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Tribuna Pacense 25 de Outubro de 2019 | Edição 1196

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10 OPINIÃO

TRIBUNA PACENSE 25 de Outubro de 2019

PORTUGAL E A DESVENTURA

DA MEDIOCRIDADE ETERNA

Os resultados eleitorais

de 6 de Outubro,

no final de todas

as contagens, posaram

para o retrato e no

Kodak ficou registada a

seguinte imagem: Total

de Inscritos, 10811436;

Votantes, 54.51%; PS,

36,65%; PSD, 27,90%;

BE, 9,67%; CDU,

6,46%; CDS, 4,25%;

PAN, 3,28%; CHEGA,

1,30%; IL, 1,29%;

LIVRE, 1,09%; Abstenção,

45,50%; Brancos,

2,54%; Nulos;

1,74%.

Os dois factos mais

importantes destas eleições

são a entrada da

extrema-direita populista

na Assembleia

da República e a abstenção

acrescida dos

votos brancos e nulos

representar metade dos

cidadãos com direito de

voto. Quando metade

do país recusa eleger

políticos, não são os

cidadãos que se alhearam

da política, são

os políticos que se

alhearam dos cidadãos

ao perderem a credibilidade

e a honra. É

esta falta de sentido

de Estado que abre

as portas do poder ao

trumpismo. O fascismo

espreita e já abriu uma

porta na Assembleia da

República.

Para arquivo dos

números eleitorais

optou-se por um Kodak

antigo, de suporte em

película, por ser mais

seguro o registo em

película que, uma vez

salvaguardada, permite

denunciar as falsificações

do Photoshop

que os actuais suportes

electrónicos permitem.

Portanto, os números

apresentados não poderão

ser alindados ou

afeados pelas tecnologias

da moda que transformam

uma sujeita de

120 quilos numa beleza

de 57, um elefante

numa pulga ou uma

pulga num dinossauro

conforme o gosto, a

necessidade e a perfídia

de cada um.

A abstenção é um

tema que seria importante

os generais partidários

comentarem

para ouvirmos as suas

opiniões sobre uma

consolidada rejeição

de metade do eleitorado

pelos seus partidos.

Este facto politico

negativo, noutros actos

eleitorais como as Eleições

Europeias, por

exemplo, traduziu-se

em 70% de abstenções.

Será falta de civismo

como dizem os que

lucram com o acto

eleitoral, coadjuvados

pelos ingénuos, carecidos

de senso crítico

e político? O tanas,

senhor Lambanas. É

consciência de que as

eleições são uma farsa,

de que não resolvem

os problemas das massas

populares, de que

são cada vez mais um

instrumento nas mãos

do grande capital que

investe em organizações

providas de competentes

profissionais,

paralelas aos partidos,

que se utilizam de todas

as tecnologias da comunicação

para influenciar

a fracção do eleitorado

mais ignorante e lerda a

favor dos seus homens

de mão nas candidaturas

ao poder. Dois

exemplos: como acha

que foi possível eleger

dois jumentos como

Trump e Bolsonaro

sem recorrer à compra

de jornalistas, de profissionais

da Justiça, de

especialistas em comunicação

electrónica

para controlo das redes

sociais, do telefone e de

uma grande quantidade

de outros meios, nunca

faltando as inevitáveis

seitas religiosas, pois

tudo serve para alienar

as pessoas da sua condição

humana e transformá-las

em animais

de estábulo?

Parece-lhe que

imbecis como o Trump

e o Bolsonaro ao se

apresentarem a eleições

com discursos de crassa

ignorância e fisionomias

de palhaço e de

assaltante de faca e pistola

os eleitores ficaram

fascinados pelas suas

baboseiras e consideraram

que estes indivíduos

sem o mínimo

historial de competência

política, científica

e técnica, que 99% dos

eleitores não conhecia

antes, de trato deseducado,

que ninguém

contrataria para trabalhar

numa pocilga eram

os homens ideais para

dirigir dois dos maiores

países do mundo?

A opinião é sua e nada

melhor que apresentá-

-la em primeira mão

a si mesmo. Com este

teste simples fica rapidamente

informado da

sua formação política e

cívica.

A abstenção, a maior

percentagem dos actos

eleitorais, é sistematicamente

mandada para

trás das brumas do

esquecimento, porque

nenhum comandante

partidário tem suficiente

elevação cívica

para admitir o nojo

expresso pelos abstencionistas

na recusa do

seu voto em organizações

cada vez mais

parecidas com quadrilhas

de malfeitores. Os

partidos, especialmente

os que açambarcam o

poder, perderam a face

humana e isentaram-

-se da vergonha dos

seus actos. Sem face

humana a vergonha não

tem onde se colar e sem

vergonha o ser humano

é um bicho maléfico,

terrível, o pior de todos.

Neste caso, a vergonha

seria a consciência da

má conduta, não existindo,

fica claro que a

consciência é particularidade

ausente no comportamento

dos políticos,

deficiência que os

torna estruturalmente

perigosos.

O índice de corrupção

política em crescendo

assustador de ano

para ano, mata todas as

esperanças num país

decente, mesmo em

longínquo futuro. A

falta de consciência e

ética dá nisto.

Portugal é um país

médio na ordenação

por área, ocupa a 109

posição num total de

195 países. Situado no

sudoeste da Europa, tem

a Espanha a barrar-lhe o

contacto directo com os

outros países do continente.

Na outra metade

do território usufrui

de uma magnificente

vista sobre o Atlântico

que lhe permite assistir

ao pôr-do-sol até ao

último segundo numa

amplitude horizontal

cujo esmaecimento que

separa o mar do céu

lhe inspira uma serena

nostalgia por todos

os lugares visitados e

sonhados. Uma excelente

e impagável compensação

para o seu

isolamento.

Em termos individuais

temos de tudo,

um sortido completo

de seres humanos em

peso, altura, inteligência,

talento, burrice,

estética física diversificada

pela mistura

de raças que nos corre

nas veias. Não somos

um povo esquisito nas

escolhas sexuais. Tudo

o que vem à rede é

peixe.

Individualmente

estamos ao nível do que

há de melhor no mundo:

nas artes, na ciência, no

desporto, em todas as

áreas temos indivíduos

competentes, menos na

política e na economia.

Nestas últimas áreas

somos um desastre

cataclísmico maior que

todos os horrores que já

se abaterem sobre este

país desde o distante

Rei Fundador, que para

delimitar a área que

pretendia administrar

com independência não

hesitou em dar umas

bofetadas bem atestadas

na mãe e sacar-lhe

essa área necessária ao

estabelecimento da sua

empresa de construção.

Provido de grande

egoísmo e do arrojo

necessário à sua expansão,

de espada em riste,

avançou contra a vizinhança

mais fraca e

tomou-lhe conta dos

haveres e terrenos e

assim prosseguiu por

muitas léguas e anos

até a morte lhe baixar

o braço conquistador.

Tivesse a morte

vagueado mais uns

anos por outras bandas

e Portugal seria hoje

bem mais amplo. Nada

de espantar, a violência

é que molda o mundo,

os pacifistas apenas lhe

pintam as paredes.

Os inquilinos da

pátria construída por

esse moço valente e

ainda em uso na actualidade,

que se dedicam

ao mister político e os

que se dedicam ao mister

empresarial não lhe

herdaram as qualidades

e conluiaram-se para

parasitar o povo em vez

de o organizar na conquista

dos bens que lhe

consolem a vida e da

tranquilidade que lhe

acaricie a velhice. Não,

os políticos e os empresários

não possuem

braço conquistador

nem ambição construtiva,

são parasitas, carraças

sebentas empoladas

de sangue chupado

ao povo que oprimem.

Um país é sempre o

espelho dos seus políticos

e dos seus empresários.

Em Portugal os

políticos têm mais veia

empresarial que política,

os empresários

têm mais veia política

que empresarial. Esta

inversão de aptidões

anula o bom funcionamento

do Estado e

o bom funcionamento

das empresas. Esta

condição aberrante é a

causa da mediocridade

do país. Os empresários,

grande parte deles

aventureiros em busca

de fortuna, na ausência

de talento e saber gestionário,

compensam

a agnosia buscando o

lucro no abaixamento

dos salários. 600€ mensais

em comparação

com os salários dos

países desenvolvidos

da UE, atestam flagrantemente

o nosso subdesenvolvimento.

Se isto

não bastasse, a emigração

em massa de portugueses

em busca de

melhor vida confirma-o

peremptoriamente.

Os políticos, definitivamente

virados para

os seus interesses económicos,

tornam claro

que a política não é um

serviço cívico, mas um

negócio de elevada percentagem

de lucro.

Esta estagnação do

país na mediocridade,

excelente caldo de

cultura da corrupção,

nunca será resolvida

por eleições. A força e a

violência sempre foram

os elementos transformadores

da sociedade.

Como foi que o nosso

Afonso Henriques fundou

esta nação?

A democracia é um

embuste tão bem montado

que as eleições

reforçam em todo o

mundo, cada vez mais,

o poder da direita mais

reacionária e opressora.

Alguns anos atrás, Passos

Coelho mostrou-

-nos profusamente a

perversão do sistema

democrático, que permite

a tomada do poder

pelas forças inimigas

da liberdade e da equidade

social. A democracia

não é aplicável

nas condições políticas

e económicas actuais, é

um sistema para sociedades

de liberdade e

justiça social avançadas.

O murro e o pontapé

são muito mais eficazes

na presente barbárie

política e social

OCTÁVIO RENATO

MAGALHÃES

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