Jornal Bauhaus
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04
EDIÇÃO ESPECIAL
DEZEMBRO/2019
FONTES: Pedro Luiz Pereira de Souza,
Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi)
MOVIMENTO
BAUHAUS
A ESCOLA QUE MUDOU A ARTE
(E O MUNDO), COMPLETA 100 ANOS
Alemanha se empenha
nas comemorações
do aniversário da instituição,
reparando o erro
histórico de um século atrás,
quando os nazistas obrigaram
seu fechamento e causaram
o exílio de seus líderes.
A Bauhaus abriu as suas portas há
um século. Em 1º de abril de 1919, os
alunos cruzaram pela primeira vez a
entrada. Os professores, ainda alojados
em hotéis, começaram a trabalhar em
seminários que alternavam artesanato
e saberes técnicos, com o objetivo de
gerar uma arte adaptada às necessidades
da sociedade alemã do pós-guerra. As
facções mais conservadoras de Weimar
ficaram alarmadas: em suas salas de aula
havia mulheres e até estrangeiros. O cataclismo
bélico deixara a moral nacional
em frangalhos, mas também provocara
a esperança de um novo começo.
Centenas de jovens vieram para a cidade
onde morreram Goethe e Schiller para
participar da grande aventura da escola,
que acabaria mudando o rumo da arte.
dizia seu bombástico manifesto, escrito
em letras góticas e pouco minimalista,
dirigindo-se ao público.
Um século depois, o poderoso mito
da Bauhaus acabou se impondo
à realidade, adornada quase desde o
primeiro dia com uma infinidade de
lendas apócrifas. Por exemplo, a sede
da escola nem sempre teve o aspecto
de fábrica: o primeiro edifício era um
pavilhão art nouveau herdado do século
anterior.
E essa nova escola tampouco brotou
do nada nem fez tabula rasa do passado.
Na verdade, começou sendo a refundação
de uma escola de
arte fundada
em Weimar em
1860. O duque da
Saxônia confiou
sua liderança a
Walter Gropius,
arquiteto visionário
que tinha tido
uma iluminação
nas trincheiras da
Primeira Guerra Mundial: o velho mundo
havia desaparecido e de pouco servia
agarrar-se às suas certezas. Na moder-
nidade que adivinhava no horizonte, se
tornariam inúteis. “A Bauhaus foi um
nome novo para uma velha escola”,
resume o reitor da Bauhaus-Universdade
de Weimar, Winfried Spielkamp,
herdeira da instituição original, que
continua apostando em um programa
interdisciplinar em que
Na cidade em que tudo começou, os
“JUNTOS, DEIXEM-NOS
DESEJAR, CONCEBER
E CRIAR A NOVA ESTRUTURA
DO FUTURO, QUE UM DIA
SE ELEVARÁ ÀS ALTURAS,
COMO O SÍMBOLO DE CRISTAL
DE UMA NOVA FÉ”
“A TECNOLOGIA, A CIÊNCIA E
O DESIGN UNEM FORÇAS PARA
ALCANÇAR NOVAS IDEIAS E
FORMAS DE TRABALHAR”.
moradores mostram um orgulho em
relação ao centenário que contrasta com
a fúria que a escola despertou entre os
seus antepassados.
A ponto de
causar, em
1925, sua
mudança
para Dessau,
enclave
industrial
situado a
uma centena
de quilômetros
a noroeste, onde a escola atingiu
sua plenitude nas mãos de um grupo em
que havia professores como Mies van
der Rohe, Marcel Breuer, Josef Albers,
László Moholy-Nagy, Paul Klee e Vassily
Kandisnky. Todos eles conviveram
naquela mítica fileira de casas situada em
uma floresta próximo da escola.
Como as duas cidades que lhe serviram
de berço, toda a Alemanha estufa o peito,
emendando homenagens e comemorações,
corrigindo o que aconteceu há
um século, quando os nazistas obrigaram
o fechamento da escola em 1933
e provocaram o exílio de seus líderes.
Mais conhecido como o
pai da Bauhaus, importante
escola que marca até hoje
a produção de design e
arquitetura, o arquiteto
Walter Gropius se dizia
americano desde sua
emigração forçada para os
EUA, em 1937.
TRÊS SEDES,
TRÊS FASES.
Haus an Horn,
Fonte: Florian PlaSeguir
Jogo de Xadrez,
Fonte: Joseph Hartwig
Haus der Kulturen,
Fonte desconhecida
Originário de tradicional
família de Braunschweig,
Gropius nasceu em
Berlim, em 18 de maio
de 1883. Quando veio
ao mundo, seu tio-avô,
Martin Gropius, já havia
construído um dos mais
belos e célebres prédios
da capital alemã, o espaço
de exposições que hoje é
conhecido pelo nome de
Martin Gropius Bau.
A fundação da Bauhaus,
em 1919, pode ser entendida
como um resumo das
ideias que o arquiteto vinha
Detalhe da parede, na Sede em Dessau,
Fonte: Paula Soler-Moya
Em Weimar, será inaugurado
neste sábado o novo Bauhaus
Museum, a cargo
da arquiteta Heike Hanada. Em
maio, acontecerá a restauração do
único vestígio arquitetônico da
escola que resta na cidade: a Haus
am Horn, casa de ângulos retos
que foi decorada com mobiliário
desenhado pelos estudantes.
Em Dessau, outro museu será
aberto em setembro, que abrigará
uma coleção de 50.000 objetos da
Bauhaus, projetado pela agência
barcelonesa Addenda.
E em Berlim, à espera da ampliação
do Bauhaus-Archiv em 2022,
a Haus der Kulturen der Welt
acaba de inaugurar uma exposição
que rememora as ligações
do movimento com as culturas
não ocidentais. A exposição
levanta a suspeita da batida
apropriação cultural.
amadurecendo desde seu
trabalho junto a um dos
precursores do movimento
moderno, o arquiteto Peter
Behrens. Além de Gropius,
trabalhavam no escritório
de Behrens, por volta de
1910, Le Corbusier e Mies
van der Rohe.