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12 Nossos Passos - 2020
dição se encontram. A palavra traditio, em seu sentido
original, refere-se à transmissão de symbola fidei, ou
seja, aquelas fórmulas verbais, confirmadas pela autoridade
eclesiástica, destinadas à profissão pública
da Fé. A traditio se exprime na transmissão da verdade
destinada a formar o depositum fidei, mas é
também a procura de maneira sem que essa verdade
é transmitida e a busca dos símbolos e dos ritos que
essas verdades exprimem eficazmente. Com efeito,
qualquer verdade se traduz em uma liturgia, segundo
a famosa fórmula de Próspero da Aquitânia, lex orandi,
lex credendi (ou legem credendi lex statuat supplicandi) 5 .
Os primeiros cristãos apresentam-se desse
modo unidos na doutrina da Fé e do culto. Eles
“perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações”. (Atos 2, 42). “Essa doutrina
e essa fé – escrevia Santo Irineu – a Igreja disseminada
em todo o mundo guarda com diligência
formando quase uma única família. A mesma fé,
com uma só alma e um só coração, a mesma pregação,
ensinamento, tradição como se houvesse uma só
boca. Existem diferentes línguas de acordo com as
regiões, mas única e idêntica é a força da tradição”.
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NOTAS:
1 - BENTO XVI. Spe Salvi – Sobre a Esperança Cristã. (Carta
Encíclica). Vaticano: 2007.
2 - Existe, e é reconhecida pela Igreja, uma Tradição que
se reporta à Revelação primordial, assim como existe, evidentemente,
uma Revelação bíblica que tem o seu auge na
vinda do Messias e prossegue no Novo Testamento como
sendo a “Nova Aliança” no Sangue redentor de Cristo.
3 - Assim, por exemplo, MATTHIASJOSEPH SCHEE-
BEN (1835-1888), Handbuch der Dogmatik, Herder, Freiburg,
4 vol., 1873-1903, nº 203.
4 - Cfr. HENRI HOLSTEIN, La Tradizione nella Chiesa, tr.
It. Vita e Pensiero, Milão, 1968, pp. 53-54.
5 - PROSPERO DI AQUITANIA, De vocacione omnium gentium,
1, 12, in PL 51, 664, CD.
6 - S. VICENTE DE LÉRINS, Commonitorium, n. 23, in PL,
A “força da Tradição”, segundo Santo Irineu,
é a continuidade do ensino dos Apóstolos, a Igreja
fundada por eles. Todos os Padres da Igreja estão de
acordo neste ponto: Tradição é a doutrina apostólica
enquanto transmitida às gerações sucessivas, chegando
intacta até nós. A heresia, para os Padres da Igreja, é
aquilo que é “novo” e se afasta da Tradição. O critério
de verdade se fundamenta naquilo que São Vicente
de Lérins sentenciou, isto é, transmitido em toda
a parte, por todo o tempo e por todos, “quod ubique,
quod semper, quod ab omnibus” 6 . Para o santo de Lérins,
a missão da teologia consiste em conservar o déposito
segundo a prescrição de São Paulo a Timóteo. “O
que é, então, um depósito? É aquilo que creste, o que não mudaste;
aquilo que recebeste e não o que pensaste (...). Tu não
és autor da Tradição, mas o seu guardião; não o seu mestre,
mas o seu discípulo; não o seu guia, mas aquele que a segue.
A reflexão teológica sobre a Tradição surgiu,
sobretudo após a sua rejeição pela Revolução protestante.
Em sua IV sessão, realizada em 8 de abril de
1546, o Concílio de Trento declarou que o Evangelho
de Cristo está contido “nos livros escritos e nas tradições não
escritas que, colhidas pelos Apóstolos da boca do próprio Cristo,
ou dos mesmos Apóstolos, sob a inspiração do Espírito Santo,
transmitidos como se fosse de mão em mão, chegam até nós” 7 .
O Concílio Vaticano I confirmou tal definição
com palavras quase idênticas 8 . Grandes teólogos da escola
romana desenvolveram esses conceitos. O cardeal
Billot define Tradição como “a regra da fé antes de todas
as outras”, regra e Fé não apenas remota, mas também
próxima e imediata, dependendo do ponto de vista a
partir do qual se coloca 9 . Monsenhor Brunero Gherardini,
ilustre expoente contemporâneo dessa escola,
nos propõe esta definição: “A Tradição é a transmissão
oficial, pela Igreja e por seus órgãos divinamente
instituídos, infalivelmente assistidos pelo Espírito, da
divina Revelação na dimensão espaço-temporal” 10 .
50, col. 668A.
7 - DENZ-H, n. 1501.
8 - Idem, n. 3006.
9 - Cfr. Card. LOUIS BILLOT, s, J. De Immutabilitate Traditionis
(1907), tr. fr. Com notas do Padre JEAN-MICHEL
GLEIZE, Tradition et Modernisme. De l´immuable tradition,
contre la nouvelle hérésie de l´évolutionnisme, Courrier de Rome, Villegenon,
2007, pp. 32, 37.
10 - B. GHERARDINI, Quaecumque dixero vobis. Parola di
Dio e Tradizione a confronto con la storia e la teología, Lindau,
Turim 2011, p. 170. “A Tradição se distingue em Tradição
divina e Tradição apostólica, subdividindo-se depois em
Tradição constitutiva – encerrada com a morte de Cristo
e do último apóstolo – e Traição continuativa, confiada à
missão evangelizadora da Igreja” (Idem, p. 176).