19.08.2019 Views

Ladeira, 100 anos depois de José Leite de Vasconcelos

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se na freguesia de Ervedal, concelho de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se, no ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129). Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se agora, e na sequência do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos, 1912, p. 284‑289), uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas, contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio arqueológico.

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se
na freguesia de Ervedal, concelho
de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o
início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos
que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios
no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se,
no
ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia
conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância
romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129).
Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se
agora, e na sequência
do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos,
1912, p. 284‑289),
uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial
enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne
um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas
entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas,
contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio
arqueológico.

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

LADEIRA, <strong>100</strong> ANOS DEPOIS DE JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS 317<br />

Lamentavelmente a área <strong>de</strong> escavação<br />

foi aterrada «(…) <strong>de</strong>vido a uma má<br />

interpretação d’or<strong>de</strong>ns, os criados <strong>de</strong> meu<br />

irmão Francisco aterraram as escavações da<br />

<strong>La<strong>de</strong>ira</strong>, <strong>de</strong>vendo aterrar somente as que<br />

ficaram mais para o nascente; <strong>de</strong> resto que<br />

quando há dias lá fui com a machina photographica<br />

tive gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>cepção!» (Museu<br />

Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal<br />

JLV/2538/n.º 17180, <strong>de</strong> 13/09/1912).<br />

Este percalço impe<strong>de</strong> a recolha dos<br />

tão esperados registos fotográficos da área<br />

<strong>de</strong> intervenção, mas não <strong>de</strong>smotiva António<br />

Paes, que conserva a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar<br />

o conhecimento sobre a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong>:<br />

«(…) Esquecia -me <strong>de</strong> pedir a V. Ex.ª a<br />

fineza <strong>de</strong> me dizer se já <strong>de</strong>cifrou os caracteres<br />

ou signaes das ‘tablettes’ <strong>de</strong> barro<br />

que se encontraram na <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> (Ervedal),<br />

pois tenho o maximo empenho em o<br />

saber.» (Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia<br />

JLV/2538/n.º 17181, <strong>de</strong> 28/10/1912).<br />

Na busca incessante por <strong>de</strong>svendar os<br />

mistérios que a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> encerraria, António Paes, já em 1913, procura reunir as<br />

inscrições que se encontravam na posse <strong>de</strong> seu irmão, Francisco António Paes:<br />

«Meu querido Mário, Quando passáres pelo Ervedal, pergunta ao tio Francisco se<br />

ainda tem alguma das inscripções <strong>de</strong>sconhecidas que foram achadas na <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> e<br />

das quaes elle offereceu uma ou duas ao <strong>Leite</strong> <strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong>. Se tiver, trál -a. Não<br />

me resta já menor dúvida, pelos estudos que acabo <strong>de</strong> fazer, que são caracteres<br />

rúnicos; e a ser assim, está confirmado o que sempre suppuz: que a povoação que<br />

existia na <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> há mais <strong>de</strong> mil annos, era romana e foi <strong>de</strong>struída pelas invasões<br />

dos barbaros, visto os caracteres runicos serem d’origem germanica ou gothica. A<br />

tradução da que levou o L. <strong>de</strong> V., é que elle não me <strong>de</strong>u ainda – nem será fácil,<br />

porque é virtu<strong>de</strong> reservada a poucquissímos sábios, pois teem gerealmente uma<br />

significação mysteriosa e mais ou menos cabalistica!... Se o tio F.co tiver alguma<br />

<strong>de</strong>ssas pedras preciosas, pe<strong>de</strong> -lhe que m’empreste p. eu estudar até on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>r.<br />

Pergunta ao teu pai se se esqueceu <strong>de</strong> dar ao tio F.co a carta que levou na 6.ª<br />

feira, a meu pedido. Sauda<strong>de</strong>s para todos e até amanhã. Oxalá que se confirme<br />

tudo o que suppunho e terei obtido a chave do enigma que paira sobre a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong>.<br />

Abraça -te o teu tio m.to am.º António. Se ainda pu<strong>de</strong>r obter alguma das pedras,<br />

Fig. 4 – Carta <strong>de</strong> António Paes da Silva Marques a <strong>José</strong> <strong>Leite</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Vasconcelos</strong>, <strong>de</strong> 28/10/1912 (JVL/2538/n.º 17181). Museu Nacional <strong>de</strong><br />

Arqueologia.<br />

O Arqueólogo Português, Série V, 4/5, 2014-2015, p. 309-339<br />

revista_OAP_10.indd 317 31/03/2017 00:40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!