agronegócio local. “Lembrei<br />

que, na Inglaterra, o orgânico era muito valorizado.<br />

Vi que também era uma tendência no Brasil. As pessoas<br />

querem se alimentar melhor”. Nascia, assim, a<br />

Reserva - Produtos Orgânicos.<br />

“Para atingirmos um preço competitivo, estamos<br />

vendendo direto para o consumidor via e-commerce,<br />

mais barato que o preço praticado nos supermercados.<br />

E a gente ainda entrega na casa das pessoas”, explica<br />

Marcelo, que toma para si o desafio de auxiliar<br />

no crescimento da produção orgânica na cidade. “É<br />

um negócio que quero multiplicar. Temos salas de<br />

aula para treinar outros produtores. Para o orgânico,<br />

nossa cidade tem boas condições. Também temos<br />

mão de obra. Nosso objetivo é transformar a zona rural<br />

em um grande polo do orgânico no Brasil.”<br />

Primeira etapa do<br />

Moinho JK prevista<br />

para outubro<br />

Todavia, a tranquilidade dos ares da fazenda não refreou<br />

o ímpeto empreendedor de Marcelo. “Fui convidado<br />

a trabalhar no ramo de postos de gasolina”, conta.<br />

Após investir em cinco estabelecimentos, o empreendedor<br />

visitou o imóvel onde funcionou o Moinho Vera<br />

Cruz. “Já havia um projeto aprovado para ser um posto<br />

de gasolina na esquina. Mas, quando cheguei ao local,<br />

já vislumbrei todo seu potencial”<br />

Ele entrou de cabeça. “Fizemos uma pesquisa na região<br />

e identificamos carência nas áreas de saúde, educação<br />

e entretenimento, principalmente”. Além das<br />

opções de lazer e de serviços, Marcelo destaca o compromisso<br />

com a região. “O desafio que entregamos para<br />

o engenheiro de trânsito foi o de desenvolver um produto<br />

que, quando entregue, melhorasse o trânsito. Esta<br />

solução foi entregue com uma nova via”, fala, enquanto<br />

mostra a rua que está sendo consolidada junto com o<br />

Poder Público, nos fundos do empreendimento.<br />

O projeto será entregue em outubro e terá a cara da<br />

Zona Norte. “A primeira coisa que fizemos foi uma consulta<br />

à população. Quem escolheu o nome do empreendimento<br />

foi a comunidade. Estamos prospectando<br />

quais empresas e lojas eles querem ver aqui. Eles também<br />

escolheram garotos-propaganda da região e também<br />

queremos que as empresas que se instalarem no<br />

local garantam prioridade para moradores da região na<br />

contratação de funcionários. Este é o futuro: fazer uma<br />

coisa aderente ao que as pessoas querem.”<br />

Perguntado sobre o futuro, o sorriso fácil revela<br />

o foco com a entrega da “empreitada da vida”. Sem<br />

deixar, porém, de transparecer o anseio por novos<br />

desafios do pai de Marcelo, Amelie e de Karime e<br />

esposo de Arzi. “Por enquanto, quero focar neste<br />

projeto.” Por enquanto.


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 11<br />

Maria Inês de Andrade<br />

EMPRESÁRIA DA ÁREA DE COSMÉTICOS E PERFUMARIA<br />

Sempre em busca do melhor<br />

Leticya Bernadete Repórter<br />

Uma loja de presentes no Bairro São<br />

Mateus, inaugurada no final da década de<br />

1970, foi o primeiro passo para a carreira<br />

de Maria Inês de Andrade, empresária da<br />

área de cosméticos e perfumaria. O pequeno<br />

espaço para vendas de produtos da rede<br />

“O Boticário” cresceu junto com a marca, e,<br />

hoje, Maria Inês é responsável por nove lojas<br />

e duas distribuidoras de venda direta da<br />

franquia em Juiz de Fora. As unidades da<br />

“Quem disse, berenice?”, no Independência<br />

Shopping e no Mister Shopping, também<br />

estão sob o comando da empresária. Quando<br />

fala do trabalho, a voz evidencia a paixão<br />

pelo que faz. Já o dia a dia corrido demonstra<br />

que o desejo de crescer e levar um serviço<br />

de qualidade não parou. “Nós não cruzamos<br />

os braços. Buscamos sempre melhorar<br />

o nosso trabalho e expandir nossa rede”,<br />

conta. “Estamos sempre tentando aprimorar<br />

o atendimento e a profissionalização da<br />

nossa equipe.” O negócio, inclusive, cruzou<br />

as fronteiras juiz-foranas. Maria Inês também<br />

administra a praça do “O Boticário”<br />

na cidade de Três Rios (RJ), composta por<br />

quiosque, loja e central de distribuição.<br />

A área de produtos de beleza sempre foi<br />

interesse da empresária, e trabalhar com o<br />

tema representa uma realização pessoal.<br />

“Na minha adolescência, nós não tínhamos<br />

disponibilidade de tantos produtos.<br />

Depois, o Brasil foi abrindo o comércio<br />

para produtos de beleza importados. Em<br />

seguida, ‘O Boticário’ abriu em uma época<br />

muito boa, quando apareceram vários outros<br />

concorrentes nessa área de beleza, e se<br />

despontou nesse comércio. Foi muito prazeroso<br />

e compensador apostarmos no que<br />

é nosso, porque nós desenvolvemos nossa<br />

marca e não precisamos, hoje, usar produtos<br />

importados”, explica. “Nós temos aqui,<br />

no mercado brasileiro, produtos de altíssima<br />

qualidade.”<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

Ideia que se expandiu<br />

Uma loja simples na Rua Visconde<br />

de Pirajá, em Ipanema, no Rio de Janeiro<br />

(RJ), teve uma pequena influência<br />

no que veio a se tornar um grande empreendimento.<br />

Poucos anos depois de<br />

se mudar para Juiz de Fora, no final da<br />

década de 1970, Maria Inês estava com<br />

planos de montar uma ‘boutique’. Em<br />

uma viagem de férias, no Rio, a jovem<br />

que pretendia entrar para o comércio se<br />

deparou com os dizeres “produtos naturais”<br />

do estabelecimento em Ipanema.<br />

“Era a onda dos produtos naturais, então<br />

como eu já estava com uma viagem<br />

programada logo em seguida - iria para<br />

Santa Catarina, na praia - então resolvi<br />

experimentar. Comprei um bronzeador<br />

de canela ou cenoura - não me lembro<br />

bem, mas os dois estavam no auge - e<br />

comprei também um produto para o<br />

cabelo, um hidratante corporal e, assim,<br />

eu viajei.”<br />

Como toda boa história, coincidências<br />

marcaram a de Maria Inês. Na volta<br />

das férias para Juiz de Fora, ela passou<br />

uma noite em Curitiba e, no dia seguinte,<br />

descobriu que os produtos que havia<br />

comprado - e gostado - na pequena<br />

loja no Rio de Janeiro, eram fabricados<br />

na capital paranaense. “Eu entrei em<br />

contato e me deram a informação que<br />

a fábrica, um pequeno espaço na Rua<br />

Saldanha Marinho, era uma farmácia<br />

de manipulação. Era uma farmácia que<br />

fabricava alguns produtos com rótulo<br />

de ‘O Boticário’. Naquela época, eles faziam<br />

alguns produtos que a Inglaterra<br />

comprava. Estava no auge produtos manipulados<br />

e lá fabricavam também produtos<br />

sob encomenda.”<br />

Já em Juiz de Fora, a ideia de abrir<br />

uma boutique foi descartada, mas Maria<br />

Inês resolveu, então, montar uma<br />

loja de presentes. O contato com a farmácia<br />

de manipulação de Curitiba deu<br />

certo e, em seu estabelecimento, um pequeno<br />

espaço abrigava os produtos do<br />

“O Boticário”. As chamadas “lojas mistas”<br />

eram comuns em muitas cidades de<br />

interior, que vendiam outros produtos<br />

como roupas, sapatos e acessórios, mas<br />

possuíam um “cantinho” para a marca.<br />

“Cerca de cinco anos depois, eles (O<br />

Boticário) não queriam mais uma loja<br />

mista, e exigiram que eu montasse uma<br />

exclusiva no centro da cidade. Então, eu<br />

abri uma pequena unidade na galeria<br />

General Roberto Neves. O Boticário teve<br />

um crescimento muito rápido. Eles foram<br />

aumentando o portfólio com muita<br />

rapidez, e a propaganda que se fazia<br />

naquela época era a propaganda boca a<br />

boca mesmo.”<br />

Cerca de cinco anos depois, o Mister<br />

Shopping foi inaugurado e mais uma<br />

loja da franquia foi aberta. Logo apareceram<br />

outras oportunidades para abrir<br />

unidades na Rua Halfeld, no Carrefour,<br />

em outros shoppings, “e assim foi”. Ao<br />

todo, a empresária administra nove lojas<br />

e duas distribuidoras de venda direta do<br />

“O Boticário” em Juiz de Fora.<br />

Com o crescimento dos projetos de<br />

Maria Inês, o filho Felipe - formado em<br />

arquitetura - se juntou ao negócio e, hoje,<br />

auxilia a empresária. “Ele trabalhou<br />

em arquitetura no Rio de Janeiro e em<br />

São Paulo. Ele também viveu um bom<br />

tempo da vida dele no exterior, cada<br />

época em algum lugar. Depois a empresa<br />

foi crescendo muito, e ele sentiu a necessidade<br />

de vir fazer parte do time.”<br />

“Eu considero<br />

Juiz de Fora<br />

minha cidade.<br />

É a terra que<br />

eu escolhi<br />

para viver,<br />

que me<br />

acolheu e onde<br />

criei meu filho.<br />

Acho que<br />

devo muito<br />

a essa cidade”<br />

De pai para filha:<br />

comércio no DNA<br />

Natural de Liberdade, município do Sul de<br />

Minas com pouco mais de 5 mil habitantes e<br />

distante cerca de 145 quilômetros de Juiz de Fora,<br />

Maria Inês acredita que a habilidade com<br />

os negócios veio do berço. O pai, José Andrade,<br />

era pioneiro do comércio na sua cidade natal.<br />

“Eu já tinha um pouco de sangue de comércio.<br />

Meu pai veio do comércio. Na região, não havia<br />

muita loja, então ele atendia aquela região toda.<br />

Tinha uma loja típica do interior, grande e que<br />

vendia de tudo.”<br />

O negócio se expandiu, levando José a abrir<br />

outras lojas como, por exemplo, de eletrodomésticos<br />

e de materiais de construção. “Eu trabalhei<br />

e aprendi muito com meu pai”, conta<br />

Maria Inês, mesmo que tenha saído de casa<br />

jovem, com 14 anos. De Liberdade, ela foi para<br />

Três Corações para fazer o “segundo grau” e lá<br />

se formou também em Pedagogia. “Eu até trabalhei<br />

um pouco na área, cheguei até a dirigir<br />

uma escola, mas foi por pouco tempo. Logo eu<br />

me casei, vim para cá e a vida mudou bastante.”<br />

Cidade fundamental<br />

A cidade onde passou a maior parte dos seus<br />

anos e onde se desenvolveu profissionalmente,<br />

Juiz de Fora tem um espaço especial na vida de<br />

Maria Inês. Como os pais já faleceram, a empresária<br />

vai pouco para Liberdade, porém, fez<br />

da Manchester Mineira seu lar. “Eu considero<br />

Juiz de Fora minha cidade também”, diz. “É a<br />

terra que eu escolhi para viver, que me acolheu<br />

e criei meu filho. Acho que devo muito a essa<br />

cidade. Eu cresci - tenho crescido, porque não<br />

parei (risos) - e realizado meu trabalho aqui.<br />

Juiz de Fora é fundamental para minha vida, eu<br />

não teria condições de viver em outro lugar.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPECIAL<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

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PÁGINA 13<br />

Nathércia Jorge Abrão<br />

DIRETORA DE PROVIMENTO DE SAÚDE DA UNIMED JUIZ DE FORA<br />

Saber<br />

cuidar<br />

Mauro Morais Repórter<br />

“Acho que minha missão principal<br />

nessa vida é cuidar”, conta Nathércia<br />

Jorge Abrão, dizendo gostar<br />

de cuidar da casa, cuidar dos dois<br />

cachorros com os quais convive,<br />

cuidar do corpo, praticando atividades<br />

físicas, cuidar da própria rotina,<br />

respeitando almoços e jantares e o<br />

ócio criativo, cuidar das crianças,<br />

com as quais conviveu por 38 anos<br />

no consultório de pediatria do qual<br />

saiu em outubro passado, e cuidar<br />

das pessoas que a cerca, tanto dos<br />

funcionários subordinados à sua<br />

diretoria na Unimed Juiz de Fora<br />

quanto dos milhares de assistidos<br />

pelo plano. “Nunca quis ter filhos.<br />

Acho que comecei a trabalhar e<br />

evoluí muito rápido. Quando parei<br />

para pensar nisso, precisaria mudar<br />

toda a minha vida. E eu não queria.<br />

Ser mãe biológica não é o mais importante.<br />

Na verdade, sou mãezona<br />

de todo mundo”, comenta ela, aos<br />

64 anos, mais de dois terços vividos<br />

em Juiz de Fora.<br />

Nascida na pequena Bom Jesus<br />

do Galho, Nathércia mudou-se para<br />

a vizinha Caratinga aos 5 anos.<br />

Filha de um comerciante e de uma<br />

dona de casa, era a primogênita e,<br />

por consequência, foi a primeira a<br />

sair de casa, para cursar medicina.<br />

“Meu pai gostava muito daqui. Juiz<br />

de Fora é uma cidade de porte médio<br />

com excelente qualidade de vida,<br />

localização. Me considero juiz-<br />

-forana”, afirma ela, descendente<br />

de libaneses. “Costumo dizer que<br />

todo mundo pode conseguir tudo.<br />

Saí de Bom Jesus do Galho, filha<br />

do seu Zé Badi e da dona Jamile<br />

e cheguei onde cheguei. O que<br />

tem que ter na vida é propósito. E<br />

para fazer gestão tem que ter atitude,<br />

determinação e organização.<br />

E amar aquilo que faz. Nunca senti<br />

que estava trabalhando, desde<br />

sempre. Mas só faço o que gosto.<br />

Adoro segunda-feira, porque significa<br />

que está tudo bem. Salve a<br />

rotina!”, ri.<br />

O ponto onde chegou, a que Nathércia<br />

se refere, é o do respeito e<br />

reconhecimento a uma das principais<br />

gestoras de saúde da cidade<br />

e do país. “Sou igualzinha ao meu<br />

pai, que era uma pessoa determinada,<br />

que fazia tudo bem-feito.<br />

Essa organização, a forma de conduzir<br />

puxei dele”, reflete. “A receita<br />

é organização e metodologia.<br />

Como tenho a visão global de todo<br />

o ecossistema, sei exatamente<br />

como medir. Sou uma pessoa que<br />

delego muito e cobro. Tenho que<br />

dar a oportunidade de as lideranças<br />

aparecerem. Tenho as pessoas<br />

responsáveis pelos segmentos<br />

e estabelecemos indicadores de<br />

acompanhamento e resultado.<br />

Semanalmente, tenho reunião<br />

com cada serviço que está fora do<br />

parâmetro. O que está bom pode<br />

continuar trabalhando, acompanho<br />

on-line”, explica a diretora de<br />

provimento de saúde da Unimed<br />

Juiz de Fora, cargo que ocupa há<br />

quase 20 anos.<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

“Estamos na era pós-digital, e de que adianta<br />

ficar fixado na tecnologia se quem opera a<br />

tecnologia é o capital humano?! Hoje temos<br />

uma gestão muito eficaz e não por mim, mas<br />

pelas pessoas que motivo, que entendem nosso<br />

propósito e me surpreendem todos os dias”<br />

Saber curar<br />

Nunca faria pediatria, costumava<br />

dizer uma jovem Nathércia Abrão.<br />

O tempo, contudo, tratou de desdizê-la.<br />

“A pediatria é espetacular<br />

porque, ainda que seja extremamente<br />

desgastante, dá resultado.<br />

É a única especialidade em que<br />

você vê a cura na maioria dos casos.<br />

As crianças respondem muito<br />

bem ao tratamento, o crescimento<br />

e desenvolvimento é fantástico, e<br />

o próprio aleitamento materno é<br />

incrível”, emociona-se ela, que formada<br />

médica em junho de 1981, especializou-se<br />

em pediatra e nefrologia<br />

pediátrica no Rio de Janeiro<br />

e retornou à Juiz de Fora. Já trabalhando<br />

no SUS, a profissional logo<br />

foi convidada a assumir cargos de<br />

gestão, como o de chefe do departamento<br />

de pediatria da Secretaria<br />

de Saúde. Naquele momento, Nathércia<br />

era professora de pediatria<br />

na UFJF, onde permaneceu por<br />

apenas três anos. Pelo trabalho em<br />

gestão, saiu das salas de aula. “De<br />

1992 a 1996, fizemos uma gestão<br />

maravilhosa, com vários programas.<br />

Implantamos a vacina BCG<br />

na maternidade, a atenção primária<br />

à saúde, o médico de família.<br />

Invertemos o modelo de atenção<br />

à saúde na secretaria”, lembra. Ao<br />

término daquele período, a pediatra<br />

foi convidada para integrar o<br />

conselho de administração da Unimed<br />

Juiz de Fora.<br />

Consigo levava os aprendizados<br />

do serviço público. “A equipe com<br />

que trabalhei era fantástica. Todos<br />

já tinham uma visão. O secretário<br />

de saúde com quem trabalhei naquela<br />

época, que já faleceu, fez um<br />

manuscrito de modelo de atenção<br />

à saúde exatamente como o<br />

que está acontecendo hoje. Ele e a<br />

equipe já tinham essa visão, tanto<br />

que implantamos na saúde pública.<br />

No Brasil, a saúde suplementar<br />

continuou por muito tempo com<br />

a noção de que, quanto mais faz,<br />

mais ganha. Os médicos trabalham<br />

cada vez mais, estão adoecendo<br />

mais pelo trabalho excessivo,<br />

e o cuidado fica fragmentado e<br />

o paciente não se sente acolhido.<br />

No SUS, tem muita coisa interessante<br />

já pensada. O sistema público<br />

de saúde é perfeito no papel,<br />

precisava ser melhor executado. Se<br />

não fosse a falta de financiamento,<br />

a corrupção e a falta de gestão, teríamos<br />

o melhor sistema de saúde<br />

do mundo”, elogia a profissional,<br />

que atuando no conselho ajudou a<br />

fundar um comitê educativo, com<br />

políticas voltadas para a comunidade<br />

e para os cooperados.<br />

Saber gerir<br />

“Não há nada mais que faça uma empresa<br />

estar no mercado que não seja seu modelo de<br />

gestão, desde uma padaria até uma megaempresa”,<br />

comenta Nathércia Abrão, responsável<br />

pelo modelo de gestão da cooperativa juiz-forana<br />

desde 2000, quando venceu a primeira eleição<br />

e assumiu a diretoria que cuida, dentre outras<br />

coisas, das auditorias, regulações médicas e<br />

de todos os serviços assistenciais. “Sempre tivemos<br />

muito cuidado com isso, focados em fazer<br />

o melhor, motivando as pessoas, valorizando o<br />

capital intelectual da empresa. Estamos na era<br />

pós-digital e, de que adianta ficar fixado na tecnologia<br />

se quem opera a tecnologia é o capital<br />

humano?! Hoje temos uma gestão muito eficaz<br />

e não por mim, mas pelas pessoas que motivo,<br />

que entendem nosso propósito e me surpreendem<br />

todos os dias.”<br />

“Hoje temos um ecossistema de saúde”, pontua.<br />

E logo se explica: inspirada no modelo que<br />

ajudou a projetar quando conheceu o serviço<br />

público no início da carreira, Nathércia dirigiu<br />

a criação dos serviços de atenção pré-hospitalar<br />

(SOS), de promoção da saúde e prevenção<br />

de doenças (Espaço Viver Bem), de atenção<br />

domiciliar com ala exclusiva no Hospital São<br />

Vicente de Paula, do Centro de Cuidado Integral<br />

de Lesões Cutâneas e Feridas para fazer<br />

curativos e avaliações, de duas unidades ambulatoriais<br />

(no Centro e em Benfica) e unidades<br />

de atenção integral à saúde, com médicos<br />

de família, pediatra e ginecologistas, além do<br />

aperfeiçoamento dos consultórios médicos e<br />

dos serviços de prestadores.<br />

Saber antever<br />

Após cuidar de diferentes gerações em seu<br />

consultório, Nathércia tomou uma decisão.<br />

“Eu me aposentei no SUS, como autônoma<br />

e fiquei com o consultório. Mas como agora<br />

decidi que minha função é com gestão<br />

em saúde, diminuí minha carga horário no<br />

consultório. Acho que quem trabalha com<br />

criança tem que ter disponibilidade, o acesso<br />

ao médico é muito importante. Eu me preparei,<br />

me planejei e em outubro passado parei.<br />

Sinto falta da parte assistencial, mas agora,<br />

com a chegada do hospital (Unimed), me<br />

sinto voltando à assistência de novo”, comemora,<br />

apontando os desafios não só do novo<br />

empreendimento, como também de um<br />

novo panorama social. É de sua diretoria,<br />

também, a gestão do serviço especial para<br />

a saúde do idoso, grupo que representa 15%<br />

da carteira de clientes (quando o esperado<br />

é 12%), mas consome 40% do custo assistencial.<br />

“O país está envelhecendo muito rápido,<br />

e o Brasil envelheceu antes de enriquecer,<br />

antes de desenvolver. Isso é gravíssimo. Em<br />

2040, pela primeira vez, vamos ter um maior<br />

número de idosos do que de jovens no Brasil.<br />

E isso muda todo o olhar para a saúde.<br />

Antes, o que prevaleciam eram as doenças<br />

infecciosas, hoje são as doenças crônicas<br />

não transmissíveis”, avalia.<br />

“Você toma um chope porque quer, vai<br />

no salão de beleza porque quer, mas numa<br />

operadora de saúde você só vai porque precisa.<br />

Então, aqui, todo mundo está cuidando<br />

da saúde das pessoas, de quem recebe a<br />

guia até o médico”, diz ela, uma das poucas<br />

mulheres em seu setor, ainda dominado por<br />

homens no Brasil. “Na medicina, médico<br />

sempre ganha igual. Essa diferença salarial,<br />

que eu acho abominável, de a mulher no<br />

mesmo cargo ganhar menos do que um homem,<br />

na medicina não acontece. Na gestão<br />

da saúde, são pouquíssimas mulheres. Tento<br />

estimular. E acho que a mulher tem que<br />

tentar resolver esse problema. Percebo e sinto<br />

a discriminação, vejo a diferença quando<br />

as pessoas sabem que sou diretora, e isso é<br />

cultural. Por isso sempre peço para que me<br />

apresentem como Dra. Nathércia, diretora<br />

de provimento de saúde da Unimed Juiz de<br />

Fora”, diz, com o dedo em riste e um sorriso<br />

no rosto. “A mulher tem que se impor.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESP<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

Empreendedores<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 15<br />

Norma Souza Gomes<br />

SÓCIA DA IMOBILIÁRIA SOUZA GOMES<br />

Uma história de desafios<br />

transformada em sucesso<br />

Gracielle Nocelli Repórter<br />

Na ampla sede da imobiliária<br />

Souza Gomes, na Avenida Itamar<br />

Franco, Norma tem o seu espaço<br />

favorito: um cantinho da sala onde<br />

está um móvel com a fotografia da<br />

família e uma pequena escultura<br />

com a palavra fé, presente de funcionários<br />

que sabem da sua religiosidade.<br />

O lugar revela muito da<br />

trajetória da empresária, que teve<br />

no apoio familiar e na confiança<br />

de que tudo daria certo os principais<br />

pilares do sucesso. A caminhada<br />

começou de forma inesperada<br />

e não foi fácil, mas revelou uma<br />

mulher forte, decidida e capaz de<br />

transformar os desafios em degraus<br />

para o sucesso.<br />

Natural de Carangola, chegou a<br />

Juiz de Fora aos 22 anos, após se casar<br />

com Roberto Souza Gomes. “Ele<br />

trabalhava aqui como corretor na<br />

imobiliária Roma. Anos mais tarde,<br />

teve a oportunidade de comprá-la.<br />

Foi assim que nasceu a Souza Gomes,<br />

em 1980”, conta. “Eram outros<br />

tempos, e ele preferia que não trabalhasse.<br />

Como depois de dois anos<br />

tivemos nosso primeiro filho, Diogo,<br />

eu curtia ser mãe e dona de casa.<br />

Não me sentia frustrada por não trabalhar<br />

fora.”<br />

Mas como ela mesmo narra, o<br />

destino quis diferente e promoveu<br />

uma reviravolta na vida da família<br />

com a morte precoce de Roberto,<br />

em 1994. Norma, então, assumiu a<br />

empresa. “Não conhecia nada sobre<br />

a imobiliária e o mercado, mas não<br />

tinha opção. Numa atitude de coragem,<br />

falei aos meus filhos que iria<br />

ficar à frente da empresa. O Diogo<br />

tinha 12 anos, e o Victor, 7.”<br />

O desafio impunha que ela<br />

aprendesse a lidar rapidamente<br />

com a perda do marido, a criação<br />

dos filhos e o ingresso no mundo<br />

dos negócios. “Era uma dona<br />

de casa com 37 anos, mãe de duas<br />

crianças, assumindo uma empresa<br />

em um ramo predominantemente<br />

masculino. Precisei provar que podia<br />

aprender na prática e enfrentar<br />

todos os desafios.”<br />

A família de Norma sempre foi<br />

unida. Filha da costureira Judith e<br />

do motorista Zacarias, ela se recorda<br />

com doçura da vida em Carangola<br />

ao lado dos quatro irmãos. “Foi<br />

uma infância simples e extremamente<br />

feliz. Fui criada numa cidade<br />

de interior, numa casa com quintal.<br />

Nós brincávamos muito e estávamos<br />

sempre juntos.” E no momento<br />

mais desafiador da vida de Norma<br />

não foi diferente.<br />

Quando assumiu a imobiliária, a<br />

situação financeira era delicada em<br />

decorrência dos gastos com o tratamento<br />

de Roberto e a própria manutenção<br />

da empresa, o que exigiu<br />

dedicação ainda maior. “Eu trabalhava<br />

de 12 a 15 horas por dia, mas<br />

minha disponibilidade era 24 horas,<br />

pois o telefone do plantão divulgado<br />

nos jornais da época era o meu”,<br />

conta. “Contei integralmente com<br />

o apoio da minha mãe, dos irmãos<br />

maravilhosos que tenho e da minha<br />

cunhada Regina.”<br />

Emocionada, ela relata a gratidão<br />

às pessoas que a ajudaram. “Para<br />

cortar gastos, a primeira medida foi<br />

sair da sede na Rua São João para<br />

uma sala na Rua Halfeld. Quando<br />

fui alugar este imóvel, o senhor<br />

Newton Mariano, da Cordial Imóveis,<br />

fez o contrato na hora. As pessoas<br />

que, como ele, acreditaram em<br />

mim, me deram muita coragem para<br />

seguir firme.”<br />

Para ela, a fé e o equilíbrio emocional<br />

foram fundamentais. “Foi<br />

assim que guiei meus passos. Sempre<br />

tive certeza que daria certo. Já<br />

o equilíbrio foi importante para<br />

tomar as decisões acertadas. Sou<br />

muito pé no chão e subo um degrau<br />

de cada vez.”<br />

OLAVO PRAZERES<br />

“Considero a minha cidade. Foi onde eu tive meus<br />

filhos e vivi muitos momentos especiais. É onde<br />

conquistei minha realização profissional, o carinho<br />

e respeito de muitas pessoas. Sempre me senti<br />

abraçada por Juiz de Fora.”<br />

Novos sócios, novos voos<br />

Aos 15 anos, Diogo foi trabalhar com Norma.<br />

“Ele passou a dividir o dia entre os estudos e a<br />

rotina na imobiliária, onde fazia todo tipo de<br />

trabalho. Quando começou a Faculdade de<br />

Administração, começou a aplicar os conhecimentos<br />

na empresa. Diogo foi meu apoio, eu<br />

me sentia segura por ter um filho ao meu lado.”<br />

Anos mais tarde, o caçula Victor se juntou<br />

à equipe. “Ele tem um lado humano muito especial,<br />

diferenciado.”<br />

Manter um negócio familiar não é tarefa<br />

fácil e, para isso, eles se prepararam. “Somos<br />

três sócios com funções muito bem definidas”,<br />

destaca. “Há 15 anos, tivemos uma consultoria<br />

para conseguirmos diferenciar a relação familiar<br />

e o trabalho. Uma das nossas ações é que<br />

nos tratamos pelo nome dentro da empresa.<br />

Buscamos esta profissionalização para não<br />

misturar as coisas.”<br />

Além dos filhos, o marido Ricardo também<br />

atua na empresa como gerente de vendas. “Estamos<br />

juntos há 20 anos. Ele é uma pessoa<br />

encantadora de se conviver, é um grande parceiro<br />

de trabalho e o avô da Nina”, diz ela, se<br />

referindo à neta de 5 anos.<br />

Da sala na Halfeld, a imobiliária se mudou<br />

para um imóvel maior na Rua Floriano Peixoto.<br />

Após alguns anos, era desejo de Diogo alçar<br />

voos maiores. “Ele sempre foi muito empreendedor.<br />

A ideia era criar uma sede que tivesse<br />

cara de casa, não de escritório”, explica. “Em<br />

2015, mudamos para a Avenida Itamar Franco.<br />

A realização do projeto foi possível porque<br />

muitas empresas acreditaram na proposta e se<br />

tornaram parceiras”, afirma. “Também fomos<br />

questionados por criar um empreendimento<br />

ousado no auge da crise, mas é o que eu digo:<br />

as dificuldades sempre vão existir. Cabe a nós<br />

nos reinventarmos para passarmos por elas da<br />

forma mais tranquila possível.”<br />

A trajetória de Norma rendeu prêmios da<br />

Prefeitura e da Câmara Municipal de Juiz de<br />

Fora. “Considero a minha cidade. Foi onde eu<br />

tive meus filhos e vivi muitos momentos especiais.<br />

É onde conquistei minha realização profissional,<br />

o carinho e respeito de muitas pessoas.<br />

Sempre me senti abraçada por Juiz de Fora.”<br />

Se aqui é uma terra de <strong>empreendedores</strong>,<br />

ela define: “tudo que é bem feito, preparado,<br />

com pessoas treinadas dá certo!”<br />

‘Sonho Meu’<br />

A rotina de trabalho continua<br />

intensa. “Sou corretora<br />

e gosto de lidar com pessoas,<br />

participar daquele momento<br />

da vida delas em que estão<br />

procurando a casa própria.<br />

Tenho histórias lindas”, diz.<br />

“Continuo trabalhando muito<br />

porque adoro o que eu<br />

faço, porém hoje eu tenho<br />

uma equipe muito boa que<br />

me permite tirar momentos<br />

para cuidar de mim.”<br />

Nos momentos de lazer,<br />

o lugar preferido é a granja<br />

da família, chamada “Sonho<br />

Meu”. “Foi tão sonhado pelo<br />

Roberto que, por isso, ganhou<br />

esse nome. Mas como<br />

me disse a Nina, deveria mudar,<br />

pois é o sonho de todos<br />

nós”, conta rindo. “É o nosso<br />

cantinho para reunir a família,<br />

os amigos e, também,<br />

para descansar. Por muitas<br />

vezes, foi meu lugar de fuga<br />

para poder me energizar.”<br />

Para ela, estar com a família<br />

é motivo de comemoração.<br />

“Ter o meu marido e<br />

meus filhos na empresa me<br />

dá segurança. Temos divergências<br />

de opiniões, mas<br />

consegui criar um elo que<br />

nada é superior ao envolvimento<br />

afetivo que temos. A<br />

nossa casa é festiva, e tudo a<br />

gente comemora. A música<br />

está sempre presente. Diogo<br />

toca cavaquinho, Victor toca<br />

pandeiro, e eu me arrisco na<br />

percussão.”<br />

Ela conta que, por vezes,<br />

fica admirando a sede<br />

da imobiliária e agradece.<br />

“Chego a me perguntar se<br />

tudo isso é verdade, se realmente<br />

consegui chegar até<br />

aqui. Contemplo e agradeço<br />

por tudo.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

Paulo Roberto Lopes<br />

SÓCIO-FUNDADOR DO BAHAMAS<br />

‘Temos a ambição de<br />

continuar crescendo’<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 17<br />

Fabíola Costa Repórter<br />

Ele puxou a timidez e a retidão da mãe, D. Martha, e<br />

o gosto pelo trabalho do pai, Sr. Olegário, e orgulha-se<br />

por ser reconhecido - e elogiado - pela simplicidade e<br />

humildade. Por ser discreto, com frequência, é confundido<br />

como funcionário do seu sócio, Jovino Campos.<br />

Nessas situações, não corrige, nem se ofende. “Deixa<br />

para lá, isso não vai fazer diferença para mim.” Ele sabe,<br />

porém, que, do bar montado em Santa Luzia para<br />

a quarta maior rede mineira (a primeira do interior) foram<br />

- e continuam sendo - fundamentais a lojinha do<br />

tio, as economias do tempo em que trabalhou na fábrica<br />

de lamparinas, o tino comercial, o invejável trato<br />

com o dinheiro e a visão de que era possível fazer muito<br />

mais do que entregar marmitas. Além, claro, da sociedade<br />

- e da parceria -, há 36 anos, com o amigo, sócio<br />

e cunhado, que aceitou, em 1983, o desafio de abrir um<br />

bar, que se transformou em mercearia, mercado, supermercado<br />

e hoje é uma potência do setor varejista, com<br />

50 lojas espalhadas pelo estado.<br />

Paulo Roberto Lopes, 60 anos, o Sr. Paulinho para os<br />

mais de oito mil funcionários da rede Bahamas, é nascido<br />

e criado em Juiz de Fora. Sua mãe era dona de casa e<br />

tinha sete filhos para cuidar. Já o pai, hoje com 86 anos,<br />

mexia na roça, vendia lenha e queimava carvão. Casado<br />

há 33 anos com Isabel, tem três filhos, Nívea, Leonardo<br />

e Thays. Como pai coruja que se mostra ser, está doido<br />

para alguém assumir o desafio de trabalhar com ele.<br />

“Os filhos estão envolvidos muito pouco. Gostaria que<br />

estivessem aqui, seria importante.”<br />

Nasceu no Cruzeiro Santo Antônio, no Bairro São Pedro,<br />

mas foi em Santa Luzia que começou, desde muito<br />

cedo, a trabalhar. Engraxou sapato, vendeu picolé, pipa<br />

e catou lata e ferro velho para vender no antigo Calixto.<br />

Entregou muita marmita e, aos 12 anos, começou a trabalhar<br />

na fábrica de lamparinas, regadores e suporte de<br />

cafeteiras, onde permaneceu até os 24 anos. “Eu gostava<br />

do que fazia”, diz, com brilho nos olhos. Ficou cinco ou<br />

seis anos como encarregado, com salário que hoje seria<br />

o equivalente a três mínimos. “Na fábrica, eu sabia até<br />

onde eu poderia ir. Não havia como avançar. Por isso,<br />

precisava buscar o chamado bico.” Não raro, visita o local<br />

do primeiro emprego, onde deixou amigos.<br />

O estudo sempre foi prejudicado pela rotina puxada<br />

de trabalho, mas nunca desistiu. Dava umas pausas<br />

quando o cansaço falava mais alto, mas sempre retornava<br />

às salas de aula, para não “ficar para trás”. “Eu era<br />

muito virão, muito econômico e muito “seguro”, até<br />

mesmo chamado de pão duro”, disse, dando risada.<br />

“Todo o meu dinheirinho eu segurava o máximo possível.”<br />

Com as economias da época da fábrica, comenta,<br />

conseguiu comprar um lote no Bairro Santa Cecília e<br />

uma casinha no Santo Antônio. “Eu ficava querendo<br />

ter alguma coisa no futuro. Via as condições dos meus<br />

pais, do meu avô e ficava muito preocupado, imaginando<br />

como seria se tivesse uma família grande. Ficava<br />

preocupado com aquela situação, via aquela dificuldade<br />

de vida. Sempre trabalhei realmente buscando alguma<br />

alternativa a mais.”<br />

OLAVO PRAZERES<br />

Do Bairro Santa Luzia<br />

para Minas Gerais<br />

Foi em Santa Luzia que ele conheceu<br />

o parceiro comercial de<br />

uma vida. Eles moravam perto,<br />

Paulo trabalhava na fábrica, mas<br />

queria ir além. Tinha umas economias,<br />

o tio tinha uma lojinha<br />

para alugar, e ele viu, naquele<br />

espaço, a oportunidade de abrir<br />

um bar. Depois de receber algumas<br />

recusas de parcerias, caminhava<br />

pela Avenida Santa Luzia,<br />

naquela época de terra, começou<br />

a chover e encontrou Jovino, próximo<br />

ao bar do Oswaldo, conhecido<br />

como Tira-Vira. Paulo narra<br />

a cena como se tivesse acontecido<br />

ontem e não há 36 anos. O<br />

sócio aceitou o desafio, e eles<br />

batizaram o estabelecimento de<br />

BarHamas.<br />

Por alguns meses, continuou<br />

conciliando o trabalho na fábrica<br />

com o expediente no bar à<br />

noite e, apesar de todo o esforço<br />

feito pelo patrão para mantê-<br />

-lo por perto, ele percebeu que<br />

o novo negócio tinha potencial<br />

e merecia dedicação integral. O<br />

bar foi inaugurado em março e,<br />

com o passar dos meses, foi ganhando<br />

a forma de mercearia. A<br />

segunda lojinha foi aberta também<br />

em Santa Luzia, no final daquele<br />

ano, e vendia muito mais<br />

que cerveja. Foi batizada de Bar<br />

e Mercearia Bahamas. De Santa<br />

Luzia, a marca foi para São<br />

Pedro até ganhar Juiz de Fora,<br />

Zona da Mata,Triângulo Mineiro,<br />

Campos das Vertentes e Alto<br />

Paranaíba.<br />

Desde o início, afirma, ficou<br />

combinado que, por conta do<br />

perfil de cada um, Paulo seria<br />

responsável pela área financeira,<br />

e Jovino, pela comercial. E assim<br />

eles se mantêm até hoje, apesar<br />

de que os dois “fazem de tudo<br />

um pouco”, sempre se ajudando.<br />

“A parceria é o tempo todo.”<br />

Na sua opinião, o diferencial do<br />

Bahamas é a credibilidade conquistada,<br />

e a humildade no trato<br />

com as pessoas. “As pessoas acreditam<br />

na gente, e estamos sempre<br />

procurando devolver isso para<br />

o povo.” A humildade, aliás, é<br />

um dos oito valores da rede.<br />

Em plena expansão<br />

“Ainda temos<br />

muito tempo<br />

para trabalhar.<br />

Graças a Deus,<br />

estamos indo<br />

muito bem,<br />

em plena<br />

expansão”<br />

Olhando para a trajetória do Bahamas,<br />

o sócio se sente realizado. Disse que jamais,<br />

nem em sonhos mais remotos, imaginaria<br />

chegar a esse ponto. Perguntado<br />

se ainda tem ambições, ele comenta que<br />

sempre há a vontade de ampliar, crescer e<br />

desenvolver. “Temos a ambição de continuar<br />

crescendo, ainda temos muito tempo<br />

para trabalhar. Graças a Deus, estamos indo<br />

muito bem, em plena expansão”. Essa<br />

semana, conta, esteve em Além Paraíba<br />

para negociar o aluguel de uma loja. A<br />

interlocutora achou que tratava-se de um<br />

procurador do Jovino. Ele não ligou, estava<br />

lá para resolver, disse. Ao saber da importância<br />

do executivo na empresa, ela corrigiu<br />

o equívoco com uma mensagem afetuosa:<br />

“Você é muito simples e com uma<br />

visão extraordinária”.<br />

O fundador do Bahamas pode ser discreto,<br />

mas se destaca pela educação e simpatia,<br />

além de ser espirituoso e engraçado. Memoriza<br />

as piadas com facilidade e conta as<br />

histórias da vida com humor. Não gosta de<br />

falar para grandes públicos, mas, entre amigos,<br />

arranca risadas com relatos de situações<br />

corriqueiras. “Minha família fala que gosto<br />

de festa e de velório. Não é que eu gosto, eu<br />

tenho que ir, dar uma passadinha.”<br />

Sempre que pode, Paulo segue para Cabo<br />

Frio para descansar, mas não se demora.<br />

“Se eu ficar direto, vou enjoar.” Anos<br />

atrás, uma tarde em que brincava com a filha<br />

na praia, foi convidado por um barraqueiro<br />

muito simples, chamado Hamilton,<br />

para tomar uma cerveja. Surpreso com<br />

o convite do desconhecido negou uma,<br />

duas, três vezes, até que o homem falou:<br />

“Parceiro, eu tô achando que você está<br />

sem dinheiro. Vou abrir uma cerveja para<br />

a gente. Amanhã você paga”, relembrou,<br />

entre risadas. Paulo voltou no dia seguinte,<br />

virou amigo do Hamilton e até hoje frequenta<br />

a barraca dele.<br />

Quem vê o executivo de terno, sentado<br />

na sala imponente do escritório mantido<br />

no Centro de Distribuição, não imagina,<br />

também, que ele, sempre que pode,<br />

acorda às 5h para cuidar das galinhas<br />

que mantém no quintal de casa. Ele não<br />

curte roça, acha difícil mexer com gado<br />

e acredita que a atividade não dá retorno<br />

financeiro, mas sempre gostou de criação<br />

de bicho. “Eu tenho um galinheiro e faço<br />

questão de ir lá. Todo dia vejo se a água<br />

foi trocada e se as galinhas estão tratadas.”<br />

Com orgulho, Paulo comenta que as pessoas<br />

sempre dizem que ele não mudou,<br />

desde os tempos do trabalho na fábrica de<br />

lamparina. “Sempre pensei que não tenha<br />

necessidade de mudar. Esse é o meu pensamento,<br />

e eu sou feliz assim.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPEC<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 19<br />

Rodrigo Teixeira de Mendonça<br />

ENGENHEIRO FUNDADOR DA ESTRELA URBANISMO<br />

‘A cidade deve ser<br />

pensada para as pessoas’<br />

Gracielle Nocelli Repórter<br />

A chegada da empresa Estrela<br />

Urbanismo no mercado foi um<br />

grande sucesso, responsável por<br />

um marco de vendas que tornou-<br />

-se referência no mercado imobiliário<br />

nacional. A construtora foi<br />

criada há cinco anos com a proposta<br />

de realizar o empreendimento<br />

Estrela Alta, loteamento com usos<br />

residenciais e comercias, lançado<br />

em agosto de 2018, na Avenida<br />

Deusdedit Salgado, no Bairro Salvaterra.<br />

A proposta diferenciada<br />

do espaço fez com que os 540 lotes<br />

fossem vendidos em menos de oito<br />

horas, em um momento em que o<br />

setor da construção civil sentia os<br />

impactos diretos da crise econômica<br />

vivida pelo país.<br />

Por trás desta história de sucesso<br />

está o jovem empresário Rodrigo<br />

Teixeira de Mendonça, 42 anos,<br />

engenheiro fundador da Estrela<br />

Urbanismo. Natural de Juiz de<br />

Fora, ele conta que sempre teve o<br />

interesse de investir localmente trazendo<br />

um conceito diferenciado de<br />

urbanismo. “Mais do que um produto,<br />

eu queria oferecer uma experiência<br />

de qualidade e estilo de<br />

vida. Sempre acreditei que a cidade<br />

responderia a projetos bem pensados,<br />

bem concebidos, bem conduzidos.<br />

Nós tínhamos uma aposta<br />

nesse sentido com relação ao Estrela<br />

Alta, que virou realidade. Foi um<br />

marco não só pelas características<br />

comerciais que foram alcançadas,<br />

mas, principalmente, pelos aspectos<br />

de urbanismo”, avalia. “É isso<br />

que pauta a nossa atuação. Os projetos<br />

que virão pela frente também<br />

irão trazer este conceito.”<br />

Discreto e bastante reservado,<br />

ele relata como foi a trajetória até<br />

a criação do próprio negócio. “Comecei<br />

a trabalhar muito cedo com<br />

meu pai e meu tio, que eram donos<br />

de uma empresa que realizava<br />

obras industriais. Os projetos de<br />

loteamento eram um segmento no<br />

qual atuávamos de maneira secundária.”<br />

E foi exatamente esta área<br />

Quando pergunto sobre este conceito<br />

diferenciado de moradia, Rodrigo<br />

é categórico: “estamos buscando desenvolver<br />

a cidade para as pessoas”.<br />

Ele explica que a realidade do cenário<br />

urbano é uma briga silenciosa entre<br />

moradores, veículos e trânsito. “Geralmente,<br />

os projetos são pensados para<br />

os carros. Uma das primeiras preocupações<br />

é onde será o estacionamento<br />

do empreendimento. Nós trazemos<br />

outra proposta. Queremos transformar<br />

a cidade para as pessoas, desenvolver<br />

projetos para elas.”<br />

Reconhecendo que, além de uma<br />

necessidade, trata-se de um desafio,<br />

o empresário cita ações capazes de<br />

fazer esta transformação. “Tanto para<br />

loteamentos quanto para prédios,<br />

é fato que os imóveis estão cada vez<br />

menores. Logo, o compartilhamento é<br />

uma realidade. Mas, mais do que uma<br />

que mais despertou o interesse de<br />

Rodrigo quando cursou a faculdade<br />

de engenharia. “É o que eu gosto<br />

de fazer”, define. “Sou engenheiro<br />

com experiência em urbanismo,<br />

voltado para loteamentos e bairros<br />

planejados.”<br />

A empresa do pai Luís e de seu<br />

tio Mário chegou a realizar grandes<br />

projetos de loteamento na cidade,<br />

como empreendimentos nos bairros<br />

Nova Era e Parque Independência<br />

e a construção do Bairro<br />

Estrela Sul, no final dos anos 90.<br />

“Mas ainda era uma linha de atuação<br />

alternativa ao principal negócio.<br />

Depois do Estrela Sul, continuamos<br />

desenvolvendo apenas as<br />

obras industriais.” Foi assim que,<br />

em 2013, Rodrigo decidiu que teria<br />

no setor imobiliário a sua principal<br />

atividade, criando a própria empresa.<br />

A Estrela Urbanismo nasceu oficialmente<br />

em 2014. “Foi quando<br />

compramos o terreno na Avenida<br />

Deusdedit Salgado. A criação da<br />

empresa foi motivada, principalmente,<br />

pela ideia de construir o<br />

projeto Estrela Alta”, relembra.<br />

Nesta nova etapa, o primo Alexandre<br />

Campos tornou-se sócio. Já o<br />

pai e o tio são considerados verdadeiros<br />

mentores. “Aprendo muito<br />

com eles, embora eu pareça ser<br />

mais velho”, diz em um momento<br />

de descontração.<br />

Durante toda a conversa, Rodrigo<br />

mostra-se bastante focado e deixa<br />

claro como trabalha de forma<br />

cuidadosa e planejada para tirar<br />

as ideias do papel e transformá-<br />

-las em realidade. “Levamos quatro<br />

anos desenvolvendo o projeto<br />

do Estrela Alta, que, no momento,<br />

está em obras e terá a inauguração<br />

em 2021.” Agora o trabalho da empresa<br />

está direcionado aos novos<br />

projetos. “Temos planos de, pelo<br />

menos, três empreendimentos.”<br />

Sem adiantar muitos detalhes, ele<br />

garante apenas que serão construídos<br />

em regiões diferentes da cidade<br />

e que irão manter o conceito de<br />

moradia diferenciada.<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

‘As novidades geram um desafio maior’<br />

“A cidade tem muito potencial pelo porte, pelas<br />

questões de segurança e por ser um atrativo<br />

da Zona da Mata. Somos uma referência para<br />

muitos municípios”<br />

questão física há, também, o desejo de<br />

socialização. As pessoas querem estar<br />

com pessoas, e os projetos precisam<br />

propiciar isto”, explica. “A nossa proposta<br />

é oferecer um contato real com<br />

a natureza por meio de áreas comuns<br />

bem pensadas, ambientes para pedestres<br />

bem estruturado. É claro que<br />

haverá espaço para os carros, mas eles<br />

não devem ser o objetivo principal.”<br />

Rodrigo acredita que Juiz de Fora<br />

está preparada para receber mais investimentos<br />

neste modelo. “A cidade<br />

tem muito potencial pelo porte, pelas<br />

questões de segurança e por ser um<br />

atrativo da Zona da Mata. Somos uma<br />

referência para muitos municípios.<br />

Temos uma localização privilegiada,<br />

um bom custo de vida, uma iniciativa<br />

pública bem estruturada, lazer e entretenimento<br />

de qualidade”, elogia.<br />

Como desafios, ele destaca a resistência<br />

às mudanças. “Somos uma cidade<br />

do interior e, por força disso, as novidades<br />

geram um desafio maior.”<br />

Ele destaca que quando a cidade é<br />

pensada para as pessoas, além de uma<br />

modificação visual no espaço urbano,<br />

há o aumento da qualidade de vida. O<br />

projeto do Estrela Alta, por exemplo,<br />

foi responsável por trazer uma escola<br />

para o Bairro Salvaterra que será aberta<br />

à comunidade. “As obras começam<br />

agora em maio, e o primeiro ano letivo<br />

será em 2022. É um colégio conceituado,<br />

com 51 anos de atuação no Rio de<br />

Janeiro, e que abrirá a primeira unidade<br />

fora de lá. O modelo pedagógico, a<br />

arquitetura e as instalações são diferenciadas.”<br />

VIDA EM FAMÍLIA<br />

Ao longo do bate-papo com o empresário,<br />

pergunto como é conciliar a<br />

rotina de trabalho com a vida pessoal.<br />

Rodrigo é casado com Beatriz e pai de<br />

Enrico, 9 anos, e Murilo, 4. “Sou muito<br />

caseiro, gosto de estar em família e<br />

praticar esportes. O ritmo de trabalho<br />

é intenso, mas consigo me adaptar para<br />

manter esses momentos em família.”<br />

As motocicletas são uma paixão na<br />

vida de Rodrigo, que já foi campeão<br />

mineiro de enduro em 2017. No mesmo<br />

ano, foi vice-campeão na competição<br />

realizada em Ibitipoca. “Agora<br />

estou me preparando para ser um dos<br />

três representantes de Juiz de Fora no<br />

Rally dos Sertões. Serão nove dias de<br />

prova, no percurso que vai de Campo<br />

Grande a Fortaleza.” Nesta preparação,<br />

características do empreendedorismo<br />

como foco, comprometimento<br />

e planejamento, com certeza, poderão<br />

favorecê-lo.


MÉDIA POR EDIÇÃO DE 3ª A DOMINGO


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPECIA<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

Movido a desafios<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 21<br />

Sérgio Almeida Alves<br />

SÓCIO-PROPRIETÁRIO DO PRÓ-COPÃO<br />

Júlia Pessôa Repórter<br />

Dos 90 anos de existência, sem jamais<br />

fechar as portas, o Pró-Copão,<br />

um dos bares mais emblemáticos - e<br />

o mais antigo - da cidade, está há 64<br />

sob a administração da família de<br />

Sérgio Almeida Alves, também de<br />

64 anos. Tendo crescido entre caixas,<br />

alimentos e artigos diversos do estabelecimento<br />

que começou como o<br />

típico armazém-mercearia-bar, Sérgio<br />

manteve a tradição de manter o<br />

bar como um negócio de família. A<br />

empreitada, iniciada em 1955 pelos<br />

seus pais portugueses, Albertina e<br />

Antônio Alves, hoje é levada adiante<br />

por ele junto com a esposa Maria<br />

Cristina e a filha Bárbara, que, como<br />

o pai, deu seus primeiros passos empurrando<br />

as cadeiras do boteco.<br />

Ao longo de tantos anos, as diversas<br />

gerações da família Alves têm<br />

visto, da porta do bar, a história de<br />

Juiz de Fora ser escrita, desde o lento<br />

deslocamento das atividades econômicas<br />

e sociais do bairro para o Centro<br />

até as várias mudanças políticas<br />

do país. “Meu pai chegou a ser sócio<br />

do Bar Redentor, mas comprou este<br />

imóvel porque viu aqui uma oportunidade,<br />

apesar de já haver indícios<br />

de que o centro comercial se configuraria<br />

ali pelos arredores da Praça da<br />

Estação e da Rua Halfeld. Foi uma<br />

aposta acertada”, conta ele.<br />

“Passamos por períodos em que<br />

a inflação chegava a 80% ao mês, o<br />

que mudava até o preço da cerveja<br />

ao longo da mesma noite. Pegamos<br />

vários planos econômicos, cortamos<br />

zero de moeda, acrescentamos zero,<br />

muda de Cruzado pra Cruzeiro...<br />

foram muitas transformações. Mas<br />

por incrível que pareça, acho que<br />

era mais fácil do que nos dias atuais,<br />

porque hoje as coisas são muito<br />

dinâmicas, mudam rápido demais.<br />

Então temos que estar sempre nos<br />

perguntando como podemos inovar<br />

para poder caminhar mais um pouquinho”,<br />

pontua.<br />

Neste sentido, ele relembra a frase<br />

que ouviu de um conhecido anos<br />

atrás: “O caminho natural de uma<br />

empresa é quebrar”. “E é verdade, a<br />

empresa realmente é cíclica, depois<br />

que atinge seu ápice, o movimento é<br />

de decadência. A função do empresário<br />

é trabalhar para adiar essa falência.<br />

No nosso caso, não sei quando,<br />

talvez depois dos nossos cem anos<br />

(risos).” Apesar disso, Sérgio acredita<br />

no poder de renovação que vem do<br />

intercâmbio de gerações, como aconteceu<br />

com ele e os pais e acontece<br />

agora com ele e a esposa em relação<br />

à filha.<br />

“Isso aumenta a longevidade da<br />

empresa, que ganha com a experiência<br />

de uma geração e a inovação<br />

e o olhar mais atual da outra. E nisso<br />

a Bárbara está com gás total para<br />

tocar o Pró-Copão por muito tempo<br />

ainda”, afirma o pai, orgulhoso. “Esses<br />

90 anos são uma responsabilidade<br />

pra mim também, que herdo o<br />

sonho dos meus avós de fazer do bar<br />

o sustento da família e carrego todos<br />

os ensinamentos dos meus pais. Para<br />

mim, é a realização de um sonho<br />

pessoal”, arremata Bárbara, alinhada<br />

à sabedoria popular que prega seu<br />

destino, no que tange aos negócios,<br />

de “filha de peixe”.<br />

“Nunca<br />

deixamos de ser<br />

comerciantes.<br />

E comerciante<br />

mesmo é aquele<br />

empreendedor<br />

que é flexível,<br />

atento às<br />

mudanças,<br />

sempre<br />

querendo<br />

acolher e<br />

receber os<br />

clientes e, acima<br />

de tudo, se<br />

adaptar sempre<br />

à necessidade<br />

da clientela”<br />

FERNNANDO PRIAMO<br />

Mudanças ao sabor dos clientes<br />

Em meio a tantas mudanças, Sérgio<br />

não titubeia ao responder o que nunca<br />

mudou no Pró-Copão, desde o tempo<br />

de seus pais. “Nunca deixamos de ser<br />

comerciantes. E comerciante mesmo<br />

é aquele empreendedor que é flexível,<br />

atento às mudanças, sempre querendo<br />

acolher e receber os clientes e, acima<br />

de tudo, se adaptar sempre à necessidade<br />

da clientela. Não adianta ser cabeça-<br />

-dura e dizer ‘meu negócio é assim, não<br />

abro mão’. Tem que ir mudando para<br />

atender o freguês.”<br />

De fato, a trajetória do Pró-Copão,<br />

mostra como o bar nunca se fechou às<br />

novidades. Um bom exemplo é o sistema<br />

de delivery da casa. “E quando não<br />

temos motoboy porque o dia está movimentado,<br />

a gente mesmo entrega de<br />

Sonho coletivo: JF como polo gastronômico<br />

carro (risos)”, revela Cristina. “E não usamos<br />

mais os aplicativos de entrega, percebemos<br />

que era mais lucrativo termos<br />

nosso próprio mecanismo”, conta Sérgio.<br />

Um grande passo que também diz<br />

respeito à decisão em investir na gastronomia,<br />

além de porçõezinhas tira-<br />

-gostos simples. “Isso foi lá no fim dos<br />

anos 1990 e início dos 2000. O JF Sabor<br />

teve um papel importante, porque foi<br />

uma motivação para inventarmos pratos<br />

cada vez mais criativos. Passamos<br />

a servir refeições mesmo, com guarnições,<br />

porque percebemos que havia<br />

esta demanda.” No cardápio da casa,<br />

há criações memoráveis no imaginário<br />

gastronômico da cidade, como o Jabá<br />

de Jagunço, o Brega e Chique, o Maria-<br />

-Fumaça e tantos outros, que sempre<br />

Sobre o futuro, Sérgio fala sobre o sonho<br />

coletivo de ver, ao lado de outros<br />

empresários do ramo, Juiz de Fora se<br />

tornar um polo gastronômico e cervejeiro.<br />

“O negócio das cervejas artesanais<br />

deu um grande salto nessa direção e as<br />

pessoas estão percebendo mais os atrativos<br />

da cidade com isso. Pessoas que<br />

iam a Petrópolis ou Itaipava têm descoberto<br />

a qualidade e a variedade da gastronomia<br />

de Juiz de Fora, e hoje temos<br />

estruturas que não tínhamos, como<br />

shoppings que abrem aos domingos,<br />

perfis variados de restaurantes, muito<br />

potencial a ser explorado.”<br />

Para o próprio bar e para seus planos<br />

pessoais, Sérgio tem um desejo que,<br />

apesar de simples, não deixa de ser<br />

grandioso: manutenção. “Já tive ideias<br />

de crescer, mas perderíamos a qualidade<br />

de vida. Se a gente fosse mais ganancioso,<br />

estaria em pleno funcionamento<br />

um projeto com sete filiais em Juiz de<br />

Fora, com uma cozinha central, repondo<br />

todos os dias. Mas a troco de quê?<br />

Apesar de nos dedicarmos muito ao<br />

bar e estarmos pelo menos um dos três<br />

sempre aqui, viajamos bastante, temos<br />

uma vida social bacana, não é preciso<br />

se escravizar para ser bem-sucedido”,<br />

filosofa, contando sobre o que gosta de<br />

fazer fora das portas do Pró-Copão.<br />

De fato, tudo passa no modo acelerado<br />

mesmo. A esposa Maria Cristina<br />

lembra-se de uma das ‘sacadas’ de<br />

Sérgio, num tempo em que eles não<br />

tinham “experiência nem dinheiro”.<br />

“A gente fazia sempre salgados para a<br />

estufa do bar durante a tarde. Um dia,<br />

fiz um tabuleiro de empadinhas e um<br />

cliente gostou tanto que quis comprar<br />

tudo. Eu fiquei desesperada porque não<br />

têm uma pitadinha de mineiridade e<br />

muita, muita fartura.<br />

Outra amostra da flexibilidade de<br />

Sérgio como empreendedor faz parte,<br />

inclusive, das comemorações dos 90<br />

anos do bar. Em menção à data e em<br />

consonância com as tendências de consumo,<br />

o Pró-Copão lançou sua própria<br />

linha de cervejas artesanais, com receitas<br />

elaboradas pelo Mr. Tugas especialmente<br />

para o aniversário. “Durante<br />

um período, os donos de restaurante se<br />

viam como concorrentes, inimigos até.<br />

Hoje, na Associação Brasileira de Bares<br />

e Restaurantes (Abrasel), somos uns<br />

70 associados, e essa união cooperativa<br />

foi mostrando que temos muito mais a<br />

ganhar nas parcerias do que na concorrência”,<br />

afirma Sérgio.<br />

ia dar tempo de fazer outra fornada, e a<br />

estufa ia ficar vazia. E ele disse: ‘Vamos<br />

vender, sim. Com esse dinheiro, a gente<br />

ganha um tempinho para comprar<br />

mais coisas e fazer mais sem se preocupar<br />

em vender o tabuleiro todo’. Até hoje<br />

rimos dessa história (risos)”, recorda-<br />

-se ela.<br />

De lá pra cá, do grande legado como<br />

dono de bar, à frente das tomadas de<br />

decisões há quase 30 anos, Sérgio carrega<br />

mais do que as lições de empreendedorismo.<br />

“Apesar de todo o trabalho<br />

e dedicação, ter bar é de fato ter uma<br />

extensão da sala de visitas de casa, você<br />

consegue acolher os amigos e, no meu<br />

caso, a convivência com eles e a família.<br />

Além disso, foi algo que me tornou<br />

mais humano, fez com que eu interagisse<br />

mais com as pessoas, estivesse mais<br />

atento ao ouvi-las, é gratificante.”


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPECIA<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 23<br />

Wilson Rezato<br />

DIRETOR NA EMPRESA REZATO<br />

‘A minha<br />

vida é Juiz<br />

de Fora’<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

Fabíola Costa repórter<br />

Ele não estava atrasado -<br />

nós é que estávamos adiantados<br />

-, mas fez questão de<br />

justificar a espera da equipe,<br />

com um aperto de mão e um<br />

sorriso, afirmando que estava<br />

fazendo barba. Era o início<br />

de duas horas de conversa<br />

leve, fácil, descontraída e reveladora<br />

sobre o empresário<br />

juiz-forano Wilson Rezende<br />

Franco, 57 anos, sócio da<br />

Rezato há mais de 40 e que<br />

se tornou (ainda mais) conhecido<br />

por ser candidato a<br />

prefeito de Juiz de Fora nas<br />

últimas eleições. Apreciador<br />

de números, cita, com orgulho,<br />

os 44.708 votos recebidos<br />

no último pleito, “não pode<br />

esquecer nenhum”, e as 6.525<br />

unidades entregues pela<br />

construtora, cujo nome incorporou<br />

ao seu. “É uma cidade,<br />

né?”, perguntou, antes<br />

de lembrar dos mais de 500<br />

gols feitos depois dos 45 anos.<br />

Perguntado qual a posição<br />

que gosta de jogar, respondeu<br />

“teimoso”, de pronto, rindo<br />

e arrancando gargalhadas<br />

até a bochecha rosar.<br />

O filho da Dona Lydia e<br />

do Senhor Severino é o mais<br />

novo de 11 irmãos, esposo da<br />

Heloísa há 31 anos, pai de<br />

quatro meninas e vô da pequena<br />

Maria, 3 meses. Natural<br />

de Juiz de Fora, cresceu<br />

em um sítio na Zona Rural,<br />

entre Igrejinha e Humaitá<br />

e, entre os 6 e 10 anos, percorria,<br />

todos os dias, mais de<br />

quatro quilômetros a pé para<br />

ir para a escola. Depois de estudar<br />

na primeira turma do<br />

Polivalente de Benfica, cursou<br />

edificações no Colégio<br />

Técnico Universitário (CTU).<br />

Naquela época, há 41 anos,<br />

conheceu Vinícius, com<br />

quem estudou no CTU, dividiu<br />

disciplinas da Faculdade<br />

de Engenharia da UFJF, assinou<br />

projetos e criou a Rezato,<br />

junção do início do seu primeiro<br />

sobrenome, Rezende,<br />

com o final do sobrenome do<br />

sócio, Banhato.<br />

Wilson tem a pele da mãe,<br />

costureira, e os olhos - e o time<br />

- do pai, produtor de gado<br />

de leite, mas teria herdado<br />

do avô paterno, Prudente<br />

Franco, a veia empreendedora.<br />

Não se lembra do avô,<br />

mas é o que dizem. “Ele chegou<br />

a ter 480 alqueires de terra<br />

aqui em Juiz de Fora. Você<br />

ia de Igrejinha a Humaitá em<br />

terras dele. Era diferenciado.<br />

Começou do zero e chegou a<br />

esse ponto.” Os pais, comenta,<br />

tinham um sítio e mexiam<br />

com roça. O caçula aproveitou<br />

a oportunidade que os<br />

irmãos não tiveram, estudou<br />

e, ainda no terceiro ano do<br />

CTU, começou a fazer projetos,<br />

junto com Vinícius,<br />

“para ganhar algum dinheiro,<br />

porque nenhum dos dois<br />

tinha”. Até hoje, orgulha-se<br />

por assinar todos os projetos<br />

da construtora.<br />

Nos primeiros seis anos,<br />

diz, a empresa, 100% juiz-<br />

-forana, tinha nome, mas<br />

não realizava obras. “Era Rezato<br />

desde o início. Quando<br />

tínhamos um ano de formados,<br />

conseguimos comprar<br />

o primeiro terreno, na Rua<br />

Marmoré, número 36.” O<br />

prédio tinha seis apartamentos<br />

e vendeu rápido, de dezembro<br />

a março. “Quando<br />

acabamos de vender, já tínhamos<br />

comprado mais dois<br />

terrenos. A empresa estava<br />

crescendo rápido.” O motivo<br />

do salto do negócio ele não<br />

sabe explicar, mas foi possível<br />

em dupla. “Era uma questão<br />

de necessidade. Estava<br />

precisando muito, tinha que<br />

fazer e foi dando certo. As<br />

minhas oportunidades, entre<br />

as pessoas que conviveram<br />

comigo, apareceram melhores.<br />

Fui encontrando pessoas<br />

certas no caminho.” Para ele,<br />

mais importante do que a<br />

Rezato ter, hoje, mais de 400<br />

funcionários diretos é a constatação<br />

de que muitos fazem<br />

carreira na própria empresa.<br />

“Todo ano tem gente que<br />

aposenta. Eles ficam muito<br />

tempo aqui.”<br />

Para o empresário, o diferencial<br />

do trabalho realizado<br />

pela Rezato, ao longo desses<br />

41 anos, trata-se de ousadia.<br />

“Ousadia, para mim, é a soma<br />

de coragem com responsabilidade.<br />

Tudo o que a gente<br />

planeja, a gente cumpre.<br />

Mesmo que não traga resultado.<br />

Tratou, tem que cumprir.”<br />

Wilson comenta que o<br />

pai também era assim. “Éramos<br />

muitos filhos e nenhum<br />

se perdeu. Ninguém nunca<br />

deixou de cumprir seus compromissos.”<br />

Além dos olhos<br />

claros, do pai, o empresário<br />

diz ter herdado a firmeza.<br />

“Ele era muito duro, e eu<br />

também sou.” A generosidade,<br />

comenta, puxou da mãe.<br />

Com orgulho, afirma que<br />

abraçou boa parte da família<br />

e que gosta de ajudar a comunidade,<br />

muito antes de ter<br />

a imagem associada ao meio<br />

político. E a netinha, parece<br />

com quem? “Ah, a netinha,<br />

parece com as tias dela”, disse,<br />

com mais risos.<br />

“Ousadia,<br />

para mim, é<br />

a soma de<br />

coragem com<br />

responsabilidade.<br />

Tudo o que a<br />

gente planeja<br />

a gente cumpre.<br />

Mesmo que<br />

não traga<br />

resultado.<br />

Tratou, tem<br />

que cumprir”<br />

‘Posso fazer mais<br />

pela minha cidade’<br />

Wilson Rezato incorporou a marca<br />

da empresa ao seu nome, assim<br />

como associa a cidade à sua vida.<br />

“A minha vida toda é Juiz de Fora.<br />

Nunca tive vontade de sair daqui.<br />

Entendo que posso fazer mais pela<br />

minha cidade.” Apesar de nunca<br />

ter ocupado cargo público, há 25<br />

anos acompanha a política de perto.<br />

Em 2015, aceitou o convite para<br />

ser candidato e pretende repetir a<br />

empreitada nas próximas eleições<br />

municipais. “Chegou um momento<br />

em que eu já tinha passado boa<br />

parte do meu trabalho para as minhas<br />

filhas e para outras pessoas e<br />

sempre achei que seria possível fazer<br />

mais e melhor por Juiz de Fora.”<br />

Na sua opinião, é preciso melhorar<br />

o relacionamento com quem produz<br />

e reduzir a presença e a interferência<br />

do Estado. “Tem muita gente<br />

com vontade de fazer. Ao invés de a<br />

Prefeitura e o Estado ajudarem, eles<br />

atrapalham, porque criam muitas<br />

regras que não levam à nada.”<br />

Para falar do excesso de legislação<br />

- e de restrição - ao mercado,<br />

ele volta aos tempos de roça e lembra<br />

como se faz queijo. “Você faz<br />

uma massa e vai apertando. Se pegar<br />

um bolo de massa e apertar no<br />

meio da mão, primeiro sai o soro e,<br />

depois, começa a sair a massa. Se<br />

apertar demais, perde tudo entre os<br />

dedos. Na cidade é a mesma coisa.”<br />

Sobre a primeira experiência nos<br />

palanques, avalia que o mais positivo<br />

foi identificar que muitos ainda<br />

têm esperança de que há pessoas<br />

capazes de melhorar e transformar<br />

a cidade. “Quero administrar o dinheiro<br />

público para que dê os melhores<br />

resultados.” Wilson diz estar<br />

preparado para a nova empreitada.<br />

O desafio, comenta, é se tornar conhecido.<br />

“A gente acha que é conhecido,<br />

mas é conhecido para um<br />

assunto.” O empresário afirma que<br />

terminou a eleição com 60% de visibilidade.<br />

A expectativa é, no final<br />

da próxima campanha, ser conhecido<br />

por, pelo menos, 85% dos juiz-<br />

-foranos.<br />

“Mas volta aí no futebol”, pediu<br />

Wilson, para falar que pratica<br />

o esporte de duas a três vezes por<br />

semana e fez muito gols, mais precisamente<br />

580 depois dos 45 anos.<br />

O corte etário foi escolhido porque,<br />

segundo ele, “nessa idade, quase<br />

todo mundo já parou”. O empresário<br />

orgulha-se dos 147 títulos<br />

obtidos com o time Rezato. Com<br />

alegria, lembra a oportunidade de<br />

estar no Maracanã, naquele 21 de<br />

junho de 1989, quando o Botafogo,<br />

após jejum de 21 anos, conseguiu<br />

ganhar o Campeonato Carioca<br />

contra o Flamengo.<br />

O empresário comenta que aprendeu<br />

a valorizar, exercitar e desenvolver<br />

a imaginação. “Quando era mais<br />

novo, fazia muito projeto que não<br />

existia para exercitar. “ Até hoje, diz,<br />

antes de decidir pela compra de um<br />

terreno, durante a visita - e na hora<br />

-, ele faz um esboço que acaba se<br />

tornando o projeto consolidado. “A<br />

imaginação vem antes da criação. É<br />

preciso enxergar sem ter nada ali”,<br />

diz, fazendo valer, no canteiro de<br />

obras, a regra que aplica na vida pessoal,<br />

profissional e política também.


DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

ESPECIA<br />

169 º ANIVERSÁRIO<br />

DE JUIZ DE FORA<br />

TERRA de DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019<br />

<strong>empreendedores</strong><br />

Cláudia Ribeiro, Flávia Ribeiro e Paulo de Tarso Oliveira<br />

SÓCIOS DA RELLICÁRIO BRIGADERIA E CAFÉ<br />

Tempos doces<br />

tribunademinas.com.br<br />

PÁGINA 24<br />

Mauro Morais Repórter<br />

Muitas colheres<br />

de sonho<br />

e trabalho<br />

Filhas de um médico e de uma professora e<br />

artesã (autora dos laços que enfeitam e são vendidos<br />

na bancada da loja de São Mateus), as irmãs<br />

Cláudia e Flávia juntaram o pouco da grana<br />

que tinham e envolveram a outra irmã (elas<br />

ainda têm um irmão), que aceitou ser investidora<br />

no negócio. Paulo, juiz-forano e filho de um<br />

fazendeiro, também se somou na empreitada. À<br />

época, cresciam as brigaderias pelo país, inclusive<br />

uma famosa em Goiânia, onde o casal morava.<br />

Foram muitas as vezes em que se sentaram<br />

no local para compreender o funcionamento da<br />

casa. A Rellicário, no entanto, resultou completamente<br />

distinta da inspiração, garantem. Até<br />

porque, o brigadeiro seria o carro-chefe, mas<br />

não seria a única estrela do cardápio. Tanto que,<br />

ao alugarem a máquina de café de um fornecedor,<br />

precisaram convencer de que não queriam<br />

uma máquina automática, e sim a manual.<br />

Paulo se recorda da Páscoa de 2013, quando<br />

a loja tinha pouco mais de três meses de funcionamento<br />

e as pessoas se acotovelavam no<br />

pequeno espaço, até que a funcionária, carregando<br />

três taças de brigadeiro, levou um esbarrão<br />

e todo o líquido foi parar no chão e nos<br />

clientes. Era preciso crescer, pensaram, mas a<br />

loja ao lado estava em reforma para a ampliação<br />

da cervejaria São Bartolomeu. Um dia, o<br />

dono do negócio vizinho ofereceu-lhes assumirem<br />

a obra e o espaço. Os sócios aceitaram.<br />

E os custos foram altos. E deu uma sacudida<br />

no projeto. Quando as contas já não fechavam,<br />

encontraram um consultor. “Conseguimos nos<br />

reorganizar. Os anos de 2016 e de 2017 foram<br />

muito bons, chegamos a ter 300 pessoas na<br />

fila de espera aos sábados. Eu começava o sábado<br />

angustiado, por tanto trabalho. Todo sábado<br />

a gente ia comer alguma coisa, almoçar,<br />

só por volta das 18h”, conta Paulo, ao lado das<br />

duas irmãs. O trio comemorou, no último dia<br />

21, o primeiro ano da segunda loja da marca,<br />

no Shopping Alameda. Onde querem chegar?<br />

“Vai acabar acontecendo de criarmos uma rede,<br />

mesmo. Nossa ideia não é ficar operando<br />

loja, mas fortalecer a marca para expandir”,<br />

defende Cláudia. “Daqui a pouco, a marca estará<br />

madura para fazermos isso.”<br />

Tudo ia bem. Mas o que era festa<br />

transformou-se em angústia. “Eu ia<br />

entrar no mestrado e desisti. Vi que<br />

não era aquilo”, recorda-se Cláudia<br />

Cristina Teixeira Ribeiro, de 30<br />

anos, graduada bióloga. “Quando<br />

fui para a universidade, eu não sabia<br />

o que queria fazer. Lembro que<br />

meu pai comprou um livro de profissões,<br />

eu olhava, mas não sabia o<br />

que fazer. O que me levou a cursar<br />

Biologia foi um professor que tive<br />

e desafiava muito a turma. Ninguém<br />

fechava as provas dele, era<br />

um mito do colégio. Assim eu me<br />

envolvi com a Biologia e fui fazer a<br />

faculdade. Durante o curso, eu dava<br />

monitorias, mas quando fui fazer o<br />

mestrado desisti. A minha pesquisa<br />

era rever algo que já estava feito. Era<br />

um estudo comprovando outro estudo,<br />

que eu havia ajudado a fazer<br />

durante a graduação. Eu não queria<br />

viver assim”, conta ela, natural de<br />

Belo Horizonte. Cláudia queria a vida<br />

mais doce.<br />

Ao longo da graduação, era Cláudia<br />

quem fazia os bolos dos aniversariantes<br />

da turma. Não vendia,<br />

porém. Todos se juntavam para<br />

comprar os ingredientes, e ela executava<br />

uma elogiada receita. Pelos<br />

dotes naturais, a mãe encomendou-<br />

-lhe uns ovos de chocolate para a<br />

Páscoa de 2012. “Deu tudo errado”,<br />

recorda-se. E o que foi frustração<br />

transformou-se em provocação.<br />

“Quando entrei naquela crise existencial,<br />

pensei em vender doces na<br />

pracinha de São Mateus. Daí surgiu<br />

o insight de termos um negócio,<br />

empreender”, diz ela, que contou às<br />

duas irmãs, que logo se entusiasmaram<br />

com a ideia.<br />

FERNANDO PRIAMO<br />

Como uma<br />

crise existencial<br />

deu origem a<br />

uma marca de<br />

brigadeiros e café?<br />

Cláudia abandonou<br />

a biologia, sua<br />

irmã Flávia, a<br />

fisioterapia, e Paulo,<br />

o cunhado, o setor<br />

de telefonia. Hoje<br />

eles são sócios da<br />

Rellicário<br />

Flávia Cristina Teixeira Ribeiro<br />

Oliveira, uma das duas irmãs de<br />

Cláudia, vivia em Goiânia, com o<br />

marido Paulo. Diferentemente de<br />

Cláudia, Flávia, de 36 anos, nasceu<br />

em Itaúna, mas também se mudou<br />

para Juiz de Fora com a finalidade<br />

de estudar. Formada em Fisioterapia,<br />

na capital de Goiás ela fez pós-<br />

-graduação em pilates e dava aulas<br />

durante todo o dia. “Eu amava minha<br />

profissão, mas sempre quis ter<br />

um negócio. A ideia inicial era que<br />

a Cláudia tocasse e que nós ficássemos<br />

de longe. Mas não voltei depois<br />

da abertura. Pedi demissão por<br />

telefone”, rememora, sorrindo.<br />

Goiânia era longe demais para<br />

Paulo de Tarso Gomes Oliveira, 32.<br />

“Morar lá era a mesma coisa que<br />

viver em outro país”, comenta ele,<br />

que pediu férias no trabalho para<br />

a inauguração da brigaderia e café<br />

Muitas xícaras de<br />

carinho de família<br />

“O desafio maior, na minha opinião,<br />

é sermos uma família”, comenta Paulo.<br />

“Acho, pelo contrário, que graças<br />

a Deus somos uma família”, discorda<br />

Flávia. Juntos há oito anos, os dois são<br />

pais da pequena Manu, de 4, que cresce<br />

ao lado do pequeno Davi, de 3, filho<br />

de Cláudia. “Eles são criados juntinhos.<br />

Eles almoçam juntos, vão para escola<br />

juntos, tomam banho juntos, jantam<br />

juntos e dormem juntos. Todos os dias<br />

é assim”, conta Flávia, que mora a poucos<br />

metros da loja e da casa de Cláudia<br />

e Davi. Para equilibrar os fortes laços,<br />

os sócios se dividem nos cuidados da<br />

empresa. Enquanto Cláudia responde<br />

pela criação dos produtos, assinando<br />

como a chef da casa, e pelo marketing,<br />

Flávia assumiu o comercial, e Paulo é<br />

responsável pelo atendimento e pelo<br />

financeiro. “Levanto animado todos os<br />

no Bairro São Mateus. “Chegamos<br />

de manhã, começamos a fazer faxina<br />

e decidimos abrir naquele dia<br />

mesmo. Nosso projeto era ficarmos<br />

15 dias e retornarmos. Mas foram 15<br />

dias em que trabalhamos demais.<br />

Era só a Claudia, a Flávia, eu e mais<br />

uma funcionária. Quando chegou o<br />

dia de ir embora nos perguntamos:<br />

E agora, o que a gente vai fazer?!<br />

Voltei sozinho. Eu tocava uma operação<br />

numa franquia da Oi Atende,<br />

que era a segunda maior loja do<br />

Brasil. Marquei um jantar na casa<br />

do rapaz para quem eu trabalhava<br />

e fui pedir demissão. Graças a Deus<br />

ele não deixou, porque estávamos<br />

começando um negócio e não tinha<br />

como a brigaderia sustentar<br />

nós três. Acabei conseguindo uma<br />

transferência e vim em abril do ano<br />

seguinte (quatro meses depois da<br />

inauguração)”, narra.<br />

dias para trabalhar, mas atuar no comércio<br />

não é fácil. É uma rotina que,<br />

se não tomar conta, te consome”, conta<br />

ele, publicitário por formação, numa<br />

graduação que levou 12 anos para ser<br />

encerrada, o que aconteceu em 2018.<br />

“Faltava só entregar o TCC (trabalho<br />

de conclusão de curso)”, ri o homem,<br />

viciado em cafés, mais do que doces.<br />

Flávia e Cláudia são chocólatras. “Adoramos<br />

doce”, dizem, em uníssono, certas<br />

de que o gosto exige o gesto. “Aqui é<br />

uma empresa familiar e nós prezamos<br />

o respeito e a educação”, pontua Flávia.<br />

“Essa é a nossa criação”, assegura. Paulo<br />

acrescenta: “O nosso jeito de vender<br />

está muito ligado à liberdade de ser.<br />

Aqui as pessoas são instruídas a serem<br />

elas mesmas. Isso compõe, junto da<br />

identidade visual e musical, o que somos.”<br />

PATROCÍNIO<br />

Guia Prático de Uso da Assinatura Visual da<br />

Universidade Federal de Juiz de Fora

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