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Ladeira, 100 anos depois de José Leite de Vasconcelos

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se na freguesia de Ervedal, concelho de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se, no ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129). Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se agora, e na sequência do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos, 1912, p. 284‑289), uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas, contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio arqueológico.

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se
na freguesia de Ervedal, concelho
de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o
início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos
que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios
no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se,
no
ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia
conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância
romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129).
Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se
agora, e na sequência
do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos,
1912, p. 284‑289),
uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial
enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne
um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas
entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas,
contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio
arqueológico.

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LADEIRA, <strong>100</strong> ANOS DEPOIS DE JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS 337<br />

fere ao Ervedal, território que lhe era familiar, e em particular à <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> (Ribeiro,<br />

2010, p. 43 -44).<br />

Apesar <strong>de</strong> uma certa sobrevalorização, o facto é que as evidências arqueológicas<br />

relacionadas com a estrutura <strong>de</strong> povoamento romano atualmente conhecidas<br />

se encontram concentradas numa faixa específica do território, <strong>de</strong>senvolvida com<br />

uma orientação norte/sul e on<strong>de</strong> a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> parece ocupar um lugar nuclear (i<strong>de</strong>m,<br />

2015, p. 19 -24).<br />

Relativamente à ocupação pré -histórica os dados disponíveis são escassos, uma<br />

vez que não foram i<strong>de</strong>ntificados, até ao momento, níveis conservados nas áreas<br />

escavadas. Os materiais recolhidos à superfície distribuem -se por toda a extensão<br />

do sítio, verificando -se uma maior concentração na vertente noroeste, localizada<br />

na confluência das duas linhas <strong>de</strong> água e on<strong>de</strong> o relevo é mais acentuado.<br />

Os indícios registados, apesar das limitações <strong>de</strong>correntes das recolhas <strong>de</strong><br />

superfície, confirmam a presença <strong>de</strong> um povoado que seria, face aos vestígios<br />

i<strong>de</strong>ntificados, extenso e estruturado, po<strong>de</strong>ndo, por isso, reunir os elementos<br />

necessários para a construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s monumentos, como os que se encontram<br />

na envolvente, associados aos conjuntos <strong>de</strong> Ervedal e Figueira e Barros (Leisner<br />

e Leisner, 1959; Ribeiro, 2014).<br />

A proximida<strong>de</strong> da <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> ao sítio Areias 1 (i<strong>de</strong>m, 2008, p. 7; i<strong>de</strong>m 2014,<br />

p. 86‐87; i<strong>de</strong>m, 2015a, p. 25-27), classificado também como um potencial<br />

povoado, levanta algumas questões relativamente à relação entre os dois locais.<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos correspon<strong>de</strong>rem a um mesmo sítio parece ser pouco<br />

provável, implicando um local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> extensão e com variações significativas<br />

ao nível <strong>de</strong> implantação.<br />

Mais do que contemporâneos, estes locais po<strong>de</strong>rão representar uma sequência<br />

<strong>de</strong> ocupação do território, sendo difícil <strong>de</strong>terminar qual correspon<strong>de</strong>rá à<br />

ocupação mais antiga. Salienta -se que, se para a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> o conjunto artefactual<br />

é expressivo, para o sítio Areias 1 o número <strong>de</strong> peças recolhido é insuficiente<br />

para uma integração cronocultural. Neste local foram registadas duas estruturas<br />

negativas cuja cronologia e funcionalida<strong>de</strong> ainda não foi possível aferir com rigor.<br />

A articulação da informação reunida ao longo do projeto tem assumido, progressivamente<br />

e à medida que se vem aprofundando o conhecimento do território<br />

e das diferentes realida<strong>de</strong>s que nela se implantam, um papel <strong>de</strong>terminante<br />

no estudo da estrutura <strong>de</strong> ocupação do território para as duas fases <strong>de</strong> ocupação<br />

confirmadas no sítio da <strong>La<strong>de</strong>ira</strong>.<br />

Os resultados <strong>de</strong>sta primeira fase do projeto <strong>de</strong>correm sobretudo das recolhas<br />

<strong>de</strong> superfície e da escavação no Sector A, on<strong>de</strong> foram i<strong>de</strong>ntificados níveis integráveis<br />

no período romano interpretados como zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo, provavelmente<br />

localizada nas imediações <strong>de</strong> uma zona habitacional, e no Sector B, na qual foi<br />

i<strong>de</strong>ntificada parte <strong>de</strong> uma estrutura em pedra e o respetivo <strong>de</strong>rrube, cujos vestígios<br />

O Arqueólogo Português, Série V, 4/5, 2014-2015, p. 309-339<br />

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