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A-Rainha-Vermelha-Victoria-Aveyard

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— Foram…

Quase engasgo com as palavras.

— Você…

Ele prossegue com as perguntas mais tranquilo. É como fazer um furo

numa represa para que toda a água jorre para fora. Eu não seria capaz de

deter as palavras mesmo se quisesse.

Não menciono Farley, a Guarda Escarlate, nem mesmo Kilorn. Só conto

que minha irmã me infiltrou no Grande Jardim para me ajudar a juntar o

dinheiro de que precisávamos para sobreviver. Então veio o erro de Gisa, a

fratura e o que ela significa para nós. O que causei à minha família. O que

andei fazendo, a decepção da minha mãe, a vergonha do meu pai, os furtos

dentro da própria comunidade. Aqui, na escuridão, conto a um estranho

como sou péssima. Ele não faz perguntas, mesmo quando minhas palavras

saem sem sentido. Apenas escuta.

— É o que posso fazer — digo novamente antes da minha voz sumir por

completo.

Então capto um brilho prata pelo canto do olho. Ele saca outra moeda.

Sob a luz do luar, só consigo ver os contornos da coroa flamejante do rei

estampada no metal. Quando Cal a aperta contra minha mão, tenho a

esperança de sentir seu calor de novo, mas ele está frio.

Não quero sua piedade, sinto vontade de gritar, mas seria burrice. A

moeda vai comprar o que Gisa já não pode.

— Sinto muito mesmo por você, Mare. As coisas não deveriam ser

assim.

Não consigo nem reunir forças para fechar a cara.

— Há vidas piores. Não lamente por mim.

Ele me acompanha até a entrada do vilarejo, me deixando caminhar pelas

palafitas sozinha. Algo na lama e nas sombras deixa Cal desconfortável, e

ele desaparece antes de eu ter a chance de olhar para trás e agradecer ao

estranho criado.

A casa está escura e silenciosa, mas mesmo assim tremo de medo. A

manhã parece estar a cem anos de distância, parte de outra vida em que fui

idiota, egoísta e talvez um pouco feliz. Agora só me restam um amigo

recrutado e uma irmã de ossos quebrados.

— Você não devia deixar sua mãe preocupada desse jeito — a voz de

meu pai sai de detrás das vigas das palafitas e ressoa em meus ouvidos. Faz

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