16.03.2020 Views

VIP MARÇO - SITE

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

VIP | Entrevista

presidente se tornou um caminho natural

a tal ponto que a chapa por mim liderada

não teve adversários. É uma posição

honrosa que consequentemente gera uma

grande responsabilidade na representação

da classe.

Quais são as responsabilidades

que essa posição representa? A

responsabilidade da presidência da

AJURIS é imensa na medida em que

a Associação tem um papel político

importante. Deve dialogar com os

demais órgãos de Estado e com as

demais associações de classe, além de

evidentemente buscar melhorias na

condição de trabalho dos juízes sob

variadas perspectivas. Tenho observado

que de 2001, quando ingressei na

carreira, até hoje houve um decréscimo

na autoestima dos magistrados gaúchos

uma vez que procuram realizar a

atividade jurisdicional com correção, mas

enfrentam problemas estruturais, como a

falta de servidores e a implantação ainda

parcial do processo eletrônico, enfim,

diversos fatores que não permitem que

os magistrados e magistradas trabalhem

com a velocidade que almejam. Isso

precisa efetivamente melhorar uma vez

que temos uma magistratura qualificada

e bem preparada, mas que deve ter

o aparelhamento necessário para o

desenvolvimento de suas funções.

Qual é a pauta prioritária da sua

gestão frente à entidade? É buscar

melhores condições para os juízes e juízas

do Rio Grande do Sul, restabelecendo

o orgulho, o brio e, se poderia até

mesmo dizer, a honra de sermos juízes

nesse Estado. Há muitos jovens que

procuram, a partir de concurso público,

ingressar na magistratura, é um concurso

dificílimo, poucos têm a ventura de

obter a aprovação, então é necessário

que a magistratura seja valorizada.

Eu penso que também é importante

que essa valorização se dê por parte

da opinião pública, mas infelizmente

no Brasil e no Rio Grande do Sul há

uma espécie de olhar atravessado para

tudo que compõem o serviço público,

e a magistratura está dentro desse

contexto. Por isso é necessário que as

pessoas compreendam as dificuldades

dessa atividade que lida com dramas

humanos terríveis, que muitas vezes

atua diante de uma criminalidade

perigosa, que precisa resolver casos

complexos no âmbito do Direito de

Família, envolvendo crianças, envolvendo

cônjuges, envolvendo em outras situações

o patrimônio das pessoas. E essa é uma

atividade que precisa de respaldo do

ponto de vista da sociedade, e eu procuro

mostrar um pouco mais o que os juízes

e juízas realizam para que tenham o

reconhecimento necessário dada a

nobreza da função que exercem.

A responsabilidade

da

presidência da

AJURIS é imensa

na medida em

que a Associação

tem um

papel político

importante”

E quais serão os principais desafios

da sua gestão? Creio que o principal

desafio da gestão é mostrar com equilíbrio

e serenidade os interesses da magistratura

e discuti-los no âmbito da opinião pública

que hoje vive um momento de altíssima

polarização, em que as conversas e os

diálogos parecem campear para brigas e

altercações, mas é preciso que saibamos

respeitar a divergência, ouvir as críticas,

mas também fazer os apontamentos

necessários para revelar aquilo que a

magistratura do Rio Grande do Sul

pretende, colocando-se mesmo como

um poder de Estado na medida em

que os juízes são servidores públicos,

mas também agentes políticos e, nessa

condição, estão legitimados a participar

das discussões que envolvem as questões

mais altas do Estado em que vivemos.

Como representante dos

magistrados, como você avalia o

Judiciário do Rio Grande do Sul? Os

índices do Conselho Nacional de Justiça e

suas estatísticas mostram que há 11 anos a

magistratura do Rio Grande do Sul é uma

das mais operosas e produtivas do país,

liderando o ranking nacional. Portanto,

creio que a avaliação é altamente positiva,

mas sempre é possível, e diria mesmo

necessário, que melhoremos a prestação

dos nossos serviços, tanto do ponto de

visto do tempo para prolação de decisões

quanto do rigor técnico e da qualidade

do nosso trabalho. Isso não se faz apenas

a partir da atuação dos magistrados,

é necessário que tenhamos um corpo

de funcionários qualificados, mas

infelizmente hoje vivemos um quadro em

que as nomeações de servidores são cada

vez mais raras, há problemas legislativos

a esse respeito, muitos têm se aposentado,

e os cartórios judiciais padecem da falta

de pessoal e isso naturalmente embaraça

o desenvolvimento da atividade judicial.

Além disso, a própria questão da

implantação do processo eletrônico ainda

não encontrou a solução cabal no Estado

e faz com que os magistrados convivam

muitas vezes com dois ou três sistemas de

informática para o desempenho de suas

tarefas. Essa operação acaba tomando um

tempo que poderia ser utilizado para a

atividade fim de um juiz, que é presidir

audiências e julgar processos. Portanto, é

necessário que essas condições estruturais

sejam equacionadas para que os juízes e

juízas tenham o campo de sua atuação

mais liberado e, assim, produzam tudo

aquilo que for possível produzir.

O que te motiva a trabalhar em

prol do direito da sociedade e dos

magistrados? A motivação é a que

eu trago comigo desde que ingressei

na magistratura em setembro de 2001.

Sempre extrai dessa atividade enorme

realização pessoal, mas depois de

praticamente 18 anos como juiz atuando

no julgamento de processos também me

pareceu que era importante retribuir à

magistratura do Rio Grande do Sul e aos

meus colegas aquilo que recebi durante

o período em que exerci a jurisdição

no âmbito dos processos. Assim, ainda

que com algum sacrifício, já que na

presidência da Associação eu me afasto da

jurisdição e eu gosto muito de exercê-la,

eu tenho a impressão que é compensador

fazê-la em benefício da classe e dessa

magistratura que, repito, me acolheu e

me entregou momentos muitos felizes da

minha vida.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!