19.08.2019 Views

Ladeira, 100 anos depois de José Leite de Vasconcelos

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se na freguesia de Ervedal, concelho de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se, no ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129). Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se agora, e na sequência do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos, 1912, p. 284‑289), uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas, contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio arqueológico.

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se
na freguesia de Ervedal, concelho
de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o
início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos
que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios
no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se,
no
ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia
conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância
romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129).
Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se
agora, e na sequência
do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos,
1912, p. 284‑289),
uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial
enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne
um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas
entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas,
contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio
arqueológico.

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LADEIRA, <strong>100</strong> ANOS DEPOIS DE JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS 319<br />

ainda não está em meu po<strong>de</strong>r; mas que é como se o estivesse, e vi outra que espero<br />

obter. Vou rico!» (Cardoso, 2012, p. 160, n.º 50).<br />

António Paes revela -se um importante angariador <strong>de</strong> informações e objetos,<br />

fundamentais para o enriquecimento das coleções do museu e para a obtenção<br />

<strong>de</strong> novas matérias <strong>de</strong> estudo.<br />

Em novembro do mesmo ano António Paes refere uma vez mais a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong>,<br />

retomando, no seu discurso, o entusiasmo inicial pelo sítio: «Já tencionava<br />

escrever -lhe, para lhe pedir mais uma vez notícias da sua apreciavel sau<strong>de</strong>,<br />

pela qual faço os mais sinceros votos. Agora tenho outro <strong>de</strong>ver a cumprir:<br />

agra<strong>de</strong>cer -lhe, com o mais vivo reconhecimento, o folheto que teve a amabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> me enviar e que vou ler com interesse que me merecem todas as obras<br />

<strong>de</strong> V. Ex.ª. Meu irmão Francisco mandou arrancar pedra na <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> (Ervedal)<br />

e appareceu lá um gran<strong>de</strong> pote romano, mas os trabalhadores partiram tudo,<br />

restando apenas a bocca e as azaz! Também appareceram: 2 tégulas uma d’ellas<br />

optimamente conservada; 2 ou 3 ladrilhos como os que V. EX.ª levou (<strong>de</strong> feitio<br />

<strong>de</strong> pam/pau(?) <strong>de</strong> sabão) alguns com caracteres <strong>de</strong>sconhecidos; uma pedra<br />

pouco maior que meia folha <strong>de</strong> papel almasso, com uma elipse incompletamente<br />

riscada; um craneo muito bem conservado (n’outro local) um pedacinho<br />

<strong>de</strong> barro (como cinco tostões) com uma figura gravada, espécie <strong>de</strong> baixo<br />

relevo, que pertenceu a qualquer vaso, talvez a figura lembra vagamente Vasco<br />

da Gama, embora é claro, não reste duvida que é muitissimo anterior. Também<br />

appareceram uns fragmentos <strong>de</strong> barro muito fino (como vidraça) e que<br />

me parece figulino; uma moeda tão tosca, que nada se reconhece n’ella que<br />

possa guiar -nos; uma gran<strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> moinho p.ª fazer farinha; uma pare<strong>de</strong><br />

com mais <strong>de</strong> um metro <strong>de</strong> espessura; e gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedra solta (à<br />

profundida<strong>de</strong> em que encontramos as outras ha 2 <strong>anos</strong>) o que faz suppôr que<br />

houvesse ali qualquer <strong>de</strong>smoronamento por invasão ou sismo. É inutil dizer<br />

que todos os objectos a que me referi estão inteiramente (excepto os quebrados<br />

– que não po<strong>de</strong>m ser cedidos inteiramente...) à disposição <strong>de</strong> V. Ex.ª se<br />

enten<strong>de</strong>r que lhe po<strong>de</strong>m ser uteis para o Museu. Recommen<strong>de</strong>i a meus irmãos<br />

para recurrerem a maxima vigilancia afim <strong>de</strong> não se per<strong>de</strong>r ou partir alguma<br />

coisa interessante que ainda por la apparêca. Lembro -me com verda<strong>de</strong>ira sauda<strong>de</strong><br />

das excursões que por la fizemos, pela Figueira e aqui. Desejo do coração<br />

que V. Ex.ª se restabeleça completamente e mais <strong>de</strong>pressa possivel e que a primeira<br />

vez que me dê o prazer das boas notícias, já veja a lettra do meu Exm.º<br />

bom amigo. A estes votos se associa a minha mulher que agra<strong>de</strong>ce e retribui os<br />

cumprimentos <strong>de</strong> V. Ex.ª. Com a mais ellevada consi<strong>de</strong>ração e sincera estima<br />

subscrevo -me. De V. admirador e amigo <strong>de</strong>dicado muito grato António Paes»<br />

(Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17204, <strong>de</strong><br />

01/11/1914).<br />

O Arqueólogo Português, Série V, 4/5, 2014-2015, p. 309-339<br />

revista_OAP_10.indd 319 31/03/2017 00:40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!