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18-8-2016<br />
SEMANA 3<br />
CRÓNICA<br />
INTERNACIONAL<br />
• Ângelo Alves<br />
Os verdadeiros<br />
criminosos<br />
Ofacto foi diluído num relatório de 2590 páginas e convenientemente<br />
silenciado. Falamos do reconhecimento<br />
da inocência de Slobodan Milosevic dos crimes de que foi<br />
acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia<br />
– o «tribunal» criado para que os responsáveis e vencedores<br />
da guerra do Balcãs impusessem a sua «justiça» sobre<br />
os vencidos.<br />
No relatório sobre o «julgamento» de Radovan Karadzic<br />
(em que o ex-líder sérvio-bósnio, nacionalista de direita, é<br />
condenado a 40 anos de prisão por crimes de guerra nos acontecimentos<br />
de Sebrenica em 1995) constam várias passagens<br />
que reconhecem que o ex-presidente Milosevic não só não<br />
praticou «crimes de guerra» ou «limpeza étnica», como entrou<br />
cedo em rota de colisão com Karadzic e outros líderes<br />
bósnios-sérvios sobre o rumo da guerra civil incitada e alimentada<br />
pela NATO, defendendo o fim da guerra e o respeito<br />
pelas «outras nações e etnias».<br />
Passaram 25 anos desde o início do desmembramento da<br />
Jugoslávia e 17 anos sobre a guerra de agressão da NATO,<br />
na altura a primeira guerra no coração da Europa em meio<br />
século. Uma guerra que, é importante recordá-lo, foi realizada<br />
à margem e em confronto com a Carta das Nações Unidas,<br />
quando a social-democracia<br />
A guerra<br />
dos Balcãs<br />
foi uma<br />
sucessão<br />
de mentiras e<br />
manipulações<br />
participava no governo de 13 dos<br />
15 países da então União Europeia,<br />
quando Bill Clinton, do Partido<br />
Democrata, era presidente dos<br />
EUA e o socialista espanhol, Javier<br />
Solana, era secretário-geral da<br />
NATO. Uma guerra de agressão em<br />
que Portugal se envolveu numa<br />
decisão do então governo de António<br />
Guterres em confronto com a<br />
Constituição da República Portuguesa. Uma guerra que foi<br />
uma aplicação concreta do então novo conceito estratégico<br />
da NATO, aprovado na cimeira de Washington desse ano,<br />
em que esta se auto-atribuiu o «direito» de intervir em qualquer<br />
parte do globo para «defender os interesses» e «valores»<br />
do bloco político militar agressivo.<br />
A realidade actual daquela região da Europa comprova os<br />
verdadeiros «interesses» por detrás daquele crime: o estacionamento<br />
na região de dezenas de milhares de soldados<br />
da NATO, e em particular dos EUA; a criação de protectorados,<br />
como o Kosovo, fiéis representantes dos interesses económicos,<br />
energéticos e geo-estratégicos das principais potências<br />
europeias – com destaque para a Alemanha –, dos EUA e<br />
da NATO; e a destruição de um País que bateu o pé ao imperialismo<br />
e teve um importante papel no Movimento dos Não<br />
Alinhados.<br />
Aguerra imperialista dos Balcãs foi uma sucessão de<br />
mentiras e manipulações e de verdadeiros crimes…<br />
mas praticados pela NATO. Não cabe neste espaço uma ínfima<br />
parte da enumeração desses crimes. Contudo, para memória<br />
histórica colectiva, é importante pelo menos referir que<br />
a NATO instigou e manipulou as divisões étnicas nos Balcãs;<br />
financiou e armou e treinou o «Exército de Libertação do Kosovo»<br />
– uma organização terrorista que forjou crimes como<br />
o Massacre de Racak, depois atribuído às forças sérvias, a<br />
«gota de água» que «justificou» os bombardeamentos durante<br />
78 dias. É importante lembrar que para manter a campanha<br />
contra Milosevic – apresentado como um monstro comparado<br />
a Hitler – a NATO bombardeou a RTS, a televisão sérvia,<br />
matando dezenas de jornalistas; que para deixar bem claro<br />
quais os objectivos políticos daquela intervenção bombardeou<br />
a embaixada da China; e que perseguiu e sequestrou Milosevic<br />
que acabaria por morrer (tudo indica que envenenado)<br />
nos calabouços do tribunal que agora reconhece a sua<br />
inocência. Não podem ainda esquecer-se crimes como a<br />
utilização de armas de urânio empobrecido, que tal como no<br />
Iraque continuam a matar e a condenar a várias doenças milhões<br />
de seres humanos.<br />
O relatório do TPI para a ex-Jugoslávia vale o que vale,<br />
será a história a encarregar-se, e já o está a fazer, de sentar<br />
no banco dos réus os verdadeiros criminosos – a NATO e<br />
os responsáveis por aquele hediondo crime.<br />
EDITORIAL<br />
Continuam os efeitos dos incêndios florestais que<br />
«varreram» vastas regiões do País deixando<br />
um rasto de destruição com perda de vidas<br />
humanas, feridos, gigantescos prejuízos e milhares<br />
de hectares de floresta consumida pelas chamas.<br />
Explorando naturais sentimentos de desolação,<br />
diversas são as vozes que se erguem procurando, com<br />
demagogia e populismo, desviar as atenções das<br />
reais causas dos incêndios e, em particular, desresponsabilizar<br />
a política de direita por esta calami -<br />
dade.<br />
O PCP manifestou a sua solidariedade às populações<br />
atingidas e o apreço pelo incansável trabalho<br />
que milhares de bombeiros e outros intervenientes<br />
vêm realizando para minimizar os seus efeitos. E apontou<br />
as principais causas deste flagelo: desinvestimento,<br />
desordenamento, falta de limpeza das matas,<br />
escassez dos meios permanentes e dos meios especiais<br />
de combate aos fogos, mas de que são causas<br />
mais determinantes a ausência de políticas de apoio<br />
ao desenvolvimento da agricultura, aos pequenos e<br />
médios agricultores e produtores florestais, o sistemático<br />
afrontamento das comunidades dos baldios,<br />
a destruição da agricultura familiar, a desertificação<br />
do interior incentivadas por falta de actividade produtiva<br />
com garantia de rendimento para os produtores,<br />
a eliminação de serviços públicos (em particular,<br />
escolas e serviços de saúde) e que se acentuaram no<br />
mandato do anterior governo PSD/CDS, com a aprovação<br />
da chamada Lei da Eucaliptização, que levou<br />
ao aumento significativo das áreas de eucalipto plantadas,<br />
com a aprovação de uma nova lei dos baldios<br />
visando a sua expropriação aos povos, ou com o desvio<br />
de mais de 200 milhões de euros do PRODER<br />
para outras áreas.<br />
Para o PCP, a prevenção dos incêndios exige uma<br />
efectiva política de ordenamento florestal, contrariando<br />
as extensas monoculturas, de limpeza da floresta, de<br />
plantação de novas áreas de floresta tradicional,<br />
combatendo a hegemonia do eucalipto, de abertura<br />
de caminhos rurais e aceiros, de valorização da<br />
agricultura e da pastorícia, de ocupação do espaço<br />
rural.<br />
E, nesta situação, impõem-se medidas excepcionais<br />
a que é necessário dar prioridade inequívoca,<br />
com uma enérgica e imediata intervenção do Governo<br />
tendo em vista assegurar o reforço dos meios<br />
de emergência e de combate.<br />
Entretanto, deputados do PCP no Parlamento Europeu<br />
e na Assembleia da República visitaram zonas<br />
ardidas para se inteirarem da dimensão e consequência<br />
dos incêndios e reclamaram a mobilização<br />
de todos os apoios possíveis para superar os seus efeitos.<br />
O PCP interveio também na Conferência de Líderes<br />
da Assembleia da República procurando que<br />
esta matéria seja tratada com prioridade e que seja<br />
criado um grupo de trabalho de acompanhamento<br />
para, com a maior brevidade possível, fazer com o<br />
Ministério da Administração Interna o ponto da situação<br />
e avaliar as medidas tomadas e a tomar.<br />
“Continuar a devolução e reposição<br />
de direitos<br />
”<br />
PRIORIDADE<br />
À FESTA<br />
DO AVANTE!<br />
O PCP insiste que é necessária outra política agrícola,<br />
outra política florestal, definição da defesa da<br />
floresta portuguesa como prioridade da acção política,<br />
a par da ajuda imediata às populações atingidas,<br />
medidas pelas quais não se cansará de levantar<br />
a voz. Uma opção que é inseparável da exigência<br />
de uma outra política, patriótica e de esquerda, que<br />
em vez de se subordinar aos interesses dos grupos<br />
económicos e financeiros, afronte as chantagens e pressões<br />
da União Europeia e responda aos problemas<br />
e aspirações do povo e do País.<br />
De facto, a situação económica do País confirma<br />
as posições do PCP de que Portugal não se conseguirá<br />
desenvolver sem se libertar dos constrangimentos<br />
externos e sem uma verdadeira política alternativa.<br />
Em duas iniciativas do PCP no Algarve (Monte<br />
Gordo e Lagos), no passado domingo, Jerónimo de<br />
Sousa sublinhou a imperativa necessidade de o Governo<br />
«responder, em primeiro lugar, à complexidade<br />
da situação política e social, que continua numa linha<br />
de agravamento em várias áreas, resultante destes<br />
constrangimentos e condicionamentos externos»,<br />
reafirmando que é necessário continuar na linha de<br />
devolução de rendimentos, reposição de direitos, respeito<br />
pelos salários e aumentos das pensões e reformas.<br />
Qualquer outra linha que signifique voltar à<br />
política de austeridade que PSD e CDS aplicaram e<br />
defendem (como Passos Coelho deixou mais uma vez<br />
claro nas suas declarações demagógicas e saudosistas<br />
do passado domingo) e que foi categoricamente<br />
condenada nas eleições de 4 de Outubro, será prontamente<br />
combatida pelos trabalhadores e o povo<br />
com a firme intervenção do PCP.<br />
Éesse o sentido para que aponta o desenvolvimento<br />
de lutas dos trabalhadores e das populações pela<br />
abertura da extensão de saúde no concelho de Coimbra,<br />
em defesa dos interesses e direitos dos produtores<br />
de carne e de leite, por medidas de apoio às<br />
vítimas dos incêndios, por salários e direitos (entre<br />
outras, a greve dos enfermeiros no centro hospitalar<br />
do Algarve, de Coimbra e da Figueira da Foz e<br />
dos trabalhadores da Valorlis e as lutas em preparação<br />
na Praia da Oura e na Marina de Vila Moura).<br />
Estamos a duas semanas da Festa do Avante!. Importa<br />
mobilizar energias, nesta recta final e tomar<br />
as medidas de direcção que permitam levar tão<br />
longe quanto possível a sua divulgação, o alargamento<br />
da rede de venda da EP e a construção do muito que<br />
ainda falta.<br />
A Festa do Avante!, este ano alargada à Quinta<br />
do Cabo, na sua 40.ª edição, vai ser uma Festa ainda<br />
maior e melhor que em anos anteriores. A valorização<br />
da Festa do Avante! é um inestimável contributo<br />
para afirmar os valores de Abril e para o<br />
reforço do Partido para a luta que travamos por um<br />
Portugal com futuro e por um mundo melhor.