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uma pausa na luta

A partir da reflexão de Pasolini, de que "uma pausa na luta" é também a possibilidade de "reavaliação da luta", este ajuntamento de poetas e poemas se propõe a reinventar a luta, como uma deriva suspensa do tempo e da história, tentando dizer outras coisas, algumas esperanças contra o diletantismo das circunstâncias atuais. Como reavaliar a vida com força e sem tanto luto, propondo apenas uma filigrana de pausa na luta? Esta obra é também um esforço para que se entenda que a pausa, como aponta Pasolini, não é uma mera paralisação diante da luta, que é, por sua vez, sempre imensa e infinita – “De cada qual, segundo suas capacidades; a cada qual, segundo suas necessidades”, é a conhecida e reconhecida frase de Karl Marx –, mas sim que ela pode ser lida muito mais como uma retratação da ideia sempre modelar de que as transformações são uma locomotiva da história, também de Marx, para um sentido mais perto de Walter Benjamin, de que as transformações mais radicais advêm de uma humanidade capaz de puxar os freios de emergência da história. Ou seja, contra o modelo, as modulações; contra as formas, as forças. Por fim, que as poetas e os poetas que aceitaram com alegria e leveza estar aqui possam sugerir a cada outro “tomar consciência dos termos reais dessa luta” e “lutar livremente”.

A partir da reflexão de Pasolini, de que "uma pausa na luta" é também a possibilidade de "reavaliação da luta", este ajuntamento de poetas e poemas se propõe a reinventar a luta, como uma deriva suspensa do tempo e da história, tentando dizer outras coisas, algumas esperanças contra o diletantismo das circunstâncias atuais. Como reavaliar a vida com força e sem tanto luto, propondo apenas uma filigrana de pausa na luta?

Esta obra é também um esforço para que se entenda que a pausa, como aponta Pasolini, não é uma mera paralisação diante da luta, que é, por sua vez, sempre imensa e infinita – “De cada qual, segundo suas capacidades; a cada qual, segundo suas necessidades”, é a conhecida e reconhecida frase de Karl Marx –, mas sim que ela pode ser lida muito mais como uma retratação da ideia sempre modelar de que as transformações são uma locomotiva da história, também de Marx, para um sentido mais perto de Walter Benjamin, de que as transformações mais radicais advêm de uma humanidade capaz de puxar os freios de emergência da história. Ou seja, contra o modelo, as modulações; contra as formas, as forças. Por fim, que as poetas e os poetas que aceitaram com alegria e leveza estar aqui possam sugerir a cada outro “tomar consciência dos termos reais dessa luta” e “lutar livremente”.

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uma pausa

na luta

manoel ricardo de lima

[org.]


A partir da reflexão de Pasolini, de que

“uma pausa na luta” é também a possibilidade

de “reavaliação da luta”, este

ajuntamento de poetas e poemas se

propõe a reinventar a luta, como uma

deriva suspensa do tempo e da história,

tentando dizer outras coisas, algumas

esperanças contra o diletantismo das

circunstâncias atuais. Como reavaliar a

vida com força e sem tanto luto,

propondo apenas uma filigrana de

pausa na luta?

Esta obra é também um esforço para

que se entenda que a pausa, como

aponta Pasolini, não é uma mera paralisação

diante da luta, que é, por sua vez,

sempre imensa e infinita — “De cada

qual, segundo suas capacidades; a cada

qual, segundo suas necessidades”, é a

conhecida e reconhecida frase de Karl

Marx —, mas sim que ela pode ser lida

muito mais como uma retratação da

ideia sempre modelar de que as transformações

são uma locomotiva da

história, também de Marx, para um

sentido mais perto de Walter Benjamin,

de que as transformações mais radicais

advêm de uma humanidade capaz de

puxar os freios de emergência da

história. Ou seja, contra o modelo, as

modulações; contra as formas, as

forças. Por fim, que as poetas e os

poetas que aceitaram com alegria e

leveza estar aqui possam sugerir a cada

outro “tomar consciência dos termos

reais dessa luta” e “lutar livremente”.


manoel ricardo de lima

[org.]

uma pausa

na luta


Todos os direitos desta edição reservados

à MV Serviços e Editora Ltda.

revisão

Júlia Studart

capa

Imagem de Ana Flávia Baltisserotto,

da série Desenho dos dias

cip-brasil. catalogação na publicação

sindicato nacional dos editores de livros, rj

Elaborado por Meri Gleice Rodrigues de Souza — crb 7/6439

P361

Uma pausa na luta / organização Manoel Ricardo de Lima. –

1. ed. – Rio de Janeiro : Mórula, 2020.

120 p. ; 21 cm.

Inclui índice.

ISBN 978-65-86464-18-4

1. Poesia brasileira. I. Lima, Manoel Ricardo de.

20-65799 CDD: 869.1

CDU: 82-1(81)

R. Teotônio Regadas, 26/904 — Lapa — Rio de Janeiro

www.morula.com.br | contato@morula.com.br


O momento ruidoso que estamos atravessando abre

uma época ideal para falar e publicar o menos possível

e procurar compreender melhor como as coisas são.

italo calvino

09.abril.1965

Paese Sera

A “destruição” é definitivamente o signo dominante

desse modelo de falsa “desobediência” em que consiste

hoje a velha “obediência”.

pier paolo pasolini

18.março.1975

Corriere dela Sera

todos somos, finalmente, aspectos vagabundos

da natureza

maria gabriela llansol

onde vais drama-poesia? [2000]


índice

apresentação

uma pausa na luta

manoel ricardo de lima 7

70 poemas

alexandre barbalho 11

aline prucoli 12

ana carolina assis 14

ana estaregui 16

ana paula simonaci 17

andre dahmer 19

aníbal cristobo 20

annita costa malufe 21

antônio lacarne 22

arthur lungov 23

bruna carolina carvalho 24

camila assad 25

carlos augusto lima 26

carlos henrique schroeder 27

carolina machado 28

casé lontra marques 29

celso borges 30

chantal castelli 32

cristiano moreira 33

dalila teles veras 35

danielle magalhães 36

demétrio panarotto 38

eduardo jorge de oliveira 39

eduardo sterzi 40

edimilson de almeida pereira 41

estela rosa 42

fabiano calixto 44

frederico klumb 45

guilherme figueira 46

heitor ferraz 47

italo diblasi 48

izabela leal 50

joice nunes 51

josoaldo lima rego 52


julia de souza 53

júlia studart 55

juliana krapp 58

katia maciel 59

laís romero 60

laura cabezas 61

laura liuzzi 63

leonardo gandolfi 65

leonardo marona 66

lubi prates 67

manoel ricardo de lima 68

ricardo rizzo 89

rita isadora pessoa 90

ruy proença 93

sara síntique 94

sidnei cruz 96

simone brantes 97

sofia mariutti 98

tarso de melo 99

thiago e 100

vanessa c. rodrigues 101

veronica stigger 102

marcelo reis de mello 70

maria esther maciel 72

mayra martins redin 73

micheliny verunschk 74

natália agra 75

paula glenadel 77

patrícia galelli 78

prisca agustoni 79

raísa christina 80

ramon nunes mello 81

renan nuernberger 84

reynaldo damazio 85

ricardo aleixo 87

ricardo corona 88

4 posfácios-mínimos

pausa: suspensão do ato,

gesto de abertura

davi pessoa 105

o tremor do dragão

edson luiz andré de sousa 108

a travessia dos dias

flávia cêra 113

diante do excesso

laíse ribas bastos 115


apresentação


uma pausa na luta

manoel ricardo de lima

Em 15 de março de 1969, Pasolini publica no semanário O tempo,

na sua coluna “O caos”, um comentário acerca de um livro de

Franco Fortini, Poesia e errore, que reúne poemas escritos entre

1946 e 1957 e, também, num pequeno extrato à parte, 25 poemas

“mais recentes”, feitos entre 1961 e 1968. E é esta parte a que lhe

interessa. Assim, diz que há nela uma “fuga do zelo” e “uma nova

reflexão numa zona patética” que remontam a figura de Fortini

como “ensaísta e moralista: político”, com sua “obsessão pela

guerra real”, enquanto imagina que ele se contorce no impasse que

é estar imerso numa luta e, ao mesmo tempo, fora, ambivalência

que engendra uma “tensão diversa”. A questão, para Pasolini, é que

Fortini, perante seus rígidos camaradas de luta, tem vergonha de ser

poeta e busca uma captatio benevolentiae, porque estes entendem

que a “única categoria válida para julgar os seres humanos é a da

utilidade”. Daí sugere que Fortini escreve seus poemas durante

“uma pausa na luta”. E manobra sua atenção a essa pausa como

uma suspensão do tempo, e da história, que aparece em cada linha

reconfigurando — via Giacomo Leopardi e Eugenio Montale — “o

cruel desespero do ascetismo que tem como substância o nada”,

porque Pasolini entende que “uma pausa na luta” é também a

possibilidade de “reavaliação da luta”.

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Esse é o apontamento e a proposição desse ajuntamento de

poetas e poemas, em descompasso e irregularidade, a ler o que

se reinventa como uma deriva suspensa do tempo e da história,

esquartejando lentamente, que seja, a figura de um EU absoluto

para tocar alguma outra dispersão ontológica, uma qual-quer, uma

vagabundagem “que anuncia a geografia imaterial por vir”, frente

a este vazio significativo, para tentar dizer outras coisas, algumas

esperanças, mesmo que insinceras, contra o diletantismo das

circunstâncias que giram apenas ao redor da própria cabeça como

se fossem moscas em voo vendo e revendo imagens de si mesmas

100 vezes por segundo. E com algumas perguntas simples que

sobrevivem ativas: como não avançar sobre o tempo agora, como

não cair na cilada de que podemos entender as coisas tal como

estão, como pisar os pequenos espaços que temos cada vez mais

devagar e — com toda graça e gravidade de que “uma atenção é

a atenção que se faz”, a outrem, como diz Simone Weil, e nunca

uma conformidade ou um consentimento a nós mesmos —, como

reavaliar a vida com força e sem tanto luto propondo apenas uma

filigrana de pausa na luta.

O que vem, como um peso, é o esforço imenso e aberto para que

se entenda que a pausa, como aponta Pasolini, não é uma mera

paralisação diante da luta, que é, por sua vez, sempre imensa e

infinita — “De cada qual, segundo suas capacidades; a cada qual,

segundo suas necessidades”, é a conhecida e reconhecida frase de

Karl Marx —, mas sim que ela pode ser lida muito mais como uma

retratação da ideia sempre modelar de que as transformações são

uma locomotiva da história, também de Marx, para um sentido

mais perto de Walter Benjamin, de que as transformações mais

radicais advêm de uma humanidade capaz de puxar os freios de

emergência da história. Ou seja, contra o modelo, as modulações;

contra as formas, as forças. Por fim, que as poetas e os poetas que

aceitaram com alegria e leveza estar aqui [agradecemos imensamente]

possam acolher a importância diferida de tocar, cada

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uma, cada um, na deriva de cada OUTREM, em tantas e variadas

possibilidades — da circulação imprevista ao empenho, do erro à

visita, do risco à recusa, da potência ao desejo, da carne ao osso etc.

—, mas sempre com um ficar ao lado, agora: “tomar consciência

dos termos reais dessa luta” e “lutar livremente”.

E como um começo interminável, isto não é uma antologia, mas

uma convulsão, muito obrigado a Carlos Augusto Lima, Carolina

Machado, Júlia Studart e Tarso de Melo pelas indicações arejadas

de poetas/poemas; a Davi Pessoa, Edson Sousa, Flávia Cêra e Laíse

Ribas Bastos pelas tomadas de posição ao aceitarem escrever os

posfácios-mínimos ainda com um arquivo invisível; a Ana Flávia

Baldisserotto, pela delicadeza do gesto ao ceder o desenho que é a

capa; e à Mórula, por topar essa aventura e implicação de coragem:

a alguém para algo. A vida é um imenso vazio sem cada amigo-amiga-amor

de atenção, conversa, pensamento e abraço.

[ inverno, 2020 ]

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1ª edição agosto 2020

impressão meta

papel miolo pólen soft 80g/m 2

papel capa cartão supremo 300g/m 2

tipografia arnhem e new baskerville


alexandre barbalho • aline prucoli

ana carolina assis • ana estaregui

ana paula simonaci • andre dahmer

aníbal cristobo • annita costa malufe

antônio lacarne • arthur lungov

bruna carolina carvalho

camila assad • carlos augusto lima

carlos henrique schroeder

carolina machado • casé lontra marques

celso borges • chantal castelli

cristiano moreira • dalila teles veras

danielle magalhães • demétrio panarotto

eduardo jorge de oliveira • eduardo sterzi

edimilson de almeida pereira

estela rosa • fabiano calixto

frederico klumb • guilherme figueira

heitor ferraz • italo diblasi • izabela leal

joice nunes • josoaldo lima rego

julia de souza • júlia studart

juliana krapp • katia maciel • laís romero

laura cabezas • laura liuzzi

leonardo gandolfi • leonardo marona

lubi prates • manoel ricardo de lima

marcelo reis de mello • maria esther maciel

mayra martins redin • micheliny verunschk

natália agra • paula glenadel

patrícia galelli • prisca agustoni

raísa christina • ramon nunes mello

renan nuernberger • reynaldo damazio

ricardo aleixo • ricardo corona

ricardo rizzo • rita isadora pessoa

ruy proença • sara síntique • sidnei cruz

simone brantes • sofia mariutti

tarso de melo • thiago e

vanessa c. rodrigues • veronica stigger


Uma pausa na luta para dar ouvidos às intermitências

dos corações, como apontava Pier Paolo Pasolini,

cujo desdobramento pode ser sentido, agora, como

as intermitências da respiração: uma pulsão

enquanto fluxo de aberturas.

davi pessoa

Este uma pausa na luta abre novas respirações àquilo

que temos de mais precioso para seguir em frente: a

força da palavra justa que não recua diante do perigo.

edson luiz andré de sousa

Dar uma pausa no meio da luta é um ato de coragem,

porque sustentar um vazio onde só se quer preenchê-lo

é apostar que aí mesmo se pode contorná-lo com

palavras que o mantenham vibrando.

flávia cêra

No pequeno interstício de um poema reside também

a possibilidade de reorientar os sentidos e, nesta pausa,

especificamente, encurtar o verso e mudar a direção

do olhar — lançar-se a outros espaços com escuta

atenta e atenção extrema.

laíse ribas bastos

ISBN 978658646418-4

9 78 6 5 8 6 4 6 4 1 8 4

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