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Pessoas Professores Pandemia

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PESSOAS PROFESSORES

Pandemia

pandemia

Esperança Epitácio Escola EDIÇÃO 01 | 2020


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Editorial

PREFEITO DO MUNÍCIPIO DE SÃO PAULO

BRUNO COVAS

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO

BRUNO CAETANO

DIRETOR REGIONAL DE EDUCAÇÃO

JAIR SIPIONI

SUMÁRIO

GRATIDÃO E A GESTÃO

ELABORAÇÃO DE VÍDEO AULAS E CRIANÇAS

CONECTADAS

PLANEJAMENTO EM TEMPOS REMOTOS

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Caros leitores,

Essa edição desenha os sentimentos de um grupo de pessoas, professores e a pandemia. Trata-se

de um misto de emoções e aprendizagens que nos fortaleceram coletivamente. Foram

muitos encontros na Plataforma Teams, muitas cartas e muitos vídeos. E um “ tantão” de

palavras que expressam a pluralidade do grupo e também sua singularidade.

DIRETOR DE ESCOLA

VANESSA CARNEIRO CABRINI

EQUIPE EMEI EPITÁCIO PESSOA

SME-DRE SÃO MIGUEL

Responsáveis pela organização e revisão textual:

Amanda Cruz Lopes

Bernardete de Lourdes Alvares Marcelino

Cristiane Gleise Costa Nóbrega de Araújo

Mara Glauce Garcia da Silva

Valéria Gasparoto Tomé

Veruska Maria Silva Vieira

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO

Gabriel Alvares Gomes

Bruna Rodrigues de Souza

Contato: gbr.socialmidia@gmail.com

IMPRESSÃO

Carlos Pereira

Contato: atendimento@flycopy.com.br

EMEI Epitácio Pessoa

Rua Daniel Arcioni, nº10 - Jd. Limoeiro, São

Paulo - SP - CEP 08051-080

Fone: (11) 2280-9888

(11) 2042-6000

E-mail: emeiepessoa@sme.prefeitura.sp.gov.br

REVENDO A DOCÊNCIA AGORA E QUANDO

RETORNAREMOS

NARRATIVAS E SENTIMENTOS DAS

CRIANÇAS NA PANDEMIA

SEM AFETIVIDADE NÃO EXISTE COGNITIVO

DISTANCIAMENTO X PLANEJAMENTO

NOVOS TEMPOS, MUITOS DESAFIOS

FORMAÇÃO EM MOVIMENTO

INCERTEZAS E RESISTÊNCIA À PANDEMIA

APAIXONADOS PELA VIDA

CAIXA DE PANDORA NA PANDEMIA E NO

ISOLAMENTO

COMUNIDADE CONECTADA

FICHA CATALOGRÁFICA

1ª edição- São Paulo/2020 PESSOAS PROFESSORES

Pandemia, Esperança, EPITACIO, Escola EMEI/EPI-

TACIO PESSOA/DRE São Miguel- SME- retrata as

narrativas reflexivas do grupo docente da EMEI

Epitácio Pessoa, em tempos de pandemia e ensino

remoto.

Organização e revisão do documento Comissão de

Professores.

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É um registro da vida, do cotidiano docente, do tempo de recolhimento social e ensino remoto.

Vida essa que se entrelaça com toda pessoa que se permite compreender o que é extraordinário

e belo.

Essa experiência narrada nessas páginas conta da relação das professoras com as demais pessoas,

crianças, famílias e coordenação, entre escola, criação e casa.

Durante todo o processo vivido encontramos angustias, alegrias, esperas, expectativas,

aprendizagens e muita criatividade. E porque não afirmar que toda essa produção docente é

arte. Arte que se faz presente, mobilizando cada uma de nós, professoras, as múltiplas linguagens

e o imenso desejo de acertar, e de nos manter vivas. Atuantes.

Reafirmamos que é arte as ações trilhas, mídias produzidas individualmente a partir de decisões

coletivas que tornaram se presentes na vida, sustentaram nossas almas, corpos, mentes,

pensamentos e transformaram toda prosa em poema garantindo nossa crença, nossos

princípios e a escola.

Essa edição traz toda a força docente que conhece a escola e sabe que nenhum vídeo será

capaz de substituir o momento de interação que acontece com as crianças, mas nossa vontade

é que vocês percorrendo nossas cartas e imagens possam se perder e se encontrar nos sonhos

e desejo desse grupo.

Registrar nosso processo permite buscar nossa essência e demonstra o encantamento de pessoas,

professores e a pandemia.

Boa leitura, sigamos juntos!

Equipe da EMEI EPITACIO PESSOA



Gratidão e a Gestão

Vanessa Carneiro Cabrini

Ser gestor e estar na pandemia é algo que alterou totalmente

a rotina de fazeres. Tudo ficou mais burocrático, ,mais longe,

mais silencioso, mas um silêncio que entristece. Esse período

foi de muita angústia e incertezas para a gestão.

No entanto, toda essa situação faz com que vejamos o quanto

a escola, sem as pessoas e o cotidiano, fica sem sentido. Estamos

lá simplesmente! Cuidando para manter o vínculo com

as pessoas a fim de que ao retornarmos, tudo possa estar em

ordem.

Em relação ao trabalho pedagógico só podemos agradecer o

empenho docente em articular ações virtuais. A responsabilidade

que cada um assumiu com a nossa comunidade, buscando

nesse período, trazer orientações e sugestões para que os

responsáveis pudessem trabalhar com as crianças. E agradecer

a parceria dos ATE’s ( Auxiliar Técnico em Educação) que

no regime tele trabalho regularizaram os cadastros digitais

no sistema e fizeram os contatos telefônicos tão fundamentais

nesse período.

A forma de comunicação sofreu tanta alteração e nem todos

estávamos preparados para essa maneira de comunicação tão

tecnológica e acolhedora para as famílias.

E as famílias, temos que dizer o quanto foi importante para

o grupo da Emei Epitácio Pessoa, receber cada áudio, foto e

vídeo das nossas crianças realizando as atividades propostas

pelos professores. Foi gratificante poder compartilhar essas

ações com a comunidade e todo esse movimento fez com que

não nos sentíssemos tão sozinhos.

Enfim ainda temos muitas incertezas de como será daqui para

frente, pós pandemia ,mas acredito poder dizer que sairemos

ainda mais fortalecidos coletivamente e com esperança de dias

melhores.

Equipe Epitácio Pessoa

Que me acolheu e meu fez sentir

coletiva, e

Única ao mesmo tempo.

Imprevisível o que seria de nós este

ano.

Plenamente estamos conseguindo

superar

E encontrar saídas para este mundo

louco

Em que fomos inseridos durante uma

Pandemia.

Inocente vírus que veio para ficar

Tocar o próximo agora só

Através do olhar e

Como posso sentir o toque de vocês

Integral

O que pude aprender este ano.

Pessoas e profissionais incríveis

Especial em meu coração

Se não fossem vocês para enfrentar

Este momento

Seria enorme o meu desespero

O meu muito obrigado

A esta linda família.

Erika Rossi Soares



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

ELABORAÇÃO DE VIDEO AULAS E CRIANÇAS CONECTADAS

Cláudia Daise Gonçalves Felipe dos Santos

As ações pedagógicas discutidas e planejadas por todos

os professores e coordenadora postadas primeiro na

página do Facebook da EMEI “Epitácio Pessoa” e posteriormente

na plataforma Classroom (Google sala de aula),

foram produzidas com o intuito de acolher, aproximar, interagir

e ajudar as famílias nesse momento de isolamento,

para compreenderem que mesmo distantes há um canal de

interação entre nós.

No início foi bem difícil a apropriação das novas ações, gravar

os vídeos passou a ser uma tarefa desafiadora superada.

Pesquisas, escolhas de imagens, colocar -se na frente da

câmera, fazer o uso contínuo do celular (esse item a mais

trouxe desafio, pois não usava o celular com frequência,

sempre estava desligado, sem bateria ou na bolsa, ficava às

vezes dias sem pegar) e aprender outras ferramentas, gerou

ansiedade e insegurança.

O fazer coletivo fez a diferença, os combinados, a organização

e a dedicação intensa da coordenadora, ajudou a enfrentar

esse momento.

O trabalho coletivo, o compartilhamento das ações, as reuniões

no Microsoft Teams, as devolutivas anteriores às postagens,

a organização do roteiro, a formação, as sugestões

de links e materiais, foram essenciais para trazer o equilíbrio,

a tranquilidade e a confiança novamente, claro que

há outros desafios e aos poucos vamos nos reinventando.

Agora olhando para todo o trabalho realizado até aqui é

gratificante ver que as famílias estão acessando o Facebook,

nosso primeiro canal de postagem, enviando vídeos, fotos

e fazendo comentários.

Podemos perceber que muitas famílias compartilham com

a escola as propostas sugeridas com massinha, receitas,

máscaras, histórias, cabanas, construção de brinquedos,

fica visível a participação e o interesse.

Essas situações possibilitaram conhecer um pouco mais da

comunidade escolar, integraram Família/Escola, afloraram

outras ideias de aprendizagens e a valorização do ser humano.

Foto: Vinicius assistindo à aula

Devolutivas e feedback das famílias nas redes sociais

nos orientaram/reforçaram e trouxeram informações

importantes para o cuidado com o vírus, a situação do

mundo e as formas de produzir vídeos aulas. Essa ferramenta

comunicativa possibilitou esclarecer e dialogar

com as famílias sobre o processo realizado nesses

tempos de ensino remoto. A Live com as crianças merece

destaque: como Ação de Acolhimento/ Interação/

Socialização com as crianças que estão distantes, ao

ouvirmos seus sentimentos de saudade da escola, do

parque, da comida, nos fez considerar como esse ambiente

é importante para a vida e o desenvolvimento

da criança. Esse momento de convivência com o outro,

de exploração, de experimentação e de imaginação. E

porque não dizer de muito afeto.

Quando começamos a postar no Classroom achei a

plataforma interessante, ainda se familiarizando com o

recurso, a ideia é que as famílias aprendam também a

acessar as ações pedagógicas e vídeos aulas por meio

dela. Com incentivo e esclarecimento logo teremos

um número maior de acessos, no entanto, levando em

consideração as dificuldades como: disponibilidade de

internet, aparelhos eletrônicos, recursos tecnológicos/

ferramentas e mesmo o ambiente, sabemos que esses

são agravantes para o uso remoto dessa nova proposta.

As considerações das ações sugeridas trazem o entusiasmo

pelos familiares e também sua angústia, indagações

acerca do currículo da Educação Infantil, mesmo

que esta os auxilie na rotina e nos aproxime, ainda não

são compreendidas como escolares para muitos.

As ações pedagógicas ajudam na organização de um

tempo para brincar, contar histórias, cozinhar e experimentar

coisas novas, que para alguns surge como novidade

e aprendizagem. Como disse a mãe da Maria

Clara: “ nunca imaginei preparar uma refeição com a

filha.” A experiência de fazer um bolo trouxe a relação

mãe e filha um momento maior de aprendizagem e

convivência nesses tempos de pandemia.

Realmente, o vírus impôs a nós seres humanos o desafio

de nos enxergarmos nesse planeta, na nossa casa, no

trabalho e principalmente nas relações.

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PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Penso que o desempenho do trabalho coletivo aconteceu,

em virtude, da postura comprometida, segura e

acolhedora da nossa Coordenadora Pedagógica. Que

num momento nunca enfrentado antes na história da

educação mundial, soube com muita competência coordenar

o grupo de professores e acolher as famílias

de forma respeitosa e com muita serenidade.

Todo nosso trabalho precisa do engajamento das famílias,

porque educamos e cuidamos de crianças pequenas,

assistidas pela família e pela escola. O acesso

às ferramentas depende da ação e disposição dos

responsáveis. E gradativamente estamos conseguindo

nos aproximar em tempos de pandemia e isolamento

social.

Planejamento em tempos remotos Amanda Cruz Lopes

Folheando meu caderno de registros, observando os

e-mails institucionais e as conversas no grupo da escola,

pensei: trabalhamos! Estamos em isolamento social, cada

professora em tele trabalho em sua casa, a coordenadora

ora em plantão presencial ora em tele trabalho, mas isso

não foi empecilho para a construção de novos conhecimentos

para atender aos desafios educacionais e pedagógicos

impostos pela Pandemia por COVID-19: “aula não

presencial para crianças pequenas da Educação Infantil”.

O início foi difícil, conhecer novas ferramentas de trabalho,

antes nunca usadas, senhas e e-mails que precisavam

funcionar, tutoriais, informações enviadas pela coordenadora

no grupo do aplicativo de conversas, no e-mail e assim

no coletivo, porém com apoio da gestão e das parceiras,

conseguimos estruturar o nosso trabalho.

Foto: Crianças no Museu Catavento - Fevereiro de 2020

A Secretaria Municipal da Educação enviou para as casas

das crianças o material impresso Trilhas de Aprendizagens

com orientações para os pais. Nós professores fizemos a

leitura integral das páginas do documento Trilhas de

Aprendizagens e enviamos nossas impressões para a coordenadora.

Cada professora ficou responsável por planejar

atividades/experiências para compartilhar com as famílias

e ajudá-las a entender e realizar as propostas sugeridas no

material.

Durante o planejamento das ações, estudamos a questão

do uso das telas com crianças pequenas, os benefícios e

malefícios do uso dessa ferramenta. Por isso optamos por

vídeos curtos, pois foi o caminho que encontramos de

chegar até a casa das famílias.

Na verdade, não são aulas, são pequenos vídeos com sugestões

que complementam as atividades e informações

presentes no material impresso. São momentos de acolhimento

em prol das crianças e das famílias.

Os vídeos foram inicialmente publicados no Facebook

pela coordenadora – junto com outras ações de cunho

informativo. E depois publicados no Google Sala de

Aula pelas professoras (Ferramentas que usamos para

nos comunicar com as crianças/famílias).

Mas o melhor momento, foi quando o Facebook da

escola e a coordenadora, começaram a receber as devolutivas

das famílias com fotos, vídeos e pequenos

relatos das atividades realizadas em casa com apoio

dos vídeos.

Nossa profissão é pura emoção, ao longo da carreira

do magistério, já passei por muitas situações que me

causaram comoção, as crianças fazem isso com a gente.

Mas quando assisti aos vídeos dos alunos fazendo

as atividades/experiências que eu tinha sugerido...

Nossa, fiquei muito emocionada, um sentimento de

satisfação imenso, pois de alguma forma todo o trabalho

tinha valido a pena, mesmo que não atingiu todas

as crianças, mas conseguimos entrar na casa de algumas,

conseguimos estar um pequeno período próximo

dos nossos alunos. Foi demais!

Não foi fácil, produzir os vídeos, falar com a câmera

do celular, muito nervoso, muita tensão, totalmente

distante da zona de conforto habitual. Mas valeu muito

a pena, foi prazeroso ver as crianças e seus responsáveis

envolvidos nas propostas.

E como os pequenos, diferentes dos adultos, têm uma

facilidade de expressar suas ideias, contar suas experiências

na frente das câmeras!

Acredito que todo esse material produzido com a participação

de todos os segmentos da escola e da família

daria para escrever um documentário “Educação para

pequenos em tempos de Pandemia e isolamento social”.

A experiência foi incrível, as colegas/professoras, em suas

casas criaram pequenos vídeos com informações e sugestões

de brincadeiras, brinquedos, histórias, musicais, receitas,

tudo produzido com carinho, cuidado e muita competência.

Outro momento que merece destaque foi a Live pro-

Na verdade, nos reinventamos como educadoras movida pela coordenadora pedagógica, na qual as

da Educação Infantil.

crianças participaram com muita desenvoltura e animação.

8 Agradecimento total às famílias.

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Entretanto, muitas famílias não possuem as ferramentas

que permitam nossa comunicação, ou não sabem

utilizá-las, ou não estão dispostas a acompanhar suas

crianças nesta jornada, ou não têm tempo para acompanhar.

Por inúmeros motivos, financeiros, emocionais

e outros. Aqui não cabem julgamentos.

Essas crianças precisarão muito da escola no retorno

das aulas presenciais, principalmente, de acolhimento,

de escuta, de oferta de experiências norteadas de

carinho, paciência e aceitação. Na verdade, não sabemos

como nossas crianças voltarão para a escola, só

sabemos que juntos somos fortes.

Foto: Isaac



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

revendo a docência agora e quando retornaremos

Cristiane Gleise Costa Nóbrega de Araújo

Como é incrível esta “Capacidade ou Característica”

de alguns humanos de se acomodar com as circunstâncias

e as situações, não sei se fazemos isso por medo

ou como instinto de proteção. Só sei que a maior

parte do tempo, procuramos esta que consideramos

“estabilidade” e só mudamos quando “puxam o nosso

tapete”, “quando nos sentimos sem chão”, “ quando estamos

encurralados”, “quando estamos entre a cruz e

a espada”, enfim são coisas que não esperamos e muito

menos desejamos vivenciar, é o que nos impulsiona a

voar e aprender, “somos como os passarinhos que são

tirados do ninho, para sua maior lição de vida, voar.

Assim como a frase acima citada, de Gandhi, o futuro

dependerá de nós, e respondendo à pergunta: “O que

será de nós quando pudermos voltar a ir para escola?”

Seremos o que quisermos ser.

“O futuro dependerá daquilo que

fazemos no presente”

MAHATMA GANDHI

Escolhi esta frase para falar das minhas impressões,

pois ao pesquisar sobre a vida de Gandhi, inicialmente

achava que Mahatma (ou Mahatman), era seu primeiro

nome, e este é meu conhecimento prévio, por

acreditar assim como meu nome é Cristiane Gleise

Costa Nobrega de Araujo, porém algo despertou a

minha curiosidade, foi então que descobri que o seu

nome era Mohandas Karamchand Gandhi, e melhor

que ter esse nome, é como as pessoas nos chamam, e

como somos reconhecidos por elas.

Mahatma (ou Mahatman), significa “uma grande

alma”, minha curiosidade gerou conhecimento e é assim

que também quero ser reconhecida, como “professora”

e me orgulho de ter feito esta escolha. O texto

é intrigante, começa com uma série de perguntas

e termina com mais perguntas, agora feitas por nós

mesmos.

A primeira pergunta é: “A Pandemia de COVID- 19

trouxe novas demandas para a educação?”. Como escrevi

e até mesmo já mencionei anteriormente em outras

impressões, não consigo ver só o lado negativo

deste momento que estamos vivendo, como relatado

no próprio texto: “Os resultados (positivos ou não) da

educação contemporânea são frutos do percurso histórico

da humanidade, num sentido amplo”, esta pandemia,

só escancarou o que não estava bom, o que

não funcionava, as mazelas sociais, entre outras situações

que necessitavam ser repensadas e mudadas.

Hoje a educação, assim como ontem, é considerada

um alicerce para a sociedade, cita “Claro que não é a

educação sozinha que reforma a sociedade, contudo, é

inegável sua participação estruturante no que fomos,

estamos e seremos”, por este motivo temos que ter em

mente a nossa responsabilidade nesta construção, este

é o momento de parar de responsabilizar os outros e

sermos responsáveis, conhecer e procurar reconhecer

as crianças e a comunidade, como autores e parte da

educação que desejamos.

Pensei em algumas sugestões, mas acredito que deve

ser refletido e acordado em grupo, assim como todas

as decisões e ações tomadas neste período, uma

delas foi essa possibilidade de que como cada turma

tem aproximadamente 35 crianças matriculadas, e

como já vem sendo dito, a frequência e o atendimento

presencial será definido por etapas, pensei que

poderíamos considerar alguns relatos trazidos pelos

participantes das jornadas pedagógicas, ocorridas em

25 e 26 de junho, que trouxeram as vivências de seus

países.

Entre as contribuições, destaquei o fato de ter um

adulto de referência para aquele determinado grupo

de crianças e famílias, não sei se será possível, acredito

que haverá famílias que se sentirão mais confortáveis

neste momento com o ensino remoto ou à distância,

por este motivo teremos que conciliar ambos.

Então, conciliar ambos propiciou refletir algumas

propostas: rodízio, por exemplo: uma semana a professora

da ponta fica responsável pelo presencial e a

do intermediário pelo “à distância ou remoto”, na outra

semana, a professora da ponta ficará responsável “à

distância ou remoto” e a do intermediário pelo presencial,

então as professoras terão um grupo que serão

responsáveis, tanto no atendimento presencial como

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

no remoto, e as crianças terão um adulto de referência

que os acompanharão nesta trajetória e será melhor

para o monitoramento e orientação dos grupos.

E quanto aos objetos e materiais com higienização,

não vejo outro alternativa senão individualizar, colocando

nomes e fotos uma vez que nem todas as crianças

identificam o próprio nome, além de redobrar a

atenção.

As ações pensadas e refletidas quando acontecerem

revelarão cotidianamente novas adaptações e hábitos

que o vírus irá nos impor. Por enquanto, só nos resta

aludir sobre uma realidade ainda não vivenciada- o

retorno das aulas.

Foto: Milenna Tavares

Referência

GANDHI, M. “Minha vida e minhas experiências com a verdade”,

1927.

Foto: Fachada da EMEI Epitácio Pessoa

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PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Narrativas e sentimentos das crianças na pandemia

Valéria Gasparoto Tomé

“As crianças, todas as crianças, transportam o peso da sociedade

que os adultos lhes legam, mas fazem-no com a leveza da renovação

e o sentido de que tudo é de novo possível”

SARMENTO

O Isaac gravou um vídeo recontando a história: “Pedro

e o barquinho de papel”. Fiquei encantada! Ele fez os bonecos:

o Pedro e o Isaac, fez o barco, foi muito criativo

em sua contação (na sua história, o Isaac era o amigo do

Pedro, que foi passear com ele em seu barquinho).

Nesse momento de isolamento social, provocado pela

Pandemia, tivemos que buscar novas formas de nos

comunicarmos e isso em muitos momentos gerou ansiedade,

medo e insegurança, mas ao mesmo tempo,

descobertas e aprendizados. Essa instabilidade acabou

repercutindo na saúde física e emocional de todos,

crianças e adultos, seja pelo momento presente por

meio do medo da doença, pelo falecimento de familiares

e amigos, pelo desemprego ou pela incerteza em

relação ao futuro, seja qual for o motivo, a criança está

vivenciando dentro dos seus lares, pela convivência.

Por meio da mídia essas informações de certa forma

causam impactos em sua vida.

A escola, espaço de múltiplas aprendizagens, tornou-

-se um espaço vazio e sem vida. E as crianças pensando

nos momentos vividos no ambiente escolar,

sentem-se ansiosas pelo retorno à rotina, à alegria, às

descobertas, às brincadeiras e à convivência social.

Sabemos que esse cenário está sendo vivido por todas

as pessoas, e pensamos em nossas crianças e suas famílias,

como será que estão? Como estão enfrentando

esses momentos? Quais as dificuldades pelas quais

estão passando? Oportunizar as atividades por meio

da plataforma Classroom e do Facebook da escola, de

certa forma é uma maneira de mantermos o vínculo

com as famílias.

As atividades planejadas e publicadas levaram em

consideração o resgate da nossa cultura, garantindo

as famílias sentimento de pertencimento, guardado o

devido respeito à todas elas, a diversidade e a ludicidade.

No entanto, o grande problema foi e continua

sendo a dificuldade para acessar a plataforma, seja por

dificuldades financeiras para ter acesso à internet, falta

de sinal ou mesmo por terem mais do que um familiar,

necessitando usar a internet, ou outros motivos.

A pandemia por outro lado, revelou as dificuldades

que já enfrentávamos na educação, e a utilização da

internet acabou se mostrando a forma mais eficaz

para a comunicação, porém com poucos resultados.

Durante muito tempo acreditamos numa educação

formal, viemos dessa escola tradicional e hoje estamos

vivendo muitas mudanças nesse sentido, principalmente

no que se refere à educação infantil, pois quando

pensamos na criança, a enxergamos como sujeito

de direitos, e quando planejamos nos norteamos no

eixo brincar e interagir e então torna- se impossível

imaginar a criança sentada numa cadeira, copiando

atividade da lousa.

Em vista disso, repensar os espaços é extremamente

importante, eles devem ser desafiadores e que possibilitem

a exploração com segurança, manipular objetos,

ter autonomia e ofereça materiais diversificados,

pensando em nossa diversidade cultural, valorizando

o protagonismo da criança, a curiosidade, oportunizando

experiências significativas, propondo formas

de recriar novos limites, novas maneiras de organizar

os espaços brincantes e, assim representar simbolicamente,

respeitando os seus tempos e ritmos no desenvolvimento

das crianças.

A forma como os espaços estão organizados, reflete

a concepção de criança e de educação que os educadores

e equipe gestora acreditam. E no retorno pós

pandemia, ou mesmo durante a mesma, precisaremos

rever esses espaços, entre outros temas de suma importância

como os cuidados e prevenção do contágio.

Sendo a criança protagonista, ela cria, ela sente, ela

produz, não é um adulto em miniatura como se pensava

antigamente, é acima de tudo um sujeito de direitos.

Sujeito que pensa, indaga, dialoga, questiona, explora

e expressa - se de diversas formas, daí a importância

das narrativas infantis no processo de construção de

suas aprendizagens mesmo que agora seja em seu lar.

O Isaac recontou a história: “ A árvore que não tinha

folhas”. Ele fez um vídeo utilizando dois vasos,

um com galhos e outro com flores artificiais. Fez

o som do vento com a boca, foi muito criativo na

contação.

A Emanuelli adorou as contações

de histórias e fez lindos

registros.

Algumas narrativas do Thiago Miguel: “A escravidão é muito ruim e

triste pois todas as pessoas, mesmo que de cores diferentes, são todas

iguais. E que a idéia de fazer a boneca foi das mães porque elas amam

muito seus filhos” (referente à atividade: História Abayomi). Thiago Miguel

realizou a atividade do nome e colou milho de pipoca. “Eu gostaria

que ele tivesse pintado um balanço com duas pessoas, porque fica lindo”

(referente à atividade: Fazendo Arte – Ivan Cruz)

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PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Segundo Malaguzzi “ no sentido metafórico, as crianças são as maiores ouvintes da realidade que as cerca.

Elas possuem o tempo de escutar, que não é apenas o tempo para escutar, mas o tempo rarefeito, curioso, suspenso,

generoso – um tempo cheio de espera e expectativa. As crianças escutam a vida em todas as suas formas

e cores, e escutam os outros”. As narrativas das crianças reconstroem a realidade vivida dando significado às

suas experiências e sentimentos, possibilitando as práticas pedagógicas a subjetividade humana e a busca por

novos caminhos.

E o James Henrique iniciou agora as postagens e parece estar bem entusiasmado. Ele adora samba, tem boa

coordenação e ritmo. Representou muito bem as expressões fisionômicas das Ações: Emoções.

Foto: Kathelin Nycolle

A Evelyn é muito participativa, conversa muito bem, tem facilidade com a

câmera e muita desenvoltura. Ela fez a dobradura do barquinho, foi muito

criativa nos desafios das sereias, fiquei sabendo que ela adora brincar com

slime, bom nem precisa dizer que adorou fazer a massinha...

SEM AFETIVIDADE NÃO EXISTE COGNITIVO Veruska Maria Silva Vieira

Por diversas vezes, desde o início deste trabalho virtual,

me peguei refletindo sobre nossas ações e a maneira

que elas chegariam as famílias. Pensei também que não

podemos deixar em segundo plano nossas concepções

sobre a educação de crianças pequenas. E dentre todas

as concepções, também o nosso olhar sobre como as

crianças aprendem, a importância das interações, do

afeto, do toque. Isso tudo é um grande desafio.

E sei que o grupo da EMEI Epitácio tem feito o mesmo.

Acredito que foi uma boa ideia acompanhar as propostas

do documento “Trilhas de aprendizagem” (documento

oficial da Secretária Municipal da educação),

visto que nem todos receberiam por inúmeros motivos,

inclusive geográficos, o que possibilita que as famílias

sejam tratadas de maneira um pouco mais igualitária.

“Sustentabilidade pra mim é cuidar do planeta, não jogar lixo na rua,

proteger os rios e as florestas” ( Referente à atividade Sustentabilidade).

O Thiago Miguel gostou muito da lenda boliviana e até fez um

desenho, adora brincar com água e fez algumas experiências usando

sal, açúcar,chá e café para perceber o que dissolvia na água, “Gostei

muito dessa atividade”. Ele também adorou a história do Tatu Balão

e mãe disse que ele adora brincar com tatuzinho.

Referências

SARMENTO, M. e GOUVEA, M. “Estudos da infância: práticas sociais”, 2008.

MALAGUZZI, L. “História, ideias e filosofias básicas” In: EDWARDS, CAROLYN;

GANDINI, L. FORMAN,G. “As cem linguagens da criança, a abordagem de Reggio

Emilia na Educação da primeira infância”, 1999

Para nós, educadoras, a afetividade faz parte do processo

de aprendizagem, entrelaçada ao desenvolvimento

do cognitivo e social. Entendemos que a afetividade tem

um papel de suma importância no processo de aprendizagem

de cada um, como nos ensina Henri Wallon

na teoria psicogenética. Para nós, é importante levar

em consideração as influências socioambientais. Logo,

perceber e respeitar todo o processo vivido em meio a

pandemia por cada um de nós, incluindo as crianças e

suas famílias, é necessário para que o trabalho seja feito

de maneira a efetivar aprendizagens significativas.

Na perspectiva que me acalanta todos os dias depois de

conhecer a Pedagogia Freiriana, não podemos deixar

de esperançar. É isso que tenho insistentemente feito.

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Isso nos fez criar uma gama de propostas que conversassem

e ampliassem as possibilidades de brincadeiras

e interações dentro do que hoje é o único espaço

de aprendizagem das crianças: as suas casas. Penso que

mesmo que não tenhamos atingido essas outras famílias

no fazer pedagógico pelas plataformas, porque elas

tem demandas muito maiores que isso, a escola se aproxima

a medida que se disponibiliza a compreender suas

necessidades e angustias, por meio do telefone, as vezes

presencialmente na escola, as vezes nos diálogos por

mensagem.

No meio desse caminho, tivemos a prova de que a educação

perpassa o muro da escola e que é pela educação

que transformamos o mundo.



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Ainda que nossas ações sejam a primeira vista pequenas,

pois é a soma delas que fazem a diferença. Sem

esquecer o momento que nos colocou nessa situação,

a pandemia da COVID 19, tivemos entre as famílias

que atendemos perdas, e com muita responsabilidade

e muito carinho, houve ligações, vídeo chamadas com

palavras de acalanto. O que não poderia ser diferente.

Houve também informativos e ações para contemplar

aqueles que por consequência da pandemia perderam

seus empregos e tiveram suas vidas transformadas por

questões financeiras. Por mais que essas ações tenham

sido pensadas para as famílias, podemos concluir que

por meio delas, nos fortalecemos enquanto Coletivo

Educacional, reafirmando que a educação não é isolada

dos processos que acometem nossa sociedade.

Outro ponto relevante em nosso fazer foi a organização

do próprio trabalho pedagógico do grupo, que

conseguiu uma organização fantástica através do roteiro

proposto pela coordenação. Quanto as nossas

formações, tenho certeza que sem elas estaríamos

mais ansiosas e menos esperançosas. Tenho ficado

cada vez mais feliz com nossos diálogos, com a escolha

dos textos muito pertinentes e enriquecedores.

E mesmo intercalando com os textos que tratam do

possível retorno, tem sido possível pensar no futuro

de uma maneira mais acalentadora, até porque, ainda

que não voltemos este ano, ainda que voltemos o ano

que vem e tenhamos que nos manter afastados sem

abraços, sem aconchegos, até que chegue a vacina...

uma hora ela vai chegar e nós teremos orgulho de ter

passado por tudo isso, sem deixar a peteca cair.

“Será que vai dar tempo?

Tempo, tempo, que te quero tempo

Tempo de juntar forças

De viver mudanças

No meu trabalho de formiga e cigarras

Para continuar nascendo todo dia.

Será que vai dar tempo?”

DISTANCIAMENTO X PLANEJAMENTO

Isleide de Macedo Gama, Hermita Pereira Gomes, Amanda

Cruz Lopes

Nesse período de isolamento social os nossos planejamentos

foram realizados de acordo com o documento elaborado pela

Secretaria Municipal de Educação e do estado de São Paulo

“Trilhas de Aprendizagens”, que tem como objetivo a interação

entre crianças, familiares e professores com sugestões de brincadeiras,

leituras e jogos de construção.

As atividades desenvolvidas por todas as professoras, como:

contação de histórias, músicas, construção de brinquedos (cabanas

com vários materiais, pistas de carrinhos, pega tampinhas

com pregador), confecção de massinha de modelar, leituras

de vários gêneros literários, serviram para complementar,

enriquecer e facilitar o entendimento do material “Trilhas de

Aprendizagens”.

Seguimos um cronograma para as postagens dessas atividades

na plataforma digital “Google/ Classroom”, para que fossem

acessadas pelas crianças juntamente com a família.

Começamos com mais intensidade a utilização da plataforma,

com postagens diárias, de início duas por dia (uma de cada

professora da turma) e no final apenas uma por dia por sugestão

da SME ( Secretaria Municipal de Educação) para que as

crianças não fiquem muito tempo diante das telas, e como já

havia sido alertado pela Coordenadora Bernardete, as famílias

estão com muitas dificuldades no manuseio da ferramenta e

por isso o acesso ainda está escasso.

Nossas produções e publicações ficaram a cada dia

mais “trabalhadas” no encantamento e na potência de

quem acredita que a educação é o único caminho para

travar as batalhas da vida. Os temas propostos foram

desafiadores e muito significativos. Acredito que o

grupo se esforçou bastante para que a qualidade das

produções fosse agradável para as famílias.

É possível perceber que no Google Class (Plataforma

oficial da Secretaria de Educação) tem algumas devolutivas

e no Facebook as visualizações, assim como o

relatório mostram que as famílias estão vendo o que

fazemos. Isso significa que apesar de todas as dificuldades,

elas têm carinho e respeito pelo nosso trabalho.

Tornando claro que o trabalho da educação caminha

sempre junto as famílias. Para concluir, cito uma parte

do poema de Madalena Freire, presente no livro Educador,

Educa a dor (2017):

Referência

FREIRE, M ‚”Educador, educa a dor”, 2008.

Foto: Equipe da Emei- Campanha do uso de máscaras

Mas independente das dificuldades, ficamos extremamente felizes,

com o comprometimento das famílias para com as crianças;

quando observamos os acessos via página institucional do

Facebook da escola, e percebemos que mesmo à distância, temos

impacto importante nas vidas das famílias, que se sentem

acolhidas e que podem contar com todos da escola.

As atividades postadas no Facebook obtiveram um grande número

de visualizações e devolutivas no formato de vídeos e fotos,

nos quais é possível observar a realização das atividades

em família, e o mais importante, a alegria das crianças ficou

evidente. As famílias estão se esforçando para dar continuidade

a educação escolar de seus filhos e fortalecendo o vínculo com

a escola.

Estamos trabalhando sempre para tentar oferecer, dentro das

possibilidades, o melhor para as crianças. E aprendendo todos

os dias a trabalhar na Educação Infantil de um jeito novo.

16 17



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

O desafio, durante o planejamento das atividades e produzindo

os vídeos, foi aprender a utilizar ferramentas antes

nunca usadas em curto espaço de tempo e continuar o

trabalho com as crianças. Acolher os alunos e as famílias,

dentro de uma realidade difícil, frente ao desconhecido

mundo das mídias digitais/ tecnológicas e as incertezas e

inseguranças trazidas pela Pandemia. Entretanto, aos poucos,

atravessamos barreiras e nos adequamos a um mundo

em que não imaginávamos: ficar tanto tempo diante de

telas.

O grupo constituído por professores e coordenadora foi se

destacando pelo apoio e parceria, que mesmo com a distância,

conseguiu esclarecer dúvidas, auxiliar e aprender

juntas rumo a um trabalho coletivo dentro de uma nova

Referência

Trilhas de aprendizagens: brincadeiras e interações para

crianças de 4 a 5 anos. – São Paulo : SME /COPED, 2020.

realidade. As atividades propostas nos vídeos planejados e

elaborados pelas professoras buscavam promover interações

com objetivos que perpassam a ludicidade, palavras

de acolhimento, diálogo e o respeito as necessidades das

crianças.

A escola mesmo de forma remota é espaço de conquista de

autonomia, de aceitação, de respeito, de fortalecimento, de

amizade, de apreciar as diferenças.

Neste novo formato, os professores trazem em suas escolhas,

no momento que estão produzindo suas aulas, o respeito

aos princípios norteadores de uma Educação inclusiva

e receptiva ao momento ímpar que estamos vivendo

no mundo.

Foto: Equipe da Emei- Campanha do uso de máscaras

18 19

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

NOVOS TEMPOS, MUITOS DESAFIOS

Valéria Gasparoto Tomé, Eliana Silvério dos Santos,

Erika Soares Almeida Marques Rossi, Gislaine Camargo Pires

“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas

novas e não repetir simplesmente o que outras gerações fizeram”.

O ano de 2020 iniciava e com ele muitas expectativas

sobre as crianças, as famílias, o período de acolhimento.

De repente a notícia da COVID-19 espalhava-se

pela mídia mas ainda como algo distante de nós, até

que se tornou presente e tivemos que fechar as escolas

e nos distanciarmos do convívio social, surgindo a

partir daí os primeiros desafios.

A escola que sempre assumiu seu papel social se via

obrigada a fechar as portas, mas como continuar atendendo

as crianças e famílias, como manter o vínculo

nesse momento tão diverso?

Nunca ouvimos tanto a palavra “desafio” e também

nunca a pronunciamos tantas vezes.

“Como professora, entendo que a multiplicidade de

ferramentas no âmbito educacional trazem enormes

benefícios a todos os envolvidos. Sair da mesmice aumenta

a curiosidade e desperta interesse para a aprendizagem”

(Erika, 2020).

Tivemos que lidar com medos, inseguranças, frustrações,

perdas mas tudo isso fez com que pudéssemos

aprender cada vez mais, superar dificuldades, romper

barreiras, vencer obstáculos e aprender.

“... Como planejar tendo por base o currículo que

norteia o Município de São Paulo sem respeitar as

proposições de que o seu eixo norteador é baseado

nos estudos e respeito às fases do desenvolvimento da

criança e que o professor é mediador desse documento

e a escola é o local que proporciona as experiências

de interações?” (Gislaine, 2020)

O professor que muitas vezes utilizava a lousa, o giz

e o papel para suas aulas se vê obrigado a utilizar a

tecnologia que já estava à sua disposição muito antes

da pandemia, porém ignorada. Hoje compartilhamos

exemplos de superação, boas ideias e propostas com

JEAN PIAGET

excelentes resultados e fica a questão: porque não fizemos

isso antes?

“A forma como a página do Facebook é alimentada,

acredito ser o diferencial na interação família-escola.

Fora que abdicar de tempo para conversar e atender

as famílias em diferentes ambientes, seja pessoalmente,

por telefone ou WhatsApp está sendo sensacional”

(Erika, 2020).

Aprendemos a fazer reuniões virtuais, planejamos

nossas ações e pesquisamos em nossos lares, baixamos

aplicativos com auxílio dos nossos familiares, dos

nossos colegas, trocamos informações pelo WhatsApp,

por e-mail, assistimos cursos de capacitação para o

uso das tecnologias que nos instrumentalizaram para

essas práticas, produzimos nossas aulas com criatividade

levando às crianças e aos seus lares o desafio de

brincar e interagir, foco da educação infantil.

Para a professora Eliana: “O que vejo de positivo em

tudo que estamos vivendo é que, mesmo longe, podemos

nos aproximar do outro, seja no contato com

as famílias no classroom ou quando nos encontramos

no Teams, momento em que podemos trocar experiências,

ouvir o que o outro tem a dizer e até mesmo

receber novos direcionamentos para algum fazer pedagógico.”

(Eliana, 2020)

Foto: Entrega de presente - outubro/2020



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Considerando esses aspectos não podemos dizer que

estamos isolados, pois estamos interagindo uns com

os outros, só que de uma forma diferente. Estamos

momentaneamente distantes socialmente falando,

porém conectados, interligados, e aí está o nosso desafio,

mas agora vivemos um outro momento o do retorno

ao novo normal por assim dizer, ou se podemos

falar, uma prévia do que seria o normal, novamente

a insegurança toma conta, o medo, mas de qualquer

forma sabemos que tudo irá passar e certamente muitos

aprendizados ocorrerão.

Segundo a professora Eliana: “Falam de distanciamento

de 2 metros, de álcool em gel, em usar ou não

máscara. Com certeza estamos longe de achar uma

solução que agrade a todos e que traga respostas para

tantas perguntas. Mas certamente tudo o que está ao

nosso alcance e dentro da realidade da escola temos

feito: leituras, vídeos, reflexões, discussões e interação

com a comunidade para também tomar ciência de

suas dúvidas para esclarecê-las”. (Eliana, 2020)

Referências

PIAGET, J- “A representação do mundo na criança”, 1926

FREIRE, P- “Pedagogia da Autonomia, 1996

Há que se pensar no retorno, novas propostas, flexibilização

do currículo, medidas de segurança, protocolos,

mas o que desejamos é que esse retorno seja

de fato pensando nas crianças, no que a escola pode

oferecer para a construção de aprendizagens significativas

porque se não o for, seremos meros instrumentos

de uma ferramenta engessada que contempla uma

parcela pequena da população.

“Diante da situação de pandemia X retomada das aulas

tenho a dificuldade de planejar uma retomada na

qual o Currículo da Educação Infantil seja em sua

totalidade praticado, principalmente em seu eixo norteador

que são as interações e brincadeiras” (Gislaine,

2020).

Como dizia Paulo Freire: “Não existe tal coisa como

um processo de educação neutra. Educação ou funciona

como instrumento que é usado para facilitar a

integração das gerações na lógica do atual sistema e

trazer conformidade com ele, ou ela se torna a ‘prática

da liberdade’, o meio pelo qual homens e mulheres

lidam de forma com a realidade e descobrem como

participar na transformação do seu mundo”.

Tomemos consciência das mudanças que queremos

e possamos agir de forma transformadora (Eliana,

2020).

Estejamos preparados para as mudanças que os novos

tempos impõem, sempre dispostos a vivenciar e superar

os desafios, afinal os desafios só se tornam obstáculos

quando nos curvamos a eles e a educação não

é um processo de obediência e sim um processo de

transformação e libertação.

Foto: Emanuelli com sua mãe, atividade sugerida: Construção de cabanas.

Formação em movimento

Passamos por uma situação repentina, uma mudança

drástica, nunca antes imaginada sem tempo para um

planejamento que expressasse

nossas concepções de criança,

de escola, de educação. Nesta

mudança fomos privados de

um espaço muito importante no

processo de aprendizagem e desenvolvimento

humano, que é a

escola.

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Processos vividos durante a pandemia

Veruska Maria Silva Vieira, Eliane Araújo de Sousa,

Fernanda Xavier Pereira, Marcelle Paiva da Silva Esau

“A escola é...

O lugar onde se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

programas, horários, conceitos.

Escola é, sobretudo, gente, gente que

trabalha, que estuda, que se alegra, se

conhece, se estima.

O diretor é gente, o coordenador é

gente, o professor é gente, o aluno é

gente, cada funcionário é gente.

(...) Nada de ser como o tijolo que

forma a parede, indiferente, frio, só.”

Tivemos que nos adaptar rapidamente,

reinventar e conseguir

conviver com muitas incertezas.

Após algum tempo, ainda

tentando entender e viver este

momento incerto, convivemos

também com a dúvida sobre a

volta à escola. Precisamos, desde

já, pensar sobre o retorno,

ainda que não tenhamos uma

data certa. É importante planejar

esse momento, para que não ocorra como essa parada

inesperada e assustadora. Precisamos refletir para que o

transtorno não seja ainda maior. Temos o desafio de pensar

na logística, no acolhimento de todos, em uma adaptação

voltada aos protocolos de saúde, no atendimento

a comunidade escolar, na segurança

de todos, sem abandonar

Paulo Freire

Foto: Laura

nossas concepções. Precisamos

traçar um caminho, resgatar

vínculos e o convívio, ouvir as

pessoas. São muitas tomadas de

decisões.

A ansiedade de enfrentar esse

momento que é incerto. Não há

projeção do que pode ocorrer

nos dias seguintes, isso tem sido

um desafio.

Porém as discussões acerca do

tema, através das discussões em

lives e com o grupo de colegas

da escola, vem no sentindo de

trabalhar essa ansiedade, respeitando

um dia de cada vez e

valorizando os esforços para que as famílias e crianças

sejam atendidas e sintam a nossa presença, mesmo que

virtualmente.

20 21



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Em tempo real, buscamos com as propostas chegar

o mais próximo possível das crianças e suas famílias,

usando materiais que estejam ao seu alcance para que

todas possam fazê-las, sem precisar sair para buscar,

dispor de recurso financeiro, pedir emprestado, se arriscar.

Possibilidades que não dessem muito trabalho

e que não se sentissem excluídos do processo. Nossa

ideia é tentar contemplar a todas as crianças e famílias,

levando um pouco de descontração e alegria a elas.

Se o retorno realmente ocorrer este ano, sabemos,

não será fácil. Existem as questões higiênicas que nos

preocupam de acordo com as possibilidades da rotina

da escola, mas também temos a questão psicológica.

Pensar em quantas crianças perderam pessoas queridas.

Quantas famílias perderam empregos, quantas

crianças estão em um ambiente familiar de brigas e

de discussões. São muitas questões que precisarão ser

trabalhadas. E para nós, os “adultos” também não será

fácil, pois temos medos e incertezas.

A equipe é muito unida e isso faz com que o nosso

trabalho se desenvolva muito bem, apesar de todas as

angústias. As professoras do grupo continuam bravamente

preparando e editando vídeos incríveis e interessantes.

Podemos mesmo remotamente perceber

o interesse que desperta nas crianças, até mesmo em

nossos lares, com filhos e filhas realizando quase todas

as propostas. Mas tudo isso só tem sido possível

porque temos uma coordenadora comprometida com

a educação. Além de sua sabedoria e experiência profissional

tem amor ao que faz. Isso nos motiva.

As reuniões pedagógicas trazem reflexões, a realização

de se repertoriar com leituras e observações do

que pode ser agregado como conhecimento e aprendizagem,

um maior domínio sobre as mídias digitais

tem sido relevante no processo de descobertas e quebra

de paradigmas. Assim como, observar as inúmeras

possibilidades que podemos criar diante de um

momento tão caótico.

Temos tido momentos de trocas de saberes, visto

que, nos sentimos a vontade para tecer considerações

em relação às leituras sugeridas. Elas dialogam com

as preocupações e interesses que temos em relação à

Educação Infantil e o momento de pandemia.

Uma de nossas leituras formativas foi “Notas sobre a

experiência e o saber de experiência” - de Jorge Larrosa.

Um texto onde ele nos convida a pensar, a educação

unindo a experiência e o sentido, opondo-se à

educação relacionada a ciência e a técnica, ou entre a

teoria e a prática. Para tanto, explora o significado das

palavras experiência e sentido.

Pensamos que todos os dias nos trazem experiências

singulares, aprendizados diários com os pares, companheiras

da escola e com as crianças, todos os dias na

convivência, refletimos e aprendemos, numa transformação

diária. Isso tudo se acentua quando nos vemos

numa realidade tão delicada como a atual. Esse texto e

as experiências que foram ativadas em nossas memórias

por ele, nos tiram da posição de expectadoras e

nos colocam na situação eminente de desafio.

Conseguimos perceber que as práticas que norteiam

nossas ações, podem quebrar barreiras para que caminhemos

por processos de vivências, que despertam

em nós, não a necessidade de estarmos informadas ,

mas o processo de reflexão do saber construído a partir

das situações vividas. Despertando um saber subjetivo,

daquilo que nos dispomos a descobrir a partir

do olhar e do sentir a necessidade.

Referências

FREIRE, P- “Pedagogia da esperança em reencontro com a

pedagogia do oprimido”, 1992.

BONDIA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.

Rev. Bras. Educ. [online]. 2002.

Foto: Emanuelli

22 23

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

INCERTEZAS E RESISTÊNCIA À PANDEMIA

Mara Glauce Garcia da Silva

Quando ouvi falar a primeira vez em COVID-19, não

imaginei que tudo isso iria acontecer. Estávamos acreditando

que seria algo rápido e logo tudo se resolveria.

Poucos dias se passaram, até que o vírus chegou e

a pandemia se instalou entre nós. De repente, me vi

impedida de trabalhar. Rotina alterada, medo, insegurança,

incertezas. O que fazer?

Esse vírus veio como um furacão. Serviu, porém para

vermos tudo com outro olhar... Eu tive tempo de repensar

minha prática. Por um lado foi bom, por outro,

perdi o caminho que já conhecia, a rotina escolar que

já estava tão familiarizada. Eu conseguiria me adaptar

a essa nova realidade? Tecnologias, vídeos e novas

maneiras de me comunicar, de alcançar o meu público

que agora eu sequer conseguia visualizar. As incertezas

tomavam conta de mim.

E no momento em que me senti mais sozinha, a equipe

me mostrou o significado de coletivo, na prática.

Nossas ações conjuntas deram visibilidade às nossas

ideias e desenvolvemos atividades tem por base os

documentos da Rede- Currículo da Cidade Educação

Infantil e Trilhas de Aprendizagem, focados no que

sentimos e no que era necessário a nossas crianças.

Retomei meus estudos, leituras, assisti lives, a fim de

me inteirar de tudo que estava acontecendo ao nosso

redor. Ouvi o professor Leandro Karnal falar sobre as

competências para os novos tempos, colocou muito

bem que “ Não existem mais pessoas formadas. Somos

eternos formandos.” A pandemia mostrou isso

claramente. E de certa forma transformou a todos

nós. Se as incertezas eram muitas, a vontade de vencer

também.

A pandemia quase me destruiu. Vivi na pele o que ela

pode fazer com nossas famílias. Mostrou como a desestrutura

de um, abala a todos e como ficamos vulneráveis

emocional e psicologicamente. Ao invés de me

abater, resisti. Fortaleci o desejo de vencer, de crescer,

de agir, o desejo de lutar como ser humano e como

educadora. Se a pandemia nos trouxe muitas incertezas,

tornou visível a desestruturação social e econômica

do nosso país e que há muito tenta mascarar

ou dizer como “normal”- a desigualdade, a pobreza, o

racismo, o preconceito e a violência saltaram aos nossos

olhos, fazendo - nos pensar na real escola integral

e em políticas públicas realmente eficazes e redes de

proteção, que protejam de fato. Ao refletir nesse aspecto

político da educação, penso nas famílias de nossa

comunidade e no que enfrentam: desemprego, dificuldades

de sustento, dificuldades para se protegerem

contra essa doença, o medo, a insegurança, a morte

de entes queridos... tudo isso me inquieta, ao mesmo

tempo em que traz a certeza de que a ação de educar

é um ato político. Nossas ações se resumem a resistência

a esse jogo político que tentam fazer há tempos.

Dizem que esse ano foi um tempo perdido. Não vejo

dessa forma. Ficamos em casa, mas não paramos.

Estamos juntando forças! Refletindo e pesquisando

para articularmos e encontrarmos soluções e percebemos

quantas pessoas estão atuantes, preocupadas

em novas formas de trabalhar para e com as crianças.

E esse momento reverberou a parceria com as famílias

como aspecto mais importante para escola e

promoveu o real protagonismo de suas criança em

suas devolutivas ao grupo de professores. A expectativa

da volta às aulas presenciais nos fez refletir sobre

como precisamos transformar a sociedade, trabalhar

com os pequenos e as famílias para uma sociedade

preocupada realmente com o bem estar de todos, que

respeite sem discriminação alguma. Uma sociedade

mais humana, mais sensível as dores do próximo.

Ao chegar nesse ponto, pensamos que tudo faz parte

de um único movimento coletivo sendo a educação

peça fundamental. Certos disso não acreditamos em

tempo perdido. Vivemos novas aprendizagens. Assim

como um rio, que segue seu curso, contorna as pedras,

criando formas para desaguar no mar, somos

nós, mudamos nossa rota, mas sabemos onde queremos

chegar. Isso é o que me faz ter esperanças, isso é

o que me faz resistir.

Referências

KARNAL, L. e CORTELLA, M - “Viver a que se destina?”, 2020

SME/COPED, Currículo da cidade: Educação Infantil- São

Paulo: SME/COPED, 2019.



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Enquanto refletiamos no decorrer desses dias, inúmeras

situações passaram pelas nossas cabeças, fatos,

vivências, aprendizados, momentos bons e ruins.

A sensação de nostalgia por tempos de início de carreira

foi à emoção mais forte que a professora Juliane

compartilhou conosco: “Bateu no peito, sendo assim,

pretendo me ater a essa experiência, nesses dezesseis

anos, surgiram muitos desafios nos quais venci, fui

vencida e me fizeram ser transformada. Minha melhor

experiência foi quando me fiz e me senti professora

em minhas ações, todo início, tem em si suas

frustrações, e comigo não foi diferente, as inseguranças,

medos e a inexperiência, me deixaram numa

inquietude, fazendo questionar os caminhos pelos

quais tinha trilhado até aquele momento. Por meio

do apoio, incentivo de pessoas, que sinto prazer em

citá-las, a gestora Jaqueline que por muitos foi questionada

em relação aos seus métodos, mas para minha

vida fez toda a diferença, e minha mãe que é meu

alicerce até hoje, ela trabalha como orientadora de escola

e faz a diferença em sua realidade, como ela mesma,

diz: “faço com amor, é pelas crianças”. Eu ainda

não tinha encontrado meu chamado, ou seja, o lugar

pelo qual fui destinada enquanto educadora, elas, porém,

sempre acreditaram em um potencial, no qual

eu não acreditava e me impulsionaram à prática em

sala de aula, para fora dos contextos que tinha vivido.

Escrevo com muita emoção e para mim foi mais uma

vez, a oportunidade de reavivar essas memórias que

tanto me ajuda, lembrar da minha essência e de quem

sou.”

Essas experiências nos fazem refletir sobre como

podemos ser capazes de contribuir onde estamos

inseridas, e de como podemos nos reinventarmos e

buscarmos novas estratégias, como também a importância

da qualificação nessa carreira tão mutável, que

nos dá muitas vezes a sensação de insuficiência, então

quando isso ocorre paramos, pensamos, refletimos,

retomamos o fôlego e reavivamos essa paixão, somos

apaixonadas pela Educação infantil e pelas crianças.

Apaixonados

pela Vida

Cristiane Gleise Costa Nóbrega de Araújo

Juliane Kirschner Leite da Silva

Patricia Rosa Sanchez Loureiro

Essa paixão que nos levou e nos leva, em nossas ações

conjuntas, a vencer desafios, imposto por um vírus

somado aqueles outros problemas e dificuldades que

já estávamos lutando. Tivemos que reinventar, aprender

a lidar com esta nova fase de distanciamento social,

precisávamos construir propostas que acolhessem

as crianças e as famílias de maneira agradável,

fazendo com que se sentissem no ambiente escolar.

No entanto, ao longo deste tempo, tivemos angústias,

choro, resistência, mas aprendemos muito com tudo

isto. Criamos ações com várias propostas como: leituras,

massinha caseira, construção de pistas de corrida,

cabana, salada de frutas, música, entre outras,

tudo para que se sentissem bem e que a rotina em

casa ficasse prazerosa.

Foto: Cinthia

Procuramos realizar e propor experiências significativas,

para que se mantivessem estimulados e ao mesmo

tempo estávamos disponíveis para esclarecimento de

dúvidas. Também nos preocupamos com a alimentação

das crianças, além da questão como conectividade

para que ninguém ficasse para trás diante da suspensão

de aulas.

As devolutivas das crianças e famílias são impressionantes,

a criatividade e iniciativa deles têm sobressaído

para além do que foi proposto, é lindo vê-los e

saber que estamos contribuindo para suas vivências,

aprendizagens e desenvolvimento.

Nos emocionamos com o relato da Kathelin, pois ela

fala sobre como se sente e representa as vozes de muitos

nesse momento.

Jéssika (mãe): – “E como você se sente em não poder

ver seus amigos, ir para escola”?

Kathelin: – “Eu sinto muita falta da escola das brincadeiras,

dos meus amigos da professoras dos professores,

de tudo.”

Jessika (mãe): – “E você tem medo do corona vírus?”

Kathelin: – “Às vezes eu sinto até medo, mas o que eu

sinto mesmo é saudade!”

O começo desta batalha foi instável e difícil, as mudanças

foram impactantes, ainda estamos nos adaptando

e retomando o fôlego, mas conforme os dias vão

se passando, conseguimos lutando junto com a nossa

comunidade, obter maior clareza e sistematização das

ações, nesse processo aprendemos a planejar, executar

e refletir dentro desse novo formato de Educação e da

realidade que estamos vivenciando.

Devo evidenciar também a parceria e a escuta das famílias

por meio dos questionários para levantamento

de dados em relação às propostas, e-mails para contas

pessoais para facilitar o acesso ao “Google Classroom”,

Podcast com as vozes da nossa comunidade escolar,

para que todos se sintam abraçados, acolhidos e motivados.

Buscamos sempre estreitar os laços, pois sabemos

o poder e a força desta união.

Compreendemos as dificuldades enfrentadas por todos,

muitos tem que conciliar o trabalho com os estudos,

outros sofrem com a falta de recursos, preocupações,

frustrações, muitos dizem “este ano foi perdido”,

eu acredito que não, pois conquistamos e aprendemos

coisas valiosas como a solidariedade, compromisso,

24 25

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

esperança e muitas outras riquezas. Reconhecemos e

valorizamos a vida.

Foto: Dia em que a mãe veio buscar cartão merenda - agosto/2020



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

E não houve um só dia que não acolhêssemos alguém

que apenas queria falar. Escola é lugar de gente. De

encontros. De conflitos. De diálogo. De esperança.

Nesse período realizamos mudanças prediais pensando

em cuidar das pessoas que habitam esse lugar.

Houve reforma, troca de mobiliário, de cor das paredes,

lavamos brinquedos, bonecas, reorganizamos

uma, duas, três, quatro vezes a espera do retorno. E

ele não veio. O ano está quase findando e vimos às

crianças muito pouco. Mas elas estão seguras em seus

lares e com certeza tendo muitas aprendizagens.

E não é momento de fraquejar, desistir e se desiludir.

O universo nos pede coragem. Sejamos corajosas e

corajosas para abrir a caixa de Pandora e permitir que

os males saiam um a um. E só nos reste à esperança!

Caixa de Pandora na pandemia e no isolamento

Bernardete de Lourdes Alvares Marcelino

A Covid-19 trouxe não só a pandemia, mas a reflexão

sobre toda a vida nesse planeta. Nos fez repensar

como estamos nos cuidando e principalmente como

olhamos o outro. E digo o outro ser vivo. E se tem

algo que podemos confirmar é que nos seres humanos

somos piores que o vírus, pois não conseguimos tratar

da Terra como ela merece.

E todo esse cenário trouxe muitas memórias “ minha

avó na década de 70 lavando potes para reutilizar”,

minha filha na década de 90 falando – “não vou tomar

mais refrigerantes”, meu sobrinho de oito anos,

no século 21 dizendo –“não devemos comer nada que

tenha vida”. E então, passa um filme na cabeça - e a

grande questão: trinta anos formando crianças, adolescentes,

jovens e adultos e qual foi minha ação? Nossa

quase faleço ao constatar o pouco que fiz o pouco

que falei o nada que plantei, o tanto de asneira preguei

é o monte de besteira comi.

E, agora? Reprogramar tudo. A caixa de Pandora precisa

ser reinventada mesmo na pandemia e sem ter

as pessoas presentes. Mas como? A caixa de Pandora

parece ter trabalhado tudo, todo temas, todas as estratégias

e viramos apenas jargões da Educação. Discursos

e propostas vazias. Entretanto, a Caixa de Pandora

é um artefato da mitologia grega, tirada do mito da

Foto: Ilustração da Kamille

criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada

por Zeus. A “caixa” era na verdade um grande jarro

dado a Pandora, que continha todos os males do

mundo. Pandora abre o Jarro, deixando escapar todos

os males do mundo, menos à “esperança”.

Será? A esperança é a única que nos resta? Esperançar

dias, atos diferentes que transformem essa realidade.

Esperançar que as crianças se tornem adultos melhores

que nós. Esperançar o respeito às pessoas, as plantas,

aos animais e a tudo que tem vida! Esperançar a

vida.

Só esperançar não basta! É preciso se conscientizar e

agir com urgência. A morte em vida nunca esteve tão

presente. Choramos todos os dias desde março quando

inicia o pico da pandemia em São Paulo.

Nós gestores, abrimos as escolas para cuidar dos prédios.

Lógico que não foi só isso. Escola significa o

lugar de refúgio, de informação, de auxílio, de colaboração.

E nesse período doamos cestas básicas, telefonamos

para as famílias para saber como estavam,

realizamos live entre as crianças, encontros com professores

e funcionários. Distribuímos cartão merenda

e regularizamos os cadastros.

E da caixa de Pandora novamente buscamos a esperança

de que as crianças em situação de vulnerabilidade

sobrevivam a tantas agruras desse momento.

Eles não podem estar conosco e sabemos que estão

nas ruas, e não estão se alimentando bem, e talvez sofram

violência doméstica, e esse triste cenário não foi

à pandemia que criou, ela apenas deu visibilidade. A

escola é o melhor lugar para estes. Infelizmente não

podemos coloca lós em nossos braços.

Entretanto, sabemos do nosso dever no retorno de

saldar essa dívida propiciando a estes -conhecimento

e empoderamento.

Quanto ao grupo de professores, aha! A educação há

muito precisava desse tempo. Tempo para parar. Refletir

sobre sua vida, profissão, sobre sua família e seu

papel na sociedade. Parece piegas, no entanto, verdadeiro!

Estávamos trabalhando desenfreadamente sem

olhar, sem realmente observar o que estava por vir.

Simplesmente, fazíamos!

A pandemia abriu nossa caixola cerebral- nos fez ver

os tempos da tecnologia- o ser virtual e mais nos derrubou

do pedestal. Crianças aprendem para além da

escola.

A vida não tem sentindo se parar de existir!

A escola é o lugar de excelência do conhecimento, mas

não é o único. E paradoxalmente, as famílias virão o

quanto esse lugar faz falta. O quanto é importante o

professor.

Embora saibamos da nossa importância, vimos o

quanto precisamos ler mais, saber mais, falar menos e

escutar mais. Escrever e registrar nosso fazer. Somos

responsáveis pela transformação. Ou por parte dela.

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Esperança que nutri o afeto.

Esperança que nos conduz ao

novo e ao diferente.

As atitudes diferentes!

Esperança de vida! Esperança...

Referências

MARCELINO, B. “Narrativas do processo formativo: uma experiência

de constituição de grupo colaborativo. “, 2018.



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

COMUNIDADE CONECTADA

Aline de Souza Nonato, Cristiane Gleise Costa Nóbrega de Araújo, Heloise De Almeida Domingues

A pouca experiência na educação nos fez crer que,

com o decorrer dos anos, as experiências da vida profissional

afetarão as nossas práticas pedagógicas, no

mundo intenso e grandioso da educação infantil.

A cada ano encontramos crianças, famílias, pessoas

diferentes que passam pela nossa carreira e nos constituem

profissionalmente. Agora tudo é desafiado pela

pandemia e pelo uso das tecnologias.

Tempos remotos e tão complexos, nada comparado

ao ano de 2019, a escola cheia de crianças querendo

aprender e explorar. Em meados de junho uma nova

criança começou a fazer parte da nossa escola, ela tem

uma cultura diferente, hábitos diferentes e havia dificuldade

na comunicação.

Não estávamos acostumados com essa situação, mas

aos poucos a mesma foi confiando nas pessoas e se

sentindo segura no espaço escolar. Sua família reconhecia

o nosso trabalho e participava da vida escolar,

pois acreditava em seu potencial e do que ele era capaz,

assim, como todos da escola. Trabalhamos numa

concepção que garante o acolhimento e a construção

de vínculos de afeto e respeito, e agora mesmo distante

das crianças acreditamos nos mesmos princípios

para nortear as nossas ações.

Entendemos que ao longo do tempo teremos muitos

desafios sim, e que nem sempre será fácil, mas com

parceria da comunidade escolar tudo é possível.

A educação infantil traz cotidianamente a simplicidade

das crianças e encantamento dos seus olhares

ao descobrirem coisas novas, além do aprendizado

constante entre os adultos e as crianças. E aí que está

a beleza da infância: trabalhamos com sentimentos,

reações, histórias e memórias diferentes.

Ao buscarmos no dicionário o significado da palavra

comunidade, lemos a seguinte definição “estado ou

qualidade das coisas materiais ou das noções abstratas

comuns a diversos indivíduos; comunhão, concordância,

concerto, harmonia”. Esse conceito é profundamente

abalado pelas mazelas trazidas pela pandemia,

problemas sociais, financeiros e emocionais.

Numa metáfora, podemos imaginar um aparelho de

televisão, que precisa ser conectado numa tomada

provida de energia elétrica, para ser ligada. E se precisar

podemos recorrer também a um “adaptador”. Nós,

professores, somos os conectores e adaptadores que

buscam de qualquer forma transmitir energia para as

famílias e adentrar os seus lares com ações positivas e

informativas.

Foto: Crianças no ateliê

A escola atual está se adaptando a nova forma de trabalho,

estamos nos reinventamos como profissionais

que somos, mas com um olhar sensível as crianças e

crentes na qualidade do trabalho produzido.

Os vídeos produzidos são interativos e publicados na

página Institucional da escola no Facebook e na plataforma

Google Sala de aula. São propostas que propiciam

conversas, histórias, músicas e brincadeiras para

as crianças e suas famílias.

Foram momentos intensos de registros e de estudos,

as trocas com a coordenadora e o grupo docente, as

devolutivas das famílias aconteceram de maneira valiosa

para esse processo que nos impôs estarmos conectados.

E mesmo que a realidade não seja a mesma

para todas as crianças, nem todos têm a oportunidade

ou condições de acesso à internet. A escola manteve

todas as formas possíveis de contato, disponibilizando

atendimento via contato telefônico e presencial quando

possível, sempre respeitando as regras do distanciamento

social.

O mais importante foi a conscientização e o reconhecimento

do currículo proposto, focado no brincar e

interagir. Afim de propiciar aprendizagens significativas

e não deixar a criança numa cadeira sentada com

folha e papel, sem movimento e ludicidade. E para nos

conectarmos com a comunidade, precisamos ouvir

mais as crianças, as famílias e assim buscar formas de

melhor atendê-las.

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Saber o que desejam o que esperam o que querem

aprender. E assim criar experiências divertidas mesmo

que de forma remota.

O corpo docente nesse período de pandemia investiu

em leituras para ampliar sua formação. E um dos

momentos marcantes, foi a leitura do texto “Educação

Antirracista EMEI Jardim Ideal”, pois refletimos sobre

as nossas ações e falas reproduzidas na escola que

muitas vezes são carregadas de preconceito e racismo.

Planejar, observar e ampliar o repertório cultural valorizando

a identidade e diversidade propiciaram às

crianças e aos professores tecer experiências e vivências

que ajudam na construção do sentimento de pertencimento.

A escola e nós como cidadãos, precisamos

pensar nos espaços da escola não apenas no viés

da segurança e da estrutura física, mas como espaço

de direitos.

Vivemos num mundo que o pensamento está acelerado,

a insatisfação, a impaciência são aspectos comuns.

Contraditoriamente, a pandemia e o distanciamento

nos trouxeram momentos de reflexão que possibilitaram

planejar, observar e sentir o outro, nos conectando

com os alunos e seus familiares. Neste sentido,

nossas publicações têm primado pela leveza, pela manutenção

do vínculo afetivo e acolhimento.

Referências

EMEI. JARDIM IDEAL. Para uma. Educação. Antirracista. Para

a educação das nossas crianças. 2020.

Foto: Crianças brincando de dança das cadeiras



PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA

Painel - Pessoas Pandemia Isolamento

“Me sinto quase um inútil, ansioso, não é legal. Sinto falta dos companheiros de

trabalho, dos alunos e dos pais. É muito chato ficar sem trabalhar.” José Araujo

“Tristeza! Sinto muito a falta das pessoas e da convivência social” Valdirene Santos

(Professora readaptada)

“Sinto falta das colegas, do carinho das pessoas. Penso muito nas crianças e na

falta que a escola deve estar fazendo pra elas. Sinto falta de sair de casa para trabalhar,

da minha rotina. E tristeza! Acredito que no retorno temos que nos cuidar e

entender que o caminho é longo.” Nilza Soares (Auxiliar de educação)

“Estamos bem, a minha família faz a parte dela, mas o corona vírus continua” (Kamille,

5 anos)

“Dá para mandar esse corona vírus para outro planeta?” (Isabela, 5 anos)

“Passei por um período de muita ansiedade, foi uma mudança muito grande na vida,

sinto falta de conversar com as colegas, com as pessoas, minha terapia era falar.

Tem dias que sinto que isso não vai acabar. Às vezes, desespero! Mas, melhoro, faço

exercícios físicos, cuido dos meus netos e acredito que tudo vai passar.” Francisca

Chagas ( Auxiliar de Educação)

“A escola sem as pessoas, sem as crianças não é escola” Vanessa Cabrini (Diretora

de escola)

“Nunca pensei que cozinharia com a minha filha de 5 anos e estou aprendendo

muito com as atividades da escola” Jessyca (Mãe da Kathelin)

“Ansiosa, tenho momentos bons e outros ruins. É um misto de sensações, de medo

e insegurança, temos pelos meus familiares. E pensar no retorno traz angústia.”

Kátia Luna (Professora readaptada)

“Tem sido divertido fazer atividade pois o Isaac usa imaginação e cada desenho

que ele faz usa criatividade, eu Fico feliz pois ele esta se desenvolvendo

e aprendendo muito todos os dias. Ele pergunta quando eu vou para escola e

esta sentindo saudades dos amiguinhos e das professoras. Mas tem sido uma

experiência legal e divertida trabalhar as atividades da escola com ele, tenho

aprendido muito.” Jacqueline Silva Moreira (Mãe do Isaac )

“Me sinto triste, perdi amigos e conhecidos, fiquei abalada. Pessoas da minha

família contraíram o Covid foi um período muito difícil. Mas, não perdi a fé em

Deus! Sinto muito pelas pessoas que perderam o emprego e passam dificuldades.

Sinto falta das crianças e do trabalho. Foi tudo muito rápido! De um dia para

o outro, fui trabalhar no dia 17 e no outro dia já estava em casa! Tenho fé que

“Fiquei impressionada como vocês tratam bem a comunidade” (Maria Sueli -

“A quebra profunda da rotina e o medo do desconhecido, do incerto, do novo

trouxe insegurança. Foi muito difícil ficar distante da família e se adequar à

nova realidade. Senti muita tristeza” Iara Villella (Professora readaptada)



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