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Jornal Aacel 10

- “Cidadãos de bem”: os modernos hipócritas fariseus - A HORA E A VEZ DA AÇÃO DIRETA: Boulos fala em “explosão de ocupações” com corte no Minha Casa Minha Vida

- “Cidadãos de bem”: os modernos hipócritas fariseus
- A HORA E A VEZ DA AÇÃO DIRETA: Boulos fala em “explosão de ocupações” com corte no Minha Casa Minha Vida

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“Cidadãos de bem”: os modernos hipócritas “A Segunda Vinda da KKK: a Ku Klux Klan de 1920<br />

fariseus<br />

e a Tradição Política Americana”, de Linda Gordon).<br />

A KKK uniu pessoas em torno da ênfase no<br />

Cada vez mais as estatísticas oficiais revelam<br />

patriotismo, na filiação religiosa, no desprezo aos<br />

a política de extermínio comandada pelos<br />

vícios e no controle da sexualidade, tornando marca<br />

governadores Wilson Witzel, do PSC, e João Doria,<br />

dos seus membros a “respeitabilidade”. Isto até<br />

do PSDB. No Rio, as ações da polícia deixaram 881<br />

contribuiu para que pessoas da classe trabalhadora,<br />

mortos no primeiro semestre de 2019, enquanto em<br />

“respeitáveis” que aderiam ao movimento,<br />

São Paulo foram 426 assassinados pelos agentes do<br />

passassem a ser consideradas de “classe média”,<br />

Estado de São Paulo no mesmo período. As mesmas<br />

estatísticas indicam uma queda nos índices de<br />

homicídios, roubos e policiais assassinados.<br />

O fato de criminosos matarem menos e o<br />

como os líderes da KKK.<br />

No Brasil, o termo passou a ser fartamente<br />

utilizado no debate político desde 2014. O “cidadão<br />

de bem que paga seus impostos” é invocado para<br />

Estado matar mais dá o tom da política de extermínio<br />

fazer oposição a grupos de esquerda e a apoiar<br />

estabelecida com força neste 2019, com estímulo do<br />

políticos que são “puros”, “não corruptos” como<br />

governo de Jair Bolsonaro. Defensores desta política<br />

todas as “pessoas de bem”. Estes políticos defendem<br />

homicida falam que tudo está sendo feito em nome<br />

a ética, a ordem, a moral, em reação a movimentos<br />

dos direitos dos “cidadãos de bem”. Dizem ainda<br />

progressistas promotores de transformações sociais<br />

lamentar os erros que vitimam inocentes mas o que<br />

consideradas por eles “impuras” e ameaçadoras<br />

importa é que algo está sendo feito.<br />

como o feminismo, os movimentos de periferias,<br />

“Cidadão de bem” é um termo antigo,<br />

LGBTI+, imigrantes e negros.<br />

ideologicamente consolidado para se estabelecer<br />

Nesse sentido, oferece-se a possibilidade que<br />

diferenças entre pessoas. É a parcela de “cidadãos”<br />

pessoas de diferentes classes se unam em torno de<br />

que reivindica para si distinção e superioridade<br />

uma ideologia. Na realidade, os “cidadãos de bem”<br />

contra aqueles que considera ter vida “impura”, por<br />

são pessoas brancas, de classes média e alta que<br />

isso não merecem direitos.<br />

querem manter a estrutura desigual do Brasil que<br />

Não é possível precisar quando e onde foi<br />

sustenta seus privilégios de classe, de raça, de gênero<br />

criado o termo. Há registros que remontam ao início<br />

(basta ver o perfil dos apoiadores de Bolsonaro<br />

do século XX, nos Estados Unidos. “Good Citizen”<br />

apontado na última pesquisa Datafolha).<br />

[Cidadão de Bem] era o título de um jornal publicado<br />

Moradores da periferia, imigrantes e pessoas<br />

pela bispa da Igreja (evangélica) Pilar de Fogo Alma<br />

negras são vistos como desordeiros e obstáculos à<br />

Bridwell White, de 1913 a 1933. A bispa era racista e<br />

plena realização da sociedade idealizada. E tornamse<br />

inimigos aqueles que assumem as causas destes<br />

apoiadora da supremacista Ku Klux Klan, para ela,<br />

um grupo “divinamente ordenado” (segundo o livro


“cidadãos do mal”: podem ser partidos políticos ou Jesus fosse preso, torturado e recebesse a pena de<br />

universidades que estudam estes fenômenos sociais. morte!<br />

Nesta lógica de eliminação dos inimigos, a<br />

Estamos sob o assalto dos “modernos<br />

matança em presídios e nas periferias das grandes<br />

fariseus”! Como não pensar neles? “Hipócritas e<br />

cidades está autorizada para a limpeza social<br />

sepulcros caiados” que dizem defender valores<br />

necessária. Até a posse de armas deve ser liberada<br />

para que os “cidadãos de bem” ajam em causa<br />

morais, enquanto a justiça e a misericórdia são<br />

própria.<br />

negadas e vidas humanas e o patrimônio natural do<br />

Sobre a falácia desta compreensão e o fato de Brasil vão sendo cruelmente exterminados. Ainda<br />

todos os seres humanos terem bem e mal dentro de bem que existe quem pague o preço de seguir os<br />

si, não trataremos aqui, pois é tema para outro artigo. valores de Jesus até o fim, mesmo que seja minoria<br />

Vale agora trazer à memória um clássico hino classificada como “errante”.<br />

evangélico do século XIX, popularmente conhecido A HORA E A VEZ DA AÇÃO DIRETA: Boulos<br />

como “Glória, glória, aleluia!”. Uma das estrofes diz: fala em “explosão de ocupações” com corte no<br />

“Fiéis servos da vaidade lutam por fazer-nos seus / Minha Casa Minha Vida<br />

Muitas vezes nos assaltam os modernos fariseus …”.<br />

Fariseus eram religiosos no tempo e no lugar “Com o orçamento previsto para o ano que<br />

em que viveu Jesus, tal como relata a Bíblia cristã. vem não dá sequer para pagar as obras em<br />

Tinham grande influência pois eram os defensores andamento, quanto mais para iniciar novas obras. E<br />

dos valores morais dos “cidadãos de bem” da época. isso num momento em que o déficit habitacional, o<br />

Arrogantes, os fariseus apontavam o dedo<br />

número de pessoas precisando de moradia também é<br />

o maior da década, 7 milhões e 700 mil famílias,<br />

para os “impuros” (os que não cumpriam as regras<br />

mais de 30 milhões de pessoas, segundo a Fundação<br />

religiosas). Eles foram os que mais criaram<br />

Getúlio Vargas em dados publicados esse ano”,<br />

problemas para Jesus, pois criticavam-no como um<br />

declarou Boulos rebatendo a narrativa governamental<br />

errante. Jesus era mal visto por ser originário de<br />

de que embora não vá contratar novas obras, vai<br />

Nazaré, uma periferia da Palestina. Ele ainda andava<br />

manter a execução das iniciadas.<br />

com pessoas não consideradas “cidadãos de bem”:<br />

“Nós temos uma quantidade enorme de<br />

pobres pescadores, pessoas com deficiência,<br />

pessoas precisando de casa e, nesse momento, o<br />

mulheres, contestadores da ordem vigente. Também<br />

poder público liquida os investimentos em moradia<br />

estava mais presente em espaços considerados não<br />

popular. É uma política irresponsável de Paulo<br />

frequentáveis por “gente de bem”: a beira-mar, lugar<br />

Guedes e Bolsonaro, que jogam a conta da crise nas<br />

dos socialmente excluídos, casas de pessoas<br />

costas dos mais pobres”, afirma Boulos, que prevê<br />

consideradas impuras, as periferias e locais de outras<br />

uma explosão de ocupações urbanas no Brasil como<br />

culturas.<br />

consequência.<br />

Jesus, por sua vez, não se omitiu frente a esse<br />

“As pessoas não ocupam porque querem, mas<br />

grupo dos fariseus. Ele os chamou de “guias cegos,<br />

por falta de alternativa. Se o desemprego está em<br />

que coam o mosquito e engolem o camelo”, de<br />

alta, as pessoas não conseguem pagar aluguel no<br />

“serpentes, raça de víboras” e também de “sepulcros<br />

final do mês e o poder público não dá respostas para<br />

caiados, que, por fora, se mostram belos, mas<br />

isso, pelo contrário, faz o menor investimento da<br />

interiormente estão cheios de ossos de mortos e de<br />

história recente, o resultado vai ser as pessoas<br />

toda imundícia! Que exteriormente parecem justos<br />

buscarem suas próprias alternativas com ocupações.<br />

aos homens, mas, por dentro, “estão cheios de<br />

É isso que o governo Bolsonaro está produzindo,<br />

hipocrisia e de iniquidade”. Não foi à toa que os<br />

queira ele ou não, com essa política criminosa e<br />

fariseus estiveram entre os que tramaram para que<br />

inconsequente. Cortar investimento de casa, em um


momento de crise profunda, de ampla necessidade<br />

social, é brincar com fogo”, alerta.

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