Revista Aquaculture Brasil 17ed.
Março/Abril 2019
Março/Abril 2019
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MAR/ABR 2019<br />
Segundo dados do Global Footprint Network (2019):<br />
1,3 bilhão<br />
de toneladas/ano<br />
Cerca de um terço dos<br />
alimentos produzidos no<br />
mundo para consumo<br />
humano - 1,3 bilhão<br />
de toneladas a cada<br />
ano - são perdidos ou<br />
desperdiçados;<br />
A demanda atual por<br />
alimentos representa<br />
26% da Pegada<br />
Ecológica global e<br />
a quantidade de<br />
alimentos descartados<br />
pelos países, tanto<br />
de alta quanto baixa<br />
renda, equivale a 9%<br />
da Pegada Ecológica da<br />
humanidade.<br />
A Economia Circular também é apontada como<br />
uma estratégia efetiva para alcançar os objetivos<br />
de desenvolvimento sustentável, não apenas para<br />
consumo e produção responsáveis (Objetivo 12),<br />
como também para atingir o objetivo de Fome<br />
Zero (Objetivo 2) . Os sistemas circulares, tanto<br />
para produção de alimentos quanto para as práticas<br />
agrícolas, assim como o uso de materiais mais naturais<br />
e produtos biodegradáveis fechando o ciclo biológico<br />
de produção, pretendem ajudar a reduzir o uso de<br />
água e fertilizantes e reduzir a contaminação de<br />
alimentos. Com as práticas de distribuição e modelos<br />
de compartilhamento, previstos numa Economia<br />
Circular, para os equipamentos agrícolas, atesta-se que<br />
seria possível influenciar positivamente em mudanças<br />
desejadas para criar cadeias de valor agrícolas mais<br />
sustentáveis, com a redução de perdas de alimentos<br />
ao mesmo tempo aumentando a produtividade<br />
(Schroeder; Anggraeni; Weber, 2018).<br />
O impacto das práticas de Economia Circular<br />
em setores como silvicultura e agricultura são<br />
considerados particularmente relevantes para os<br />
contextos dos países em desenvolvimento pois<br />
podem gerar economias agrícolas circulares capazes<br />
de promover sistemas alimentares locais e sustentar<br />
meios de subsistência. A noção de uma Economia<br />
Circular “restabelecedora e regenerativa por design”<br />
é considerada um fator relevante para esses dois<br />
setores, pois define a sustentabilidade do desempenho<br />
e produtividade dos setores florestal e agrícola com<br />
práticas que visam restaurar e ao mesmo tempo não<br />
diminuir a capacidade regenerativa dos ecossistemas<br />
(Preston; Lehne, 2017).<br />
A Economia Circular e a realidade<br />
brasileira<br />
Para aumentar suas chances de êxito para gerar<br />
benefícios sociais em ambientes socioeconômicos<br />
como do <strong>Brasil</strong>, a economia circular precisaria<br />
ser adaptada ao contexto local, bem como as<br />
tecnologias aplicadas precisariam associar os saberes<br />
da população local ao conhecimento científico.<br />
Tecnologias comprovadas e descentralizadas, capazes<br />
de restaurar os nutrientes orgânicos para o solo<br />
para melhorar a produção de alimentos e causar<br />
impactos ambientalmente positivos são exemplos<br />
voltados à economia circular. Isso é o que aponta um<br />
trabalho da organização TEARFUND que investigou<br />
os benefícios da economia circular no contexto<br />
brasileiro e mostrou que o uso de biodigestores para<br />
tratamento de estrume direcionado à produção de<br />
fertilizantes e gás de cozinha são tecnologias circulares<br />
efetivas para países como o <strong>Brasil</strong> (inclusive existem<br />
experimentos produzindo gás a partir de carapaças<br />
de camarão, veremos isso nos próximos artigos). O<br />
mesmo trabalho conclui que a busca pelos benefícios<br />
sociais da Economia Circular inclui mudanças nas<br />
práticas de produção de alimentos. A economia<br />
circular poderia contribuir em comunidades pobres<br />
que sofrem desigualdades e falta de oportunidades<br />
ao ser utilizada de maneira apropriada para atuar de<br />
forma complementar a modelos de produção agrícola<br />
baseado na Agroecologia, fundamentando-se em<br />
quatro pilares: sustentabilidade, estabilidade, resiliência<br />
e capital próprio - com grande potencial para responder<br />
a situações de exclusão e invisibilidade, endereçando<br />
problemas de desigualdade, protagonismo e dignidade<br />
das pessoas (Fernandes, 2016).<br />
Para criar uma indústria do pescado baseada em<br />
uma economia circular é então, essencial, dar apoio<br />
às comunidades locais para que possam conceber<br />
sistemas de produção que sejam regenerativos, que<br />
não esgotem as populações de peixes ou danifiquem<br />
os ecossistemas aquáticos. Com esta premissa, buscase<br />
atividades de pesca e aquicultura mais resilientes e<br />
viáveis para as gerações futuras. Na publicação de 2019<br />
da FARNET, rede da UE no âmbito do Fundo Europeu<br />
dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), que<br />
integra grupos de ação local, autoridades de gestão,<br />
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