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A-Rainha-Vermelha-Victoria-Aveyard

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Eu devia beijar suas botas por me deixar ir e me dar tamanho presente,

mas sou vencida pela curiosidade. Como sempre.

— Por quê? — as palavras saem duras e ríspidas. Depois de um dia como

hoje, como poderiam ser diferentes?

A pergunta o surpreende e ele dá de ombros.

— Você precisa mais do que eu.

Tenho vontade de jogar a moeda na cara dele, de dizer que sei me cuidar,

mas um pedaço de mim é mais prudente. Você não aprendeu nada hoje?

— Obrigada — forço por entre os dentes.

Por algum motivo, ele ri da minha gratidão relutante.

— Não vá se machucar.

Então ele muda de posição e chega mais perto. É a pessoa mais estranha

que já conheci.

— Você mora num vilarejo, não é?

— Sim — respondo, gesticulando para mim mesma. Com meu cabelo

desbotado, minhas roupas imundas e meus olhos submissos, onde mais

moraria? O contraste é impressionante: ele veste uma camisa boa e limpa,

sapatos de couro brilhantes e macios. Reparo que ele brinca com sua

correntinha, agitado. Eu o deixo nervoso.

Pálido sob o luar, com olhos incisivos, ele pergunta, para disfarçar:

— E você gosta? De viver lá, digo.

A pergunta quase me provoca gargalhadas, mas ele não se impressiona.

— Alguém gosta? — respondo enquanto tento descobrir qual é a dele.

Mas, em vez de contestar rápido, de emendar algo como Kilorn faria, ele

se cala. Sua expressão torna-se sombria.

— Você já vai voltar? — indaga de repente, apontando para a estrada.

— Por quê? Você tem medo do escuro? — pergunto, falando devagar e

cruzando os braços. Mas lá no fundo me questiono se não deveria estar com

medo. Ele é forte e rápido, e você está sozinha aqui fora.

Seu sorriso reaparece, e o alívio que isso me causa é arrebatador.

— Não, mas quero garantir que você vai manter as mãos longe dos

outros pelo resto da noite. Não pode ficar aqui sugando metade do bar,

pode? A propósito, meu nome é Cal — acrescenta, estendendo a mão para

me cumprimentar.

Recuso a mão, ainda me lembrando do calor escaldante de sua pele.

Tomo o rumo da estrada a passos silenciosos e ligeiros.

— Mare Barrow — digo sobre o ombro.

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