Jornal Bauhaus
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EDIÇÃO ESPECIAL
DEZEMBRO/2019
BAUHAUS
NA ARQUITETURA BRASILEIRA
FONTE: Ana Weiss
Veja, Abril. Especial Bauhaus.
A Bauhaus é fundadora de uma forma de
pensar que contamina de alguma forma
todo objeto ou edifício considerado
moderno. Depois dela (e a partir dela)
muitas escolas posteriores desenvolveram
características de inspiração bauhausiana.
A presença central de formas geomé-
tricas, as formas retas e puras, o uso apenas
necessário das cores e o minimalismo são
características da arquitetura e do design da
Bauhaus. A essas características, o Brutalismo
acrescentou o uso abundante do concreto: esse
casamento vingou frutos no mundo todo –
inclusive brasileiros.
Fachada do prédio do Masp, projeto da arquiteta Lina Bo Bardi,
inaugurado em 1968, na Avenida Paulista
(Casa Claudia/Dedoc)
SÃO PAULO
A arquiteta italiana Lina Bo Bardi não
ergueu uma única casa em seu país natal.
Precisou chegar ao Brasil, aos 32 anos,
para começar a construir. Na nova pátria,
criou algumas das obras arquitetônicas
mais importantes do país e, em São Paulo,
alguns dos cartões postais da cidade, como
o Museu de Arte de São Paulo (Masp),
na avenida Paulista, e a Casa de Vidro, no
bairro do Morumbi, onde morou com o
marido, o também imigrante Pietro Maria
Bardi, até o final da vida.
Tanto o museu como a residência, com
seus grandes vãos, uso do vidro, do concreto
e do aço no limite da necessidade,
poderiam ter nascido dentro de algum
ateliê da Bauhaus.
Lina fez escola e não foi a única. Convidado
para criar o projeto da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (USP), João
Batista Vilanova Artigas não se contentou
com as linhas e vãos de influência
bauhausiana.
O programa pedagógico da escola
passou a reproduzir a proposta trans-
disciplinar e universalista da matriz alemã.
Com o acirramento da perseguição
com o golpe militar de 1964, o arquiteto
foi exilado e só foi conhecer o grande
edifício de concreto da Cidade Universitária
muito depois de pronto, quando
do restabelecimento da democracia.
David Libeskind também assinou edifícios
aplaudidos pelos ex-professores
da Bauhaus, caso do Conjunto
Nacional, na avenida Paulista.
“O ambiente industrializado e já muito
ocupado pelas imigrações dos anos
1930 e depois 1950 foi propício para
o desenvolvimento de projetos com
influência da Bauhaus em São Paulo”,
explica o arquiteto, editor da revista
Contravento e professor da Escola
da Cidade Alexandre Benoit. “Já o
Rio de Janeiro era fortemente ligado à
sua tradição colonial, ainda atrelada ao
barroco.
E a geografia exuberante (com seus
morros, praias e flora) trazia questões
para os projetos que não existiam para
a Bauhaus, nas cidades alemãs onde
ela funcionou.”
RIO DE JANEIRO
Vista do edifício do MAM (Museu de Arte Moderna),
do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, no centro do
Rio de Janeiro (Giuseppe Bizzarri/Folhapress)
No Rio, a história era outra.
O desafeto entre as arquiteturas
carioca e bauhausiana foi recíproco
e à primeira vista. Em 1951, Walter
Gropius, fundador da escola, e Max
Bill, um de seus alunos, estavam no
Brasil para a 1ª Bienal de São Paulo.
Oscar Niemeyer convidou Gropius
para conhecer um projeto recente
do qual muito se orgulhava, a Casa
das Canoas, no Rio de Janeiro, uma
residência escultural em concreto
e vidro em São Conrado que ainda
estava em construção.
Gropius disse ao colega que se tratava
de “uma casa muito bonita, mas que
não era multiplicável”. Não só falou,
como publicou sua opinião em artigo
na Architectural Review, importante
revista londrina do período. Ainda
insistiu em seu ponto de vista à
(bastante popular na época) revista
Manchete, que também entrevistou
Max Bill, crítico dos excessos da
produção dos profissionais do Rio
de Janeiro. Lina Bo Bardi, que editava
a revista Habitat, publicou, na
sequência, outro artigo bauhausiano
contra os cariocas.
Lucio Costa, que desenhou o
projeto de Brasília em parceria com
Niemeyer, saiu em sua defesa e
em defesa da arquitetura carioca.
Em artigo intitulado Oportunidade
Perdida, publicado pela mesma
Manchete, ele se colocou do lado
da liberdade criativa e acusou os
colegas alemães de desconhecerem a
realidade brasileira e a sua maneira
de atender a sociedade. Em seu
livro de memórias, Niemeyer narra
a visita de Gropius à Casa das Canoas,
observando que seu desafeto
era melhor como professor do que
como arquiteto.
Apesar das rusgas, o Rio tem um
edifício que em muito traduz os
preceitos de limpeza formal da
escola alemã, o Museu de Arte
Moderna, no Parque do Flamengo,
de Afonso Eduardo Reidy. Ainda
assim, ressalva Alexandre Benoit,
com muitas outras influências,
como do Brutalismo e da arquitetura
de Le Corbusier, que impedem
de tomá-lo como exemplo da
cultura da Bauhaus.