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prefácio
O governo da cultura
As políticas culturais têm sido relativamente pouco estudadas pela
antropologia produzida no Brasil. A afirmação pode soar estranha,
considerando-se que cultura é um conceito central em nossa disciplina
e que sua “politização” vem sendo por muitos apontada no
cenário internacional 1 . Mas se nos ativermos aos que abordaram as
políticas (públicas?) de cultura, têm sido pesquisadores das áreas de
comunicação, estudos culturais, produção cultural, economia, sociologia
e história que mais frequentemente têm enfrentado a temática
de como se concebe e governa a esfera da produção simbólica, os
dispositivos de governo a ela aplicados e sua economia. No caso da
história e da sociologia, a “zona cinzenta” dos chamados estudos de
“história do pensamento social brasileiro” parece vir (parcialmente)
se ocupando do tema, ainda que em enfoques bastante definidos.
Conquanto os antropólogos se façam presentes em numerosos
espaços de participação social (conselhos, comitês, redes etc.) que
são ou poderiam ser subsumidos à esfera burocrático-administrativa
da cultura (em um primeiro nível como categoria nativa a
esta esfera e a uma rede mais ampla de agências e agentes; e num
segundo plano enquanto conceito utilizado para descrever certos
mundos sociais), a reflexão sobre a dimensão social destes espaços
nem sempre tem sido valorizada. Áreas como a do patrimônio
cultural, do folclore, são algumas das exceções mais flagrantes, em
1
Ver, dentre outros, Wright, Susan. 1998. “The politicization of culture” Anthropology
Today,14 (1): 7-15; Shore, Cris. 2000. Building Europe. The cultural politics of
European integration. London and New York: Routledge.
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