10.10.2022 Views

cuspe

COLEÇÃO DIABO NA AULA | VOLUME 2 No registro do Houaiss encontramos sinonímia entre cuspe e perdigoto, mas nos códigos que regem a existência neste lugar de misérias há, entre eles, um abismo incontestável. O perdigoto, politicamente, está no campo da hipocrisia. São gotículas que saem das bocas dos moralistas enquanto eles proferem o avesso da escatologia e envenenam tudo quanto podem. A partir de Georges Bataille, epígrafe de Amanda Chraim, neste Cuspe encontramos textos que sugerem um jogo entre corpo, cena, escritura, presença-ausente e, como Drummond, “a falta que ama”. Amanda impõe, assim, o obsceno como exercício e vai ainda além ao articular uma espécie de gramática dos fluidos (uma política do cuspe, talvez?). Ela nos recupera o corpo como fonte essencial de erotismo, de desejo, de gozo: a capacidade que ele possui de se subverter e se libertar da “subjugada moral organizada”, como ela mesma escreve. Aqui, o cuspe desliza e se insinua também, ou sobretudo, pelas palavras: língua, sexo, raiva, diabo, desejo, lambança. É um livro molhado. Um livro molhado e político – e que haja muito leite mal para se jogar na cara dos caretas. Joice Nunes

COLEÇÃO DIABO NA AULA | VOLUME 2

No registro do Houaiss encontramos sinonímia entre cuspe e perdigoto, mas nos códigos que regem a existência neste lugar de misérias há, entre eles, um abismo incontestável. O perdigoto, politicamente, está no campo da hipocrisia. São gotículas que saem das bocas dos moralistas enquanto eles proferem o avesso da escatologia e envenenam tudo quanto podem.

A partir de Georges Bataille, epígrafe de Amanda Chraim, neste Cuspe encontramos textos que sugerem um jogo entre corpo, cena, escritura, presença-ausente e, como Drummond, “a falta que ama”. Amanda impõe, assim, o obsceno como exercício e vai ainda além ao articular uma espécie de gramática dos fluidos (uma política do cuspe, talvez?). Ela nos recupera o corpo como fonte essencial de erotismo, de desejo, de gozo: a capacidade que ele possui de se subverter e se libertar da “subjugada moral organizada”, como ela mesma escreve.

Aqui, o cuspe desliza e se insinua também, ou sobretudo, pelas palavras: língua, sexo, raiva, diabo, desejo, lambança. É um livro molhado. Um livro molhado e político – e que haja muito leite mal para se jogar na cara dos caretas.

Joice Nunes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

amanda

chraim

cuspe


No registro do Houaiss encontramos sinonímia

entre cuspe e perdigoto, mas nos códigos que

regem a existência neste lugar de misérias há,

entre eles, um abismo incontestável. O perdigoto,

politicamente, está no campo da hipocrisia. São

gotículas que saem das bocas dos moralistas

enquanto eles proferem o avesso da escatologia e

envenenam tudo quanto podem.

A partir de Georges Bataille, epígrafe de Amanda

Chraim, neste Cuspe encontramos textos que

sugerem um jogo entre corpo, cena, escritura,

presença-ausente e, como Drummond, “a falta

que ama”. Amanda impõe, assim, o obsceno

como exercício e vai ainda além ao articular uma

espécie de gramática dos fluidos (uma política

do cuspe, talvez?). Ela nos recupera o corpo

como fonte essencial de erotismo, de desejo, de

gozo: a capacidade que ele possui de se

subverter e se libertar da “subjugada moral

organizada”, como ela mesma escreve.

Aqui, o cuspe desliza e se insinua também, ou

sobretudo, pelas palavras: língua, sexo, raiva,

diabo, desejo, lambança. É um livro molhado. Um

livro molhado e político — e que haja muito leite

mal para se jogar na cara dos caretas.

JOICE NUNES




amanda

chraim

cuspe


Copyright © Amanda Chraim.

Todos os direitos desta edição reservados

à MV Serviços e Editora Ltda.

organização da coleção:

Carlos Augusto Lima

Manoel Ricardo de Lima

projeto gráfico

Patrícia Oliveira

cip-brasil. catalogação na publicação

sindicato nacional dos editores de livros, rj

Elaborado por Meri Gleice Rodrigues de Souza — crb 7/6439

C477c

Chraim, Amanda

Cuspe / Amanda Chraim. – 1. ed. – Rio de Janeiro:

Mórula, 2022.

48p. : il. ; 18,5 cm. (Diabo na aula ; 2)

isbn 978-65-81315-36-8

1. Poesia brasileira. I. Título.

22-80382 cdd: 869.1

cdu: 82-1(81)

Rua Teotônio Regadas 26 sala 904

20021_360 _ Lapa _ Rio de Janeiro _ RJ

www.morula.com.br _ contato@morula.com.br

/morulaeditorial /morula_editorial


mas ela federia se não tivesse se

tornado antes objeto de nosso nojo?

georges bataille



de um estouro na terra

lampejo, furo de escuridão, transpondo

imobilidade, imagem de real, é isso que ficou

mansinho no ser que pariu, materna, parou

em jamais de assumir clímax, nó, beleza nem

existe essa construção sem que cesse, que blefe

jogada em desvelar os ritos, a constância, o

calendário nas chamas, horários pingando,

fezes, ritual desprevenido.

7



cuspe foi impresso pela gráfica meta para a editora

mórula em papel pólen soft 80g/m 2 , tipografia silva text

e wigrum, outubro de 2022, e escrito na ilha de santa

catarina entre silêncio e desentendimento:

desejo de letra.



AMANDA CHRAIM [Florianópolis, 1987]. É

professora, graduada em Letras e doutora

em Linguística Aplicada [UFSC] com

diversas publicações na área. Trabalha

também com revisão de textos e criação de

conteúdo. Cuspe é o seu primeiro livro entre

a narrativa e o poema.


a coleção diabo na aula vem de uma

expressão retirada do poema cultura

francesa, de drummond, “aluno de

moral-zero”, que presta sentido a

murilo, entre alfred jarry e brigitte

bardot. murilo bagunça a cena,

desmonta o mestre, este é o jogo: errar

e desobedecer generosamente toda e

qualquer moral, aprendizagem infinita

e impensada, “gestos impossíveis”.

ISBN 978658131536-8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!