19.08.2019 Views

Ladeira, 100 anos depois de José Leite de Vasconcelos

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se na freguesia de Ervedal, concelho de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se, no ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129). Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se agora, e na sequência do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos, 1912, p. 284‑289), uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas, contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio arqueológico.

O sítio arqueológico da Ladeira localiza‑se
na freguesia de Ervedal, concelho
de Avis, distrito de Portalegre. Conhecido e referenciado na bibliografia desde o
início do século xx, suscitou, desde essa altura, o interesse de eruditos e curiosos
que promoveram, de forma esporádica, ações de identificação e recolha de vestígios
no local.Confirmada a relevância arqueológica do sítio em 2005, iniciou‑se,
no
ano seguinte, a primeira fase de estudo da Ladeira, através da qual se pretendia
conhecer melhor aquela que foi considerada por Mário Saa «uma grande estância
romana, das mais intensas desta parte da Lusitânia» (SAA, 1956, p. 129).
Concluída a primeira fase do projeto, apresenta‑se
agora, e na sequência
do centenário da intervenção de José Leite de Vasconcelos na Ladeira (Vasconcelos,
1912, p. 284‑289),
uma breve súmula dos resultados obtidos, com especial
enfoque para o acervo documental associado ao sítio arqueológico, o qual reúne
um conjunto de documentos diversos que retratam as relações estabelecidas
entre os diversos intervenientes que, motivados pelas descobertas aí efetuadas,
contribuíram, de forma significativa, para a história e o conhecimento do sítio
arqueológico.

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LADEIRA, <strong>100</strong> ANOS DEPOIS DE JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS 321<br />

A visita <strong>de</strong> <strong>José</strong> <strong>Leite</strong> <strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong> à <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> em 1912 e os trabalhos aí realizados<br />

foram <strong>de</strong>terminantes, não para o conhecimento do sítio arqueológico,<br />

mas também para a afirmação da vocação <strong>de</strong> António Paes pela Arqueologia.<br />

O entusiasmo <strong>de</strong> António Paes é evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua primeira carta, enviada a<br />

<strong>José</strong> <strong>Leite</strong> <strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong>, on<strong>de</strong> não escon<strong>de</strong> a expectativa <strong>de</strong> conhecer o diretor<br />

do museu e com ele partilhar o que consi<strong>de</strong>rava serem «verda<strong>de</strong>iras ‘preciosida<strong>de</strong>s’»<br />

(Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17172,<br />

<strong>de</strong> 24/07/1912).<br />

O que começou por ser um simples contacto converte -se numa relação <strong>de</strong><br />

amiza<strong>de</strong> sólida e duradoura, da qual perdura a numerosa correspondência trocada<br />

entre ambos e on<strong>de</strong> a arqueologia e a <strong>La<strong>de</strong>ira</strong> surgem como temas recorrentes<br />

em algumas das missivas. Provavelmente motivado pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aprofundar<br />

estas matérias, António Paes, já no final <strong>de</strong> 1915, expressa, a <strong>José</strong> <strong>Leite</strong>, a sua intenção<br />

em inscrever -se no curso científico <strong>de</strong> História, em Lisboa (Museu Nacional<br />

<strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17212, <strong>de</strong> 08/11/1915; n.º 17213,<br />

<strong>de</strong> 11/11/1915; n.º 17214, <strong>de</strong> 14/11/1915; n.º 17215, <strong>de</strong> 18/11/1915; n.º 17216,<br />

<strong>de</strong> 20/11/1915; n.º 17218, <strong>de</strong> 9/12/1915; n.º 17219, <strong>de</strong> 10/12/1915; n.º 17221, <strong>de</strong><br />

24/12/1915; n.º 17222, <strong>de</strong> 04/01/1916; n.º 17224, <strong>de</strong> 04/03/1916).<br />

Contudo, a execução das tarefas inerentes ao seu cargo limitou a sua <strong>de</strong>dicação<br />

à história e à arqueologia, facto por ele lamentado: «Infelizmente continuo na<br />

administração do Concelho, como V. Ex.ª vê, e da qual não estou farto – mas fartíssimo<br />

– pois é raro o dia em que não tenha dissabores, e a ‘plebe’ está cada vez<br />

mais insuportável! É um trabalho inglório, com sacrifícios que ninguém avalia<br />

ou aprecia, gastando -se estupidamente uma energia, que melhor aplicada, mais<br />

podia produzir!» (Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/<br />

n.º 17214, <strong>de</strong> 29/06/1916).<br />

Recorda -se que anteriormente António Paes, perante a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

frequentar, com a assiduida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada, o curso <strong>de</strong> História, já teria indagado<br />

<strong>Leite</strong> <strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong> se existiria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equivalência às ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong><br />

(Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17214,<br />

<strong>de</strong> 14/11/1915) e se po<strong>de</strong>ria estudar em casa (Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia,<br />

Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17215, <strong>de</strong> 18/11/1915).<br />

A relação entre ambos torna -se menos intensa a partir 1920, mas o contacto<br />

mantém -se com alguma assiduida<strong>de</strong> e prevalece até 1940 2 , fase final da vida <strong>de</strong><br />

<strong>José</strong> <strong>Leite</strong> <strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong>.<br />

2<br />

A carta enviada a 31/12/1940 constitui a última entrada do conjunto <strong>de</strong> epístolas remetidas por António Paes a <strong>Leite</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Vasconcelos</strong>. Museu Nacional <strong>de</strong> Arqueologia, Arquivo Pessoal JLV/2538/n.º 17254.<br />

O Arqueólogo Português, Série V, 4/5, 2014-2015, p. 309-339<br />

revista_OAP_10.indd 321 31/03/2017 00:40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!