Pessoas Professores Pandemia
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PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA
Em tempo real, buscamos com as propostas chegar
o mais próximo possível das crianças e suas famílias,
usando materiais que estejam ao seu alcance para que
todas possam fazê-las, sem precisar sair para buscar,
dispor de recurso financeiro, pedir emprestado, se arriscar.
Possibilidades que não dessem muito trabalho
e que não se sentissem excluídos do processo. Nossa
ideia é tentar contemplar a todas as crianças e famílias,
levando um pouco de descontração e alegria a elas.
Se o retorno realmente ocorrer este ano, sabemos,
não será fácil. Existem as questões higiênicas que nos
preocupam de acordo com as possibilidades da rotina
da escola, mas também temos a questão psicológica.
Pensar em quantas crianças perderam pessoas queridas.
Quantas famílias perderam empregos, quantas
crianças estão em um ambiente familiar de brigas e
de discussões. São muitas questões que precisarão ser
trabalhadas. E para nós, os “adultos” também não será
fácil, pois temos medos e incertezas.
A equipe é muito unida e isso faz com que o nosso
trabalho se desenvolva muito bem, apesar de todas as
angústias. As professoras do grupo continuam bravamente
preparando e editando vídeos incríveis e interessantes.
Podemos mesmo remotamente perceber
o interesse que desperta nas crianças, até mesmo em
nossos lares, com filhos e filhas realizando quase todas
as propostas. Mas tudo isso só tem sido possível
porque temos uma coordenadora comprometida com
a educação. Além de sua sabedoria e experiência profissional
tem amor ao que faz. Isso nos motiva.
As reuniões pedagógicas trazem reflexões, a realização
de se repertoriar com leituras e observações do
que pode ser agregado como conhecimento e aprendizagem,
um maior domínio sobre as mídias digitais
tem sido relevante no processo de descobertas e quebra
de paradigmas. Assim como, observar as inúmeras
possibilidades que podemos criar diante de um
momento tão caótico.
Temos tido momentos de trocas de saberes, visto
que, nos sentimos a vontade para tecer considerações
em relação às leituras sugeridas. Elas dialogam com
as preocupações e interesses que temos em relação à
Educação Infantil e o momento de pandemia.
Uma de nossas leituras formativas foi “Notas sobre a
experiência e o saber de experiência” - de Jorge Larrosa.
Um texto onde ele nos convida a pensar, a educação
unindo a experiência e o sentido, opondo-se à
educação relacionada a ciência e a técnica, ou entre a
teoria e a prática. Para tanto, explora o significado das
palavras experiência e sentido.
Pensamos que todos os dias nos trazem experiências
singulares, aprendizados diários com os pares, companheiras
da escola e com as crianças, todos os dias na
convivência, refletimos e aprendemos, numa transformação
diária. Isso tudo se acentua quando nos vemos
numa realidade tão delicada como a atual. Esse texto e
as experiências que foram ativadas em nossas memórias
por ele, nos tiram da posição de expectadoras e
nos colocam na situação eminente de desafio.
Conseguimos perceber que as práticas que norteiam
nossas ações, podem quebrar barreiras para que caminhemos
por processos de vivências, que despertam
em nós, não a necessidade de estarmos informadas ,
mas o processo de reflexão do saber construído a partir
das situações vividas. Despertando um saber subjetivo,
daquilo que nos dispomos a descobrir a partir
do olhar e do sentir a necessidade.
Referências
FREIRE, P- “Pedagogia da esperança em reencontro com a
pedagogia do oprimido”, 1992.
BONDIA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
Rev. Bras. Educ. [online]. 2002.
Foto: Emanuelli
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PESSOAS PROFESSORES PANDEMIA
INCERTEZAS E RESISTÊNCIA À PANDEMIA
Mara Glauce Garcia da Silva
Quando ouvi falar a primeira vez em COVID-19, não
imaginei que tudo isso iria acontecer. Estávamos acreditando
que seria algo rápido e logo tudo se resolveria.
Poucos dias se passaram, até que o vírus chegou e
a pandemia se instalou entre nós. De repente, me vi
impedida de trabalhar. Rotina alterada, medo, insegurança,
incertezas. O que fazer?
Esse vírus veio como um furacão. Serviu, porém para
vermos tudo com outro olhar... Eu tive tempo de repensar
minha prática. Por um lado foi bom, por outro,
perdi o caminho que já conhecia, a rotina escolar que
já estava tão familiarizada. Eu conseguiria me adaptar
a essa nova realidade? Tecnologias, vídeos e novas
maneiras de me comunicar, de alcançar o meu público
que agora eu sequer conseguia visualizar. As incertezas
tomavam conta de mim.
E no momento em que me senti mais sozinha, a equipe
me mostrou o significado de coletivo, na prática.
Nossas ações conjuntas deram visibilidade às nossas
ideias e desenvolvemos atividades tem por base os
documentos da Rede- Currículo da Cidade Educação
Infantil e Trilhas de Aprendizagem, focados no que
sentimos e no que era necessário a nossas crianças.
Retomei meus estudos, leituras, assisti lives, a fim de
me inteirar de tudo que estava acontecendo ao nosso
redor. Ouvi o professor Leandro Karnal falar sobre as
competências para os novos tempos, colocou muito
bem que “ Não existem mais pessoas formadas. Somos
eternos formandos.” A pandemia mostrou isso
claramente. E de certa forma transformou a todos
nós. Se as incertezas eram muitas, a vontade de vencer
também.
A pandemia quase me destruiu. Vivi na pele o que ela
pode fazer com nossas famílias. Mostrou como a desestrutura
de um, abala a todos e como ficamos vulneráveis
emocional e psicologicamente. Ao invés de me
abater, resisti. Fortaleci o desejo de vencer, de crescer,
de agir, o desejo de lutar como ser humano e como
educadora. Se a pandemia nos trouxe muitas incertezas,
tornou visível a desestruturação social e econômica
do nosso país e que há muito tenta mascarar
ou dizer como “normal”- a desigualdade, a pobreza, o
racismo, o preconceito e a violência saltaram aos nossos
olhos, fazendo - nos pensar na real escola integral
e em políticas públicas realmente eficazes e redes de
proteção, que protejam de fato. Ao refletir nesse aspecto
político da educação, penso nas famílias de nossa
comunidade e no que enfrentam: desemprego, dificuldades
de sustento, dificuldades para se protegerem
contra essa doença, o medo, a insegurança, a morte
de entes queridos... tudo isso me inquieta, ao mesmo
tempo em que traz a certeza de que a ação de educar
é um ato político. Nossas ações se resumem a resistência
a esse jogo político que tentam fazer há tempos.
Dizem que esse ano foi um tempo perdido. Não vejo
dessa forma. Ficamos em casa, mas não paramos.
Estamos juntando forças! Refletindo e pesquisando
para articularmos e encontrarmos soluções e percebemos
quantas pessoas estão atuantes, preocupadas
em novas formas de trabalhar para e com as crianças.
E esse momento reverberou a parceria com as famílias
como aspecto mais importante para escola e
promoveu o real protagonismo de suas criança em
suas devolutivas ao grupo de professores. A expectativa
da volta às aulas presenciais nos fez refletir sobre
como precisamos transformar a sociedade, trabalhar
com os pequenos e as famílias para uma sociedade
preocupada realmente com o bem estar de todos, que
respeite sem discriminação alguma. Uma sociedade
mais humana, mais sensível as dores do próximo.
Ao chegar nesse ponto, pensamos que tudo faz parte
de um único movimento coletivo sendo a educação
peça fundamental. Certos disso não acreditamos em
tempo perdido. Vivemos novas aprendizagens. Assim
como um rio, que segue seu curso, contorna as pedras,
criando formas para desaguar no mar, somos
nós, mudamos nossa rota, mas sabemos onde queremos
chegar. Isso é o que me faz ter esperanças, isso é
o que me faz resistir.
Referências
KARNAL, L. e CORTELLA, M - “Viver a que se destina?”, 2020
SME/COPED, Currículo da cidade: Educação Infantil- São
Paulo: SME/COPED, 2019.